segunda-feira, janeiro 16, 2012

A mãe natureza e a mãe pátria - LYA LUFT

REVISTA VEJA


A mãe natureza sempre teve seus contrastes, seus caprichos, seus ardis, encantos e horrores. A um tempo fera e fada, pode nos destruir com um terremoto, ou avalanche, ou um deslizamento, e nos levar ao paraíso com suas belezas e surpresas. Diante dela somos a um tempo reis e pobres desamparados. Não sei se é apenas por influência das nossas perversas atividades humanas, industriais e outras, que ela anda resmungando, mas o que se sabe é que sempre, em milhões e milhões de anos, houve alternâncias de bonança e terror, épocas de gelo, de seca, de calor, de vida e destruição. Não sei se somos perniciosos, pequenas cracas grudadas feito parasitas na pele rugosa dessa velhissima bruxa, mas, seja como for, as coisas não andam calmas.

Entre nós, de um lado chove demais, no Rio, em Minas e outros locais.
Assim se tragam vidas humanas, casas, lares, passado e futuro de muitíssima gente; de outro, a seca atormenta, angustia e empobrece quem com grande dificuldade e pouco apoio se dedica a produzir alimento. As notícias dos jornais e televisão são de cortar o coração: mais ainda do que a dor atual, a vergonha que é ver em Nova Friburgo, por exemplo, carros atolados na lama há um ano, casas destruídas ou desaparecidas totalmente no barro, montanhas de escombros, um teleférico encarapitado num morro, e gente desalojada, em abrigos, em casa de amigos, em barracas,há um ano.

Aí entra a mãe pátria: o que anda fazendo para socorrer tanto sofrimento inocente? O que cumpriu daquilo que prometeu? Imagino que as autoridades tenham destinado bom dinheiro e amplos recursos para resolver essa desgraceira, e não submeter o povo sofrido a tanta indignidade. Naturalmente recursos existem, não somos a sexta potência mundial? Não damos aumentos vastos a deputados, senadores, juízes e outros? Não temos planos mirabolantes para copas e olimpíadas e demais esportividades?

Não parece que muita coisa tenha ido além de promessas, ou os carros não estariam mais atolados na lama, as casas esmagadas ou soterradas no barro, os cadáveres nunca encontrados teriam seu repouso decente, as pessoas não andariam curvadas ao peso do abandono, da decepção e do sofrimento humilhante. Da falta de casa, de trabalho, de saúde, de esperança. Da decepção com todas aquelas promessas de um ano atrás. Ou mais ainda, pois em Niterói, aquele Morro do Bumba, que parou em espanto e emoção o país inteiro há um ano e mais, deve continuar na mesma. A mãe natureza exerce seu papel de bela ou cruel: nós, a mãe pátria, como exercemos a nossa finalidade de cuidar bem de nossos filhos? Ninguém mora em encostas perigosas porque deseja, mas possivelmente porque não tem dinheiro, instrução, amparo, para viver de melhor forma. Ninguém quer construir seu lar, por modesto que seja, onde seus filhos serão sepultados em lama e horror.

Oportunidade de vida digna é o que a mãe pátria tem obrigação de dar a seus filhos, todos, sobretudo os mais desassistidos. Aliás, não haver desassistidos deve ser, e imagino que seja, o objetivo maior de todo bom governante, fugindo a politicagens, acordos, jogos de poder, troca de favores e desmanchando estruturas perversas.

Nunca entendi de política, sempre me deu mais medo do que interesse, e ainda me assombra nossa facilidade para desviar os olhos das grandes dores do povo. Admiro e respeito o esforço sobre-humano de quem, na mais alta posição, tem realmente vontade e determinação de acenar, de ajudar, de amparar, de verdadeiramente mudar alguns rumos e consertar velhos hábitos ruins desta mãe pátria nossa. As previsões são sombrias quanto ao clima, e não muito animadoras quanto à atitude e providências imediatas que precisam ser tomadas, superando divergências, egoísmos, competições menos nobres, interesses menos dignos, em favor dos que tanto e há tanto tempo aguardam desesperadamente soluções imediatas, sem desculpas, sem enganos, sem cruéis adiamentos ou mentiras. Que nos ajudem os deuses, todos, e que nos abençoem principalmente os da esperança finalmente atendida.

Nós, os cegos - J. R. GUZZO

REVISTA VEJA

Descobriu-se há pouco, no meio do tumulto ora estrelado pelo ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra, que uma certa Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba, repartição pública subordinada a ele, ficou sem presidente durante quase um ano inteiro. É mais uma oportunidade, entre tantas outras, para fazer uma observação de ordem prática. Qualquer coisa que fica um ano sem presidente, e sem que ninguém perceba, pode ficar desse jeito por mais dois, ou três ou sabe-se lá quantos – e nesse caso provavelmente não precisa de presidente nenhum. Economizam-se com isso o salário, o carro oficial e as outras despesas que pagamos para manter o emprego do doutor e não muda nada nos vales do São Francisco, do Parnaíba ou quaisquer outros. Pensando bem, já que o presidente não faz nenhuma falta, essa Codevasf também não faz; por que, então, não fechar a tralha toda? Além da economia, ganha-se em sossego. O que a companhia mais produz atualmente são inquéritos policiais – só neste momento, segundo o noticiário, há cinco investigações em andamento na Polícia Federal para apurar ladroagens variadas em sua administração.

Enfim, pensando ainda mais um pouco, talvez a melhor ideia fosse acabar logo de uma vez com o próprio Ministério da Integração Nacional. Que diabo seria isso – “integração nacional”? Ninguém é capaz de dar uma resposta coerente. Em compensação, sabe-se perfeitamente que funciona ali uma operosa central dedicada ao tráfico de verbas públicas, sempre em benefício dos que mandam no terreiro. No momento, justamente, o ministro Fernando Bezerra tenta explicar por que deu a Pernambuco, onde tem sua base e planos políticos, 90% das verbas contra enchentes que o ministério tinha para gastar em 2011, conforme divulgado por O Estado de S. Paulo. Aliás, ficou-se sabendo, no caso da Codevasf, que a estatal vinha mantendo um interino no lugar do presidente – e que esse interino, imaginem que surpresa, é irmão do ministro. Ainda não é tudo; as histórias de Bezerra, como a cebola, sempre têm uma camada a mais. Seu filho, deputado federal, revelou-se um campeão de “emendas” executadas com dinheiro do ministério ocupado pelo pai. Não se esqueceu da nora – seu pai e um tio foram nomeados para altos cargos na equipe do ministro. Segundo a Folha de S.Paulo, enfim, Bezerra comprou duas vezes o mesmo terreno, com dinheiro público, quando era prefeito de Petrolina, em Pernambuco. Sua explicação é que fez a segunda compra porque a primeira não foi registrada nos papéis da prefeitura. Como assim? Será que o ministro achou que a melhor maneira de regularizar a situação seria comprar o terreno de novo e pagar mais uma vez por ele? Não deu para entender nada. O que dá para entender, sem o menor trabalho, é algo bem simples. Se uma figura com esse desempenho pode ser ministro de estado, então o ministério que ele dirige não precisa existir.

Não falem de nada disso perto da presidente Dilma Rousseff: ela fica muito brava quando alguém sugere que o governo poderia, quem sabe, aproveitar a próxima e anunciada reforma ministerial para fechar uma meia dúzia de ministérios, ou pelo menos um ou dois, entre os 38 que tem. Recentemente, com a habitual cortesia que utiliza ao comentar opiniões diferentes das suas, disse que só “quem é cego” pode falar em redução de ministérios. Será que não haveria algum mérito, por pequeno que fosse, na ideia de eliminar um ou outro ministério? Será que tocar no assunto é um absurdo tão grande assim? Afinal, há cinco ou seis ministros que só tiveram uma audiência com a presidente, ao longo de todo o seu primeiro ano de governo. Há um, inclusive, que conseguiu não ser recebido por Dilma uma única vez. O que esse homem está fazendo lá? E qual a utilidade que poderia ter o seu ministério? Esqueçam. Quem pensa em levantar esse tipo de questão é cego; a presidente não deixa por menos. (Uma de suas ministras poderia observar que a palavra correta, no caso, seria “deficiente visual”; mas, pelo jeito, achou melhor não dizer nada.)

Um governo que se considera a encarnação terrestre do Senhor Deus Pai, dos Doze Apóstolos e de todos os santos não tem dúvida sobre nada; só tem certezas. Mais um caso encerrado, portanto, principalmente quando se sabe que a maior disputa dentro do Palácio do Planalto, da “base aliada” e dos 38 ministérios é para ver quem concorda mais rápido com a presidente. O que continua em aberto, cada vez mais, é a comédia que eles apresentam todos os dias.

O Brasil sofre com problemas de ricos - GUSTAVO CERBASI

REVISTA ÉPOCA

Os brasileiros sempre conviveram com problemas de gente pobre. Pedintes nas ruas, favelas sitiadas, violência urbana, falta de água, filas no transporte público e no SUS e os incontáveis surtos de doenças decorrentes da falta de higiene ou de educação pública sempre foram a realidade aqui.

O Brasil vem se desenvolvendo e, aos poucos, o sofrimento dos mais pobres por falta de assistência básica tem diminuído. As estatísticas mostram que há mais hospitais, mais transporte público e mais educação, além do crescimento da renda, que aumenta o leque de oportunidades de consumo. Seria motivo de comemoração, mas temos agora uma nova categoria de dificuldades. O Brasil está começando a desfrutar os problemas de gente rica.

Apesar de haver maior oferta de serviços públicos de base, falta-lhes qualidade. A população que ganha mais não deseja usar o crescente transporte público, mas sim um automóvel novinho que o crédito permite comprar. Congestionamentos não são mais privilégio da saturada São Paulo. Hoje, centenas de cidades brasileiras apresentam níveis alarmantes de engarrafamentos.

Essa população que ganha mais está deixando o SUS e contratando serviços médicos em caros hospitais particulares. É comum aguardar mais de uma hora para fazer um simples exame de rotina naqueles hospitais que recebem a nata dos políticos, mesmo pagando milhares de reais por mês pelo plano de saúde.

Tenho ouvido relatos de gente que, ao tentar consulta com um médico recomendado, descobre que terá de esperar dois meses pelo atendimento – ao preço de um salário mínimo apenas pela primeira conversa.

Para matricular seu filho em uma boa escola, provavelmente você terá de se antecipar em pelo menos um ano para conseguir uma vaga. Se quiser comer no restaurante mais caro da cidade, terá de reservar com dois dias de antecedência. Se quiser viajar para fora do país, terá de fazer seu passaporte meses antes. Faltam cada vez mais serviços e qualidade para a população consumidora.

Cuidado com estatísticas que medem apenas o avanço sobre a pobreza. Não podemos descansar sobre os louros da vitória contra a miséria, pois os ex-miseráveis ainda sofrem as agruras da escassez. O Brasil carece seriamente de planejamento de longo prazo e de qualidade em seus produtos e serviços. É aqui que precisamos atuar mais.

Reforma ministerial - PAULO GUEDES

0 GLOBO - 16/01/12

A perspectiva de uma iminente reforma ministerial agita nossos meios políticos. A presidente estaria apenas se libertando de um ministério herdado, fruto de acordos políticos que teriam desembocado em sua eleição? Ou seria uma reacomodação dos situacionistas nas trincheiras do aparelho de Estado, preparando-se para a batalha eleitoral que se aproxima? Haveria outro significado, um olhar com horizontes mais longos, em busca de maior eficiência administrativa?

Ora, para que uma reforma ministerial possa transcender meros interesses políticos de curto prazo, precisa estar associada a mudanças na própria estrutura administrativa do Estado. São exatamente os horizontes mais longos sob consideração e o maior alcance dessas mudanças nos fundamentos da administração pública que dão maior significado às reformas ministeriais.

Mas não há quaisquer expectativas de mudanças estruturais à frente. Seguimos com a centralização burocrática herdada do regime militar. A mesma concentração de poder político e recursos financeiros no governo federal. Essa mesma tradição francesa de centralização administrativa que se tornou a herança maldita do antigo regime monarquista aos revolucionários de 1789 e aos bonapartistas que lhes sucederam.

A essa engrenagem monolítica, essa concentração de poder e recursos, Alexis de Tocqueville atribui, em seu clássico "O Antigo Regime e a Revolução" (1856), a degeneração dos mais nobres ideais revolucionários. Da democracia ao terror jacobino. Da fraternidade ao genocídio das guerras napoleônicas. A descentralização administrativa e o menor peso político do governo central teriam, por outro lado, evitado esse processo degenerativo nos Estados Unidos, diagnosticava Tocqueville em seu outro clássico, "Democracia na América" (1835).

São reflexões oportunas às vésperas de uma reforma ministerial. A descentralização é uma exigência da democracia emergente. Os estados e municípios são os novos eixos para a modernização administrativa e a descentralização operacional do Estado brasileiro.

Ainda teremos uma reforma ministerial de significado histórico, associada de um lado a uma reforma fiscal descentralizando recursos públicos e atribuições para estados e municípios e, de outro, a uma reforma administrativa no governo federal, reduzindo o número de ministérios, mas aumentando a qualidade e a eficiência das políticas públicas.

Cinismo dos grandes - VINICIUS MOTA

FOLHA DE SP - 16/01/12

Haja malabarismo na explicação dos ministros da Justiça e das Relações Exteriores sobre a cota de vistos para a entrada de haitianos no Brasil. Em artigo na Folha, ontem, José Eduardo Cardozo e Antonio Patriota chamam uma barreira contra imigrantes pobres de "ordenação do fluxo migratório".

O limite de 1.200 vistos anuais de trabalho, dizem as autoridades federais, não configura restrição. Seria na verdade "uma abertura, em caráter excepcional". Tudo isso, claro, feito "em defesa dos direitos humanos".

O cinismo é uma das marcas da política externa de nações cujo peso específico faz diferença no concerto global. Não é fácil harmonizar medidas que respondem a interesses imiscíveis, às vezes conflitantes.

O Brasil de hoje poderia abrigar, se quisesse, todos os trabalhadores haitianos desejosos de emigrar. A população brasileira economicamente ativa é da ordem de 100 milhões -dez vezes o número total de habitantes do país caribenho-, e a perspectiva de expansão de vagas, em especial para postos de baixa qualificação, é firme ao longo dos próximos anos.

É preciso, porém, temperar o interesse empresarial doméstico -afinal, a oferta de mão de obra estrangeira inibe o aumento dos salários e dos custos de produção- com outros fatores igualmente atuantes. Um deles é o compromisso direto do Brasil com a recuperação econômica do Haiti. Se escancaramos a fronteira aqui, sabotamos os esforços feitos lá.

Outro limitador, bem mais importante, é de ordem política e social. Aceitar fluxos gigantescos de imigração não é esta festa toda preconizada por progressistas e liberais de livro-texto. A opção acarreta impactos locais, da miséria à insegurança urbana, muito difíceis de mitigar.

Implanta, além disso, a semente da intolerância ao estrangeiro mesmo em sociedades tidas por pacíficas e hospitaleiras. Para ela brotar, basta que se inverta o ciclo econômico, acirrando-se a disputa pelo emprego.

A charada do etanol - EDITORIAL O ESTADÃO


O Estado de S. Paulo - 16/01/12


Preocupado em aumentar a oferta de etanol, o governo determinou a abertura pelo BNDES de uma linha especial de crédito, batizada de Prorenova, no valor de R$ 4 bilhões, com vigência até o fim deste ano, para incentivar a produção de cana-de-açúcar. O objetivo é suprir, em parte, a falta de investimentos na produção de etanol, que vem caindo em razão direta da baixa rentabilidade.

A medida foi considerada positiva pelo setor sucroalcooleiro, mas seus efeitos só serão sentidos a longo prazo. Como não há sinais de que o governo pretenda elevar o preço da gasolina, em uma fase delicada de combate à inflação, e como o etanol tem de custar cerca de 70% do preço daquele combustível para seu uso ser vantajoso para o consumidor, pode-se prever que os preços do etanol não melhorarão tão cedo.

O ministro de Minas e Energia, Edson Lobão, afirmou há pouco que o governo deseja uma "redução substancial" do preço do etanol em 2012, mas admitiu que, se isso não for viável, o País pode recorrer novamente à importação do produto - o que obviamente desestimula ainda mais quem queira produzir etanol.

Segundo estimativas dos produtores, para que o País possa produzir um volume adicional de etanol, da ordem de 2 bilhões a 4 bilhões de litros por ano, ampliando em mais de 1 milhão de hectares a área plantada, como prevê o BNDES, o Prorenova teria de vigorar por três anos, de modo a permitir o uso da capacidade ociosa das usinas de etanol, atualmente superior a 30%. Um dos problemas do setor é que a idade média dos canaviais é hoje de 3,8 anos. Como observou Plínio Nastari, da Datagro Consultoria, o ideal, para garantir uma boa produtividade, é que a idade média caísse para 2,7 anos. Isso exigiria a renovação de muitas lavouras, o que, em um primeiro momento, pode resultar em diminuição da quantidade de cana a ser moída.

O recuo na produção brasileira de etanol nos últimos anos é impressionante. Na safra 2010/11, a produção do biocombustível foi de 30 bilhões de litros, volume que deve cair 20% na safra 2011/12, não passando de R$ 24 bilhões de litros. A produção de açúcar também foi afetada pela quebra da safra de cana, mas a exportação do produto, em uma fase de altas cotações, compensou financeiramente as usinas. Já com relação ao etanol, o aumento de preços, pelo menos para cobrir os custos, teve de ser limitado pelo preço da gasolina, congelado há mais de quatro anos. Em consequência, além de o etanol ceder espaço no mercado interno, não havia disponibilidade do produto para exportar.

Não admira que, em circunstâncias como esta, tenha havido retração dos investimentos privados no aumento da produção de cana e na implantação de novas refinarias.

O que se busca agora é recuperar, pelo menos, o nível de produção a partir da safra 2012/2013, como base para uma contínua expansão. Os produtores notam, porém, que o custo dos financiamentos por meio do Prorenova ficaram além da sua expectativa, embora abaixo das taxas de mercado.

O BNDES vai cobrar nessa linha 1,3% a mais que a TJLP, que é de 6%, acrescida de 0,5% de custo fixo, o que dá 7,8%. A isso se somará o "spread" cobrado pelos bancos repassadores, calculando-se que o custo fique por volta de 10% ao ano. E pode ser que não haja recursos para atender à demanda, prevendo-se que os grandes produtores absorvam a maior parte, restando muito pouco para os pequenos.

Apesar dos problemas, o Prorenova é visto como uma sinalização de que o governo finalmente começa a esboçar uma política para os biocombustíveis. Depois da destinação no ano passado de R$ 2,4 bilhões para a estocagem de etanol, o BNDES, pela primeira vez, se volta para o estímulo ao plantio de cana-de-açúcar, de modo a conter um retrocesso na produção, justamente em um período em que, a par do aumento da demanda interna pelos carros flex, se verifica uma grande abertura no mercado externo, com a decisão do governo dos EUA de não taxar o produto brasileiro e deixar de subsidiar a sua produção de etanol a partir do milho.

Incoerência - AÉCIO NEVES


FOLHA DE SP - 16/01/12

Ninguém questiona a importância de o país adotar incentivos à produção nacional frente à grave ameaça de desindustrialização em curso. Alcançar esse objetivo exigirá de nós, no entanto, muito mais do que um esboço de política industrial que ignora a agenda da competitividade.

Chamam a atenção os remendos dos socorros pontuais a alguns poucos privilegiados. A mais recente iniciativa nesse sentido foi o anúncio de que o Ministério da Saúde planeja pagar até 25% a mais por máquinas e equipamentos médicos e hospitalares e produtos farmacêuticos produzidos no Brasil.

Causa perplexidade um ministério tão essencial como o da Saúde dispor-se a desembolsar a mais em suas compras sob o pretexto de corrigir o crescente descompasso entre a importação e a produção brasileira no setor.

Como destacou recentemente em artigo o economista Edmar Bacha, o governo promove, contra si mesmo, neste caso, o encarecimento do custo de uma área central, deslocando formidável volume de recursos de onde há permanente carência de investimentos e problemas intermináveis.

Outras medidas podem apoiar o setor de saúde, tornando-o mais competitivo, como a correta utilização dos recursos existentes para pesquisa e inovação.

Vejam o paradoxo: no ano passado, os fundos setoriais de fomento à inovação tiveram arrecadação de R$ 3,2 bilhões e apenas R$ 1,2 bilhão (37,5%) se transformaram em ações efetivas nessa área. O Fundo Setorial da Saúde -para capacitação e estímulo de novas tecnologias nas áreas de interesse do SUS- liberou somente cerca de R$ 19 milhões!

Políticas de compras governamentais devem servir para reduzir custos e não para aumentá-los! O próprio Ministério da Saúde tem uma experiência positiva, ao concentrar em um lote único a compra de medicamentos para alguns Estados e municípios, alcançando redução de preços e economia de recursos.

Da mesma forma, por vários anos, lançou mão do seu poder de compra para negociar com multinacionais a transferência de tecnologia para a produção de vacinas no Brasil. O incentivo não era pagar mais, e sim fornecer medicamentos para um ministério que compra bilhões todos os anos e tem enorme capacidade de negociação.

O próprio tamanho do nosso mercado e as perspectivas de crescimento são importantes incentivos naturais. É saudável que o Brasil tome providências que apoiem nossa indústria, mas, se adotada, essa medida será a mais nova das incoerências na administração federal.

D. Dilma, que tal partirmos agora para o jogo sério? - MARCO ANTONIO ROCHA


O Estado de S. Paulo - 16/01/12


O primeiro ano da presidente Dilma foi, ainda, um ano-Lula. Ela herdou, na política e na economia, o que Lula implantou em oito anos. Este ano terá de ser o primeiro ano-Dilma - de afirmação e consolidação do seu próprio projeto.

E o que sabemos dele?

Até agora, quase nada. Temos alguns sinais, mas não em profundidade. Nos discursos que ela fez, desde a posse e nas entrevistas, há a enunciação de alguns propósitos, porém sem um roteiro do qual se possa fazer um juízo de como chegar a eles.

Não há nenhuma crítica nisso. O Brasil é mesmo assim. A maior parte dos nossos governantes é mais de tocar as coisas em cima do joelho do que de elucidar as mentes e corações dos brasileiros sobre como chegar ao glorioso destino que eles, governantes, vivem proclamando ser o nosso.

Algumas vezes tivemos procedimentos menos rudimentares dos governantes. Getúlio Vargas, por exemplo, elaborou planos e roteiros de execução. Verdade é que implantou uma ditadura bastante fechada, o que lhe facilitou a vida como político e o andamento do que queria fazer.

Houve, depois, Juscelino Kubitschek, JK, que, mais do que mudar a capital do País para Brasília, montou o famoso Plano de Metas, com metas para a indústria pesada, para a indústria leve, para a infraestrutura, para a energia elétrica - para o Brasil, enfim. Só não estabeleceu metas para a consolidação da democracia, e com isso - mas não por isso - seu governo desaguou no desastre janista-janguista que ensejou nova ditadura, desta vez militar.

Nos governos militares, e até porque os militares são, em geral, aficionados por planejamentos e definições de estratégias, tivemos logo no início - creio que já em 1964 - o 1.º Plano de Ação Econômica do Governo (Paeg): Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) e Banco Nacional da Habitação (BNH) são dois filhotes dele, que sobrevivem. Tivemos também as Obrigações Reajustáveis do Tesouro Nacional (ORTNs), um expediente criado para tornar vendáveis os títulos de médio e de longo prazos do Tesouro, que, com a inflação da época, ninguém comprava. Nasceu com isso a correção monetária, uma praga que ainda hoje desafia as equipes econômicas dos governos. À continuidade, ainda vieram o 1.º e o 2.º Planos Nacionais de Desenvolvimento (PNDs), o último já no governo do general Ernesto Geisel, sob a batuta do seu ministro do Planejamento, João Paulo dos Reis Velloso, um brasileiro que sabe pensar (não são muitos) e que continua a exercer o ofício de pensar o Brasil.

De qualquer forma, hoje, mais do que no passado, os governos precisam de um roteiro claro de como conduzir um país num caminho que seja menos cheio de entulhos e mais rentável para sua população. Para a escolha desse caminho e a definição das tarefas e prazos, é bom que haja uma liderança com a noção, também clara, de quais são os passos mais seguros e promissores a serem dados na boa direção. Seria, mal comparando, como um ótimo time de futebol, um Barcelona, cujo objetivo estratégico não é vencer a partida do próximo domingo, mas vencer o maior número de partidas ao longo de anos e manter-se no cenário internacional como um player de respeito. Precisa criar, treinar e cuidar dos seus jogadores desde crianças, incutindo-lhes a noção de qual é o objetivo, por que persegui-lo e para quê. E precisa também de consenso e disciplina entre eles. O Brasil deveria querer ser um player de respeito.

Lula, com ideias antimercado - as suas e as inflamadas pelo esquerdismo infantil do seu partido -, soube logo que tinha de se livrar disso. Discurso não adiantaria. Deu mão forte a uma ala ortodoxa da economia, para frustração de muitos seguidores. Mas, assim, arou o terreno para a plantação das benesses sociais de mais adiante.

Dilma encara, neste ano, o desafio político de montar um time de craques de verdade, no lugar do bando de enganadores que herdou. E nesse time cada um terá de ter disciplina e concatenação para jogar a favor do futuro do Brasil, e não a favor apenas da sua carreira política.

Não vai ser fácil, como estamos vendo no noticiário sobre a reforma ministerial, que, aliás, tem de ser feita mesmo - a questão é saber com que qualidade será feita.

Mas, na economia, não ficou claro no primeiro ano qual o jogo que o time irá jogar. Isso depende de um bem bolado - e mais bem articulado - programa econômico de governo, que responda, basicamente, à indagação de como o País pode ser competitivo internacionalmente e estar na frente em educação, pesquisa e qualificação profissional.

Na semana passada, num encontro com o governador Geraldo Alckmin, Dilma disse que sua meta é criar "um país de classe média". É uma boa meta. Só precisa de um bom roteiro para ser alcançada. Um primeiro passo é tirar o peso do governo das costas da classe média. E a meta não será alcançada "enquanto prevalecer a ausência (sic) de uma agenda que esmiúce as políticas de sustentação do crescimento brasileiro" - como diz a economista Mônica Bolle.

Licença para contratar - RENATA LO PRETE

FOLHA DE SP - 16/01/12


Além de reivindicar as custas judiciais hoje recolhidas ao governo estadual, a nova gestão do TJ-SP elegeu como prioridade a criação de 2.199 cargos de assistentes para juízes de primeira instância, que poderão, por exemplo, atuar na redação de sentenças. Pronto para votação na Assembleia paulista, projeto de lei de autoria do Judiciário prevê o preenchimento das vagas sem concurso público e por indicação dos magistrados.

Se implantada integralmente pelo tribunal, investigado pelo Conselho Nacional de Justiça por pagamentos irregulares a desembargadores, a medida resultará em despesas anuais avaliadas em R$ 120 milhões.

Sobrecarga Em média cada juiz de primeira instância tem sob seus cuidados 9,4 mil processos. Os desembargadores do TJ, responsáveis pelo julgamento dos recursos, já contam com assistentes para preparar seus votos.

Em família Entidades representativas dos servidores do Judiciário apontam o risco de nepotismo cruzado e sustentam que, na prática, juízes já usam escreventes de cartórios como auxiliares.

Nebulosidade O presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS), constrangeu o Planalto ao divulgar relatório que entregou em 2010 ao governo cobrando medidas preventivas contra a estiagem no Sul, sua base eleitoral. Dilma é criticada pela oposição por ter agido com atraso no combate à seca na região.

Divã Aparentemente livre da degola, Fernando Pimentel (Desenvolvimento) tem dito, em privado, que a sucessão de denúncias que enfrentou no final de 2011 representou "o pior momento de sua trajetória política".

Arquibancada O PT paulistano adiou o ciclo de seminários em que defenderá o legado de Marta Suplicy. As reuniões temáticas foram programadas tão logo a senadora desistiu de disputar a prefeitura. Até a conclusão da reforma ministerial, Marta, cotada para voltar à Esplanada, não participará de atos pró-Fernando Haddad.

Muita calma Para desencorajar os partidários da aliança petista com o PSD, Haddad reitera estar convencido da candidatura de José Serra -único tucano que amarraria Gilberto Kassab.

Mordaça Mesmo empenhado em motivar a militância para as prévias de março, o PSDB paulistano proibiu que os quatro pré-candidatos à prefeitura levem claque organizada ao debate de hoje, na zona sul.

Noiva... Refratário à aliança com Gilberto Kassab, o tucano Bruno Covas tenta seduzir o PSB, potencial parceiro do prefeito na sucessão paulistana. O secretário de Meio Ambiente sonha com Luíza Erundina como candidata a vice numa eventual chapa liderada por ele.

...da vez O pré-candidato mantém linha direta com Erundina, para quem organizou, em 2009, jantar de arrecadação de fundos com o objetivo de ajudá-la na quitação de dívida contraída em sua gestão na prefeitura.

Veja bem Orlando de Assis Baptista, conselheiro de Geraldo Alckmin, diz que não apoiará a candidatura de Gabriel Chalita (PMDB), a despeito de sua amizade com o peemedebista: "Meu candidato será o do PSDB".

Acelerado O ex-diretor-geral do Senado Agaciel Maia (PTC) lançou-se à presidência da Câmara Legislativa do DF, apesar de a eleição estar marcada só para 2013. Deve enfrentar a petista Arlete Sampaio, nome do governador Agnelo Queiroz (PT).

tiroteio

Alckmin fez uma visita de médico anestesista à cracolândia. Ao estilo tucano, foi conferir a política da 'dor e sofrimento' superficialmente e no conforto de seu carro.
DO PRESIDENTE DA COMISSÃO DE DIREITOS HUMANOS DA ASSEMBLEIA PAULISTA, ADRIANO DIOGO (PT), sobre a visita-relâmpago do governador à região da capital alvo de operação da PM para dispersar viciados em crack.

contraponto

Trilha incidental

Chico Alencar (PSOL-RJ) concedia entrevista que seria veiculada durante o recesso parlamentar no programa oficial "A Voz do Brasil". Ao final da gravação, um dos operadores de áudio o interpelou:
-Ganhei a aposta! Tinha certeza que os termos "clientelismo" e "corrupção" estariam na sua fala. O senhor é o 172º deputado a gravar e o primeiro a abordar o assunto.
Alencar rebateu:
-Você apostou com quem? Aguarde, pois certamente virão outros. Mas suspeito que não muitos...

O primeiro ano do governo Dilma - LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS


Valor Econômico - 16/01/12



A transição de poder no Brasil em 2011 pode ser vista como um dos sinais mais fortes da maturidade de nossa democracia. Afinal, depois de 16 anos em que dois presidentes de forte liderança popular e política comandaram o país, uma figura nova foi eleita presidente da República. E a transição foi totalmente suave e legitimada pelo apoio da grande maioria da população. Além disso, nesse primeiro ano, Dilma Rousseff governou o país com autonomia e, aparentemente, sem comando a distância do presidente anterior.

Nas minhas palestras e encontros com investidores e empresas - no país e no exterior - tenho citado este fato para mostrar que considero o Brasil o mais estável e seguro dos Brics. E digo ao leitor do Valor que esse ponto marca muito a opinião de meus ouvintes.

Mas, para não fugir do campo em que me sinto mais preparado para opinar - afinal a política não é minha especialidade - vou refletir sobre a transição na economia, nesta passagem tão importante de poder. Mais do que no campo da política, é na gestão da economia que a presidente Dilma Rousseff vem dando sinais claros de governar segundo seus princípios e prioridades. Embora discorde de algumas das mudanças importantes realizadas por ela, reconheço que este é mais um sinal da maturidade política que atingimos.

Uma primeira diferença entre Dilma e Lula na gestão da economia é o grau de mudanças em relação ao rumo traçado no período FHC. Lula, apesar do discurso inflamado contra o neoliberalismo tucano, pouco mudou em seus oito anos de governo. O melhor exemplo disto foi a liberdade que o Banco Central (BC) teve para administrar o rígido sistema de metas de inflação implantado em 1999. Henrique Meirelles foi um presidente duríssimo no combate à inflação e com o apoio irrestrito do presidente da República.

Outra marca do BC nos anos Lula foi a resistência às demandas da indústria para administrar a taxa de câmbio com instrumentos heterodoxos. Meirelles limitou-se a comprar os dólares excedentes, nos mercados de câmbio e de derivativos, o que permitiu que tivéssemos uma das moedas mais fortes do mundo. Dilma, pelo contrário, já deu mostras inequívocas que não hesitará em apelar para medidas extraordinárias de intervenção nos mercados de câmbio para tentar enfraquecer nossa moeda. O IOF nos mercados de derivativos é uma mostra clara do que seu governo está disposto a fazer para atingir este seu objetivo.

Outro exemplo: nos anos Lula foi total o respeito aos princípios de livre comércio, apesar do crescimento vigoroso das importações. O aumento do chamado coeficiente de importação no setor industrial é uma prova cristalina desta política. A participação da indústria no PIB do país não parou de cair, principalmente depois que as empresas passaram a acreditar na estabilidade do real e os custos do setor produtivo cresceram em função de vários fatores internos de natureza microeconômica. Dilma, pelo contrário, já tomou várias medidas para proteger a indústria, dificultando a entrada de produtos do exterior via aumento das barreiras comerciais e tarifárias. O recente aumento do IPI para os veículos automotores importados mostra até onde o governo pode chegar na busca deste objetivo.

Mas as diferenças não estão restritas a questões pontuais, como as citadas acima. A presidente tem um arcabouço teórico bem mais claro e sofisticado, baseado principalmente nos pensamentos do grupo de economistas ligados historicamente ao PT e a outros partidos de esquerda. Lula era um pragmático e, diante do sucesso econômico em seu governo, preferiu não mudar, na sua essência, o soft tucano. Já Dilma, tendo que enfrentar certo esgotamento do crescimento e, principalmente, uma agenda nova de desafios na economia, está sendo obrigada a tomar decisões e definir políticas, e coerentes com suas ideias.

Uma das marcas deste novo pensamento econômico - e que já podemos notar em muitas de suas políticas - é uma posição mais agressiva de intervenção do governo na economia. O espaço ocupado pelo Estado, tanto como agente direto, como via regulação de mercados, vem aumentando de maneira muito clara. O exemplo da política no setor da energia elétrica é para mim um dos mais importantes. O governo vem forçando os preços para baixo - sem diminuir a carga tributária - e reduzindo as margens de lucro das empresas. O objetivo é o de reduzir os custos para o setor produtivo, principalmente o industrial. Mas, ao fazer isto, está criando distorções microeconômicas muito graves e com efeitos de longo prazo.

Por exemplo, no setor de cogeração de energia elétrica, nas usinas de açúcar e álcool, a margem das empresas já está quase negativa. Com isto está afastando os investimentos privados e reduzindo o potencial de crescimento de geração. A resposta a esta situação está vindo via maior presença do Estado. De um lado trazendo a Petrobras também para este espaço até agora privado e criando uma nova linha de crédito subsidiado no BNDES para tentar induzir os investimentos.

Em minha opinião, é este aumento da intervenção do Estado o principal fator que explica a incapacidade do Brasil de crescer a taxas mais elevadas. E não vejo a presidente mudando de rumo.

Abuso legal - DENIS LARRER ROSENFIELD


O Globo - 16/01/12


Em 2008, em histórica sessão, teve lugar o julgamento do caso da Raposa Serra do Sol, tendo como grande novidade as diretrizes estabelecidas pelo então ministro Meneses de Direito. Trata-se de um julgamento que elaborou diretrizes que deveriam ser seguidas pelos diferentes órgãos e entidades do Estado brasileiro, obrigando-os, mesmo, a uma revisão dos processos em curso de identificação e demarcação de terras indígenas. Em decorrência, movimentos sociais e ONGs deveriam seguir em suas ações o que foi estipulado pela Suprema Corte.

Dentre essas diretrizes, cabe assinalar duas que merecem especial destaque: a que estabelece o fato antropológico de ocupação efetiva de indígenas quando da promulgação da Constituição de 1988 e a que proíbe a revisão de limites das demarcações de terras indígenas já realizadas, por óbvio, segundo os critérios da época em que foram feitas.

No que diz respeito à primeira, passa a contar a ocupação efetiva de indígenas nas terras a serem identificadas e demarcadas, o que implica dizer que a consideração de terras tradicionais deve levar em conta a ocupação efetiva e não traços históricos como cemitérios, por exemplo.

No que diz respeito à segunda, estão proibidas as ampliações de terras indígenas. No momento em que uma terra foi considerada como indígena, os seus limites são também considerados como não indígenas, estabelecendo a segurança jurídica para ambas as partes. Explosões demográficas configuram um problema social que deveria ser equacionado em sua seara própria e não via violação dos direitos já consagrados.

No entanto, o que fez a Funai? Até hoje, passados três anos, não normatizou a decisão do Supremo. Isto mesmo! Um órgão do Estado segue em seus processos de identificação e demarcação como se o Supremo nada tivesse decidido. Não se pode alegar, evidentemente, falta de tempo! Ocorre uma burla à lei.

No que toca à ampliação de terras indígenas, esse órgão do Estado está produzindo o argumento de que as terras indígenas já existentes não são propriamente ditas frutos de identificações e demarcações, por não obedecerem aos novos critérios estabelecidos pela própria Funai. Ou seja, ela continua a legislar por atos administrativos, não necessitando, reitero, seguir as orientações do STF. Estamos na verdade diante de uma hermenêutica ideológica de identificações e demarcações de terras indígenas.

Observe-se que há 110 milhões de terras indígenas já demarcadas e homologadas no Brasil, algo em torno de 13,5% do território nacional, para uma população global, segundo diferentes estimativas, inclusive da própria Funai e de ONGs como o ISA (Instituto Socioambiental), entre 450 mil e 550 mil indígenas.

Enquanto a Funai não normatiza as decisões do Supremo, algo que já foi, inclusive, solicitado pela Advocacia Geral da União (AGU), os processos de identificação e demarcação, novos e em curso, seguem o seu próprio ritmo. Casos de ampliação de terras indígenas como em Barra Velha e de novas demarcações como em Cahy-Pequi, no Sul da Bahia, continuam em processo, atingindo direitos há décadas assegurados. No primeiro caso, atinge basicamente pequenos e médios empreendedores rurais e, no segundo caso, assentamentos da reforma agrária, sobretudo representados pela Fetraf/CUT.

Os conflitos só estão se exacerbando, em um flagrante desrespeito às orientações estabelecidas pelo Supremo. Assinale-se ainda, nesse caso do Sul da Bahia, que a própria Advocacia Geral da União possui um parecer postulando que as normas do Supremo devem ser seguidas, o que até hoje não foi feito.

Caso semelhante de ampliação ocorre no Sul de Mato Grosso do Sul, lugar emblemático de conflitos acirrados, que só estão se perpetuando, com evidentes prejuízos para os indígenas e os produtores rurais. Ninguém sai ganhando, salvo os que incentivam os conflitos. A região de Dourados tem aparecido como símbolo desses conflitos, sendo um caso basicamente social de explosão demográfica a ser equacionado mediante políticas públicas de moradia, educação, trabalho e saúde.

Processos novos de identificação, como nos municípios de Gentil, Marau, Mato Castelhano e Ciríaco, no Rio Grande do Sul, ou em oito municípios do estado de São Paulo, mostram, por sua vez, como tampouco é obedecida a determinação do Supremo de ocupação efetiva quando da Constituição de 1988. O argumento de que, nesses casos, trata-se de estudos preparatórios e de formação de grupos de trabalho é um simples véu para enganar incautos, porque, uma vez a máquina administrativo-antropológica posta em funcionamento, o resultado já está determinado de antemão.

Os antropólogos dizem textualmente que a sua função não consiste em contrariar os interesses "indígenas", não trabalhando, salvo raras exceções, para os empreendedores rurais. Há inclusive um dito "código de ética" para disciplinar essas atividades. O "laudo", portanto, será sempre favorável aos indígenas, estando os atingidos por essas medidas em uma espécie de beco sem saída.

Na situação atual, os conflitos só tendem a se reproduzir, com as distintas partes em litígio buscando os seus direitos na Justiça. Logo, se essa é a situação, não há solução à vista, os processos judiciais se prolongando indefinidamente. Se há conflito de direitos entre os indígenas e os empreendedores rurais, a resolução dessa questão se daria através da compra de terras pelo governo, a preço de mercado, terra nua e benfeitorias, assegurando as distintas partes bem-estar e segurança jurídica.

Isto é perfeitamente possível, havendo legislação para isto. Basta vontade política. Enquanto isso não ocorrer, pessoas morrerão e serão feridas em ambos os lados, ninguém ganhando com isto, salvo os que pretendem continuar uma guerra que tem tudo de ideológica e nada do bom-senso de um equacionamento técnico do problema. Portarias existentes deveriam ser suspensas ou revogadas enquanto a necessária normatização da decisão do STF não for feita. É o estado de direito que está em questão.

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO

FOLHA DE SP - 16/01/12



Após visitas oficiais, hotéis e cidades investem para Copa

As eliminatórias para a Copa do Mundo de 2014 estão em seus primeiros jogos, mas algumas seleções começam a visitar cidades onde podem ficar hospedadas no Brasil.

Para atrair turistas e delegações estrangeiras, redes de hotéis fazem investimentos e preparam esquemas especiais de recepção.

O Estado de São Paulo, que concentra 40% dos 145 centros de treinamento de seleções, já recebeu visitas de Austrália, EUA e Inglaterra.

"As visitas devem aumentar no segundo semestre, após a disputa da Eurocopa", diz a coordenadora da Secretaria Executiva do Comitê Paulista, Raquel Verdenacci.

Até 2014, a Accor vai inaugurar 28 hotéis nas 12 sedes da competição. O investimento será de R$ 611 milhões.

"Já negociamos com a Fifa para que os organizadores usem nossas cinco novas unidades no Rio", diz Abel Castro, diretor da rede.

O Sofitel Jequitimar Guarujá pode isolar andares e torres do hotel, o que teria agradado dirigentes ingleses. O Hilton também faria arranjos para abrigar delegações.

Após as visitas, deficiências foram apontadas nos hotéis de Santos e nos centros de treinamento do Guarujá. As cidades dizem que farão investimentos nessas áreas.

"Facilitamos a construção de hotéis com alterações nos planos diretor e de ocupação do solo", diz o prefeito de Santos, João Paulo Papa. Serão cinco novos empreendimentos, um de luxo.

O Guarujá busca parceria com o governo federal para terminar a reforma de seu estádio municipal até 2013.

PARA INGLÊS OU BRASILEIRO VER

O conflito entre a SulAmérica e o consórcio da usina de Jirau sobre um ressarcimento por danos causados nos tumultos do canteiro da usina no ano passado foi parar na Justiça britânica.

Foi realizada uma audiência no final da semana passada, em Londres, sobre o destino que darão ao litígio, se será resolvido no Brasil ou em câmara de arbitragem estrangeira.

A seguradora quer levar o caso a Londres, conforme cláusula arbitral inserida na apólice, que a hidrelétrica não reconhece, segundo Ernesto Tzirulnik, advogado do consórcio Energia Sustentável. A Justiça brasileira pede para manter aqui.

A SulAmérica não se pronuncia. O sinistro pode variar de R$ 400 milhões a US$ 1,3 bilhão, por perdas de bens e de geração de energia, segundo Tzirulnik.

O avanço da arbitragem no Brasil foi acompanhado por elevação dos casos levados à Justiça. "É natural, pois a base de casos cresceu", diz Eleonora Coelho, da Direito GV, coordenadora de estudo que aponta que temas como a validade e o local da arbitragem têm sido levados à Justiça por razões diversas.

BOM PAGADOR

O número de ações de cobrança por falta de pagamento da taxa de condomínio caiu 15,76% em 2011, na comparação com o ano anterior, segundo levantamento do Secovi-SP (Sindicato da Habitação) feito nos fóruns da cidade de São Paulo.

Durante o ano, foram ajuizados 9.947 processos na capital paulista.

O resultado confirma o ciclo de baixa iniciado em 2007. Naquele ano, cerca de 16 mil ações foram ajuizadas em São Paulo -aproximadamente 60% a mais do que o registrado em 2011.

Em 2008, foram ajuizadas 13,1 mil ações e, no ano seguinte, 11,5 mil.

A entidade atribui a redução à crescente melhora do cenário econômico brasileiro dos últimos anos.

NOVOS PASSOS

O consumidor brasileiro não planeja sua compra de sapatos, segundo pesquisa do Instituto de Estudos e Marketing Industrial.

O levantamento, feito com 3.260 pessoas, aponta que 61,3% das compras são motivadas por questões "emocionais", como vontade de se sentir bem vestido.

Apenas 38,7% das aquisições são realizadas por motivos práticos (para substituir um par antigo ou para ir a um evento especial).

Gota de óleo A norueguesa DeepOcean assina contrato de US$ 60 milhões com a Petrobras por dois anos. O trabalho envolve serviços de gestão, engenharia, manutenção e reparo de dutos flexíveis.

com JOANA CUNHA, VITOR SION e LUCIANA DYNIEWICZ

Da Mooca para o cangaço - JOSÉ DE SOUZA MARTINS


O Estado de S.Paulo - 16/01/12


Já se passara uma semana desde que jovens oficiais do Exército e da Força Pública de São Paulo haviam se sublevado, tomado a capital e posto o governador do Estado em fuga. Aquela insurgência de 5 de julho de 1924 retomava o levante militar de 1922, no Rio de Janeiro, e se estenderia até a Revolução de 3 de outubro de 1930, que levaria Getúlio Vargas ao poder. Os revoltosos não conseguiram, porém, deslocar-se em tempo para o Rio e depor o presidente Artur Bernardes. Tampouco conseguiram as tropas legalistas penetrar na cidade. O cerco se arrastava.

No Ministério da Guerra, o general Tertuliano Potiguara bravateava. Designado para vir a São Paulo no comando da chamada Brigada Potiguara, desembarcou com sua tropa na estação de Guaiaúna, depois Carlos de Campos, na Central do Brasil, onde se refugiara o governador do Estado, e pôs-se em marcha. Atravessou o Belenzinho e entrou pelo Alto da Mooca para encontrar as tropas legalistas que atacavam no Cambuci. A batalha da Mooca durou 15 dias. Dos altos da fábrica Crespi e do prédio da Antárctica, edifícios que ainda existem, os revoltosos atacavam os legalistas de Potiguara, cujos soldados avançavam de casa em casa, de esquina em esquina, no frio e sob a garoa. Eram muitos os mortos, militares e civis. Cemitérios foram improvisados em terrenos do bairro. Um deles, entre as Ruas da Mooca e Cuiabá. Cadáveres foram deixados no triângulo formado pelas Ruas da Mooca, Juvenal Parada e Oratório.

Na tragédia, havia também comédia. Na Rua Orville Derby, esquina com o Largo São Rafael, o vigia português de uma fábrica de cobertores, em mangas de camisa e de tamancos, bateu o portão na cara do oficial legalista que lhe fazia perguntas e ainda lhe disse uns palavrões. Alguns soldados lhe disseram, então, que seria fuzilado ou degolado. Retirou-se e voltou depois, vestindo terno novo, sapatos, lenço de seda no pescoço e boné. Explicou que se trajara para morrer direito e pediu para ser fuzilado e não degolado. Pouparam-no...

Combateu na Mooca, num dos regimentos da Brigada Potiguara, um certo José Leite de Santana, nascido em Buíque, Pernambuco, alistado em 1921. Depois da Revolução, desligou-se do Exército e retornou ao sertão. Entrou para o cangaço em 1926, com o nome de guerra de Jararaca. Era um negro bonito, muito moço. Participaria do ataque de Lampião a Mossoró, no Rio Grande do Norte. Ferido, foi aprisionado quando tentava escapar. Alguns dias depois, a pretexto de que seria transferido da cadeia local para Natal, foi levado à noite para o cemitério, onde já estava aberta uma cova. Levou uma coronhada e foi degolado, sendo sepultado ainda vivo. A morte injusta e cruel acarretou-lhe fama de santidade. Seu túmulo tem sido lugar de romaria e devoção. Meio herói, meio bandido, meio santo.

A dor na face - LUIZ FELIPE PONDÉ

FOLHA DE SP - 16/01/12


Muitas vezes apenas gostaríamos de dizer "não". Coisa difícil dizer "não", porque o "sim" é civilizado na sua condição de hipocrisia necessária para a vida em grupo.
Não dizer bom-dia, não dizer que gostou, não dizer que quer ir, não dizer que ama, dizer apenas "não".
Na ordem capitalista em que vivemos, onde tudo circula na velocidade do vento que nos constitui como miserável mercadoria que somos, o "não" aparentemente vende mal.
Mas não é verdade. O "não" é a alma do luxo. "Não quero" pode ser a diferença entre sua banalidade e sua sofisticação não afetada. Mas como tudo que é luxo, o "não" é difícil de achar, de cultivar, de sustentar.
Vende-se muito livro de autoajuda por aí. O leitor que me acompanha sabe como detesto autoajuda. Uma indústria que cresce na mesma proporção em que tudo perde o valor. Mas com isso não quero dizer que não precisemos de ajuda na vida. Somos uns coitados. Mas tem coisa melhor do que esse lixo.
Outro problema é que umas das maiores contradições da vida é que o cotidiano das relações quase sempre inviabiliza afetos espontâneos e nos arremessa a convivência estratégica que apenas "lida" com problemas.
Em resumo, quase sempre os membros da nossa família não são nossos melhores amigos e não é gente em que podemos confiar nossos desesperos porque sempre esperam de nós soluções para as demandas do dia a dia.
Maridos, esposas, filhos, irmãos, pais, quase sempre não servem para ouvir nossos segredos, mas apenas servem para constatar nossas misérias secretas.
Não há relação evidente entre família e paixões alegres (como diria, mais ou menos, o filósofo do século 17 Baruch Spinoza).
As responsabilidades são muitas, as expectativas excessivas, o que era amor se transforma em exigência de sucesso material e segurança previdenciária.
Comumente ataco manifestações de jovens e do povo. Não porque ache que a vida como está seja grande coisa, mas porque considero a infelicidade eterna e atávica do homem a razão final de todo desconforto político, moral e afetivo.
Quem diz que a solução do homem é política é sempre um mau caráter que gosta de política. Seja na universidade, seja em Brasília. A vida é uma prisão e não gosto de rotas de fuga falsas.
No fundo, sou mais "anos 60" do que aqueles que dizem ser "anos 60", mas que viraram "ambientalista de terno e gravata", "defensores da qualidade de vida" ou "roqueiros que cantam para as crianças da África". Para mim vale sempre uma regra básica: não confio em nada em que departamentos de recursos humanos confiam.
Nutro profunda simpatia por dois pensadores utópicos, Ralph Waldo Emerson e Henry David Thoreau, ambos do século 19, representantes do movimento libertário americano.
Há uma dor característica causada por sorrisos falsos. Os músculos da face doem por conta do sorriso mentiroso, que é sempre o mais comum em nosso cotidiano, dizia Emerson, autor de "Self-Reliance" ("Autoconfiança"), de 1841, um clássico do movimento libertário.
Os homens em sua maioria vivem uma vida de sereno desespero, dizia Thoreau, autor de "Walden" (1854), narrativa de um período de sua vida em que se isolou numa casa num bosque.
Thoreau ficou mais conhecido como o criador do conceito de "desobediência civil", quando disse que o melhor governo é o que governa menos ou de forma nenhuma.
Hoje o pensamento público tornou-se monótono porque todo mundo quer agradar e salvar o mundo. Eu não quero salvar ninguém, nem aspiro a um mundo melhor.
Como dizia Emerson, existem grandes vantagens em sermos mal compreendidos ("misunderstood").
A mania de sermos completamente compreendidos nada mais é do que o desejo de agradar a todos o tempo todo, uma das pragas típicas de um mundo marcado pelo marketing de tudo.
Em 2012 espero ser muito mal compreendido por todos aqueles que quiserem fazer de mim seu ídolo, positivo ou negativo, supondo que sabem exatamente o que eu penso ou o que sou.
Espero, acima de tudo, como dizia Thoreau, que não tenha que ir a lugar nenhum para o qual eu precise comprar uma roupa nova.

NA PONTA DO LÁPIS - MÔNICA BERGAMO

FOLHA DE SP - 16/01/12
O apontador de lápis com depósito é o item com a maior diferença de preços nas listas de material escolar em SP, segundo pesquisa do Procon. Nos dez estabelecimentos visitados pela fundação na capital, ele custa entre R$ 0,53 e R$ 1,90 -oscilação de 258%, que equivale a pagar por três apontadores e levar um só.

LÁPIS 2

Outros itens que registraram grandes diferenças de preço, em termos percentuais, foram a borracha branca, que custa entre R$ 0,23 e R$ 0,60 (160%) e o lápis preto nº 2 -este, que foi o grande vilão da lista do ano passado, com 163% de oscilação, neste ano cravou 150%: vai de R$ 0,40 a R$ 1. O Procon pesquisou 143 itens nas cinco regiões de São Paulo.

TANGO

O secretário da Segurança de SP, Antonio Ferreira Pinto, tirou folga e viajou para Buenos Aires no primeiro fim de semana da operação policial na cracolândia, nos dias 7 e 8. Passeou com amigos como os delegados Youssef Abou Chain, diretor do Demacro (Departamento de Polícia Judiciária da Macro São Paulo), e Albano David Fernandes, de Carapicuíba.

PALESTRA MODELO

Gisele Bündchen pode ser a estrela do Fórum Mundial de Sustentabilidade. Ela foi convidada pelo publicitário Nizan Guanaes e por João Doria Jr., que organizam o evento. E não deve apenas desfilar por lá: eles pediram que a top model desse uma palestra sobre a preservação das florestas.

A SAGA DE MARINA

A cineasta Sandra Werneck viaja hoje para Rio Branco, no Acre. Ela tem um encontro marcado com Tião Viana (PT), governador do Estado. Na pauta, as filmagens do longa sobre a vida da ex-senadora Marina Silva, que começa a ser rodado por lá em julho.

OCUPE JURERÊ

O movimento "Occupy Jurerê", na internet, pede "celebridades de verdade" nas baladas da praia Jurerê Internacional, em Florianópolis. A brincadeira foi criada pelo blog de humor Laranjas. "Florianópolis precisa de gente qualificada, com pelo menos uma novela das oito no currículo", afirmam.

MISSÃO ESPECIAL

O deputado Protógenes Queiroz (PC do B) lançou a revista "Protógenes Contra a Corrupção". O primeiro exemplar traz entrevista com o próprio. Ele conta que tinha "missão expressa do gabinete presidencial" de Lula para fazer a Operação Satiagraha, que em 2008 prendeu o banqueiro Daniel Dantas. O gabinete "percebeu que a República estava ameaçada" e escolheu Protógenes pelo "histórico de nunca ter falhado nas missões".

MISSÃO ESPECIAL 2

A revista publica cordel em homenagem a Protógenes: "Com delegado afastado/A coisa não anda boa/ Em missão presidencial/ Largaram o cara à toa (...) A Missão Satiagraha/Reprimiu grande banqueiro/ um grandão que parecia/ intocável por dinheiro/ Porém no final termina/Com ministro que fulmina/ com ar de pipoqueiro". A Satiagraha foi anulada por ministros do STJ, que consideraram suas provas irregulares.

NO ATACADO

O ministro Fernando Pimentel participa amanhã, em NY, da 101ª Convenção Anual da Federação Nacional de Varejo dos EUA. A delegação brasileira, com 2.000 empresários, é uma das maiores. Por isso, pela primeira vez em quase cem anos haverá tradução simultânea para o português.

CASA VIRTUAL

Criadora da grife Pelu, fechada em 2011, Helena Linhares será diretora do site Olook, de recomendação de moda. Deverá desenvolver novos produtos e conteúdos para a plataforma.

COBRA CORAL
A cantora Roberta Sá lança seu quinto CD, "Segunda Pele", com apenas uma faixa de samba. "É como se eu tivesse trocando a pele de sambista, me renovando. O disco vem com algo mais sensual, mais tropical." A potiguar, que mora desde criança no Rio de Janeiro, acaba de fazer 31 anos -e dez de carreira.

Depois da parceria que resultou na música "No Bolso", ela e o marido, o compositor Pedro Luis, agora pensam na família. "Estou esperando o desejo da maternidade ficar incontrolável." Eles acabaram de se mudar para um apartamento no Leblon.

TIRANDO ONDA

Os estilistas Rita Comparato e Dudu Bertholini foram à inauguração da boate Yatch, na Bela Vista, em São Paulo. A hostess Marcelona, o DJ Johnny Luxo, Melissa Depeyre, David Pimentel e Angélica Mantuan, entre outros convidados, circularam pela balada dos sócios Cacá Ribeiro e Facundo Guerra.

CURTO-CIRCUITO

O trio Tritono Blues toca na quarta e no dia 25 no The Orleans. 18 anos.

A coleção Posh Paradise, da MAC, será lançada hoje no shopping Iguatemi.

A grife feminina NEM lança coleção hoje, em seu showroom, no Itaim.

O Boticário fará um desfile no dia 23, em uma sala perfumada, na SPFW.

Rodrigo de Castro abriu novo ateliê no Morumbi.

com DIÓGENES CAMPANHA, LÍGIA MESQUITA e THAIS BILENKY

Deu o cano - MELCHÍADES FILHO

FOLHA DE SP - 16/01/12

BRASÍLIA - O governo já reconheceu que o PAC não contribuiu para o crescimento da economia em 2011, porém ainda deve uma autocrítica sobre o fracasso dos programas federais de saneamento básico no primeiro ano de Dilma.
O balanço final e detalhado não foi divulgado, mas, até dezembro, a execução do Orçamento apontava estagnação, senão queda nos gastos em obras de água e esgoto.
Projetos para pequenos municípios foram selecionados só na virada para 2012. E, justamente nas cidades de até 5.000 habitantes, o quadro assusta: 70% das casas têm problemas de água, esgoto e/ou lixo.
No país todo, 45% dos domicílios continuam fora da rede de esgoto. Um terço da população não tem banheiro ou usa instalações precárias do ponto de vista sanitário. A escalada da dengue não é casual.
Além de reduzir diretamente o deficit social, ação mais enérgica do Planalto inibiria o jogo de empurra entre Estados e municípios -que resulta em inação, quando não alimenta esquemas de corrupção e arrecadação eleitoral paralela. O setor de habitação popular, em expansão, é prova desse efeito virtuoso.
Se soa pouco atraente à política ("obra subterrânea não dá voto"), o saneamento traz impactos positivos à economia. É ânimo na veia da construção civil, que rateou em 2011. Um governo decidido a criar demandas para aquecer o mercado interno deveria saber disso.
Entretanto, ocupada em driblar denúncias de desvios e má gestão nas repartições responsáveis, a Presidência limita-se a anunciar novas etapas do PAC -sem ter conseguido equacionar as várias anteriores.
O BNDES, por exemplo, avisou que injetará R$ 23 bilhões em grandes obras de infraestrutura neste ano. Para o saneamento? Nada extra.
Neste caso, a "faxina" nos ministérios é lateral. Falta um plano mais ambicioso e comprometido para universalizar esse serviço essencial.

Oposição por dentro - JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO


O Estado de S.Paulo - 16/01/12


Os aliados dão mais trabalho ao governo Dilma Rousseff do que a oposição formal. Favorecimento das bases eleitorais, empreguismo de correligionários, disputas pelo poder entre diferentes alas governistas e mau uso de dinheiro público resultaram na maior parte do noticiário negativo para a presidente. O principal problema político de Dilma está dentro, e não fora do governo.

Como previsto, a tensão permanente entre petistas e peemedebistas (e "socialistas" e "comunistas"), ou mesmo entre governistas de um mesmo partido, tem sido a principal fonte de vazamentos, intrigas e más notícias para Dilma. É o tradicional fogo amigo, uma instituição tão brasiliense quanto a autoincineração da grama.

Dos potenciais adversários da presidente em 2014, um parece estar usando mais a oposição interna do governo do que o outro. Enquanto José Serra (PSDB) faz seu discurso oposicionista em voz alta em toda tribuna que encontra, o também tucano Aécio Neves usa toda a experiência que herdou das raposas políticas mineiras para comer pelas beiradas.

Cabo eleitoral. Ao aproximar-se do governador Eduardo Campos, o todo-poderoso do PSB, Aécio criou uma potencial fragilidade para a aliança PSB-PT que nem uma centena de discursos seria capaz de produzir. Não é à toa que Dilma tem demonstrado tanto zelo para manter um dos cabos eleitorais de Campos no ministério, a despeito da penca de denúncias que pesa sobre ele.

Se o PSB é o nervo exposto do momento, o maior problema de Dilma está em outro partido, o que chegou ao Palácio do Planalto junto com ela. Também lá Aécio andou metendo sua colher ao propor uma improvável aliança do PSDB com o PMDB do vice-presidente Michel Temer na eleição de prefeito da capital paulista.

Após a ditadura, o PMDB tornou-se o principal representante das oligarquias provinciais e, como tal, o próprio status quo da política brasileira. Desde o governo Sarney, os peemedebistas têm estado no governo federal, fosse ele qual fosse. Mesmo quando não participou da aliança eleitoral vitoriosa, aderiu ao governo a posteriori. É um partido perseguido pelo poder.

No único caso em que o PMDB ficou alijado do centro do poder, o presidente caiu por falta de apoio no Congresso. Pior com ele, inviável sem ele.

Na primeira vez que o PMDB assumiu a Presidência da República e dominou todas as estruturas de poder, o presidente deixou o cargo nos subterrâneos da popularidade, com o País em crise de hiperinflação.

Desde então, o desempenho patético de seus candidatos nas eleições presidenciais confirmou para os caciques peemedebistas que é muito mais negócio barganhar o valioso tempo de propaganda do partido no rádio e na TV do que dar a cara a bater numa eleição presidencial.

Para os candidatos dos outros partidos, o PMDB é sempre a noiva mais cobiçada, a que tem o maior dote, mas também a que sai mais caro para manter satisfeita após o casamento - e que cobra um preço impagável em caso de separação.

Xadrez. Para sustentar o maior dote das eleições presidenciais, o PMDB depende de seu poder paroquial. E nada mais importante para isso do que as eleições de prefeito. É a quantidade de prefeituras, e não necessariamente o tamanho delas, que faz os peemedebistas elegerem uma das duas maiores bancadas de deputados federais a cada pleito.

Esse fator faz das eleições municipais um xadrez complicado para Dilma. Qualquer mudança abrupta do equilíbrio de forças entre PT, PMDB e PSB pode resultar em crise da base governista no Congresso depois das eleições. Deputados insatisfeitos com as urnas vão cobrar a fatura do governo federal, não importa a qual sigla estejam filiados.

Por isso, um eventual crescimento substancial do número de prefeitos do PT pode ser uma vitória para o partido e, ao mesmo tempo, uma tremenda dor de cabeça para Dilma.

Povo bobo - RICARDO NOBLAT


O GLOBO - 16/01/12
A PRESIDENTE Dilma vai muito bem, obrigado. Manda lembranças. Pouco fez no seu primeiro ano de governo, é verdade. Mas deu a forte impressão de ter feito muito. De fato, é isso o que importa na Idade das Aparências. Estão aí as pesquisas de opinião para atestar sua popularidade. Em resumo: dotado de fraca memória, no geral, o povo é bobo.


Ai dos governantes e dos políticos, em sua maioria, se o povo não fosse bobinho. E se não carecesse de boa memória. Por bobo, deixa-se enganar com uma facilidade espantosa. Por desmemoriado, esquece rapidamente em quem votou - e também as promessas que o atraíram.

E o mais notável: se perguntado, responderá conformado que político é assim mesmo e que política se faz assim em toda parte. Na próxima eleição, procederá da mesma forma. E até lá se dará ao desfrute de falar mal dos seus representantes como se nada tivesse a ver com eles.

Lances de marketing político à parte, o que Dilma entregou de concreto no ano passado? A primeira e a segunda versão do Programa de Aceleração do Crescimento avançaram devagar quase parando. Perguntem ao Movimento dos Sem Terra se a reforma agrária avançou alguma coisa.

No primeiro mês de governo, os mais apressados enxergaram indícios de uma possível mudança para melhor na política externa. Dilma parecia disposta a ex-purgar maus hábitos adquiridos nos oito anos de Lula. Hoje, ninguém está certo de que isso aconteceu.

Concebida para esclarecer crimes da ditadura militar de 1964, a Comissão da Verdade derrapou sem sair do lugar. Ampliaram de tal modo o período sujeito às suas investigações que ela não terá tempo razoável para investigar coisa alguma. Para completar, esvaziaram-lhe os poderes.

O governo foi bem na área da Saúde? Dos brasileiros ouvidos pelo Ibope na última pesquisa de 2011, 67% responderam que não. Foi mal também nas áreas de impostos (66%), segurança (60%), juros (56%) e combate à inflação (52%). A aprovação de Dilma, contudo, aumentou para 72%.

A presidente pode ir bem e seu governo não? Pode. Dilma foi eleita porque era "a mulher de Lula". Ainda é. A crise econômica que flagela parte do mundo não bateu em nossas praias. Tomara que não bata. Enquanto a vida não apertar, Dilma poderá se divertir montando e desmontando ministérios.

Nunca mais. A não ser...
Quem priva da intimidade de Lula garante sem deixar brecha para dúvida: uma vez que se recupere do câncer na laringe, ele jamais será candidato a cargo eletivo. Agradecerá a Deus por ter conseguido preservar a voz. Embora reconheça a fraqueza da carne, tudo fará para resistir à tentação de tomar uns tragos vez por outra e de fumar cigarrilhas. Continuará funcionando como o principal conselheiro político de Dilma. E não abrirá mão de fazer política dentro e fora do PT. Mas é só. Eleição? Bem, concorrerá numa única hipótese: caso Dilma fracasse.

Brava gente!
Outro ministro do governo Dilma luta contra o câncer - Helena Chagas, da Comunicação Social. É a terceira vez em 18 anos que ela tem câncer de mama. Recém-operada, foi convocada por Dilma para uma reunião. A família não queria que ela fosse - mas Helena foi. Em outubro último, Mendes Ribeiro,Ministro da Agricultura, operou-se de um tumor na cabeça. A ministra Teresa Campello, do Desenvolvimento Social, está quase curada de câncer de mama. Guido Mantega, ministro da Fazenda, deve deixar o governo para cuidar da mulher, vítima de um câncer.

O Etanol e política - JOSÉ GOLDEMBERG


O ESTADÃO - 16/01/12


Ouso de produtos agrícolas, como cana-de-açúcar, milho e soja, para produzir substitutos de derivados de petróleo foi saudado inicialmente como uma solução brilhante para os problemas criados pelo uso desse óleo de origem fóssil. O Etanol produzido da cana-de-açúcar é o combustível utilizado no Brasil para substituir cerca de 50% da gasolina - que seria consumida se esse álcool não existisse. A partir de 2003,o custo da produção de Etanol no nosso país era menor do que o preço da gasolina no mercado internacional, sem nenhum subsídio. Nos Estados Unidos, o Etanol produzido do milho substitui menos de 10% da gasolina, mas recebe subsídios.

Globalmente, o Etanol substitui cerca de 5% da gasolina, mas deverá substituir 20% até o ano de 2020 se forem cumpridas as metas adotadas pela União Europeia, pelos Estados Unidos e por vários outros países.A produção brasileira atual, de quase 30 bilhões de litros por ano, poderia aumentar substancialmente para atender a essa demanda.

Até recentemente, o futuro dos biocombustíveis parecia brilhante: eles são renováveis, como todos os produtos agrícolas, e,no fundo,podem ser considerados como energia solar - que faz as plantas crescerem - transformada num líquido por meio da fotossíntese.

Hoje, contudo, o Etanol enfrenta no País sérias dificuldades para competir com a gasolina a preços administrados pelo governo federal,por causa do aumento do preço da terra e dos custos de insumos usados nos canaviais, assim como da mecanização da colheita da cana, que vem eliminando a colheita manual.

O resultado foi desencorajar os produtores: a expansão da área plantada com cana-de-açúcar diminuiu, os canaviais não foram renovados a tempo e a produção de Etanol foi reduzida, correndo o risco de ser ele gradativamente abandonado pelos usuários.

O motivo é que a Petrobrás mantém, artificialmente, o preço da gasolina constante desde 2007,apesar de ele ter subido no mundo todo. Uma das soluções para esse problema seria estimular as exportações de Etanol, uma vez que o seu custo de produção no Brasil é inferior ao dos demais países.

Obstáculos foram levantados contra esta opção.

O primeiro deles é o de que a produção de álcool teria sido a responsável pelo aumento do custo dos alimentos em 2008.

De fato, nesse ano o preço dos alimentos subiu extraordinariamente, provocando as mais variadas reações. No entretanto, o aumento no preço internacional dos alimentos foi parte de um pico que atingiu todas as commodities, incluindo as minerais, o qual foi causado pelo aumento dos custos do petróleo e pela especulação. Também o pânico estimulado pela percepção de que a crise era séria contribuiu para o agravamento desse problema.

Para manter as coisas em perspectiva é preciso lembrar que o mercado internacional de alimentos é pequeno comparado como consumo total desses produtos.

Por exemplo, somente 5% do arroz consumido no mundo é objeto de exportações e importações.

Mas o preço do arroz - que não é usado para produzir biocombustíveis - em 2008 subiu mais que o do açúcar, do milho ou da soja - que são usados para produzi-los.

Além disso, a área usada para produzir biocombustíveis no mundo é pequena. Já a área utilizada para a agricultura em geral, no mundo todo, éde1,5 bilhão de hectares - e menos de 1% dela é destinada aos biocombustíveis.

Ao contrário do petróleo, o Etanol pode ser produzido em quase todo o planeta, mas principalmente na faixa tropical.

O segundo problema foi a adoção pela União Europeia de exigências de" certificação"dos biocombustíveis, para que seja autorizada a dificultar a sua entrada nos mercados europeus. Existe uma verdadeira indústria de mecanismos de certificação para biocombustíveis, com mais de cem propostas diferentes.As exigências que essas certificações fazem vão desde a necessidade de demonstrar que os biocombustíveis realmente emitem menos poluentes e gases responsáveis pelo aquecimento global, resultantes do uso de combustíveis fósseis - o que é razoável -, até as de caráter social e ambiental, que não são feitas para a importação de outros produtos agrícolas.

É de observar,também,que as trocas internacionais de petróleo e derivados - os quais são a principal fonte de poluição, desde a local até as emissões globais de gases responsáveis pelo chamado efeito estufa - não são objeto de nenhuma espécie de certificação que diga respeito às condições ambientais e sociais em que são produzidos.

Decorre daí a interpretação de que o que tem alimentado as críticas ao uso de biocombustíveis, tanto na Europa como nos Estados Unidos, são, na verdade, medidas protecionistas com a finalidade de impedir que os biocombustíveis produzidos em países tropicais penetrem nesses mercados.

A produção de Etanol em grande escala no Brasil - e emoutros países tropicais no Caribe e na África - enfrenta, portanto, no momento dois desafios:

Os externos,que são as medidas protecionistas dos Estados Unidos e dos países da Europa.

Essas medidas vão acabar caindo, como já caíram nos Estados Unidos. Isso porque a pressão para reduzir as emissões de carbono vai levar os países europeus e os Estados Unidos a adotarem o Etanolcomo substituto natural do petróleo (gasolina)- e terá de ser importado dos países tropicais.

E os internos, que decorrem da política do governo brasileiro de manter o preço da gasolina constante desde 2007, ignorando os benefícios que o Etanol trouxe para nossa matriz energética, uma das mais limpas e renováveis do mundo.

É preciso, portanto, adotar medidas urgentes que abram caminho para novos investimentos em produção de cana- de-açúcar e Etanol. Se o Brasil não o fizer, outros países o farão.

Gregos e troianos - GEORGE VIDOR


O GLOBO - 16/01/12

Fora algumas vozes reticentes, o Copom se reúne esta semana sem que haja no mercado financeiro clima desfavorável a uma queda nas taxas básicas de juros. Agora em janeiro, a inflação acumulada em 12 meses deve se aproximar de 6% e até abril possivelmente estará na casa de 5,5%, não mais tão distante do centro da meta (4,5%). Com isso, novo patamar de juros pode ser testado pelo Copom.

O tema é controverso, mas a prática tem demonstrado que os modelos teóricos pouco ajudam na fixação das taxas básicas de juros no Brasil, e que, dessa forma, não há alternativa para o Banco Central a não ser prosseguir com uma política de tentativa erro-acerto.

Nesse sentido, o patamar que merece ser testado ao longo do ano é a taxa de juros de 9,75%. Possivelmente atenderia aos interesses de gregos e troianos.

A Associação Brasileira de Empresas de Comércio Exterior (Abece), que reúne as trading companies e desde o ano passado é presidida por Ivan Ramalho (por longo tempo responsável pela área, dentro do governo), mantém-se otimista em relação à trajetória das exportações brasileiras em 2012. A Abece projeta um crescimento de 10% nas vendas, o que elevaria as exportações este ano para o patamar de US$280 bilhões. O ritmo de expansão diminuirá em relação aos 26% de 2011, mas, sem dúvida, se concretizados os 10% previstos, será um excelente resultado em um quadro de retração do comércio global.

A Abece também prevê aumento das importações brasileiras, porém a um ritmo menor que os 25% do ano passado.

A corrente de comércio (exportações mais importações) deverá ultrapassar a casa de US$500 bilhões, em termos anuais, já durante este primeiro semestre.

Os acessos viários entre o Rio e a Baixada Fluminense já estão saturados, e os engarrafamentos ou a lentidão no tráfego acabam elevando os custos de transportes. E ainda provocam enorme perda de tempo. O Arco Metropolitano, cuja obra parece sofrer de algum "encantamento" e anda muito devagar, somente ajudará a descongestionar a região a partir de 2013. Mas há também outros projetos saindo do papel. Uma nova via interna ligando municípios da Baixada surgirá beirando as duas margens do Rio Sarapuí, partindo da rodovia Rio-Petrópolis (BR-040), em Duque de Caxias. As ocupações ribeirinhas estão sendo reassentadas, e junto a essa nova avenida haverá um parque linear, com reflorestamento e áreas de lazer (trata-se de um empreendimento não só da área de transportes, mas também do meio ambiente).

A chamada Via Light, por sua vez, será estendida até o subúrbio de Madureira, e assim surgirá uma outra ligação com a Baixada, sem passar pela Avenida Brasil ou pela Via Dutra (Rio-São Paulo). A ideia é fazer com que a Via Light chegue até a Avenida Brasil e, principalmente, à Linha Vermelha (a fim de evitar que um grande fluxo de automóveis se concentre em determinado trecho da Via Dutra), mas a melhor solução de engenharia não foi ainda encontrada para tal objetivo.

A curtíssimo prazo, a saída será a proibição do tráfego de caminhões em algumas vias de acesso ao Rio em horários de rush, especialmente às sextas-feiras, quando cresce o número de veículos em circulação.

A alternativa ferroviária faz parte desses planos de descongestionamento da região metropolitana. Uma ligação de 18 quilômetros, em bitola dupla (larga e métrica), entre atuais linhas da MRS e da FCA, permitirá, por exemplo, que comboios transportem combustíveis e outros derivados de petróleo produzidos no Comperj (Itaboraí) até Minas ou São Paulo. Em uma segunda etapa, a ferrovia, hoje sem uso, chegará ao Porto do Açu, no Norte Fluminense, também em bitola dupla. A intenção é que o trem de carga possa embarcar e desembarcar mercadorias no cais de todos os portos do Estado, inclusive o do Rio, em futuro relativamente próximo.

Sergio Malta reassumiu o posto de presidente do Sinergia, depois de um bom período como superintendente do Sebrae RJ por indicação da Firjan. O Sinergia é o sindicato patronal que congrega empresas de energia elétrica do Rio de Janeiro para cima. As companhias de São Paulo e dos estados do Sul são filiadas a outro sindicato, com sede em SP. Ambos foram criados nos tempos da Light canadense (Malta foi diretor da empresa e permanece vinculado a ela, que passou a ter como principal acionista a Cemig mineira).

A nova missão de Sergio Malta é motivar o Congresso e outras instituições no Brasil para o processo de integração energética da América do Sul. O tamanho do continente permite o aproveitamento do regime de chuvas em diferentes épocas do ano. Se, em tese, a América do Sul funcionasse como o sistema interligado existente no Brasil, o aumento de eficiência das hidrelétricas nos vários países seria da ordem de 25%, com ganhos ambientais e econômicos enormes.

Alguns avanços ocorreram desde a experiência bem-sucedida da Itaipu Binacional (Brasil e Paraguai), mas o processo poderia se acelerar se os países sul-americanos chegassem a um acordo sobre marcos regulatórios comuns para a transferência de energia de uma nação para outra.

Brasil e Uruguai avançaram nessa área, e em termos energéticos o país vizinho se integrará ao sistema elétrico brasileiro como se fosse um vigésimo oitavo estado. O período máximo de consumo de eletricidade no Uruguai é em junho-julho, enquanto na maior parte do Brasil é em novembro. Os uruguaios precisam de energia quando menos se consome por aqui.

A Escandinávia opera com essas características. Estados Unidos e Canadá também têm uma razoável integração energética, assim como parte da União Europeia.

CLAUDIO HUMBERTO


O PT e Haddad em SP

Subiu no telhado a candidatura à prefeitura de São Paulo do ministro Fernando Haddad (Educação), daí o adiamento de sua saída do governo, prevista por ele mesmo para meados de janeiro. Há dias, Haddad disse que Dilma havia solicitado para ele "ficar mais um pouco" no cargo. A ideia foi de Lula, agora pessimista com as pesquisas e a falta de entusiasmo da militância, que prefere Marta Suplicy na disputa.


Brastemp

O ex-presidente Lula forçou a barra no PT para entronizar Fernando Haddad como candidato, mas concluiu que ele não é nenhuma Dilma.


Sem discurso

Quando escolheu sua chefe da Casa Civil como sucessora, Lula tinha o que dizer de sua capacidade como gestora. Já sobre Haddad... Sua gestão no Ministério da Educação é marcada por vexames nas provas de avaliação e por polêmicas desnecessárias, como o caso do kit gay arquivado por Dilma.

Última chance

As próximas pesquisas sobre a disputa paulistana definirão o futuro da candidatura Haddad. Se não der sinal de vida, será sepultada.


Vigarice

E-mail atribuído ao senador Cristovam Buarque (PDT-DF) pediu a instalação de "orelhão" em uma área invadida por duas dezenas de índios retirantes, de vários Estados, no Noroeste, novo bairro de Brasília, e agora alegam que o local é "território sagrado". Trata-se de uma vigarice: não há registro de índios na região onde a cidade foi erguida. Nem mesmo a Funai reconhece legitimidade na ocupação.


Golpe

O pedido de "orelhão" pode ser golpe: a implantação de serviço público pretende configurar o reconhecimento de suposto direito dos invasores.


A conta é nossa

Avaliação técnica preliminar indica a necessidade de 2,5km de cabos para instalação do "orelhão" pretendido. Tudo por conta do contribuinte.

Vale-tudo

Políticos oportunistas e manifestantes profissionais, velhos conhecidos dos brasilienses, e até estudantes ingênuos apoiaram os invasores.


Balança petista

Para o líder do PT, Paulo Teixeira (SP), a queda de braço para sucedê-lo na liderança "está bem equilibrada". De um lado, José Guimarães (CE) tem apoio do líder do governo, Cândido Vaccarezza. De outro, Jilmar Tatto (SP) é o nome do presidente da Câmara, Marco Maia.


Oposição

A fraca oposição do PSDB ao governo Dilma Rousseff virou motivo de piada entre assessores governistas: não tem Aécio, nem Serra, nem Sérgio Guerra... Agora é só Alvaro todos os Dias.


Vigilância

Os agentes da Polícia Federal que tentam combater o tráfico nas fronteiras querem ver a cor do investimento de R$ 670,6 milhões, anunciado pelo governo, com o mote "crack, é possível vencer".


Fronteira

Mas craque mesmo até agora só a PF que usa o próprio celular com ligação a cobrar para pedir reforço nos rincões do Acre, Amazonas e Mato Grosso do Sul. Faltam aviões, barcos e até internet na fronteira.


Malemolência

Pelo passo de cágado da reforma ministerial, nunca foi tão atual a máxima do saudoso ex-governador de Minas, Magalhães Pinto: "No Brasil nada se resolve entre o Natal e o Carnaval".


Pedra no sapato

O ex-presidente da OAB Cezar Britto será advogado nos processos da ProtecBag contra a Truestar, empresa italiana de Paolo Berlusconi que paga aluguéis mais altos para desalojar a concorrência nos aeroportos. A ProtecBag implantou a embalagem que protege malas de violações.


Roqueiro

Diretor da Associação dos Juízes Federais, Fabrício Fernandes Castro é conhecido no Rio, onde reside, como "roqueiro de garagem". Nos fins de semana, ele não larga a guitarra exceto em dia de jogo do Vasco.


Agora vai

O presidente do Haiti, Michel Martelly, anunciou na TV Telesur que quer ser membro efetivo da Aliança Bolivariana para as Américas (Alba). Ótimo: vai pedir ao Chávez. O Brasil já deu muito.

PODER SEM PUDOR

Imune a vigarices
A mais manhosa de todas as raposas da política mineira, José Maria Alckmin (PSD) certa vez foi procurado por eleitor:
- Sabe, deputado, minha mulher acaba de dar à luz e eu não tenho um tostão para pagar o médico nem para comprar umas roupinhas. Aí, eu pensei em procurar o senhor e...
O político percebeu que estava prestes a ser vítima de um golpe e cortou:
- Meu filho, se você teve nove meses para se preparar e está desprevenido, imagine eu, que fiquei sabendo agora...