segunda-feira, fevereiro 03, 2014

Da escassez à escassez - J. R. GUZZO

REVISTA EXAME

Você está entre os que esperam lógica, clareza e objetividade nas decisões do governo? Após três anos sem saber em que rumo vai seguir a economia, é bom estar preparado. Podem vir mais cinco anos do mesmo jeito

Na sua primeira viagem a Davos, para o grande evento internacional feito anualmente entre chefes de Estado, comandantes das maiores empresas do mundo, prêmios Nobel e daí para cima, a presidente Dilma Rousseff teve mais uma oportunidade de desvendar, para benefício do mundo (e dos brasileiros), o que passa por sua cabeça, neste momento, a respeito da seguinte questão: afinal, ela já chegou ou não, após três anos de governo, a alguma conclusão sobre o que pretende fazer com a economia? E, caso tenha chegado, pretende fazer o quê? Respostas com um mínimo de clareza e objetividade talvez sejam mais úteis do que se pensa. Sim, o país já cansou de dar atenção ou crédito a qualquer coisa que venha desse pesqueiro. Mas, na vida como ela é, o fato é que Dilma tem ainda um ano inteiro de mandato pela frente e, possivelmente, mais quatro a partir de 2015 — se o marqueteiro-mor João Santana, o homem mais competente do governo nos últimos anos, acertar de novo a mão na embalagem da candidata, e se o Tesouro Nacional investir na campanha as somas de dinheiro espantosas das quais se fala por aí. Junte a isso a força de seu padroeiro, o ex-presidente Lula — e o resultado é uma concorrente difícil de ser batida em qualquer circunstância, como vêm indicando as pesquisas. Mais cinco anos seguidos de Dilma, então? E um monte de tempo, pensando bem. Naturalmente, isso se saberá com certeza na hora adequada, mas a presidente daria desde já uma bela ajuda a todo mundo se conseguisse enfim explicar, de forma compreensível, coerente e realista, o que quer. E só isso: o que ela quer?

Não tem sido fácil, por mais que se preste atenção nas falas de Dilma, descobrir a lógica, a qualidade e a eficácia de suas decisões. Na verdade, a presidente não chega a ter propriamente uma política econômica — tem, no lugar onde deveria haver um projeto, uma mistura de desejos, crenças e opiniões a respeito de como a economia precisaria estar funcionando no Brasil e no mundo. Não é uma caminhada em linha reta. Seu pensamento vive embaralhado por números inúteis, fé em teorias de fracasso comprovado e uma enorme dificuldade de executar as próprias decisões — nada ou quase nada do que manda fazer é feito, levado a sério ou possível de ser executado na vida prática.

Parte disso é causada por algo simples e ao mesmo tempo triste: a falta de ideias e a resistência da presidente a estudar, ou sequer a considerar, qualquer ideia que não combine com as suas. E curioso: pela lei da oferta e procura, a Presidência da República deveria estar com fome e sede de ideias novas, produto em falta extrema em seu ambiente. Mas acontece o contrário: é um desses casos em que a escassez gera escassez.

A questão é agravada, é claro, pela opção da presidente em formar e manter há três anos um dos piores ministérios que o Brasil jamais teve. Não será daí, é óbvio, que sairão as ideias criativas, as transformações e as obras das quais o Brasil tanto precisa. O lendário comunicador americano David Ogilvy tinha um conselho-chave para todo indivíduo encarregado de administrar alguma coisa: se formarmos uma equipe com pessoas maiores do que nós, seremos uma empresa de gigantes. Dilma faz exatamente o contrário. Por questões de insegurança, cercou-se sempre de gente menor do que ela, jamais admitiu um ministro com capacidade para discutir qualquer de suas decisões e decidiu que a principal virtude de um colaborador é a mediocridade; pessoas assim concordam com tudo e nunca dão trabalho. Em compensação, nunca produzem nada de útil. O resultado é que a presidente formou um ministério de pigmeus.

Mais cinco anos assim? E bom estar preparado para tudo.

Isso pode? - RUTH DE AQUINO

REVISTA ÉPOCA


Nossos representantes começam a descobrir que não adianta tentar controlar ou censurar a imprensa ou a televisão – e criar uma máquina de informações governamentais, como sonha o PT de Lula e Dilma. Políticos, juízes e atletas hoje sabem que um passo mal dado, uma declaração desrespeitosa, uma "escala técnica" para comer bacalhau, um riso fora de lugar ou um gasto mal explicado vão todos para o ventilador virtual, com ajuda de uma apuração jornalística 24 horas por dia e fiscalização da população antenada. Reuni dez destaques da semana que me fizeram pensar: "Isso pode?".

1. Dilma mentiu bobamente. Flagrada com sua equipe em 45 suítes milionárias em Lisboa, mandou dizer que era uma escala inesperada na volta de Davos, devido à meteorologia. Mas não. A agenda estava definida desde a semana anterior, e o restaurante foi visitado por gente da Dilma na véspera. "Paguei a minha conta", afirmou a presidente. Os brasileiros não conseguem ter acesso à caixa- preta dos cartões corporativos. Tem problema o passeio? Não. Mas mentir não pode. O incidente apressou a saída da ministra Helena Chagas, da Comunicação Social. Dilma quer "melhorar relação com a mídia". O culpado foi o mensageiro. Isso pode?

2. Eduardo Campos, pré-candidato à Presidência pelo PSB, usou a estrutura do governo de Pernambuco para divulgar, com touquinha e roupa de médico, o nascimento de seu quinto filho, em e-mail e redes sociais oficiais. Campos também anunciou que o bebê, Miguel, tem síndrome de Down. As fotos foram logo retiradas do site institucional do governo. Campos chamou de "equívoco". Ninguém constatou a impropriedade antes do tempo?

3. O Ministério do Trabalho aumentou em 149% - mais do que duplicou - os registros de sindicatos no ano passado em relação a 2012. Foi um "mutirão", segundo o ministro Manoel Dias (PDT). Um país que cria uma casta de sindicatos, com favores e benefícios, não vai no bom caminho. A empresária de transportes Ana Maria Aquino afirma ter entregado R$ 200 mil ao ex-ministro do Trabalho Carlos Lupi. Ou essa empresária é louca varrida ou é preciso levar a investigação até o fim. Ela deu detalhes e disse ter levado o dinheiro pessoalmente ao gabinete de Lupi para acelerar o registro de um sindicato em Pernambuco. Lupi negou e chamou a acusação de "surreal".

4. O Brasil continua sendo um dos dez países com maior número absoluto de analfabetos no mundo. Em 2012, tínhamos 13,1 milhões de jovens e adultos analfabetos, 8,7% da população nessa faixa etária. Isso não pode mesmo.

5. O Brasil fiscaliza agrotóxico em apenas 13 alimentos. Estados Unidos e Europa analisam 300 tipos de alimentos por ano, incluindo os industrializados. O Brasil é o maior consumidor de agrotóxicos do mundo. A fiscalização é falha. Dos 50 defensivos mais usados em nossas lavouras, 22 são proibidos na União Europeia. Isso pode?

6. Todo dia, em média, oito ônibus são incendiados ou depredados nas grandes cidades do Brasil. É no ônibus que se despeja a ira contra qualquer coisa - de aumentos de passagens a balas perdidas, falta de passarelas, mortes de jovens, condições de presídios, descaso com saneamento. Vandalizar os ônibus não é protesto legítimo. Isso não pode.

7. Um caminhão com a caçamba levantada derrubou passarela na Linha Amarela, no Rio de Janeiro, matou e feriu. O motorista falava ao celular, trafegava em horário proibido e acima da velocidade permitida – como tantos, sem controle até uma tragédia acontecer. Passarelas deveriam ser mais resistentes, diante da burrice e da irresponsabilidade humanas. Nada disso pode.

8. Mais da metade dos projetos da Olimpíada ainda não tem orçamento definido: só 24 dos 52 empreendimentos chegaram à fase da licitação, a dois anos dos Jogos. Isso pode?

9. Neymar recebeu € 10 milhões (R$ 32,7 milhões) do Barcelona mais de um mês antes da final do Mundial de clubes entre Santos e o time catalão, em 2011. Quem recebeu a grana foi a empresa do pai de Neymar. O Santos perdeu a final de 4 a 0. Neymar poderia ter entrado em campo? Por um ano e meio, Neymar jogou pelo Santos já comprometido com o Barcelona. A falta de transparência e as aparentes irregularidades no contrato derrubaram o presidente do Barça, Sandro Roseli. E, no Brasil – isso pode?

10. O deputado federal Romário foi anunciado como garoto-propaganda de uma marca de cerveja, Devassa, no Carnaval. Não se sabe se a escolha foi resultado de sua foto de mãos dadas com uma transexual operada. A morena não importa. Deputado federal pode fazer propaganda de cerveja? No Brasil, pode...

Aqui pode tudo!

A tragédia e a comédia na campanha eleitoral - EUGÊNIO BUCCI

REVISTA ÉPOCA


A disputa pelo Palácio do Planalto rolará como um grande espetáculo cênico. Um espetáculo teatral, circense, midiático. As personagens já são mais ou menos conhecidas, cujos atributos mostram que o que vem por aí é um espetáculo meramente cômico.

A protagonista, claro, é Dilma Rousseff. Do alto de um sorriso que faz a delícia dos caricaturistas, a presidente lembra a Mônica das revistinhas de Mauricio de Sousa. Dilma é a Mônica que cresceu, virou gente grande e manteve os dentinhos. Quando fica brava, empunha seu coelhinho pelas orelhas e ameaça atirá-lo no interlocutor. O coelhinho é Guido Mantega, Mercadante ou quem estiver à mão.

Os antagonistas são dois. Aécio Neves, com seu sorriso eleitoreiro, tão branco quanto uma porta de geladeira, ainda não levou nenhuma coelhada contundente. É o ex-menino do Rio que gosta de usar gravata. Quando fica bravo, ninguém acha que fala sério - no caso de Aécio, uma grande vantagem. Quanto a Eduardo Campos, seu sorriso é um par de olhos azuis. Como em terra de cego quem tem olho azul é governador de alta popularidade, Campos tem passado incólume aos coelhos que voam. A toda hora, irrita a protagonista, mas sabe desconcertá-la. Quando fica bravo, amansa bem rápido - não brigará com possíveis aliados de segundo turno, que podem ser uns quaisquer ou qualquer uma.

Se a campanha eleitoral for mesmo uma encenação picaresca, ganhará quem souber trafegar no meio do circo sem exagerar na palhaçada. No picadeiro, o palhaço é indispensável, mas nunca é o herói. Sairá vencedor aquele que conviver bem com as piadas sem sucumbir a elas. O vitorioso poderá ser qualquer um dos três, embora a protagonista comece o espetáculo desfrutando indiscutível favoritismo.

A corrida presidencial também poderá rolar como espetáculo trágico. Aí, ganhará no final aquele que não morrer no meio, quer dizer, aquele que não se estatelar no ridículo ou no descrédito total, aquele (ou aquela) que não se queimar completamente.

Elementos que prenunciam a tragédia não faltam. Se o Brasil perder a Copa, teremos a possibilidade de enredo menos picaresco. Se os canarinhos forem mal, a narrativa política ganhará doses pesadas de frustração, mágoa, ressentimento, raiva e, quem sabe, revolta. É bom ficar atento a isso (os marqueteiros não pensam em outra coisa).

Em 2014, o palanque eleitoral será o desdobramento dos estádios de futebol. Mais ainda: será o prolongamento das ruas ocupadas pelos torcedores que não têm dinheiro para comprar ingressos. As eleições, portanto, devem vibrar na mesma frequência do final da Copa. O humor nacional estará nessa frequência.

A Copa e as eleições serão apresentadas na linguagem do entretenimento. Na mesma TV que mostrará os jogos, os candidatos aparecerão pedindo votos, embalados por musiquinhas melosas, com pose de gente boazinha, patriótica, abnegada. A mesma exaltação ufanista que embalará o show futebolístico estará presente no horário eleitoral, inteiramente moldado pela escola da melhor e da pior publicidade. Os chavões de Brasil grande, Brasil acolhedor, Brasil ecumênico, Brasil pacífico e Brasil feliz abarrotarão os pronunciamentos iniciais dos partidos. Agora, se a Seleção fracassar, se der vexame, bem, o roteiro terá de ser outro. Principalmente para quem é da situação. Vai ser interessante.

Não é só. Uma derrota no gramado será fichinha perto de um horizonte ainda mais tenso: o crescimento dos protestos de rua. Se as manifestações ficarem mais volumosas do que estão agora (elas estão voltando às praças públicas), aí, sim, poderemos nos despedir das esperanças de uma reles comédia eleitoral. Se a campanha presidencial tiver de conviver com multidões nas ruas, não apenas para bater palmas para a protagonista e seus dois antagonistas, mas para protestar contra a gastança de dinheiro público nos estádios, contra as mazelas da educação, contra a selva-geria da tropa de choque, contra o descalabro da saúde pública e contra a roubalheira generalizada, o bicho vai pegar. O debate nacional terá menos efeitos especiais, menos musiquinhas idiotinhas e mais gosto de tragédia. Terá, talvez, um pouco mais de autenticidade.

Não que alguém aqui esteja torcendo para o Brasil perder a Copa. Essa torcida virá depois, talvez. Por ora, basta torcer por uma campanha eleitoral menos maquiada. Às vezes um destino trágico é o destino de quem tem um encontro marcado com sua verdade, sem esconder nada. Pense bem: esse encontro não faria mal ao Brasil.

CARTA AO LEITOR - REVISTA VEJA

REVISTA VEJA

Com a Argentina virando Venezuela e a Venezuela virando Zimbábue, o Brasil teve em mãos — e perdeu — uma oportunidade excepcional de demonstrar ao mundo quanto somos diferentes dessas nações inviáveis, desprovidas de justiça funcional, sistema político sadio e instituições sólidas. Era a chance de o Brasil erguer a cabeça acima da manada de países minados pelo populismo irresponsável e ser visto pela comunidade financeira internacional como a referência de estabilidade, serenidade e compromisso com o desenvolvimento e o progresso social na América Latina. Mas a presidente Dilma Rousseff não percebeu o momento. Na tradicional reunião econômica em Davos, diante de uma audiência de grandes investidores, a presidente fez um discurso redundante ("o controle da inflação e o equilíbrio das contas públicas são essenciais"; "a estabilidade da moeda é um valor central") e insuficiente para reacender o interesse internacional pelo Brasil.

Depois de uma controversa escala em Portugal, Dilma voou para Cuba, onde confraternizou com a gerontocracia comunista. Uma reportagem desta edição de VEJA mostra como a emissão desses sinais desconexos prejudica a imagem do Brasil, que nada tem a ganhar com a presença de Dilma na inauguração de um porto cubano feito, sob contrato secreto, com dinheiro dos contribuintes brasileiros. Muito dinheiro: 682 milhões de dólares. Isso tudo depois que a Sunrise, a maior trading de importação da China, anunciou o cancelamento da importação de 2 milhões de toneladas de soja do Brasil por causa de atrasos provocados pelo congestionamento no embarque em nossos portos. São fatos tão desastrosos que até a sonolenta oposição brasileira se sentiu revigorada. O senador Aécio Neves resumiu a situação: "Finalmente a presidente Dilma inaugurou sua primeira grande obra. Pena que não foi no Brasil".

Antes se dizia, com metáfora gasta, mas válida, que o Brasil deveria deixar de querer ser o primeiro vagão do Terceiro Mundo para se concentrar em ser o último do Primeiro Mundo. Por ofensiva, essa divisão hierárquica do planeta com base na renda per capita caiu em desuso. Mas, no que diz respeito ao Brasil, é melancólico constatar que o governo não demonstra interesse em nos engajar no grupo das nações industrializadas e competitivas. Somos percebidos hoje como um país de menor potencial do que a Colômbia, o Chile, o México e até o Peru.

O contraste mais marcante entre o Brasil e esses novos tigres latino-americanos não está apenas no desempenho econômico. A diferença não é de grau. É de natureza. Colômbia, Chile, México e Peru, sejam seus presidentes mais à direita ou mais à esquerda, pouco importa, abandonaram a pesada carga de atraso que historicamente carregavam para se inserir na corrente civilizatória baseada na economia de mercado como o grande motor do desenvolvimento. O governo brasileiro, no entanto, insiste em flertar com o abismo.

A economia nas mãos do STF - MAILSON DA NÓBREGA

REVISTA VEJA


O Supremo Tribunal Federal julgará em breve a ação em que depositantes de caderneta de poupança reivindicam supostas perdas com planos de estabilização. A decisão será da maior importância para a economia.

Somos o único país onde perdas inflacionárias, reais ou fictícias, puderam ser formalmente estimadas. Essa é a pior herança do processo de indexação generalizada de preços, salários e contratos à inflação passada. Tudo começou em 1964, no esforço para restaurar a confiança no Tesouro Nacional — incluindo sua capacidade de financiar-se sem emitir dinheiro — e para incentivar as famílias a poupar. O Tesouro precisava ainda evitar a corrosão inflacionária das suas receitas. O setor público era, como hoje, a fonte básica das pressões inflacionárias. Tais objetivos foram alcançados mediante a criação das Obrigações Reajustáveis do Tesouro Nacional (ORTNs) — cuja variação se aplicava aos tributos em atraso — e de cadernetas de poupança com correção monetária.

Mesmo assim, a inflação permaneceu alta. Levou nove anos para baixar de 92,1% (1964) para 15,5% (1973). Por isso, a indexação começou a se espalhar pelos contratos e preços. A inflação voltou a subir (34,5% em 1974), impulsionada adicionalmente pela quadruplicação do preço do petróleo. A indexação se ampliou. Em 1979, os salários passaram a ser reajustados semestralmente pela inflação passada. Quanto mais curto o período de indexação, mais a inflação se acelerava. Saltou para três dígitos em 1980 e não parou de subir. Atingiu quatro dígitos em 1988. Instalou-se de vez a "inércia inflacionária", pela qual a inflação de hoje influenciava a de amanhã, e assim sucessivamente. O déficit público e a expansão monetária aceleravam o processo.

Esse tipo de inflação não podia ser vencido de forma convencional, via controle de gastos públicos e alta da taxa de juros. A quebra da inércia exigiria um nível de recessão e desemprego que seria social e politicamente insustentável. Havia que encontrar uma forma de eliminar a indexação. O congelamento de preços, salários e contratos pareceu então o mais adequado, proibindo-se reajustes com base na inflação passada em intervalo inferior a um ano. Foram cinco tentativas malsucedidas entre 1986 e 1991.

A característica básica dos planos era a queda brusca da inflação, o que exigia lidar com seus respectivos efeitos. Aluguéis, cadernetas de poupança, salários e outros contratos não podiam ser reajustados pela inflação do mês anterior para evitar a transferência de renda entre grupos. Buscou-se, assim, a maior neutralidade possível em termos distributivos. A sensação, infelizmente, foi quase sempre a de perdas de um grupo para outro: do locador para o locatário, da caderneta de poupança para os bancos, dos assalariados para as empresas, e assim por diante.

Vários estudos provam que não existiram perdas, menos ainda para as cadernetas de poupança. Mesmo aceitando-se que elas tivessem sido corrigidas abaixo da inflação, não se poderia dizer que os bancos lucraram com isso. Bancos são como supermercados, que compram mercadorias de um lado e vendem de outro. Eles recebem depósitos dos que dispõem de recursos e os emprestam a quem deles precisa. Ganham na diferença de taxas de juros. Seus empréstimos imobiliários foram reajustados pelo mesmo índice das cadernetas. Logo, se houvesse ganhadores. estes seriam os devedores, e não os bancos.

Se o STF acolher o pedido dos depositantes, os bancos perderão cerca de 150 bilhões de reais, conforme estimativas confiáveis, inclusive do governo. Em algum momento esse custo será transferido ao Tesouro, isto é, à sociedade. Os bancos estatais — que detêm mais da metade das cadernetas — teriam de ser capitalizados. Os bancos privados reivindicariam indenização, pois foi o governo, com a aprovação do Congresso, que fixou os índices de correção. A descapitalização acarretaria forte contração de crédito, pois os bancos somente podem emprestar um múltiplo dos recursos próprios. Haveria redução drástica da atividade econômica e do emprego. A confiança na economia despencaria.

Se o STF não considerar as realidades do caso. poderá contribuir para um desastre econômico e social de graves dimensões.

Rolezinho em Lisboa - ROBERTO POMPEU DE TOLEDO

REVISTA VEJA


Da comitiva da presidente Dilma acomodada nos melhores hotéis de Lisboa ao apartamento com aluguel de 54.000 dólares ao mês ocupado pelo embaixador Guilherme Patriota em Nova York, o Brasil oficial continua a dar shows de embasbacar os gringos. Aqui dentro se incendeiam ônibus, caminhão com a caçamba erguida derruba passarela de pedestre, a polícia dá tiro em manifestante que a ameaça com estilete e, para completar os temores do turista que se apresta a vir para a Copa do Mundo, há até o caso, num bairro de Campinas (SP), em que esses santos propugnadores da paz, da concórdia e da comunicação entre os homens, que são os carteiros, precisam da companhia de um segurança para bem cumprir seu trabalho. Já lá fora, ah!, lá brilhamos.

O caso de Dilma é intrigante. O Palácio do Planalto escondeu que, entre os compromissos oficiais na Suíça e em Cuba, a presidente e sua portentosa comitiva fariam escala de algumas horas em Portugal. Quando a reportagem do jornal O Estado de S. Paulo flagrou a brasileirada em Lisboa, o chanceler Luiz Alberto Figueiredo explicou (ou foi constrangido a explicar) que se tratou de decisão de última hora, tomada no próprio dia da partida. Os mesmos repórteres do Estado apuraram, no entanto, que desde dois dias antes o governo português fora avisado da passagem da presidente brasileira e havia sido feita a reserva no premiado restaurante onde Dilma jantaria. Ao segredo se juntava a mentira, e sobravam duas indagações. Primeira: por que o segredo? Segunda: como foi possível guardá-lo, entre os cinqüenta e tantos membros da comitiva?

Nas tentativas de resposta, tateia-se entre conjeturas. Estaria programada uma grande farra em Portugal, entre um compromisso e outro? Não, Dilma não é disso. Teria a presidente encontro com autoridades portuguesas, ou de terceiro país, para cujo sucesso o sigilo seria vital? Não, não se vislumbra na política externa brasileira item que levasse a tal necessidade. Quereria ela esconder que jantaria no Eleven, restaurante com recomendação do Guia Michelin e soberba vista para o Tejo? Ora, se Dilma e acompanhantes pagaram eles próprios a conta, cada um a sua parte, como a presidente houve por bem esclarecer de viva voz, por que escondê-lo? Ou quereria ocultar que a comitiva ocuparia 45 quartos dos nobres hotéis Ritz e Tivoli? Ora, para a missa inaugural do papa Francisco ela também se fez acompanhar de numerosa comitiva, hospedou-se no hotel Westin Excelsior Roma (que se apresenta como "um ícone da dolce vita"), e não viu razão para ocultá-lo. Por que o faria agora?

Sobraria que a presidente, notória motoqueira nas noites de Brasília, fosse possuída daquele prazer secreto das pequenas transgressões, tanto mais saborosas quando cometidas sob o risco de ser descobertas, mas... Não, não fica bem ao colunista meter-se a intérprete da alma alheia, muito menos da alma presidencial. Voltamos à estaca zero — e nela ficamos, desamparados e impotentes. Quanto a manter o segredo entre tão numerosa comitiva, imagina-se que a informação tenha sido repassada com o máximo cuidado. "Vamos para Portugal, mas não conta para ninguém." "Para Portugal?" "Psiu, fala baixo." Alguns teriam sido informados só já a bordo do avião. "Por que Portugal?" "Não sei, a chefa não explicou." "Onde ficaremos hospedados?" "No Ritz." "Oba!"

No caso do embaixador Guilherme Patriota, por sinal irmão do ex-chanceler Antônio Patriota, que por sinal é seu chefe na missão brasileira junto às Nações Unidas, a justificativa-padrão para o soberbo imóvel alugado pelo Itamaraty para seu usufruto é que os representantes brasileiros se devem apresentar condignamente no exterior. Patriota 2-, segundo apurou a Folha de S.Paulo, tem como vizinhos de bairro Woody Allen, Madonna, Bono e Al Pacino. Que faz o representante de um país remediado, cujo desafio atual é manter-se acima da linha d"água que separa os emergentes dos que submergem, em tal companhia? Em vez do pretendido respeito que o endereço possa inspirar, é mais provável que ocorra o contrário.

Não foi Dilma quem inventou as luxuriantes viagens, acompanhada por portentosas comitivas, umas e outras de fazer inveja a ditadores africanos, nem foi Patriota quem introduziu entre os diplomatas brasileiros o hábito de escolher endereços de pasmar um astro do rock. Isso não os isenta de culpa. Antes a agravam, pelo pecado da reiteração. Poupemo-nos de repisar a cantilena do mau uso dos recursos públicos. Se ao menos eles se tocassem para o ridículo de tais situações... Não se tocam.

A erva daninha - LUIZ FELIPE PONDÉ

FOLHA DE SP - 03/02

Que tal parar de pagar IPVA, já que os motoristas não têm mais o direito de andar na rua numa cidade como SP?


Que tal nesse início de 2014 todos os motoristas de automóveis privados deixarem seus carros em casa e irem de ônibus para o trabalho e para a faculdade? Ah! Melhor ainda: levar e buscar seus filhos na escola.

Que tal tomar de assalto o busão para também terem o direito de usar as faixas de ônibus da cidade? Faixas estas que destruíram o já frágil equilíbrio do trânsito de nossa cidade.

Claro, cara-pálida, que um bom transporte coletivo é essencial para uma cidade como São Paulo. Isso nada tem a ver com essas faixas sem planejamento prévio. Quando se tem um bom transporte coletivo, as pessoas usam menos o carro. Aqui, o transporte coletivo é domínio dos mais pobres, porque eles não podem comprar carros. Quando podem, compram feito loucos. Resolver o problema do transporte coletivo nada tem a ver com espremer os carros em faixas minúsculas nas ruas.

Uma manifestação dessa traria abaixo o populismo da prefeitura com suas faixas de ônibus. Claro que os ônibus iriam explodir de gente, as filas iriam dobrar as fronteiras do Estado, as brigas para entrar no ônibus iriam ficar para a história, as pessoas iriam chegar atrasadas ao trabalho, a economia iria para o saco (mas tudo bem, porque ninguém precisa de economia, só de dogmas políticos populistas).

Zygmunt Bauman, sociólogo famoso, em um de seus clássicos, "Modernidade e Ambivalência", fala do Estado moderno como "Estado jardineiro". A característica desse tipo de Estado é decidir quem é flor e quem é erva daninha. Claro que essa discussão se dá dentro das consequências totalitárias do Estado moderno. Quanto mais "jardineiro", maior o risco de ser autoritário. Nossa prefeitura é jardineira, e os motoristas (incluindo os taxistas) são sua erva daninha.

Os motoristas viraram a erva daninha da cidade. Ciclistas já os odiavam quando passavam com seu ar de santo ecológico pelos pobres coitados dos motoristas que não moram numa "pequena Amsterdã", como a moçada da classe média alta que mora perto do trabalho ou da "facul", ou que tem um trampo fácil, sem horas duras, ou ganha muito bem ou tem grana de outra fonte e então pode ir de bike para o trabalho ou para a "facul". Quem anda de bike para salvar o planeta é playboy light.

Agora as faixas de ônibus decretaram a ilegitimidade de ter carro. Motorista de carro aqui logo será tratado a pauladas pela cidade. Mas está na moda no Brasil o uso de termos como "casa-grande e senzala" (usando de forma equivocada o conceito de Gilberto Freyre) para contaminar o país com ódio de classe (para ressuscitar o finado conceito de luta de classes) ou ódio de raças. Isso vai dar em coisa ruim muito em breve.

O ódio ao motorista virou demonstração de consciência social e ambiental --outro modismo contemporâneo. Esquece-se que essas pessoas são cidadãs como todas as outras. Que pagam impostos exorbitantes para comprar os carros e IPVA todo ano. Pagam IPVA, mas logo não terão direito de andar de carro pela cidade. Nada de novo no front: os brasileiros estão acostumados a pagar impostos e não ter nada em troca.

E mais: é o próprio governo federal que estimula a compra de carros adoidado e sustenta seus índices de "sucesso" econômico na compra de carros. Que tal parar de pagar IPVA, já que os motoristas não têm mais o direito de andar na rua?

Claro que a playboizada que gosta de estimular ódio social vai dizer que motorista de carro não deve ter direito nenhum porque é parte das "zelite". Mentira: a maioria dessas pessoas corre de um lado para o outro para trabalhar, estudar, levar filhos à escola e cumprir suas obrigações. E agora viraram a erva daninha da cidade.

Tudo muito bonitinho, mas os mais pobres sonham em comprar seus carros para poder levar sua mina para passear.

O Brasil sempre foi um circo. Agora, com uma nova dramaturgia cômica: inauguramos o circo com pautas sociais. As ruas de São Paulo viraram um picadeiro. E nós, os palhaços.

Desgraçadamente, a América Latina é o único continente que ainda leva a sério esse papinho de luta de classes. Somos atrasados e vamos ser sempre a vanguarda da política como circo.

Crepúsculo de machos - LÚCIA GUIMARÃES

O Estado de S.Paulo - 03/02

"Vou deixar bem claro para você. Se me tratar assim de novo, eu atiro você desta f*@#ing sacada. Você não é homem o bastante! Eu vou partir você ao meio como um menino."

Por cortesia do cinegrafista que não parou de gravar, testemunhamos a explosão de Michael Grimm, o único deputado federal que o Partido Republicano conseguiu eleger em Nova York, no Congresso atual. Depois de acordar na quarta-feira dizendo que não havia feito nada errado, o representante do bairro nova-iorquino de Staten Island sentiu os ventos desfavoráveis e telefonou para o Michael Scotto, do canal de notícias nova-iorquino New York 1, pediu desculpas e o convidou para almoçar. O que pode ter deixado o jovem repórter, que cobre o Capitólio, mais nervoso ainda. Deixemos de lado o peso da palavra "boy", que, nos Estados Unidos, tem várias conotações, inclusive a usada por brancos para implicar inferioridade racial.

O incidente aconteceu logo depois do discurso de Barack Obama sobre o Estado da União e, no final da entrevista sobre o discurso, Scotto perguntou sobre a investigação federal acerca da campanha do deputado. Uma correligionária sua já foi presa, acusada de fraude eleitoral. Grimm se afastou sem responder mas voltou para ameaçar o repórter, segundos depois.

A avaliação de Grimm sobre a insuficiência de virilidade do repórter está longe de ser uma anomalia. É só dar um rolezinho pelos canais que exibem reality shows americanos para constatar que a definição neandertal do que constitui um homem está viva e dando lucro para anunciantes.

Escrevo no fim de semana do maior e mais rico evento esportivo dos Estados Unidos. O Super Bowl celebra um esporte que 40% dos pais americanos não querem ver seus filhos praticar. Até Barack Obama, pai de duas meninas, deixou claro que considera o esporte perigoso demais. A audiência esperada para a transmissão final entre os Denver Broncos e os Seattle Seahawks era de mais de 100 milhões, um terço da população do país. Está sendo ancorada por ex-jogadores que também denunciam os traumas cranianos epidêmicos no esporte. Um dos mais idolatrados quarterbacks da história do esporte, Joe Namath, 70 anos, com sua bagagem de ferimentos e concussões cerebrais, deu uma entrevista à CBS na manhã da final, dizendo: "Nenhuma parte do nosso corpo foi feita para jogar este futebol."

Há décadas que a NFL, a liga milhardária de futebol americano, tem conhecimento médico suficiente para compreender as consequências do esporte. No ano passado, concordou em reservar mais de US$ 700 milhões para um fundo de compensação de ex-jogadores. Mas, não é apenas o interesse econômico de uma liga que atrasou o despertar da consciência do público para o esporte. O futebol americano é indissociável da definição de homem difundida por gente como o deputado Michael Grimm.

Há alguma justiça poética no fato de que a final do Super Bowl, ontem à noite, foi no estado de Nova Jersey, epicentro atual de um escândalo envolvendo machos alfas da política americana. São, de fato, vários escândalos em torno do governador Chris Christie, mas o primeiro e mais conhecido no exterior é o Bridgegate. Em setembro, a mais movimentada ponte do continente, a George Washington Bridge, entre Manhattan e Nova Jersey, teve parte de suas pistas bloqueadas numa vendeta política ainda mal explicada e um engarrafamento monstro paralisou a área durante quatro dias. A cada nova revelação sobre os métodos de Christie, os comediantes encontram novo material para fazer piadas sobre a truculência estilo Tony Soprano.

O que nos faz lembrar: no debate da testosterona, democratas como Barack Obama são maricas e Chris Christie é o cabra macho. Cito um âncora conservador que veio em socorro de Christie logo depois da revelação do Bridgegate: "Devo dizer que, nesta atmosfera de feminização que existe hoje, os caras masculinos e musculares em sua conduta privada, os caras da velha guarda, estão sob risco."

Certo. Arriscar a vida de uma criança desaparecida porque o carro de polícia está preso na ponte ou chegar tarde demais para atender a idosa que teve um enfarte porque a ambulância também não consegue passar são ações justificadas em nome da preservação dos "caras da velha guarda". É o que se define, no jargão contemporâneo, como "mansplain", o mundo explicado sob a ótica masculina. O mansplaining do Partido Republicano acaba de nos presentear com outra joia: "As mulheres não conseguem controlar sua libido sem ajuda do governo." O ex-governador do Arkansas Mike Huckabee resumiu assim a decisão do governo Obama de manter anticoncepcionais nos programas de seguro médico.

Chris Christie recebeu uma vaia sonora da multidão na Times Square, no sábado, durante uma cerimônia ligada à final do violento futebol americano. Um esporte e um governador sob ataque, num mundo em que o homem de verdade não se parece mais com eles.

Contra o Facebook - MARION STRECKER

FOLHA DE SP - 03/02

Quanto mais amigos eu 'faço', mais me distancio das pessoas que são realmente importantes


Hoje comecei um teste. Decidi experimentar ficar sem o Facebook no meu celular. Se der certo, vou estender o experimento ao iPad e, quem sabe, também ao computador.

Impetuosa, botei o dedo sobre o ícone do aplicativo e esperei ele começar a tremelicar, como é a regra no iPhone. Ele tremelicou. Respirei fundo e apertei o pequeno xis, que simboliza o apagar. Veio o alerta: se apagar o aplicativo, todos os dados serão apagados também.

Que ameaça! Sei bem que não basta apagar o aplicativo para todos os dados pessoais sumirem do Facebook. Isto requer outro tipo de iniciativa. Então por que mentem? O Facebook vai dizer que é coisa da Apple. A Apple pode responder que trabalha com "padrões de mercado". E a gente que reclame nas redes sociais!

Suponho que esse tipo de ameaça seja apenas um dos maus hábitos da indústria de aplicativos (ou "'éps", da abreviatura em inglês "apps", como os mais pedantes se referem a "software" hoje em dia). Nessa indústria, o número de "usuários" valoriza um negócio, ainda que os "usuários" sejam "inativos", o que a empresa só vai informar se não tiver como ocultar. Isto me lembra Rubens Ricupero, aquele ministro da Fazenda que, sem saber que o sinal já estava aberto para antenas parabólicas, disse à TV Globo: "O que é bom a gente fatura; o que é ruim, esconde-se!"

O fato é que sumi com o aplicativo do Facebook. Senti uma sensação boa. Aproveitei o entusiasmo e apaguei também os aplicativos do LinkedIn, do Lulu (que instalei para testar e achei simplesmente péssimo) e até do Viber (algo entre o Skype e o WhatsApp). Combinei comigo mesma que vou observar o que acontecerá com as minhas mãos da próxima vez que ficar à toa com o telefone na mão. Será que vou tremer? Será que entrarei na App Store e baixarei tudo de novo? Ou vou me esquecer aos poucos dessa mania de ficar fazendo a ronda na internet, checando as atualizações das redes e esperando reações a cada coisa que publico, nem sei bem por quê?

Sério mesmo: o Facebook é a maior perda de tempo que conheci na vida. Quanto mais amigos eu "faço", mais me distancio das pessoas que são realmente importantes para mim. A fatalidade é que sempre perco informações de quem me importa no meio da balbúrdia da multidão a que estou conectada.

Quando fiz essa observação outro dia, o engenheiro Luís Villani comentou que eu havia descoberto o "segredo de Tostines". Evocava a memória de uma velha propaganda de televisão, que explorou o seguinte mote: o biscoito vende mais porque é fresquinho ou é fresquinho porque vende mais? O Facebook é relevante porque estamos conectados a pessoas relevantes ou o Facebook é medíocre porque nossos "amigos" são medíocres? Ou uma rede social teria a capacidade de deixar as pessoas medíocres?

Será que nós, brasileiros, parecemos tão "sociáveis" porque achamos rude não aceitar "pedidos de amizade"? Será que supervalorizamos nossa imagem "popular", por isso colecionamos conexões como se fossem figurinhas de um álbum da Copa? Vamos fazer o quê? Começar de novo? E por que não?

Diário de um repórter - JOAQUIM FERREIRA DOS SANTOS

O GLOBO - 03/02

No dia em que eu conheci Ibrahim Sued, o “turco” estava mais agitado do que nunca, pois casaria ao fim daquela semana a sua única filha


No dia em que eu conheci o ator Wilson Grey, o mais famoso bandido das chanchadas, ele jogava na roleta clandestina que um bicheiro bancava num prédio da Rua Senador Dantas. Parecia cena de seus filmes. O ambiente tosco, a fumaça dos cigarros, uma aglomeração de desocupados gastando a grana e o tempo roubado do almoço. Era a saleta de um mezanino fétido. Alguém poderia ser discretamente esfaqueado num canto — e tudo ficaria na mesma. Era uma bolha fora do tempo, fora da lei e do vai-e-vem da Cinelândia. Eu estava lá na condição de desocupado, de vizinho do estabelecimento, pois a redação funcionava no quarteirão seguinte. Foi no início dos 1970, quando os bicheiros financiavam escolas de samba e havia um clima de tropicalismo-noir na contravenção. Um dia tomei coragem, bati no ombro de Wilson Grey e disse que queria fazer uma reportagem com ele. Ali. O homem fez cara de mau. Respondeu que me seria todo falante e exclusivo se a roleta seguinte parasse no vermelho 21, onde havia investido uma dúzia de merrecas. Topei. Eu nunca mais jogaria uma entrevista aos humores de uma roleta. Perdi. Quer dizer, perdemos. Antes de sumir, como se eu tivesse responsabilidade sobre as idiossincrasias da roleta, o bandido me encarou com um ar de “você-está-com-os-dias-contados”.

No dia em que eu conheci Millôr Fernandes atravessei todo o salão da festa para cumprimentar o grande pensador e humorista. Precisava agradecer o comentário que ele havia publicado sobre meu último livro: “Joaquim, perito, sem confundir, em misturar alhos com bugalhos, já que as duas coisas são a mesma”. Millôr, perito em confundir, já que este é um dom da inteligência, deu um sorriso enigmático quando eu o cumprimentei. Em seguida, me misturou na cabeça os alhos com os bugalhos da insegurança: “Ah, você gostou?!” — e simulou, divertido, um ar de que não era exatamente para tanto.

No dia em que conheci a atriz Norma Bengell, eu não estava imbuído de qualquer pauta. Era apenas um encontro fortuito numa cantina do Leme, mas eu precisava narrar como uma frase sua, perdida em meio a uma entrevista, virara bordão nas redações. Bengell tinha dado a entrevista a uma repórter muito bonita. Disse-lhe que durante uma filmagem visitara uma tribo na Amazônia onde os índios eram todos “bi como nós”. A repórter engoliu em seco. Ficou com vergonha de aprofundar a história e, em linguagem de branco, devolver com um “nós quem, cara pálida?”. Achou melhor calar a dúvida. A bela repórter, no entanto, contou na redação — e desde então um grupo de jornalistas, quando está a fim de diversão e sacanagem, emprega nas suas conversas o “bi como nós”. Norma não lembrava mais da história. Riu muito quando contei, e lançou a suspeita sobre si mesma: “Xi, acho que era cantada!”.

No dia em que eu conheci Ibrahim Sued, o “turco” estava mais agitado do que nunca, pois casaria ao fim daquela semana a sua única filha. O colunista era um homem de impressionante capacidade para a busca da notícia, foi um reformulador do conteúdo do noticiário social, mas deixava a desejar pela sofisticação intelectual. Amigos o chamavam de “sentimentalmente grosso”. No tal dia em que o conheci, Ibrahim usou da sinceridade costumeira. Disse ter tido uma conversa franca com a filha, mas sem aconselhamentos maiores. Ele próprio acabara de sair de um divórcio, sabia da dificuldade do projeto conjugal. Não tinha certeza de nada, por isso poupou a moça de falsas sabedorias. Ibrahim me disse ter cravado apenas uma recomendação. Que a filha jamais fosse ao banheiro de porta aberta. Por mais íntimo que já estivesse o casamento, por mais que o casal já tivesse feito tudo na cama — Ibrahim me repetia o aconselhamento — uma mulher ao ir à privada deveria fechar a porta aos olhos do marido. Não sei se a moça seguiu as instruções. O casamento infelizmente acabou uma década depois.

No dia em que eu conheci Angela Ro Ro ela estava do outro lado do telefone e pedia, por caridade e urgência, que fosse até seu apartamento. O açougueiro da rua estava se dirigindo para lá, empunhando seu facão de labor, para resolver uma pendenga com ela. Ro Ro já tinha me acionado para algo aparecido meses antes. Era uma confusa história envolvendo um vizinho de porta, um papo que roçava em preconceito contra homossexuais e afins. Desta vez era o açougueiro. Pela manhã, ao levar a carne ao seu apartamento, o homem se desentendera com um amigo negro dela. Ro Ro pedia a presença da imprensa a fim de evitar a abertura de uma lacuna profunda na música brasileira. Cantora dos grandes dramas modernos, ao telefone, sem o piano para acompanhar, não passava tanta convicção. Eu pedi que Ro Ro me ligasse quando o futuro assassino se apresentasse à sua porta com a pavorosa arma do crime. Deu certo. Nunca mais nos falamos. Graças a Deus a grande cantora continua viva.

PROJETO MADONNA - MÔNICA BERGAMO


FOLHA DE SP - 03/02

A empresária Cristiana Arcangeli malha cinco dias por semana, segue uma dieta de proteína e mantém há anos os 56 kg, em seu 1,70 m. Com braços e abdômen definidos em décadas de treinos fortes, ela desfilou a boa forma a bordo de minissaias durante as férias em Trancoso (BA).

Foi criticada no Instagram: "Saia micro pra quem passou dos 45 mesmo tendo pernão... nada a ver, né? Fica bizarro", escreveu uma seguidora. Dona de uma empresa de cosméticos, mãe de duas filhas de 13 e 26 anos e casada com o empresário e apresentador Alvaro Garnero, ela falou sobre a polêmica à coluna:

Folha - Como tudo começou?

Cristiana Arcangeli - Nunca pensei: "Ah, não vou colocar essa saia porque não posso". Nem me passou pela cabeça que tinha de haver regra. É bom senso. Não vou de biquíni ao escritório nem de terno à praia. A pessoa que está presa em casa, achando isso e aquilo, não vai acrescentar nada à sua vida. Se você se libertar de preconceitos, seja contra gay, seja de idade, vai fazer bem pra si mesma.

O que você não usaria?

Miniblusa. Acho feio. Socorro! Hoje, a moda é tão democrática. Todo mundo se veste como quer.

Pessoas saíram em sua defesa dizendo que era tudo inveja.

Não se pode avaliar a vida das pessoas pelo que se vê no Instagram. Só tiramos fotos dos momentos bacanas. Cria-se um mundo irreal. Mas ninguém vê a que horas acordo, o quanto trabalho. Não tiro foto no banco. A menina colocou lá que devo ficar o dia inteiro malhando. Não sabe nada da minha vida.

Quer servir de inspiração?

Mulher pode ter filho, trabalhar, namorar e se cuidar. É só querer e se organizar. Corpo não se constrói em um dia. Sou contra revistas que vendem: "Barriga sarada em 30 dias". Treino uma hora e meia pela manhã, cinco vezes por semana. Tenho o mesmo personal há 18 anos.

Já fez plásticas?

No peito, para colocar silicone, e na pálpebra. Lipo, não. Sou meio contra. A pessoa está 10 kg acima do peso e vai pra lipo? Ferrou. Fica tudo ondulado. No rosto, faço vários tipos de laser e botox.

Ainda hoje se diz que mulher depois dos 40 não pode usar minissaia nem franja nem cabelo comprido.

Nossa Senhora, tô toda errada (risos). Quando eu era criança, uma mulher de 40 era uma velha. Hoje, vejo mulheres de 60 lindas.

Qual é a "idade" do seu corpo?

Boa pergunta. Não sei. Você chega na praia e vê meninas de 20 com celulites até o tornozelo. Vejo também algumas muito fortes. Não gosto de abdômen muito marcado. Fica meio masculinizado.

Seu abdômen é bem marcado.

Mas não é tão sarado quanto o dessas meninas. É muito exagerado. Elas põem bunda. Injetam tudo quanto é coisa na perna. Acho bonito corpo malhado, mas natural.

Como passou a malhar forte?

Vi a Madonna e disse: Gente, eu quero um braço igual ao dessa mulher'. Ela tem quase 60 anos e não parece. Não tenho essa preocupação de estar ficando velha.

Por que não revela a idade?

Não conto pra ninguém. As pessoas fazem contas e erram sempre. Estou acima dos 40. Por que tem que pôr a idade?

É um dado do seu perfil.

O que isso agrega? A idade biológica hoje traduz muito pouco. Vi uma capa minha de revista com 29 anos e me achei horrorosa. Estou melhor hoje. Tem coisa mais bonita do que uma mulher entrar confiante num lugar? Essa luz própria só se conquista com o tempo.

EM NOME DO PAI
A Câmara dos Deputados pode derrubar a pena de prisão para quem não paga pensão alimentícia no prazo fixado pelo juiz. A questão, polêmica, deve entrar em pauta amanhã, quando serão votados destaques ainda não aprovados do novo Código de Processo Civil.

GRADE
Um dos destaques propõe que a prisão passe do regime fechado para o semiaberto. A ideia divide os parlamentares. O deputado Paulo Teixeira (PT-SP), relator do novo Código, defende a manutenção da regra em vigor.

PAPEL E LÁPIS
Outro ponto que divide os parlamentares é o que acaba com a penhora online de dinheiro em em conta-corrente e aplicações financeiras para o pagamento de débitos exigidos na Justiça. O governo é contra. Mas o deputado Nelson Marquezelli (PTB-SP) conseguiu apoio de centenas de parlamentares para acabar com a regra.

A LISTA DE CHÁVEZ
Lula deve receber nesta semana o jornalista espanhol Ignacio Ramonet, do jornal "Le Monde Diplomatique", biógrafo de Hugo Chávez. Ele está fazendo as entrevistas do filme "Amigo Hugo", do cineasta americano Oliver Stone, e colherá o depoimento do petista. A base do documentário são depoimentos de presidentes da República que não só conviveram como eram considerados amigos pessoais do ex-dirigente da Venezuela.

TRIO ELÉTRICO
Claudia Leitte superou Ivete Sangalo no ranking de músicas mais tocadas em shows no ano passado. "Largadinho", lançada pela loira, ficou em 14º lugar, à frente de "Dançando" (17º).

Os números são do Ecad (Escritório Central de Arrecadação e Distribuição).

AGORA EU FIQUEI DOCE
"Camaro Amarelo", cantada originalmente pela dupla Munhoz & Mariano, foi a música mais tocada. "Gatinha Assanhada" (de autoria de Gabriel Valim e Alex Ferrari, mas famosa na voz de Gusttavo Lima) e "Amor de Chocolate" (Naldo Benny) aparecem na sequência. O ranking das 20 canções mais executadas é dominado por hits do sertanejo universitário e do axé. De composições mais antigas, só aparecem "Não Quero Dinheiro" (Tim Maia), na 12ª colocação, e "País Tropical" (Jorge Ben Jor), na 16ª.

BALANÇA
Mais da metade (52,6%) da população do Estado de SP está acima do peso, segundo pesquisa da secretaria de Saúde e da USP. Dos 5.700 adultos ouvidos por telefone para o levantamento, 13,5% são fumantes, 15% abusam de álcool, 38% comem carne com excesso de gordura e 14,3% não fazem atividade física. O estudo, que monitorou fatores de risco para doenças crônicas, será usado pelo governo para definir políticas de prevenção.

PARABÉNS COM PIZZA
Adrienne Senna Jobim festejou seu aniversário em uma pizzaria nos Jardins. Ao lado do marido, o ex-ministro Nelson Jobim, ela recebeu amigos como Celita Procopio, da Faap, a empresária Cris Lotaif, da Dior, e Lucinha Araújo, da Sociedade Viva Cazuza. O empresário Hélio Pires e o decorador Jorge Elias também estiveram no evento.

CURTO-CIRCUITO
O Clube das Artes (antigo Clubinho) recebe Alberto Martins e Reinaldo Moraes, no projeto Série Poesias. Hoje, às 19h, na rua Matogrosso, em Higienópolis.

Os empresários Carlos Jereissati, José Isaac Peres e Sérgio Carvalho serão homenageados no 1º Fórum Brasileiro de Shopping Centers, no dia 13, em SP.

O livro "1973 - O Ano que Reinventou a MPB" (vários autores) será lançado amanhã, a partir das 18h30, na Livraria Cultura do Conjunto Nacional.

A lógica do tamanco - LUIZ CARLOS AZEDO

CORREIO BRAZILIENSE - 03/02

Nada disso, porém, motivou essa mudança ministerial: o centro da questão é mobilizar o Estado, nos limites do possível, visando a reeleição da presidente Dilma Rousseff



Houve um tempo em que a política era monopólio dos diplomatas, militares e políticos propriamente ditos. Os partidos davam as cartas nos regimes republicanos ou nas monarquias parlamentaristas de forma quase absoluta; nas ditaduras, os militares. Com a ampliação da democracia, a partir do fortalecimento dos sindicatos e demais agências da sociedade civil, e também com a importância crescente dos meios de comunicação, esse monopólio foi quebrado. Surgiu a política dos cidadãos, cada vez mais poderosa com o advento da internet e o surgimento, no seu rastro, das redes sociais. O cientista político Marco Aurélio Nogueira, que tem um livro bacana intitulado As possibilidades da política (Editora Paz e Terra), além dos políticos e dos cidadãos, destaca que hoje também é importante o papel dos técnicos na política, ou seja da burocracia pública, principalmente a comprometida com o Estado de direito democrático.

Hoje, acabam os recessos do Legislativo e do Judiciário. O governo Dilma Rousseff envia sua mensagem ao Congresso com uma cara menos feminina, mais endurecida: a ministra Gleisi Hoffmann passa o comando da Casa Civil para Aloizio Mercadante, ex-ministro da Educação, cuja missão é subordinar as ações do governo ao projeto da reeleição; a jornalista Helena Chagas, querida e respeitada pela maioria de seus colegas, passa o cargo para o porta-voz Thomas Traumann, que vai adotar o estilo “bateu, levou”. É uma espécie de troca do elegante scarpin pelo tamanco na mão, a luta eleitoral começou.

É a política dos políticos. Estão em jogo não apenas a reeleição da presidente Dilma Rousseff, mas também a eventual volta ao poder do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2018, como ele mesmo anuncia. Se a candidata naufragar entre o carnaval e o fim da Copa do Mundo, Lula vira candidato já. É que há um mar proceloso lá fora, com a crise rondando os países emergentes, a começar pela Argentina, e as turbulências provocadas nos seus mercados da periferia pela recuperação econômica dos Estados Unidos e da Europa e o baixo crescimento da China; há também uma inquietação social aqui dentro, com 50 milhões de jovens querendo agarrar o seu futuro com as próprias mãos, dos quais 10 milhões não trabalham nem estudam por falta de oportunidades; e há, ainda, o desconforto causado pelos péssimos serviços públicos prestados à nova e à velha classe média, muito longe do que deveria ser a contrapartida da elevada carga tributária que nós pagamos.

Técnicos e cidadãos

Nada disso, porém, motivou essa mudança ministerial: o centro da questão é mobilizar o Estado, nos limites do possível, visando a reeleição da presidente Dilma Rousseff e a ampliação do poder do PT, se possível em São Paulo e Minas Gerais, isto é, uma operação de cerco e aniquilamento da oposição. É aí que entra a política dos técnicos, em especial a alta burocracia do país, responsável por zelar pela legitimidade dos meios utilizados na ação política administrativa. Uma parte considerável da alta burocracia, sobretudo a mais estratégica, é ocupada por militantes petistas, que agora pretendem mostrar a que vieram. Mas tudo tem um limite e sempre haverá o testemunho solitário e a teimosia honrada do servidor de carreira empenhado em cumprir o seu dever, que não deixa fazer o que não se deve, como aquele diplomata que foi para a geladeira porque cumpriu seu dever na Bolívia. Talvez não seja tão fácil manipular a máquina federal eleitoralmente.

A troca de comando na Comunicação Social é outro passo para a implementação dessa estratégia, considerando-se que o governo tem para gastar, nos próximos meses, o equivalente à média anual de todos os recursos da sua verba de publicidade. Vem por aí um oba-oba federal, que aliás já começou, para sufocar a oposição, principalmente nas disputas regionais, de maneira a criar um ambiente de já ganhou favorável ao governismo. O Brasil passou por situação muito semelhante na Copa do Mundo de 1970, no México, em que fomos campeões do mundo. Foi o período mais tenebroso do regime militar, mas havia o “milagre econômico” e a propaganda funcionou. O general Garrastazu Médici, presidente da época, era tão popular que ia aos estádios de radinho de pilha no ouvido e era aplaudido ao chegar.

Mas resta a política dos cidadãos, que discutem, se organizam e se mobilizam pelas redes sociais, numa espécie de guerra de movimento “ que se contrapõe à “guerra de posições” na qual se encastelam o governo e a oposição. Pode ser aí que se decida as eleições.

À espera de Barbosa - VERA MAGALHÃES - PAINEL

FOLHA DE SP - 03/02

O advogado de José Genoino, Luiz Fernando Pacheco, diz que irá reportar hoje ao Supremo Tribunal Federal, por meio de uma petição, a saída do petista de casa ontem para ir ao hospital após mal-estar. "O objetivo é dar satisfação por ele ter saído de casa e mostrar a dimensão sobre o real quadro de saúde dele ao Judiciário". Pacheco disse ainda que aguardará dia 20, quando junta médica designada por Joaquim Barbosa irá reavaliá-lo, para decidir os próximos passos.

Quem manda A direção do PSDB pretende aprovar resolução que dará à cúpula do partido a palavra final sobre todas as coligações da sigla nos Estados. O objetivo é evitar alianças que fortaleçam os adversários de Aécio Neves na corrida presidencial.

Segura! Paulo Skaf (PMDB) fez as contas e disse a aliados que precisa se manter em 19% das intenções de voto até março para poder atrair outros partidos para sua coligação. Se cair, acha que pode ficar isolado.

Veteranos Prefeitos petistas em segundo mandato entraram para o núcleo político da pré-campanha de Alexandre Padilha ao governo paulista. Fazem parte do grupo Luiz Marinho (São Bernardo do Campo), Sebastião Almeida (Guarulhos) e Sergio Ribeiro (Carapicuíba).

Fora O governo de São Paulo exonerou o sindicalista Aparecido Bruzarosco do cargo de secretário-adjunto do Trabalho. Ele era apadrinhado de Paulinho da Força (SDD), mas rompeu com a Força Sindical, central comandada por ele.

Rodando Em sua terceira tentativa, a Assembleia Legislativa de São Paulo conseguiu renovar a frota de carros de seus deputados. Vai comprar 94 Chevrolet Cruze, por R$ 61.675 cada.

Capilaridade O novo projeto de comunicação do PT vai criar portais regionais de notícias para divulgação de informações sobre o partido em cada Estado.

Agenda Aloizio Mercadante deve assumir a Casa Civil pela manhã e partir, às pressas, para seu primeiro compromisso do dia. Caberá a ele transmitir a mensagem presidencial na abertura dos trabalhos no Congresso.

Mergulho 1 O contrato de manutenção das duas piscinas do Palácio do Jaburu baixou quase 66% em outubro. Desde 2009, o custo com a Piscinas Mota era de R$ 2.353 mensais. A nova empresa, MJ, cobra R$ 660.

Mergulho 2 As duas piscinas precisam de manutenção porque foram projetadas por Oscar Niemeyer e são tombadas como Patrimônio Histórico, Artístico e Cultural da Humanidade pela Unesco.

Gancho Na sexta-feira, quando o último capítulo de "Amor à Vida" exibiu o motim no presídio em que Aline (Vanessa Giácomo) morreu, Geraldo Alckmin postou no Twitter indicadores positivos sobre os presídios paulistas.

Na mira O governo pressiona a Apple e o Google, que alugam filmes pela internet cobrando em dólar, a recolherem para o Condecine, fundo do audiovisual. O Netflix, que cobra em real, já contribui com o fundo.

Prevenir... A tensão entre índios e moradores de Humaitá (AM), que no fim do ano provocou a destruição de carros e da sede da Funai, tinha levado o bispo Francisco Merkel a escrever uma carta ao Ministério da Justiça.

... e remediar Nela, ele advertia que a cobrança de pedágio por índios na Transamazônica poderia gerar confrontos. Data da carta: 13 de março de 2007. Ele nunca obteve resposta.

Tiroteio
Helena Chagas caiu por suas virtudes. Com o novo time, como preconizou Gilberto Carvalho, o bicho vai pegar no governo.

DO SENADOR AÉCIO NEVES (PSDB-MG) sobre a substituição da ministra da Secretaria de Comunicação pelo porta-voz da República Thomas Traumann

Contraponto


Rali no oeste
Pré-candidatos no Paraná, Gleisi Hoffmann e o governador Beto Richa participaram, no último sábado, de um ato pelo início da colheita da soja em Quarto Centenário, no oeste paranaense. No evento, as autoridades pilotaram colheitadeiras, assistidas por motoristas. Gleisi seguia na frente, quando seu motorista a alertou:

-Parece que o Beto vai nos ultrapassar!

Depois de olhar e conferir, Gleisi respondeu:

-Ah, mas não vai mesmo!

Gleisi acelerou e terminou na frente. O "pega" foi o momento mais aplaudido pelo público.

A utopia dos conselhos comunitários na Venezuela - ARMANDO JANSSENS

O GLOBO - 03/02

No ano passado, essas organizações receberam mais recursos quetodas as prefeituras do país juntas



Hoje em dia, os conselhos comunitários fazem parte da paisagem nacional. Em quase todos os bairros, povoados e aldeias, e até em áreas de classe média, eles estão presentes. Foram e são promovidos pelo Estado. Definem-se por um conjunto de leis e regulamentos que ainda se devem ir ajustando à grande fantasia de um Estado comunitário. Pretendem ser a máxima expressão do socialismo do século XXI e, segundo seus promotores, vão se converter, com o tempo, em núcleo dinamizador de toda a sociedade: nos aspectos políticos, sociais, econômicos, culturais e até éticos. É um sonho utópico que, desde há um par de séculos, consegue reunir, em alguns lugares, um grande número de dependentes, até que a dura realidade mostre sua limitação e seu inevitável fracasso.

Nos últimos anos, destinam-se para sua implementação grandes recursos econômicos. Calcula-se que, no ano passado, os conselhos comunitários receberam mais recursos que todas as prefeituras juntas, o que dá uma ideia da importância que o governo e o partido oficial lhes dão como instrumento revolucionário da sociedade venezuelana.

Como se sabe, há tempos funcionam organizações de bairro com diferentes denominações e metodologias de trabalho. São instrumentos sociais idôneos no processo de criar uma base de cidadania e de convivência democrática num país que, nos últimos 60 anos, teve um crescimento de população excepcional e tenta se converter numa nação integrada e desenvolvida. Todos esses grupos têm em comum: organizar as pessoas para trabalhar em conjunto nas necessidades mais prementes, representar a comunidade em sua interlocução com as instâncias oficiais. São as juntas paroquiais, associações de vizinhos, grupos culturais, clubes esportivos, cooperativas e muitas outras diferentes denominações. Formam um colorido conjunto de uma rica sociedade em crescimento pluralista. Vivem do trabalho voluntário, com poucos meios a seu alcance, mas com uma grande entrega que nasce de uma genuína preocupação social.

Também, em décadas passadas, os partidos e os governos do momento tentaram se apropriar ou meter sua mão nessas organizações. Tais intentos custaram-lhes caro em sua credibilidade democrática, com resultados conhecidos. Quando o reconheceram, era tarde demais.

Mas hoje em dia vivemos um grau superior e oblíquo da mesma história. Não se trata apenas de uma tentativa de se aproveitar dessas organizações, mas de convertê-las numa estrutura do Estado e de seu partido, em grande parte politizada e ideologizada. É o contrário do pretendido anteriormente. Em lugar de a sociedade se originar do povo, agora é o Estado e o partido que se apropriam das comunidades e de suas expressões, por meio de uma estrutura legal, política e financeira. E tudo isto acompanhado de um discurso ideológico que se repete com insistência até o cansaço. A tão desejada pluralidade e a convivência dos cidadãos são encerradas em estruturas das quais, progressivamente, nada escapa. Até produzem, em muitas instâncias, um ambiente de medo de ser considerado opositor. Sem desconhecer a dedicação e o entusiasmo de muitos de seus integrantes, sem querer e saber se convertem em peões do Estado onipotente.

Desta maneira, perde-se a soberania desses conselhos que, pouco a pouco, se acoplam às diretrizes vindas de cima, perdendo sua própria iniciativa e criatividade. Apesar de haver eleições para cargos de direção, sabe-se muito bem que tipo de gente escolher para assegurar a necessária fidelidade. O fato de poderem ter acesso a recursos do Estado para projetos comunitários, e às vezes são recursos substanciais, desperta a ânsia de muitos integrantes ou grupos. Até onde se pode observar, o manejo elegante do dinheiro e sua alocação oportuna — com as exceções de sempre — são o calcanhar de aquiles dessa dinâmica. O desejo do poder, tão presente entre nós, e o afã de se aproveitar dele, não existem apenas nas altas esferas da sociedade, mas também é algo comum em nossas comunidades populares. Sem o desenvolvimento de capacidades que equilibrem e orientem suas atitudes e atividades, estamos gerando um desmoronamento humano que, mais cedo ou tarde, terá suas consequências.

Eis aqui um amplo campo de trabalho para as organizações sociais que dispõem de capacidade de formar e organizar. Um espaço de atuação e de influência que não se pode desconhecer. Com frequência há discussões sobre se a sociedade civil organizada deve apoiar os conselhos comunitários devido à dependência destes do Estado e do partido oficial e a sua marcada tendência ideológica. O argumento afirmativo é o de não apoiar de forma indiscriminada conselhos dependentes, mas apoiar positivamente líderes e integrantes que manifestem desejo de se formar em tarefas comunitárias.

Evidentemente, os conselhos comunitários não são bolhas de liberdade, muito pelo contrário. São dinâmicas impostas, diferentes de nossa concepção de uma sociedade libertária. Apesar disso, também neles podemos encontrar mentes abertas e espaços de ação que permitem promover mudanças em direção a uma verdadeira sociedade de todos.

Brasil cuidadoso com EUA e Argentina - SERGIO LEO

VALOR ECONÔMICO - 03/02

Subsídio nos EUA ao algodão ainda é uma questão não resolvida

Estados Unidos e Argentina estão, ambos, no topo da prioridade de política externa de Dilma Rousseff. E, com isso, o Itamaraty tem o desafio de evitar qualquer passo em relação a esses dois países sem cuidadosa consulta prévia à mandatária. É nesse contexto que deve ser entendida a declaração do ministro de Relações Exteriores, Luiz Alberto Figueiredo, ao deixar, na semana passada, o encontro com a conselheira da Casa Branca para a Segurança Nacional, Susan Rice. "Saio igual", disse, ao lhe perguntarem se saía mais otimista ou pessimista. Tradução: saiu com a missão de relatar o encontro a Dilma para decidirem entre o otimismo ou pessimismo.

Rice convidou Figueiredo a Washington às vésperas do discurso de Obama sobre a espionagem abusiva da agência de inteligência americana. A esse sinal político de prestígio, a liturgia diplomática indicaria uma resposta rápida. Figueiredo aceitou, mas fez Rice esperar, e só uma semana e meia depois foi aos Estados Unidos. Acertos de agenda, explicou o Itamaraty. Quase tão importante quanto o encontro sobre espionagem foi a reunião seguinte de Figueiredo, com o representante comercial da Casa Branca, espécie de ministro de Comércio Exterior, Michael Froman. Conversa em tom amigável, com desafios sérios.

Na conversa privada com Rice, ela pôde detalhar o que, no discurso de Obama, ficou vago e foi ouvido sem nenhum entusiasmo em Brasília. Rice pediu sigilo, o governo brasileiro pretende atender, interessado que está em não melindrar a já incomodada elite governamental americana. Um ponto é certo: sem uma manifestação pública do governo americano, desculpando-se pela bisbilhotice nos telefones de Dilma, nem pensar em retomar as conversas para a visita de Estado da presidente brasileira, adiada em 2013 devido ao escândalo da espionagem.

Nota de Rice sobre o encontro fala em "formas de fortalecer nossa produtiva agenda bilateral". Os EUA aceitaram com prazer o convite do governo brasileiro para que participem da conferência internacional sobre governança da internet, em abril, em São Paulo. Espionagem e direito à privacidade é um dos principais temas e, com o convite aos EUA, o Brasil deixou claro que não quer transformar o encontro em aliança contra os americanos. Isso foi apreciado em Washington.

Mas é no comércio onde estão, atualmente, as maiores cascas de banana para os interessados na reaproximação de Brasil e Estados Unidos. Figueiredo e Froman se conhecem das negociações sobre meio ambiente e tiveram um encontro amigável como há muito tempo não se via entre diplomatas brasileiros e negociadores comerciais americanos. Mas Froman mostrou ao ministro que o governo brasileiro não deve ser atendido em todas as suas reivindicações contra os subsídios americanos aos produtores locais de algodão, considerados ilegais pela Organização Mundial do Comércio (OMC).

A Lei Agrícola americana recém-aprovada pelos deputados e a caminho do Senado já chegou ao limite político nas alterações dos subsídios ao algodão, tema de forte lobby em Washington, na avaliação da Casa Branca. Em suas quase 700 páginas, a nova lei deve eliminar os subsídios à exportação, mas mantém, em lugar dos pagamentos diretos aos produtores, um esquema de seguro agrícola que pode fazer retornar os subsídios capazes de dar ao algodão dos EUA vantagens desleais no comércio internacional.

O governo brasileiro está autorizado pela OMC a retaliações severas contra os Estados Unidos, e discutirá o que fazer em reunião da Câmara de Comércio Exterior, dos ministros ligados ao tema, no próximo dia 20. As retaliações possíveis afetam até a suspensão de pagamentos de royalties por produtos culturais, como filmes de Hollywood, ou patentes farmacêuticas. Figueiredo não deu indicações do que fará; e o governo brasileiro ainda estuda o calhamaço da Lei Agrícola para concluir se as mudanças são aceitáveis ou não.

Uma eventual decisão de retaliar os EUA, especialmente na área de propriedade intelectual abre um precedente (permitido pela OMC, aliás) e pode azedar os esforços de reaproximação entre Brasília e Washington. Até recentemente, os dois países tratavam o tema como questão técnica (o Brasil moveu processo contra a União Europeia, por subsídios ilegais à soja, durante negociações de acordo comercial com os europeus e isso nem foi mencionado nas discussões dos diplomatas). O governo dos EUA emitiu sinais, porém, de que não aceitará tranquilamente uma dura reação brasileira.

Apesar das nuvens pesadas pairando sobre os dois governos, o clima, na área comercial, não anda tão carregado. Froman e Figueiredo também falaram sobre medidas recentes que prejudicam as exportações de etanol brasileiro aos Estados Unidos e a iminente liberação de exportações de carne brasileira àquele país (uma boa notícia, em meio a tanto atrito). Nesta semana, haverá em Brasília uma reunião do "Diálogo Comercial Brasil-EUA", com uma missão chefiada pelo subsecretário de Comércio dos EUA Kenneth Hyatt. Medidas para facilitar o trânsito de mercadorias entre os dois países são um dos principais assuntos.

Enquanto administra o acidentado relacionamento com os EUA, o governo brasileiro começa a discutir como levar à frente as negociações de comércio entre Mercosul e União Europeia, no momento em que a Argentina enfrenta violentas turbulências econômicas. O governo brasileiro, de certo, só tem a determinação de evitar qualquer gesto que possa agravar o mau humor internacional em relação ao país vizinho. Mas ganham força entre os técnicos propostas para permitir aos argentinos acompanhar mais de longe as discussões de abertura comercial com os europeus.

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO

FOLHA DE SP - 03/02

Multinacional alemã de construção investe na segunda fábrica no Brasil

A multinacional alemã Knauf, especializada em sistemas de construção a seco (drywall), terá na Bahia sua segunda fábrica no Brasil, com um investimento estimado em R$ 150 milhões.

A unidade, que ficará em Camaçari e deverá operar ainda em 2014, vai produzir materiais como chapas de gesso e perfis metálicos.

Esses itens são usados no drywall, método de construção que emprega estruturas de gesso em substituição a forros e paredes de blocos cerâmicos e alvenaria.

A nova fábrica vai reduzir custos logísticos e permitir à empresa ampliar sua presença nas regiões Nordeste, Norte e Centro-Oeste, segundo Günter Leitner, executivo que comanda o grupo no Brasil.

"Essas regiões já são atendidas, mas a planta existente [em Queimados, no Rio] está perto de sua ocupação total. A fábrica na Bahia vai complementar nossa atuação."

A expansão elevará a capacidade dos atuais 24 milhões de metros quadrados para 44 milhões de m².

A presença no Nordeste também vai aproximar a empresa da matéria-prima, a gipsita --mineral obtido na região da Chapada do Araripe, na divisa de Ceará, Piauí e Pernambuco, que é utilizado na produção de gesso.

A meta da empresa é ampliar o uso do drywall na construção residencial. O sistema é mais empregado nas áreas corporativa e comercial.

Venda de móveis e eletros crescerá 2,7% neste ano

O ritmo de crescimento no volume de vendas de móveis e eletrodomésticos deverá se desacelerar novamente neste ano e chegar a 2,7%, projeta a consultoria LCA.

A empresa estima que a expansão no ano passado tenha ficado em 5,5%. Em 2012, o segmento cresceu 12,2% em volume vendido.

"Houve um consumo antecipado desses produtos nos anos anteriores e, com isso, as medidas para estimular esse segmento passaram a gerar menos resposta dos consumidores", diz Paulo Neves, economista da LCA.

Com a aceleração dos preços, causada principalmente pela desvalorização cambial, a consultoria subiu de 9% para 10% a expectativa de elevação da receita do segmento em 2013.

Em valores absolutos, o mercado deve ter movimentado R$ 86 bilhões.

Para 2014, o cenário esperado é de uma alta de 7% no faturamento. As vendas poderão alcançar R$ 91 bilhões.

"O varejo restrito [que inclui supermercados, tecidos, vestuários e sapatos e exclui veículos e materiais de construção] deverá crescer 4% em volume de vendas e faturar R$ 804,7 bilhões neste ano."

DA FÁBRICA PARA AS RUAS
Após instalar seu modelo de franquias no final do ano passado, a Primicia, de bolsas e malas para viagem, pretende chegar a 200 lojas nos próximos seis anos.

Até 2012, os produtos eram vendidos somente em multimarcas. Hoje, a fabricante tem dez unidades próprias e três franquias que levam o nome da grife.

Com o plano de expansão, a meta é que as lojas da marca, que hoje correspondem a pouco mais de 20% dos negócios, se equiparem às revendas.

"Vamos abrir pontos somente onde não tivermos atuação forte dos revendedores. Não queremos competir com as grandes lojas multimarcas que compram da gente", afirma Roberto Postel, diretor-superintendente da Primicia.

Até 2020, serão investidos cerca de R$ 75 milhões em novos pontos. O aporte para a abertura de uma loja é de R$ 400 mil. Neste ano, serão 14 unidades.

"São Paulo, Minas e a região Sul são alguns lugares com espaço para explorar."

MEDIDA ERRADA
As empresas de pneus recauchutados foram as que registraram os maiores índices de reprovação no Ipem-SP (Instituto de Pesos e Medidas do Estado de São Paulo) no ano passado.

Das companhias visitadas pelo órgão, 72% operavam sem licença do Inmetro.

Entre os produtos com problemas, os brinquedos e os itens para bebês aparecem no topo da lista. Em cerca de 60% das denúncias feitas por consumidores foi registrada alguma irregularidade.

"Houve caso de produto cancerígeno encontrado em bico de mamadeira", diz o superintendente do Ipem, Alexandre Modonezi.

No total, foram feitas 5.374 reclamações no órgão em 2013. Dessas, 24,6% se referiam a problemas em bombas de combustível. Apenas 10% delas, no entanto, foram reprovadas nos testes.

Os eletrodomésticos, segundo na lista dos mais denunciados, tiveram uma taxa de reprovação de 55,4%. O índice das balanças ficou em 18,2%.

DÍVIDA DE PAULISTANO
Os paulistanos estavam mais dispostos a fazer um financiamento em janeiro deste ano do que no mesmo período de 2013.

O índice da FecomercioSP que mensura o interesse dos consumidores em contratar uma linha de crédito subiu 21,4% na comparação entre os dois meses. Em relação a dezembro, a alta foi de 2,9%.

"Como houve uma queda na poupança e uma elevação no endividamento em novembro e em dezembro por causa do Natal, mais pessoas precisam tomar um empréstimo agora para pagar contas como IPVA e material escolar", afirma Fábio Pina, economista da entidade.

No mês passado, 61,4% dos entrevistados não tinham nenhuma aplicação. Em novembro e em dezembro, a parcela era de 59,6% e 58,4%, respectivamente.

Entre os que possuíam algum tipo de investimento, 77,7% tinham poupança e 4%, previdência privada.

Ao todo, foram entrevistadas 2.200 pessoas.

Chapa quente - PAULO GUEDES

O GLOBO - 03/02
O resfriamento das expectativas exigiria alinhamento de Dilma com o corte de gastos em ano eleitoral e maior credibilidade de sua equipe econômica
O fenômeno persiste há décadas. O Brasil segue prisioneiro da armadilha social-democrata do baixo crescimento.
Com tucanos ou petistas, continua a expansão dos gastos públicos bem acima da taxa de crescimento do produto interno bruto. E, para evitar o descontrole inflacionário, sobem também os impostos e, mais uma vez, as taxas de juros, derrubando consumo, investimentos e a geração de empregos.

Essa armadilha de baixo crescimento é o resultado da falta de sintonia de nossa classe política com os requisitos de uma nova ordem global. Aprisionados por regimes tributário, previdenciário e trabalhista anacrônicos, nossa condenação ao crescimento medíocre reflete as contradições entre obsoletas práticas políticas social-democratas e as exigências econômicas de mercados globalizados. Os gastos públicos da União atingiram quase 1 trilhão de reais em 2013, aproximando-se de 20% do PIB. As despesas do governo central com o custeio de pessoal, benefícios previdenciários etc. cresceram 13,6% no ano, mais que o dobro da taxa de inflação, que fechou em pouco menos de 6%.

O recurso às receitas não recorrentes para geração de superávits fiscais contábeis revelou- se um expediente ineficaz para reverter as expectativas adversas que inquietam os mercados.

Também no primeiro mandato de FH, as receitas extraordinárias com o programa de privatizações levaram ao descompromisso com metas fiscais permanentes. Após considerável turbulência cambial na transição para o segundo mandato, buscando legitimidade interna em substituição às tradicionais exigências de ajuste fiscal do FMI, os tucanos formularam finalmente uma Lei de Responsabilidade Fiscal. Estava firmado o compromisso das autoridades com as trajetórias futuras das contas públicas e reforçada por lei a credibilidade das autoridades em seus esforços de cumprimento das metas fiscais.

O Banco Central de Dilma, que perdera credibilidade ao dormir ao volante, corre hoje das metas de inflação a cada rodada de elevação dos juros. A Fazenda e o Tesouro estudam também um corte de gastos públicos que possa indicar seu compromisso com o esforço anti-inflacionário.

A chapa fica cada vez mais quente quanto maior a perda de credibilidade da equipe e menor o alinhamento de Dilma com esse corte de gastos em pleno ano eleitoral.