quinta-feira, agosto 29, 2013

A gangue do brilhoso - CONTARDO CALLIGARIS

FOLHA DE SP - 29/08

Quando o "self" é só uma imagem, inevitavelmente, ele é feito de bugiganga e objetos de consumo


"Bling", em inglês, são as joias grandes, preciosas de um jeito óbvio e ostentatório --um pouco cafonas. "Ring" significa anel ou, então, círculo de amigos ou cúmplices.

Na coluna da semana passada propus traduzir o título do novo filme de Sofia Coppola, "The Bling Ring", como "a turma do deslumbre". Poderia ser também "o brilhoso" ou "a gangue do brilhoso".

Também na semana passada, concordei com a indicação do filme para maiores de 16 anos --fiquei feliz de não ter levado nenhum adolescente comigo para o cinema.

O filme conta a história (verídica) de um grupinho de adolescentes de Los Angeles que se tornaram famosos à força de invadir a casa de pessoas famosas para lhes roubar os apetrechos da fama (roupas e objetos de luxo).

Na história, não há violência nem sexo além da conta. O consumo de drogas e a ousadia criminosa dos jovens são o de menos. Mas não encontrei nenhum adulto que não tenha se angustiado a ponto de considerar a possibilidade de sair antes do fim: a estupidez dos adolescentes da gangue é obscena.

Certamente (espero), nossos filhos e filhas ficariam tão horrorizados quanto a gente. Mas o que fazer se eles se reconhecessem nos protagonistas do filme? Se eles os achassem "legais" ou engraçados? Como agir se, na ocasião do filme, a gente descobrisse que "nossos" adolescentes são daquele mesmo feitio?

Mais um pensamento ansiógeno: quando não há adultos à vista, a adolescência se torna um pesadelo de tentativas de "crescer", uma mais incerta que a outra. Ora, nunca há adultos à vista quando os adultos adotam a adolescência como seu próprio ideal. Por favor, pense nisso quando você escolhe sua roupa, seu lazer, suas conversas...

Um mundo só de adolescentes nos espreita, e esse mundo é um vazio preenchido quer seja pelo tédio, quer seja pelo deslumbre.

Do tédio adolescente ouvimos falar nesta semana, quando, em Brasília, três jovens de classe média repetiram a "façanha" dos assassinos do índio Galdino em 1997: mataram um morador de rua para se divertir, para vê-lo queimar. Ou, então, quando, com um tiro nas costas, três jovens de Oklahoma City (EUA) mataram um homem que passava por eles; explicaram que estavam entediados e queriam ver alguém morrer.

Quanto ao deslumbre adolescente, podemos confiar em Sofia Coppola.

Paradoxo: uma crítica do site www.rottentomatoes.com lamenta que Coppola, em seu filme, não passe da superfície. Mas essa é exatamente a questão do filme: não há nada debaixo da superfície. Coppola fez um filme sobre "a era da futilidade máxima" (na bonita expressão de Paulo Ghiraldelli, http://migre.me/fSoeQ).

Os jovens de Coppola são os representantes de uma geração (impensável sem internet, Facebook, Instagram etc.) que se ocupa em tempo integral da constituição e da difusão, não de sua história ou de suas histórias, não de sua experiência de vida, não de suas crenças e de seus mitos, mas exclusivamente de sua imagem.

Os famosos que servem de modelo para essa geração não são tanto as estrelas de Hollywood quanto as celebridades dos reality shows (como Audrina Patridge, uma das vítimas da gangue).

Os membros da gangue nunca comentam ou mencionam um filme ou um seriado no qual apareçam as eventuais atrizes que são suas vítimas admiradas.

Eles "visitam" repetidamente a casa de Paris Hilton, que é famosa apenas por ser Paris Hilton. Eles adoram Lindsay Lohan, que é famosa sobretudo por suas prisões por dirigir bêbada e drogada.

Sem interesse nas "obras" de suas celebridades preferidas, os personagens de Coppola conhecem perfeitamente os apetrechos da celebridade: passeando pelo closet de suas vítimas, eles identificam imediatamente os modelos que elas usaram em tal ou tal outro tapete vermelho (que valeu fotografia num magazine).

Eles têm razão de prezar os apetrechos da celebridade (e não eventualmente os méritos que poderiam produzi-la). Se a celebridade depende dos apetrechos, então ela pode ser roubada. A celebridade, quando se confunde com a roupa, os sapatos e as joias, é "democrática": para se igualar aos ídolos, basta se apossar de seus objetos.

De que é feito o "self" dos jovens descritos por Coppola? De memórias? De vivências? De esperanças? Quando o "self" é só uma imagem, inevitavelmente, ele é feito de bugiganga, quinquilharia, objetos de consumo.

O marketing descobriu isso há um certo tempo. Ou você acha que as "estrelas" que vendem um perfume com seu nome tiveram o faro de inventá-lo?

Médicos estrangeiros - CORA RÓNAI

O GLOBO - 29/08

Se há pessoas sem atendimento em algum lugar, e se há profissionais dispostos a atendê-las, temos mais é que recebê-los de braços abertos


Quando os primeiros médicos estrangeiros chegaram ao Brasil, o jornal trouxe a foto de uma jovem espanhola, acompanhada do filhinho. Ela veio trabalhar numa aldeia indígena no Amazonas, e fiquei, confesso, com uma ponta de inveja: se eu fosse jovem e médica, este é um trabalho que teria adorado fazer. Pensei na sorte do garotinho, que tão pequeno terá a chance única de mergulhar numa cultura completamente diferente da sua, e nas ricas lembranças que mãe e filho levarão pela vida afora.

Senti carinho pela médica e por seu menino, como sinto carinho por todos os profissionais que se dispõem a sair da sua zona de conforto para cuidar do nosso planeta e de seus habitantes. Sou grata aos médicos que vieram para o Brasil cuidar dos meus compatriotas desassistidos dos cafundós, embora, como todo mundo, tenha sérias dúvidas a respeito do que poderão fazer sem um mínimo de condições. Se nos hospitais do Rio falta de tudo, de soro a esparadrapo, ninguém precisa de muita imaginação para adivinhar o cenário desolador que os espera.

Há quem reclame que os estrangeiros foram dispensados do Revalida. É uma reclamação justa, ainda que inútil, dadas as circunstâncias. Imagino que o exame sirva para comprovar até que ponto os profissionais estão familiarizados com a medicina atual, mas se há uma coisa que os estrangeiros não vão encontrar nas cidades para onde estão sendo designados é medicina atual: poderão requisitar o mais elementar raio-X? Ou um hemograma que fique pronto antes de ficar desatualizado? Terão ao menos material de sutura? Antibióticos? Vermífugos?

Quer dizer: serão, na prática, pouco mais que curandeiros, por melhor que tenha sido a sua formação. E, ainda assim, é possível que alguns se saiam muito bem, porque há pessoas que têm o dom de curar com um nada. Um dos grandes livros que li, e que recomendo a todos os angloparlantes, é “The cunning man”, do médico e escritor canadense Robertson Davies, que conta a história de um desses extraordinários curadores.

Há quem reclame também que os médicos não vão conseguir se entender com os seus pacientes por não saberem falar português. Isso é detalhe, e não muito importante. Em que língua a jovem médica espanhola vai se comunicar com os índios? Aliás, em que língua se comunicam os médicos da Funai com tribos recém-descobertas? E os Médicos Sem Fronteiras, que vêm de todos os países do mundo e vão para onde são necessários?

Levando o exemplo ao extremo, não custa lembrar que os bons veterinários sempre trataram toda a sorte de bichos com bastante sucesso, sem entender uma só palavra do que miam ou relincham.

O fato é que se há pessoas sem médicos em algum lugar, e se há médicos dispostos a atendê-las, temos mais é que recebê-los de braços abertos, sejam turcos, chilenos ou iemenitas. Não chego ao extremo de dizer que é melhor um mau médico do que médico nenhum, porque os maus médicos matam mais do que a natureza sozinha — mas até sob este aspecto os estrangeiros não poderão fazer muita coisa, por absoluta falta de condições e de medicamentos.

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Dito isso, acho escandalosa, ultrajante mesmo, a importação dos médicos cubanos. Não por serem cubanos, é óbvio, nem por duvidar da qualidade da sua formação, mas pela forma enviesada como a questão foi e está sendo conduzida. Nada justifica a proibição de trazerem consigo as suas famílias; nada justifica que o governo cubano receba os seus salários; nada justifica que o Brasil, um país que se quer democrático, compactue com essa mercantilização que transforma pessoas em commodities.

Os defensores do tráfico humano alegam que, consultados, os médicos cubanos não se queixam, e que, para eles, qualquer quantia que venham a receber, por menor que seja, será superior ao que receberiam em Cuba. É um argumento ofensivo, que considera correta uma remuneração vil porque, em outros países, poderia ser pior. Ora, assim se pode justificar qualquer afronta à dignidade humana, a começar pela semiescravidão dos costureiros bolivianos que trabalham para as grifes de luxo de São Paulo: por incrível que pareça, eles também estariam em pior situação em La Paz.

O artigo 461 da CLT é claro. Ele estipula que trabalhadores com função idêntica, exercendo idênticas tarefas para o mesmo empregador, devem receber salários iguais, sem distinção de sexo, idade ou nacionalidade.

Chama-se a isso justiça. Enquanto os médicos cubanos não tiverem condições de trabalho iguais às dos demais médicos estrangeiros, o Brasil estará compactuando com uma forma de servidão aviltante, que não lança desdouro sobre o servidor, mas cobre de vergonha indelével o empregador.

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Ah, sim: como fica a situação dos brasileiros formados em Cuba que estão aproveitando o programa do governo para voltar ao Brasil? Pouco ouvi falar sobre eles, e menos ainda sobre a sua situação legal. O seu dinheiro também será enviado para Havana? Ficarão dispensados do Revalida mesmo trabalhando em seu (nosso) próprio país?

Ueba! Cubanos levam um SUSto! - JOSÉ SIMÃO

FOLHA DE SP - 29/08

Os médicos cubanos terão três semanas para aprender como o SUS funciona. E o SUS funciona? Rarará


Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Piada pronta! Tribuna do Norte: "O tresloucado presidente da Bolívia, Evo Morales, não se livra tão cedo do Brasil: a suplente do senador Roger Pinto se chama Linda Brasilda". Rarará. Tira o Pinto e entra Linda! A esculhambação não tem fim!

E não deve devolver o Pinto pro Evo. Tem que devolver o Pinto pro Ovo!

E a Dilma ontem, na televisão, tava parecendo um pitbull de TPM! Dilacerador de vísceras!

E se um Pinto Molina derrubou o Patriota, um Pinto Durina derrubaria o país! Rarará!

E a manchete do Humor Esportivo: "Botafogo importa 500 torcedores cubanos". Rarará. Agora tudo termina em Cuba!

E essa: "Médicos cubanos são hostilizados e vaiados por colegas brasileiros em Fortaleza". Que vergonha! Avisaram que eles seriam tratados dessa maneira? Avisaram que no Brasil ainda tem gente não civilizada?

E olha essa charge com o médico cubano: "Hola!". "A rôla tá bem, dotô! O problema é na cabeça". Rarará!

Eu já falei que o único problema dos médicos cubanos é a língua: confundir caganeira com Guantanamera e hola com rôla!

E a primeira aula para os médicos cubanos que atuarão no Maranhão: "O dono disso tudo se chama Sarney!". E tá com virose! Rarará!

E os médicos cubanos terão três semanas para aprender como o SUS funciona. E o SUS funciona? Rarará.

E o tuiteiro Ricardo Gomes: "Se os médicos cubanos aprenderem como o SUS funciona, eles vão bater o ponto e ir embora". Rarará!

E causou reboliço no Facebook o post da jornalista Micheline Borges: "Me perdoem se é preconceito, mas essas médicas cubanas têm cara de empregada doméstica". Só piora! Além de preconceituosa, é burra! Porque a minha empregada doméstica tem cara de médica escandinava!

É mole? É mole, mas sobe!

E o Brasil tá doente do corpo. Do corporativismo!

E sabe o que eu quero de Cuba? Mais médicos, mais mecânicos e mais professores de salsa!

E eu nunca fui a Cuba porque detesto o Fidel, mas acho esses médicos cubanos uns fofos! Los cubanitos son fofitos! Rarará!

Nóis sofre, mas nóis goza!

Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

Um rio do Éden - LUIS FERNANDO VERISSIMO

O GLOBO - 29/08

É fascinante essa ideia de que trazemos nos genes recursos, impulsos, fobias e encargos dos quais não nos damos conta, como relógios embutidos


O meu relógio biológico é um Rolex. Não, brincadeira. Nós todos temos um relógio dentro de nós que sempre “sabe” exatamente que horas são, embora nem todo mundo saiba que ele sabe, ou confie nele. O relógio biológico funciona mais ou menos como uma portaria de hotel, à qual você pede para ser acordado à certa hora. Ou como um despertador, que você marca para acordá-lo. O relógio interior pode falhar — as portarias de hotel e os despertadores também falham —, mas sempre que não acreditei no meu me arrependi. O que aconteceu mais de uma vez foi que o relógio biológico me acordou e fiquei na cama, aflito para saber se a portaria iria se lembrar ou o despertador funcionar, e acabei me atrasando. E minha tese é que quando o relógio biológico não nos acorda é porque, no fundo, não queremos acordar. Algum outro instrumento instintivo que carregamos sem saber prevaleceu e neutralizou o relógio.

É fascinante essa ideia de que trazemos nos genes recursos, impulsos, fobias e encargos dos quais não nos damos conta, como relógios embutidos ligados a alguma fonte inimaginavelmente precisa de tempo certo. Somos portadores de mensagens cifradas que não conhecemos, e não entenderíamos se conhecêssemos. Há uma teoria segundo a qual o pavor universal de cobras vem de um resquício do passado reptiliano que ficou num dos cantos primitivos do nosso cérebro. E a mais nobre e misteriosa missão que nossos genes realizam à nossa revelia é a de trazer nosso DNA desde as origens da espécie humana até agora. Ninguém nos contratou, mas nossa função no mundo é transportar DNA.

O famoso biólogo darwinista Richard Dawkins deu um título poético a um dos seus livros: “River out of Eden”. Tirado de Genese 2:10: “E saía um rio do Éden para regar o jardim, e dali se dividia.” O rio do Éden de Dawkins e de DNA, e passa por todos nós.

Algodão entre cristais - VERA MAGALHÃES - PAINEL

FOLHA DE SP - 29/08

Incomodado com as críticas de seus assessores à movimentação de José Serra para tentar mais uma candidatura presidencial pelo PSDB, Fernando Henrique Cardoso diz que o ex-governador paulista "não pode ser tratado indevidamente" pelos tucanos. "Ele é figura de proa no partido, faz parte de sua história e tem o direito de lutar pelo que lhe parece ser o melhor para si e para o país. Não se devem atribuir razões menores às suas ações políticas", afirma o ex-presidente.

Compasso Serra conversou de novo com Roberto Freire na segunda-feira sobre o cenário eleitoral de 2014. Segundo o presidente do PPS, o ex-governador ainda não disse se vai se filiar ou não ao partido, mas demonstrou estar "angustiado".

Trâmite 1 A corregedora do TSE, Laurita Vaz, vai solicitar uma série de medidas cautelares aos cartórios sobre o processo de criação da Rede Sustentabilidade. Mas o tribunal não vai fazer a validação de assinaturas de apoiamento ainda não certificadas.

Trâmite 2 Ministros do tribunal opinam que, uma vez de posse do processo e das assinaturas já conferidas, há estrutura na corregedoria e tempo hábil para homologar o partido de Marina Silva antes de 5 de outubro, prazo final para disputar a eleição.

Rubicão A cúpula do PT avalia que Eduardo Campos (PSB) deu mostras nesta semana de que sua candidatura à Presidência é irreversível. Um dirigente chamou de "abusadas" suas críticas ao governo Dilma Rousseff.

Em família Nos bastidores da gravação do "Programa do Ratinho", anteontem, Eduardo Campos cobrou do apresentador a filiação de seu filho, Ratinho Jr., ao PSB.

Meta Diante da recuperação da popularidade de Dilma em pesquisas, petistas estimam que a presidente deve encerrar 2013 com 50% de avaliações ótimo e bom --ainda abaixo dos 57% que tinha antes dos protestos de junho.

Endereço Não foi por acaso que, na nota oficial sobre o apagão de ontem, o Planalto responsabilizou diretamente a Cemig, estatal de energia de Minas Gerais, base eleitoral do tucano Aécio Neves.

Mãos à obra O chanceler Luiz Alberto Figueiredo embarca amanhã com Dilma para a cúpula da Unasul no Suriname. Sua primeira missão será costurar um consenso para a indicação do novo presidente do órgão. O governo prefere que não seja brasileiro nem argentino.

Sempre rir 1 Na segunda-feira pela manhã, o ex-ministro Antonio Patriota já fazia piada sobre sua situação demissionária com assessores no Itamaraty.

Sempre rir 2 Pediu que um deles fosse a sua sala para despachar. "E me traz aquele discurso que não vou fazer na Assembleia da ONU."

Decolou O ministro Moreira Franco conseguiu emplacar seu primeiro nome na Secretaria de Aviação Civil. Foi nomeado esta semana para a Secretaria de Aeroportos o advogado paraibano Nelson Negreiros Deodato Filho, apadrinhado do senador Vital do Rêgo (PMDB-PB).

Supersônico Entre suas atribuições estará a gestão do Fundo Nacional de Aviação Civil, que terá receita de R$ 3 bilhões em 2014.

Rush O Ministério Público e a Polícia Militar vão acompanhar de perto a eleição para a presidência do sindicato de motoristas de ônibus de São Paulo, hoje e amanhã. Em julho, duas pessoas foram feridas a tiros em uma discussão envolvendo as duas chapas da disputa.

com ANDRÉIA SADI e BRUNO BOGHOSSIAN

tiroteio
"Esse apagão revela que o setor elétrico brasileiro está parecendo um vagalume: nunca se sabe se ele estará aceso ou apagado."
DO DEPUTADO NILSON LEITÃO (PSDB-MT), líder da minoria na Câmara, sobre a falha de abastecimento de energia que afetou o Nordeste na tarde de ontem.

contraponto


De grão em grão
Em discurso na abertura do Congresso Brasileiro de Avicultura, terça-feira, em São Paulo, o governador Geraldo Alckmin (PSDB) usou um trocadilho para elogiar as qualidades da produção brasileira no setor.

--Quero dizer ao vice-presidente Michel Temer que o Brasil, nesta matéria, canta de galo.

Diante de risos tímidos da plateia, o vice emendou:

--Governador, o Brasil canta de galo, de frango, de marreco, de pato. Porque são tais e tantas as exportações que a avicultura brasileira faz que ao galo devem se somar essas outras espécies!

O tamanho da fera - ILIMAR FRANCO

O GLOBO - 29/08

Os articuladores do governo Dilma já não temem mais o líder do PMDB na Câmara, Eduardo Cunha (RJ). "Ele não é isso tudo", disse um ministro. Avaliam que o tamanho de Cunha corresponde à votação a favor do projeto que obrigava o governo a compensar as desonerações que tirassem verbas de estados e municípios. Para aprová-lo, Cunha precisava de 257 votos, mas só obteve 220.

Escolas nos presídios
Durante a posse do ministro Luiz Alberto Figueiredo (Itamaraty), ontem no Planalto, o ministro Aloizio Mercadante (Educação) propôs ao presidente do STF, Joaquim Barbosa, uma parceria entre os poderes Executivo e Judiciário. Mercadante sugeriu a ampliação do Pronatec, programa de ensino técnico dos governos petistas, para permitir a instalação de salas de aula nos presídios do país, viabilizando a formação profissional dos detentos. A ideia é prepará-los para a vida depois que saírem da prisão. O ministro Joaquim Barbosa ouviu, não disse o que achava da iniciativa e encerrou a conversa dizendo: "Vamos examinar".


"O senador Roger Pinto é um amigo que eu tenho. Nós nos conhecemos há muito tempo. O nosso governo, no Acre, deu proteção à sua família, escoltou-a até Rio Branco."
Jorge Viana
Senador (PT) e ex-governador do Acre

O que faz a Abin?
Ministros do governo dizem que a operação de fuga do senador Roger Pinto só ocorreu, sem que ninguém soubesse, porque está vago o cargo de adido da Polícia Federal, e a Abin não cumpriu seu papel. Novas cabeças podem rolar.

Antecedente
Esta não foi a primeira vez que a presidente Dilma foi pega de surpresa. O mesmo erro ocorreu no golpe contra o ex-presidente do Paraguai Fernando Lugo. O Itamaraty também não alertou sobre o que acontecia no vizinho.

Aposta na deserção
O líder do DEM na Câmara, Ronaldo Caiado (GO), vai criar um Gabinete de Apoio ao Médico Cubano. Este terá advogados para que os estrangeiros possam pedir asilo no Brasil e, ainda, trazerem suas famílias. Caiado tem levantamento de sua assessoria que serve de base para essa ajuda. Na Venezuela, médicos cubanos fugiram em massa para os EUA.

O plebiscito do Senado
O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB), anuncia hoje projeto de resolução para realizar um plebiscito sobre a reforma política nas eleições de 2014. Os temas: coincidência das eleições; fim ou não da reeleição; financiamento público ou privado; sistema eleitoral; fim ou não das coligações. Renan não acredita que prospere na Câmara o plebiscito proposto ontem pelo PT.

Ordem unida
O vice Michel Temer cobrou, e o presidente do PMDB paulista, Baleia Rossi, enviou nota dizendo que a candidatura de Paulo Skaf ao governo de São Paulo é "inegociável". Lembrou que Skaf está em segundo lugar nas pesquisas, com 19%.

O fim das emendas individuais
O ex-presidente da Câmara Marco Maia (RS) provoca os deputados da DS e da Mensagem, tendências petistas, para que façam um gesto e abram mão de suas emendas parlamentares, como defendem em nota divulgada anteontem.

CONTRABANDO na MP das Desonerações. O senador Gim Argello (PTB) enfiou artigo sobre transmissão hereditária de quiosques, trailers e afins.

Quem manda - LUIZ CARLOS AZEDO

CORREIO BRAZILIENSE - 29/08

Manda quem pode, obedece quem tem juízo. O ministro das Relações Exteriores, Luiz Alberto Figueiredo Machado, que tomou posse ontem defendendo a hierarquia, disse que o futuro do senador boliviano Roger Pinto Molina está nas mãos da presidente Dilma Rousseff.

Se dependesse do fígado presidencial, voltaria para a Bolívia. Mas o presidente boliviano, Evo Morales, faria um piquenique à sombra do Palácio do Planalto. Se não der mais um pio, o senador Roger Pinto
ficará no Brasil.

Quem está no sal, porém, é o ministro conselheiro Eduardo Saboia, que responderá a um processo de expulsão do Itamaraty por trazer Roger Pinto clandestinamente, ad referendum do então ministro Antonio Patriota, que acabou defenestrado. Nada que um bom advogado não consiga evitar. Porém, dificilmente sairá da geladeira se Dilma Rousseff for reeleita.

Medidas provisórias// O PT manobra para evitar a aprovação do novo rito de medidas provisórias pelo Congresso. O relator da comissão que trata do assunto, Odair Cunha (PT-MG), pediu mais prazo para concluir o trabalho.

Sucessores
Dois estados protagonizam as tensões entre o PMDB e o PT nas eleições de 2014: Rio de Janeiro, onde o governador Sérgio Cabral, do PMDB, sofre um cerco sem fim de manifestantes contra sua permanência no governo e o PT não abre mão de um candidato próprio; e Bahia, onde a situação se inverte, já que é o governador Jaques Wagner (PT) que deseja fazer um sucessor petista.

São fracos
Cabral e Wagner padecem de nomes que empolguem os eleitores: o vice-governador fluminense, Luiz Fernando Pezão (PMDB), e o ex-presidente da Petrobras José Sergio Gabrielli (BA) são candidatos fracos. Mesmo assim, não há acordo possível.

Ministério/O líder do PMDB, Eduardo Cunha (RJ), apresentou mesmo a sua PEC para reduzir a quantidade de ministérios do governo para 20, no máximo. Explica: “o número de 20 ministérios, que reduz em 50% o atual tamanho da administração direta, atende bem as necessidades do Estado moderno”.

Pancadaria/O deputado José Mentor (PT-SP) quer proibir as transmissões do UFC (as sangrentas lutas de MMA) na TV aberta. Argumenta que não é censura, mas prevenção médica, como acontece com a propaganda de cigarro.

Limonada
O Palácio do Planalto quer matar no peito o chamado orçamento impositivo, que obriga o governo a pagar emendas individuais parlamentares, no valor equivalente a 1% da receita corrente líquida da União — cerca de R$ 6,8 bilhões a valores de 2013, ou R$ 6,2 bilhões a valores fechados de 2012. Pretende usar a maioria governista no Senado para mitigar a proposta.

Saúde
O presidente da Casa, Renan Calheiros, já defende 50% para a Saúde. Isso representa, no mínimo, R$ 3,1 bilhões

Boca de sapo
Desde o início do ano, especialistas em energia advertiam o governo de que havia risco de apagão por causa de reservatórios vazios e atraso na construção de hidrelétricas. Demorou, mas aconteceu: ontem um apagão atingiu sete estados da Região Nordeste: Piauí, Alagoas, Ceará, Sergipe, Bahia, Pernambuco e Rio Grande do Norte. O Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) culpa as queimadas pelo episódio.

Granma
Órgão oficial do PC Cubano, o jornal Granma noticiou a chegada dos médicos de seu país ao Brasil: “Brasileiros ofereceram uma calorosa e fraternal recepção ao primeiro grupo de 206 médicos cubanos que chegaram sábado para prestar serviços em municípios das regiões Norte e Nordeste do país. ‘Cubanos, amigos, o Brasil está contigo’, gritaram jovens que se concentraram no terminal aéreo (de Fortaleza) para saudar os médicos, que chegaram com jalecos brancos.”

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO

FOLHA DE SP - 29/08

Dona da Schin investe para gerar sua própria energia

A Brasil Kirin, dona de marcas de cerveja como Nova Schin, Devassa, Baden Baden e Eisenbahn, vai investir pela primeira vez no setor de energia eólica.

A empresa pretende inaugurar no segundo semestre de 2014 um parque energético em Acaraú (CE). O aporte será de R$ 100 milhões.

A unidade terá 214 hectares. A expectativa é que ela gere 35% da energia utilizada pela companhia no país.

O projeto é feito em parceria com a empresa portuguesa Tecneira, pertencente ao Grupo ProCME. Cada parte entrará com 50% do valor do investimento.

"Fizemos um acordo de concessão de 20 anos. Ou seja, a Brasil Kirin vai comprar a parcela de energia pertencente à Tecneira durante esse período", diz Alexandre Sanchez, vice-presidente da empresa de bebidas.

"Assim, toda a produção energética do parque irá para as nossas fábricas."

Parte dos recursos investidos pela Brasil Kirin virá de financiamentos bancários, segundo Sanchez.

A companhia tem 13 unidades fabris em 11 Estados, sendo uma no município de Horizonte, também no Ceará.

Todas poderão ser alimentadas pela usina eólica de forma alternada, afirma o vice-presidente.

"Temos o plano de continuar investindo no setor de infraestrutura elétrica para sermos os geradores de pelo menos dois terços da energia que utilizamos."

R$ 7 BILHÕES
foi o faturamento da Brasil Kirin em 2012

10 MIL
é o total de funcionários da empresa no país

13
são as fábricas da companhia

30 MIL TONELADAS
deve ser a redução de emissão de CO2 por ano com o uso de energia eólica

ATRASO DE MONITOR
A Dell está atrasando a entrega de ao menos dois modelos de monitores desde julho. O tempo de espera prometido após a compra no site da empresa era de até nove dias.

A demora agora chega a cerca de dois meses para o modelo S2340L.

Através de sua assessoria, a Dell afirmou que, até o início deste mês, o monitor era importado com prazo de entrega de 30 dias. "Porém, em alguns casos isolados, esse prazo se estendia um pouco."

A empresa informa que passou a ter estoque local do produto. O modelo U2312H também teve atrasos em razão do "aumento da demanda acima do planejado".

NOVIDADES NA INDÚSTRIA
A inovação dentro das companhias depende de parcerias e conexões, seja com outras empresas ou com instituições que fazem pesquisas, por exemplo.

A conclusão é da CNI (Confederação Nacional da Indústria), que durante um ano avaliou os processos desenvolvidos por 22 grandes grupos de vários segmentos.

"Observamos que há muitos caminhos diferentes sendo tomados para realizar inovação dentro de uma empresa", diz Paulo Mól, que dirige a área na CNI.

"Embora haja essa diversidade de formas, há uma convergência. Todas as empresas trabalham com conexões com outros agentes, ninguém inova sozinho", afirma.

Outro diagnóstico do trabalho é que as companhias obtêm novidades não apenas por meio do uso de tecnologias diferentes, mas também com mudanças em processos de produção.

O estudo resultou em uma publicação que será apresentada no dia 3 de setembro, no 5° Congresso Brasileiro de Inovação da Indústria.

ÓCULOS EM DISPUTA
Após muita discussão no ano passado sobre a proposta que flexibiliza a fabricação de óculos na Zona Franca de Manaus, o Ministério do Desenvolvimento diz que não tem uma data definida para solucionar a questão.

A medida prevê incentivos para a montagem de óculos sem exigência da produção de lentes e hastes no país.

"Nossa expectativa é que essa história seja enterrada", afirma Bento Alcoforado, presidente da Abióptica.

A entidade diz que a mudança vai causar a desindustrialização do setor.

A Technos, uma das empresas que apoiam o projeto, afirma que a alteração vai viabilizar mais investimentos.

GUIA PARA ESTRANGEIROS
O escritório Pinhão e Koiffman Advogados lança hoje um manual sobre as leis de tecnologia da informação no Brasil, para orientar grupos estrangeiros interessados em investir no país.

O guia "How to Understand IT Law in Brazil" (Como Entender a Lei de TI no Brasil, em tradução livre) foi produzido pela banca em um projeto em parceria com a Amcham (Câmara Americana de Comércio).

"Em contratos de tecnologia, por exemplo, há particularidades. É importante que o estrangeiro entenda para saber como vai operar no país", diz Hélio Ferreira Moraes, sócio do escritório.

Entre os pontos abordados na publicação estão relações de trabalho, propriedade intelectual, negócios on-line, responsabilidade civil e documentos eletrônicos.

Mapa... A Unifesp, com o apoio da Novartis, terá um serviço de mapeamento genético de doenças autoinflamatórias.

...genético O serviço será público e oferecido a partir de 2014. O exame é feito hoje no setor privado por até R$ 5.000.

PEÇAS À VENDA
Há dois anos e meio, a estilista Francesca Monfrinatti e a produtora de eventos Carolina Macéa notaram uma falha no mercado de luxo paulistano.

Não havia na cidade eventos de moda voltados para o consumidor final, mas apenas apresentações de marcas conceituais em que as peças costumam demorar para chegar às lojas.

Pensando nisso, as duas criaram o Fashion Day In, um desfile feito para potencializar a venda dos produtos exibidos pelas modelos.

"São apresentadas marcas com um perfil comercial, mas destinadas ao público A. Após o desfile, é possível fazer um pedido da sua peça preferida", diz Macéa.

A quinta edição será no sábado, no MuBe (Museu Brasileiro da Escultura).

"Teremos pela primeira vez uma marca internacional, a Marc Jacobs."

Bolsa... A Tumi, marca americana de malas e acessórios de viagem, vai lançar uma loja digital no Brasil amanhã. Esse será o primeiro e-commerce da grife na América Latina.

...de luxo A empresa chegou ao país em 2012, com uma unidade no shopping Iguatemi de São Paulo. "Para 2014, estudamos a abertura de uma nova loja no Rio de Janeiro ou em Brasília", diz Giuliano Fernandes, CEO da Tumi no Brasil.

Mesas e sofás O designer de móveis de luxo Fernando Jaeger vai abrir uma loja de pronta-entrega no próximo mês em São Paulo. Doze fábricas prestam serviço para a confecção dos produtos assinados pelo designer.

Contracheque A ADP, multinacional de serviços de folha de pagamento e soluções em RH, fechou seu ano fiscal com crescimento de 7% nas receitas. O faturamento global ficou em US$ 11,3 bilhões.

FLÁVIA OLIVEIRA - NEGÓCIOS & CIA

O GLOBO - 29/08

Falta de energia IMPÕE Prejuízo à indústria
Maioria das grandes companhias do país diz ter perdas financeiras com apagões, segundo pesquisa da Abrace

Falhas no fornecimento de energia elétrica, como o apagão que atingiu ontem a Região Nordeste, resultam em prejuízos para a indústria brasileira. E impactam a competitividade do setor. A maioria (87%) das companhias diz registrar perdas elevadas por problemas no fornecimento de energia, informa pesquisa da Abrace com 39 grandes empresas. Uma companhia do setor de pelotização de minério de ferro, por exemplo, acumulou, na última meia década, R$ 31,6 milhões em prejuízos causados por interrupções na rede elétrica. A intensidade das perdas varia conforme o porte e a área de atuação das empresas. Para todas, contudo, mesmo interrupções curtas são prejudiciais. Cada parada por falta de luz pode danificar ou inutilizar máquinas e equipamentos, alerta o estudo da Abrace. Além disso, leva tempo para a retomada da produção. Há também as perdas financeiras decorrentes do que a indústria deixa de produzir por conta da interrupção do fornecimento de energia. O uso de geradores, no caso de grandes consumidores, garante apenas operações emergenciais. Os equipamentos não suportam, sozinhos, toda uma fábrica, diz a entidade.

R$ 15,4 MILHÕES
Foi o prejuízo de uma empresa de pelotização de minério de ferro por falhas no fornecimento de energia apenas em 2008. Em 2012, a mesma companhia perdeu R$ 2,6 milhões.


Poupança
A mudança de cálculo da poupança fará bem aos aplicadores. Miguel Oliveira, da Anefac, diz que, com a nova Selic, de 9% ao ano, a caderneta será mais rentável que qualquer fundo de investimento com taxa de administração igual ou superior a 1%. A aplicação favorita dos brasileiros não paga nem IR nem IOF.

Rock in Rio
A ABIH-RJ fechou pesquisa sobre a ocupação dos hotéis para o Rock in Rio. A taxa está em 69,72% na média da cidade. Na região da Barra, chega a 85,44%. Na edição 2011 do festival, a hotelaria bateu 95% de ocupação.

Em tempo
A associação aderiu à campanha “Lixo no lixo”, do Rock in Rio. Durante o festival, 85 hotéis da cidade distribuirão 250 mil sacolas de lixo aos hóspedes.

Automóveis 1
Julio Bueno, secretário de Desenvolvimento do Rio, e Conceição Ribeiro, da Codin, se reúnem hoje com os presidentes da Anfavea, Luis Moan, e do Sindipeças, Paulo Butori, em São Paulo. Vão apresentar um pacote de investimentos para atrair para o estado fornecedores da cadeia automotiva.

Automóveis 2
Representantes de Nissan, PSA e MAN participam. O Rio já tem 15 fornecedores investindo R$ 2 bi no polo de Resende e Porto Real.

Incentivo 1
A indústria química nacional elevou vendas em 2,46%, mês passado. Em junho, a alta fora de 6,55%, diz a Abiquim. É efeito da MP 613/2013, que deu incentivos tributários ao setor e a produtores de etanol, a partir de maio. A alta do dólar também ajudou, diz Fátima Ferreira, da Abiquim. No ano, vendas crescem 3,25%; produção, 1,87%.

Incentivo 2
A expansão de 15,24% nas exportações em julho é prova do ganho de competitividade da indústria química, diz Fátima. O uso da capacidade saiu de 81% para 83%. A MP passou pela Câmara na terça. Será votada no Senado hoje.

DEBUTANTE
Lázaro Ramos é uma das estrelas da campanha dos 15 anos do Canal Brasil. Estreia em impressos e mídia externa, domingo. A Loja Comunicação criou. Desde julho de 2012, a audiência saltou 108%.
2,6 milhões.

DIGESTÃO
A Alcachofra, fitoterápico da Aspen Pharma para boa digestão e alívio de desconforto abdominal, estreia campanha, amanhã. Quem estrela é a atriz Tatá Werneck, a Valdirene de “Amorà vida”, novela da TV Globo. As peças vão circularem TV, web e mídia impressa. Prevê elevar vendas do produto em 30%. A Fenícios assina.

NOTÍCIA
A CBN vai estendera impressos e  nternet a campanha dos aplicativos para tablets e smartphones. Criação da VML, as peças mostram ‘ouvintes’ recebendo chamadas de jornalistas e comentaristas da rádio. Max Gehringer (foto), Arnaldo Jabor e Juca Kfouri estão no time. Os anúncios circulam em jornais e na web já neste fim de semana.

VERÃO A DOIS
A Wöllner, de moda feminina e masculina, estreia campanha da coleção deverão no sábado. Mariana Mendonça e Raphael Lacchine posaram para Fernando Schlaepfer noJoá. As imagens vão circular em impressos, web e outdoor. A marca quervender 18% mais.

Recrutamento 1
A Page Personnel do Rio registrou alta de 12% na demanda por profissionais de operações em três meses. Inclui as áreas de engenharia e supply chain. O total de entrevistas saiu de 110 em junho para 160 em julho.

Recrutamento 2
Cresce a demanda dos bancos por gerentes para atender clientes top. No 1º semestre, os profissionais somaram 18% das contratações intermediadas pela Asap no Rio. Um ano antes, a fatia fora de 5,6%.

Antifumo
A Unimed-Rio exibe vídeo no Facebook avisando que, a cada cigarro, um fumante perde 11 minutos de vida. É ação pelo Dia de Combate ao Fumo, hoje. No Boulevard São Gonçalo, cartazes convertem preços de produtos em maços. Uma blusa de R$ 42 vale sete.

Livre Mercado
As Óticas Kika Premium abriram loja em Petrópolis. Investimento de R$ 500 mil. Vende grifes como Prada e Dolce & Gabbana.

A Amebrás fechou acordo com a Mangueira. Será responsável peço licenciamento de produtos com a marca da escola.
DM9DDB é a única brasileira na lista das cinco agências mais premiadas no mundo na 54ª Advertising Annual Competition.
Patricia Travassos, autora de “Minha mãe éum negócio”,vai debater qualidade devida na Bienal, dia 7.O livro conta a história de30 empreendedoras.

A Supergasbras, que patrocina o Placar Literário da Bienal, levará crianças do projeto Viva Vôlei da CBV ao evento, na próxima 4ª.

O BB assina hoje parceria com a Ação da Cidadania. O bancovai doar computadores, divulgar ações e incluir propostas da ONG no projeto Voluntários BB.

A Terrana fechou com o Vasco. Dará dez convites em camarotes a cada jogo em São Januário.

Recordar é viver: apagões - VINICIUS TORRES FREIRE

FOLHA DE SP - 29/08

Seja culpa de governo ou não, a frequência de blecautes pede explicação melhor do problema


DESTA VEZ foi uma queimada no interior do Piauí, explicam as autoridades elétricas sobre o apagão de ontem. Parece razoável, embora pareça precipitado explicar tão cedo um problema tão grande.

Pode ser azar mesmo. Mas, dada a recorrência de azares, a gente espera ver um balanço consolidado a respeito dessas improbabilidades. Não necessariamente para malhar o governo.

O sistema de transmissão brasileiro é extenso, em parte bem antigo, foi instalado em lonjuras e não dá para resolver isso tudo rapidamente. Por isso mesmo, e dada a frequência de apagões nos últimos anos, o público mereceria uma explicação: o que está pifado? O que precisa ser consertado? Quanto custa? O que está sendo feito?

A ideia de que tantos blecautes não são normais nem devem ser tolerados com cara alegre é, de resto, compartilhada pelo próprio governo. Recordar é viver. Abaixo, o que autoridades disseram sobre apagões recentes.

"Eventos como esse não são normais e a coincidência, então, é que é mais anormal ainda. Então é isso que está sendo avaliado."

Márcio Zimmermann, então ministro interino de Minas e Energia, 26 de outubro de 2012, sobre o apagão de 25 e 26 de outubro, no Norte e no Nordeste, então o quarto de uma série iniciada em setembro do ano passado.

"Vocês se lembram da história do raio? De que caiu um raio? No dia em que falarem para vocês que caiu um raio, vocês gargalhem.... Raio cai todo dia neste país, a toda hora. O raio não pode desligar o sistema. A nossa briga contra os raios é o seguinte: se desligou, é falha humana."

Dilma Rousseff, sobre explicações oficiais sobre apagões, em 26 de dezembro de 2012, num café da manhã com jornalistas.

"Para o consumidor de energia, uma queda de 3 MW ou de 1.000 MW dá no mesmo. Ele perdeu a luz dele. Ele está sofrendo as consequências. O aparelho dele queimou. Ele sofreu um ônus danado... O setor elétrico tem, tanto no que se refere à distribuição quanto à transmissão, de ser implacável, implacável com a interrupções, de que tamanho for. Porque a gente não pode aceitar conviver com isso." (Idem).

"Focamos a transmissão e a geração porque não tinha e diminuímos o investimento em manutenção, mas não reduzimos a zero, só diminuímos. Agora, vamos fazer as duas coisas, justamente porque temos dinheiro, o que não tinha antes..." (Idem).

"Não teve. Você está confundindo duas coisas, minha filha. Uma coisa é blecaute... Nós trabalhamos com um sistema de transmissão de milhares de quilômetros de rede. Interrupções desse sistema ninguém promete que não vai ter. O que nós prometemos é que não terá neste país mais racionamento. Racionamento é barbeiragem. Por que é barbeiragem? Porque racionamento de oito meses implica que eu, com cinco anos de antecedência, não soube a quantidade de energia que tinha de entrar para abastecer o país. Vocês vêm me dizer hoje que nós estamos nessa situação? De jeito nenhum."

Dilma Rousseff, então ministra-chefe da Casa Civil de Lula, 12 de novembro de 2009, sobre um apagão que afetou 18 Estados entre 10 de novembro e 11 de novembro daquele ano, em resposta a repórter que lembrava a promessa do governo de que não haveria mais apagão no Brasil.

Cubanos presos, aqui e lá - CARLOS ALBERTO SARDENBERG

O GLOBO - 29/08

E se algum cubano entrar, por exemplo, na embaixada dos EUA e conseguir refúgio, o que fará o governo brasileiro?


O problema não é que sejam médicos, muito menos cubanos. O problema é o método de contratação, que convalida grave violação de direitos humanos.

Importar trabalhadores é normal. Importam-se, por exemplo, os melhores profissionais, para agregar conhecimento e expertise às práticas locais. Ou se traz um tipo de trabalhador que não se encontra no país importador. Ou ainda pessoas que topam salários e serviços que os locais não aceitam.

Este é o caso da importação de médicos pelo governo brasileiro. Tanto que os estrangeiros só poderão exercer um tipo de medicina e apenas nos lugares para os quais foram designados. Não vieram para transmitir alguma ciência ou prática nova. O médico de família e o atendimento básico não são novidades por aqui.

Mas são insuficientes, diz o governo. É um argumento. As entidades médicas brasileiras, portanto, não têm razão quando se opõem à importação em si.

Ocorre que a história não termina aí. Tão normal quanto a importação de trabalhadores é a exigência de qualificação - algum tipo de avaliação do profissional estrangeiro para saber se atende às necessidades nacionais. Todos os países fazem isso.

Portanto, o governo brasileiro pode abrir uma espécie de concurso internacional para contratar médicos. Mas, primeiro, eles têm que passar por prova de capacitação, como passa qualquer brasileiro quando entra para qualquer serviço público. Segundo, esse mercado deve ser livre.

Assim: o país importador oferece a oportunidade e dá as condições de trabalho, os estrangeiros, pessoalmente, se candidatam, fazem os testes e assinam o contrato. Esse documento, obviamente, pode ser rescindido. Imagine que o médico chega numa cidade remota e verifica que não tem a menor condição de atender. Ou não recebe o salário acertado. Ele pode retirar-se e rescindir o contrato. Inversamente, se começa a fazer besteira, o governo, o contratante, pode afastá-lo.

E se o médico, afinal, achar que entrou numa fria, e que sua família não se adaptou - ele pode pegar um ônibus, ir até o aeroporto mais próximo e embarcar, com seu passaporte e o de seus familiares, de volta para casa. Ou para Miami.

Essa é a situação dos médicos argentinos ou portugueses. Não é, obviamente, o caso dos cubanos. Estes não têm o contrato de trabalho com o governo brasileiro ou outra entidade local, não recebem salário brasileiro, não têm o direito de desistir, não têm passaporte, não têm, pois, a liberdade de deixar o Brasil e ir para qualquer lugar que desejarem.

São funcionários do governo cubano, destacados para trabalhar no Brasil - sob as regras contratuais do regime cubano, uma ditadura. E não poder trazer a família, que permanece refém em Cuba, sem poder viajar para o Brasil ou para qualquer outro lugar - isso é de uma violência sem limite.

Os médicos ficam presos no Brasil, suas famílias, em Cuba. Parece exagerado, mas é a pura verdade. Tanto que o governo brasileiro foi logo avisando os doutores cubanos que não tentem fugir ou pedir asilo, porque serão presos e deportados.

Por isso, não vale a comparação com empresas brasileiras que levam trabalhadores brasileiros para suas obras em outros países. Os brasileiros foram livremente e podem voltar ao Brasil (ou qualquer lugar) quando quiserem.

Tudo considerado, o governo brasileiro pode importar médicos, mas não praticar a violação de direitos humanos embutida no contrato dos cubanos. Os médicos brasileiros podem exigir provas de validação dos estrangeiros. Mas não podem hostilizar pessoalmente os cubanos. Tirante os militantes, a situação pessoal deles é penosa.

O governo brasileiro mentiu várias vezes nesse episódio. Em maio último, o então chanceler Patriota havia dito que se preparava a importação de 6 mil cubanos. Dada a reação ruim, o ministro Padilha disse que o governo havia desistido do projeto. Agora, assim de repente, aparecem 4 mil médicos preparados para vir ao Brasil.

O governo apenas aproveitou o momento para lançar o Mais Médicos, com esse propósito principal de trazer os cubanos. Com marketing: quem pode ser contra a colocação de médicos em lugares carentes? Por outro lado, a presidente Dilma comprou uma briga feia com os médicos brasileiros, caracterizados como ricos insensíveis no discurso oficial e aliado. Uma ofensa, claro, mesmo considerando que há médicos que não cumprem suas obrigações. A grande maioria está aí, ralando.

Finalmente, e se algum cubano entrar, por exemplo, na embaixada dos EUA e conseguir refúgio, o que fará o governo brasileiro?

A munição do governo - CELSO MING

O Estado de S.Paulo - 29/08

Ontem, a presidente Dilma se sentiu na obrigação de lembrar os mercados de que o Brasil tem "bala na agulha" para dar conta da grande demanda por moeda estrangeira. A munição a que ela se referiu são os US$ 372 bilhões em reservas externas que poderiam ser usados para conter a disparada dos preços da moeda estrangeira no câmbio interno.

É uma intervenção sem precedentes para a qual há três perguntas à procura de respostas. A primeira consiste em saber por que a presidente Dilma entendeu que teria de passar esse recado que, a rigor, não é muito diferente do que vêm passando o ministro da Fazenda, Guido Mantega, e o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini. Segunda pergunta, quem a presidente Dilma quer afastar: o especulador ou aquele que procura proteção cambial para futuros compromissos em moeda estrangeira e teme pela escalada do dólar em reais? E, terceira, até que ponto o governo estaria de fato disposto a queimar reservas?

Antes de tudo, as autoridades estão obviamente incomodadas com a cavalgada do dólar, ao contrário do que acontecia até abril, quando pretendiam o contrário, pretendiam a desvalorização do real para dar competitividade à indústria. A presidente Dilma entende que o dólar foi longe demais, o que leva a presumir que alguma coisa ao redor de R$ 2,30 por dólar seja, no momento, o teto admitido.

O que ela teme é o impacto da alta sobre a inflação, fato que obrigaria o Banco Central a puxar pelos juros, sabe-se lá se não ao nível inadmissível dos dois dígitos. Além disso, o uso dessa artilharia retórica aconteceu porque até agora nem Mantega nem Tombini mostraram suficiente credibilidade para inverter o jogo cambial apenas com discurso.

Avançando agora à segunda pergunta: tudo se passa como se, na percepção do governo, a esticada das cotações no câmbio seja obra de especuladores que vêm fazendo posição em moeda estrangeira para lucrar no mole com debilidades da economia. E, de fato, quem precisa de proteção (hedge) contra eventual disparada do câmbio não precisa comprar dólares no mercado à vista (spot) para enfrentar despesas futuras em moeda estrangeira. Bastaria montar algumas posições em títulos (leilões de swap) que o Banco Central está oferecendo à ração diária de US$ 500 milhões de segunda à quinta-feira ou aproveitar o leilão de linha, de US$ 1 bilhão a cada sexta-feira.

Se o perigo maior na ótica do governo for mesmo a ação do especulador, conviria saber se este tem bala suficiente, desta vez em reais, para fazer posição arriscada em dólares, levando-se em conta o custo cada vez mais alto em juros no mercado interno. Provavelmente, não.

Finalmente, até que ponto o governo estaria mesmo disposto a queimar reservas? Economistas, como Chico Lopes, Edmar Bacha e Luiz Gonzaga Belluzzo têm lembrado que reservas são extintores de incêndio prontos a serem acionados sempre que a casa começar a pegar fogo. O risco seria de que o uso do arsenal pelo Banco Central seja interpretado como sinal de grande fragilidade da economia, o que encorajaria ainda mais os especuladores, ao contrário do que pretende o governo. O economista Yoshiaki Nakano teme, nesse caso, o esgotamento rápido das reservas.

O fato é que nem o governo nem o mercado conhecem bem seus limites. Os dois lados continuam se estudando.

Tempos líquidos - MIRIAM LEITÃO

O GLOBO - 29/08

O Copom elevou, de novo, em meio ponto os juros, mas diante de um cenário mais difícil, mais incerto, e com o mercado piorando todas as previsões. Desde a última reunião, o dólar subiu 3,43% - e chegou a picos mais altos - mas, principalmente, o ambiente se deteriorou com a disparada da moeda americana nas últimas semanas. Agora, uma nova incerteza, a geopolítica, com o risco de guerra na Síria.

Uma coisa é o dólar mais alto, outra é o câmbio instável porque ele aprofunda a incerteza, paralisa as decisões, assusta o investidor. Com a pressão do câmbio, a inflação sobe, com mais inflação os juros terão que subir mais, e isso apesar de o país estar crescendo menos. Esse é o quadro sobre o qual o Banco Central tomou sua decisão sobre o dilema: subir de novo os juros, correndo o risco de deprimir mais a economia; não subir juros incentivaria o repasse do custo cambial para os preços. E como se não bastasse, a crise da Síria aumentou o grau de incerteza no mundo.

Por isso, a aposta geral era mesmo que o BC iria elevar a taxa de juros para 9% ao ano. Ao final da última reunião, muita gente achava que essa seria a última elevação da Selic e que, depois, o Banco Central esperaria os efeitos do aperto da política monetária. Agora, a previsão mais comum é de nova alta na próxima reunião.

O Focus esta semana previu uma taxa de juros de 9,5% ao final do ano, uma inflação maior, de 5,80% (contra 5,74% da última semana) e IPCA de 5,84% no ano que vem. O Focus registra uma previsão em andamento. Como nem todas as cem instituições pesquisadas revisam suas previsões toda semana, o importante é olhar mais a tendência das projeções. E o que elas mostram é uma inflação que este ano será maior do que a de 2012 e a do ano seguinte também. Sempre em torno de 6%. Uma taxa alta assim é afetada por qualquer choque externo.

É bom lembrar que parte da inflação está reprimida porque o governo não tem permitido elevação de tarifas que ele controla. Isso está produzindo distorções, e a mais óbvia delas é na Petrobras. Com a piora nas contas da companhia, a relação entre dívida e geração de caixa está se deteriorando a cada dia. Com o dólar alto, o custo com a importação tem produzido prejuízo à empresa. Com a incerteza em relação à Síria, o petróleo começou a subir. Isso piora a situação.

A previsão do PIB continua em torno de 2,2%, mas o mais impressionante foi a queda vertiginosa, confirmada no dado do BC divulgado esta semana, da previsão de crescimento do PIB para o ano que vem. Na pesquisa da segunda-feira, estava em 2,4%. Em 31 de maio, em 3,4%. Em três meses, caiu um ponto percentual a previsão para o crescimento da economia em 2014.

Mas o Banco Central enfrenta outras dificuldades na sua atuação. Continua a falta de confiança na política fiscal e o expansionismo parafiscal do governo. A inflação reprimida dos preços administrados pode continuar sendo empurrada com a barriga, mas se a moeda americana continuar subindo, fica difícil adiar muito o reajuste da gasolina. Se preços mais realistas são desejáveis, por outro lado, a taxa mais alta exigirá mais elevação de juros.

O Banco Central, por outro lado, será ajudado pelo mais indesejável dos aliados: o baixo crescimento. Com a demanda fraca e o governo sem margem de manobra para novos incentivos ao consumo, os empresários não poderão repassar todo o impacto do dólar que gostariam. O repasse do câmbio aos preços de varejo será mais lento e mais fraco.

Presença VIP - DORA KRAMER

O Estado de S.Paulo - 29/08

Se Marina Silva conseguir o registro da Rede Sustentabilidade a tempo de disputar a eleição de 2014, não terá sido pela pressão sobre a Justiça Eleitoral, bem como se não conseguir, a ex-senadora não poderá atribuir o motivo a retaliação do Tribunal Superior Eleitoral às queixas públicas sobre a demora do reconhecimento das assinaturas necessárias à criação do partido.

Na reclamação, Marina deixa implícita a suspeição de que estaria sendo prejudicada por uma aliança entre a burocracia, a má vontade de funcionários e sabotagem política nos cartórios eleitorais.

Se a Rede obtiver registro até 5 de outubro, terá sido simplesmente pelo cumprimento das exigências de acordo com a regra e não pela abertura de uma exceção, como pretende a ex-senadora aparentemente imbuída da convicção de que seus índices de intenção de voto e inequívoco respaldo social justificam o atropelo do manual.

A ex-senadora tem todo o direito de fazer marcação cerrada, a fim de se prevenir dos danos decorrentes dos excessos burocráticos. Além disso, há mesmo esquisitices que dão margem a desconfiança, como a recusa de 73,5% das assinaturas (a média nacional é de 24%) em São Bernardo do Campo, reduto do PT que não esconde a antipatia por Marina e chegou a liderar uma ofensiva malsucedida no Congresso para criar obstáculos legais à existência da Rede.

Nem por isso a ex-senadora dispõe de prerrogativas especiais que a autorizem a esperar da Justiça Eleitoral a concessão de privilégios. Devido ao atraso na validação das quase 500 mil assinaturas necessárias, ela propõe ao TSE que suspenda a verificação individual, publique um edital com todas elas e, se não houver contestação, as aceite como válidas.

No entanto, a base para essa contestação só pode ser o mesmo cadastro que a Justiça Eleitoral usa agora para aceitar ou recusar as assinaturas. O advogado da Rede, Torquato Jardim, sugere que depois, se comprovadas irregularidades, o tribunal poderia suspender o registro que teria, então, o inédito caráter de provisório.

Se já há essa atmosfera de perseguição, é de se imaginar a reação a uma cassação do partido. Portanto, o que se pretende é criar um fato consumado mediante o desvio do padrão legal. Não combina com o discurso de Marina Silva sobre a correção dos meios e dos modos na política.

NA ESTRADA
O governador Eduardo Campos não está perdendo chance de se contrapor à presidente Dilma Rousseff. A mais recente foi o apoio do pernambucano ao diplomata Eduardo Saboia pelo translado do senador Roger Pinto Molina de La Paz a Brasília.

"Por dever de consciência tenho de cumprimentar o diplomata que fez isso", disse ele, enquanto a presidente rebatia com rudeza declarações de Saboia e suspendia a indicação do atual embaixador na Bolívia para assumir a representação na Suécia, por suspeita de sua participação na fuga de Molina.

Campos poderia ter se mantido neutro no assunto, mas quis comentar. Calado estava desde as manifestações de junho e calado poderia continuar, mas nos últimos dias desandou a falar.

Em reunião com empresários paulistas, na segunda-feira, questionou a capacidade de liderança da presidente e a eficácia das respostas dadas por ela aos protestos.

No dia seguinte, gravou entrevista ao Programa do Ratinho - uma espécie de estágio probatório para candidatos a presidente - e manteve o tom de crítica, desta vez à falta de "traquejo político" de Dilma.

Antes da gravação, ao comentar a movimentação do PSB em torno de sua possível candidatura, declarou que o calendário eleitoral "começa agora". Uma alteração significativa para quem afirmava até pouco tempo que as decisões de 2014 dependeriam do transcorrer de 2013, ano que, nessa perspectiva, para Eduardo Campos já terminou.

Um novo Bustani? - ELIANE CANTANHÊDE

FOLHA DE SSP - 29/08

BRASÍLIA - Diplomatas, como militares, são carreiras de Estado, bem hierarquizadas, e não jogam tudo para o alto, como fez Eduardo Saboia. Filho de embaixador, aluno brilhante, profissional disciplinado, entre a consciência e o estrelato na carreira, ele optou pela consciência.

Saboia segue os passos de um outro diplomata que entrou para a história pela coragem pessoal e política de dizer "não": José Maurício Bustani se recusou a admitir a existência de armas químicas no Iraque e foi, por força dos EUA, covardemente destituído da direção da Opaq, um órgão da ONU.

Bustani foi entregue à própria sorte pelo Itamaraty do governo FHC, virou herói nacional e foi ovacionado pelo Congresso brasileiro. Agora, Saboia serviu de pretexto para a queda do chanceler e está sendo execrado pelo Itamaraty do governo Dilma, mas já está sendo tratado como herói pela opinião pública e, convenientemente, pela oposição, inclusive por Aécio e Campos.

A questão não é simples. Do ponto de vista formal, é estapafúrdio, até perigoso, um diplomata decidir da própria cabeça retirar um senador estrangeiro asilado numa embaixada brasileira, metê-lo num carro oficial, com motorista e seguranças do governo, e cruzar cordilheiras e fronteiras até o Brasil. Tudo sem o Itamaraty e o governo do país autorizarem, ao menos saberem.

Mas, na realidade, Saboia vinha, havia mais de 450 dias, sofrendo com 1) o isolamento e a depressão do senador asilado na embaixada; 2) as caneladas do governo Evo Morales no Brasil e no princípio do salvo-conduto; 3) a inércia da diplomacia brasileira. Deixaria Roger Pinto morrer ou enlouquecer?

O resultado da ação de Saboia poderia ser bom para todos, inclusive para o Brasil e a Bolívia, e bastaria um teatro daqui e de lá. "Tiramos o bode da sala", defende-se ele. Mas Morales continua batendo, e Dilma continua tão paciente com a Bolívia quanto durona internamente.

Tempo perdido - PAULA CESARINO COSTA

FOLHA DE SP - 29/08

RIO DE JANEIRO - Perguntas desse tipo tornaram-se hábito nas grandes cidades brasileiras. "Quanto tempo vou demorar para chegar lá? Será que vou chegar a tempo?"

A (i)mobilidade é o tema do século 21. Com soluções do passado, só agora os dirigentes do país e a sociedade como um todo perceberam que não vão caber nas ruas todos os carros fabricados ou pelo menos que não será possível pô-los em movimento.

A falta de planejamento ergueu viadutos, duplicou vias e furou túneis. Deixou trilhos e trens abandonados e colocou os ônibus nas mãos de quem só pensa em lucrar.

Antes motivo de provocação e ironia com paulistas, o Rio começa a ficar preocupado quando o trânsito passa a dominar a conversa de botequim. As realidades ainda são muito distantes. São Paulo continua pior.

Um exemplo: na tarde de uma terça-feira, às 15h50, um táxi leva o passageiro para o aeroporto de Congonhas, em São Paulo. Percorre 8 km e chega ao destino em 30 minutos.

No início da noite, às 19h, outro táxi demora o mesmo tempo para percorrer 26 km saindo do aeroporto Galeão/Antonio Carlos Jobim.

Atualmente, quem tem voo marcado, faz web check-in, acrescenta dez minutos por segurança e calcula que o trajeto pode demorar de 20 minutos a duas horas para ser percorrido. Com uma certeza: a tarde será dedicada a isso, mesmo que a viagem aérea dure apenas 45 minutos.

Alguns perderão esse avião. Outros chegarão com horas de antecedência e ficarão à espera no aeroporto. Por mais que a vida na palma das mãos faça tudo suportável, e quase confortável, resta a sensação de que o tempo não mais nos pertence.

Do alto, feixes de luzes vermelhas ou brancas pintam as artérias das cidades, ilustrando o cenário imóvel.

A liberdade hoje passou a ser o poder ir aonde quiser sem precisar de automóvel. O trânsito rouba de todos o domínio sobre a própria vida.

A aposta - MERVAL PEREIRA

O GLOBO - 29/08
Mais uma vez, a maior parte dos embargos de declaração foi rejeitada, frequentemente por unanimidade, ficando claro que a maioria deles tinha apenas a intenção de retardar o fim do julgamento. Ontem, o Ministro Ricardo Lewandowski conseguiu a façanha de fazer com que o STF perdesse 40 minutos da sessão discutindo assunto semelhante ao que havia sido decidido na véspera, em reunião de turma da qual participara.
Ele viu uma omissão no acórdão pela não indicação da soma total das penas a que foi condenado o lobista Marcos Valério, e o Ministro Teori Zavascki lembrou-o de que, "no âmbito da lei de execução penal, está determinado que compete ao juiz da execução decidir sobre soma ou unificação de penas". Mais uma vez, de maneira transversa, ele tentou reduzir a pena do ex-ministro José Dirceu ao criticar o que teria sido rigor excessivo na condenação de Valério a dois anos e seis meses pelo crime de formação de quadrilha. Lewandowski insinuou que a pena próxima da máxima de três anos foi fixada porque o crime prescreveria com uma condenação de dois anos.

Ministro Marco Aurélio Mello, com sua ironia percuciente, matou a charada lembrando que também é possível imaginar-se que quem propugna por uma pena mais branda nesse caso está querendo que o crime prescreva. Dirceu foi condenado pelo mesmo crime a dois anos e 11 meses, assim como José Genoino e Delúbio Soares.

O julgamento do mensalão nesta fase está chegando ao fim, restando ainda sete condenados a terem seus embargos de declaração julgados. A discussão em seguida será sobre a admissibilidade dos embargos infringentes, que, esses sim, têm o poder de rever o julgamento daqueles itens em que os condenados tiveram pelo menos quatro votos a seu favor - formação de quadrilha e lavagem de dinheiro.

Embora seja impossível afirmar-se com segurança qual será a decisão do plenário do STF, há indicações de que os embargos infringentes não serão aceitos por terem sido tacitamente revogados quando da edição da Lei 8.038, que regulamentou os processos originários dos Tribunais Superiores.

Zavascki, por exemplo, falou ontem pela segunda vez sobre a revisão criminal, que seria o recurso para rever alguma decisão depois que o processo tenha transitado em julgado, o que pode ser uma indicação de que ele não está levando em consideração os embargos infringentes.

Se, porém, os embargos infringentes forem aceitos, aí teremos novos julgamentos, com novos relator e revisor, ficando a decisão final de 11 dos 25 condenados para as calendas gregas. Mas, mesmo que o julgamento não seja reaberto, ainda há a figura dos "embargos dos embargos", até que seja possível dar o julgamento por encerrado, e seja emitida a ordem de prisão dos condenados.

Essa sucessão de recursos é que dá a sensação de que os criminosos de colarinho branco no país não vão para a cadeia. A desmoralização da Justiça devido a esses mecanismos que, em vez de servirem de proteção dos réus, servem mesmo para reforçar a sensação de impunidade dos poderosos foi tema de vários pronunciamentos nesta fase do julgamento.

O novo ministro Roberto Barroso chamou a atenção para a experiência que está tendo na sua participação recente no Supremo, quando já constatou a incidência maléfica de recursos protelatórios, e apelou aos seus pares: "Temos que terminar com a prática de que o devido processo legal é aquele que não termina."

O descrédito da opinião pública é tão grande que recente enquete do site do GLOBO mostrou que nada menos que 50% dos participantes não acreditam que os mensaleiros acabem indo para a prisão.

Esse estado de espírito fez com que eu e Carlos Alberto Sardenberg fizéssemos uma aposta em programa da CBN: eu, representando os otimistas, aposto que a Justiça será feita e que eles irão para a cadeia ainda este ano, Sardenberg não acredita nessa possibilidade.

Apostamos uma garrafa de vinho, e o especialista da CBN Jorge Lucki sugeriu três opções: o barolo de Bartolo Mascarello, um camponês muito intelectual e politizado; o Châteauneuf-du-Pape, em tributo à pureza e à justiça de Papa Francisco; e, por último, um Borgonha, boa opção por ser produzido com a uva Pinot Noir, que reflete com transparência o trabalho do produtor.

Façam suas apostas no Facebook da CBN.

Questões nada diplomáticas - JANIO DE FREITAS

FOLHA DE SP - 29/08

Foi dito que a inspiração de Saboia veio de Deus, mas aí já é um nível diplomático que não dá para considerar


A história, como está servida, não é convincente. Apesar de muito conveniente à exploração política, que não requer nem escrúpulos, quanto mais coerência dos fatos narrados, para não falar em veracidade.

O desarranjo da história torna ainda mais problemática a demissão sumária do (ex) ministro Antonio Patriota, em decisão de Dilma Rousseff, na melhor hipótese, meramente emocional. O que é incabível em presidente da República. Mas, não é possível deixar sem este registro, decisão descabida também por seu componente de injustiça.

Na explicação de sua atitude, o diplomata Eduardo Saboia associou as condições precárias da saúde de Roger Pinto Molina, que incluiriam alto risco de morte, e as de sua instalação na embaixada brasileira, que comparou ao DOI-Codi.

A referência à saúde fez com que o ministro José Eduardo Cardozo, da Justiça, cuidasse de imediato exame médico do senador boliviano em sua chegada ao Brasil. O senador está bem. Já suas primeiras fotos brasileiras mostraram o roliço próprio dos bem nutridos, corado, cabelo bem aparado, sem sugestão alguma, por mínima que fosse, de trato e condições aquém do devido pela embaixada.

Assim sendo, a respeito da saúde e da comparação com o DOI-Codi, o que passa a interessar são as condições do próprio diplomata Eduardo Saboia, que o fizeram capaz de alegações tão incomprováveis em tão pouco tempo depois de emitidas.

Também resta um interesse secundário. Eduardo Saboia estava como encarregado de negócios brasileiro em La Paz, principal responsável na e pela embaixada temporariamente desprovida de embaixador. As condições de internação do asilado comparáveis às do DOI-Codi eram, portanto, de sua responsabilidade. Tal como a autoridade e o dever de torná-las dignas. Não foram esclarecidos os motivos da omissão, complementada pela viagem (fuga, dizem) temerária, Andes abaixo.

É mais do que duvidoso, ainda, que um diplomata já experimentado e com relações influentes no Itamaraty e no governo (Celso Amorim, ministro da Defesa, por exemplo) não recorresse a providências mais simples e fáceis. E preferisse logo a transgressão radical de suas responsabilidades funcionais, o risco de consequências pessoais e, tão claro no seu caso, o problema diplomático para o Brasil.

Foi dito que tudo veio de inspiração obtida de Deus, na leitura dos Salmos, mas aí já é um nível de relações diplomáticas que não dá para considerar. Podem ser úteis no Juízo Final. Para o raciocínio chão a chão, a história contada não tem o mínimo de coerência para ser admitida. E nem é preciso introduzir, na sua apreciação, elementos objetivos como os interesses à volta do senador Roger Pinto Molina, a área fronteiriça em que tem influências, sua condenação à cadeia, os 13 processos que lhe restam, com uma acusação de homicídio, e sua riqueza.

Nada disso precisa interessar aqui, porque não interessou a Aécio Neves, Eduardo Campos, José Agripino e tantas outras figuras expresssivas que logo associaram o nome e a honra política ao senador boliviano, agradecidos a Eduardo Saboia, seu novo herói, por trazê-lo para a sua proximidade.

A sensibilidade brasileira também está agradecida. A quantidade de comentaristas a revelarem agora sua preocupação com o problema do asilo é característica das grandes questões e dos grandes acontecimentos. Mais tarde, por certo, será explicado por que nenhum emitiu uma só palavra, jamais, de crítica à recusa inglesa de salvo-conduto para Julian Assange deixar seu longo asilo na embaixada do Equador, em Londres. Uma história sem mistérios e coerente.