segunda-feira, maio 04, 2009

FERNANDO DE BARROS E SILVA

O Novo Estado de Lula


Folha de S. Paulo - 04/05/2009
 

Para um governo que se empenha em misturar pão e circo, as comemorações do 1º de Maio cumpriram a sua parte: entre shows e sorteios, sobraram palavras de elogio ao Estado nos eventos das centrais sindicais. Justo.
Em 2008, elas receberam só de imposto sindical quase R$ 150 milhões livres de qualquer fiscalização (10% do que foi descontado de forma compulsória do trabalhador) -uma inovação do lulo-getulismo.
Foi-se o tempo em que a CUT brigava para libertar o sindicalismo da tutela estatal e a Força pregava contra ideologização da pauta trabalhista pelo PT. Hoje estão unidas e satisfeitas sob o mesmo guarda-chuva, usufruindo o peleguismo de resultados. Reclamar do quê?
Quem aproveitou para reclamar no 1º de Maio foi Lula, mas da "hipocrisia" dos que se levantam contra o descalabro do Legislativo. E por que decidiu comprar essa briga, desqualificando a justa indignação do público? Defesa da democracia?
Antes fosse. Lula ouviu um apelo dos amigos José Sarney e Michel Temer, segundo quem a pressão popular por compostura está deixando muita gente insatisfeita no Congresso e isso cria riscos para o Planalto. Afinal, quem quer uma CPI da Petrobras, por exemplo?
Uma mão suja a outra, por assim dizer. Os eventos do 1º de Maio nos dão um retrato polaroid do lulismo.
Não se trata só de cooptação e aliciamento. Este é o governo do arrastão. De Sarney a Paulinho, do Congresso aos sindicatos, dos usineiros ("heróis nacionais") ao MST, dos banqueiros à massa miserável do Bolsa Família, dos empreiteiros (que ressuscitaram) às ONGs que beliscam as bordas do Estado -todos parecem participar da nova comunhão nacional, uma espécie de "CarnaLula" que prescinde de regras claras e tripudia da moral.
Pai dos pobres, mãe dos ricos. Só por preguiça mental ou má-fé alguém ainda chama isso de esquerda. Reinvenção do patrimonialismo com ganhos sociais, esse arremedo do getulismo tem data de vencimento e alto custo institucional. Quem é que vai pagar a conta?

ANCELMO GÓIS

Convite recusado


O Globo - 04/05/2009
 

O Itamaraty, por causa das manifestações racistas de Mahmoud Ahmadinejad, tenta dar à visita do presidente iraniano, quarta, dia 6, um caráter estritamente econômico. Mas ainda assim não é fácil. 

Segue... 

Pelo menos uma das maiores empresas brasileiras, mesmo com grandes negócios no mundo árabe, se recusou a participar de um encontro de empresários com Ahmadinejad. 

Teme melindrar os EUA, onde também tem negócios, e a comunidade judaica brasileira. 

Deu na concorrência 

Até o "Chicago Tribune", jornalão da cidade americana que disputa com o Rio a vaga de cidade-sede das Olimpíadas de 2016, registrou a boa impressão causada pela cidade aos integrantes do comitê de avaliação do COI, que passaram por aqui na semana passada.

E o delegado vai? 

O PSOL organiza um ato contra o ministro Gilmar Mendes e pela ética na Justiça, em frente ao STF, quarta, dia 6. 

Resta saber se o delegado Protógenes Queiroz, xodó do partido, vai. Ele prendeu Daniel Dantas e Gilmar soltou.

De Mr. Link a Tupi 

Lula foi buscar no fundo do baú, sexta, na festa que marcou o início da exploração do supercampo de Tupi, a "Marcha da Petrobras", de Luiz Gonzaga, Nelson Barbalho e Joaquim Augusto, gravada em 1959. 

A música exalta as descobertas de óleo em Candeias, Maceió e Nova Olinda. 

Só que... 

No caso de Nova Olinda, no Amazonas, ocorreu uma grande frustração. Em 1955, se dizia que lá havia mais petróleo do que na Venezuela. Os presidentes Café Filho e JK foram à cidade bater bumbo. 

Mas, depois de perfurar seis poços, o geólogo americano Walter Link, diretor de exploração da Petrobras, concluiu que Nova Olinda não tinha óleo em quantidade comercial. 

No mais 

Veja um trecho da música de Gonzagão: "Brasil, meu Brasil/Tu vais prosperar, tu vais/Vais crescer inda mais/Com a Petrobras".

Ponto Final

Lula : " Não acho crime deputado dar passagem"

O imenso prestígio de Lula reflete, naturalmente, as suas qualidades. Ele é o cara. Mas volta e meia o presidente usa sua popularidade para defender a velha política. Foi assim quando saiu em defesa de Renan Calheiros, Jader Barbalho, Severino Cavalcanti, etc. É pena.

RICARDO NOBLAT

A cara do cara


O Globo - 04/05/2009
 

 "Se o mal do Brasil fosse esse, o Brasil não teria mal" ( Lula, a propósito da farra de passagens aéreas no Congresso)

 
“Ainda vou criar o Dia da Hipocrisia”, debochou Lula do auê em torno do uso ilegal por parlamentares de passagens aéreas pagas pelo Congresso . Tolice. O “Dia da Hipocrisia” é todo dia. E Lula, que chegou ao poder apontando o Congresso como reduto de 300 picaretas, é forte candidato a sair de lá como um caro símbolo da hipocrisia nacional.

Fernando Henrique Cardoso não sugeriu certa vez que esquecessem parte do que escrevera no passado? Pois bem: ou Lula retira sua famosa crítica aos picaretas do Congresso que “só pensam nos seus próprios interesses” ou escuta calado que ficou com a cara deles. O poder cobra um preço alto aos que o exercem. Para governar, Lula escolheu se aliar aos picaretas do Congresso, satisfazer seus desejos e até a sair em sua defesa. Foi o que fez novamente na semana passada sem trair o menor sinal de vergonha.

Depois de o Senado e a Câmara dos Deputados reconhecerem que a esbórnia por lá estava demais, e de anunciarem algumas providências para contê-la, surgiu Lula a destilar um monte de sandices. A primeira, por esperteza, a seu favor: “Não acho um crime um deputado dar uma passagem para um dirigente sindical ir a Brasília”. Ele já deu. A segunda em favor dos seus sócios: “Graças a Deus, nunca levei nenhum filho meu para a Europa. Mas um deputado levar a mulher para Brasília, qual é o crime”?

O crime é o seguinte, presidente: no Direito privado, tudo o que a lei não proíbe pode ser feito. No Direito público, só pode ser feito o que a lei expressamente permite. E a lei não permite o uso por particulares de passagens aéreas fornecidas pelo Congresso a senadores e deputados para viagens regulares entre Brasília e seus estados — com uma passadinha no Rio de Janeiro, é claro, que ninguém é de ferro. Quem paga as passagens somos nós, pagadores de impostos. Entendeu, presidente? Ou quer que desenhe?

Pouco importa que o desrespeito à lei fosse antigo. A antiguidade não desidrata o desrespeito nem absolve o crime cometido. Senadores e deputados se dizem perplexos com a reação da sociedade às suas velhacarias. Coitadinhos... Morro de pena deles. Não se deram conta a tempo de que a sociedade está mudando — mais devagar do que seria desejável, mas está. E que agora presta atenção ao que antes desprezava. Levem a internet a sério, seus estúpidos. Metade — ou mais — dos brasileiros está ligada nela.

Lula assegurou seu lugar na História por uma série de bons motivos. Evitou inovar em matéria de política econômica. O país cresceu. Pôs os pobres em definitivo na agenda nacional. E se conformou com os dois mandatos consecutivos previstos na Constituição. Mas é fato que também passará à História por ter sido um presidente tolerante, relapso e até mesmo cúmplice em episódios que só serviram para aviltar a política e seus principais atores. Exemplos? Poupem-me. Eles existem a mancheias.

Sem pressa alguma - Vinculada ao presidente da República, a Comissão de Ética Pública tem como missão “zelar pelo cumprimento do Código de Conduta da Alta Administração Federal, orientar as autoridades para que se conduzam de acordo com suas normas e inspirar assim o respeito no serviço público”. Seus sete membros se reúnem mensalmente e produzem uma ata. Sete, não. Em junho de 2007 só eram cinco. Do ano passado para cá, quatro — sendo que um deles, com a saúde frágil, é consultado por telefone. As atas de 2009 permanecem inéditas até aqui. Cabe ao presidente da República indicar os membros da comissão. Lula não tem a menor pressa para preencher as vagas abertas.

SUPER TRANSA

DESAGREGADOR

EDITORIAL

O Globo - 04/05

Venezuela e Mercosul

 

O Itamaraty teria aconselhado o presidente Hugo Chávez a fazer nos próximos dias uma declaração simpática ao Senado brasileiro. Não se sabe que efeito poderia ter essa declaração sobre a opinião dos senadores, que decidirão sobre a entrada da Venezuela no Mercosul, já aprovada pela Câmara dos Deputados. O ideal é que os senadores recebam com simpatia a declaração, se ela de fato acontecer, mas não se baseiem nela para votar. Porque a Venezuela é conduzida por Chávez (mantidas as regras atuais, por tanto tempo quanto ele for reeleito) numa direção totalmente contrária ao espírito de integração sul-americana que norteia o Mercosul. E com um projeto próprio de poder. 

Que país ou bloco gostaria de negociar com um Mercosul que passasse a incluir uma nação cujo dirigente é o líder de uma corrente contrária aos EUA no continente? Talvez a este Mercosul, após o ingresso da Venezuela, só reste estabelecer acordos comerciais com países como Irã e Coréia do Norte. E não é a Venezuela a líder de um bloco que se afirma como alternativa "bolivariana" na América do Sul, que inclui Cuba, Bolívia, Equador, Nicarágua, Honduras, Dominica e São Vicente e Granadinas? Qual a característica comum entre os "bolivarianos" de Venezuela, Bolívia e Equador? A eleição para presidente de políticos autoritários que têm mostrado enorme disposição para fortalecer o Executivo, em detrimento do Legislativo e do Judiciário. O que mais longe levou essa corrosão do regime democrático é Hugo Chávez, rei de um sistema no qual chefes do Executivo podem se reeleger tantas vezes quanto conseguirem, a oposição é pisoteada, a liberdade de expressão e de imprensa, perseguidas e a iniciativa privada, esmagada, sob estatização galopante. 

O ministro Celso Amorim defendeu, na Comissão de Relações Exteriores do Senado, a adesão da Venezuela ao Mercosul, por seu "valor econômico, estratégico e simbólico". Ninguém discute esse valor. O entrave não se chama Venezuela, mas Chávez.

RUBEM AZEVEDO LIMA

Necrofilia e justiça


Correio Braziliense - 04/05/2009
 

Depois de guardar, durante um mês, segredo sobre seu estado de saúde, a ministra Dilma Rousseff revelou, a conselho de Franklin Martins, ministro da Comunicação Social, ser portadora de câncer linfático, o que a obrigou a remover um tumor no ombro.


Tal revelação comoveu o país, ao ressaltar o espírito guerreiro da ministra, candidata virtual à Presidência da República, lançada pelo presidente Lula. Em geral, políticos nunca se declaram doentes, por saberem que o eleitor costuma não votar em candidato sobre o qual paire a suspeita de ter a morte à cabeceira. 

Isso, portanto, implicaria grave risco eleitoral. Petrônio Portela, julgado por Geisel o civil ideal para suceder ao general Figueiredo, escondeu seu infarto até o fim. Tancredo Neves, eleito presidente pelo Congresso, forçou os médicos a silenciarem sobre sua diverticulite, com receio de não lhe darem posse. O deputado José Bonifácio, infartado, chamou ambulância para a esposa, a fim de parecer não ser ele o enfermo. 

A exceção foi o senador Teotônio Vilela que, com câncer terminal, pôs o mandato e o resto de sua vida de lado e correu o país, pregando anistia aos punidos pelo regime de 64 e a volta à democracia. 

Agora, ao revelar-se cancerosa, na mesa com uma equipe de médicos, a ministra reiterou, estoicamente — e esses profissionais haviam garantido, pouco antes —, que seu mal tinha mais de 90% de chances de cura. Por isso, ela não mudaria de hábitos. 

Parabéns, ministra. Bem avisados pelo ministro — não fosse ele da Comunicação —, o país e o repórter desejaram-lhe breve cura. Mas não se esperava que ela e Lula, no dia seguinte, em Manaus, usassem o câncer politicamente. Os políticos contiveram seu apetite macabro e calaram sobre nova candidatura ou vaga à vice-presidência na chapa oficial. Lula, não: exaltou Dilma, ao falar da improvável doença mortal da candidata, comovendo o público assustado, às portas do inferno da gripe suína. 

Tal necrofilia eleitoral, a destempo, viola a lei e ofende o Judiciário. Como se nesse pilar da democracia urinassem os cães e ali se atirassem sapos e lagartos, que outros poderes não digerem. A que chegamos!

INFORME JB

Última chamada para o embarque

Leandro Mazzini

JORNAL DO BRASIL - 04/05/09

O brigadeiro Cleonilson Nicácio, presidente da Infraero, vai ter o mérito de sair do cargo com um trabalho que foi considerado uma "despolitização" da estatal. Mandou para a rua, semana passada – conforme adiantou a coluna – algo em torno de 250 funcionários contratados sem concurso. Tinha nas mãos um levantamento feito pelo setor de inteligência sobre os apadrinhados políticos que nada faziam a não ser abocanhar altos salários. O próprio Nicácio vistoriou todos os 67 terminais administrados pela estatal e conheceu alguns desses empregados. Mandou para casa afilhados políticos de deputados e senadores do PT, PMDB e outros partidos da base. A chiadeira vai ser grande esta semana nos bastidores. E, espera-se, até na tribuna.

A outra Troca-troca

Mais uma sósia de Dilma Rousseff, a exemplo do publicado na foto de ontem. Esta aí é a Margarida Salomão, ex-reitora da UFJF. Ela concorreu à prefeitura de Juiz de Fora ano passado e perdeu. Mas manteve o estilo tailler vermelho, mesmo penteado e as feições que lembram a ministra. Foi chamada de Dilma de JF.

A direção nacional do PT já encontra dificuldades para alianças ano que vem, para os palanques com o PMDB em dois estados importantes. No Rio, o petista Lindberg Farias, prefeito de Nova Iguaçu, não abre mão da candidatura ao governo. Na Bahia, o peemedebista Geddel Vieira Lima, ministro da Integração Nacional, também quer o governo.

Daí...

Geddel e Lindberg, por mais aliados que sejam de Dilma Rousseff, candidata do presidente Lula à sua sucessão, são os maiores obstáculos de uma aproximação total dela com o PMDB.

Para variar

Os governadores Sérgio Cabral (PMDB) e Jaques Wagner (PT) têm reclamado muito disso com as direções de seus partidos. E com a cúpula dos aliados.

Então...

As executivas do PT e do PMDB entraram num acordo. Não têm outra alternativa a não ser negociar visando este cenário: estarão todos na mesma chapa, cada um para um cargo. O entendimento, por ora, vai mal. Todos querem os governos. Ninguém quer o Senado.

Lula na tela

Além de registrar os momentos pessoais e públicos do presidente Lula, o fotógrafo oficial do Planalto, Ricardo Stuckert, está levando uma minicâmera e tem filmado o chefe.

Lula na tela 2

O presidente, aliás, tem ligado toda semana para o irmão Frei Chico, que acompanha as gravações do filme Lula, o filho do Brasil. Pede relatório e se oferece sempre para ajudar em algo. O filme será lançado em janeiro.

Reformas

O senador Marco Maciel (DEM-PE) tem convencido colegas de que é preciso consenso para "realização de uma ampla reforma eleitoral no país". "Qualquer reforma eleitoral no Brasil só ocorrerá na medida em que o consenso seja previamente acordado pelos partidos que constituem a maioria das duas Casas". Mas, lamenta Maciel, sem consenso nenhuma reforma passa, como tem acontecido.

Terra firme

O governador Eduardo Campos, de Pernambuco, assinou, em Houston (Estados Unidos), um protocolo de intenções com um consórcio formado pela Galvão Engenharia e Alusa, para a construção de outro estaleiro no Porto de Suape.

Cobra, União

A Advocacia-Geral da União propôs 341 ações para recuperar em torno de R$ 55 milhões pagos pelo INSS a título de pensão por morte ou invalidez, referentes a acidentes de trabalho causados pela falta de segurança.

COISAS DA POLÍTICA

Uma maranha entretecida

Rodrigo de Almeida

JORNAL DO BRASIL - 04/05/09

É compreensível, mas provavelmente inútil, a reclamação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva contra a burocracia que "emperra o desenvolvimento". Lula fez a crítica durante visita à Coordenação dos Programas de Pós-Graduação em Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Coppe/UFRJ), na inauguração de laboratório voltado para os testes da camada pré-sal. O presidente ecoou outro discurso – o do professor Luiz Pinguelli Rosa, que criticou a "mentalidade persecutória" do Tribunal de Contas da União (TCU) – para dizer que a máquina de fiscalização tornou-se maior do que a máquina da produção: "Se Juscelino Kubitschek quisesse fazer Brasília nos dias de hoje, terminaria o mandato sem conseguir licença para fazer uma pista de pouso para seu avião estudar o Planalto Central", afirmou.

Há de se dizer que o presidente e seu governo pouco ou nada fizeram contra os tais entraves. Não foi o primeiro grito presidencial contra esse tipo de coisa. Em outubro do ano passado, Lula disse em discurso que o país vive uma "hipocrisia coletiva", pela qual "todo mundo tem medo de tudo e todo mundo é culpado antes de ser julgado", referindo-se ao fato de a máquina pública de fiscalização estar engendrada num jogo de desconfiança, no qual procedimentos burocráticos criados para proteger o Estado acabam sendo perniciosos e prejudiciais aos inocentes. Em outro discurso, lembrou que durante dois anos tentou trocar os microfones dos púlpitos em que fala por lhe dificultarem a leitura de discursos.

Com os púlpitos, os improvisos presidenciais dão um jeito. O problema fica mais sério quando a máquina esbarra no principal programa de desenvolvimento em curso no país, o PAC. É também a burocracia a principal explicação para a lentidão das obras de um programa cuja missão é não só inspirar uma atmosfera de investimentos e despertar o "espírito animal" dos empresários, tão necessário ao desenvolvimento, como combater os efeitos da crise com mais recursos públicos e privados. Em fevereiro, quando a crise parecia mais ameaçadora do que hoje, o presidente disse a 4 mil prefeitos presentes na plateia: "Nós cortaremos o batom da dona Dilma, o meu corte de unhas, mas não cortaremos nenhuma obra do PAC". Nem a piada à la Maria Antonieta deu jeito.

Há duas formas eficazes de manter a roda travada e impedi-la de seguir adiante. Uma delas é a barafunda de leis, posturas e códigos que fariam inveja aos proverbiais tormentos de Policarpo Quaresma, o funcionário público de Lima Barreto. Somando as normas de órgãos responsáveis pelo licenciamento de obras, como o Ibama (proteção ambiental), a Funai (se há índios na área) e o Iphan (se há patrimônio histórico), a órgãos de controle externo, como o TCU, a tarefa de investir transforma-se numa corrida de obstáculos. A outra forma está na política: a vasta rede de funcionários herdados das indicações dos partidos que integravam o governo anterior, hoje na oposição, espalhados por estados e municípios e que, em tese, são corresponsáveis pela desobstrução da máquina. Incluam-se na conta os próprios tribunais de contas, cuja horta é, em boa parte, regada por nomeados políticos, partidários aposentados ou simpatizantes de todas as cores. Meio caminho andado para a "mentalidade persecutória" descrita por Pinguelli.

Duas maneiras de enxergar e atacar a ineficiência do Estado são, por um lado, a prevalência de uma espécie de "fordismo" administrativo – a provisão de serviços padronizados e de baixa qualidade pelo aparato burocrático (há ilhas de excelência, é claro, como o Itamaraty e a Receita Federal) – e, de outro, essa faceta política instalada país afora. Um nó górdio duplo. Desatá-lo é condição fundamental para acomodar o desiderato banal da maximização da eficiência do Estado a um quadro de exigências democráticas fundamentais – o controle e a fiscalização dos gastos públicos e o aumento da transparência. Do primeiro nó, FHC tentou cuidar com a reforma do Estado de Bresser-Pereira, tentativa abandonada no segundo mandato tucano. O tema não entrou na pauta do atual governo Lula.

Com o outro nó, Lula cometeu um erro. Poderia ter seguido o exemplo de JK, a quem costuma citar com frequência. Mineira e malandramente, Juscelino soube tirar do campo das negociações políticas seu Plano de Metas. Udenistas & Cia poderiam atazanar a vida de qualquer outra intenção do presidente, e assim o fizeram, mas preservariam a galinha dos ovos de ouro do governo e do país. Lula não fez isso com o PAC. Deixou seu maior programa perdido em maranhas de toda ordem. Poderão pagar um preço alto pela inabilidade – governo e país.

GOSTOSA

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CARLOS EDUARDO NOVAES

O trivice

JORNAL DO BRASIL - 04/05/09

Sugiro que o Botafogo desista e não apareça mais para disputar decisões contra o Flamengo. Arranja uma desculpa, diz que trocou a data da final, que o ônibus da delegação foi assaltado, que pensou que o jogo fosse no Engenhão, qualquer coisa, mas pelo amor de Deus não apareça no Maracanã. Vai perder por W.O., como se dizia antigamente, mas pelo menos poupará seus torcedores da ameaça de um infarto. Constatou-se ontem que mais do que reforços, o Botafogo precisa mesmo é de um psicanalista que resolva seu complexo de inferioridade diante do Flamengo. Um psicanalista – e, se, possível, um bom orientador de cobranças de pênaltis.

Na verdade, o Botafogo fez tudo certinho para chegar ao tri-vice-campeonato. Começou lá atrás – como nos jogos anteriores – permitindo ao Flamengo alcançar a marca de 66% de posse de bola. O Flamengo, porém, não ameaçava, e o Botafogo, de olho no trivice, passou a parar as jogadas com faltas. Numa dessas aos 20 minutos o Flamengo fez 1 a 0, placar magro que não garantia o vice-título para o Botafogo. As faltas foram se sucedendo e aos 38 Kleberson marcou o segundo com a colaboração de Alessandro, que deve ter aprendido com Emerson a melhor maneira de deslocar seu goleiro.

Perdendo de 2 a 0, Ney Franco no segundo tempo tirou Emerson, que estava louco para fazer mais um gol e botou o Jean Carioca para garantir o terceiro vice-campeonato seguido para o Botafogo. Com menos de um minuto Victor Simões pensou um pouco e considerou que se marcasse o gol de pênalti, o Botafogo poderia partir para uma reação e perder o trivice. A partir daí – e por 20 minutos – o Botafogo assustou seus torcedores jogando como se quisesse ser campeão! Fez um gol, fez o segundo e, com medo de perder o tão sonhado vice, recuou. E voltou ao seu joguinho de sempre.

O Flamengo retomou o domínio da partida, tentou marcar de todos as maneiras, mas parece que não avisaram ao Renan, o filho do Obama, que o objetivo do Botafogo era o trivice. A decisão foi para os pênaltis e o Botafogo respirou aliviado, seguro que seu título estava garantido. Ninguém perde mais pênaltis do que o Botafogo! Foi uma surpresa quando Leo Silva marcou o primeiro – e certamente levou uma bronca do grupo. Juninho, porém, consertou as coisas e chutou – como em 2007 – para defesa do Bruno. Apenas um pênalti perdido, porém, não assegurava o trivice para o Botafogo. O garoto Gabriel descuidou-se e marcou o segundo, mas logo depois Leandro Guerreiro, para afastar qualquer dúvida, selou a sorte do seu time, que precisou perder três pênaltis para ficar com o trivice! Mas valeu o esforço.

Foi justa a vitória do Flamengo, que mostrou ao técnico Cuca que não era ele quem tinha vocação para vice. Cuca enfim pôde enriquecer seu currículo ao botar uma condecoração no peito. Quanto ao Botafogo, só lhe resta esperar pelo campeonato de 2010 para lutar pelo tetravice!

P.S:. Experimenta escrever alguma coisa com um bando de rubros-negros buzinando e gritando "Mengo" debaixo da sua varanda!

PAINEL

Fazer o quê?

RENATA LO PRETE

FOLHA DE SÃO PAULO - 04/05/09

Em depoimento que integra a investigação sobre o uso de ONGs ligadas ao PT para repassar recursos da Petrobras a festas de São João na Bahia, Rosemberg Pinto, assessor especial da presidência da empresa, disse aos promotores estaduais que não pode "exigir certidão ideológica" das entidades e que "não há impedimento legal" nessa forma de distribuição de dinheiro. O petista acrescentou que a Petrobras "está disposta a estabelecer critérios mais objetivos" para a concessão dos patrocínios no futuro. Mas, devido à proximidade do arraial junino, em 2009 fica tudo como está. O Ministério Público aguardará até o dia 11 para obter detalhes do repasse da verba neste ano.



Redução... Antes de assumir a defesa de João Carlos Zoghbi, Antonio Carlos Almeida Castro fez uma pergunta preliminar. Queria saber se o ex-diretor de Recursos Humanos pretendia envolver senadores na encrenca em que está metido. Zoghbi disse que não. E então Kakay, como o advogado é conhecido, aceitou a causa.


...de danos. Sobre o fato de ter ensaiado entregar um ou outro senador em entrevista à revista "Época", Zoghbi alegou que na ocasião estava muito alterado. Acrescentou que a incontinência verbal não irá se repetir. 

Síndico. Durante anos, o Senado não exigiu comprovante dos R$ 3.800 de auxílio-moradia. Quando assumiu a administração dos apartamentos funcionais, Mão Santa (PMDB-PI) pediu ao diretor-geral um raio-X dos imóveis. Até hoje não obteve resposta. 

Filtro. Em esforço concentrado para sair da mira da opinião pública, líderes da Câmara fizeram um pacto: só membros da Mesa Diretora devem falar sobre aumento salarial, mudanças na verba indenizatória e cota parlamentar.

Lipo. A comissão recém-criada na Câmara para redefinir o uso da verba indenizatória já esboçou providências: fim do auxílio-moradia de R$ 3.000, interrupção de assinatura de revistas, jornais e TV a cabo durante o recesso e redução da cota de correios. 

Dois pesos. Enquanto deputados operam nos bastidores para liberar o uso dos CNEs (Cargos de Natureza Especial) em gabinetes e comissões, há aprovados em concursos feitos justamente para atender demandas específicas das comissões aguardando chamado.

Polêmica... Encerrada a fase de consultas públicas, está pronto para ir ao Congresso o anteprojeto de lei que regulamenta os contratos por desempenho na administração federal. Trata-se da famosa emenda 19, bombardeada pelo PT como tentativa de "desmonte do Estado" quando foi aprovada em 1998, durante o governo FHC. 

...à vista. O texto estabelece bônus por desempenho da instituição, permitindo que parte da economia feita com medidas de eficiência retorne para o próprio órgão. Abre também a possibilidade de bônus para o servidor, similar ao PLR (participação dos empregados nos lucros e resultados) da iniciativa privada. E prevê punição para casos graves de má gestão. 

Teste. O Ministério do Planejamento espera alguma resistência dos sindicatos de servidores, mas avalia que a fase de consultas deixou claro que o projeto não ameaça direitos nem abre caminho para arrocho. "Do Bresser ao Zé Dirceu, todo mundo achou bom", diz um técnico. 

Números. O governo Serra assumiu gastos de R$ 127 milhões com publicidade nos primeiros quatro meses do ano. Os contratos têm validade até outubro. Para o ano todo, a expectativa de gastos é de R$ 227 milhões. 

Conta-gotas. A gestão de Roseana Sarney (PMDB) segue a tática de soltar a cada dia uma denúncia contra o antecessor, Jackson Lago (PDT), que teve o mandato cassado no Maranhão. O objetivo é minar a força que o pedetista conserva em redutos eleitorais importantes, como a populosa região de Imperatriz.

RUY CASTRO

Paisagem com figuras

FOLHA DE SÃO PAULO - 04/05/09

RIO DE JANEIRO - Em meados dos anos 60, o poeta João Cabral de Mello Neto jantava na cantina Fiorentina, no Leme, com seus colegas Fernando Pessoa Ferreira e Felix de Athayde, pernambucanos como ele. Em certo momento, ouviu-se um rumor na varanda e João Cabral perguntou o que estava acontecendo. "É o Chacrinha, que acabou de chegar", informou Fernando.
"Chacrinha? Quem é Chacrinha?", quis saber João Cabral. "É um apresentador de tevê, muito famoso", disseram. Cônsul do Brasil em Barcelona, com raras vindas ao Rio e famoso por não se interessar por música e por tomar dez aspirinas por dia para a dor de cabeça, o poeta estava por fora do que acontecia por aqui.
E, mesmo que estivesse a par, não podia haver ninguém menos Chacrinha do que João Cabral. Na sua poesia, grave e desidratada, as palavras eram de pedra, os cães, sem plumas, e as facas, só lâminas. Já Chacrinha era o barroco em Technicolor, embora a tevê ainda fosse em preto-e-branco. Apresentava os piores cantores do Brasil, atirava bacalhau para a plateia e promovia concursos de comer barata. Os comunicólogos ainda não o tinham descoberto como símbolo do "mau gosto genial".
Chacrinha entrou ventando pela Fiorentina, cercado de dez ou quinze assistentes. Ao se aproximar da mesa de João Cabral, estacou e olhou-o por um segundo. Então, abriu os braços e exclamou: "Cabral!!!". O poeta levou um susto, mas não deixou a bola cair: "Abelardo!!!". Levantou-se no ato e os dois se abraçaram, aos soluços.
O poeta João Cabral de Mello Neto -cujos dez anos de morte se completam em outubro próximo- e o apresentador Abelardo "Chacrinha" Barbosa, colegas de primário nos Maristas, de Recife, e que não se viam havia mais de 30 anos, tinham acabado de se reconhecer e reencontrar. É o Brasil.

FERNANDO RODRIGUES

Vício de origem no Parlasul

FOLHA - 04/05/09

BRASÍLIA - É positivo o Brasil continuar tentando avançar na integração formal dos países latino-americanos. A criação de um parlamento para o Mercosul é um estágio natural desse processo.
O Parlasul está prestes a se tornar uma realidade depois do acordo da semana passada no qual ficou acertada a divisão de suas 99 cadeiras iniciais. A boa notícia é o Brasil ter reduzido sua cota prevista de 75 para 37 vagas -menos bocas para o contribuinte alimentar.
O número seria suficiente não fosse por um aspecto: com 191 milhões de habitantes (79,2% do Mercosul), o Brasil terá apenas 37% do poder de voto no Parlasul. Já o Uruguai (1,5% da população do bloco) e o Paraguai (2,8%) ficarão com 18 vagas cada um. Ou seja, terão relativamente muito mais força de decisão do que o Brasil. A Argentina (16,6% da população) também saiu ganhando, com 26 cadeiras.
O senador Aloizio Mercadante (PT-SP) esteve à frente da negociação das vagas do país. Seus argumentos: 1) ninguém aceitaria a prevalência de um único sócio (Brasil) por causa do seu tamanho e população; 2) é necessário avançar na integração e haverá compensações até 2014, quando subirá o número de vagas brasileiras; 3) no Parlamento Europeu também há distorções, pois a Alemanha (o mais rico e populoso) aceita dar poder a nações de menor influência.
O Parlamento Europeu, para começar pelo último argumento, há anos sofre para se firmar exatamente pela crise de representação. O Parlasul opta por copiar um modelo defeituoso. Será inviável politicamente retirar mais adiante o poder hoje concedido a Uruguai e Paraguai. Assim como é inimaginável o Congresso Nacional eliminar as (incríveis) oito vagas de deputados federais eleitos por Brasília.
Tal como está sendo concebido, com um vício de origem insanável, o Parlasul pode se tornar um organismo inútil. Ou, pior, um pesadelo para o futuro do Mercosul.

MENGO


SEGUNDA NOS JORNAIS

Globo: Pentatri

 

Folha: MEC propõe mudar o ensino médio

 

Estadão: Bancos públicos avançam no crédito

 

Correio: Casos suspeitos de gripe no DF

 

Valor: Paraguai contesta dívida de US$ 4,19 bi com Itaipu

 

Gazeta Mercantil: Turismo assume vocação para negócios como antídoto a crises

 

Jornal do Commercio: Gripe chega à América do Sul