sexta-feira, maio 10, 2013

Roupas e operários descartáveis - LUCAS MENDES

BBC Brasil

Xuxa já foi rainha do varejo em Nova York. No começo dos anos 90, ela ia à rua 14 numa limusine com suas paquitas. Compravam roupas para meses de programas.


Era o inicio da grande invasão chinesa na moda barata que arrebentaria as industrias americanas e de outros países pelos acordos comerciais.

Até a década de 70, 100% das roupas americanas eram fabricadas nos Estados Unidos. Nos 90 caíram para 50%, hoje são apenas 2%.

A martelada definitiva da globalização na moda foi em 2005, quando as cotas de importação foram eliminadas. Desde então, as confecções fugiram em massa para China e, depois, Bangladesh.

Nova York já foi uma das maiores produtoras de roupas nos Estados Unidos e cenário de um dos incêndios mais trágicos do país, o da fábrica Triangle Waist, em 1911.

Morreram 147 pessoas, quase todas mulheres que saltaram do oitavo e nono andares porque todas as portas estavam trancadas.

Os dois donos escaparam por uma das poucas portas abertas, foram processados por homicídio e absolvidos.

As decisões no tribunal foram pífias e devastadoras para as famílias, mas tiveram um impacto revolucionário nas leis trabalhistas.

Entre as várias consequências das duas tragédias de Bangladesh, o incêndio que matou 112 numa confecção em dezembro e a morte de mais de 700 quando um prédio desmoronou, em abril, pode estar a ressurreição da indústria de roupas nos Estados Unidos.

Elizabeth Cleine é escritora e repórter. Passou três anos na investigação da indústria, entre eles um ano disfarçada de compradora de roupas americanas nas fábricas da China e de Bangladesh. O resultado foi o livro Overdressed - The Shockingly High Cost of Cheap Fashion.

A China tem 40 mil fábricas com 15 milhões de empregados, equipamentos modernos com computadores da Apple. Pagam salários de US$ 200 por mês. As fábricas poluem e consomem uma quantidade criminosa de água, mas por dentro são limpas e eficientes.

As 4 mil fábricas de Bangladesh são pavorosas até para o século 19. No livro, Elizabeth Cline descreve, profeticamente, prédios decadentes, perigosos, cheios de rachaduras.

Muito antes das duas tragédias ela culpou o insaciável consumidor americano e as máquinas de vendas e promoções das grandes redes de roupas - H&M, Zara, Gap, Uniqlo, Joe Fresh e dezenas de outras que mudaram o conceito da moda moderna.

Antigamente havia os lançamentos de outono/inverno e primavera/verão. Hoje as lojas ganham na venda por volume e os inventários mudam em menos de um mês.

Uma americana tem, em média, 350 peças de roupas nos armários, gavetas, caixas debaixo das camas e nos porões. Compram em média 68 vestidos e 7 sapados por ano, o dobro do que consumiam em 1950, e gastam apenas 3% do salário anual. Nos antigamentes dos anos 50, guarda-roupa representava 17% da renda familiar.

Este furor de consumo de roupas baratas gerou as expressões "roupas descartáveis" e "indústria fast fashion". A escritora acha que existe uma relação social e cronológica entre "fast food" e "fast fashion" . As duas explodiram quase ao mesmo tempo.

Elizabeth conta o exemplo da mulher que chega na loja e, no impulso, pelo preço, compra uma blusa bonita por US$ 10. Em casa, acha a blusa jeca, mas o preço é tão baixo que não vale a pena perder tempo com a devolução. Leva para as agências de caridade com outras que estavam na pilha das descartáveis.

A Salvation Army e a Goodwill, duas das maiores, recebem todos os dias carradas dessas roupas quase sem uso. Ficam no máximo três semanas à venda por um terço do preço.

O encalhe, monumental, tem três destinos: as vendedoras de farrapos; as fábricas de automóveis onde servem para revestimento dos carros contra calor e frio; ou são empacotadas em caixas gigantes e exportadas para países emergentes, a maior parte para a Africa, onde as peças mais valiosas são as calcinhas da Victoria Secret. Aquela blusa de US$ 10 vale alguns centavos na Africa.

As grandes cadeias de roupa estão numa cintura justíssima. Algumas anunciaram que vão parar de fabricar em Bangladesh, outras prometeram indenizar as vítimas e exigir melhores condições de trabalho.

Entre as propostas está a criação de um selo de garantia que o produto foi fabricado em condições decentes. Os preços vão subir. Quanto o consumidor, acostumado a comprar muito por pouco, está disposto a pagar para proteger emergentes explorados?

A Universidade de Michigan fez a pesquisa num subúrbio de Detroit. Meias idênticas foram empilhadas lado a lado.

À esquerda, as supostamente fabricadas em más condições de trabalho. à direita, em boas. Metade dos consumidores optaram pelas boas condições, a outra metade ignorou a diferença.

Quando subiram os preços em 5%, só um terço se dispôs a pagar mais pelas meias do bem. Quando os preços subiram até 50%, a grande maioria, 75%, optou pelas meias do mal.

Na indústria da fast moda, o trabalhador de Bangladesh é um bem tão descartável quanto as roupas que ele fabrica.

É grave a crise - ANCELMO GOIS


O GLOBO - 10/05

Em tempos de inflação em alta, uma adolescente, de uns 16 anos, que vende amendoim descascado num sinal da Av. Borges de Medeiros na Lagoa, no Rio, aumentou o preço de seu produto de R$1 para R$ 2.

Batida em retirada
As brasileiras Odebrecht, Camargo Corrêa e Andrade Gutierrez já concluíram, praticamente, a operação de guerra de retirada de ferramentas, máquinas e equipamentos do canteiro do projeto potássio da Vale, na Argentina.

O negócio, como se sabe, foi suspenso em março.

A vez de Rosa
Na semana que vem, no rodízio da coordenadoria na Comissão Nacional da Verdade, deve assumir a carioca Rosa Maria Cardoso, que foi advogada de presos políticos, inclusive de Dilma.

Aliás...
Já há uma articulação em marcha para ampliar o prazo final de entrega do relatório da comissão. Atualmente está marcado para maio de 2014.

Troca de nomes
Quando era senador, Sérgio Cabral apresentou um projeto trocando, no prédio do Senado, a ala Filinto Müller para ala Nelson Carneiro. Foi derrotado.

Filinto (1900-1973) foi chefe de polícia da ditadura do Estado Novo e depois serviu à ditadura de 1964.

Discriminar é crime
Decisão do TST obriga o Senai a pagar uma indenização de R$ 20 mil a um ex-funcionário, de nacionalidade argentina, de uma unidade no Mato Grosso do Sul.

Durante uma reunião, o gerente se referiu ao subordinado como “argentino filho da...” você sabe.

Chega de enrolação
Veja que desaforo.

A alegação de que João Gilberto pode violar sua própria obra é um dos motivos da EMI para recusar devolver as fitas masters (gravações originais) de seus discos “Chega de saudade”, “O amor, o sorriso e a flor”, além do compacto de vinil dele cantando a trilha sonora do filme “Orfeu do carnaval”.

Caso de polícia...
Aliás, ontem, o advogado do artista, Michel Assef, enviou um pedido para que o delegado Ricardo Codeceira, responsável pelo combate à pirataria, determinasse a realização de uma perícia.

Quer que ele comprove se a multinacional da música promoveu algum tipo de “mutilação dos masters”.

Ingressos esgotados
Marisa Monte, depois de lotar alguns dos principais teatros europeus, levará a turnê “Verdade uma ilusão” para os EUA.

A rápida venda de ingressos para as apresentações em Miami e Nova York, em junho, obrigou a cantora a abrir datas extras nas duas cidades.

A desova
O projeto Minha Casa Minha Vida na Estrada de Madureira, em Nova Iguaçu, RJ, foi interrompido esta semana.

É que as escavadeiras, que estavam a todo vapor, encontraram ossadas no local. Trata-se de um antigo pasto abandonado que se tornou, cruzes!, um ponto de desova de corpos.

Novo capítulo
Termina hoje o prazo para o Iphan dizer à Defensoria Pública da União se vai suspender ou não a autorização de demolição do estádio Célio de Barros e do Parque Júlio Delamare.

Dependendo da resposta, a DPU pedirá que a Justiça federal determine a preservação dos equipamentos.

Calma, gente
Sete policiais da 9ª DP (Catete) subiram, ontem, o Morro Santo Amaro, no Catete, para cumprir um mandado de prisão. O grupo, dividido em carros descaracterizados, foi afrontado por... agentes da Força Nacional de Pacificação, que ocupam a comunidade:

— Vocês deram sorte de ter entrado aqui assim — disse um dos federais.

No ritmo das bandas
O projeto Banda Larga, que estimula a preservação das bandas de música do estado, homenageará, este ano, o flautista Altamiro Carrilho, morto em 2012.

Sua música “Ledinha” foi escolhida para um concurso, no interior do estado, com direito a prêmios em dinheiro e oficinas gratuitas.

Maioridade penal
Embora a legislação proíba a imprensa de mostrar o rosto de menores infratores, o deputado estadual Flávio Bolsonaro, filho de quem o nome denuncia, decidiu manter em seu site a foto do adolescente acusado de estuprar uma mulher dentro do ônibus 369, sexta passada.

Em dois dias, o site dele passou de seis mil para 120 mil visitas diárias.

O atraso nas concessões - EDITORIAL O ESTADÃO

O Estado de S.Paulo - 10/05

Em mais um lance do jogo de tentativa e erro em que transformou as concessões de rodovias e ferrovias anunciadas com entusiasmo pela presidente Dilma Rousseff em agosto do ano passado, o governo mudou novamente as condições para as empresas privadas participarem desse programa.

Desta vez, para atrair o interesse dos investidores, elevou em 31% a rentabilidade dos projetos rodoviários, que passará de 5,5% para 7,2%. Além disso, permitirá que o BNDES seja sócio dos consórcios que vencerem os leilões.

Já é praticamente certo que, dos R$ 133 bilhões de investimentos em rodovias e ferrovias previstos no programa de concessões - e que, no desejo da presidente, deveriam estimular o crescimento já em 2013 -, nada será aplicado neste ano. As condições definidas inicialmente para a concessão de 9 lotes (com 13 trechos) de rodovias e 12 de ferrovias em regime de concessão afugentaram os investidores, o que forçou sua revisão.

Com as mudanças agora anunciadas, o governo quer evitar que o programa enfrente novos atrasos. Não há, porém, certeza de que isso ocorrerá. Embora sejam melhores para os investidores, as novas regras podem ser insuficientes para atraí-los ao projeto.

Os editais do primeiro conjunto de concessões, com 7 lotes rodoviários, deveriam ter sido publicados em março, mas só o serão em julho, se até lá tiverem sido analisados e aprovados pelo Tribunal de Contas da União. Os editais dos dois lotes restantes deverão ser publicados em setembro.

Se esses prazos forem cumpridos, os primeiros leilões serão realizados a partir de outubro. Não haverá tempo para o início das obras ainda neste ano.

Quanto às ferrovias, o cronograma também está sendo revisto e deve ficar para 2014, como já admite Bernardo Pimentel, presidente da Empresa de Planejamento de Logística (EPL), a estatal encarregada da gestão do programa de concessões.

Ao anunciar o programa, a presidente Dilma afirmou que ele oferecia aos investidores "ótimas oportunidades com ambiente de estabilidade", pois as parcerias "são muito atraentes em termos de rentabilidade e risco".

Se, há alguns meses, o governo ainda podia falar em "estabilidade" sem causar muita estranheza, hoje o quadro é diferente. O desdém com que as autoridades vêm reagindo à aceleração da inflação, a insistência do governo em escolher determinados setores para serem beneficiados com isenções tributárias e, especialmente, a notória deterioração da política fiscal geraram desconfiança entre os investidores.

Além de desconfiados, eles não conseguiram ver a rentabilidade anunciada pela presidente. E o próprio governo, ao rever os critérios que havia estabelecido para as concessões, reconheceu na prática que, se existia, ela não era suficiente.

Parâmetros econômico-financeiras estabelecidos inicialmente - como o teto para a tarifa do pedágio e a obrigatoriedade da conclusão de obras de duplicação de boa parte do trecho concedido no prazo de cinco anos (com a exigência adicional de que os pedágios só poderiam ser cobrados depois da conclusão de 10% das obras - limitavam drasticamente a rentabilidade do investimento.

Além disso, projeções sobre movimentação de veículos nos trechos a serem concedidos foram superestimadas. Houve casos de previsão de crescimento médio anual de 5% ao ano do número de veículos que pagariam pedágio durante o período de concessão, quando, na realidade, o crescimento tem sido de 3% ao ano. Assim, nas previsões do governo, a receita futura dos concessionários seria maior do que a que efetivamente poderia ser obtida.

O governo vem corrigindo algumas deficiências nas regras, mas o faz topicamente, o que retarda o processo. É provável, por isso, que encerre o ano com a assinatura de apenas um contrato de concessão, o do trecho da BR-101 no Espírito Santo. Mas esse trecho não faz parte do programa anunciado em agosto pela presidente da República: seu leilão foi realizado no início de 2012, mas contestações na Justiça atrasaram a assinatura do contrato.

PIRES NA MÃO - MÔNICA BERGAMO


FOLHA DE SP - 10/05

A Câmara Brasileira do Livro foi autorizada a captar, via leis de incentivo, R$ 10,1 milhões para a realização da 23ª edição da Bienal Internacional do Livro de São Paulo, em agosto de 2014. Na última edição, em 2012, a Bienal teve permissão para captar R$ 7,9 milhões --mas conseguiu só 30% do valor, ou R$ 2,5 milhões.

PIRES NA MÃO 2
"Fizemos milagre em 2012. Tivemos um evento supereconômico por causa da baixa captação. O próximo ano também não vai ser fácil. Já existe uma divisão das empresas preocupadas com a Copa do Mundo", diz Karine Pansa, presidente da Câmara Brasileira do Livro. "Acho importante as companhias estarem ligadas ao saudável, ao esporte, mas o livro também tem muito apelo para a população."

BIBLIOTECA
O evento literário é o terceiro maior do segmento no mundo. Em 2012, a Bienal do Livro de São Paulo teve 753 mil visitantes, 480 expositores, 1.180 autores, sendo 18 internacionais, e 1.830 lançamentos literários. Cada pessoa que passou pelo pavilhão comprou e gastou, em média, 5,2 livros e R$ 94.

PEDIU PRA SAIR
Paulo Roberto Mendonça, um dos fundadores do Canal Brasil, se desligou do conselho da Fundação Padre Anchieta por não concordar com o processo eleitoral que deve reconduzir Marcos Mendonça à presidência da instituição que administra a TV Cultura.

PEDIU PRA SAIR 2
"Não é juízo de valor, mas faz parte do processo democrático haver uma disputa de candidatos e ideias", diz, referindo-se à candidatura única de Marcos Mendonça e à falta de apoio a Carlos Augusto Calil, professor da USP, para entrar na disputa.

APERTO DE MÃO
José de Abreu entrou em acordo com o ministro Gilmar Mendes, do STF (Supremo Tribunal Federal). O ator doará R$ 10 mil a um hospital de Diamantino (MT), cidade natal de Mendes, e se comprometeu também a não falar mais mal dele.

EU NÃO TUÍTO MAIS
Abreu reproduziu no Twitter a informação de que o magistrado havia contratado um araponga ligado a Carlinhos Cachoeira. A notícia já havia sido desmentida por Mendes. "É difícil um embate jurídico com um ex-presidente do STF. Sou apenas um ator", diz ele, que apagou sua conta na rede social nesta semana. "Não tem nada a ver com o processo, foi uma decisão pessoal."

PROCURA-SE TETO
Representantes do Comitê Olímpico Brasileiro visitaram locais em São Paulo que poderão receber em dezembro o Prêmio Brasil Olímpico. A festa retorna à cidade, após 13 anos no Rio. Além de homenagear atletas, o evento vai relembrar os 50 anos do Pan-Americano de 1963, realizado na capital paulista.

COMES E BEBES
Já tem nova data a inauguração do restaurante Spot no shopping JK Iguatemi. Prevista inicialmente para março, a abertura será na segunda quinzena de junho. O projeto é de André Vainer.

NOITE ITALIANA
A joalheria Montblanc promove jantar de gala no dia 22, na Casa Fasano, com renda revertida para o Unicef Brasil.

Na festa, para 400 pessoas, Mauricio de Sousa será homenageado pelos 50 anos da personagem Mônica. O convite custa R$ 888 e a mesa de seis lugares, R$ 4.810.

SEM COXINHA
A apresentadora inglesa Nigella Lawson seguiu as dicas no Twitter e foi conhecer o bar com a melhor coxinha de SP, segundo seus fãs. Ela chegou às 23h de domingo no Veloso, na Vila Mariana, mas o bar estava fechando. Alguns clientes ainda tentaram pedir fotos, mas Nigella entrou no carro e partiu.

CAIU NA REDE Adriana Calcanhotto, que cantou anteontem no teatro Bradesco, retorna a SP na próxima quinta para show no Cine Joia em apoio à Rede, novo partido de Marina Silva; Nando Reis também confirmou participação

ELA NÃO ANDA, ELA DESFILA
As modelos Carmelita Mendes, Juliana Martins e Michelli Provensi foram anteontem à festa de 25 anos da revista "Elle". A top Ana Claudia Michels brincou com uma máscara com o rosto de Alexandre Herchcovitch. A maquiadora Vanessa Rozan e o estilista Amir Slama circularam pelo evento, no bar Número.

UNIDAS VENCEREMOS
A Liga Solidária comemorou 90 anos com missa realizada por dom Cláudio Hummes no mosteiro de São Bento. A presidente da entidade, Carola Matarrazo, e a vice-presidente, Rosalu Fladt Queiroz, receberam convidadas como a advogada Marcella Monteiro de Barros e Célia Parnes, da Unibes.

CURTO-CIRCUITO
O historiador e editor Jaime Pinsky lança em 10 de junho, pela Contexto, o livro "Por Que Gostamos de História", uma "ode de amor" à sua principal atividade profissional.

Pitty, Helio Flanders e outros artistas cantam Paul McCartney, de hoje a domingo, na Choperia do Sesc Pompeia. 18 anos.

A mostra "Dog Art", com réplicas de cães estilizadas por famosos, abre hoje, no Wood's, na Vila Olímpia.

O DJ Roque Castro celebra aniversário hoje, às 23h30, na festa Ultralions. 18 anos.

O músico Siba faz show grátis amanhã, às 18h, na praça Victor Civita. Livre.

O crime de terrorismo - EDITORIAL O ESTADÃO

O Estado de S.Paulo - 10/05

Ao aceitar sediar a Jornada Mundial da Juventude, a Copa das Confederações, a Copa do Mundo e a Olimpíada, o Brasil se comprometeu a adotar rígidas medidas no campo da segurança pública. Uma dessas medidas é a modernização da legislação penal.

Como a tramitação dos projetos de lei costuma ser lenta, a modernização da legislação penal deveria ter sido iniciada há muito tempo. Mas, como é rotineiro no País, essa providência não foi tomada em tempo hábil e o Legislativo agora corre para votar esses projetos antes que se iniciem os eventos. Por isso, a comissão mista do Congresso criada para consolidar a legislação penal decidiu dar prioridade ao tema de maior interesse dos organismos multilaterais: a tipificação do crime de terrorismo.

Relator da matéria, o deputado Miro Teixeira (PDT-RJ) prometeu entregar seu parecer nesta semana. Ele propõe que a pena máxima aplicada a quem for condenado por crime de terrorismo seja de 30 anos - limite imposto pela Constituição. Em seu parecer, Teixeira não concede ao terrorista o regime de progressão da pena, regulado pela Lei de Execução Penal, que permite ao preso com bom comportamento passar do regime fechado para o semiaberto. Mas assegura a liberdade ao terrorista arrependido que colaborar com as investigações. "Como estímulo à colaboração em favor da sociedade, temos de isentar de pena o integrante de quadrilha que se arrepender, confessar e impedir que o crime ocorra, denunciando-o às autoridades", diz Teixeira.

A maior dificuldade enfrentada pelo relator está, justamente, na definição do crime de terrorismo. Teixeira adotou a mesma tipificação prevista pelo projeto do novo Código Penal, que está em tramitação no Senado.

Segundo esse projeto, terrorista é quem "causa terror na população" mediante várias condutas ilícitas - como sequestrar ou manter alguém em cárcere privado; usar, transportar, guardar ou portar explosivos, gases tóxicos ou "outros meios capazes de causar danos ou promover destruição em massa".

O projeto do novo Código Penal do Senado também classifica como crime de terrorismo incendiar, depredar, saquear ou invadir bens públicos ou propriedades privadas; interferir, e danificar sistemas de informática e bancos de dados; e sabotar o funcionamento ou apoderar-se do controle de bens de comunicação ou transporte, de portos, aeroportos, estações ferroviárias e rodoviárias, hospitais, casas de saúde, escolas, estádios esportivos, instalações públicas ou locais onde funcionem serviços essenciais, instalações de geração ou transmissão de energia e instalações militares.

Os autores do projeto do novo Código Penal tiveram o cuidado de detalhar as condutas que podem ser classificadas como terroristas, mas a definição é criticada por grupos de esquerda e vários partidos que integram a base aliada do governo no Congresso.

Eles alegam que uma tipificação detalhada do crime de terrorismo abre caminho para a criminalização dos movimentos sociais, permitindo com isso, por exemplo, que os participantes de invasões de propriedades rurais, lideradas pelo Movimento dos Sem-Terra, ou de edifícios urbanos, realizadas pelo Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto Urbanos, possam ser processados como terroristas.

A polêmica não é nova. Em 2002, o então deputado Robson Tuma apresentou um projeto que tipificava o terrorismo como "toda ação, individual ou coletiva, tendente a causar insegurança, pavor ou dano, com a finalidade de coagir alguém a praticar ou deixar de praticar determinados atos, ou, ainda, subverter a ordem política constituída". Doze anos antes, a Lei 8.072 deixava de incluir o terrorismo na lista de crimes hediondos, embora o considerasse crime "insuscetível de anistia, graça, indulto, fiança e liberdade provisória".

Nas últimas décadas, as nações desenvolvidas reformaram a legislação penal, tipificando o crime de terrorismo. Por causa da resistência dos movimentos sociais e dos partidos de esquerda, o Brasil até hoje não conseguiu modernizar seu direito penal.

Páginas da vida (epílogo) - NELSON MOTTA

O GLOBO - 10/05
Resumo do capítulo anterior: há seis meses um amigo escritor de novelas estava vivendo na vida real um dramalhão que nunca havia lhe passado pela imaginação de ficcionista. Depois de 25 anos de convivência, sua fiel cozinheira Luzia - que ele considera a verdadeira mulher de sua vida, pois sobreviveu a três esposas diferentes - lhe confessou que, aos 20 anos, mãe solteira e desempregada, dera à luz duas meninas. E, sem recursos e sem família, num gesto extremo, aceitara dar as filhas em adoção para o médico que a acompanhara na gravidez e no parto, casado com uma pediatra que amava crianças, mas não podia ter filhos.

O trato era lhes entregar as meninas quando fizessem dois meses, se comprometendo a nunca mais procurá-las. Mas quanto mais se aproximava a data fatal mais Luzia sofria e hesitava, e, no último momento, com o coração partido, decidiu ficar com uma das gêmeas e entregar a outra aos pais adotivos.

Mudou de cidade e durante trinta anos trabalhou duro no fogão para criar e dar uma boa educação à filha, que se casou e lhe deu um neto. Mas todo esse tempo, mesmo mantendo a promessa de não se aproximar da filha adotada, o coração de mãe de Luzia sempre a acompanhou à distancia, sabia que era médica, casada e mãe de dois filhos. Quando soube que seu pai adotivo morrera e a mãe sofria de Alzheimer, Luzia decidiu que era hora de conhecer a filha e os netos.

Mas não podia telefonar ou bater na sua porta dizendo "mamãe chegou". O escritor se dispôs a escrever uma carta de Luzia para a filha contando toda a história e lhe revelando, como nas novelas, a sua mãe biológica. Seria a sua mais arriscada e delicada missão dramatúrgica da vida real: escrever a carta em que Luzia contava à filha toda a verdade. E esperar o próximo capítulo.

Depois de duas semanas, o telefone tocou. Mas era o marido, furioso, agredindo e humilhando Luzia, dizendo que a esposa não queria conhecer a cozinheira que a abandonara. Nunca!

Cinco meses depois, inspirada pelo drama da Aisha de "Salve Jorge", a filha ligou para Luzia. Choraram e conversaram por uma hora. E vão se encontrar no Dia das Mães.

O ato extremo - MICHEL LAUB

FOLHA DE SP - 10/05

"Elena" celebra o que vem antes e perdura além da morte: a beleza difícil de um amor


Dois mitos de nossa época ajudam a constatar como o romantismo ainda é influente.

O primeiro mito, adaptado dos escritos de Rousseau, é o da pureza original: a ideia de que a cultura mais desvirtua do que aprimora os homens e o meio ambiente.

O segundo é o do artista torturado, que sacrifica o presente do corpo em nome da eternidade da obra. Uma frase célebre de William Blake, "o caminho do excesso leva ao palácio da sabedoria", explica muito do fascínio gerado por nomes como Jim Morrison, Janis Joplin, Jimi Hendrix e, mais recentemente, Amy Winehouse e Kurt Cobain.

O exemplo de Cobain, cuja morte completou 19 anos no mês passado, ajuda a entender a singularidade de "Elena", documentário de Petra Costa que estreia hoje na cidade. Tanto o ex-cantor do Nirvana quanto a irmã da cineasta cometeram suicídio, o mais extremo dos atos tanto real quanto simbolicamente.

Elena era uma atriz mineira que estava tentando a sorte em Nova York, em 1990. O documentário refaz sua trajetória por meio de fotos, filmagens caseiras, gravações em áudio, depoimentos e um manejo bastante sensível de luz, ritmo e trilha sonora. É uma história de dor familiar e pessoal, que na superfície evoca fatos, pessoas, lugares.

É também uma história de silêncios, que faz o espectador imaginar aquilo que está ou poderia estar em suas lacunas. Uma tentativa de comunicar, quem sabe, o que a linguagem pouco permite: a perplexidade de quem sobrevive, o que, antes de virar memória resignada, é um misto de afeto, culpa e um inevitável sentimento de traição.

Essa perplexidade está sempre presente no suicídio, por mais que haja fatores que pareçam justificá-lo. Em casos como o de Kurt Cobain, é tentador transferi-los para a esfera da cultura, transformando um tiro de espingarda na própria cabeça numa espécie de resposta --à ganância da indústria cultural, ao circo da mídia e do público, como se a sociedade é que houvesse matado este bom selvagem milionário e viciado em heroína.

No caso de Elena, que era uma artista, mas não uma celebridade, as pressões eram de outra natureza. Isso não impede que as consequências delas também sejam lidas culturalmente. Quer dizer, numa época em que se preza de forma quase militar a saúde do corpo, com a prescrição de dietas, condenação do fumo e incentivo à prática esportiva, no que diz respeito a mente/cérebro há um glamour em torno do comportamento não convencional.

Assim, é difícil achar filme, série, novela, peça publicitária ou post em rede social que pregue as virtudes da vida contida e equilibrada. Nada é mais popular do que parecer intenso, inconformado, até neurótico e obsessivo, uma forma atenuada --e não menos egocêntrica-- do clichê que vê na genialidade um prolongamento da loucura.

O filme de Petra não cai nesse discurso simplório. O primeiro de seus vários méritos é não relacionar a depressão de Elena --que certamente diminuiu a margem de suas escolhas finais-- com seu talento e sensibilidade. A atriz é lembrada no que tinha de generoso e carismático apesar do seu problema, e não por causa dele.

Em quase 20 anos de interpretações sobre a morte de Kurt Cobain, poucas obras foram capazes disso. Uma das exceções é "Últimos Dias", de Gus Van Sant. Com outro registro e intenções, um protagonista não por acaso chamado Blake e a rotina anestesiada de seus momentos derradeiros, o longa descarta motivos externos para jogar luz em algo essencialmente interno.

Não é uma abordagem fácil de digerir. Mitos não são mitos à toa. Como toda teoria estética e política, o romantismo propõe um sentido para o que nos parece insuportavelmente gratuito --no caso, ir contra o instinto da espécie, deixando um rastro de sofrimento sem dar nada em troca. Nem sabedoria, nem força nascida da dificuldade, nem simbolismos de qualquer espécie.

Como Van Sant, Petra Costa prefere encarar esse vazio, numa tentativa sempre vã de compreensão, a julgá-lo. Mas, ao contrário de "Últimos Dias", "Elena" celebra o que vem antes e perdura além da morte: a beleza difícil de um amor que passou pelo pior dos testes.

Socuerro! Tá cruel ser bambi! - JOSÉ SIMÃO

FOLHA DE SP - 10/05

Sabe o que o Ceni gritou pro Jô? "Não tenho mais idade pra engolir frango, manda uma canja de galinha"


Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Socuerro! Me mate um galo!

Tá cruel ser bambi. Não me importo de ver o São Paulo perder. Mas não precisa perder de quatro. Pra gente ter que aguentar a zoação: "O São Paulo perdeu como gosta: de quatro pra um!". E pra um Galo!

E o Ceni não adiantou! E não é que o Ceni é adiantado, o Ceni não adianta mais. O Ceni é tão adiantado que se aposentou antes do jogo terminar!

E sabe o que o Ceni gritou pro Jô? "Não tenho mais idade pra engolir frango, manda uma canja de galinha." Rarará!

E o tuiteiro Rogério Baldini foi pra padaria e tinha promoção: pediu quatro pães de queijo e ganhou um chocolate grátis. Promoção na padaria: compre quatro pães de queijo e ganhe um chocolate grátis! Rarará!

E o São Paulo virou garoto-propaganda da Vivo: 4G! 4G Plus! Ex- vivo faz comercial da Vivo. Rarará!

E eu sou são-paulino de nascença. Meu pai era são-paulino. É genético!

Mas eu adoro Minas. Já viajei muito pelo interior de Minas. Minas é um monte de montanha com um monte de gente dando adeus.

E mineiro gosta de fusca. E com razão. Uma vez fui fazer trilha no interior de Minas e meus amigos foram com aqueles carros off-road, quatro por quatro, que custam uma fortuna. E no meio da buraqueira, vem um fusca amarelo-ovo e passa todo mundo! Vuuuum! Rarará!

E sabe como mineira fala sexo oral? Chupar um queijo! Rarará!

E o site Futirinhas apelidou o Fluminense de Cracolândia. Só tem jogador pego no antidoping!

E o São Paulo é o único time que tem o mesmo goleiro há 50 anos! O Ceni participou da fundação do São Paulo. Defendeu o primeiro arremesso de tijolo.

E só resta uma coisa pros bambis: Férias Inesquecíveis na Disney! Rarará!

É mole? É mole, mas sobe!

O Brasil é Lúdico! Faixa em Azurita, Minas Gerais: "Quem roubou as minhas galinhas e o meu galo favor devolver, caso contrário está completamente amaldiçoado". Deve ser um atleticano! Rarará!

E esta: "São Paulo vai do céu ao inferno em 20 dias". Tô sabendo! Rarará!

Nóis sofre, mas nóis goza!

Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

Vá ter com as baleias, Andreotti! - BARBARA GANCIA

FOLHA DE SP - 10/05

Ascari, Fangio e Pininfarina já entraram para a história por terem o nome ligado a um veículo automotor


Foi no cruzamento das ruas Juan Manuel Fangio com John Surtees que eu conse­gui entender por que o saudosismo avacalha comigo de forma tão ex­traordinária. A epifania ocorreu na quarta-feira, em um canto da fábri­ca da Ferrari, em Maranello, na província de Modena, na Itália. O momento foi tão fugaz quanto re­velador, uma sensação que só quem já comeu muito mingau conhece.

Você irá me entender se já achou que aventura era encher os pul­mões com a fumaça de um Holly­wood sem filtro ao som libertador de Jimmy Cliff. Ou se já saiu acele­rando pela rua Augusta em direção ao Spazio Pirandello (segura firme aí, Massimo!) depois de dar umas talagadas de Lord Jim. Pois houve época em que ordenar o mundo pe­la expansão dos mercados e tratar valores como commodities seria considerado bem mais cafajeste do que fazer esse tipo de coisa.

E não venha tentando disfarçar. Domínio do mais forte só é lei ine­vitável da vida quando prevalece o cinismo. Ou quando surge uma tá­tica de impostura tão eficiente quanto essa esculhambação co­nhecida como discurso da ética da "sustentabilidade", que todos de­veríamos obrigatoriamente abra­çar em nome da salvação das filhas das putas das baleias que estão por nascer, em detrimento das que já nasceram e estão por aqui dando sopa. Essas que se danem, né não?

Ninguém liga a mínima, que mor­ram e virem ração para o meu totó ou cera para minha Louis Vuitton. Sim, porque eu desejo ardente­mente que ela reluza mais do que a bolsa Hérmès da minha vizinha --por sinal, ela também uma baleia filha da puta.

Dizia, marque bem pois é de suma importância, que fui tomada por uma espécie de catarse durante mi­nha visita à fábrica da Ferrari na se­mana (as fotos estão no Instagram @bgancia): Ascari, Nuvolari, Fan­gio, Dino, Enzo e Pininfarina são pilotos, designers, italianos ou não, que entraram para a história por terem o nome ligado a um veículo au­tomotor. Que é bem mais do que is­so, claro. Como nossa seleção é mais do que 22 pernas correndo atrás de uma gorducha. No caso, a Ferrari é a memória, inclusive afe­tiva, do italiano. São suas glórias, assim como estão depositadas, "faute de mieux", nossas provas de superioridade na seleção.

Entrei no avião do voo de conexão que nos levaria a Bolonha, onde es­tá o aeroporto mais próximo à sede da Ferrari, peguei o jornal do dia e vi a notícia da morte de Giulio An­dreotti, uma espécie de José Sar­ney italiano, homem que dominou a política de seu país por 40 anos e cedeu espaço a Berlusconi depois de ver seu nome ligado a escândalo que o envolveu com a máfia. Muitas suspeitas, poder em superabun­dância e alguns processos. Morreu aos 94 anos sem que nada fosse provado contra ele. Cheguei a pen­sar que nunca ganharia a Liberta­dores, digo, que jamais passaria desta para melhor.

Eram realmente tempos de sonho aqueles em que o nome Ferrari era o de um carro tão único e desejado quanto Sophia Loren. Nos dias de hoje seria impensável viabilizar es­se delírio economicamente, é ne­cessário o respaldo de chaveiros, casacos, videogames e canecas para dar sustentação à marca.

Por outro lado, a bisbilhotice que transformou o particular em públi­co tornaria 40 anos de Giulio An­dreotti no poder difíceis de repro­duzir em tempos de internet e wi­kileaks. Para cada moeda seu revés, meno male!

Guerra cívica - LUIZ GARCIA

O GLOBO - 10/05
Em um dado momento da vida, adolescentes deixam de ser considerados irresponsáveis por atos de violência que tenham cometido e devem cumprir penas de cadeia. É assim em todas as sociedades que zelam pela segurança pública - nem poderia ser diferente. Cada país decide quando chega esse momento, determinado obviamente pelos índices locais de criminalidade. E, onde o problema é tratado seriamente, a ação do Estado contribui para que jovens transviados não se transformem em adultos criminosos.

No Brasil - ou, pelo menos, no Rio de Janeiro - parece óbvio que chegou o momento de se decidir se a política de segurança corresponde aos índices da violência juvenil. Os números são assustadores. Por exemplo, em março passado foram detidos no estado 711 menores, o que significa um aumento de quase 80% em relação às estatísticas anteriores. Além disso, nos três primeiros meses do ano foram registrados 1.505 estupros. É uma evidente situação de crise. Crise gravíssima, pode-se dizer. A tal ponto que as autoridades planejam reduzir a maioridade penal. O que não é uma solução, e, sim, uma tentativa de intimidar os jovens violentos.

Aparentemente, não se pensa em investigar as causas do crescimento da violência. Um episódio, que provavelmente não é isolado, mostra a gravidade da situação. Esta semana, um rapaz de 16 anos foi preso por ser acusado de ter estuprado uma mulher durante um assalto a um micro-ônibus. É um caso exemplar: no ano passado, ele foi preso por outro assalto, mas um juiz o libertou quando sua família prometeu apresentá-lo à Vara da Infância e da Juventude. Isso não aconteceu e nenhuma autoridade tomou qualquer providência a respeito.

É evidente que a impunidade ajuda a explicar o segundo assalto e o estupro. Desta vez, o adolescente foi mandado para a Escola João Luiz Alves, onde poderá ficar internado por três anos. Mas é uma solução tardia, prova de que há sérias deficiências na ação do Estado. A responsabilidade pelo segundo crime pode ser dividida entre os pais do jovem tarado e os responsáveis pela Vara da Infância, que, pelo visto, simplesmente se esqueceram do caso.

O secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, defende maior rigor na punição de adolescentes. Obviamente, é preciso discutir uma questão delicada: a redução da idade mínima para penas de cadeia. Parece ser uma boa ideia - mas resta saber se há meios e recursos para atender ao inevitável aumento na População carcerária. Sem falar nas características especiais do tratamento dos internos mais jovens.

Seja como for, o fundamental é reconhecer a gravidade do problema - e começar a enfrentá-lo de uma vez. Quanto mais demorar o estabelecimento de metas e políticas a respeito, mais difícil será vencer essa guerra cívica absolutamente indispensável.

A sabedoria da natureza - HÉLIO SCHWARTSMAN

FOLHA DE SP - 10/05

SÃO PAULO - O Conselho Federal de Medicina (CFM) decidiu limitar a 50 anos a idade até a qual mulheres podem submeter-se a técnicas de reprodução assistida. Na mesma linha, manteve a proibição de que o casal escolha o sexo da criança. De onde eles tiram essas ideias?

É claro que, quanto mais velha a mulher, maior o risco da gravidez. Mas é improvável que um limite linear que não considere a saúde do indivíduo seja a melhor resposta.

Há dúvidas até sobre o real impacto da idade na gestação. Como lembrou ontem Cláudia Colucci, um estudo que comparou grávidas de mais de 50 anos com de menos de 42 mostrou que não há diferença significativa nas taxas de complicações.

E por que pais não podem definir se terão um menino ou uma menina, já que isso não causa mal a ninguém?

Meu palpite aqui é que, para tomar essas decisões, o CFM apoiou-se não na ciência, como seria desejável, mas no bom e velho apelo à natureza ("argumentum ad naturam"). Como é muito difícil que, em estado natural, mulheres de mais de 50 engravidem, proibamo-las de tentar. Já que a mãe natureza não nos faculta escolher o sexo de nossos rebentos, impeçamos a ciência de fazê-lo.

O problema com esse argumento é que ele é uma falácia. Seria possível tanto fazer uma narrativa épica de como a humanidade triunfou derrotando a natureza, com seus predadores e intempéries, como lembrar exemplos de grandes equívocos causados pelo fato de termos tentado negar os primados de nossa biologia.

Se é ou não possível extrair um "deve ser", isto é, uma prescrição ética, de um "é", ou seja, de uma descrição do mundo, constitui um dos mais interessantes problemas filosóficos, que já consumiu oceanos de tinta. Diversos autores se saíram com diferentes respostas e, se há algo perto de uma unanimidade, é a de que precisamos evitar a noção simplista de que a natureza é sábia e, por isso, não podemos contrariá-la.

FLÁVIA OLIVEIRA - NEGÓCIOS & CIA

O GLOBO - 10/05

RIO JÁ tem MAIS DE 33 MIL QUARTOS DE HOTÉIS
Previsão de órgãos municipais para rede hoteleira em 2016 passou número pactuado com Comitê Olímpico

A um ano da Copa 2014 e a três dos Jogos 2016, o Rio já conta com 33.431 quartos de hotel, segundo levantamento da Rio Negócios e do Comitê de Acomodações, formado por Secretaria municipal de Urbanismo, Riotur e Empresa Olímpica Municipal. Cerca de 1.200 unidades foram construídas após o pacote de incentivos do município, de 2010. As projeções da prefeitura para a oferta hoteleira na capital no ano das Olimpíadas também subiu. E já ultrapassou o número pactuado com COI (41 mil). Em fevereiro, a previsão era de que o Rio chegaria a 2016 com 47.788 quartos. Em março, último dado disponível, a estimativa passou a 48.048. Até 2016, segundo a Rio Negócios, agência de atração de investimentos, o setor hoteleiro investirá R$ 3 bilhões na cidade. O total de empregos diretos deve passar de 11 mil. Um quarto dos novos hotéis cariocas terá cinco estrelas. Dos 3.011 novos quartos de alto padrão, 1.181 estarão prontos até o Mundial de futebol. Outros 1.830 serão concluídos até os Jogos. Redes do porte de Hyatt, Hilton, Ramada, Emiliano, Bristol e TownHouses já anunciaram projetos na cidade. O levantamento leva em conta hotéis em análise, licenças e obras em andamento.

+459 QUARTOS NA LAPA
Está em análise na prefeitura o projeto de hotel da rede portuguesa Vila Galé, com 289 quartos. O Bristol Allia Hotels, em construção, terá 110 unidades. O TownHouses, já licenciado, outros 60.

TINTIM POR TINTIM
Leandro Soares, atore roteirista do programa “Morando Sozinho”, do Multishow, estrela série de cinco vídeos da Oi Como Faz. É uma nova plataforma colaborativa da operadora, que orienta internautas a como usaraparelhos eserviços. Osfilmes vão ao ar na segunda quinzena deste mês. A agência Movimento assina.

Na frente
A Multiplan assumiu, dia 2, a liderança em valor de mercado de construtoras e gestoras de shoppings listadas na BM&FBovespa. Ontem, valia R$ 11,1 bilhões. Passou a BR Malls.

Implosão
A Fábio Bruno Construções venceu concorrência para implodir quatro prédios no Centro de Cuiabá (MT). Vão gerar 37 mil metros cúbicos de resíduos. Os edifícios darão lugar a parte do sistema de VLT da cidade. O contrato é de R$ 10 milhões. A obra sai em 60 dias.

Sol e vento
A Windeo Green Futur, belga de soluções em geração de energias eólica e solar, prevê bater R$ 5 milhões em faturamento no Brasil este ano. A filial no país, aberta em 2012, foi a 1ª fora de Europa e Oriente Médio. Em 2014, chega à África do Sul.

Sem fio
O laboratório ICA (PUC-Rio) concluiu pesquisa sobre uso de rede de comunicação sem fio para sensores de poços de petróleo. A ideia é substituir cabos e fibras.

Pode aumentar em até 30% a eficiência da produção. Está em busca de empresas que invistam em novos testes.

Capitalização
O setor de capitalização faturou R$ 4,5 bilhões no 1º tri de 2013. Foi aumento de 18,4% sobre um ano antes. Foram R$ 219 milhões em prêmios, alta de 12,5%.

Volta por cima
Nova Friburgo espera ter 90% de ocupação nesta alta temporada de inverno.

A cidade da Região Serrana prevê receber 50 mil turistas, movimentando R$ 7 milhões, calcula o Nova Friburgo CVB. Será alta de até 15% sobre um ano atrás, puxada por mais eventos e o inverno mais frio.

Transparência
O Cadeg arrecadou $$ 400 mil em leilão extrajudicial de duas lojas e uma sala, ontem. Foi o primeiro realizado no próprio centro de abastecimento, com a presença de comerciantes. A ideia é dar mais transparência à administração, diz André Lobo, diretor social da gestão que assumiu em janeiro.

CANTA LATINO
Latino vai estrelar ação de marketing da TIM no Twitter. É criação da Wieden+Kennedy para o lançamento do TI M music, aplicativo de download e audição de músicas. Quarta que vem, o cantor estará no microblogda operadora, transformando pedidos de internautasem canções. Osvídeos serão exibidos no mesmo dia noYouTube. Acampanha circula na internet segunda e terça.

NO BRILHO
A Meta lly, de acessórios, vai levar 560 peças de seis linhas da nova coleção para o Salão Bossa Nova, semana que vem. Prevê alta de 10% em vendas. A modelo Talytha Pugliese estrela a campanha.

Ouro negro
A Ancine autorizou captação de R$ 1,3 milhão para o documentário “A história do petróleo no Brasil”. O filme contará a saga do óleo, de Pedro II ao pré-sal. A Cinefor produz; Sérgio Santos dirige.

Investimento
A corretora Geração Futuro lança programa no YouTube sobre investimentos, com o economista Eduardo Moreira. Este ano, investirá R$ 300 mil em mídias sociais, o triplo de 2012.

Digital
É dia 15 o lançamento da Loja de Marketing Digital. Vai oferecer a pequenas e médias empresas serviços como design e construção de e-commerce e sites. É aporte de R$ 650 mil. Quer faturar R$ 1,2 milhão em 15 meses.

Impressos
No ar desde o início de abril, o Tudograf.com já recebe 2.600 acessos ao dia. O site compara preços de serviços gráficos e viabiliza negócios. A impressão só começa com o dinheiro depositado. O fee é liberado após a entrega.

ESTREIA
A Mercatto levará peças também da Melfi (foto), nova grife premium da empresa, ao Bossa Nova. A previsão é bater R$10 milhões em vendas para multimarcas, somando as duas grifes. Equivale ao dobro da última edição do Fashion Business, que esteano se uniu ao Rio-à-Porter.

Livre Mercado
O hotel Caesar Business passa a se chamar Mercure Botafogo Mourisco. Foia 1ª unidade do Grupo Posadas comprada pela Accorem 2012 a passar por reformulação visual. Outras cinco serão repaginadas.

A Amazon abriu dois quiosques no Rio esta semana: Plaza Niterói e NorteShopping. Passa a ter quatro pontos de venda do e-reader Kindle na cidade.

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO

FOLHA DE SP - 10/05

Compra da Marítima pela Yasuda Seguros é aprovada
A compra do controle acionário da Marítima Seguros pela Sompo Japan Insurance, por meio de sua subsidiária Yasuda Seguros, foi aprovado pelos órgãos reguladores do Brasil: o Cade, a ANS e, por último, a Susep.

Falta ainda a aprovação do Financial Services Agency, o órgão regulador do Japão.

Para aumentar a participação para 88,2% das ações da Marítima Seguros, a Yasuda aportou cerca de R$ 200 milhões. Em 2009, a seguradora já havia adquirido 50% das ações ordinárias por aproximadamente R$ 336 milhões.

As marcas continuarão a operar de forma separada.

Em princípio, a gestão também permanece como está.

"A nossa meta agora é crescer 20% em cada seguradora, cada uma em sua especialidade", afirma Luiz Macoto, vice-presidente da Yasuda.

O forte da Marítima são os seguros individuais (automóveis e residências), além do seguro saúde, que também atende empresas.

Toda a operação de saúde será feita apenas pela Marítima, uma vez que a Yasuda não opera nessa área.

"O DNA da Yasuda é o seguro corporativo, como o de frotas de empresas", diz.

"Em 2012, a Marítima já havia crescido 15%. Para este ano, temos a meta de 20%, uma expansão linear em todos os segmentos, acima dos 15% projetados para o mercado", diz Francisco Caiuby Vidigal Filho, diretor-presidente da Marítima Seguros.

R$ 413,8 milhões
foram os valores pagos (prêmio líquido) pelos segurados à Yasuda Seguros em 2012

R$ 27,7 milhões
foi o lucro líquido da empresa

R$ 1,7 bilhão
foi o resultado consolidado em prêmio do grupo Marítima no ano passado

LUPA NO LEITE
Após a prisão de um grupo suspeito de colocar ureia em leite no Rio Grande do Sul, a secretaria estadual de Agricultura decidiu fazer mudanças na cadeia produtiva.

A pasta quer que a indústria de envase tenha controle mais rígido das transportadoras autônomas que recolhem leite com produtores rurais.

Oito pessoas ligadas a cinco empresas foram presas anteontem sob a suspeita de que adicionavam água e ureia no produto antes que fossem levados às indústrias.

Dessa forma, lucravam com o volume a mais que era vendido, segundo as investigações. A ureia, composta por formol, disfarçava a perda nutricional nas fiscalizações.

Hoje, segundo a secretaria de Agricultura, a indústria terceiriza o serviço sem acompanhar todo o processo nem assumir responsabilidade sobre eventuais problemas das transportadoras contratadas.

Propostas de mudanças ainda precisam passar pela câmara que reúne entidades do setor no Estado.

O sindicato da indústria de laticínios diz em nota que o setor se empenha para ter produtos de alta qualidade.

NÚMEROS DA OPERAÇÃO
4 MARCAS
tiveram lotes adulterados, segundo o Ministério da Agricultura: Italac, Líder, Mumu e Latvida

100 MILHÕES
de litros é a estimativa de leite transportado entre abril de 2012 e maio de 2013 pelas empresas suspeitas

600 MIL
litros de leite tiveram a adulteração comprovada

Distribuidora de remédios investe R$ 20 mi em centro logístico
A Genésio A. Mendes, empresa catarinense que faz distribuição de medicamentos, vai investir R$ 20 milhões em um centro de logística em Santa Cruz do Sul (cerca de 160 quilômetros a oeste de Porto Alegre).

O Rio Grande do Sul é o principal mercado da companhia. O Estado gera 50% do faturamento, mas é atendido pelo centro de distribuições de Santa Catarina.

"Trabalhamos com a ideia de que o empreendimento ajudará a aumentar a receita no Estado em 50% dentro de cinco anos ", afirma Luís Augusto Nuernberg, diretor da empresa.

O galpão terá capacidade para armazenar até 3 milhões de unidades de medicamentos e perfumes por mês, segundo Nuernberg.

As obras devem começar no final de julho. O cronograma prevê que elas sejam concluídas até o segundo semestre de 2014.

No ano passado, a Genésio A. Mendes teve um faturamento de R$ 700 milhões.

NÚMEROS DA EMPRESA
R$ 700 milhões
foi o faturamento da companhia no ano passado

50%
da receita é gerada no Rio Grande do Sul

35%
em Santa Catarina

15%
no Paraná

R$ 20 milhões
serão investidos no CD

SENHORA PETROBRAS
A Petrobras começa a divulgar hoje uma enorme campanha em comemoração aos seus 60 anos.

Os anúncios vão frisar que a produção no pré-sal sairá de 300 mil barris ao dia para um milhão em 2017 e que o investimento até lá será de US$ 236 milhões.

"Filmamos mais de 150 funcionários da empresa, com cinco equipes de gravação. Fomos às cinco regiões do país e gravamos em mais de 20 cidades brasileiras", diz Flavio Medeiros, diretor de criação da Heads Propaganda, do Rio de Janeiro, responsável pelo trabalho.

A presidente Graça Foster não aparece na campanha.

Após tratar do momento atual da Petrobras, as peças contam a história de pessoas que trabalham na companhia, como a primeira mulher a comandar um navio brasileiro, Hildelene Lobato Bahia.

Os anúncios serão veiculados em quase 300 jornais, 200 rádios e nas principais emissoras em todo o país, segundo Medeiros.

SEM FÚRIA NO ESCRITÓRIO
O valor dos aluguéis de imóveis corporativos de alto padrão em São Paulo subiram 18,7% no primeiro trimestre deste ano, em relação ao mesmo período de 2012, segundo pesquisa da consultoria Cushman & Wakefield.

Na comparação com os últimos três meses do ano passado, a variação foi de 0,5 ponto percentual.

"Houve um momento de fúria no mercado, mas agora a tendência é de redução nos preços, mesmo com essa alta registrada", afirma Marcelo da Costa Santos, vice-presidente da Cushman para a América Latina.

A média do metro quadrado ficou em R$ 120,1 ao mês.

"A projeção até o final deste ano é de pouca variação no valor. Caso ocorra, será para baixo. Acredito que o mercado atingiu um bom preço", diz o executivo.

A região da Faria Lima, onde o metro quadrado custa cerca de R$ 190, é a mais cara da capital. Em segundo lugar, aparece o Itaim, com R$ 149,84 em média.

REVOLTA DAS FERRAMENTAS
O Sinafer (sindicato da indústria de ferramentas de São Paulo) conseguiu suspender na Justiça a obrigação de que empresas do setor informem o valor de importações em suas notas fiscais.

A decisão provisória, prevista para ser publicada hoje no "Diário da Justiça" do Estado, libera as 2.400 indústrias associadas ao sindicato de seguirem uma norma definida pelo Senado em 2012.

A obrigação passou a valer no dia 1º. Para o Sinafer, divulgar o valor de importação permitiria identificar a margem de lucro das empresas e suas estratégias comerciais.

"[A medida] é apenas a exposição de um dado que fere completamente o sigilo comercial, previsto em lei", afirma o presidente do Sinafer, Milton Pessôa Rezende.

Outros setores tiveram decisões judiciais semelhantes.

A Resolução 13 do Senado estabelece alíquota de 4% do ICMS em todos os Estados para bens importados.

Contratos Cerca de R$ 95 milhões em negócios foram fechados nas rodadas de negócios da Apex-Brasil durante a Apas 2013, feira de supermercados que terminou ontem na cidade de São Paulo.

Música Paraty (RJ) será incluída na Mimo, festival de música, neste ano. Ouro Preto (MG) e Olinda (PE) também recebem o evento. Na cidade pernambucana, a última edição movimentou R$ 8 milhões.

Economia brasileira 2.0 - EDMAR BACHA

Valor Econômico - 10/05

A economia brasileira está enferma. É isso que nos dizem os pibinhos, a inflação alta e a desindustrialização. São sintomas da baixa produtividade do país que tem a ver, entre outros fatores, com o atraso tecnológico, a escala reduzida e a falta de especialização que caracterizam nossas empresas de um modo geral. É o resultado do isolamento econômico a que o país se impôs em relação ao comércio internacional, com exportações que representam apenas 1,4% do total mundial. Agora que um brasileiro vai dirigir a Organização Mundial do Comércio, é boa hora de reavaliar essa política de isolamento e promover a integração competitiva do país à economia internacional.

Minha sugestão para essa integração é um programa pré-anunciado, sustentado em três pilares: reforma fiscal, substituição de tarifas por câmbio e acordos comerciais, a serem implantados de forma integrada e progressiva ao longo de um número de anos.

O objetivo do primeiro pilar, a reforma fiscal, seria permitir uma redução substantiva da carga tributária sobre as empresas, sem que isso implique um aumento da já elevada dívida pública. É atrativa uma fórmula adotada por Israel em 2010: fixar um limite superior para o crescimento dos gastos públicos igual à metade do crescimento potencial do PIB, estimado como sendo aquele observado nos últimos dez anos. No caso brasileiro, isso quer dizer um crescimento dos gastos públicos em termos reais entre 1,5% e 2% ao ano. Para reduzir o espaço de manobra para contabilidades criativas que subestimem os aumentos dos gastos (por meio de orçamentos paralelos, por exemplo), essa meta seria suplementada por limites também para o crescimento da dívida pública bruta. O detalhamento desse pilar seria feito a partir de estudo sobre os diversos componentes do gasto público e sobre as reformas necessárias para manter sua expansão sob controle. O primeiro pilar contribuiria para diminuir o "custo Brasil", que é o principal problema com que se defrontam as empresas para enfrentar a concorrência internacional.

O segundo maior problema é o câmbio. Esse é o tema do segundo pilar da proposta, a saber, a substituição da proteção tarifária contra as importações por uma "proteção cambial". Brevemente, trata-se de anunciar uma redução substancial, a ser implantada de forma progressiva, das tarifas às importações, dos requisitos de conteúdo nacional, das preferências para compras governamentais, das amarras aduaneiras e portuárias e das especificações técnicas de produtos distintas daquelas adotadas internacionalmente. O anúncio dessas medidas antiprotecionistas presumivelmente será feito por um(a) presidente convicto(a) de sua necessidade e com apoio no Congresso para sua implantação, ou seja, será um anúncio crível. Nesse caso, sob um regime de câmbio flutuante esse anúncio terá o efeito de desvalorizar o câmbio, pois os agentes financeiros passarão a comprar dólares e a vender reais, para lucrar com o aumento da demanda de dólares que ocorrerá para efetuar as importações adicionais que serão facilitadas.

Esse é o pilar central do plano, pois, dando acesso a insumos modernos, ele possibilitará a integração da indústria brasileira ao comércio internacional, à semelhança do que hoje ocorre com a Embraer. Haverá ganhos tecnológicos, de escala e de especialização.

Todavia, é também o pilar mais controverso. Pois, de um lado, estão economistas, mais confiantes na racionalidade dos mercados e descrentes da eficácia de controles de capitais, para quem, desde que haja flutuação livre, o câmbio saberá encontrar seu nível de equilíbrio. Bastaria, portanto, reduzir a proteção tarifária que o câmbio se ajustaria automaticamente. De outro lado, estão economistas descrentes da racionalidade dos mercados financeiros e mais preocupados com os efeitos nocivos de uma flutuação excessiva do câmbio sobre as decisões empresariais quanto a investimentos de longo prazo. Esses economistas defenderiam a adoção de uma taxa de câmbio fixa mais desvalorizada, associada a controles severos sobre os movimentos de capitais.

Minha preferência é por um meio termo entre essas duas posições, envolvendo, em primeiro lugar, um estudo sobre qual seria a taxa de câmbio que equilibraria a balança comercial na ausência das medidas protecionistas que vão ser eliminadas. Essa seria a taxa de câmbio de referência para a definição de uma banda de variação cambial. Nos primeiros tempos, a banda seria mais estreita, mas ela seria progressivamente ampliada ao longo do tempo. Os limites dessa banda orientariam o Banco Central (BC) em suas intervenções no mercado, comprando ou vendendo reservas internacionais. Tais intervenções seriam acompanhadas por medidas macroprudenciais que parecerem pertinentes ao BC, para compensar os exageros, seja de otimismo ou pessimismo no mercado de câmbio. Dadas as incertezas envolvidas numa mudança estrutural da magnitude daquela aqui proposta, tanto a taxa de referência como a banda em torno dela seriam informação privilegiada do BC que delas daria notícia somente pelo padrão de intervenções no câmbio.

O terceiro pilar são os acordos comerciais internacionais. Dado o amplo mercado interno que abrirá às exportações dos demais países do mundo, o Brasil estará em condições de fazer negociações vantajosas para a abertura compensatória dos mercados de seus parceiros comerciais. O leque de possibilidades é amplo, envolvendo acordos multilaterais, regionais e bilaterais. O certo é que o país necessitará de liberdade de movimentos e, portanto, se não conseguir agregar a Argentina a esse projeto, seria o caso de transformar o Mercosul numa área de livre-comércio, preservados os entendimentos estratégicos em vigor na área da defesa. Outra questão a ser analisada é o sequenciamento entre a abertura unilateral e aquela negociada nos acordos. Na definição dessa sequência, não se poderá perder de vista que a troca das tarifas pelo câmbio é uma vantagem em si para o país. Os ganhos comerciais que vierem dos acordos serão adicionais àqueles propiciados por essa política de alocação mais eficiente dos recursos na economia brasileira.

O campeão moral - CELSO MING

O Estado de S.Paulo - 10/05


O ministro da Fazenda, Guido Mantega, parece ter descoberto agora que a geração de postos de trabalho é o objetivo mais importante da política econômica. "Tão ou mais importante do que o PIB é a geração de empregos formais no País." Foi o que disse ontem, em Brasília, em exposição feita aos políticos do PT.

A declaração está correta, embora tenha sido feita com propósito compensatório. Explicando melhor: o governo Dilma é prisioneiro de armadilha fatal marcada pelo baixo crescimento com alta inflação. Não vem conseguindo entregar o pibão prometido, mas, em compensação, vai garantindo o pleno emprego.

O tom é quase o mesmo da declaração do então técnico da seleção brasileira, Claudio Coutinho, em 1978. Disse o treinador, logo após perder a Copa do Mundo da Argentina: "O Brasil não é o campeão do mundo, mas é o campeão moral".

Mas o ministro Mantega não deixa de ter razão quando se lembra do essencial: o principal objetivo da política econômica e do próprio crescimento, até aqui, foi a criação de postos de trabalho, e não, simplesmente, ostentar progressos recordes do PIB.

O avanço econômico em todo o mundo nas condições conhecidas parece estar com seus dias contados, pela simples razão de que o Planeta não aguenta. Muito antes de atingir os padrões de consumo dos Estados Unidos, a economia da China, por exemplo, tende a esbarrar em brutal travamento. Basta imaginar o que aconteceria com o trânsito urbano de veículos quando três em cada dez chineses puderem ter um automóvel. Mais cedo ou mais tarde, será inevitável alguma importante mudança no atual paradigma mundial de produção e consumo.

No entanto, por outras razões, as implicações da afirmação do ministro Guido Mantega são graves. Se o Brasil atingiu o pleno emprego mesmo com essa sucessão de pibinhos e se o custo da mão de obra na indústria de transformação vem aumentando, em média, quase 7% ao ano, então é preciso entender que o potencial de crescimento econômico do Brasil está seriamente comprometido pela impossibilidade de expansão do emprego. Não estamos mais no século 20. O Brasil vive um momento em que se esgotou a oferta ilimitada de mão de obra.

Colocado em outros termos, se o mercado de trabalho já está excessivamente aquecido (como adverte o Banco Central), mesmo com essa expansão medíocre do PIB, o que não acontecerá com a oferta e com o custo da mão de obra no Brasil se o governo conseguisse emplacar os tais 4,0% ou 4,5% ao ano de expansão da atividade econômica que vem prometendo?

Como tantas autoridades têm avisado, parece claro que o principal desafio da economia brasileira já não é mais aumentar os postos de trabalho, mas, sim, assegurar a elevação da produtividade da mão de obra. E isso se obtém somente com mais educação e mais treinamento, projetos que não têm condição de maturação no curto prazo.

No mais, resta dar ao ministro Mantega a mesma resposta que o técnico campeão do mundo de 1978, o argentino César Luis Menotti, deu ao técnico brasileiro da ocasião, Claudio Coutinho: "Cumprimento o Brasil pelo título de campeão moral".

O esforço europeu - MIRIAM LEITÃO

O GLOBO - 10/05

A Europa está falando em menos austeridade, mas é preciso ter em mente o esforço já feito: entre 2009 e 2012, os 17 países da zona do euro reduziram o déficit público em 215 bilhões. O buraco das contas públicas saiu de 567 bilhões para 352 bi em três anos. Queda de 37%. Em relação ao PIB, caiu de 6,4%, em média, para 3,7%. Assim eles evitaram o pior e tiveram algumas vitórias.

O caminho da recuperação ainda é longo, mas Portugal voltou com sucesso ao mercado de títulos de longa duração, por exemplo. A receita de apertar os cintos não trouxe o crescimento de volta, mas melhorou o quadro geral. Se nada tivesse sido feito, a projeção para o rombo era assustadora.

Governos que fecham as contas no vermelho precisam pedir dinheiro emprestado. Quando o déficit sobe muito, as taxas de juros dos empréstimos também sobem, porque aumenta o risco de calote. O déficit então se realimenta a cada rolagem de dívida. Gastar mais para combater a recessão não era alternativa em 2009. Se os governos fizessem isso, as fontes de financiamento secariam e o colapso ficaria mais próximo.

Esta semana o ministro da Economia da França anunciou que o país ganhou mais dois anos para chegar aos 3% de déficit. Não é a derrota da ideia de pôr as contas em ordem. Os franceses reduziram o déficit de 7,5% em 2009 para 4,8% em 2012. Em termos nominais, caiu de 142 bilhões para 98 bi.

Houve também, infelizmente, o efeito bumerangue: o corte de gastos aprofundou a recessão e realimentou o déficit, em alguns países, como a Espanha. Em 2009, o governo espanhol fechou no vermelho em 117 bilhões. Depois de todo esforço feito, no ano passado, o déficit havia caído apenas para 111 bi. O país está em recessão com forte desemprego.

Já Portugal fez um ajuste que reduziu o déficit de 17 bilhões para 10 bi no período. E decidiu continuar no caminho da austeridade. O governo português esta semana voltou ao mercado de títulos de longa duração, vendendo papéis com vencimento de 10 anos a juros de 5,5%. Há um ano, os mesmos títulos tinham que pagar 12%. Houve melhora nesse período, mas, ainda assim, o governo prepara mais medidas, como elevação da idade mínima de aposentadoria para 66 anos, redução de 30 mil servidores públicos e aumento da carga semanal de trabalho em 5 horas. Espera-se economizar 4,8 bilhões em três anos.

A Alemanha, como sempre, é o melhor caso, porque é beneficiada pela boa reputação. Nos momentos de maior temor, a corrida para os títulos alemães fez o país financiar sua dívida a custo zero. O déficit de 73 bi virou superávit de 4 bi.

Para a economista Monica de Bolle, da Galanto Consultoria, a Europa precisou dar mais tempo para atingir as metas porque o desemprego está alto demais, os governos estão perdendo popularidade, e os partidos extremistas estão ganhando mais espaço. Além disso, o BCE deu garantias, e grande parte dos cortes já foram feitos. Mas nada disso é licença para a gastança.

- O pior momento já passou, mas o aperto menor não significa que a austeridade chegou ao fim. Os países ganharam um pouco mais de tempo, mas terão que continuar cortando gastos e subindo imposto. Não acredito que haverá uma melhora no mercado de trabalho ou volta do crescimento exuberante por causa disso. O que vai acontecer é impedir que o quadro piore - afirmou.

Mesmo com a eleição de Hollande, que completou um ano no cargo, os franceses não tinham outro caminho a não ser cortar gastos. Com a Alemanha com déficit baixo, o governo francês teve mais um motivo para lutar contra o vermelho em suas contas: manter-se ao lado dos alemães e não perder força na zona do euro. O problema era haver um descolamento da percepção de risco entre os dois países, favorável aos alemães.

O mais perigoso efeito colateral das medidas de austeridade é o desemprego. A taxa chegou a 12,1% em março, na média da zona do euro. Um recorde. Os cortes de gastos implicam em redução do número de servidores, redução de salários, pensões e aposentadorias. Há menos consumo. O governo investe menos, e os empresários, também, porque perdem a confiança. A economia esfria, o setor privado gera menos vagas, e o número de desempregados aumenta. Na Grécia, a taxa de desemprego chegou a 27%; na Espanha, 26%; e em Portugal, 17,5%. Entre os jovens, a situação é pior. Por tudo isso, é um alento saber que o pior da austeridade ficou para trás.

Não fui eu - VERA MAGALHÃES - PAINEL

FOLHA DE SP - 10/05

Apontado pelo Planalto como responsável pelo impasse que impediu que a Câmara votasse a medida provisória dos portos, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) reage e culpa o líder do PT, José Guimarães (CE). "O PT atrapalhou a votação." Ele diz que reuniu a bancada e avisou que a derrota não poderia cair no colo do PMDB. Cunha afirma que não é funcionário do Planalto, e sim do partido. "O governo precisa entender que a PEC das Domésticas já foi aprovada. Chega de trabalho escravo."

Guenta Henrique Alves (PMDB-RN) avisou ao líder de seu partido que Dilma Rousseff pediu esforço para votar a MP na próxima segunda-feira. Cunha respondeu que só haverá quórum na terça.

Turnê 1 As próximas escalas das caravanas do PT depois do seminário de hoje, em Porto Alegre, serão em Curitiba (PR), no dia 13 de junho, e em Salvador (BA). Lula irá às duas, e Dilma também será convidada a participar.

Turnê 2 Ainda não está definida a etapa do Rio de Janeiro, onde o PT se choca com o PMDB, que gostaria que o partido apoiasse a candidatura do vice-governador Luiz Fernando Pezão.

Mil e uma Convocado a opinar nas principais discussões do Executivo pela presidente, o secretário do Tesouro, Arno Augustin, ganhou o apelido de "bombril'' entre os auxiliares da presidente.

O que é isso... Causou incômodo a declaração de Antonio Patriota de que o Brasil deverá contratar seis mil médicos de Cuba. A avaliação é que o chanceler não deveria ter limitado o programa a cubanos, o que pode lhe dar a pecha de ideológico.

... companheiro? Auxiliares de Dilma queriam que o Mais Médicos fosse adiantado, mas ela só quer lançá-lo após a Copa das Confederações. A iniciativa é a principal bandeira de Alexandre Padilha (Saúde), cotado para o governo de São Paulo.

Encontros Celso Russomanno (PRB) reuniu-se mais de uma vez com interlocutores do governador Geraldo Alckmin (PSDB) nos últimos dias. Em pauta estavam a participação do partido no governo tucano e uma possível aliança para 2014.

Desencontros A aproximação com o PSDB é facilitada pelo ressentimento de Russomanno com o PT. O ex-deputado atribui ao partido sua derrota na eleição da capital, no ano passado.

Olha lá Gilberto Kassab (PSD) fez ontem rodada de conversas com deputados sobre a chance de a Assembleia paulista aprovar o impeachment do vice-governador e ministro Guilherme Afif. Ouviu relatos tranquilizadores.

Cartão... O deputado estadual Campos Machado (PTB-SP) pediu ontem a designação de novo relator para a proposta de sua autoria que reduz o poder de promotores em São Paulo.

... vermelho Machado, que já havia discordado da escolha de Mauro Bragato (PSDB) para o posto, usou como justificativa o fato de que o relator não emitiu parecer no prazo de cinco dias.

Visitas à Folha Robson de Andrade, presidente da CNI (Confederação Nacional da Indústria), visitou ontem a Folha, a convite do jornal, onde foi recebido em almoço. Estava acompanhado de Carlos Alberto da Silva, diretor da CNI em São Paulo, Carlos Alberto Barreiros, diretor de comunicação, e Antonio Carlos Silva, chefe de gabinete.

Fernando Schmidt, embaixador do Chile no Brasil, visitou ontem a Folha. Estava acompanhado de Herman Bascuñan, cônsul-geral em São Paulo, e Alejandro Chavez, adido de imprensa.

com ANDRÉIA SADI e PAULO GAMA

tiroteio
"O fio da guilhotina que corta Chico também corta Francisco. Aliados do próprio governo Alckmin não escapariam dessa degola."
DO DEPUTADO MAJOR OLÍMPIO (PDT-SP), sobre declaração de Geraldo Alckmin de que muita gente perderia a cabeça se o povo soubesse o que acontece.

contraponto


Beijo, me liga
O secretário do governo paulista Edson Aparecido (PSDB) conversava com correligionários quando foi interrompido por um assessor, que correu para alcançá-lo com um telefone celular à mão.

-- Secretário, a presidente Dilma na linha.

-- Diga que agora não posso atender. Telefono depois.

Um dos presentes fez cara de espanto com a ousadia da recusa a uma ligação presidencial, mas logo foi tranquilizado por um colega.

--Calma, é Dilma Pena, presidente da Sabesp, não a Rousseff, da República.