quarta-feira, agosto 12, 2009

AUGUSTO NUNES

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Dilma aprendeu cedo que negar a verdade é o preço da sobrevivência

11 de agosto de 2009

Dilma Rousseff lembra com orgulho que se negou a dizer verdades perigosas mesmo sob tortura. Tinha pouco mais de 20 anos mas sabia muito quando foi presa pela polícia política. Mesmo confrontada pelos inquisidores com copiosas evidências, não confessou que havia participado de assaltos a banco e outras ações armadas, desmentiu o envolvimento com grupos de extrema-esquerda, escondeu os nomes dos parceiros de vida clandestina, não admitiu sequer que era quem era.

A mãe do PAC gosta de contar que, apesar do desamparo e da insegurança, não permitiu que os inquisidores arrancassem qualquer informação que a prejudicasse, ou colocasse em risco os companheiros. Hoje amparada pelo presidente Lula, protegida pela blindagem que merece uma candidata à sucessão, pode mentir sem sobressaltos. Foi o que fez quando alquimistas da Casa Civil, para desviar do Planalto a catarata de despesas com cartões de crédito, produziram um dossiê que transformava o ex-presidente Fernando Henrique e Ruth Cardoso no mais perdulário dos casais.

Sobram provas de que a ministra encomendou o serviço à chefe de gabinete, Erenice Guerra. Pilhada em flagrante, Dilma promoveu registros policialescos a banco de dados e afirmou que não fizera o que fez com a mesma convicção aparente da juventude. A performance foi reprisada quando se descobriu que o currículo oficial da ministra era ornamentado, entre outras fantasias, por um inexistente doutorado em economia pela Unicamp.

A doutora de araque garantiu que não sabia de nada. Nunca havia lido o próprio currículo. Algum subordinado fizera aquilo por conta própria. Não identificou o culpado, não puniu ninguém, queixou-se da perseguição da imprensa e pediu ajuda a Lula, advogado-geral dos pecadores companheiros. Além de expedir o habeas corpus perpétuo, Lula ordenou ao deputado José Genoíno que avalizasse a absolvição com um discurso na Câmara.

Num país sério, alguém socorrido por Genoíno ─ parceiro de Delúbio Soares e Marcos Valério nas bandalheiras do mensalão, irmão do chefe do cearense da cueca dolarizada, enfiado no pântano até o pescoço ─ seria punido mesmo que fosse inocente. Como isto é o Brasil, Genoíno desceu da tribuna sem receber voz de prisão. E o currículo fraudado saiu do noticiário.

A última da Dilma foi revelada por Lina Vieira, demitida da secretaria da Receita Federal por honestidade. No fim do ano, contou, a ministra pressionou-a para “agilizar” a auditoria em curso nas empresas da família Sarney. A secretária fez de conta que não ouviu direito a ordem para encerrar o caso. Subtraiu-se ao papel de cúmplice, mas perdeu o emprego mais cedo.

Na entrevista à Folha de S. Paulo, Lina informou que foi convocada para o encontro com Dilma pela onipresente Erenice Guerra, reproduziu o diálogo no gabinete, descreveu a cena do crime, detalhou as vestes da protetora de Fernando Sarney. ”Não fiz esse pedido a ela”, retrucou Dilma. Lula precisou de dois segundos para emitir a sentença: “Duvido que a Dilma tenha mandado recado ou conversado com alguém a esse respeito. Não faz parte da formação política da Dilma”.

Escorregou na ignorância malandra. Faz parte, sim. Na cadeia, ela aprendeu que a mentira pode ser o preço da sobrevivência física. No poder, descobriu que negar a verdade é também o preço da sobrevivência política.

VINÍCIUS TORRES FREIRE

Exportador quer um dinheiro aí


Folha de S. Paulo - 12/08/2009



Empresas pedem crédito do IPI, querem menos tributos, querem "intervenção" no câmbio; pressão está forte


O LOBBY empresarial pelo direito de usar o crédito-prêmio do IPI seria forte em qualquer ocasião, pois está em jogo muito dinheiro (trata-se da disputa judicial a respeito de utilizar um desconto de imposto previsto por decreto de 1969, que beneficiava exportadores). Com a queda de 31% das exportações de manufaturados, de 20% a 30% das carnes, perdas tremendas nos metais e metalúrgicos, com dólar a R$ 1,80 e, enfim, dados os prejuízos violentos com aventuras cambiais, o crédito-prêmio do IPI pode ser uma transfusão de sangue para companhias avariadas.
Mas as empresas também querem umas bolsas de soro e uns antibióticos, recursos terapêutico-cambiais adicionais. Mesmo que várias companhias, endividadas em dólar, tenham registrado melhoras fortes em seus balanços, devido também à criticada valorização do real.
As empresas pressionam o governo. Por isso Lula queria uma solução "negociada" para o pleito do IPI, mas não no valor demandado por Fiesp, CNI e grandes empresas, que sangraria demais o Tesouro. É por isso que Lula pressiona seus economistas para que arrumem algum esparadrapo para exportadores.
A decisão do IPI está na mão do Supremo. Podem não valer nada as generosidades decididas no Congresso, mas as negociações entre os três (sic) Poderes estão quentes.
Os empresários, bidu, reclamam do câmbio, mas eles mesmos dizem que por aí não tende a acontecer nada. Mas há economistas no governo que defendem mexidas nas normas do mercado de câmbio, de modo a reduzir o poder de fogo de quem aposta na valorização do real, e assim a favorece. A ideia seria "dar um sufoco" no mercado futuro e, ao mesmo tempo, "aumentar mais rapidamente as reservas cambiais", dizem tais economistas. Tal zum-zum já chegou ao mercado, mas não tem sido do feitio do governo Lula deixar que tais ideias prosperem.
Os empresários, bidu, reclamam de impostos. O Ministério da Fazenda não quer fazer quase nada a respeito, neste ano. A redução de impostos sobre a folha de pagamento morreu? "Está viva e andando, mas não deve chegar neste ano", disse à Folha o ministro Guido Mantega, faz cerca de uma semana. O dinheiro do governo para bondades em 2009 acabou. Em 2010 será pouco, será "tarde" (dizem exportadores) e, enfim, será disputado com outras prioridades eleitorais, como o reajuste dos aposentados que Lula vai aprovar. Será pouco mesmo que o governo gaste parte do fundo soberano em 2010, como cogita.
No cardápio de esparadrapos há medidas menores. Taxar investimentos financeiros de não residentes, por exemplo (mas, sozinha, essa andorinha do IOF não faz um verão cambial). Mas o BC é contra e, parece, por ora, ganhou Lula.
Os exportadores devem vender cerca de US$ 46 bilhões menos em 2009 que em 2008. Muitos mantêm o faturamento, mas as margens caem. As previsões para 2010 são de melhora muito discreta, mas as importações vão aumentar, com a volta do crescimento. O câmbio continuaria na mesma, dizem previsões de bancos daqui. Bancos lá de fora discutem o fim do ciclo de baixa mundial do dólar, dados os sinais de recuperação nos EUA.

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ARI CUNHA

MST sedento

Correio Braziliense - 12/08/2009

Nada detém a fúria de destruição do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Ministério da Fazenda invadido sem dó nem piedade parece repartição paroquial. A reivindicação se resume a pedido de dinheiro. Jamais o governo federal negou verbas aos bagunceiros membros dos que só olham e pensam no próprio umbigo. Pode haver crise, dificuldade do povo quanto à saúde, transporte, educação. O MST convoca parceiros e subvencionam mercenários para fazer número. Chamam a isso “força popular”. Governo aparentemente pacífico não dá importância à invasão do mais importante ministério da Esplanada. Difícil é o ministro Guido Mantega trabalhar. Só sabe que o prejuízo não é pequeno.

A frase que não foi pronunciada

“É do fundo do poço que brota a água límpida que mata a sede.”
Dona Dita tentando explicar o mau uso da figura de linguagem.


Gás
Contrato antigo faz com que o Brasil pague à Bolívia milhões de metros cúbicos de gás. Nas nossas jazidas, o gás é queimado. São notas de reais esvoaçando dos poços em direção ao mar. Dinheiro haja, mesmo para jogar fora. Como o presidente Lula gosta de entendimento, nada melhor para a Bolívia nos mandar alimentos em lugar do gás que se queima nas plataformas.

Prestígio
»Tasso Jereissati chega a Fortaleza e encontra povo em estado de euforia. O galego dos olhos azuis recebe as maiores manifestações. Afinal, foi um senador do Ceará que calou o representante alagoano Renan Calheiros. Jereissati tem dinheiro, jatinho, vive bem e entrou na política para aprender com o pai, que foi senador. Aprendeu demais. É hora de voltar ao seu império financeiro, onde vai chegar com mais sabedoria.

Cartões
Dinheiro de plástico sofre campanha em Brasília. Restaurantes dão abatimento de 10% aos fregueses. São poucos os que dão nota fiscal. Esta, a oportunidade para o GDF aumentar a força do tesouro estadual.

Nota zero
Por falar em nota fiscal, é uma via-crúcis para quem quiser abatimento no IPVA e IPTU. No Pão de Açúcar, a chefe dos caixas tentou de todas as maneiras emitir notas ficais de cupons com datas anteriores. Não conseguiu. Em outros estabelecimento há corpo mole para não atender à solicitação. O cliente não tem a quem recorrer.

Compreensão
O povo começa a ter a sensação de que a gripe já é conhecida. Tomar remédios sem receita pode mascarar o vírus ou fortalecê-lo. Em sabendo disso, ao sentir sintomas, as pessoas do DF procuram hospitais públicos ou postos de saúde. Há gente de molho em casa esperando e torcendo pelo destino.

Licitação
Mato Grosso está debaixo de investigações. Gente presa faz ressurgir o escândalo. Na compra de ambulâncias, há muitos culpados. Fala-se no dinheiro do mensalão que é bom para o poder. No momento, é terrível para os que deram dinheiro e não sabiam que iam chegar às mãos da Justiça. Quando é carimbado, o processo pode demorar. Cadeia não haverá, certamente. Mas figuras ficam tisnadas pela má gestão do dinheiro público.

Collor
Volta do presidente Collor ao Senado desperta curiosidade popular. O homem que chamou os carros brasileiros de “carroças” sente alegria de ver a tecnologia da indústria automobilística. Outras ações se devem ao seu governo. Não teve tempo de mudar o sistema de estradas de rodagem e construir estradas de ferro.

Visita
Ministro Gilmar Mendes, presidente do Supremo Tribunal Federal, saiu de seu gabinete e foi ver lá fora. Visitou os fóruns das cidades de Valparaíso e Cidade Ocidental. Ficou surpreso. Pilhas de processos inundam as salas dos funcionários. Cidade de 80 mil habitantes vê empilhados 60 mil processos. Funcionários do Supremo vão orientar como zerar a burocracia. Visita histórica da autoridade.

Boa ideia
Quinta e domingo, às 20h, na sala Funarte, concerto com a presença dos professores de canto lírico da Escola de Música. A apresentação tem uma maneira interessante de chamar o público. É só cantar o pedacinho de qualquer ária de uma ópera para pagar meia entrada.

História de Brasília


É que, com o sr. Paulo de Tarso, a Novacap deixará de ser a todo-poderosa de Brasília, passando muitas de suas atividades para a prefeitura. Com isso, procura-se dar mais consistência à prefeitura, pois é sabido que o cargo de prefeito não tinha outra função senão o de superpresidente da Novacap.

COISAS DA POLÍTICA

Saudades imperiais

Mauro Santayana
Jornal do Brasil - 12/08/2009


COUBE AO CONSERVADOR Filipe Calderón, presidente do México, a frase mais importante sobre os problemas atuais da América Latina. No encontro com Obama e o primeiro-ministro do Canadá, segunda-feira, ele disse ser necessário o fortalecimento das instituições, a fim de que nenhum país se erija em árbitro das disputas internacionais, “mesmo que o presidente desse país seja Barack Obama”.

Muitos pedem uma autoridade mundial, a fim de impor a paz entre as nações. Se essa autoridade se fizesse da reunião de todos os estados nacionais, em que cada país tivesse o mesmo poder de decisão, e as resoluções majoritárias fossem acatadas, talvez se evitassem alguns conflitos.

A paz só seria duradoura, no entanto, se essa autoridade dispusesse de força militar capaz de assegurar o cumprimento de suas sanções contra qualquer estado infrator. Infelizmente a história não registra nada de semelhante. A Liga das Nações, proposta por iniciativa de Woodrow Wilson, logo depois da Primeira Guerra Mundial, se frustrou, quando o Congresso dos Estados Unidos se negou a ratificar o artigo 10 do Tratado de Versalhes, que punia qualquer país que agredisse o território de outro. Sem a presença de Washington, como garantidor das decisões da Liga, Hitler ficou à vontade para preparar a desforra, o Japão se viu autorizado a invadir a Manchúria, e Mussolini massacrou o povo etíope.

A ONU, que substituiu a Liga depois do fim da Segunda Guerra, não tem sido capaz, sequer, de obrigar Israel, desde a fundação do Estado, a cumprir as suas resoluções no caso da Palestina.

A história se desenvolve na tensão entre os que mandam e os que buscam libertar-se da opressão. Reproduz-se, no convívio inevitável entre as nações, o mesmo confronto entre as pessoas que dominam e as que tentam livrar-se do jugo. A América Latina, não obstante as lutas do século 18 e 19, e as declarações formais da independência, favorecidas pela fragmentação do poder europeu, continua sob o mando, disfarçado ou ostensivo, mas sempre petulante, dos antigos e novos colonialistas.

Ainda anteontem, em visita a Bogotá, a senhora Maria Tereza Fernández de la Vega, vice-presidente do governo espanhol (ou seja, vice-premier) manifestou seu pleno apoio a Uribe, na decisão de acolher tropas norte-americanas em território colombiano. Nada a estranhar. Ainda que os socialistas estejam no poder em Madri, a síndrome da Conquista e do Império de Carlos V permanece.

Vale lembrar a arrogância de Juan Carlos no encontro de Santiago do Chile. A posição da senhora de la Vega destoa do chanceler Moratinos que, em visita ao Brasil, somara-se às preocupações de nosso governo com relação às bases.

A enviada espanhola se diz empenhada em “reconverter guerrilheiros em cidadãos”. Mesmo que houvesse lógica em sua frase, essa não seria tarefa dos espanhóis mas, sim, dos colombianos. Por acaso não eram cidadãos os guerrilheiros de 1808, que lutaram contra as tropas de Napoleão na Espanha e foram chamados, pela primeira vez, guerrilleros? Cidadãos foram os partigiani italianos, no combate aos alemães e seus aliados internos, os resistentes iugoslavos de Tito e os maquisards franceses. Sendo movimento político, as Farc são constituídas de cidadãos.

Obama, candidato, parecia preocupado com a violação sistemática dos direitos humanos na Colômbia, o que continua a ocorrer.

Conforme denúncia do Ministério Público do país, mais de 1.500 rapazes pobres, absolutamente distanciados tanto da guerrilha quanto do narcotráfico, foram atraídos por falsos empregos e assassinados a sangue-frio, mas contabilizados como guerrilheiros, para o recebimento de recompensas. São o que chamam, cinicamente, de “falsos positivos”.

Diante das provas, o próprio comandante do Exército, Mario Montoya, se demitiu. Há dias, conforme observadores internacionais, no estado de Nariño, 42 pessoas foram mortas, na luta entre duas facções de paramilitares, pelo controle de uma zona de narcotráfico.

Em passado não muito distante, as Farc negociaram a paz, puseram sua cara a descoberto, a fim de participar das eleições – e seus líderes foram trucidados pela extrema-direita. Não podem ganhar a guerra, nem parar de lutar. Só podem sobreviver de armas nas mãos.

A Colômbia só terá paz quando os extremistas de direita e de esquerda forem vencidos pela razão democrática da justiça, sem a interferência de qualquer outro país, mesmo que “esse país seja o do presidente Barack Obama”.

Mais de 1.500 foram atraídos por falsos empregos e assassinados.

GOSTOSA DO TEMPO ANTIGO


FERNANDO RODRIGUES

Marina & Ciro


Folha de S. Paulo - 12/08/2009

A possível entrada da quase ex-petista Marina Silva na corrida presidencial demonstra como ainda é volátil o cenário em 2010. Até há um mês, o Planalto maquinava com razoável sucesso para haver apenas uma escolha plebiscitária entre Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB).
Agora, a chance de Marina entrar na disputa pelo Partido Verde pavimentou o caminho para Ciro Gomes (PSB) voltar a pensar em voos nacionais. Por tabela, congestionou a trajetória de Dilma.
Com quatro candidatos na urna eletrônica (Dilma, Serra, Marina e Ciro), a ala cirista do PSB passou a alimentar o desejo de repetir no Brasil o desempenho da eleição estadual de Pernambuco em 2006.
Naquele ano, Lula tentou a reeleição e teve dois palanques em solo pernambucano: Eduardo Campos (PSB) e Humberto Costa (PT). Lulistas, ambos concorriam para o governo local contra Mendonça Filho (PFL, hoje Democratas). No segundo turno, deu Campos versus Mendonça. O PT apoiou o PSB, que acabou vencendo a parada.
No ano que vem, o idílio imaginado por Ciro é terminar o primeiro turno à frente de Dilma. A entrada de Marina Silva seria a sua garantia de que o votos de centro e de esquerda estariam fracionados.
Esse tipo de configuração depende necessariamente da candidatura de Marina Silva. Sem ela, Ciro ficaria falando sozinho. Teria uma estrada acidentada para tentar pela terceira vez o Planalto (ele já foi candidato em 1998 e em 2002).
Já a ainda senadora petista, do seu lado, precisa ponderar muita coisa antes de entrar para ser linha auxiliar desse ou daquele candidato. Promoverá a causa verde. Mas estará em um partido político cuja metade da bancada não tem a menor ideia do que vem a ser política de meio ambiente. E todos são liderados pelo deputado Zequinha Sarney, do PV do Maranhão.

TODA MÍDIA

EM "V"

FOLHA DE SÃO PAULO - 12/08/09

Nelson de Sá


Na manchete impressa do "Valor", Brasil "vive terceira onda de investimentos" dos "fabricantes mundiais" de automóveis. Ela é estimada em US$ 15 bilhões "em plena crise global". O gatilho foi o consumo interno, que levou o país do 10º ao 5º lugar em venda. Entre os novos atores, a chinesa Chery.
E o "Wall Street Journal" publicou o gráfico acima, da venda de carros no Brasil, ao destacar que o setor "deixa a depressão na poeira" por aqui. Abre dizendo que foi "recuperação tão imediata e tão espalhada que já se programa contratações e aumento da produção, em contraste completo com o resto do mundo". Avalia que foi efeito do corte de impostos e juros.

PARCEIROS
Na home do "China Daily", entrevista com o embaixador do Brasil sobre o pragmatismo comum aos dois países -e sobre a crise global como "oportunidade" à "parceria crescente"

DOS EUA, MAIS DO MESMO
Mark Weisbrot, diretor do Center for Economic and Policy Research, de Washington, escreve no "New York Times" o artigo "Mais do mesmo na América Latina". Diz que "havia grandes esperanças na região quando Obama foi eleito, mas foram frustradas: o presidente manteve a política de Bush e em alguns casos piorou".
O exemplo maior do "fracasso de Obama no hemisfério é a derrubada militar" de Manuel Zelaya, em Honduras, que ele recebeu de modo "conflitante", enquanto lobistas ligados a Bill Clinton defendiam o "golpe".
Cita as bases na Colômbia e a 4ª Frota, para avisar que a reação é "leve", pela torcida por Obama, "mas ele causa danos sérios às relações dos EUA com a América Latina e às perspectivas de democracia na região".

NIGÉRIA E IRÃ, NÃO
O "Valor" detalhou ontem que o assessor de Segurança Nacional de Obama, general Jim Jones, na reunião com o ministro de Energia e com o presidente da Petrobras, disse "abertamente desestimular a atuação da estatal no Irã" e depois afirmou que "a Nigéria não tem "grande futuro" e se tornará "ambiente perfeito" para terroristas em dez anos". Causou "constrangimento".
O presidente da Nigéria veio ao Brasil dias antes e o do Irã vem até o fim do ano.

DECISÕES GLOBAIS
O Inter-American Dialogue de Washington discute a presença da Petrobras no Irã na nova edição de seu "Latin America Advisor". Sublinha que a estratégia tradicional do Brasil, de relações externas pragmáticas, deve ser cada vez mais "questionada", com a crescente presença do país no exterior. "O Brasil está no Conselho de Segurança nos próximos dois anos", avisa o diretor da instituição, "e será difícil fugir de temas difíceis como o Irã nuclear".

SANTA
Da Agência Brasil, com a foto, à manchete da Reuters Brasil, a senadora Marina Silva ocupou ontem as páginas iniciais com sua indecisão sobre trocar de legenda. No site da "Veja", o blogueiro Reinaldo Azevedo, próximo do tucano José Serra, comentou:
"Presidenta do Brasil? Para Marina, é falta de ambição! Ela é minha candidata a santa. Ah, sei, pode dividir o "campo da esquerda", tirando votos de Dilma. Imaginem Marina presidente! Não tem jeito... Tem todo o jeitão de ser a Heloísa Helena da vez, só substituindo o discurso histérico pelo preservacionismo esotérico."

AUDIÊNCIA
A notícia de Brasil com maior repercussão ontem pelo mundo, em despacho assinado por três correspondentes da Associated Press, foi a denúncia de que uma emissora de TV na Amazônia teria encomendado "ao menos cinco" homicídios para dar o "furo" de cobertura. No enunciado por toda parte, "Assassinatos por audiência? Policiais brasileiros suspeitam de âncora de televisão".

"SEMPRE O SAMBA"
Ontem na rede CBS, com eco por Huffington Post etc., o âncora perguntou à modelo Emanuela de Paula "o que têm as brasileiras", tão belas. Surpresa, respondeu: "Não sei. A mistura, você sabe, de garotas loiras, negras, a mistura de tudo". O âncora creditou ao samba

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BRASÍLIA - DF

A dama da floresta


Correio Braziliense - 12/08/2009




A senadora Marina Silva (foto), do PT-AC, se reuniu ontem com a bancada petista no Senado e confirmou sua saída da legenda para disputar a Presidência da República pelo Partido Verde. Não deixou o assunto entrar em pauta e comunicou que conversaria individualmente com cada colega. Não houve apelo para que ela ficasse na legenda. A decisão tomada foi elaborar uma carta de despedida, lamentando a decisão, a cargo do líder Aloizio Mercadante (PT-SP). “Ela está decidida”, lamentou o petista.

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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva vê a candidatura de Marina com desdém. A cúpula do PT avalia que todos os que deixaram a legenda em confronto com Lula acabaram no ostracismo, ou quase. Bete Mendes e Airton Soares, por exemplo, que votaram a favor da eleição de Tancredo Neves. Recentemente, a turma que fundou o PSol começou a dissidência, com 25 deputados e, hoje, tem apenas três, todos em risco eleitoral.

Capilaridade


No Palácio do Planalto, onde dão um duro danado para alavancar o nome de Dilma Rousseff como candidata à sucessão de Lula, acredita-se que a candidatura de Marina morrerá na praia: tem pouco tempo de televisão, está isolada politicamente e não terá apoio de massa na Amazônia. Quem mora no mato está a favor das obras do PAC; quem está mais preocupado com o meio ambiente vive no concreto, avalia um cardeal do PT.

Trombada


Marina nunca engoliu a própria saída do Ministério do Meio Ambiente, depois de uma trombada com a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, e o ex-ministro de Assuntos Estratégicos Mangabeira Unger, por causa do projeto de desenvolvimento do governo Lula para a Amazônia. Também não digeriu o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), plataforma de lançamento de Dilma, descolado de um projeto de desenvolvimento sustentável, com suas estradas e usinas hidrelétricas, sem as devidas preocupações com a preservação da Amazônia e do meio ambiente.

Será?



Em tom de brincadeira, o corregedor do Senado, Romeu Tuma (foto),
do PTB-SP, ponderou ontem que a decisão da Direção-Geral de suspender as visitas guiadas à Casa para evitar o contágio pela gripe suína poderia ser estendida ao restante das atividades parlamentares pelo período de um mês.
Seria uma solução para apaziguar os ânimos acirrados na crise em torno do presidente
José Sarney (PMDB-AP).

Lenta


A Anatel está levando mais tempo para analisar as ações de estabilidade desenvolvidas pela Telefônica para o Speedy do que a companhia levou para entregá-las. A agência suspendeu as vendas do Speedy no final de junho e pediu um plano de estabilidade para o serviço. Enquanto a Telefônica levou 20 dias para executar as ações, a Anatel já completa 26 dias de análise sem chegar a uma conclusão. As ações compreenderam desde ampliação de capacidade da rede até melhorias nas centrais de atendimento ao cliente.

Rédeas



Candidato à reeleição ao governo do Ceará, Cid Gomes (foto), do PSB, coordenará com mão de ferro a formação de alianças para sua campanha. O socialista selou acordo interno para se eleger presidente do diretório estadual do PSB, no próximo dia 23. No mesmo caminho, segue a prefeita de Fortaleza, Luiziane Lins (PT), cuja cotação está em alta para presidir o PT cearense nas eleições de setembro.

Parentada


O governo deu um prazo para que os servidores que ocupam cargos comissionados comuniquem se empregam parentes ou não. O prazo termina no dia 21 de setembro. Aproximadamente 18 mil servidores deverão responder ao questionário. Até ontem, 4.619 dos 18 mil servidores nessa condição haviam respondido ao questionário, dos quais 3.852 afirmaram que não têm parentes como comissionados, terceirizados ou estagiários. Ou seja, há 767 suspeitos de nepotismo.

Culatra/ Árido e eminentemente técnico, o secretário interino da Receita Federal, Otacílio Cartaxo, jogou luz sobre fragilidades na fiscalização e disputas internas do órgão que dirige. O tiro na CPI da Petrobras se deu quando Cartaxo admitiu que nem as superintendências se entendem sobre a legalidade da manobra tributária da estatal.

Transfusão/ O fim da aliança entre PT e PMDB não afetará o relacionamento do governador da Bahia, Jaques Wagner, com ministros do partido. Quem garante é o ministro da Saúde, José Gomes Temporão. No dia seguinte ao fim da aliança do petista com o ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima (PMDB), Temporão e Wagner assinaram acordo para a construção de 29 unidades de pronto atendimento. A Bahia receberá R$ 10 milhões para os serviços de atendimento à saúde.

Reforço/ O presidente do Senado, José Sarney, resolveu convocar um antigo assessor para ajudá-lo a controlar a TV Senado: o jornalista Fernando César Mesquita, que estava ao largo da crise e agora assume a Secretaria de Comunicação do Senado. Ex-governador do antigo território de Fernando de Noronha, Mesquita foi o criador do Ibama.

Crédito/ No discurso que fará amanhã no ato em defesa da ética no Senado, no auditório do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), o senador Cristovam Buarque (PDT-DF) lembrará que partiu do Correio Braziliense a revelação das irregularidades administrativas que culminaram na crise institucional que hoje desgasta a imagem da Casa.

NOVA AMEAÇA À PRODUÇÃO

EDITORIAL

O Estado de S. Paulo - 12/08/2009
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva decidiu entrar em guerra com a agricultura brasileira - a agricultura de verdade, produtora dos alimentos consumidos pelas famílias e responsável pelo superávit comercial mantido pelo País apesar da crise. Curvando-se mais uma vez ao MST, o presidente se dispõe a combater um dos projetos mais sensatos da bancada ruralista, já aprovado no Senado e em tramitação na Câmara dos Deputados. O projeto estipula novos critérios de avaliação da produtividade rural, para reduzir o risco de arbítrio nas desapropriações para reforma agrária. Se aprovado o projeto, o governo terá de submeter ao Congresso quaisquer mudanças nos índices de produtividade, os produtores terão prazo para se ajustar aos limites legais, em caso de desvio, e, além disso, o grau de utilização da terra deixará de valer como referência para desapropriação. É um projeto de blindagem perfeitamente justificável no caso brasileiro.

O presidente mandou resolver o assunto já, informou o ministro do Desenvolvimento Agrário, Gustavo Cassel, citado pelo jornal Valor. "Esses senhores feudais não podem dispor da terra como quiserem, sem levar em conta a questão da produção de alimentos", disse o ministro. Também segundo ele, a Confederação Nacional da Agricultura, presidida pela senadora Kátia Abreu (DEM-TO), deveria estimular a produtividade, em vez de se postar do "lado errado". Todos esses comentários compõem um quadro absolutamente distorcido da agropecuária brasileira. Para começar, não há no Brasil um problema de oferta de alimentos. A produção é mais que suficiente para abastecer o mercado interno e para atender muitos clientes no exterior. Se ainda há algum problema de subnutrição no Brasil, é por falta de empregos produtivos e de renda, e não por escassez de comida. Até o presidente Lula já reconheceu esse fato publicamente, abandonando as tolices ainda repetidas por assessores.

Segundo o Ministério do Desenvolvimento Agrário, 70% dos alimentos produzidos no Brasil provêm de propriedades familiares. Isso é provavelmente verdadeiro - mas essas propriedades familiares são aquelas exploradas de forma competente e moderna, fora dos padrões defendidos pelo MST e seus porta-vozes no governo. Muitos produtores pequenos e competentes trabalham para indústrias processadoras de alimentos. Seu êxito está associado a uma das atividades mais combatidas pelos piores conselheiros do presidente Lula - o agronegócio.

Quanto à produtividade agropecuária, não é a especialidade dos servidores federais do MST. Os produtores mais eficientes são justamente aqueles - grandes, médios e pequenos - envolvidos de forma direta ou indireta na produção competitiva para os mercados internos e externos. De janeiro a junho, a receita geral das exportações brasileiras, US$ 69,95 bilhões, foi 22,2% inferior à de um ano antes. No mesmo período, o agronegócio faturou no mercado externo US$ 31,44 bilhões, valor 6,9% menor que o do primeiro semestre de 2008. O superávit comercial do setor, US$ 26,36 bilhões, garantiu o resultado geral positivo (US$ 13,98 bilhões), mais que compensando o déficit de outros segmentos. Esse resultado foi essencial para o Brasil atravessar sem maiores danos a crise internacional. Mas o presidente Lula prefere apoiar a política do MST, representada pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário, e manter em constante insegurança um dos setores mais dinâmicos e estratégicos para a segurança externa e a estabilidade de preços.

O dinamismo do agronegócio revela-se mais uma vez na evolução recente das vendas de máquinas agrícolas. Em junho, a indústria vendeu no mercado interno 5,6% mais do que em maio. De junho para julho, o aumento foi de 13%. No acumulado do ano, o resultado ainda é inferior ao de 2008, mas a reação das vendas é um sinal promissor. Quem compra equipamentos num cenário econômico ainda pouco favorável não é certamente um bando de senhores feudais improdutivos. Mas os conselheiros de Lula com certeza se entusiasmam bem menos com esses números do que com os bonés e camisas vermelhas dos bandos arregimentados pelo MST. Esses bandos, mais uma vez, ocuparam ontem, em Brasília, o Ministério da Fazenda. Para isso são muito eficientes. Produção é outra coisa.

O PORCO


CLÓVIS ROSSI

Marina e a sua batalha (definitiva)?


Folha de S. Paulo - 12/08/2009

O texto da senadora Marina Silva nesta Folha, na segunda-feira, tem todo o jeito de pré-manifesto de pré-candidatura presidencial.
"No congresso da CUT, a professora Tânia Bacelar disse que "o debate sobre sustentabilidade ambiental vive uma batalha definitiva no Brasil, que estará no olho do furacão dessa discussão em todo o mundo". Creio que o país está pronto para assumir essa responsabilidade. Pelo menos a sociedade afirma insistentemente, das mais diversas maneiras, que é essa a sua vontade", escreve a senadora.
Estou velho demais para continuar acreditando em frases como "batalha definitiva" ou "o país está pronto...".
Não tenho nunca a menor ideia de que coisas "o país está pronto" para assumir (ou descartar).
Mas, se de fato Marina for candidata e tiver chance de ser mais que uma candidatura testemunhal, seria um tremendo progresso.
Significaria que "o debate sobre sustentabilidade ambiental" está, de fato, pronto para ser travado -e em nível bem acima do rés-do-chão em que usualmente se escondem os candidatos na hora das campanhas, quando não se limitam a desconstruir os adversários.
Se Marina quiser de fato incendiar a campanha, terá no entanto que ir além do que Alfredo Sirkis, o vice-presidente nacional do PV (Partido Verde), chamou, também nesta
Folha (domingo), de "discurso clássico, defensivista, do ambientalismo (deter a destruição da Amazônia e de sua biodiversidade, a contribuição das suas queimadas em emissões de CO2 etc.)".
A grande batalha, do meu ponto de vista, seria em torno de um planeta mais sustentável, capaz de preservar não apenas a natureza mas também o ser humano, que claramente está sendo exigido além de seus limites pela competição desenfreada associada ao capitalismo contemporâneo.

ELIO GASPARI

Dilma, Lina e os sapos de Bandeira

FOLHA DE SÃO PAULO - 12/08/09



A ministra e a ex-secretária da Receita podem se esforçar para mostrar quem está mentindo



A MINISTRA Dilma Rousseff colheu o que plantou. Tinha mestrado pela Unicamp, mas não tinha. Disse a um grupo de empresários paulistas que o governo coletava despesas de Fernando Henrique Cardoso ao tempo em que estivera no Planalto e, semanas depois, convenceu-se que tudo não passava de um "banco de dados". Isso num governo em que não houve nada parecido com o mensalão, no qual José Sarney não é "uma pessoa comum".
Agora a ministra está numa enrascada. É a palavra dela contra a da ex-secretária da Receita Lina Vieira, bacharel em direito pelo Mackenzie de São Paulo, com 33 anos de serviço público. Durante os 11 meses em que ela ficou no cargo, deixou uma frase inesquecível. Referindo-se aos festins de parcelamento e perdão de dívidas de sonegadores, disse que "o bom contribuinte se sente um otário". Passado um mês de sua demissão, o governo ainda não ofereceu uma explicação que faça nexo e mereça respeito.
Numa entrevista aos repórteres Andreza Matais e Leonardo Souza, Lina Vieira disse que, no final do ano passado, a ministra Dilma perguntou-lhe "se eu podia agilizar a fiscalização do filho do Sarney".
A então secretária entendeu que a ministra estava interessada em "encerrar" a investigação.
(Trata-se de uma blitz nas contas do Sarneystão, que já resultou 17 ações fiscais, atingindo 24 pessoas e empresas, entre elas Fernando Sarney, que já foi indiciado em inquérito da Polícia Federal. Não há notícia de que a Receita tenha lavrado alguma autuação como consequência dessa devassa.).
Dilma Rousseff desmente: "Encontrei com a secretária da Receita várias vezes e com outras pessoas junto em grandes reuniões. Essa reunião privada a que ela se refere, eu não tive."
Uma das duas está mentindo. Caso para os sapos de Manuel Bandeira:
"Meu pai foi rei! Foi!"
"Não foi! Foi!"
A denúncia da ex-secretária ampara-se numa insinuação. Admitindo-se que houve o encontro e, nele, o pedido, "agilizar" não significa "encerrar". Tanto é assim que, em setembro de 2007, durante a administração do doutor Jorge Rachid, um juiz federal exigiu que a Receita apressasse seu trabalho. Como até hoje não se sabe por que Lina Vieira foi mandada embora, a insinuação merece o benefício da suspeita.
A ministra e a ex-secretária podem mostrar à choldra que farão um esforço para desmascarar a mentira. Por enquanto, falta base material ao testemunho de Lina Vieira. Ela não lembra a data do encontro com Dilma Rousseff e acredita que poderá consultar suas agendas ao desencaixotar a mudança que mandou para o Rio Grande do Norte. Tomara que consiga, porque o registro de encontros como esse faz parte da boa prática da administração pública. Fica combinado que não se pode exigir de Dilma Rousseff a prova de que não se encontrou com Lina Vieira.
Pela narrativa da ex-secretária, a conversa aconteceu no Palácio do Planalto. Mesmo na hipótese absurda de não haver registro em qualquer das duas agendas, haverá pelo menos algum vídeo da chegada de Lina Vieira à Casa Civil. Ela conta que entrou pela garagem. Novamente, deve haver registro. O encontro, pedido pela secretária-executiva (põe executiva nisso) Erenice Guerra, deveria ser "sigiloso". Sigiloso é uma coisa, clandestino, bem outra.

GOSTOSA


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MÍRIAM LEITÃO

Balanço das horas

O GLOBO - 12/08/09

Tem havido nos últimos tempos mais notícias boas que ruins, aqui e no exterior. Tanto nos balanços das empresas negociadas no mercado de capitais quanto nos indicadores dos países. Alguns dados ainda assustam, como a queda do PIB russo de 10% no segundo trimestre, ou a redução das exportações chinesas em 23% em julho. Mesmo assim, o balanço dos balanços das empresas é positivo.

As empresas se afastaram do precipício. Os resultados dos balanços do 2otrimestre, tanto aqui quanto lá fora, estão surpreendendo. No Brasil, quem ganhou incentivo do governo teve mais chance, mas a crise aqui foi muito menos rigorosa. Quem depende do comércio externo continua sofrendo porque o país está com queda superior a 30% nas exportações.

Desde o início da recessão, quase sete milhões de vagas foram fechadas nos EUA. É contraditório, mas os especialistas dizem que foi esse ajuste no mercado de trabalho que permitiu uma recuperação mais rápida da economia. As empresas estão reduzindo custos e isso já se reflete nos balanços. Houve redução da mão de obra, mas com ganho de eficiência por hora de trabalho. A produtividade disparou 6,8% no 2otri, numa taxa anualizada, enquanto o custo unitário do trabalho caiu 5,8%.

Para o economista-chefe do Banco ABC Brasil, Luis Otávio Leal, as empresas americanas se ajustaram rapidamente ao novo cenário por causa da flexibilidade da economia do país: — Os resultados foram surpreendentes, com praticamente todos os setores divulgando números melhores que o esperado. As demissões são um efeito colateral da crise, mas foi isso que salvou as empresas. Elas aprenderam a ficar mais eficientes e reduziram custos.

Álvaro Bandeira, economistachefe da Ágora Corretora, acredita que parte dessa surpresa boa nos balanços acontece porque as previsões foram feitas no auge da crise, então muito projeção foi carregada para pior. Aqui no Brasil, que ainda aguarda o balanço de empresas grandes, como a Petrobras, tem havido também surpresas positivas.
De acordo com levantamento feito pela Gap Asset, comparando o resultado das empresas com o que a corretora projetava, caiu o percentual de balanços que decepcionaram. No 4otri de 2008, esse número foi de 36%. No 1º tri, de 34%. Até agora, no 2º tri, 28% dos resultados vieram piores.

— O número de surpresas negativas está diminuindo — afirmou Ivan Guetta, gestor de renda variável da GAP.

Para a analista Mônica Araújo, da Ativa Corretora, os resultados das empresas brasileiras têm uma razão a mais para serem positivos: — O Brasil não estava no centro da crise, então acabou sendo bem avaliado pelos investidores. Além disso, o Banco Central reduziu juros, houve aumento de liquidez e políticas anticíclias.

Tudo isso contribuiu para que os resultados viessem melhores — explicou.

Bom é relativo. Em várias empresas o que está sendo comemorado é a saída do bode da sala: a expectativa era tão ruim, as quedas das ações foram tão fortes no ano passado, que qualquer resultado parece positivo.

Já as empresas de varejo, ligadas ao mercado interno, tiveram melhora de resultados mesmo. A renda das famílias foi pouco afetada pela crise e além disso o mercado de trabalho não piorou tanto. A B2W teve uma receita líquida de R$ 873 milhões no 2otrimestre, com crescimento de 20,9% em relação ao mesmo período de 2008. A controladora das Lojas Americanas teve um aumento de receita maior, de 35,7%. Ambas foram ajudadas pela redução de IPI nos produtos da linha branca. Na bolsa brasileira, as empresas de varejo acumulam alta de 75,6% este ano.

Efeito semelhante aconteceu com empresas ligadas à construção civil, que foram beneficiadas pelos incentivos do governo para o segmento de baixa renda. A Gafisa, que comprou a construtora Tenda, teve aumento na receita de 53% em relação a 2008.
As empresas produtoras de commodities tiveram desempenho pior: os setores de siderurgia e mineração sofreram pela baixa demanda externa e a revalorização do câmbio. A CSN sofreu queda de 30% na receita líquida em relação a 2008. A Gerdau teve queda maior, de 42,3%. A Aracruz, de papel e celulose, teve redução de 12%. A Vale sofreu um tombo de 41% na receita líquida do 2º trimestre.

Mônica acredita que os números do segundo semestre serão melhores porque a base de comparação do ano passado ficará mais fraca, já que a crise se agravou em meados de setembro, com a quebra do banco americano Lehman Brothers.

A demanda por crédito no Brasil voltou a crescer e o crédito direto à pessoa física, que mais sofreu no pior da crise, deve terminar o ano com alta de 11% (veja nota no blog www.miriamleitao.com). Esse resultado é menor do que nos anos anteriores, em que o crédito cresceu a taxas superiores a 20% ao ano. Há indícios de que o fenômeno da antecipação de consumo produzido pela queda do IPI deixou de fazer efeito. Lá fora, ainda há vários sinais preocupantes.

O PIB da Rússia que crescia a 7% deve terminar o ano com menos 8%. A China está se segurando pelo mercado interno. A crise não acabou, mas onze meses depois da queda do Lehman a situação está inegavelmente melhor

Com Alvaro Gribel

PAINEL DA FOLHA

A bolha de Sarney

RENATA LO PRETE

FOLHA DE SÃO PAULO - 12/08/09

Duas medidas aparentemente sem ligação uma com a outra fazem parte da segunda etapa da estratégia de sobrevivência de José Sarney (PMDB-AP). Foram proibidas as visitas ao Senado e trocou-se o comando da área de comunicação. O estopim para as duas providências foi a manifestação de cunho "fora Sarney" que invadiu o plenário na semana passada.
Para suspender as visitas, alegou-se a necessidade de proteger o Senado da gripe suína. Já a mudança na comunicação, agora chefiada pelo sarneysista de todas as horas Fernando César Mesquita, nasceu da irritação do presidente com o fato de o protesto, embora ignorado pela TV e pela rádio, ter aparecido com foto, ainda que por poucos minutos, na Agência Senado.




Tô fora 1. Sarney ligou para Michel Temer no domingo pedindo que a Câmara também suspendesse as visitas. Temer disse polidamente que não via razão para tanto.

Tô fora 2. Os servidores concursados da área de comunicação discutiam ontem a divulgação de um abaixo-assinado de protesto à nomeação de Fernando César Mesquita.

Sob nova direção. Manchete ontem no site do Senado: "Fui atropelado pela luta política", diz Sarney. Em reunião com políticos do Amapá.
Script. O acordo costurado pelas facções rivais prevê a abertura de uma única investigação contra Sarney e de outra contra Arthur Virgílio (PSDB-AM). Mais adiante, quando menos gente estiver olhando, as duas seriam arquivadas por falta de provas.

Imune. Cristina Kirchner quer porque quer que seu encontro com Lula, depois da reunião de chanceleres marcada para o dia 24, aconteça em Bariloche, cujo movimento turístico, predominantemente de brasileiros, despencou com a gripe suína.

Pé no freio. A visita de Alvaro Uribe a Brasília, na semana passada, determinou o tom mais cauteloso de Lula na Unasul quanto à questão das bases norte-americanas na Colômbia. Uribe disse ao colega que, se fosse para levar tudo à mesa, seria necessário discutir como armas compradas pela Venezuela foram parar nas mãos das Farc.

Alto risco. No próprio governo, há quem avalie que Dilma Rousseff deveria ter sido menos peremptória na escolha de palavras ao negar ter se encontrado com a então chefe da Receita Lina Vieira, que a acusa de ter pedido para "agilizar" investigação contra empresas da família Sarney.
No ar. O Blog do Planalto vai estrear no dia do anúncio do marco regulatório do pré-sal, inicialmente marcado para a próxima quarta-feira, 19.

Idas... Em mais um capítulo da agitada novela eleitoral de São Paulo, o prefeito de Campinas, Dr. Hélio (PDT), foi sondado para ser candidato ao governo pelo PMDB de Orestes Quércia, que em tese disputaria vaga no Senado com o apoio do consórcio DEM-PSDB. Dr. Hélio, que não se entende com o pedetista Paulinho da Força, está inclinado a aceitar o convite.

...e vindas. Num capítulo anterior, Dr. Hélio havia sido cortejado para ser o não-petista apoiado pelo PT na corrida estadual. O papel foi depois oferecido a Ciro Gomes (PSB), que agora reafirma a intenção de permanecer no tabuleiro presidencial.

Engarrafou. Confusão à vista entre a prefeitura paulistana e as centrais sindicais: apesar da recente proibição, elas prometem usar ônibus fretados para levar manifestantes na sexta à avenida Paulista, onde haverá ato pela redução da jornada de trabalho.

Embaixada. O BNDES aprovará nesta semana um financiamento de R$ 6 milhões para restauração de um casarão no porto de Santos onde funcionará o Museu Pelé. O rei visitará o banco na sexta.
com VERA MAGALHÃES e SILVIO NAVARRO

Tiroteio

"É dolorido ver um ex-collorido fustigar a oposição no Senado enquanto o nosso líder fica escondido embaixo da cama."

Do deputado ANDRÉ VARGAS (PT-PR), sobre a ausência de Aloizio Mercadante (PT-SP) na já célebre sessão em que Renan Calheiros abriu fogo contra o tucano Arthur Virgílio e outros desafetos.

Contraponto

O porta-voz

Há pouco mais de uma semana, líderes do PSDB e do DEM se reuniram com José Serra, no Palácio dos Bandeirantes, para discutir os palanques estaduais de 2010. O governador começou por pedir aos participantes sigilo sobre o teor da conversa, para evitar especulações.
No entanto, menos de dez minutos depois, Serra recebeu ao pé do ouvido o recado de um assessor e avisou, despertando gargalhada geral:
-Bom, acho que vocês podem falar com a imprensa na saída. O palácio já está cheio de jornalistas, porque o Zé Agripino anunciou a reunião no Twitter...

GOSTOSA DO TEMPO ANTIGO


FERNANDO CALAZANS

Coisa de louco

O GLOBO - 12/08/09

Lá se foi o Ney Franco. Vida de técnico de futebol é mesmo um disparate só. Ou eles são endeusados além da conta, considerados os verdadeiros responsáveis por vitórias e por títulos de campeonato ou são condenados por atuações de times ruins, lotados de jogadores ruins. Não há meio-termo. Como já resumiu um antigo treinador, ou ele é bestial ou é uma besta. O futebol é assim. Quero dizer: a paixão do futebol é assim, feita de extremos.
O atacante do Botafogo pode perder pênalti. Pode chutar o vento dentro da área, com a bola rasteirinha na sua frente, pedindo para ser enviada para dentro do gol. Pode repetir a furada minutos depois. O juiz pode dar um gol para o adversário feito por um jogador em impedimento. Isso e muito mais aconteceu na derrota de 1 a 0 do Botafogo para o Atlético-PR. E, depois disso e de muito mais, quem é demitido é o técnico. No caso, é o Ney Franco.
Em outros casos, pode ser o Luxemburgo, o Leão, Cuca, Parreira, Carpegiani, René Simões, Vágner Mancini, Waldemar Lemos, Geninho e até o celebrado professor Muricy Ramalho. Entre outros, é claro.
Na breve lista aí de cima, há técnicos de todos os calibres, em várias graduações de 1 a 10. De bons treinadores até autênticos brucutus. Na verdade, eles são iguais apenas numa hora — a hora da demissão.
Ou melhor, em duas: a hora da demissão e a hora da contratação. Porque, afinal de contas, com a mesma falta de critério com que são demitidos, eles são contratados também. E quem não serve para um clube, aqui, serve no dia seguinte para o clube acolá.
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Já li manchete de jornal assim: “Vanderlei Luxemburgo x Muricy Ramalho, o duelo de hoje.”
Que coisa, hein... Luxemburgo e Muricy maiores até do que o Palmeiras e o São Paulo. Coisa de louco!
Espera aí: eram mesmo Palmeiras e São Paulo? Deixem-me ver... Era sim. Foi no ano passado. Porque agora nem o professor Muricy está no São Paulo, nem o professor Luxemburgo está no Palmeiras.
Luxemburgo está... vejamos... no Santos. E Muricy está... onde mesmo?... no Palmeiras, que era de Luxemburgo.
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O Campeonato Brasileiro se caracteriza, entre outros fatos, por dias frenéticos de dança (como na “Tigresa”, do Caetano) e de contradança dos técnicos.
E apenas cinco treinadores estão em clubes da Primeira Divisão há mais de um ano, a saber, Mano Menezes (Corinthians), Tite (Inter), Hélio dos Anjos (Goiás), Silas (Avaí) e Adílson Batista (Cruzeiro).
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Apesar de toda a marra que sempre ostentou, Maradona preserva um lado humano interessante, ao contrário da maioria dos professores doutores no mundo inteiro, que têm
mais pose do que presidente dos Estados Unidos, sem brincadeira.
Maradona foi um deus do futebol, mas, curiosamente até, não se acha deus por ser técnico.

PAULO ROBERTO FALCÃO

Ainda a pegada

ZERO HORA -12/08/09

Paulo Autuori começa a receber questionamentos por sua visão contrária à marcação com faltas. Ficou complicado falar sobre isso, pois as pessoas interpretam o que se diz de acordo com suas próprias convicções. Por isso tentarei ser didático: como se faz para jogar quando o adversário está com a bola? Obviamente, é preciso tirar a bola dele. Só que para fazer isso não é preciso bater em ninguém, nem tampouco escalar um monte de volantes.

O mais simples é compactar o time, de modo a diminuir os espaços do adversário, que acabará errando ou se deixando desarmar. Para isso, não pode haver mais do que 30 metros entre os zagueiros e o centroavante.

O time que já vi fazer isso com mais eficiência foi o Botafogo de 1995, campeão brasileiro com Paulo Autuori. Num jogo contra o Flamengo, em Fortaleza, o Botafogo fez um primeiro tempo perfeito em termos de marcação por pressão. Não deixou o Flamengo sair de seu campo. E não precisou fazer mais faltas do que o normal. Paulo Autuori, podem ter certeza, sabe como fazer isso. Mas precisa ter os jogadores adequados.

Vitória

A torcida ficou com uma sensação boa, mas a comissão técnica do Inter não pode se iludir: o Sport está frágil, vem da troca do terceiro treinador, estava sem dois zagueiros titulares e ocupa a lanterna do Brasileirão. Ainda assim, cabe reconhecer que o Inter ganhou com autoridade e se empenhou para alcançar os 3 a 0.

Reforço

Ivo Wortmann fez elogios para Renato Cajá, que o Grêmio acaba de contratar para ter uma alternativa no setor de armação.

Meia canhoto e habilidoso, ele também é cobrador de faltas. É um reforço importante para o segundo turno.

Treino

A Seleção enfrenta esta tarde uma equipe quase amadora, mas tem que levar a sério o confronto com a Estônia porque pode ser o último treino para os jogos difíceis das Eliminatórias, contra Argentina e Chile.