sábado, julho 02, 2011

ENTREVISTA - Jair Bolsonaro: "Sou preconceituoso, com muito orgulho" REVISTA ÉPOCA

Jair Bolsonaro: "Sou preconceituoso, com muito orgulho"
REVISTA ÉPOCA


Os leitores de ÉPOCA entrevistam o deputado que combate as leis para proteger homossexuais

REDAÇÃO ÉPOCA

A maioria dos parlamentares foge de discussões sobre temas polêmicos. O deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ) faz questão de correr ao encontro de alugns eles. Ex-capitão do Exército, Bolsonaro sustenta posturas radicais, como a defesa do período da ditadura militar (1964-85). Em defesa de suas opiniões, Bolsonaro comete erros históricos, por exemplo, ao dizer que durante os vinte anos do governo militar havia liberdade e pleno emprego no Brasil. Recentemente, Bolsonaro assumiu o protagonismo na oposição ao projeto que torna crime ataques a homossexuais e ajudou a derrubar a distribuição de kits contra homofobia nas escolas. Na semana passada, após ser absolvido em um processo disciplinar no Conselho de Ética, Bolsonaro respondeu às perguntas dos leitores de ÉPOCA.
                                                ENTREVISTA - JAIR BOLSONARO 
Dorivan Marinho
QUEM É Paulista, militar da reserva, 56 anos, casado, pai de cinco filhos 
O QUE FAZ Cumpre o sexto mandato de deputado federal
O QUE FEZ Ex-capitão do Exército, foi professor de educação física e vereador do Rio de Janeiro. Antes de se filiar ao PP, foi do PDC, PPR, PPB, PTB e PFL
Gostaria de saber qual seria a sua reação se alguém de sua família decidisse abertamente pela homossexualidade. Pio Barbosa Neto, CE Jair Bolsonaro - Seria problema dele. Se essa fosse sua opção para ser feliz não estaria (nem poderia) ser proibido por mim mas, certamente, não iria me convencer a frequentar minha casa.
Qual o limite entre a liberdade de expressão e a ofensa à dignidade daqueles que não se enquadram na sua concepção, como os homossexuais? Alexsandre Victor Leite Peixoto, AL Bolsonaro - Minha luta vitoriosa no Congresso foi contra a distribuição do kit gay nas escolas do 1º grau. Não podia me omitir diante do material que estimulava nossos meninos e meninas a ser homossexuais. E deviam se orgulhar dessa condição. No mais, tudo é demagogia, pois certamente não acredito que nenhum pai possa se orgulhar de ter um filho gay. Homossexualismo é comportamento.
Se você estivesse precisando de uma transfusão de sangue e o único sangue doado fosse de um homossexual, aceitaria a transfusão? Matheus Nunes, RJ Bolsonaro - O risco de ser contaminado com o sangue de homossexual é 17 vezes maior do que com o de heterossexual. Duvido que alguém aceite sangue doado por homossexual sabendo desse risco. Cuidar da minha saúde é diferente de ser preconceituoso.
O que o senhor acha sobre a possibilidade de adoção de crianças por pais homossexuais? Daniel Tonatto, RS Bolsonaro - Somos produtos do meio. Uma inocente criança adotada por pais (?) homossexuais certamente será influenciada e possivelmente seguirá o exemplo dos mesmos. Em vez de aceitar a mentira de que é melhor uma criança ser adotada por casal homossexual, prefiro uma séria política de paternidade responsável.
O senhor não acha que estão querendo acirrar ainda mais a homofobia, tratando os homossexuais com diferenciação? 
Luiz Curvelo, RJ 
Bolsonaro - O PLC 122 que está para ser votado no Senado visa, por exemplo, a condenar de 2 a 5 anos uma pessoa que se negue a vender sua bicicleta a um homossexual. Se aprovado, fará com que um homicida cumpra menos anos de prisão do que quem chame alguém de gay ou bicha.
Se o PL122/06 fosse aprovado, intimidaria os assassinos de homossexuais. Qual seria a ação que o Legislativo deveria tomar para garantir os direitos da população LGBT? 
Camilo Oliveira, RJ 
Bolsonaro -
 A maioria dos homossexuais é assassinada por seus respectivos cafetões, em áreas de prostituição e de consumo de drogas, inclusive em horários em que o cidadão de bem já está dormindo. O PLC 122, na prática, criará uma categoria de vítimas privilegiadas, ou seja, com proteção especial em virtude de sua opção sexual. Assassinar um heterossexual é menos grave que matar um homossexual. Hoje, por exemplo, mais de 10 esposas/companheiras são assassinadas por dia. O que intimidaria a prática de qualquer crime seria a certeza de punição rápida e justa, sendo a pena cumprida em sua totalidade sem qualquer regalia e com trabalhos, ainda que forçados, que pagassem o sustento do preso.
O senhor diz que bateria no seu filho, caso ele fosse efeminado. Frases desse tipo não são, na verdade, uma tentativa de aparecer na mídia e, assim, se eleger novamente? Flávia de Oliveira, SP Bolsonaro - Quando se perde o argumento me acusam de estar à procura de votos. Se posso mudar o comportamento de um filho agressivo ou desrespeitoso por que não poderia mudar o efeminado com a mesma atitude? Homossexualismo, como regra, é comportamento e não genética.
O senhor acha que um deputado federal precisa ser desprendido de preconceitos para avaliar com mais imparcialidade as leis? Suzan Vitorino, PE Bolsonaro - O Congresso é formado por pessoas de todas as vertentes da sociedade e cada parlamentar tem o dever de defender as ideias que o seu eleitorado lhe confia. Se lutar para impedir a distribuição do kit-gay nas escolas de ensino fundamental com a intenção de estimular o homossexualismo, em verdadeira afronta à família é ser preconceituoso, então sou preconceituoso, com muito orgulho.
O Estado por lei deve ser laico. Você não acha errado, como deputado, usar argumentos religiosos para reforçar sua crítica contra homossexuais? Diego da Cunha, RJ Bolsonaro - O Estado é laico, mas seu povo não. Somente católicos e evangélicos somam mais de 90% de brasileiros. A religião é fator de união dos povos e não pode ser desassociada da família, dos bons costumes e da moralidade.
Gostaria de saber se o deputado segue algum tipo de religião. Suzana Marques, RJ Bolsonaro - Acredito em Deus, essa é a minha religião. Sou um católico que, por 10 anos, frequentou a Igreja Batista.
Qual a sua opinião sobre a legalização da maconha? Carlos Magno, RJ Bolsonaro - Entendo que a “Marcha da Maconha” faz apologia ao consumo da maconha, porta de entrada para as drogas pesadas. Estudos sérios indicam que o uso da maconha causa grandes malefícios aos seus usuários, particularmente aos mais jovens e, por esse motivo, sou contra a legalização.
Qual a opinião do senhor sobre a democracia? Paulo Azevedo, RJ Bolsonaro - Vivemos um período de pleno emprego, segurança, liberdade e respeito entre 1964 e 1985. Se houver uma pesquisa entre pessoas com idade superior a 60 anos tenho certeza de que a quase totalidade concordará com essa afirmação. Hoje temos medo de ir à escola, pois corremos o risco de sermos assaltados ou assassinados, mesmo durante o dia. Nossa “democracia” é governada por “líderes” que idolatram “democratas” como Fidel Castro, Hugo Chávez, Ahmadinejad e Khadafi.
“A maioria dos homossexuais é assassinada por seus respectivos cafetões, em horários em que o cidadão de bem já está dormindo”
Várias vezes o senhor comentou em entrevistas que era a favor de uma possível volta do governo ditatorial no Brasil. Por quê? Rafael Lima de Oliveira, CE Bolsonaro - É mentira que o regime militar foi uma ditadura. Foi uma necessidade para aquele momento, e a adoção do regime foi motivada por anseios de todos os segmentos da sociedade, incluindo a mídia em geral e a igreja. Essa afirmativa pode ser comprovada com a leitura de jornais e revistas da época. Há 25 anos os militares são vilipendiados diuturnamente, inclusive acusados de torturadores, e as Forças Armadas permanecem como uma das instituições mais confiáveis do país, o que induz ao entendimento de que fizeram um bom governo.
Se o senhor se diz partidário da família, dos bons costumes e dos cristãos, por que ser defensor da ditadura? Raquel Pereira de Medeiro, SP Bolsonaro - É uma grande mentira atribuir o adjetivo de ditadura ao regime implantado no Brasil, no período de 1964 a 1985. Ditadura, à época, existia em Cuba e perdura até os dias atuais, onde os integrantes da cúpula do nosso governo vão passar férias e idolatram Fidel Castro. O que os militares fizeram naquele momento foi evitar a implantação da ditadura do proletariado que, certamente, estaria perdurando até os dias atuais, a exemplo de Cuba.
Em qual aspecto o senhor sente mais falta do regime militar? Darlan Westphal Bittencourt da Cunha, SC Bolsonaro - Do respeito às autoridades, aos professores, do pleno emprego, da segurança e da seriedade como se tratava a coisa pública. Não há notícia de um só oficial-general, coronel, capitão ou sargento que tenha enriquecido. Essa foi a principal causa do Brasil ter passado da 49ª para a 8ª economia mundial, os militares não eram corruptos.
A Comissão da Verdade seria revanchismo? Jonhatan Amaral, CE Bolsonaro - Partindo do princípio de que todos os integrantes serão indicados pela presidente da República, não se pode esperar imparcialidade do que for relatado. O que se pretende é elaborar relatórios mentirosos, endeusando os petistas e demais adeptos da esquerda e satanizando os militares para que conste em livros didáticos uma nova história escrita de forma unilateral e mentirosa. Assim, fica claro que é um ato revanchista.
O senhor por algum motivo tem medo da divulgação dos documentos da época da ditadura militar? Claudecir Soares Barboza, PR Bolsonaro - Quem tem que ter medo é o pessoal da esquerda, pois tais documentos podem comprovar os recursos vindos por intermédio de Cuba para financiar a luta armada no Brasil. Fidel Castro deveria ter uma estátua, do tamanho do Cristo Redentor, como símbolo da democracia petista. Ditadura vivemos, sim, hoje em dia, em que o governo impede a criação de qualquer CPI e fecha o Congresso com medidas provisórias.
Durante o regime militar foi introduzida a disciplina escolar "Moral e Cívica". O senhor acredita que ela deveria retornar ao currículo dos alunos da rede pública? 
Lucas Felizardo, RS
 
Bolsonaro - Além da disciplina “Moral e Cívica”, cantava-se o Hino Nacional com a mão no peito e levantava-se na entrada e saída do professor da sala de aula. Sem disciplina e educação séria não existe futuro promissor. Hoje tirou-se a autoridade do professor na sala de aula, adotam-se livros que ensinam a falar e fazer contas de formas erradas e ainda querem introduzir material didático para estimular nossos filhos a ser homossexuais.
Gostaria de saber se seria possível um golpe militar nos dias atuais. E, como ex-militar, se isso viesse a ocorrer, quais seriam as melhorias imediatas? Adriano Barbosa de Souza, MG Bolsonaro - Os militares não dão golpe. As Forças Armadas são instituições permanentes e, tradicionalmente, sempre atenderam os anseios do povo, já que desde suas criações são formadas por integrantes de todos os segmentos sociais. Assim foi em 1964. O povo, sim, é que deveria dar um “golpe” nos maus políticos que iludem a boa fé dos eleitores. Alguém tem alguma dúvida que programas assistencialistas, como o Bolsa Família, que acostuma o homem à ociosidade, são um obstáculo para que se escolha um bom presidente? Já dizia o saudoso Luiz Gonzaga: “Mas doutô uma esmola a um homem qui é são ou lhe mata de vergonha ou vicia o cidadão”.
O que o senhor acha que seria preciso para a direita conservadora voltar a ter voz na mídia nacional? Gabriel da Costa Neto Nunes, DF Bolsonaro - A mídia, atualmente, depende basicamente de recursos governamentais. Assim, por necessidade, discrimina e sataniza os políticos de direita, já que o governo é de esquerda.
O senhor tem alguma pretensão de criar um partido realmente de direita, já que o seu próprio PP faz parte da bancada governista de esquerda? Robson Tavares de Abreu, RJ Bolsonaro - É muito trabalhoso e caro criar um novo partido, já que ele nasce sem horário para a propaganda na TV e no rádio. O PP, embora apoie o governo, não patrulha seus deputados, que têm liberdade de expressar suas opiniões e votos, como é o meu caso.
Qual a sua opinião quanto à criação do Partido Militar Brasileiro? Roberto Lanius, SC Bolsonaro - Creio que os militares, por suas limitações econômicas e políticas, encontrarão muitas dificuldades para manter um partido com essa denominação, pois faltarão argumentos para angariar votos de civis. O PMB é um partido natimorto até porque seu presidente, um capitão da PM de São Paulo, declarou que repudia o que denominou “golpe de 1964”. Gostaria de lhe perguntar se endeusa os que mataram o jovem tenente Alberto Mendes Júnior, no Vale do Ribeira, e se sua preferência é pelos militares das Forças Armadas ou pelo bando de Carlos Lamarca.
O senhor fala que é livre para votar em matérias sem obrigação do partido. Por que votou na MP que pode esconder as falcatruas nas licitações para a Copa do Mundo e para as Olimpíadas? 
Fernando Pedro da Silva, RJ
 
Bolsonaro - Foi um de meus raros votos com o partido. Só um idiota pode acreditar que qualquer obra possa ser realizada com gastos secretos. Pelo projeto, o TCU e o MP têm acesso a todas as fases da licitação. Após a concorrência, o governo abre o seu orçamento. Desde o fim do período militar, as falcatruas tornaram-se regra no Executivo.
Há reais intenções em desmilitarizar as polícias estaduais para caminhar em direção à unificação? O senhor é a favor do fim do alistamento obrigatório? Wagner Pereira, SP Bolsonaro - Na realidade há outras intenções por parte de quem defende essas ideias, tal como retirar o porte de arma de policiais e bombeiros militares fora do serviço. Há de se ressaltar que somente 5% dos alistados são aproveitados e a quase totalidade dos jovens que incorporam são voluntários. Os que serviram as Forças Armadas sempre lembram com muito orgulho seu passado de recruta.
“Fidel Castro deveria ter uma estátua, do tamanho do Cristo Redentor, como símbolo da democracia petista”
O senhor acha necessário que exista algum controle de imigrantes que venham trabalhar no Brasil? A direita europeia está certa em restringir a imigração? Toni Ricardo Eugênio dos Santos, SP Bolsonaro - Sim. E mais, o Brasil não pode continuar crescendo à taxa de 3 milhões de habitantes por ano. Sem uma política de planejamento familiar fica inviável combater a miséria, a fome e a violência. Por outro lado, estrangeiros vêm ao Brasil pela falta de mão de obra especializada em nosso meio.
É verdade que o senhor votou num projeto de lei para acabar com o 13º Salário, FGTS, Licença Gestante e outros direitos trabalhistas, conforme consta num e-mail que circula pela internet? Gesiel Oliveira, PA Bolsonaro - Essa foi uma das grandes mentiras do PT para conquistar maioria nas eleições de 2002. Na web, a campanha foi massiva contra os candidatos do PMDB, PFL, PTB e PP. Os candidatros do PT e PC do B foram os grandes beneficiados com essa campanha difamatória. Tais direitos estão incluídos no art. 7º da Constituição, considerados como “cláusula pétrea”. Portanto, não passível de supressão nem por proposta de emenda à Constituição, muito menos por projeto de lei como foi divulgado.
Os militares terão aumento neste ano? Wilton José Soares de Medeiros, PB Bolsonaro - A decisão de reajustar a remuneração dos militares é privativa da Presidente da República, Dilma Rousseff, que assumiu compromisso, por escrito, de manter a política salarial de seu antecessor, com recomposição anual. Entretanto, até o momento, se nega a discutir tal assunto.
Como motivar nossos militares se os salários nas Forças Armadas são baixos e outras carreiras de Estado têm salários melhores? Paulo da Silva Gomes, RN Bolsonaro - Por ano, mais de 500 oficiais e praças de carreira deixam as Forças Armadas, sendo a maioria por aprovação em concurso público. Não dá para ser patriota com uma família para sustentar e passando necessidade. O governo sempre se prevaleceu da disciplina para subjugar os militares. O revanchismo ainda fala alto no governo do PT.
A MP 2215/2000 está parada no Congresso Nacional há quase dez anos. O que ela representa para a família militar? Claudio Oliveira, RJ Bolsonaro - A Medida Provisória 2215-10, que trata da Lei de Remuneração dos Militares, é originariamente de dezembro de 2000. Seu relator, Romeu Tuma, faleceu sem poder colocá-la em votação. Essa MP provoca enorme desestímulo para a carreira. Infelizmente o Legislativo não tem independência para votá-la e o Executivo parece ter interesse na deterioração do material humano militar.
Gostaria de saber como anda o seu projeto em relação ao fim do exame da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). Felipe Azevedo, RJ Bolsonaro - O lobby da OAB no Congresso é muito forte. Tal exame rende, anualmente, milhões de reais aos cofres da entidade. No período militar não existia tal exame e os alunos eram melhores formados que nos dias atuais, e não eram extorquidos pela OAB.
Por que o senhor é contra o exame da OAB? O senhor não acha que acirrará ainda mais o mercado de trabalho dos advogados? Murilo Silva Lacerda, MG Bolsonaro - É um absurdo que depois de, no mínimo, 5 anos de estudos e aprovação em uma faculdade autorizada a funcionar e fiscalizada pelo governo, um bacharel fique impedido de exercer sua profissão por exigência de uma entidade que se diz democrática. Discordo de que a liberação dos formandos acirrará ainda mais o mercado de trabalhos dos advogados. Em todas as demais profissões existem bons e maus profissionais e sempre que ocorre excesso de profissionais a lei de mercado faz com os jovens busquem alternativas.
Caso fosse eleito Presidente da República, quais seriam suas 3 prioridades? Rubem B. Weber, PA Bolsonaro - Obrigado pela lembrança e, se fosse o caso, conduziria o país de forma semelhante ao período entre 1964 a 1985, quando o professor era valorizado, o policial sentia orgulho de sua profissão, o Congresso tinha moral e o Judiciário era respeitado.
Deputado, quando e por que o senhor foi demitido do serviço ativo do Exército Brasileiro? Nelson dos Santos Carmona, BA Bolsonaro - Não fui demitido, mas sim transferido para reserva remunerada, por força de imposição legal, ao ser diplomado vereador pelo Município do Rio de Janeiro, em 21 de dezembro de 1988.
O senhor não acha que, se explanasse suas ideias de forma mais branda e sem partir para o lado pessoal, teria uma maior aceitação do público em geral? Amanda Ferreira, DF Bolsonaro - Sem contundência ninguém é ouvido. Temos excelentes deputados que expressam suas ideias de forma polida e por isso não encontram eco na mídia.
Como o senhor avalia a abordagem da imprensa em geral com suas opiniões? Allysson Almeida, RJ Bolsonaro - Nunca me dão o benefício da dúvida. Para mim, tudo é fato consumado. Não posso ter opinião contrária, pois sou taxado de preconceituoso. Tenho paz na consciência e falo o que penso e tenho apoio de considerável parcela da sociedade.
O deputado avalia que suas declarações são divulgadas corretamente ou distorcidas? Ednilson Souza, DF Bolsonaro - Acontece de tudo. Minhas declarações vendem jornais e revistas e dão audiência no rádio e na TV. As distorções são apenas detalhes.

RUTH DE AQUINO - Onde está o menino Juan?

Onde está o menino Juan?
RUTH DE AQUINO
REVISTA ÉPOCA

Época
RUTH DE AQUINO é colunista de ÉPOCA
raquino@edglobo.com.br
Juan Moraes, de 11 anos, usava o chinelo lilás da mãe, grande para seu pé. Era o único que tinha. Voltava para casa com o irmão, Wesley, de 14. Num beco, foram feridos por tiros de PMs que perseguiam um traficante. Ombro e perna atingidos, Wesley viu Juan caído e foi pedir socorro à mãe, Rosineia. Quando voltaram, o caçula tinha sumido. Passou-se mais de uma semana. Só aí a perícia entrou em ação, as buscas começaram e os quatro policiais foram recolhidos ao quartel. O chinelo foi encontrado, sujo de sangue.
É este o mesmo Rio-modelo das UPPs, as Unidades de Polícia Pacificadora que se tornaram referência mundial? Um programa festejado pela população das favelas e do asfalto? Que treina uma nova polícia, menos truculenta e mais cidadã? Onde está a prometida agilidade nos inquéritos contra as frutas podres da corporação? É o mesmo Estado do Rio que tem premiado os policiais com menos mortes no currículo? E que expulsou, nos últimos quatro anos, 947 policiais militares e civis, principalmente por homicídio? Um caso é um caso. Mas tem um rosto e um nome. Cartazes do Disque-Denúncia mostram a foto do menino desaparecido. Mais de 100 mil pessoas se mobilizaram no Twitter, pelo rótulo #ondeestajuan.
Juan não comeu a janta que a mãe preparou no dia 20 de junho. No caminho de casa, numa favela de Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, havia tiros. Juan não brincou mais, não foi velado nem enterrado. “Todo mundo em casa naquele nervosismo, cadê a criança que não aparece de jeito algum. Tem de ver se tem alguma solução”, diz José Salvador de Jesus, avô de Juan. “Não tenho mais lágrimas para chorar”, diz a mãe, Rosineia, de 31 anos. Ela entregou à polícia uma camisa polo e uma calça jeans do filho para ajudar cães farejadores. O faro de mãe não serve mais – só diz a ela que Juan está morto.
Na operação, os PMs mataram o suposto traficante, Igor, de 17 anos. E também balearam com três tiros pelas costas Wanderson de Assis, 19 anos. Preso em “auto de resistência” como traficante, por tentativa de homicídio. Foi algemado ao leito do hospital. Em sua mochila, só havia marmita e desodorante. Trabalhou até as 19h15 na loja de doces, o cartão de ponto confirma. O patrão também. À noite, Wanderson estuda numa escola que ele mesmo paga. O pai adiou uma cirurgia para defender o filho. “É humilhante”, diz. “Os PMs me falaram que ele estava perdido para o tráfico, mas meu filho é honesto.” Um juiz deu a Wanderson liberdade provisória. Ele telefonou do hospital para os parentes, já sem algemas. De réu, pode virar testemunha de um crime. Está sob a proteção da Polícia Civil.
No caminho de casa, numa favela de Nova Iguaçu, Juan não brincou mais, não foi velado nem enterrado
Pobres não são necessariamente honestos nem bandidos. PMs não são necessariamente bandidos nem heróis. Confrontos em comunidades carentes, dominadas há décadas por traficantes criminosos, continuarão a produzir vítimas, de um lado e de outro, até que investimentos sociais consolidem as UPPs. Mesmo em favelas pacificadas, mais da metade dos policiais confessa ter medo de ataques com armas pesadas. Na Favela da Coroa, onde já há uma UPP instalada, um policial foi atingido por uma granada e precisou amputar a perna.
O sumiço de um menino de 11 anos numa ação obscura de policiais é algo raro e grave num Estado que tem comemorado redução de homicídios. Na cidade do Rio, 56% dos cariocas acham que a segurança melhorou e 72% estão otimistas com o processo de pacificação. Em outras cidades do Estado, não é bem assim. O comandante da PM, coronel Mário Sergio, afirmou: “Se algum policial for considerado culpado desse ato abjeto e covarde, será expulso”.
Além da morte estúpida de uma criança, o que mais revolta é a lentidão nas buscas e investigações. A tragédia do menino pobre e negro da periferia é a mesma da engenheira Patrícia Franco, loura e rica. Ela desapareceu em 2008, quando voltava para casa, na Barra da Tijuca. Seu carro foi achado com marcas de tiros de fuzil. Seu corpo nunca foi encontrado. Quatro PMs foram indiciados por homicídio seguido de ocultação de cadáver. “Quando vejo na TV o caso de Juan, é como se eu revivesse o que aconteceu com a minha filha”, afirma Antônio de Franco, pai de Patrícia.
O Rio pergunta. Onde está Juan? Cadê Patrícia?

ANCELMO GÓIS - Magoou

Magoou
ANCELMO GÓIS
O GLOBO - 02/07/11

O que se diz na Oi é que a Portugal Telecom, sua sócia, até agora não engoliu a escolha de Francisco Valim para presidir a empresa. A conferir.

Ana na Flip 

A ministra Ana de Hollanda também vai à Flip, semana que vem. Além de Dilma.

18 do Forte 
Terça agora, na Igreja de Santa Cruz dos Militares, no Rio, será celebrada missa em memória dos participantes civis e militares do movimento tenentista de 5 de julho de 1922 e 1924. O momento mais conhecido daquele período foi o levante da guarnição do Forte
de Copacabana, em 1922, que passou à História como a Revolta dos 18 do Forte. 

Comando de batom
Pela primeira vez, a Marinha Mercante terá duas mulheres no comando de um navio. Hildelene Lobato Bahia será a comandante do navio Rômulo Almeida, lançado ao mar pelo Programa de Modernização e Expansão da Frota da Transpetro. Vanessa Cunha dos Santos Silva será sua imediata.

Saravá meu bafo!
O coronel PM Milton Corrêa da Costa, que preside uma junta de recursos de infrações de trânsito no Rio, é testemunha. Uma carioca punida na Lei Seca por se recusar a fazer o teste do bafômetro alegou, em sua defesa, acredite, que tinha acabado de sair de uma sessão de umbanda, na qual fora obrigada a... “beber uns goles de marafo”: “A culpa é do santo, não minha!”

Fado em Paraty
O escritor Valter Hugo Mãe, que tem uma banda de música pop em Portugal, vai dar uma palhinha na festa de sua editora, a Cosac Naify, numa escuna, na Flip, em Paraty, no sábado, dia 9. Cantará um fado.

Alô, é Blu?
A Nextel, que, como saiu aqui, vai perder Neymar para a Oi, já tem substituto para o meninocraque do Santos e da seleção. Seu novo garoto-propaganda será Carlos Saldanha, o diretor brasileiro de “Rio”, o divertido longa da ararinha Blu. A campanha, nacional, estreia dia 17. 

Vai ser assim... 

No filmete, Saldanha anda por um estúdio branco, enquanto seus desenhos surgem na tela. O cineasta mantém o olhar fixo na câmera e conta sua trajetória de sucesso: “Um cara que nunca foi o melhor, mas nunca desistiu de correr atrás dos seus sonhos.”

Céu de brigadeiro
A American Airlines recebeu autorização da Anac para novos voos diários de Belo Horizonte e Brasília direto para Miami. A operação começa em novembro.

Diário de Justiça

A 11a- Câmara Cível do Rio condenou a Sales Lead Transportes Ltda. a indenizar a atriz Tânia Pires em R$ 40.149,39 por danos materiais e em R$ 20 mil por danos morais. Convidada a encenar em Oslo a peça “O pequeno Eyolf”, Tânia contratou a empresa para levar o cenário, mas a carga não chegou a tempo. E, ao voltar, desembarcou tarde para a reestreia no Rio. O relator foi o desembargador Cláudio Mello Tavares.

Outdoor vivo

Segunda, quatro modelos vão desfilar numa passarela posta num outdoor em frente à Central do Brasil, no Rio. O outdoor vivo faz parte do concurso “Isso que é musa”, da cerveja Cintra, que elegerá a sua nova garota-propaganda. A agência Binder assina a campanha. 

Sacre Coeur

O Colégio Sacre Coeur de Marie, no Rio, festeja hoje seu centenário. Estudaram ali, entre outros, a ministra Ellen Gracie, Lucinha
Araujo e Du Moscovis. 

Santo Inácio 
A turma de 1961 do Colégio Santo Inácio, no Rio, organiza uma festa de 50 anos de formatura, em outubro. Na coordenação, estão os exalunos Paulo Lins e Silva, José Luiz Alquéres, Jorge Hilário Gouvêa Vieira e Joaquim Falcão.

A carne é fraca 

Surgiu em frente ao BarraShopping, no Rio, uma barraquinha de... churrasquinho. O vendedor cobra R$ 6. A quem chia, explica: “Lá dentro, madame não come por menos de R$ 10.” É. Pode ser. 

ILIMAR FRANCO - O Congresso reage

O Congresso reage
ILIMAR FRANCO
O GLOBO - 02/07/11 

Enquanto o governo Dilma fala em limitar as emendas paroquiais, nas quais os parlamentares destinam recursos para os municípios, o Congresso pretende tornar a execução dessas emendas compulsória. O relator da Lei de Diretrizes Orçamentárias de 2012, deputado Márcio Reinaldo (PP-MG), incluiu a regra nos artigos 67 e 68 dizendo que: “Não serão objeto de limitação de empenho e movimentação financeira as despesas decorrentes de iniciativas parlamentares individuais”.

A missão Jobim

A presidente Dilma deu ontem ao ministro Nelson Jobim (Defesa) a tarefa de remover as últimas resistências à aprovação do projeto que acaba com o sigilo eterno dos documentos oficiais. Caberá a ele conversar com o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), e o presidente da Comissão de Relações Exteriores, senador Fernando Collor (PTB-AL), que têm obstruído a votação. Na audiência com a presidente, ontem, Jobim relatou que as Forças Armadas não tinham objeção ao projeto, já que as informações de caráter tecnológico, como é o caso das centrífugas de enriquecimento de urânio, continuarão preservadas. 

"Eu não vou falar nada. Já pensaram se eu tivesse falado antes” — Mendes Ribeiro, deputado federal (PMDBRS), convidado ontem pela presidente Dilma, após meses 

RECOMPENSA. 
O novo líder do governo no Congresso, o deputado Mendes Ribeiro, foi o único parlamentar do PMDB gaúcho que
pediu votos para a presidente Dilma Rousseff. O partido fez campanha para José Serra no estado. Na foto, Mendes Ribeiro aparece entre o vice Michel Temer e a ministra Maria do Rosário (Direitos Humanos) durante uma caminhada na Rua da Praia, em Porto Alegre, às vésperas do segundo turno.

Tudo como dantes

O relator da Comissão de Orçamento, deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP), ligou ontem para os líderes dizendo que não pretende acabar com as emendas individuais nem reduzir o valor total a que cada um tem direito (R$ 13 milhões).

Somando

Ao convidar o deputado Mendes Ribeiro (PMDB-RS) para líder do governo no Congresso, a presidente Dilma disse que, além de suas tarefas normais (Orçamento e vetos), ele será chamado para auxiliar na articulação política geral. 

A fobia de uns e de outros

Enquanto alguns petistas reconhecem méritos do governo FH, alguns tucanos mantêm a postura de desconstruir o governo Lula. O Conselho Político do PSDB divulgou nota dizendo: “Durante o mandato de Lula, graças ao seu talento de animador e à publicidade massiva, criou-se a impressão de que a era do crescimento dinâmico havia voltado para ficar. Impressão, infelizmente, sem fundamento”.

Retaliação

Desde que seu presidente, Paulo Ziulkoski, assumiu a linha de frente para a redistribuição igualitária dos royalties do petróleo, a Confederação Nacional dos Municípios não tem mais qualquer município carioca filiado à entidade.

No clima

A ministra Izabella Teixeira (Meio Ambiente) desembarcou ontem em Berlim para reunião com representantes de 30 países, na tentativa de chegar a um acordo sobre redução de gases estufa. O Protocolo de Kyoto expira no ano que vem.

 O DEPUTADO Brizola Neto (PDT-RJ) é o nome mais cotado para ser o relator do projeto de criação da Comissão da Verdade na Câmara. 
 DO DEPUTADO Marcelo de Castro (PMDB-PI), no lançamento da Frente pela Democratização dos Royalties: “O Lula é um homem extraordinário, mas virou as costas para estados e municípios”.
● EM ALMOÇO com a presidente Dilma, o senador Pedro Taques (PDT-MT) defendeu o fim das emendas individuais ao Orçamento. “Eu não trabalho para acabar com as emendas individuais”, afirmou Dilma.

TRANSPLANTE DE PERNA

SONIA RACY - DIRETO DA FONTE

Bandeira
SONIA RACY
O ESTADÃO - 02/07/11

O Pão de Açúcar tem em mãos parecer do advogado Sergio Bermudes. O documento atesta que não foram quebrados, até agora, os termos do contrato do acordo de acionistas feito com o Casino.

Primeiro passo?


Estava programada para ontem, conforme pedido por Jean-Charles Nauri, do Casino, a definição da data da reunião de conselho de Wilkes (empresa que abriga Pão de Açúcar e Casino).

Levando em conta o timing para que sócios e a administração do grupo capitaneado por Abilio Diniz estejam prontos para opinar sobre a proposta de fusão com o Carrefour.

Tour de force


Kátia Abreu informou, durante palestra na Fecomércio, que a Sociedade Rural Brasileira está contratando agência de publicidade para fazer uma campanha denunciando as ONGs que são contra a agricultura e o Brasil. Seria deflagrada em setembro.

Roberto Rodrigues, da Fiesp, também pretende montar campanha em defesa do agricultor que vem sendo culpado pelo desmatamento e a destruição do meio ambiente. A previsão é que ela entre no ar neste mês. Tudo para influenciar no Código Florestal.

Battery Park SP


Mais que um empreendimento imobiliário, a WTorre quer fazer do Complexo JK, na Marginal Pinheiros, um point turístico. Quase um novo bairro.

A exemplo do que acontece com o Battery Park, em Manhattan, ou Puerto Madero, em Buenos Aires, os executivos da empresa falam em "presente para São Paulo" e conceito de "village" e "district" quando se referem ao projeto, que deve estar concluído no primeiro semestre de 2012.

Fazendo escola

Conhecido pela discrição, Michel Temer teve momento Lula na Festa de São João em Campina Grande (PB), anteontem.

Se lançou no forrozão contrariando o esquema de segurança.

E mandou ver na carne de sol regada na manteiga de garrafa e no suco de cajá.

Plim-plim


De saída do PV, Fábio Feldmann segue novos rumos: será comentarista de sustentabilidade da Globo.

Família vende tudo

Roger Abdelmassih deixou restos a pagar em todos os sentidos. Depois de a família vender móveis, arte e utensílios, chegou a vez de uma de suas filhas se desfazer de "bens".

Montou um bazar, em sua casa, para passar adiante bolsas, sapatos, vestidos e casacos. Tudo de grifes conhecidas.

Pirâmide
Na esteira de nova onda de violência no Egito, o Brasil sai na frente. Cesário Melantonio Neto, embaixador brasileiro, está costurando parceria nas áreas eleitoral e agrícola. "Segurança alimentar está na nossa agenda. Bem como a sugestão de uso de urnas eletrônicas," explicou à coluna.

Vale lembrar que o País já colocou em curso a montagem de programas sociais por lá.

Bola toda

Satisfeito com a habilidade de Patriota em costurar apoios para sua bem-sucedida candidatura à FAO, José Graziano apelidou-o de... Messi.

Afinado

João Gilberto fez questão de acompanhar a criação da logomarca da sua turnê, programada para o segundo semestre: um banquinho e violão (abaixo).

Sabendo-se da sua fobia de se apresentar em público, resta saber se ele usará mesmo o... banco.

Na frente

Kaká, Muricy Ramalho e Faustão provocaram curiosidade ontem durante almoço no Rodeio do Iguatemi. Que será que conversavam tanto?

Em plena Flip, Eduardo Muylaert expõe nova série de fotos. Dia 8, na Galeria Zoom de Paraty.

Fabiana Justus arma hoje o primeiro desfile da sua Pop Up Store no Fashion Day In no MuBE. Também por lá Stella Jacintho e Luciana Faria exibem coleção da Thelure.

Abre hoje, na Pinacoteca, mostra de Arcangelo Ianelli.

Observação de um leitor atento. Na busca pela paz, Casino e Pão de Açúcar contrataram dois advogados criminalistas para atuar em uma briga societária: Márcio Thomaz Bastos e José Carlos Dias.

MÍRIAM LEITÃO - Próximos lances


Próximos lances
MIRIAM LEITÃO
O GLOBO - 02/07/11

O caso Dominique Strauss-Kahn já foi tudo: acusação de ataque sexual, crise na maior organização financeira internacional, discussão sobre governança global, mudança radical do cenário político francês. Ontem, entrou em nova fase. A partir de agora, pode haver uma reviravolta no cenário político da França e um aumento do antiamericanismo francês.

Difícil imaginar na ficção uma sucessão tão surpreendente e espetacular de fatos como a do caso DSK. Ontem, solto e com US$ 1 milhão de volta ao bolso, ao lado da inabalável Anne Sinclair, Dominique ainda tinha de carregar várias incertezas e sequelas: perdeu o cargo mais importante das finanças internacionais, perdeu o posto de favorito nas eleições francesas, e ainda tem de esperar até 18 de julho para uma nova audiência. O caso permanece aberto a novas surpresas.

Jack Lang, o ex-ministro da Cultura francês, disse que ontem era um dia feliz não apenas para seu amigo Dominique Strauss-Kahn, mas para "a França". O ponto delicado agora é este. Se DSK for inocentado das acusações contra ele, o antiamericanismo vai aumentar na França. Ontem, os socialistas já diziam que os Estados Unidos demonstraram um grave problema no seu processo porque os policiais teriam tratado um inocente como criminoso. Condenado antes das investigações, na dúvida, a Polícia teria agido contra o réu, causando danos irreversíveis. "Não se pode brincar com a honra e a dignidade das pessoas", disse Jack Lang.

Se as acusações contra ele de fato caírem, Strauss-Kahn poderia voltar a ter um papel na eleição francesa de abril do ano que vem? Lang acha que sim, que ele jogará um papel central nas eleições. E a mesma frase foi repetida por outros socialistas que ontem estavam entre a comemoração, o alívio, e as articulações políticas diante da reviravolta.

Mas que candidato seria DSK depois disso? Dependendo do desenrolar do processo, ele poderá jogar com o sentimento nacionalista ultrajado, mas sempre terá pontos fracos para serem explorados pelos adversários. Dois meses antes das eleições, a linda Carla Bruni, mulher do seu principal adversário, Nicolas Sarkozy, estará tendo o filho do casal que hoje está no poder na França. As cenas da família feliz sempre vão atrair a atenção da mídia francesa e mundial.

Ainda que o processo desmorone pelas contradições apresentadas pela camareira na investigação, durante os últimos meses outras mulheres disseram ter sido assediadas por ele. Na França, não há a mesma obsessão pela vida privada dos políticos, pelo contrário, mas este caso é público e tratado de forma espetacular desde o início: o mundo inteiro o debate. Pelo teor da carta dos promotores aos advogados de DSK, sabe-se que a camareira do hotel do grupo francês Sofitel, em Nova York, mentiu seguidamente para as autoridades americanas e mudou suas versões sobre o que houve no quarto 2806. Mas nada do que está ali impede que seja verdadeira sua acusação de ter sido atacada. A dúvida vai pairar sempre durante a campanha.

Os possíveis candidatos do Partido Socialista reagiram ontem da mesma forma: dizendo que suspenderiam o processo de escolha de quem vai concorrer à presidência, caso ele seja solto. A dúvida é se ele estará em condições de formalizar sua candidatura até o dia 13, que é o prazo final de registro.

No cenário em que ele seja completamente inocentado, o sentimento antiamericano entre os franceses será alto. Afinal, ele foi localizado porque ligou para o hotel - o que não é o comportamento de um culpado - e foi exibido num espetáculo que o fez perder o cargo e, possivelmente, a presidência da França. Por isso, até os seus mais ardorosos defensores no Partido Socialista diziam que ele ainda jogará um papel importante nas eleições, mas acrescentavam: "sendo ou não candidato".

O terremoto DSK paralisou o FMI no momento mais dramático da crise europeia, o que agravou o problema grego. Em seguida, provocou um grande debate sobre o monopólio que a Europa exerce no controle do cargo de diretor-gerente do FMI. Ao fim, a mesma França continuou no posto pela fraqueza dos concorrentes e pela não aceitação da candidatura de Stanley Fischer, barrado por ter dois anos a mais do que o limite de 65 anos. O que o caso mostrou é que caducou a norma que dá à Europa o cargo como se fosse um trono. Isso num momento em que o continente é o mais dependente dos recursos do Fundo, e em que os países ricos vêm perdendo ano após ano participação no bolo da economia global. Ficou claro que, diante da crise e da surpresa do evento, o mundo emergente aceitou que Christine Lagarde fosse nomeada, mas claramente o FMI terá de modernizar sua governança.

O caso é tão rumoroso que pode ter novos surpreendentes desdobramentos que mais lembrarão os inverossímeis lances de um folhetim, mas o que já se sabe é que: o FMI agora é dirigido por uma mulher pela primeira vez, que provavelmente ela será sucedida por um não europeu porque o reinado do continente caducou, e que a eleição da França de 2012 será mesmo emocionante. Com Álvaro Gribel

GOSTOSA

AUGUSTO DE CAMPOS - Pós-Walds


Pós-Walds
AUGUSTO DE CAMPOS
O ESTADÃO - 02/07/11

No artigo a seguir, um dos mentores da poesia concreta revê a extraordinária herança cultural do escritor paulista Oswald de Andrade, o homenageado deste ano da Festa Literária Internacional de Paraty, que começa quarta-feira

Conheci "Oswáld" (não "Ôswald") em 1949, na companhia de Décio Pignatari e Haroldo de Campos. Eu tinha 18 anos, Décio, o mais velho, 22. Fomos apresentados a Oswald por Mário da Silva Brito, que nos levou ao apartamento do poeta. Estava ainda muito ativo, defendendo o Modernismo e combatendo a "geração de 45", em conferências e desaforadas crônicas (Telefonemas), e às vezes aos risos e berros no Clube de Poesia, com o costumeiro sarcasmo e muitos trocadilhos.

Mesmo reconhecido como o último representante radical dos modernistas (Menotti del Picchia, Guilherme de Almeida e Cassiano Ricardo eram biacadêmicos), não era levado muito a sério nem pelos poetas dominantes nem pelos "chato-boys" da revista Clima, que chegou a botar fé no oposto da poesia oswaldiana, a oratória engajada de Rossine Camargo Guarnieri... Mas ele se dava com todos. Temido polemista, porém sociável e ridente, por certo contava que suas gozações públicas, de ferinas a ferozes, fossem perdoadas pelos inimigos com os quais facilmente se reconciliava sem propriamente se emendar.

Em memorável comunicação ao Congresso de Poesia, realizado em São Paulo, em 1948, tribuna da "geração de 45", Patrícia Galvão, solidária com Oswald, o descreve "de facho em riste, bancando o Trotsky, em solilóquio com a revolução permanente". Em 1982, eu trouxe à tona esse importante documento, desconhecido das novas gerações e de nós mesmos, no livro Pagu: Vida-Obra.

Contemporâneo do grupo de 45, porém marginalizado por sua paixão pelos modernistas, Mário da Silva Brito era amigo íntimo de Oswald. Nenhum de nós, os "novíssimos", tinha livro publicado, mas as revistas e jornais literários já haviam estampado alguns dos nossos poemas. Oswald se entusiasmou tanto com a nossa visita que deu a cada um de nós, autografado, um volume dos poucos que ainda tinha de Poesias Reunidas O. Andrade (1945), edição especial de largo formato ilustrada por Tarsila, Segall e por ele (tiragem: 200 cópias). Mais adiante, presenteou-nos com um volume da esgotadíssima edição de Serafim Ponte Grande (1933) com a dedicatória: "aos Irmãos Campos (Haroldo e Augusto) - firma de poesia". Guardo dele uma impressão de vulnerabilidade e solidão, sob a máscara galhofeira. Magoado com a ambígua amizade e o mal disfarçado desdém da intelectualidade da hora, apostava nos jovens. Depois nos encontramos várias vezes em reuniões em sua casa ou na de amigos comuns. Quando completou 60 anos, em 1950, época em que foram publicados O Auto do Possesso, de Haroldo, e O Carrossel, de Décio, saudamos Oswald em documento público, "Telefonema a Oswald de Andrade", assinado por uns poucos escritores, no qual o poeta era apontado como "o mais jovem de todos nós". Décio nos representou no famoso "banquete antropofágico" em homenagem ao poeta "sexappealgenário", no Automóvel Clube.

Como que pressentindo que não o veria mais, Décio quis visitá-lo antes de partir em viagem para a Europa, marcada para 1954. Acompanhei-o nessa que foi a derradeira vez em que vi Oswald, já muito doente, em agosto de 1953. Recebeu-nos afundado numa poltrona, com a cabeça escalpelada encoberta por uma boina, e sempre assistido por sua amorosa esposa, Maria Antonieta d"Alkimin. Na ocasião, mostrei-lhe alguns dos poemas coloridos da série Poetamenos; Décio levou-lhe alguns textos inéditos. Revelou curiosidade e satisfação pelo nosso experimentalismo. Foi esse encontro que certamente inspirou a simpática menção que nos fez - "meninos que pesquisam" - na crônica Gente do Sul (que leva a rubrica dos seus "telefonemas"), estampada em 25 de agosto no Diário de S. Paulo. Em março de 1954, no convite impresso do espetáculo inaugural do Teatro de Cartilha, criado em Osasco por Décio Pignatari, este chegou a anunciar uma apresentação da peça O Rei da Vela (de que ninguém falava então), projeto interrompido pela sua viagem à Europa.

Oswald não sobreviveu para assistir à sua reabilitação pelos jovens em que apostara os escassos volumes de suas edições de minguada tiragem. Pouco se falava nele quando foi ressuscitado nos manifestos da poesia concreta, em 1956. Seus livros mofavam nos sebos. Numa entrevista que demos, Haroldo e eu, para o Jornal Popular, de São Paulo, em 22 de dezembro de 1956, proclamávamos: "Não é hábito, no Brasil, a obra de invenção. É verdade que, com o Modernismo, a literatura brasileira logrou atingir uma certa autonomia de voz, que, porém, acabou cedendo a toda sorte de apaziguamentos e diluições. Contra a reação sufocante, lutou quase sozinha a obra de Oswald de Andrade, que sofre, de há muito, um injusto e caviloso processo de olvido sob a pecha de "clownismo" futurista. Na realidade, seus poemas (Poesias Reunidas O. Andrade), seus romances-invenções Serafim Ponte Grande e Memórias Sentimentais de João Miramar (de tiragens há muito esgotadas, para não falar de seus trabalhos esparsos ou inéditos), que ainda hoje, por sua inexorável ousadia, continuam a apavorar os editores, são uma raridade no desolado panorama artístico brasileiro. A violenta compressão a que Oswald submete o poema, atingindo sínteses diretas, propõe um problema de funcionalidade orgânica que causa espécie em confronto com o vício retórico nacional, a que não se furtaram, em derramamentos piegas, os próprios modernistas e que anula boa parte da obra de um Mário de Andrade, por exemplo."

Hoje, como disse Décio Pignatari - o Oswald magro do Concretismo -, a Antropofagia "virou carne de vaca"... e a diluição e o consumo se encarregaram de banalizar o tema, que no entanto é mais sério do que parece. Terra de muitos estudantes e estudiosos de filosofia mas de poucos filósofos, o Brasil tem em Oswald um dos raros intelectuais a que esse termo, em sua acepção integral, pode ser aplicado sem constrangimento. Embora os seus escritos continuem a ser rejeitados pelo mundo acadêmico, evidenciam-no como um solitário pensador original. Suas provocações não ortodoxas, expressas em manifestos combativos, entrevistas e textos diversos, culminam com as de recorte mais normatizado, A Marcha das Utopias e A Crise da Filosofia Messiânica, tese com a qual se inscreveu em concurso para a cátedra de Filosofia da USP, em 1950, sem que lhe fosse dado assumi-la. Oswald não enrolava o pensamento em cipoais argumentativos. Era sintético e direto. Tinha o "defeito" literário de escrever bem. Mas não se apresentava como um meritório difusor ou questionador de doutrinas. Seu coquetel filosófico, temperado com novos fermentos dialéticos, continha ideias inovadoras. Também aqui não podia ser facilmente compreendido.

À medida que a sua obra, em parte ainda inédita, vai sendo republicada e até revelada, mais nos surpreende a atualidade de suas intervenções, apesar dos equívocos pontuais de que ninguém escapa. Oswald não era nenhum santo, nem queria ser canonizado. Fazia suas médias e às vezes decepcionava aos jovens "franciscanos" (apud Nelson Rodrigues) que éramos nós. O livro Estética e Política, organizado por Maria Eugenia Boaventura (Editora Globo, 1992), revelou-nos afinal o texto da conferência "Novas Dimensões da Poesia", que o poeta proferiu em 19 de maio de 1949 no Museu de Arte Moderna de São Paulo. Ali Oswald repete o inaceitável elogio que vinha fazendo ao ex-adversário Cassiano Ricardo, que ele insistia agora em considerar "o maior poeta brasileiro", tendo chegado em outros textos a compará-lo até a Fernando Pessoa. Em compensação exalta Gôngora e Mallarmé, em claro desafio ao preconceito da crítica literária que chamava de "sociográfica". A certa altura tem esta bela colocação, que continua válida em nossa era "pós-utópica": "A poesia de hoje balança entre o mistério restaurado da vida e as estrelas quietas, entre a face kierkegaardiana do desespero, o deliquial e o perplexo. E mostra esse neutro avesso da utopia a que o homem se habituou, depois da frustração dos seus messianismos. Mas a revolta não acabou. E ainda se pergunta: Como cantar com a boca cheia de areia?" Sem ter ouvido as palavras do poeta, eu as ecoaria com a "areia areia arena céu e areia" do meu poema O Rei Menos o Reino, publicado no caderno literário do Jornal de São Paulo em 9 de abril de 1950. Oswald ainda reflete sobre "o caminho percorrido": "Fizemos até os primeiros passos na direção de uma geometria do verso." E acentua: "poesia é tudo: jogo, raiva, geometria, assombro, maldição e pesadelo, mas nunca cartola, diploma e beca." Menciona, por fim, Kierkegaard, Nietzsche, Joyce e Lautréamont. Conclui com estas palavras: "Mallarmé chamou de poema em prosa o maior esforço versificado do século XIX: Un Coup de Dés Jamais n"Abolira le Hasard."

Não basta Oswald ter "torcido o pescoço à eloquência" dos versos que nunca fez, criado não o poema-piada - como parecia à maioria dos seus contemporâneos -, mas o poema-palavra ou palavraprimal (amor/humor), arquitetado os seus romances-invenção, pensado, na síntese do matrianárquico "bárbaro-tecnizado", a última utopia para a civilização ideal que imaginara, e lançado dois manifestos que ainda são a suma e o sumo do ideário poético da modernidade. Tudo isso que nos fez colocá-lo entre os nossos mentores. Sabemos agora que ele nos antecipou também na reavaliação do "lance de dados" mallarmaico, que seria tido por nós como o limiar da poesia do nosso tempo e era renegado na época até pela crítica francesa. E que ele, positivamente, nunca teve medo da palavra "geometria".

AUGUSTO DE CAMPOS É POETA, TRADUTOR E ENSAÍSTA, AUTOR, ENTRE OUTROS, DE VIVA VAIA (ATELIÊ), NÃO E DESPOESIA (AMBOS PUBLICADOS PELA PERSPECTIVA) E DO RECÉM-LANÇADO POEMAS, DE E.E. CUMMINGS (EDITORA DA UNICAMP)