segunda-feira, novembro 09, 2015

O silêncio de Marte - LUIZ FELIPE PONDÉ

Folha de SP - 09/11

O filme "Perdido em Marte", de Ridley Scott, como disse minha mulher, psicanalista winnicottiana, é o "anti-Avatar".

Você lembra do desfile de bobagens que era o filme de James Cameron de 2009, chamado "Avatar", no qual feras "mordiam" apenas capitalistas malvados?

E onde a "Natureza" era uma grande deusa-mãe? A natureza, na verdade, está mais para uma besta fera maravilhosa do que para mamãe deusa acolhedora. "Avatar" é infantil, "Perdido em Marte" é adulto.

Ridley Scott fez uma obra para gente grande. Na linguagem dos winnicottianos, gente que percorreu a linha do amadurecimento de forma consistente.

O filme é uma ode a capacidade humana de sobreviver e se relacionar com a vida e com os outros. Mesmo sendo um herói, o personagem de Matt Damon (que é deixado para trás em Marte pelos companheiros, que o tomam como morto) depende diretamente da capacidade de seus pares em manter a decisão de salvá-lo, objetivo este que perseguem de forma honesta, organizada e sem arroubos grandiloquentes.

Todos os personagens são decentes. Aliás, essa é a única crítica negativa possível ao filme: canalhas abundam em toda parte, mas a Nasa do filme é um exemplo de decência possível.

Não vivemos numa época em que se privilegie o amadurecimento, me parece.

Somos, nós contemporâneos, excessivamente barulhentos e militantes. Temos concepções de mundo aos montes. Cremos na salvação através da alface e da política. Alguns mesmo chegam a dizer que a verdadeira clínica é a política, quando esta é, na verdade, uma arte grosseira de simplificar o mundo a fim de gerir o poder nele.

Vou dar outro exemplo (além de "Avatar") do que tenho em mente como típico de nossa cultura imatura que mente sobre as coisas para fazer com que tudo lhe pareça mais palatável. Este exemplo vai no sentido oposto do que o filme revela como um ser humano mais maduro e menos infantil (estou seguro que nosso tempo será lembrada como uma era de mimados e ressentidos).

Vi, recentemente, uma propaganda (não interessa do que, apesar de que lembro bem do que era) em que se afirmava que a interpretação da natureza como violenta e competitiva era um erro. Segundo o "entrevistado" na propaganda, a natureza é solidária e colaborativa.

Tudo bem que devemos ser colaborativos (e o filme é um exemplo disso, de forma sóbria e sem exageros "solidários"), mas daí a dizer que a natureza seja solidária e não competitiva é um absurdo, não?

Sempre achei a publicidade um oásis de honestidade intelectual (pensando a vida como ela é), mas, talvez, seja eu um ingênuo no tocante ao produto final dela. Ora, para se vender vale tudo, e se o mundo ficar bobo, temos de defender coisas bobas para fazer os bobos ficarem felizes consigo mesmos, não?

Portanto, já que está na moda cobrir a competição violenta da vida e do mercado com o manto da santidade solidária, a publicidade o fará.

Agora veja o oposto no filme.

Num dado momento, o herói astronauta, numa cena em que está dando aula na academia de astronautas, diz para seus alunos: "Preparem-se porque sempre algo dá errado no espaço, e o espaço não colabora nunca com você".

O espaço de nosso astronauta é a figura da realidade (cósmica) tal como ela é. A natureza na propaganda a qual me referi é a representação infantil de nossa época mimada.

Freud já dizia que o amadurecimento é coisa rara. Podemos agregar que o é porque exige de nós um enorme esforço "anti-Papai Noel".

O grande ganho do imaturo é a percepção de si mesmo como um ser angelical num mundo sem nuances e sombras.

O filme "Perdido em Marte" é uma ode à esperança no ser humano e na sua capacidade de sobreviver e se sacrificar, mas sem baratear o custo dessa esperança e desse sacrifício.

É um exemplo de como a virtude é sempre silenciosa e discreta, e o bem sempre entra pela fresta da porta.

Quem viu o filme (e quem não viu, vá ver) vai lembrar de uma cena final em que o jovem cientista diretamente responsável pela solução do problema assiste de longe ao resultado de seu trabalho, do canto da sala, recusando, discretamente, os holofotes.


A hora do impeachment - EDITORIAL GAZETA DO POVO - PR

GAZETA DO POVO - 09/11

Há elementos suficientes para caracterizar crime de responsabilidade cometido por Dilma


O lulopetismo, que está prestes a completar 13 anos no Palácio do Planalto, implodiu o Brasil. O PT recebeu um país cuja economia mal completara o trabalho de estabilização e, em vez de consolidá-lo, resolveu que o tripé macroeconômico dividiria espaço com uma política econômica baseada em muito consumo e pouco investimento; por fim, o tripé foi abandonado com a adoção da “nova matriz econômica” e a manutenção dos estímulos ao consumo. Os resultados aparecem agora: recessão, inflação e desemprego. O surgimento da “nova classe média” tão celebrada pelo petismo começou a se reverter. A consultoria Tendências estima que, de 2015 a 2017, 3,1 milhões de famílias da “nova classe C” devem cair para as classes D e E – é quase a anulação da ascensão social verificada entre 2006 e 2012, quando 3,3 milhões de famílias das classes D e E subiram degraus.

No campo moral, o petismo consagrou a noção de que os fins justificam os meios. Mensaleiros condenados são aclamados como “guerreiros do povo brasileiro” porque, no fim, tudo o que fizeram foi trabalhar pelo partido. Antigos inimigos com invejável folha corrida viraram amigos do peito. No campo institucional, fez-se o que foi possível para aparelhar o que estivesse pela frente, em alguns casos com consequências trágicas para os trabalhadores, como na administração temerária dos fundos de pensão de estatais. Além disso, as lideranças petistas não perderam nenhuma oportunidade de atacar a liberdade de imprensa. No campo diplomático, o lulopetismo fez do Brasil aliado incondicional do que há de pior na América Latina e transformou o país em adversário do livre comércio.

Incompetência generalizada, economia em frangalhos, popularidade em queda livre, alinhamentos ideológicos nocivos – nada disso, no entanto, é causa para a remoção de um presidente da República de seu cargo. A legislação brasileira exige atos muito concretos de um chefe do Executivo para o impeachment. E, em nossa opinião, esses elementos estão, sim, presentes nas ações de Dilma Rousseff.

Podemos começar com as “pedaladas fiscais”, apenas uma das irregularidades apontadas pelo TCU, que no início de outubro recomendou ao Congresso que rejeitasse as contas de 2014 de Dilma. Na última quarta-feira, o Ministério da Fazenda informou ao Congresso Nacional que pagaria, neste ano, R$ 57 bilhões para quitar as “pedaladas”, em uma admissão implícita do mau uso dos bancos estatais. Isso sem falar das maquiagens orçamentárias que ganharam o sugestivo nome de “criatividade contábil”. Nunca antes na história deste país houve uma falsificação global em larga escala da realidade econômica da nação.

Mas os elementos que nos permitem concluir que Dilma cometeu crime de responsabilidade não param por aí. A pilhagem da Petrobras é obra de um grupo que já atuava na estatal desde a época em que Dilma, ainda ministra de Lula, presidia o Conselho de Administração da empresa. Impossível acreditar que, já na presidência da República, ela ignorasse o que se passava nas diretorias da estatal. Ainda que não tenha se beneficiado nem participado da roubalheira, ela prevaricou ao não agir com firmeza para promover uma limpeza que era urgente.

Se, no editorial de ontem, colocamos a saída de Eduardo Cunha em primeiro lugar na lista de prioridades, não o fizemos por considerar seus erros mais graves que os de Dilma. A realidade é justamente a oposta: a presidente da República tem prejudicado muito mais o país que o presidente da Câmara. Mas Cunha já demonstrou que vê o impeachment apenas como um brinquedo para chantagear o Planalto. Falta-lhe a seriedade necessária para cuidar do assunto. Daí a necessidade de sua substituição por um parlamentar com respaldo e autoridade moral que, além de devolver dinamismo ao Legislativo, trate o impeachment não de forma oportunista, mas analisando fatos e argumentos.

Não se trata aqui de acreditar, ingenuamente, que o dia seguinte a um eventual impeachment de Dilma e à saída de Eduardo Cunha do comando da Câmara será o início de uma nova fase para o Brasil. Ambos são a personalização de uma série de problemas que persistirão mesmo que eles se tornem cartas fora do baralho. Mas o combate a esses problemas será facilitado se os principais cargos do Executivo e do Legislativo não forem ocupados por infratores. Também não compartilhamos da crença de que é melhor manter o statu quo em nome de uma suposta estabilidade, ou mesmo pela falta de quem encarne o discurso de que falávamos no editorial de ontem. A própria situação atual já mostra que, se há algo estável no país hoje, é nossa paralisia – ou, dependendo do ponto de vista, nossa velocidade rumo ao abismo. Só haveria uma situação em que se poderia considerar deixar de fazer o que deve ser feito: no caso em que a alternativa fosse claramente pior. Mas não é este o caso e, assim, essa “preservação da estabilidade” traria consigo o risco moral de premiar governantes, ainda que cometessem crimes de responsabilidade. E esta é a pior mensagem que se poderia passar ao país neste momento.

Inflação, desemprego e a paciência da população - CLAUDIO ADILSON GONÇALEZ

ESTADÃO  - 09/11

A pressão das ruas pode crescer até o ponto que torne inviável a continuidade de Dilma Rousseff na Presidência


Em meu último artigo neste espaço (A presidente precisa tomar as rédeas do ajuste fiscal, 5/10/2015), argumentei que o impasse político que impede o avanço de medidas necessárias para estancar a hemorragia das contas públicas somente poderia ser rompido se o Poder Executivo agisse imediatamente. A sugestão era de que, sem retirar as propostas que tramitam aos trancos e barrancos no Congresso, o governo lançasse mão de aumentos de tributos e cortes adicionais de gastos que poderiam ser feitos sem necessidade de aprovação legislativa. Citei a elevação das alíquotas da Cide, do IOF e do IPI, que possibilitariam arrecadação adicional de cerca de R$ 45 bilhões, em 12 meses, sendo R$ 10 bilhões para Estados e municípios e R$ 35 bilhões para a União. Concomitantemente, deveriam ser efetuados fortes cortes de gastos, inclusive no PAC e em programas sociais. Reconheci que tais medidas são amargas e têm efeitos colaterais adversos, mas a situação é de emergência e exige medidas emergenciais.

De lá para cá o impasse político agravou-se e a única ação visível do governo foi intensificar a luta para evitar o impeachment. O déficit primário (receitas menos gastos não financeiros), incluídas as pedaladas fiscais, deverá alcançar, em 2015, montante próximo a R$ 120 bilhões. É útil lembrar que a proposta inicial do governo era de superávit de R$ 65 bilhões. Estamos, portanto, diante de uma frustração de resultado da ordem de R$ 185 bilhões, algo em torno de 3,1% do PIB. Qualquer semelhança com o desmascaramento dos dados fiscais da Grécia, em 2009, não é mera coincidência.

Diante deste quadro, tentarei, neste artigo, responder à difícil questão: qual o cenário mais provável para a economia brasileira nos próximos dois a três anos? O conceito de dominância fiscal pode ser útil para esse objetivo.

Dominância fiscal é tema controverso entre os economistas. Há várias abordagens diferentes e é difícil de caracterizar se a economia, num dado período, está ou não sob tal regime. Para os objetivos deste artigo, creio que a visão tradicional, apresentada por Sargent e Wallace (1981), é a mais útil. Por ela, o regime de dominância fiscal é aquele em que o governo gera resultado primário independentemente da necessidade de estabilização da relação dívida/PIB, e a autoridade monetária passiva perde o controle do nível de preços por ser forçada a produzir as receitas de senhoriagem (decorrente do poder de emitir moeda) necessárias à solvência da dívida pública. No sistema financeiro atual, isso somente é possível com a elevação da taxa de inflação.

A meu ver, o impasse político, os desastres registrados nas contas públicas em 2014 e em 2015 e a forte componente estrutural do desajuste fiscal brasileiro, principalmente Previdência, gastos sociais e financiamentos subsidiados via crédito direcionado, não deixam dúvidas de que o País se encontra em pleno regime de dominância fiscal. A reversão desse quadro só é possível mediante um ajuste fiscal profundo, muito improvável no atual governo.

Assumindo que tal ajuste não ocorra, e descartando o calote explícito da dívida, cujas consequências de médio e de longo prazos seriam desastrosas, a consistência macroeconômica dessa situação, como vimos, implica o crescimento contínuo da taxa de inflação. O Banco Central pouco poderá fazer para evitar que isso ocorra. O endurecimento da política monetária em resposta à elevação da inflação conduziria o estoque da dívida pública para além do seu limite sustentável. Isso provocaria elevação do risco soberano e, consequentemente, depreciação do real, em vez de apreciação, realimentando a inflação. Na verdade, como se pode deduzir da abordagem de Sargent e Wallace, essa inflação é necessária para garantir a solvência do governo.

Infelizmente, a situação da economia brasileira é ainda mais grave. O ano de 2015, mesmo que o ajuste fiscal tivesse sido um sucesso, já registraria recessão corretiva, decorrente do inchaço artificial de vários setores promovido pela chamada nova matriz macroeconômica, que incentivou o consumo à custa do erário e comprometeu irresponsavelmente o orçamento das famílias. Além disso, a dinâmica explicada nos parágrafos anteriores mina a confiança dos agentes econômicos, tanto empresários quanto consumidores, levando a quedas contínuas do investimento e do consumo das famílias. Somam-se, portanto, dois conjuntos de causas recessivas.

Dessa forma, o cenário que se apresenta para a economia brasileira, para o fim deste ano e, provavelmente, para os próximos dois ou três anos, é de crescimento da inflação e do desemprego. Sem um ajuste fiscal de verdade, não vejo como isso possa ser evitado.

População. No entanto, a análise que se apresentou até agora está incompleta, pois deixou de fora, de forma proposital, um ator importante, qual seja, a população brasileira, especialmente as classes sociais bem abaixo do pico da pirâmide de renda e riqueza.

Será que as dezenas de milhões de brasileiros que antes viam seus proventos serem corroídos pela inflação descontrolada e que passaram a desfrutar dos benefícios da relativa estabilidade de preços vão aceitar passivamente a perda dessa conquista? Da mesma forma, estes mesmos brasileiros que romperam a linha da pobreza e ingressaram na classe média consumidora vão abaixar a cabeça na medida em que se empobrecem novamente? Não sou analista político para responder de forma fundamentada essa questão, mas a intuição me diz que provavelmente não.

A pressão das ruas pode crescer até o ponto que torne inviável a continuidade de Dilma Rousseff na Presidência da República. Não cabe discutir como isso se daria, se por impeachment, renúncia ou cassação de mandato. O importante é que um novo governo e uma possível coalizão política poderiam antecipar o início do ajuste da economia brasileira. Não faria milagre, mas talvez o cenário econômico lúgubre que apresentei seja atenuado e a volta ao crescimento ocorra mais rapidamente.

*Economista, diretor-presidente da MCM Consultores, foi consultor do Banco Mundial, subsecretário do Tesouro Nacional e chefe da Assessoria Econômica do Ministério da Fazenda

Na própria armadilha - GEORGE VIDOR

O GLOBO - 09/11

Atrasos nos pagamentos dão uma pista do rombo que Dilma deixou para ela mesma nas contas públicas


Tanto o corte de investimentos federais como o atraso no pagamento de obras em andamento acenderam diversos sinais de alerta no mundo da engenharia. No caso de estradas sob responsabilidade do DNIT, há pagamentos com atraso de até cinco meses. O governo já não pode pendurar contas em bancos públicos — recorrendo às agora famosas “pedaladas” — e, sem dinheiro suficiente na caixa do Tesouro, o jeito tem sido voltar ao antigo recurso do “devo, não nego, pagarei quando puder”.

Grande parte desse rombo é herança da própria presidente Dilma, que chutou o balde nos dois últimos anos do seu primeiro mandato, o que deixa a atual equipe econômica em uma situação constrangedora. Para equacionar o desequilíbrio das finanças públicas, é preciso saber qual, de fato, é o rombo que Dilma deixou para ela mesma, e se ao longo deste exercício não foi aberta uma nova cratera. Caso contrário, existe o risco de se usar um medicamento que mascare a doença.

Sem uma definição desse quadro, fica difícil motivar investidores privados para os programas de concessões ou parcerias nos segmentos de infraestrutura, que são alavancas visíveis para ajudar a economia brasileira a reagir. Sem isso, passamos a depender apenas das exportações, que são também uma boa alavanca, mas não suficiente para carregar hoje toda a economia nas costas.

TAMBÉM PAROU

Além do Comperj, as obras de construção da usina nuclear Angra 3 pararam porque o consórcio que seria responsável pela montagem dos equipamentos desistiu, embora uma das seis empresas que o compõem tenha sido a favor de continuar. A Andrade Gutierrez estava nos dois consórcios, mas resolveu permanecer à frente apenas das obras civis, que estão estancadas. Faltam 40% do cronograma para Angra 3 ser concluída. Sem esse último atraso, o funcionamento da usina já havia sido adiado para 2019. A mesma novela ocorreu com Angra 2, iniciada em 1982 e só concluída 20 anos depois, ainda que as usinas nucleares tenham se mostrado bons antídotos contra apagões de energia elétrica na área entre Rio e São Paulo.

TENTATIVA

Todo o esforço da alta cúpula da Odebrecht no momento é para tentar convencer o Judiciário, o Ministério Público e, se possível, também a mídia de que o grupo não teria sido o canal (ou um dos) para um suposto enriquecimento da família do ex-presidente Lula. Pelas contas da empreiteira, os valores que foram pagos ao ex-presidente, quando ele deixou o governo, seriam compatíveis com os recebidos por personalidades com mesmo grau de influência pela prestação de serviços similares.

O grupo espera, assim, estancar o desgaste de imagem que tem reflexos no crédito junto aos mercados financeiros. E um grupo desse porte, com tal variedade de negócios, depende necessariamente de créditos.

AVALANCHE DE CAUSAS

Somente um grande banco brasileiro tem contra si mais de 1,6 milhão de causas, somando-se queixas no Procon, processos nos juizados de pequenas causas, ações trabalhistas, cíveis, comerciais e outros embates contenciosos. Se fosse fazer provisão para pagamento de todas as indenizações, na hipótese de perda integral de 100% das causas, teria de chegar ao equivalente a R$ 1 trilhão.

É claro que já existe no país um conjunto de jurisprudências capaz de resolver parte significativa desse contencioso. E é com base em tal experiência que bancos como esse ou outras empresas abertas (com ações e debêntures negociadas no mercado) calculam suas provisões para pagamento de eventuais indenizações. No entanto, até que a Justiça se pronuncie, é um capital que fica, na prática, empatado, sem possibilidade de ser redirecionado para algo mais rentável e produtivo.

Desatar esse nó foi um dos objetivos do escritório Nelson Wilians, o maior do país em número de advogados (e o segundo em total de causas, atrás apenas do Siqueira Castro), ao buscar uma aproximação com a Justiça europeia. O Tribunal de Justiça da União Europeia é relativamente pequeno, com 28 juízes — um para cada país membro.

Julga cerca de 700 causas por ano. Mas conseguiu criar uma espécie de jurisprudência única para toda a União Europeia, que tem agilizado os processos e a solução de contenciosos. O Brasil deu alguns passos nessa direção, com a súmula vinculante às decisões do Supremo Tribunal Federal, mas está longe ainda de encontrar solução para essa avalanche de ações judiciais.

Nelson Wilians fez uma carreira meteórica no mundo do Direito, pois tem apenas 44 anos. Filho de agricultores do Paraná, enveredou pelo ramo dos contenciosos tributários e, depois, para o dos negócios, montando mais de 40 escritórios pelo país. O escritório do Rio, por exemplo, se destaca nas chamadas parcerias público-privadas (PPPs), para as quais já desenhou vários modelos de contrato.


Memória imunológica - VINICIUS MOTA

Folha de SP - 09/11

Um novo aumento da Cide, tributo sobre o comércio da gasolina, será resposta provável ao impasse do ajuste fiscal no Congresso. Ninguém acredita na aprovação da CPMF, que depende de 60% dos votos na Câmara e no Senado, em duas votações.

A Cide, que pode subir por uma simples canetada do governo, seria substituto menos potente que o imposto do cheque para elevar a arrecadação. Teria um impacto mais direto, contudo, na inflação.

A inflação tem sido o desaguadouro desse estado de fibrilação que afeta as lideranças nacionais. O Banco Central jogou a toalha no controle da carestia, o governo e o Congresso capitularam no equilíbrio das contas públicas, empresários e trabalhadores desistiram de cobrar respostas de Brasília nos próximos três anos.

Estão todos à espera dos bárbaros, para voltar ao clichê erudito. Como no poema do grego Kaváfis, o Senado deixou de legislar, o imperador de imperar, os oradores de discursar na expectativa da invasão que, entretanto, não acontecerá.

O FMI e seus sarracenos neoliberais não romperão o portão, ao menos não tão cedo, para nos ordenar o que fazer. Dentro das muralhas, qual a peste negra no medievo europeu, a inflação fará o serviço, com seus efeitos aleatórios sobre a sociedade cujos líderes esperam inertes.

Vinte anos depois do Real, foi-se a memória imunológica que permitia a significativas parcelas dos cidadãos mitigar os danos na renda e no patrimônio produzidos pela aceleração de preços. Não se veem, por exemplo, categorias de trabalhadores a demandar discussões salariais mais frequentes do que o dissídio anual.

Ainda há tempo, portanto, para organizar a casa e fazer as coisas voltarem a funcionar com o mínimo de racionalidade. Quando os anticorpos inflacionários estivem ativos novamente, entraremos no mundo mágico do fetichismo monetário, de onde sair é muito difícil e custoso.


A ‘mcdonaldização’ da imprensa - CARLOS ALBERTO DI FRANCO

ESTADÃO - 09/11

O jornalismo moderno reclama curiosidade, rigor, ética e paixão. É o que faz a diferença


Os pessimistas me aborrecem. Fazem, como dizia Oduvaldo Vianna Filho, “do medo de viver um espetáculo de coragem”. Vivem de mal com a vida. Estão sempre em posição de combate. Não olham para a frente. São homens e mulheres de retrovisor. À semelhança do Quixote, vivem lutando contra moinhos de vento. Falta-lhes equilíbrio, serenidade e bom senso.

O que é côncavo de um lado aparece convexo do outro. Depende só do nosso ângulo de visão. Como lembrou alguém, muitas vezes um defeito é apenas a sombra projetada por uma virtude. Os pessimistas padecem da síndrome das sombras. São incapazes de ver o outro lado: o da virtude.

Algumas críticas ideológicas ao jornalismo, amargas e corrosivas, têm a garra do pessimismo amargo e do sectarismo ressentido. Irritam-se, alguns, com o vigor do jornalismo de denúncia e vislumbram interesses espúrios ou engajamentos partidários. Uma retrospectiva honesta, contudo, evidencia que os jornais nunca tiveram uma relação amorosa com governos, independentemente do colorido ideológico dos poderosos de turno. E é assim que deve ser. As relações entre jornalismo e poder devem ser pautadas por certa tensão. O estranhamento civilizado é bom para a sociedade e essencial para a democracia.

Outros, ingenuamente, criticam a compreensível preocupação dos jornais com a saúde do negócio. Esquecem que sem recursos a independência, base da credibilidade, simplesmente não existe. A saúde dos jornais é importante para uma sociedade livre. Ganhar dinheiro com informação não é um delito. É um dever ético. O lucro legítimo decorre da credibilidade, da qualidade do produto. E a qualidade é o outro nome da ética.

A ética informativa não é um dique, mas um canal de irrigação. A paixão pela verdade, o respeito à dignidade humana, a luta contra a corrupção, a defesa dos valores, enfim, representam uma atitude eminentemente afirmativa.

A ética, ao contrário do que gostariam os defensores de um moralismo piegas, não é um freio às justas aspirações de crescimento das empresas. Suas balizas, corretamente entendidas, são a mola propulsora das verdadeiras mudanças.

O jornalismo de escândalo, ancorado num provincianismo aético, é cada vez menos frequente. Recaídas ocasionais são objeto de críticas e discussões internas.

O jornalismo brasileiro, não obstante suas deficiências, tem desempenhado papel relevante. Ao lancetar os tumores da corrupção, por exemplo, cumpre um dever ético intransferível. A mídia, num país dominado por esquemas cartoriais e assustadora delinquência pública, assume significativa parcela de responsabilidade. O Brasil, graças à varredura dos jornais, está mudando. Para melhor. A cultura da impunidade, responsável pela rotina do acobertamento e dos panos quentes, está, aos poucos, sendo substituída pelo exercício da cidadania responsável.

Os pessimistas, no entanto, querem que as coisas mudem pela ação dos outros. Esquecem que a democracia não é compatível com a omissão rançosa. As críticas à imprensa, necessárias e pertinentes, são sempre bem-vindas. Espera-se, no entanto, que sejam construtivas e equilibradas.

Ouvi, recentemente, uma dessas críticas certeiras num seminário de mídia. Os jornais, dizia meu interlocutor, estão cada vez mais parecidos e sem graça. Concordo, embora parcialmente.

A “mcdonaldização” dos jornais é um risco que convém evitar. A crescente exploração do entretenimento e da superficialidade informativa em prejuízo da informação de qualidade tem frustrado inúmeros consumidores de jornais. O público-alvo dos jornais não se satisfaz com o hambúrguer jornalístico. Trata-se de uma fatia qualificada do mercado. Quer informação aprofundada, analítica, precisa e confiável.

É preciso investir na leveza formal e no fascinante mundo digital. Sem dúvida. O investimento em didatismo, clareza, pautas próprias e agenda positiva são, entre outras, algumas das alavancas do crescimento. Mas nada disso, nada mesmo, supera a qualidade do conteúdo. É aí que se trava a verdadeira batalha. Só um produto consistente tem a marca da permanência. O jornal The New York Times sabe disso como nenhum outro: “Produzir jornalismo de qualidade e matérias sérias de maneira mais atraente”. Qualidade e bom humor. É isso.

Outro detalhe: os jornalistas precisam escrever para os leitores. É preciso superar a mentalidade de gueto, que transforma o jornalismo num exercício de arrogância. Cadernos culturais e econômicos, frequentemente, dialogam consigo mesmos. O leitor é considerado um estorvo ou um chato. É preciso escrever com simplicidade e explicar os fatos.

O jornal precisa moldar o seu conceito de informação, ajustando-o às necessidades do público a que se dirige. Outro detalhe importante, sobretudo em épocas de envelhecimento demográfico: a tipologia empregada pelos jornais tem de levar em conta os problemas visuais dos seus consumidores. Falando claramente: os jornais precisam trabalhar com letras grandes.

Apostar em boas pautas (não muitas, mas relevantes) é outra saída. É melhor cobrir magnificamente alguns temas do que atirar em todas as direções. O leitor pede, em todas as pesquisas, reportagem. Quando jornalistas, entrincheirados e hipnotizados pelas telas dos computadores, não saem à luta, as redações se convertem em centros de informação pasteurizada. O lugar do repórter é a rua, garimpando a informação, prestando serviço ao leitor e contando boas histórias. Elas existem. Estão em cada esquina das nossas cidades. É só procurar.

Panela de pressão - VALDO CRUZ

Folha de SP - 09/11

O governo Dilma até que tenta, mas não consegue sair do lugar neste final de ano. Enquanto isto, novos ingredientes indigestos são lançados no caldeirão das crises gêmeas ""política e econômica.

Nesta semana, tem a ameaça da paralisação dos caminhoneiros. Se vingar, adiciona uma pitada extra de pimenta na greve dos petroleiros. Não por outro motivo o governo está preocupado com riscos de desabastecimento no país.

Aí, o humor do brasileiro vai azedar ainda mais, já bem amargo com uma inflação perto dos dois dígitos ""para a baixa renda, por sinal, já chegou lá, encarecendo a feira de cada dia do trabalhador brasileiro.

Num cenário de desemprego em alta, com a grana do seguro-desemprego no fim para muitos e o país parando, tem gente no governo temorosa com um cenário real de tensão social no ano que vem.

Há quem defina março de 2016 como o ponto alto da fervura, com ajuste fiscal ainda não aprovado no Congresso, novo rebaixamento da nota brasileira pelas agências de risco, dólar subindo, juros em alta e desemprego perto de dois dígitos.

Para evitar que esta panela de pressão exploda, vai aumentar a cobrança para que Dilma acione válvulas de escape e tome medidas para vitaminar a economia. A senha já foi dada por Lula. Ele voltou a defender jogar mais crédito na praça.

A interlocutores, o petista disse que Dilma precisa sair da letargia imediatamente.

Caso contrário, ela, ele e o PT vão apanhar todo dia de mais de 5.000 prefeitos durante a campanha municipal de 2016.

Enfim, amigos e inimigos da presidente têm avaliação semelhante. Sem reação do governo, fica difícil suportar tal cenário a médio prazo. O problema é que, no curto, a crise política está travando o Planalto.

Até quando, não se sabe. O risco é, neste meio tempo, ser criada a sensação de vácuo de poder. Aí, alguém vai tentar ocupá-lo. Candidatos não faltam. De todos os lados.


Mundo rico sobe, Brasil desce - EDITORIAL O ESTADÃO

ESTADÃO - 09/11

O Brasil perde de todos os países da União Europeia, quando se comparam as taxas de crescimento econômico estimadas para este e para o próximo ano, os balanços das contas públicas e os resultados gerais das contas externas. Perde também de 13 dos 28 membros do bloco no quesito desemprego. Fica atrás dos Estados Unidos em todas essas comparações. Os sócios da União Europeia devem crescer em média 1,9% neste ano, 2% em 2016 e 2,1% em 2017, segundo as projeções de outono, divulgadas na semana passada. Para os 19 países da zona do euro, as médias estimadas para a expansão do Produto Interno Bruto (PIB) nesses três anos ficam em 1,6%, 1,8% e 1,9%. As taxas previstas para os Estados Unidos são 2,6%, 2,8% e 2,7%.

A presidente Dilma Rousseff e alguns de seus ministros continuam atribuindo o péssimo desempenho brasileiro à situação externa. Devem desconhecer os números das economias mais desenvolvidas. A China, maior compradora de produtos básicos brasileiros, ainda avança em ritmo invejável, na faixa de 6% a 7%. Atribuir ao menor dinamismo chinês a vergonhosa situação brasileira também é uma tentativa inútil de esconder o fracasso das políticas de Brasília. A acomodação chinesa afeta muito mais os países mais desenvolvidos, mais abertos e mais integrados nos grandes fluxos comerciais de todos os tipos de produtos.

Só um país da União Europeia, a Grécia, deve ter recessão neste e no próximo ano. As estimativas apontam contração de 1,4% em 2015 e de 1,3% em 2016, com retorno ao crescimento (2,7%) em 2017. As taxas de desemprego ainda serão as mais altas do bloco – 25,7% neste ano, 25,8% no próximo e 24,4% no seguinte.

A Espanha continuará em segundo lugar na escala do desemprego, com taxas de 22,3%, 20,5% e 19% estimadas para os três anos. Mas a economia espanhola, assim como outras fortemente afetadas pela crise, continua a recuperar-se, com taxas de expansão estimadas em 3,1%, 2,7% e 2,4%.

Portugal, outro país submetido a um duro programa de ajuste, saiu da recessão no ano passado e deve crescer 1,7% em 2015 e 1,7% em 2016. A campeã do crescimento neste ano, com avanço de 6%, deve ser a Irlanda, uma das primeiras economias a enfrentar a dureza da arrumação fiscal e bancária nos primeiros anos depois do estouro da bolha financeira.

Em suma: a recuperação continua nos países desenvolvidos, com ritmos desiguais de crescimento econômico e taxas diferentes de desemprego. Mas as condições fiscais melhoram de forma geral e os Tesouros apresentam balanços cada vez melhores. O contraste com os números brasileiros é indisfarçável.

Enquanto se projeta algum crescimento para a maioria dos países da União Europeia neste ano e no próximo, as estimativas indicam para o Brasil mais dois anos de recessão, com o PIB encolhendo 3% ou pouco mais neste ano e cerca de 1% em 2016. A recessão, embora pessoas do governo pareçam esquecer ou desconhecer, começou no ano passado.

O déficit geral do setor público, no Brasil, passa bem de 9% e aproxima-se de 10%. As médias estimadas para a União Europeia são 2,5% neste ano, 2% no próximo e 1,6% em 2017. Para a zona do euro os números projetados são 2%, 1,8% e 1,5%. Só se projetam déficits acima de 3%, em 2015, para quatro países: Grécia (4,6%), Espanha (4,7%), França (3,8%) e Croácia (4,9%). Mas o ajuste progride em todos esses países. Nos Estados Unidos, o déficit deve ficar em 4% em 2015, 3,5% em 2016 e 3,2% em 2017. Há rumos definidos para a política fiscal em todos os países avançados, enquanto no Brasil ainda se adivinha o resultado primário deste ano (sem contar os juros) e ainda se tropeça na elaboração do orçamento para 2016.

O desemprego brasileiro está perto de 9%. A média da União Europeia, puxada para cima por alguns países, é 9,5% e deve seguir em queda. Nos Estados Unidos está em 5,3% e também recuando. Isso torna mais provável o aumento dos juros americanos até o fim do ano – notícia ruim para um país vulnerável como o Brasil.

Última que morre - NATUZA NERY - COLUNA PAINEL

FOLHA DE SP - 09/11

Sentindo que o apoio da oposição se esvaiu depois de Eduardo Cunha apresentar os termos de sua defesa, a tropa de choque do presidente da Câmara prepara reação para não perder a sustentação velada que ainda conserva no DEM e no PSDB. Os aliados querem convencê-lo a dar sinais mais claros de que vai abrir o processo de impeachment de Dilma Rousseff. Para o grupo, essa expectativa poderia reverter votos de oposicionistas que hoje estão contra Cunha no Conselho de Ética.

Só vendo 1 
A esperança esbarra na percepção de parte da oposição de que Cunha e o Planalto fecharam um acordo para tocar os pedidos de impeachment em banho-maria.

Só vendo 2 
No Planalto, a avaliação corrente é a de que Cunha perde toda sua sustentação no momento seguinte à deflagração do processo.

Jogo de cena 
A fala de Aécio Neves, de que o PSDB não apoiou Cunha para a presidência da Câmara, foi vista como uma “senha” pela oposição. Apesar da relação com o peemedebista, a sigla guardava a desculpa para quando avaliasse que sua situação não tivesse mais solução.

Todo ouvidos 
Relator do processo de cassação de Cunha, Fausto Pinato (PRB-SP) se reuniu com o governador Geraldo Alckmin na sexta, ao lado de colegas da bancada.

Meia palavra basta 
O fato de a audiência ter sido agendada antes da escolha de Pinato como relator não impediu que o processo fosse tema da conversa. Alckmin recomendou “responsabilidade” ao deputado paulista.

‌Kit quorum 
Líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE) mandou distribuir pão de queijo na hora do almoço de quinta-feira para evitar que deputados saíssem sem votar a DRU na Comissão de Constituição e Justiça.

Kit voto 
O governo inicia a semana com a necessidade de uma “operação especial” para assegurar duas vitórias “essenciais”: a repatriação de recursos e a medida provisória do leilão das hidrelétricas.

Falando grego 
Investidores estrangeiros estão confusos com o que ocorre no Brasil. Apesar de precisar dar uma injeção de otimismo lá fora, o governo Dilma —raríssimas exceções — pouco tem falado com o público externo.

Alto lá 
Presidente da Fiesp, Paulo Skaf promete aumentar a pressão contra a volta da CPMF. “Se o governo quer mudar a Constituição, por que não muda para cortar gasto? Dá o mesmo trabalho. Falam de gastos obrigatórios como se eles tivessem sido mandados por Deus.”

Sinais trocados 
A adoção da idade mínima para a aposentadoria divide o governo. Enquanto Joaquim Levy (Fazenda) defende a medida publicamente, Carlos Gabas, secretário da Previdência, tentou acalmar as centrais sindicais, contrárias ao sistema, na semana passada.

Muita calma 
Aos sindicalistas Gabas lembrou a criação do fórum nacional da previdência, o que foi entendido pelos dirigentes como sinal de que a posição de Levy não é a única no Planalto.

Quase parando 
Um episódio da semana passada ilustra o processo de decisão do governo. No mundo instantâneo da internet, o Ministério da Justiça demorou 2 horas entre detectar e excluir a frase polêmica sobre jihadistas em uma rede social.

Racha trabalhista 
Cristovam Buarque (PDT-DF) tem colhido apoios para sair candidato à Presidência —apesar de a cúpula do partido já ter lançado o recém-filiado Ciro Gomes (CE) como postulante à sucessão de Dilma em 2018.

Bênção 
O senador, que tem apoio de parte da bancada, passou três dias da semana passada no Rio Grande do Sul e recebeu sinalização positiva da seção gaúcha do PDT. Aproveitou para visitar os túmulos de Leonel Brizola, João Goulart e Getulio Vargas.


TIROTEIO

Em um ponto todos concordam: a defesa de Eduardo Cunha consegue ser mais frágil que a do Brasil no 7 a 1 contra a Alemanha.

DO DEPUTADO SILVIO COSTA (PSC-PE), vice-líder do governo, sobre argumentos apresentados pelo presidente da Câmara para se salvar no Conselho de Ética.


CONTRAPONTO

Ponto de vista

A decisão de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) de exigir que servidores da Câmara dos Deputados passassem por detectores de metais para entrar na Casa criou mal-estar nos funcionários do Legislativo. A medida, tomada após o peemedebista ter sido alvo de uma chuva de dólares falsos durante uma entrevista no Salão Verde, acabou revogada na própria sexta-feira, dia que entrou em vigor.

Depois de encarar a fila para entrar no prédio quando a ordem ainda estava valendo, um assessor parlamentar de um deputado do PMDB desabafou:

—A Câmara não precisa de detector de metais. Precisa de detector de mentiras!

COLUNA DE CLAUDIO HUMBERTO

GARCIA É CITADO 50 VEZES NA INVESTIGAÇÃO DE LULA
O aspone para assuntos internacionais aleatórios da Presidência, Marco Aurélio Garcia, aquele do “top-top”, é citado ao menos cinquenta vezes no inquérito que investiga o ex-presidente Lula pela prática do crime de tráfico internacional de influência para beneficiar a empreiteira Odebrecht, com financiamentos do BNDES para obras no exterior. O caso vem sendo investigado pelo Ministério Público do DF e Territórios.

CONVOCAÇÃO
O protagonismo de Marco Aurélio Garcia no caso Odebrecht poderá levar o assessor presidencial a depor na CPI do BNDES.

TRÁFICO DE INFLUÊNCIA
A investigação do Ministério Público apura a acusação de tráfico de influência internacional do ex-presidente Lula durante seu governo.

INFLUÊNCIA NO BNDES
E-mails obtidos pelo Ministério Público, comprovam que era Top-top Garcia quem “garantia” a autoridades os financiamentos do BNDES.

TROPA GOVERNISTA
O pânico no governo com a possível convocação de Top-top fez com que fosse criada “tropa de choque” para sepultar a CPI do BNDES.

CPI DOS FUNDOS DE PENSÃO SE CONCENTRA NO PT
Em nova fase de investigação, a comissão parlamentar de inquérito (CPI) que apura o saque aos fundos de pensão decidiu avançar sobre o envolvimento de petistas em negócios fraudulentos. A ideia é se concentrar nos presidentes do Petros, Henrique Jäger, do Postallis, Antônio Conquista, e do Funcef, Carlos Caser. “Todos são filiados ao PT”, ressalta o presidente da CPI, Efraim Filho (DEM-PB).

APARELHAMENTO
Além de aparelhar fundos de pensão, o PT também infiltrou muitos dos seus militantes em conselhos de administração de empresas privadas.

CONTAMINAÇÃO
Podem ser mais de 300 os petistas que recebem gordos jetons em conselhos de administração de empresas privadas onde investiram.

PEDRA SOBRE PEDRA
A CPI retoma promessa inicial, defendida pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha. “Fazer devassa em contratos do PT”.

CABEÇA BAIXA
Acabou o orgulho petista. Deputados do partido evitam desfilar com os tradicionais broches com uma estrela vermelha. Na Câmara, passam incógnitos pelos manifestantes que batem ponto diário.

SÓ NO BRASIL
Bandido não respeita mais nada. Pilotando uma moto, um meliante assaltou uma cabo dentro do Arsenal da Marinha, dias atrás. E ainda fugiu com a bolsa da militar, passando por duas guaritas.

RETOMADA DE DIÁLOGO
Enrolado na Operação Lava Jato, o vice-presidente da Câmara, Valdir Maranhão (PP-MA) é aliado de Eduardo Cunha, mas deu sinais de diálogo com o governo Dilma.

VOLUME MORTO
Sobre a permanência de Eduardo Cunha na presidência da Câmara, Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE) é enfático: “Em período de normalidade, ele já estaria morto”. A queda é questão de tempo, diz.

PARA LER VOANDO
Hoje piloto “expatriado” na África, Marcelo Lins lança na terça (17), na Travessa em Botafogo (RJ), seu livro “Caso Varig - a história da maior tragédia da aviação brasileira”, que ele viveu dia a dia.

SANGRAMENTO
Mesmo com o fraco relatório que preservou políticos, Antonio Imbassahy (PSDB-BA) comemora o resultado dos trabalhos da CPI da Petrobras: “Foram nove meses de desgaste para o governo”.

ARRANCANDO AS PENAS
Tucanos brigam na Câmara. Apoiados por Geraldo Alckmin, deputados de São Paulo não querem que o líder da bancada de 2016 seja indicado pelo desgastado atual líder Carlos Sampaio (SP) ou por Aécio.

GOVERNO REFORMISTA
O presidente nacional do PPS, Roberto Freire (SP), acredita que o eventual governo Michel Temer seguirá os moldes de Itamar Franco. “Será um governo reformista, não subalterno à banca financeira”, diz.

PENSANDO BEM...
...o governo Dilma é nota 10, seus ingratos: 10% de inflação e 10% de desemprego, até dezembro.