domingo, dezembro 01, 2013

De pés descalços - MARTHA MEDEIROS

ZERO HORA - 01/12

Para quem vive em locais quentes e com praia, andar de pés descalços não é nenhuma novidade. Já para nós, gaúchos, que passamos a metade do ano usando botas e sapatos fechados, a chegada do verão resgata o prazer de receber diretamente do solo a energia vital que circula pelo corpo todo. Posso estar dando uma importância excessiva ao fato, mas é que andar de pés descalços me remete ao menino das selvas que habitou minhas fantasias da infância, o Mogli. Sapatinhos de cristal sempre me pareceram afetados e apertados demais.

Porém, só fui me dar conta disso, conscientemente, agora, depois de ter feito a viagem pela Tailândia e Camboja que já mencionei na coluna de quarta-feira passada. O que menos levei na bagagem foi algo para calçar. Apenas um chinelo para o dia, uma rasteirinha para a noite e um par de tênis para as aventuras mais radicais – inclusive os tênis ficaram por lá: não sobreviveram às emoções off road vividas de bicicleta em torno do templo de Angkor nesse finalzinho da estação das chuvas cambojanas.

Na Tailândia, o convite para deixar os calçados na porta, antes de entrar nos lugares, é frequente, e isso me fez ter contato direto com a madeira, com o mármore, com pedras rústicas e, principalmente, com a terra: visitando plantações de arroz, andando de barco por aldeias flutuantes, visitando templos e palácios, e mesmo em restaurantes, meus pés reaprenderam a sentir, e não falo de sentir vergonha, ainda que devesse, já que os meus são poucos inspiradores para fetiches. Falo em sentir um grau de pertencimento que o costume e o conforto geralmente impedem.

Se nas vilas e cidades tive o mundo aos meus pés, o que dizer das praias de Krabi, Koh Phi Phi e demais ilhas paradisíacas do sudeste asiático? Pisava na areia de dia e inclusive à noite, jantando a poucos passos do mar, monitorada pela lua. Nem mesmo pés-de-pato coloquei para mergulhar.

Está aí o verão, que nos Estados do norte e nordeste do Brasil não é uma temporada tão diferente do inverno. Nesses casos, os pés descalços já fazem parte da indumentária habitual. Mas para os que têm apenas esses próximos meses para descer do salto, é hora de conceder-se a delícia de sentir o calor e o frio que vem da base. Perceber o seco e o úmido, o macio e o árido, o liso e o áspero – que absorvamos todas as texturas, sem se importar que esse despojamento nos roube a classe e o charme: aliás, rouba nada, a meu ver. Se, em sentido figurado, somos obrigados a manter os pés no chão o ano inteiro, que o façamos agora também literalmente, pelo simples e relaxante exercício de uma liberdade que anda cada vez menos em uso.

Gugu dadá - FÁBIO PORCHAT

O Estado de S.Paulo - 01/12

Sabe quando uma criança fica enchendo o saco do pai porque quer porque quer mexer no celular dele, e o pai pega um celular velho e quebrado, dá pro filho e fala: toma, pode brincar? Daí o filho se fecha em seu mundo brincando com o aparelho estragado, mas crente que está falando com o mundo todo? Isso é exatamente o que eu penso que é a tal famigerada Comissão de Direitos Humanos e Minorias presidida pelo deputado, barra pastor, barra polêmico, barra (preencha a lacuna com o que quiser) Marco Feliciano.

Já reparou que tudo o que foi aprovado e decidido por essa importantíssima comissão nunca deu em nada na prática? Não foi adiante e nem gerou nada, além de barulho na mídia. Nunca nem tramitou na Câmara nada do que eles decidiram. Tudo aquilo que foi posto em discussão por eles parou um metro e meio depois.

Eles só se apegam a assuntos de interesses próprios. E têm uma fixação com gays. Meu Deus, tudo são os gays. Eles não podem casar, eles não podem entrar em cultos, eles não podem se beijar, eles não podem, eles não podem, eles não podem... Nunca é uma decisão que os gays possam alguma coisa. É sempre proibindo. Curioso uma comissão que cuida dos direitos humanos ficar impedindo pessoas de serem livres.

Eu acho que, na real, ninguém leva muito a sério o que esse pessoal do CDHM fala, sabia? Eles são meio café com leite, tadinhos... É como se quem tá na Câmara e no Senado fosse os adultos recebendo os amigos em casa e os membros da comissão fossem as crianças brincando no quarto. Fazem barulho, se divertem, convivem no seu próprio mundo de fantasia, mas não representam nada de muito relevante pra ninguém, a não ser entre eles mesmos.

E repare que, como as crianças, eles acreditam de verdade naquilo que estão fazendo. Se dão muita importância, acham que estão vivendo a vida, quando na verdade estão só passando o tempo. A população não dá a mínima pra eles, o governo não dá a mínima pra eles, mas, afinal, quem dá alguma coisa por eles? Eles estão lá, claramente, para ocupar algum buraco.

Pensando nisso, eu sugiro a criação de mais comissões. Comissões para encostarmos uns Sarneys e Malufs da vida. Que tal? Comissão das Decisões Éticas e Corretas, presidida por Anthony Garotinho. Comissão da Importância da População para o Desenvolvimento do Estado, presidida por Roseana Sarney. Comissão da Tolerância e do Respeito, presidida pelo Bolsonaro. Aí fica toda essa corja num canto brincando de achar que decidem alguma coisa, enquanto aquela meia dúzia que presta toma as decisões de verdade.

Água de beber - ADRIANA CALCANHOTTO

O GLOBO - 01/12

Não, obrigada, só uma garrafinha de água na temperatura ambiente. Sem gelo, sem gás, sem limão, sem glúten, sem lactose, sem graça nenhuma, insípida inodora e incolor


No camarim, de vestido de cauda longa, brincos de família e sapato da sorte, aguardo a hora de ser chamada para fazer uma participação especial em um evento muito legal sobre A ÁGUA BOA.

Sentada em uma poltrona de napa branca, observo as pessoas entrarem e saírem do camarim de alguém que vai trocar de roupa. Ninguém bate na porta, impressionante, a pessoa entra e bate a porta quando sai. O camarim tem duas portas, uma à minha direita, a outra à esquerda. Então entram por uma porta e saem pela outra como se o lugar onde a cantora vai se trocar fosse um corredor. Já estive em camarins com duas portas e precisaria de um caderno inteiro do jornal para contar (o que pudesse ser contado).

Um pouquinho estranho, ao chegar nesse, ver sobre uma mesa de madeira com lindíssimas orquídeas quatro garrafas de água mineral, bem geladas, e só. Tenho exigências simples para o camarim, tipo nozes, mel, frutas da estação, Romanée-Conti para as visitas, um casal de tigres de Bengala, umas mulatas, mas, sobretudo, água natural. Ou seja, água na temperatura ambiente, em Teresina ou em Toronto. É a coisa mais importante de todas para a voz, além do sono.

Entra sem bater um rapaz bonito e dispõe algumas taças de vidro sobre a mesa. Na outra porta alguém enfia a cara e pergunta “tá tudo bem aí?”. “Tranquilo”, digo eu. “Precisa de alguma coisa?”. “Água, natural, se possível…”. ”Água?”. “Por favor”. “Claro, vou buscar”, blam. Uns dez minutos e entra alguém pela esquerda que pergunta “Quer alguma coisa? O que você precisar é só pedir…” Aceito uma água natural por fav…” Com gás?”. “Não, obrigada, só uma garrafinha de água na temperatura ambiente. Sem gelo, sem gás, sem limão, sem glúten, sem lactose, sem graça nenhuma, insípida inodora e incolor…” Alguém enfia a mão na porta da esquerda e instala um pacotão de garrafinhas embaixo da mesa, iguais àquelas quatro primeiras, só que estas estão, agora sim, inteiramente congeladas. Entra pela direita um moço muito gentil que traz numa bandeja uma garrafa de vidro, não de plástico como as outras, com água, na temperatura ambiente. Deposita sobre a mesa. “Obriga…” blam. Levanto devagar até a garrafa, testo com a palma da mão, está perfeita. Ah, mas a garrafa está fechada. Deixa ver… Cadê o abridor? Não tem. Ele esqueceu de abrir a garrafa ou esqueceu de trazer o abridor? Um dos meus meninos aparece e tenta abrir a garrafa na mão, no dente, impossível, mando parar, não estou vestida para estar, daqui a meio minuto, de quatro, com minha cauda de seda e brincos de família debaixo da mesa catando dente de menino nenhum. Não há como abrir a garrafa na porta, aquele velho truque, porque o camarim-corredor é feito de paredes divisórias, sendo por isso que quando alguém bate a porta quando sai, blam, as quatro paredes tremem como se um lobo mau estivesse soprando a pobre casinha. Entra um terceiro moço com um balde de gelo, com quatro garrafas de vidro dentro, geladas, duas sem gás, garrafa transparente, duas com gás, garrafa verde-garrafa. Digo “obrigada. Você, por gentileza, me arranjaria um abridor de garrafas?” “Oi? Um abridor a senhora quer?”. “Sim, as garrafas de plástico estão muito geladas, gostaria de água natural, desta garrafa aqui, mas preciso do abridor, você, que é garçom, não teria algum aí, por acaso?” “Tenho não, senhora…” “Mas não poderia trazer um abridor pra mim, por favor?”. “Claro! Está precisando de mais alguma coisa? Algo especial?”. “O abridor, seria incrível, obrigada”.

Os meninos técnicos começam a chegar para conferir meus fones de ouvido, cabos, microfones, tudo pronto. Rodrigo Pitta me chama para cantarmos juntos, justamente, “Água de beber”, de Tom e Vinicius. Minha garganta está colando, a boca seca, o lábio superior enrolado pra dentro na gengiva, todos os dentes de fora. Rodrigo me chama, cantamos Água de beber, Água de beber, camará, e foi muito divertido. Acabou, vamos embora beber uma água… peraí, o carro? Não? Alô? Não chegou? Alô? Onde está o carro? Ok. Está a caminho. Ok. “Adriana, você espera aí, parada.” Ok. Alô? Ok, ok.

De pé, perto da porta de saída, com três seguranças de terno preto ao meu redor, parecendo anúncio de perfume, paciente espero. Um deles de vez em quando põe o nariz pra fora: “o carro não chegou e ainda tem umas quatro mil pessoas aí fora, melhor a senhora ficar por aqui mesmo”. O que está a meu lado sai. Volta rápido e me alcança um copo de água na temperatura ambiente. Primeiro vou beber a água para logo em seguida beijá-lo na boca. Dou um gole grande, de água na temperatura ambiente… com gás. Já beberam um gole grande de água na temperatura ambiente com gás em dia tórrido? Sorrio agradecendo, com a boca cheia de bolhas quentes, tentando não espumar tudo em cima deles às gargalhadas. Parece que o carro está chegando. Ok? Ok. Chegou? Chegou. Ok? Ok. Por aqui, senhora, por favor. Por aqui. Essas cantoras da MPB, ai, como complicam.

Vivido e apagado - FERREIRA GULLAR

FOLHA DE SP - 01/12

Curioso, aproximei-me e senti aquele odor azedo e insuportável que emanava de dentro de seu paletó


Quando ouço alguém dizer que vai escrever suas memórias, fico admirado. Não sou capaz. Certa vez, me meti a fazê-lo e me dei mal, porque, do começo mesmo de minha vida, quase não me lembro de nada.

Com razão, o leitor melhor informado pode alegar que escrevi um livro de memórias, "Rabo de Foguete", e é verdade. Mas esse livro conta apenas coisas do meu período de clandestinidade, que vivi no Rio, e os anos de exílio passados em vários países.

Quando o escrevi, em 1998, aquela parte do passado ainda estava viva em mim. Aliás, embora minha memória seja precária, tenho mais facilidade em lembrar da vida adulta do que de meus anos de menino.

E quanto mais distante do presente, pior. De fato, do começo do começo não lembro de coisa alguma. Como disse, ao tentar resgatar esse período de minha vida, vi que não me lembrava de nada ou de quase nada.

Não sei se isso é assim mesmo com todo mundo. Lembro-me do soalho de casa, na rua da Alegria, da janela e da platibanda das casas em frente. Um flash desligado de tudo o mais. Meu quarto escuro, quase sempre fechado. A lembrança mais distante --que não sei se é lembrança ou sonho-- é uma cena, numa estrada, um automóvel enguiçado que meu pai dirigia. Era noite e havia luar. Só isso. Mas não lembro se meu pai possuía um automóvel nem que soubesse dirigir.

Outra lembrança está associada a um odor desagradável. Era o odor de um senhor que vendia joias a domicílio --creio que, na verdade, bijuterias, e que, certa tarde, bateu em nossa porta. Minha mãe foi atendê-lo, disse-lhe que entrasse, ele sentou numa cadeira e abriu a sua pequena maleta em cima dos joelhos. Curioso, aproximei-me e senti aquele odor azedo e insuportável que emanava de dentro de seu paletó.

Esse cheiro me marcou tanto que, toda vez que da janela o via passar na rua, tinha vontade de vomitar. Por isso, o associei a um urubu, muito embora nunca tivesse sentido o cheiro dessa ave. Mas um bicho que come carniça só pode cheirar mal.

Lembro-me às vezes das aulas na casa de Dona Elvira. Sua casa era a escola, onde eu, minhas irmãs e outras crianças estudávamos. Dessa casa, não sei por que, fui para a casa de outra professora, na rua dos Prazeres. Só mais tarde, meu pai me matriculou no Colégio São Luís de Gonzaga, o melhor da cidade, onde concluí o curso primário.

Daí, o que mais me lembro, além das orações, são as moscas que voejavam acima de minha cabeça, atraídas pelas feridas que eu tinha ali. Eu as espantava com as mãos, mas elas voltavam.

Acredito que a parte de minha vida de que mais lembranças tenho é da quitanda de meu pais, onde passava a maior parte do tempo, quando não ia à escola, ajudando no atendimento aos fregueses, particularmente aqueles que vinham tomar cachaça ou meladinha, mistura de tiquira com mel de abelha.

Mas o bom mesmo eram as conversas do pessoal, como Zé Dedão e o sargento Gonzaga, que saía sempre meio bêbado ao anoitecer. Meu pai participava ativamente da conversaria, e quase sempre fazendo piadas a respeito das histórias que ouvia, dando a entender que era tudo mentira.

Era a época da Segunda Guerra Mundial, em que o Brasil se envolveu. O noticiário, que o rádio transmitia, atraía a atenção de todos. Meu pai ligava o rádio, chamava o pessoal para ouvir as notícias, em meio às descargas da péssima sintonia. Ele afirmava que aquelas descargas eram tiros dos soldados guerreando. Não sei se acreditava no que dizia, se falava a sério ou de gozação. Mas o pessoal acreditava piamente.

Fora essas lembranças, guardei as de nossa casa na rua Celso de Magalhães, quase na Quinta dos Medeiros. Lembro da família à mesa do jantar, as irmãs cochichando e Bizuza resmungando por não se sabe o quê.

Mas particularmente me lembro das saúvas, que se instalaram no chão do quintal. O ninho ficava no fundo da terra, mas elas saíam em fila para buscar recortes de folhas que eram a alimentação da tribo.

Como havia uma lenda de que onde tem formiga tem dinheiro enterrado, convoquei as irmãs para descobrir esse tesouro. Cavamos, cavamos e não achamos nada. Tudo o que me veio dessa trabalheira foi um poema --poema concreto-- que é uma evocação daquela aventura infantil.

Peruca inteligente - RENATO CRUZ

O Estado de S.Paulo - 01/12

Essa história de computadores para vestir foi longe demais? A Sony pediu patente, nos Estados Unidos, de uma peruca inteligente. Os diagramas do documento mostram uma peruca que esconde pelo menos um sensor, uma unidade de controle e uma interface de comunicação. A peruca seria conectada, por tecnologia sem fio, ao smartphone, e avisaria o usuário, com vibrações, sobre a chegada de uma mensagem ou uma chamada telefônica.

O pedido de patente também prevê a possibilidade de a peruca ter localização via satélite (GPS, na sigla em inglês), capacidade de usar ultrassom para detectar objetos ao redor, câmera e apontador laser. Provavelmente o apontador não seria para isso, mas prefiro nem imaginar alguém fazendo uma apresentação em PowerPoint com uma luz que sai de sua cabeça.

Logo de cara, a ideia pode parecer ridícula. Não faria feio num livro sobre chindogu, as famosas invenções inúteis japonesas, como o chapéu com porta-papel higiênico para quem está resfriado, a gravata que também é guarda-chuva ou o sapato com escovas na sola para limpar o chão.

Não é nada disso. Ao que tudo indica, a ideia da Sony é oferecer essa peruca inteligente para pessoas idosas, com dificuldade de ouvir o celular tocando, de enxergar obstáculos ao seu redor e até de indicar as coisas com as mãos. Na verdade, essa história de computador de vestir está só começando. Os óculos inteligentes Google Glass vão estar disponíveis para venda no próximo ano. Até agora, a empresa liberou lotes iniciais para testes, a US$ 1,5 mil.

O Galaxy Gear, relógio inteligente da Samsung, foi lançado no Brasil e pode ser comprado por cerca de R$ 1 mil. Assim como o Glass (ou a futura peruca inteligente), funciona como acessório do celular, permitindo tirar fotos, interagir com aplicativos e até atender chamadas sem tirar o aparelho do bolso.

A Jawbone, que fabrica as caixas de som sem fio Jambox, vende uma pulseira inteligente chamada Up. Ela trabalha em conjunto com um aplicativo de smartphone e monitora os movimentos e o sono do usuário, para depois apresentar dicas para melhorar sua qualidade de vida.

A pulseira funciona com aplicativos de terceiros, o que permite fazê-la interagir com outras coisas conectadas à internet. Daria para programar, por exemplo, as luzes da casa se apagarem quando o usuário estiver deitado.

Hoje, aplicações como essa podem parecer muito trabalho para pouco resultado. Mas os computadores de vestir fazem parte da chamada internet das coisas, em que tudo estará conectado e a comunicação entre objetos vai automatizar várias atividades diárias, com redução de desperdício, melhora no uso do tempo e aumento do conforto e da segurança. É uma tendência que veio para ficar.

Saindo do armário - HUMBERTO WERNECK

O Estado de S.Paulo - 01/12

Já contei a história de um chefe de família de minhas relações que via no menor prazer um pecado - mas em cujo armário se veio a descobrir (fulminado por um derrame, o camarada estava fora de combate), camuflada atrás dos jaquetões, uma profusão de barras de chocolate que ele comia escondido de si mesmo. Não foi só: de uma gaveta até então indevassável, saltou uma família paralela, materializada em fotos, recibos de mensalidades escolares e prestações de eletrodomésticos. Como elemento revelador, sou mais o chocolate.

Também no armário do meu pai, um guarda-roupa de madeira escura, eu costumava encontrar (fuçador, minha mãe me chamava de "quati") modestas provisões de chocolate amargo da Bhering. No caso, porém, a guloseima (papai usava esta palavra) estava sempre à vista - era o quati abrir a porta e topar com a barra, virgem ou já encaminhada, envolta em sua embalagem negra.

Havia outros atrativos no tesouro, digo, no guarda-roupa do meu pai. Sobre ele, pegava poeira uma Flaubert, carabina calibre 22 que na adolescência me seria permitido utilizar. Na prateleira mais alta, ao lado de uma gaita de boca, jazia uma pistola Mauser, comprada como precaução na época em que nosso bairro era um ermo, e que, suponho, jamais cuspiu uma bala.

Mais à mostra, havia um frasco de colônia inglesa Yardley, da qual fiquei sendo o único usuário, pois meu pai, só nesse sentido, não era flor que se cheirasse. Não ligava para "essas coisas" - coisas essas que englobavam tudo o que ele vestia e calçava. Ao contrário do camarada do estoque de chocolate, não vinha com discursos moralistas, mas, como tantos machos de seu tempo, não se permitia preocupações com a aparência. Era um pouco para pirraçar mamãe que ele às vezes combinava cinto preto com sapato marrom. Seus ternos, à beira do lamentável, eram feitos pelo Clodoaldo, provavelmente o pior alfaiate de quantos tesouravam em Belo Horizonte. O que, para meu pai, não passava de detalhe irrelevante: mais importante que a qualidade do corte era o Clodoaldo ser "uma boa pessoa". Quando, aos 12 anos, precisei de meu primeiro terno, a mamãe não lhe deu tempo de sugerir: "O Clodoaldo, não!" E lá fui eu com o elegante vovô Santos rumo à Casa Guanabara.

Do outro avô, pai de meu pai, que não cheguei a conhecer, na família dizia ter sido um homem isento de vaidade. Varão de Plutarco!, ouvi exclamar um dos tios. Que diabo seria isso?, me perguntei, imaginando se teria algo a ver com aquele busto de bronze entre as árvores da praça Hugo Werneck, onde nasci. Busto, aliás, que em dias mais recentes desapareceu. Papai chegou a crer que tinha sido carregado por ladrões de metais, apenas menos ambiciosos do que os que fundiram o ouro da Taça Jules Rimet. Faria sentido, num país onde tanto quanto as montadoras prosperam as desmontadoras. Derreteram vovô, concluí quase melancólico. Mas não, de repente lá estava ele de volta, brilhante como terá sido em vida o homenageado.

Cresci achando que o vovô Hugo se vestia no Clodoaldo ou similar - até ler, já taludo, o que sobre ele escreveu o ex-aluno Pedro Nava. Em Beira-Mar, páginas e páginas são dedicadas a fustigar (mas também a louvar) o antigo mestre, de quem o memorialista foi admirador antes que um incidente na faculdade de medicina terminasse num estremecimento sem remédio. Contas feitas, o que salta desse livro é um retrato muito verossímil do avô desaparecido dez anos antes de meu nascimento.

Devo a Pedro Nava - e tive ocasião de lhe agradecer - o ter-me dado, em troca do busto de bronze, um avô de carne e osso. Pena eu não ter conseguido convencer meu pai a ler as passagens nas quais transparece, muito vívido, o herói que ele perdeu às vésperas de seus 16 anos. Figura à qual não faltava, descobri encantado, uma dose de legítima vaidade: conta Nava que era possível acertar os relógios pela pontualidade com que, a caminho do consultório, o professor Hugo Werneck fazia escala no Giacomo para renovar o brilho das botinas. Nem preciso dizer o quanto essa revelação veio confortar um neto que, menino e adolescente, sentia no ar uma condenação pesando sobre quem, como ele, ousava ligar para "essas coisas".

Esquemas - CAETANO VELOSO

O GLOBO - 01/12

Quem não viu 'Blue Jasmine', pare por aqui, ou pule para os parágrafos finais onde provavelmente estarei tratando de alguma outra coisa que não tem nada a ver com isso


O filme de Woody Allen com Cate Blanchett DuBois é bom, como tantos dizem, mas tem uma dramaturgia meio engraçada. Nem Walcyr Carrasco escreveria a cena do encontro entre a Wall Street Blanche e o ex-marido da exageradamente contrastante irmã, na porta da joalheria em que ela vai comprar, ao lado do novo amante que representaria sua redenção, o anel de noivado. (Escrevo sem o cuidado de ocultar detalhes que revelam o desfecho da trama. É para quem já viu o filme. Quem não viu, pare por aqui, ou pule para os parágrafos finais onde provavelmente estarei tratando de alguma outra coisa que não tem nada a ver com isso.) O ex-cunhado diz logo tudo o que destruiria o futuro casamento. É certo que ele tinha razões para querer vingança, mas a coincidência (assim como a da irmã que, em Nova York por poucos dias, vê o marido de Blanche Blue Jasmine levar uma amante até a esquina e beijá-la na boca) surge forçada como nas mais descaradas novelas. Sou um antigo detrator do estilo de Allen. Quando ele era adorado, eu implicava com o que me parecia careta demais em sua visão de mundo. “Mahattan” não tem nem um preto; os punks de “Hanna e suas irmãs” são retratados como aberrações uniformemente fabricadas; há a piada sobre Dylan em “Annie Hall”; Zelig espelha todo tipo de gente, nunca mulheres ou bichas; maconha é anátema; a música popular morreu desde os Beatles, tal como para Paulo Francis ou Ruy Castro; Barcelona e as coisas da Espanha são como “Bananas”. Eu era contracultura tropicalista. Tenho muita saudade de Teresa Aragão — e sofro em dobro por não poder dizer-lhe que hoje amo os filmes de Allen.

Na verdade, mesmo à época eu tinha consciência de alimentar uma implicância. Afinal, eu próprio gosto da música do período pré-Beatles com o mesmo entusiasmo que o diretor; detesto maconha ou qualquer droga que mude minha percepção; considero Nova York cidade minha, o lugar onde eu poderia viver fora do Brasil (se aguentasse os invernos). Comecei a gostar em “Radio days”, que, no entanto, eu caracterizava, com alguma razão, como uma miniatura de “Amarcord”. Justo um filme que os antigos amantes de Allen não curtiram muito: era já o começo do desencanto do público americano com seu gênio. Hoje gosto de quase tudo de Allen na TV. E, ao contrário de muitos amigos meus de Nova York, sou apaixonado por “Meia-noite em Paris”. Adoro “Tiros na Broadway” e já vi “Tudo pode dar certo” umas cinco vezes sem que em nenhuma delas pudesse conter as lágrimas ao ouvir a frase final dita por Larry David (ele diz, olhando para o espectador — isto é: para a câmera —, ser o único que vê a imagem inteira, na verdade “todo o filme”, já que “picture” também significa filme, sendo ali claramente frisada essa acepção da expressão inglesa corrente “see the whole picture”). E revejo com prazer qualquer uma das comédias que fazia questão de desprezar décadas atrás.

Os dramas são mais difíceis de engolir. Allen ele próprio diz que seu melhor trabalho é “Match point”. Que me parece uma refilmagem de “Crimes and misdemeanors”, um cinedrama de ideias, ou de tese, em que, como disse Pauline Kael, ele quer “nos ensinar não apenas o que já sabemos mas também o que já rejeitamos”. E com todas aquelas alusões a “Crime e castigo”. “Interiores” parece um congresso de antílopes, com todos sempre de bege. Mas, vamos lá, não são ruins de todo. E neste agora Cate Blanchet é tão bonita e tão naturalmente inteligente que quase tudo ganha profundidade. Mas eu fui um espectador incômodo, rindo em momentos sem intenção de comédia. É que o esquematismo é uma licença do cômico: no drama, pode bater forte demais em nossa credulidade. De todo modo, não atribuo exclusivamente a Cate os méritos citados: o diretor ama as mulheres e sabe filmá-las de modo a revelar-lhes os mais intensos encantos. Sérgio Mallandro, que também ama as mulheres, reconheceu o esquematismo do filme, mas o redimiu à sua maneira dizendo que ele traz a mensagem “O caguete tem que se foder”. “Ela”, Jasmine, “estava toda feliz naquela vida de rica. Foi dedurar o marido, terminou falando sozinha no banco da praça”.

O GLOBO botou que o ministro Gilmar Mendes contou casos judiciais de biografias vs privacidade na Alemanha, mas não transcreveu nenhum. Qualquer complexificação do tema causa alergia em jornalistas e editores. Tudo tem de ser mais forçado que as viradas de Allen. Bem, ele é o mais oscarizado dos roteiristas. A biografia de Hal e a história das biografias no Brasil são tratadas com mão pesada. Sou um ser estranho. Gosto da imprensa livre do Brasil e dos filmes de Allen. Mesmo não podendo conter o riso diante do que é inconvincente.

Democracia e falseabilidade - HÉLIO SCHWARTSMAN

FOLHA DE SP - 01/12

SÃO PAULO - Num gesto temerário, comento hoje a interpretação que um físico --David Deutsch-- faz das ideias políticas de um filósofo da ciência --Karl Popper.

Em "The Beginning of Infinity", Deutsch retoma alguns dos paradoxos matemáticos que assombram a democracia desde os tempos de George Washington e os "Founding Fathers" dos EUA, que jamais conseguiram encontrar uma fórmula justa para estabelecer a representação de cada Estado na Câmara de acordo com o total de habitantes. Em algumas situações, um Estado cuja população crescia mais acabava perdendo cadeiras. Hoje, graças ao teorema de Balinski e Young, de 1975, sabemos que a tarefa é mesmo impossível.

Deutsch, porém, vai mais longe e, valendo-se de outra prova matemática, o Teorema da Impossibilidade de Arrow, segundo o qual a soma das racionalidades individuais não produz uma racionalidade coletiva, coloca em dúvida a legitimidade da noção de escolhas sociais --o que tem profundas e pouco alvissareiras implicações para a democracia.

Para Deutsch, a resposta para o problema está em Popper. Em sua visão, a democracia é boa não porque represente a vontade do povo, mas porque é o sistema que mais facilita a remoção de políticas equivocadas e permite mudar governos sem violência. Se quisermos, é a aplicação, na política, das teses popperianas sobre a falseabilidade que fizeram tanto sucesso na epistemologia.

"A essência do processo decisório democrático não é a escolha feita pelo sistema eleitoral, mas as ideias que se criam entre as eleições (...) Os eleitores não são uma fonte de sabedoria da qual as políticas corretas podem ser empiricamente derivadas'. Eles estão tentando, e de forma falível, explicar o mundo e, neste processo, melhorá-lo", escreve Deutsch.

Se isso é verdade, progredimos mais quando despachamos governantes para casa do que quando os elegemos. E isso em todos os níveis.

Uuuuuuuuu... - LUIS FERNANDO VERISSIMO

O Estado de S.Paulo - 01/12

Vovó, você se lembra da sua

primeira vez?

- Primeira vez o que, minha filha?

- Que fez sexo.

- Uuuuuuuu...

- Faz tanto tempo assim?

- Espera que eu ainda não terminei. Uuuuuuuuuu...

- Foi com quem?

- Um cadete. Ele ia ser mandado para o front no dia seguinte e disse que queria levar com ele a lembrança da nossa última noite juntos. Não pude recusar. Dali a duas semanas recebi a notícia de que ele tinha morrido.

- Que front era esse, vovó?

- O front. Da guerra. Não me lembro qual delas. Fiquei chocada com a notícia e me internei num convento, onde fiquei pelo resto da vida.

- Vovó, você viveu num convento?

- Não vivi? Espera um pouquinho. Acho que estou misturando as coisas. Isso foi um romance que eu li. Ó cabeça.

- Então, quem foi o primeiro?

- O primeiro o quê?

- Com quem você fez sexo, vovó.

- Uuuuuuuuu... Deixa ver. Como era o nome dele... Gilbert qualquer coisa. Gilbert Roland!

- Acho que esse era um ator.

- Não, não, não. Era nosso vizinho. Nos encontrávamos no fundo do quintal, sob a goiabeira. Até hoje não posso sentir cheiro de goiaba que me lembro do Gilbert Roland. Foi o primeiro e o único. Nunca mais amei ninguém.

- Vovó. Você casou com o vovô. Teve cinco filhos com o vovô. Você amava o vovô.

- Tudo fingimento.

- E há quanto tempo você não faz sexo?

- Uuuuuuuuuuu...

- Com quem foi a última vez?

- Eu já era viúva. Um dia bateram na porta. Era o Juan Carlos da Espanha. Na época ele ainda era príncipe. Tinha errado de porta, estava procurando não sei quem. Mandei entrar e começamos a conversar. Assuntos gerais. Ele pediu para ver o meu quarto... E aconteceu. Nunca mais nos vimos. Mas ele não deixa de me escrever.

- Vovó, você tem cartas do rei Juan Carlos da Espanha?

- Estão por aí, em algum lugar.

- E são cartas amorosas?

- Uuuuuuuuuuuu...

Perspectiva histórica - JOÃO UBALDO RIBEIRO

O GLOBO - 01/12

Muitos de nós — inclusive eu, é claro — podemos estar chegando a conclusões ou fazendo comentários sobre o mensalão que se revelarão completamente equivocados



No domingo passado, andei repisando aqui umas verdades, bem sei que meio cediças, sobre como os contemporâneos dos fatos se enganam quanto às consequências ou a importância daquilo que testemunham. Tem sido sempre assim e as gerações presentes não constituem exceção. Muitos de nós — inclusive eu, é claro — podemos estar chegando a conclusões ou fazendo comentários sobre o mensalão que se revelarão completamente equivocados, aos olhos de nossos pósteros. Ninguém sabe, nem pode saber, o que será relevante no futuro e o que será esquecido.

E a verdade também é que, aqui entre nós, ando meio empanzinado com esse dramalhão do mensalão. E ouso crer que muitos de vocês também. Sim, manda a boa cidadania que nos mantenhamos atentos à conduta dos nossos governantes e líderes políticos, tudo bem. Mas isto não significa sucumbir sob a aluvião de artigos, reportagens, entrevistas, discursos e pronunciamentos proféticos que nos vem soterrando. Qual é o problema do mensalão, que é que vai acontecer? Vão reverter alguma sentença? Vão continuar a dizer que o julgamento foi ilegítimo, sem observar que daí se segue a ilegitimidade das instituições, inclusive as que mantêm os atuais governantes no poder? Só é legítimo o que interessa a eles, só vale quando é a favor? Como sabe qualquer torcedor, o choro é livre, mas não altera o placar, nem confere título.

Até admito que nossa tradicional inexperiência em prender gente fina e ladrões de milhões venha rendendo episódios cômicos ou dramáticos, conforme o ponto de vista. Certas situações são patéticas e não deve haver regozijo com o infortúnio de ninguém. Como querer, no Brasil, um cárcere com um mínimo de dignidade, sem que isto seja um privilégio? Eles provavelmente dirão, acredito que com sinceridade, que não querem privilégios, mas o tratamento devido a qualquer presidiário. Isto, contudo, só poderia advir de uma gigantesca reforma no sistema prisional, que não se faz da noite para o dia. Portanto, o tratamento que eles terão, hoje, é tão igual ao dos outros presidiários quanto os tratamentos do Sírio-Libanês são aos do SUS. São iguais, mas os governantes nunca se tratam pelo SUS, é sempre no Sírio-Libanês.

E a verdade é que, sem nenhuma ironia, não haveria justiça alguma em fazer com que os condenados do mensalão fossem postos em celas infectas e superlotadas, sujeitos a condições desumanas e cruéis, como é frequentemente o caso no Brasil. Não há justiça em fazer com que qualquer pessoa passe por isso. No caso deles, egressos de um ambiente social completamente diverso, a tortura mental e emocional seria insuportável, com consequências imprevisíveis e irreparáveis. Não creio que nem os que lhes tenham aversão absoluta desejem essa abominação. A discussão pode prosseguir, mas, no caso, parece possível alegar que, sem um mínimo de privilégio, a justiça não será servida. Deve ser mais um dos famosos paradoxos da realidade nacional, que me dão, no dizer sempre lembrado de Cuiuba, um destroncamento na ideia.

Minha vontade, portanto, era parar de ler, conversar e escrever sobre o mensalão, mas não esperava que outros acontecimentos historicamente marcantes me fossem evidenciados como foram. Quem me abriu os olhos foi o comandante Borges, que apeou sorridente de sua bicicleta elétrica de última geração, brandindo recortes de jornais e revistas. No começo, tive um sobressalto, com medo de que ele fosse defender a guilhotina contra os sentenciados. Mas não era nada disso, como pude logo constatar, quando ele, num gesto de espadachim, abriu sobre a mesa um dos recortes, onde se estampava a foto de uma mulher muito bonita, em nu frontal.

— É esta! — bradou o comandante. — Eu trouxe a entrevista dela! Entrevista sensacional! Está acabando essa loucura das mulheres, ainda há grandes mulheres neste mundo, a Britney Spears aderiu, a Julia Roberts aderiu, eles estão de volta, ele está de volta, o isósceles mágico está de volta!

A moça nua dá uma entrevista enérgica pela liberdade feminina. Nada contra os cuidados de beleza, mas ela, além da pele, dos cabelos, das unhas, das sobrancelhas e de tanta coisa que lhe tomava um tempo enorme, não aguentava mais também ter de atentar à área pubiana, preocupar-se com depilações e raspagens, saber de modas e estilos e dedicar horas a isso — chega dessa tirania insuportável, viva a liberdade! Não é mais moderno fazer depilação pubiana, é submissão a normas alheias à expressão feminina, é alienação!

— Eu escrevi aqui e vou botar no blog de um amigo meu — falou o comandante, passando à leitura exaltada de uns papéis que tirou do bolso. — Várias pensadoras concluíram que as mulheres estavam destruindo irresponsavelmente um símbolo poderoso, que perpassa as eras e representa a força e o fascínio femininos, estandarte da própria identidade femeal: o sinal de que a mulher substituiu a criança, o triângulo isósceles da fêmea eterna, fulcro e refúgio, mistério e aconchego, provocação e recato! Nada dessa indecência, uma parecendo o queixo do Robert Mitchum, outra lembrando Hitler, outra igual às costeletas do imperador, outra em forma de coraçãozinho, não se pode coonestar o deboche para com os signos sagrados da espécie humana! Estamos vivendo um grande momento na História do Brasil: a Restauração! É porque você não tem coragem de escrever isto para os jornais, nem eles de publicar, mas você devia fazer um apelo a nossas compatriotas de todas as idades...

— Engraçado, eu pensei que sua preocupação era com o mensalão.

— Mensalão? O mensalão passa, a mulher fica! O isósceles reluz soberano, no fim da trilha de penugem macia que em curva suave desce do umbigo da mulher admirada. Sem poder desviar o olhar enfeitiçado, o homem...

Félix vende salsicha FRIBOFE! - JOSÉ SIMÃO

FOLHA DE SP - 01/12

E o Zé Dirceu gerente de hotel? Pacote pra Réveillon! Os hóspedes saem sem as malas!


Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Bafos da semana: Mengão campeão e Zé Dirceu gerente de hotel! E como gritou aquele flamenguista: "Agora são quatro letra: CABÔ!". E o Flamengo é tri, o Vasco é a prova de que o futebol não é uma caixa de surpresas, e o Botafogo? Ah, o Botafogo é um bairro lindo! Rarará.

E o meu São Paulo eliminado pela Ponte Preta! A macaca comeu os bambis. E como disse o FuteboldaDepressão: "Time grande não cai. Despenca da Ponte". Rarará. O São Paulo tem que trocar o Boi Bandido por um Bambi Malvado! Rarará!

E o Zé Dirceu gerente de hotel? Pacote pra Réveillon! Os hóspedes saem sem as malas! E o Brasil quer saber: ele vai trabalhar no lobby ou na lavanderia? NO LOBBY, como sempre. Vai continuar fazendo o que sempre fez!

E o Delúbio vai trabalhar no caixa? E o porteiro vai ser o Genoino, com aquela camisa rosa!

E o Roberto Jefferson vai cantar no hotel? Vai ter show do Roberto Jefferson? Parece o hotel de "O Iluminado"! Rarará!

E já imaginou a situação? A conta veio errada e você pede pra chamar o gerente. E aí aparece o Zé Dirceu! Rarará! E o hotel não tem cofre nem seguro, aventura radical.

O Zé Dirceu vai abrir uma cadeia de hotéis: Papuda Inn!

E adorei a charge do Xalberto com o Alcksiemens rebatendo as denúncias de cartel: "Vamos investigar tudo, doa a quem doer! AAAAAIIIIIIII". Rarará. E notícia de corrupção tucana é sempre "suposto". Supostos tucanos praticaram suposto roubo chamado de suposto cartel no suposto Metrô! O PSDB quer dizer Partido Suposto Do Brasil! Rarará! Até o partido é suposto!

E Zé Dirceu e Genoino, ambos têm problemas de saúde; o Genoino é cardiopata e o Dirceu é psicopata. Rarará. O Genoino é hipertenso e o Dirceu é hiperchato!

E essa: "Condenadas no mensalão tomam banho de sol na Papuda". Virou "Big Brother" agora? E faz mal tomar banho de sol na Papuda!

E como disse o Ciro Botelho: o Félix vai vender salsicha FRIBOFE! Rarará! É mole? É mole, mas sobe!

O Brasil é Lúdico! Placa no restaurante Imaculada, no centro do Rio: "Eike Batista nunca esteve aqui". Rarará. Vou botar essa placa aqui na porta de casa: "Eike Batista nunca esteve aqui". Rarará.

Nóis sofre, mas nóis goza!

Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

Retratação - LUIS FERNANDO VERISSIMO

O GLOBO - 01/12

‘Não tente transferir sua culpa. O desenho é seu. É a minha cara falsificada que está por aí, colada em tudo que é poste da cidade’



Tudo é vaidade.

Tem aquela do cara que invade uma delegacia de polícia e exige falar com o desenhista.

— Com quem?

— Com o desenhista. O que faz retratos falados. Quero falar com ele agora!

— Espera aí. Você não pode entrar aqui assim e...

— Não interessa. Quero falar, imediatamente, com quem fez isto.

E o homem mostra um cartaz em que aparece o desenho de um rosto e escrito, em cima, “Procura-se”. Insiste:

— Se ele não aparecer logo, eu quebro esta joça!

— Calma, cidadão. Calma.

Tantas o homem faz que o desenhista é localizado e trazido à sua presença. O homem mostra o cartaz e pergunta:

— Isto se parece comigo?

— Isto se parece comigo?

— Bom, eu...

— Não. Me diga. Esta cara se parece vagamente com a minha?

— É que eu...

— Olha o meu nariz e olha o nariz do desenho. Desde quando eu tenho um nariz assim? E a boca?

— É que eu me guiei pela descrição da testemunha...

— Não. Não tente transferir sua culpa. O desenho é seu. É a minha cara falsificada que está por aí, colada em tudo que é poste da cidade. E eu exijo retratação. Ou, no caso, rerretratação.

Um policial de plantão interfere:

— Você está preso.

— Eu sei — diz o homem. E, para o desenhista:

— Assim você terá o tempo que quiser para refazer meu retrato, usando o original como modelo.

— Está bem — diz o desenhista.

— Certo, desta vez!

PAPO VOVÔ

Às vezes sou recrutado para o papel de príncipe encantado, nos brinquedos da Lucinda, nossa neta de 5 anos (“e meio”, como ela faz questão de dizer). No outro dia cumpri minha missão e ressuscitei a princesa envenenada com um beijo. Mas não consegui levá-la para o meu castelo, ela preferiu ficar na rua. Agora essa: princesas republicanas.

Alegria na Igreja - CARLOS ALBERTO RABAÇA

O GLOBO - 01/12

Francisco, em seu manifesto, deixa claro que o reconhecimento de uma identidade religiosa se faz pela conversação, pelo diálogo entre os diferentes



Alegria significa prontidão, disposição para mudar, elasticidade, docilidade, entusiasmo a serviço da vida. A genuína alegria de viver pressupõe uma ilimitada abertura do coração e da mente que, além de ser capaz de acolher tudo o que sucede, provoca um dinamismo interior que arreda toda rigidez institucional, toda a indolência e toda a demora do querer e do agir. Segundo o pensamento cristão, a alegria é mais que uma virtude, é condição de todas as virtudes.

No seu primeiro documento doutrinário, “A alegria do Evangelho”, o Papa Francisco trata corajosamente de temas até então considerados polêmicos no círculo fechado de cardeais e bispos: a descentralização da Igreja, os divorciados, a ordenação de mulheres, a desigualdade e o capitalismo, a justiça social, o aborto, a eucaristia não como prêmio para os perfeitos, mas um generoso alimento para os fracos.

Francisco, em seu manifesto, deixa claro que o reconhecimento de uma identidade religiosa se faz pela conversação, pelo diálogo entre os diferentes, no exercício que alterna dúvida e convicção, crítica e confiança. Quando a Igreja age apenas com sua verdade, imanente, contida apenas em sua convicção, rompe a possibilidade de entendimento, respeito, de comunhão. Numa autocrítica eclesial o Papa questiona os sistemas políticos e econômicos que malversam o poder e a riqueza, utilizam em seu benefício os recursos naturais e consolidam a pobreza e a marginalização. Chama a atenção para sermos testemunhas da santidade e dignidade de toda a vida e do respeito que devemos a todos os homens, independentemente de sua cor, sexo e estado civil. Confirma que a Igreja Católica tem fracassado por ter reconhecido, durante séculos, a Europa como centro do mundo, considerando aquele continente superior aos outros. Abre um caminho que supere os papéis e estereótipos fixados ideologicamente para o homem e a mulher, principalmente nos processos eclesiais de decisão.

O Papa Francisco dá início a uma mudança radical na Igreja, uma transformação de concepção, de atitude psíquica, de mentalidade, de pensamento. Com uma humildade desconcertante, vê a Igreja como um hospital de campanha: quer curar as feridas de quem precisa com um projeto de salvação baseado na liberdade humana. Por isso mesmo, tem uma proposta de Evangelho que deve ser simples, profunda, irradiante. É um chefe religioso sem tabus. Não é moralizador, mas é desafiador.

A sabedoria das urnas - MAC MARGOLIS

O Estado de S.Paulo - 01/12

Se presidir um país latino-americano é tarefa espinhosa mesmo nos melhores tempos, o que dizer de Honduras? A pequena nação centro-americana é a segunda mais miserável do continente, logo acima do Haiti. Dois terços da população de 8,5 milhões vivem na linha da pobreza ou abaixo. A taxa de desigualdade é pior hoje do que há duas décadas.

Com instituições fracas, política internacional e ética pública porosas, Honduras é o ecossistema perfeito para o crime transnacional. De cada 100 mil hondurenhos, 80 morrem assassinatos por ano, um recorde mundial. E 70 mil cidadãos vão embora do país anualmente.

No entanto, oito candidatos disputaram a corrida presidencial e quem levou as chaves do Palácio José Cecilio del Valle saiu da peleja de sorriso franco e desafiante. "Não negocio a vitória com ninguém", bradou Juan Orlando Hernandéz, militar reformado, de 45 anos, que presidiu o Congresso. Esqueça o fato de que Hernandéz ganhou apenas 34% dos votos e seu rival mais próximo, a socialista Xiomara Castro, ainda não reconheceu sua vitória.

Chama a atenção, no entanto, o fracasso de outro pretendente na disputa. Nos últimos quatro anos, um fantasma rondava o pequenino país centro-americano e, por tabela, toda a região. Hugo Chávez, o falecido líder venezuelano, trabalhara duro para evangelizar seu o socialismo do século 21 pelas Américas. Em 2009, teve a chance de espetar mais um alfinete no seu mapa-múndi revolucionário. Justamente em Tegucigalpa, onde o presidente Manuel Zelaya ensaiava passos bolivarianos.

Naquele ano, Zelaya chegava ao fim de seu governo, refugou e provocou uma cisma continental. Reza o Artigo 239 da Constituição de Honduras que o mandato presidencial é único, de quatro anos, sem direito a reeleição. Zelaya quis mais e convocou um plebiscito nacional sobre o tema, também vetado pela lei.

Acabou deposto e expulso do país sob mira de fuzil. Voltou na surdina, ao lado de Nicolás Maduro, o então chanceler de Chávez, mas não conseguiu retornar ao palácio. Resolveu lançar sua esposa, Xiomara Castro, sob legenda nova, o Partido Libre, e acessórios velhos, do patenteado chapéu de cowboy ao roteiro chavista.

Assim, ficou demarcada a campanha hondurenha, uma batalha por procuração. Os conservadores e caciques do Partido Nacional enxergaram na candidatura de Xiomara a senha para o retorno de Zelaya pela porto dos fundos. E os zelaystas viram o dedo de Washington na campanha de Hernández, um advogado formado na Universidade de Nova York que quer soldados na rua contra o crime.

Nem uma coisa, nem outra. Primeiro, o chavismo ficou longe do páreo. Talvez pela crise na Venezuela, onde o presidente Maduro luta para salvar seu acidentado governo da pane econômica e de sua popularidade em declive. Outro companheiro, o presidente nicaraguense, Daniel Ortega, mais oportunista que chavista, surpreendeu a todos ao ser um dos primeiros a congratular Hernández.

Deixaram isolado o brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva, chefe de torcida internacional, que endossou Xiomara na reta final, na contramão das pesquisas. Já Washington decepcionou no papel de imperialista. Após condenar o golpe de 2009, o governo americano se calou na campanha eleitoral e, até sexta-feira, ainda não tinha parabenizado o presidente eleito.

Novidade. O restante ficou a cargo dos hondurenhos, mais sensatos, que dividiram seus votos de forma equilibrada entre quatro candidatos. É uma boa-nova para o país atolado há quase um século entre dois partidos escleróticos: o Liberal e o Nacional.

No Congresso, nenhuma legenda terá maioria absoluta, muito menos rolo compressor. Para estancar o crime, conduzir o país e introduzir as reformas que Honduras tanto carece, Hernández, queira ou não, terá de negociar. E o zelaysmo, participar. Se isso significa renovação ou paralisia, não se sabe.

Padrão Brasil - CRISTINA GRILLO

FOLHA DE SP - 01/12

RIO DE JANEIRO - O novíssimo estádio do Maracanã, aquele no qual se gastou quase R$ 1,2 bilhão em uma reforma e onde daqui a oito meses acontecerá a final da Copa do Mundo, não passou em seu primeiro teste de verdade.

Aqueles que chegaram quarta-feira ao estádio pouco antes do jogo entre Flamengo e Atlético Paranaense, final da Copa do Brasil, puderam ver o bom e velho Maracanã em todo o seu esplendor.

Houve empurra-empurra quando as novas catracas eletrônicas pararam de funcionar, barrando a entrada dos torcedores que ti- nham pago de R$ 250 a R$ 800 por seus ingressos.

Em determinado momento, os portões foram abertos para evitar que pessoas fossem espremidas contra as grades. Muita gente sem ingresso entrou. E muitos com ingresso ficaram do lado de fora.

Em nota, a concessionária que administra o Maracanã negou o problema com as catracas, testemunhado pela Folha, e atribuiu o tumulto a torcedores sem ingressos que tentavam invadir o estádio.

Alguns deles conseguiram entrar, de acordo com o relato da concessionária, depois de ultrapassar a barreira de policiais militares, escalar as catracas, que têm 2,2 m de altura, e passar pelo vão de 50 centímetros entre elas e o teto de concreto. Com tanta capacidade atlética, deveriam ser convocados e treinados para a Olimpíada de 2016.

Lá dentro, gente de pé nos corredores --parece que aquela história de que, depois da reforma, os lugares seriam marcados era só brincadeirinha-- e banheiros imundos, segundo o relato de amigos.

Para os saudosistas, queixosos de que a reforma "padrão Fifa" roubou a alma do Maracanã, os fatos de quarta-feira podem ser um alento. Ali, ao menos naquele dia, vigorou um "padrão Brasil" de final de campeonato.

Crianças com Aids - ANCELMO GOIS

O GLOBO - 01/12

O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, lança hoje, Dia Mundial de Combate à Aids, um boletim com o retrato da doença no país. O índice de detecção, segundo o ministério, está estável.
A boa notícia é a queda na infecção de menores de 5 anos. O boletim mostra que, em dez anos, houve uma redução de 36% na taxa de detecção de menores de 5 anos com o vírus.

Veja só...
Em 2003, foram registrados 913 casos de contaminação de menores de 5 anos, uma taxa de 5,3 para cada 100 mil habitantes.
Em 2012, apesar do aumento do diagnóstico, os registros caíram para 475 casos, taxa de 3,4 a cada 100 mil.

Já...
No geral, o quadro é de estabilidade nos últimos cinco anos: 20 casos de Aids a cada 100 mil habitantes.

Que Copa, hein!
O governo federal tem pesquisa mostrando que, das 12 cidades-sede da Copa, o Rio é onde a reação da população é a mais negativa.

Um pingo de História
O historiador Joel Rufino dos Santos contou no II Encontro África Diversa, em 2012, sobre sua prisão, em São Paulo, durante a ditadura. No presídio, ele era o único negro entre mais de cem presos políticos.
Certo dia, um preso comum, negro como quase todos os outros, ao encontrar Joel na escada, perguntou: “Ó, neguinho, qual a tua manha pra ficar com os terroristas?”
É que, na ala dos presos políticos, havia regalias, como banho quente, cozinha comunitária e mais tempo de visita.
No mais...

De lá pra cá... deixa pra lá. Incentivo à leitura
A batalha pela mudança na chamada Lei das Biografias ainda nem acabou, e já tem editor (não são todos) atacando em outra frente.
Uma turma questiona projeto que estende aos tablets a imunidade tributária dada a livros, jornais e periódicos. Alega que tablets e e-readers têm outros fins e, por isso, não necessariamente vão criar novos leitores.
É. Pode ser.

Pelo mundo
O livro “O senhor do lado esquerdo”, de Alberto Mussa, que já tem edições em quatro línguas, terá, ano que vem, duas versões inusitadas: em amárica, idioma da Etiópia, e em catalão, de Barcelona.
No país africano, a obra será lançada pela editora Hohe Publisher. Já na cidade espanhola, pela Angle.

O setentão Chico
Miguel Faria Jr. começou a rodar seu próximo filme, que celebra os 70 anos de Chico Buarque, em 2014. Já foram cinco dias de gravação.
O filme do diretor de “Vinicius” promete muitas histórias sobre o artista. Algumas, inclusive, serão levadas a público pela primeira vez.

Lulu na moda
Sabe aquele aplicativo de celular Lulu, onde as mulheres avaliam o desempenho dos homens e está dando o maior bafafá?

Aliás...
Uns gaiatos machistas estão dizendo, no território livre da internet, que, muito antes de a rede social ser inventada, os homens já tinham criado um lugar para avaliar as mulheres: o bar.
Há controvérsia!

Praia sem vans
Eduardo Paes abre guerra contra as Kombis e vans que alugam cadeiras nas praias. A prefeitura publica, amanhã, no Diário Oficial, resolução que proíbe aqueles veículos de estacionarem na orla carioca.
“Essas Kombis formam um paredão na orla, atrapalhando a paisagem”, diz o secretário de Transportes, Carlos Osório.

Fala sério!
O Shopping Leblon mandou comunicado proibindo bolas de encher na decoração das lojas.
No documento, diz que “este tipo de recurso não condiz com as expectativas de nossos visitantes, cada vez mais exigentes e antenados”. Quem descumprir terá que pagar multa.

Bar mineiro
O Bar Godofredo, de Belo Horizonte, vai abrir, este mês, sua primeira filial no Rio. Será em Botafogo.
Terá local para shows e instalações temáticas do Clube da Esquina, como ficou conhecido o movimento musical mineiro surgido na década de 1960.

O Patriarca - MÔNICA BERGAMO

FOLHA DE SP - 01/12

Fabrizio Fasano, que inspira os filhos a perpetuar o nome da família no mercado de luxo, ganha biografia sobre sua trajetória de altos e baixos


"Qual o apartamento do senhor?", pergunta o garçom. "Sou Fabrizio Fasano", responde, seguro e sem apostos, o senhor de 78 anos, que pede ao funcionário do hotel que tem seu sobrenome para a conta da mesa ser enviada ao escritório central, nos Jardins.

A cena, presenciada pelo repórter Joelmir Tavares, é emblemática do papel do empresário nos negócios da família. Outrora figura central, ele é hoje mais um referencial do que um patrão no grupo comandado por dois dos três filhos --com 18 restaurantes, quatro hotéis, bufê e casa de eventos em cinco cidades.

Fabrizio diz não saber seu cargo ("Acho que é vice-presidente. Ou presidente? Nunca perguntei"). O fato é que ainda vai à sede da empresa todo dia. O clã entrou no setor de alimentação com seu avô Vittorio em 1902, continuou com seu pai Ruggero e se mantém, na quarta geração, com seu filho do meio, Rogério, o Gero.

A transformação do sobrenome da família de origem italiana em símbolo de luxo é agora contada em livro --"Fabrizio Fasano - Colecionador de Sonhos", de Ignácio de Loyola Brandão. A obra, que tem na capa foto do patriarca feita pelo primogênito, Fabrizio Júnior, o Fabrizinho, será lançada amanhã na Casa Fasano, administrada pela caçula Andrea, a Deca.

"Ele não queria o livro. Relutou muito", diz o escritor, 77, sentado ao lado do amigo. "Acho um pouco soberbo. Não gosto muito de falar de mim mesmo", justifica o personagem da obra. Ela é, segundo o autor, mais "um perfil afetivo" do que biografia.

Das 206 páginas, que consumiram um ano e meio de trabalho, ficaram fora aventuras amorosas do empresário, por exemplo. Foi um pedido de Fabrizio. O casamento com Daisy, em 1960, durou 26 anos. Ficaram separados por 22 e se reaproximaram há dois. Cada um tem a própria casa. "O Fá precisava ter alguém ao lado dele, porque teve um problema sério [de saúde]. E as namoradas sumiram", diz ela, 75.

Marlene Dietrich (1901-1992) foi uma das conquistas. Em sua versão "empresário da noite", ele trouxe a alemã para cantar no Fasano da avenida Paulista, em 1959. Após o show, viraram a noite circulando por dez casas noturnas. "Beijei só, mas não tive nada com ela sexualmente. A Daisy sabe que eu saí com ela."

A obra relata ainda o dia em que a atriz americana Jane Russell (1921-2011), outra a passar pelo palco do Fasano, surpreendeu o dono da casa com um beijo cinematográfico no salão.

Nat King Cole (bêbado, desafinou e foi vaiado), Sammy Davis Jr., Tony Bennett, Ginger Rogers e Cauby Peixoto também fizeram shows no espaço. Hoje, ao relembrar os famosos jantares dançantes, Fabrizio recorda o custo altíssimo para contratar artistas estrangeiros. "Mas eu fazia assim mesmo. Me divertia pra burro. Sempre fui boêmio."

A noite era diferente. "Hoje as pessoas vão para se exibir", diz Loyola. "Que nem o tal Rei do Camarote [paulistano que gasta até R$ 50 mil na balada]. Antes iam pelo show..." Fabrizio completa: "E pelos amigos".

A intimidade entre Fabrizio e Loyola --os dois se conhecem há 40 anos-- foi fundamental para construir a cronologia. Quando a memória do biografado falhava, o autor de 40 livros tratava de achar o fio da meada.

"Tenho cada vez menos amigos. Estão morrendo", observa Fabrizio. "É possível conhecer pessoas. Mas amizade com raiz eu não consigo mais na minha idade. Você não passa problemas juntos."

Foi com dois amigos que ele fundou a editora Três (que publica a revista "IstoÉ"), após a família fechar seus restaurantes e confeitarias, afetados pelas incertezas econômicas pós-golpe de 1964.

Voltou a ganhar dinheiro produzindo o uísque Old Eight, líder do mercado nacional entre os anos 1960 e 1970. Dono de fazendas, barcos, imóveis e uma imensa casa no Morumbi, onde dava festas para até mil pessoas, recebeu boa proposta e vendeu a marca. Decidiu investir em um novo uísque. Aí veio a queda.

O lançamento ambicioso do Brazilian Blend incluiu patrocínio à transmissão da Copa do Mundo de 1978 pela TV. Mas um erro na fórmula, que deixava a bebida branca e sem sabor após semanas, levou Fabrizio a pedir concordata. Perdeu bens e amigos.

"Preferia que meus negócios tivessem tido uma trajetória mais normal", afirma, sobre os altos e baixos. "Hoje não tenho dívidas, mas também não tenho poupança." Para Loyola, "ele teve tudo e nada. O que interessou para esse homem? Sempre o desafio. Nunca foi dinheiro".

Após o tombo, o empresário retomou os restaurantes nos anos 1980, ao lado de Rogério, que resgatou a vocação gastronômica da família e expandiu a atuação para a hotelaria. "Meu pai é parceiro, conselheiro, sempre presente", diz. "O Rogério é perfeccionista, muito mais que eu", comenta o velho Fasano.

"Herdei dele o arrojo e essa coisa de sonhar, vai que dá'", diz Rogério. Há alguns anos, o filho chegou a levar 18 chefs, maîtres e garçons para a Itália, num tour por Roma, Veneza e Florença. Queria que a equipe se entrosasse e conhecesse o país que inspira a culinária do grupo. Até os funcionários ficaram perplexos.

Fabrizio, que se empolga com o número de lugares para comer em SP, frequenta estabelecimentos como os de Jun Sakamoto e de Alex Atala, que, segundo ele, "colocou o Brasil no mapa da gastronomia mundial".

Cita os gastos com pessoal ("representam 30% do custo") para explicar o preço elevado do setor. "As pessoas não trabalham mais de graça ou só pela gorjeta, como antigamente. Querem salário fixo." Diz que, "se o garçom é simpático, o cliente releva os erros".

Descrito no livro como "inquieto, hiperativo, homem da noite, sedutor, empreendedor", Fabrizio mantém o hábito de jantar fora todas as noites. Passa na casa de Daisy. Vai com ela a um de seus restaurantes prediletos. E termina no Fasano, tomando um cálice do vinho que chama de "meu portinho".

Sinal verde - ILIMAR FRANCO

O GLOBO - 01/12

A ministra Izabella Teixeira pode deixar o Meio Ambiente na reforma ministerial. Ela tem projetos próprios e propostas de atuar na área internacional. Izabella conversou sobre isso com a presidente Dilma, na quinta-feira, no Planalto. Não há nada decidido, e a ministra nega. Mas sua vaga pode ajudar numa reforma que deve abrigar novos partidos que se incorporaram ao governo.

Em busca da imagem ideal
Os petistas estão atentos aos resultados de pesquisas qualitativas das últimas semanas. Na contramão da lógica política atual, de que os eleitores estão com sede de novidades, elas indicam que o ar jovem do senador Lindbergh Farias (PT-RJ) não agrega tanto. Há entrevistados que questionam sua maturidade e sugerem que ele precisa de uma experiência política mais ampla para governar o Rio. Elas mostram ainda que o fato de ele ter sido o líder dos caras-pintadas na década de 90 gera preconceito nos maiores contingentes de eleitores, nas classes C e D. Mas que essa passagem de sua trajetória política o favorece entre os eleitores das classes A e B.




"Em junho de 2008, o prefeito Eduardo Paes tinha 4% e ganhou a eleição na cidade do Rio. O Fernando Gabeira tinha 8% e foi para o segundo turno"
Leonardo Picciani
Deputado federal (PMDB), sobre a candidatura do vice Luiz Fernando Pezão ao governo do Rio

Reforma à vista
O governo decidiu fazer mudanças na estrutura de vice-líderes na Câmara. São oito deputados de partidos aliados, sendo que a maioria não tem atribuição alguma. O quadro será reduzido à metade e melhor definidas as funções.

Tchau e benção
O deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR) está com os dias contados na vice-liderança do governo. Pesam contra ele o fato de ter sido relator do processo do mensalão (2005) e as dificuldades que o PT enfrenta no Paraná. Serraglio é o presidente do PMDB no estado e tem facilitado uma aliança para reeleger o governador Beto Richa (PSDB).

A vida como ela é
Petistas com cargos no governo Sérgio Cabral respiraram aliviados com o pedido do ex-presidente Lula para o partido não sair agora. Ficariam sem emprego em dezembro, mês de Natal e do pagamento do 13º salário.

Intervenção nas entidades e clubes
Deputados querem intervir e ditar regras na CBF e nos clubes. Criaram a CPI da CBF com o objetivo de limitar, por exemplo, a reeleição de presidentes de clubes dos quais não são sócios. A renegociação de dívidas justificaria a intromissão. Embora o mesmo não tenha sido defendido em relação às empresas que aderiram ao Refis.

Ofensiva pernambucana
A ministra Ideli Salvatti (Relações Insitucionais) e o senador Armando Monteiro (PTB), candidato do Planalto ao governo de Pernambuco, estão montando agenda de eventos para a presidente Dilma em território de Eduardo Campos (PSB).

QI
A bancada do PMDB de Minas Gerais levou ao vice-presidente Michel Temer o nome do deputado Silas Brasileiro para substituir o ministro Antônio Andrade (Agricultura) na reforma que o Planalto fará em janeiro.

A MÁFIA DA ESTRELA 2
O deputado Onyx Lorenzoni (DEM-RS) lançará quarta-feira, na Câmara, livro sobre o julgamento do mensalão.



SURPRESA! O PT organiza festa para a presidente Dilma. Seu aniversário é dia 14 de dezembro, no encerramento do congresso do partido

Sem dia de visita - VERA MAGALHÃES - PAINEL

FOLHA DE SP - 01/12

Pesquisas de posse do PT já apontavam apoio maciço à decisão do STF sobre a prisão dos condenados no mensalão, revelado pelo Datafolha. Esses números pautaram o distanciamento de Dilma Rousseff em relação aos petistas presos. Mesmo com a estratégia de descolamento, o desempenho da presidente piora entre os que se dizem bem informados sobre as prisões: a vantagem de 12 pontos que tem sobre Marina Silva em um eventual 2º turno cai para um ponto (44% a 43%).

Toga Contra Joaquim Barbosa, Dilma venceria por 54% a 30% em caso de uma segunda fase da disputa, mas o resultado muda para 45% a 42% entre os eleitores que se consideram bem informados sobre a execução das penas.

Nicho Nos cenários de primeiro turno, Joaquim Barbosa empata com Dilma em dois recortes: no grupo com ensino superior completo (27% para cada um) e no de renda superior a dez salários mínimos (ambos e Aécio Neves aparecem com 25%).

Volta Entre os eleitores que consideram o governo ruim ou péssimo, apenas 5% aceitariam votar em Dilma. Se Lula for o candidato do PT, 28% desses entrevistados votariam no ex-presidente.

Fica Já os entrevistados que têm o PT como partido de preferência não engrossam o coro pela volta do ex-presidente. Na pesquisa espontânea, Dilma passou de 39% em outubro para 46%. Lula caiu de 15% para 7%.

Vem... Foco de ação do governo após os protestos iniciados em junho, as cidades grandes apresentam recuperação mais lenta da petista. Dilma passou de 38% dos votos em municípios com mais de 500 mil habitantes, em outubro, para 41% agora.

... pra rua Aécio e Eduardo Campos (PSB), que caíram no resto do país, ficaram estáveis nas grandes cidades. Nesses municípios, Marina venceria Dilma no segundo turno. A ex-senadora tem 45% e a petista, 43%.

Ressaca A rejeição de José Serra (PSDB) na capital paulista, que governou de 2005 a 2006, supera em 9 pontos a média nacional. No país, 35% dos eleitores não votariam no tucano. Em São Paulo, sua rejeição é de 44%.

Afago Depois do mal estar da queda de braço pelo reajuste dos combustíveis, Dilma fará elogios rasgados à presidente da Petrobras, Graça Foster, em seu discurso na solenidade de assinatura do contrato da concessão do campo de Libra, amanhã.

Que tal? Já na largada de sua incursão pelo interior de São Paulo no fim de semana, Aécio fez o mais explícito apelo por apoio aos tucanos paulistas que o acompanhavam: "Me ajudem a vencer a eleição em São Paulo que eu ganho a eleição no Brasil".

Pelo fio... O PSB viu influência do PT na ação de caciques nacionais do PMDB que tentam afastar os socialistas de uma possível aliança com o partido ao governo do Rio Grande do Sul, o que abriria um palanque para Eduardo Campos no Estado.

... do bigode Lula já orientou os partidos aliados a isolar o governador pernambucano em Estados de maior peso político e grandes colégios eleitorais. O petista Tarso Genro tentará a reeleição no Rio Grande do Sul, com o PMDB como adversário.

Capacete Deputados do Solidariedade protocolaram na Câmara pedido de audiência pública com diretores e engenheiros da Odebrecht sobre a segurança dos trabalhadores das obras da empresa para a Copa de 2014. O partido, liderado por sindicalistas, quer explicações sobre o acidente no Itaquerão.

tiroteio

Só um marciano ou alguém fora de si não saberá quem contratou o frete, a origem e o destino da droga e quem autorizou o pouso.

DO DEPUTADO CHICO ALENCAR (PSOL-RJ), sobre Gustavo Perrela (SDD-MG) ter dito que não sabia do transporte de 445 kg de cocaína em seu helicóptero.

Contraponto


Especulação política

O senador e presidenciável Aécio Neves (PSDB-MG) participou de almoço do Secovi (sindicato de construtoras de São Paulo) na sexta-feira. No final, conversava numa roda de empresários sobre mercado imobiliário.

-Meu avô deixou um sítio para mim e para minhas irmãs e pensamos em vender e comprar uma sala comercial cada um em São Paulo -disse o tucano.

Em seguida, o mineiro concluiu:

-Tive de desistir: o IPTU aqui é muito alto!

A ironia com a polêmica da correção da tabela pelo prefeito Fernando Haddad (PT) causou risos da plateia.

O alvo - DENISE ROTHENBURG

CORREIO BRAZILIENSE - 01/12

As investidas da oposição contra o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, têm motivos que vão além do episódio da investigação envolvendo a Siemens e o governo de São Paulo. O ministro é visto tanto pelos oposicionistas quanto pelo PT como o braço forte da presidente Dilma Rousseff no governo. Isso significa que, depois da queda de Antonio Palocci da Casa Civil, no início de 2011, foi Cardozo que passou a segurar as pontas partidárias. Afinal, durante a campanha de 2010, Cardozo dividiu a coordenação com Palocci.

O fato de ser discreto, afável, inteligente e da área jurídica permitiu que o ministro cuidasse até aqui de várias propostas de interesse do Poder Executivo e do próprio PT sem ser incomodado. Agora, entretanto, com o caso da Siemens, ficou exposto. Mas se tem uma coisa que a presidente Dilma Rousseff não fará é entregar a cabeça de Cardozo na bandeja.

Pau que bate em Chico...
A oposição se prepara para mostrar que, até aqui, os órgãos governamentais federais pegaram um dos menores braços da Siemens do Brasil, leia-se São Paulo, para tecer suas investigações. Por aqui, a área que a empresa mais atua é a de energia, seguida de equipamentos hospitalares. Depois, vêm os trens, com destaque também para a esfera federal.

...Dá em Francisco
A ordem é pedir investigações também sobre os negócios nessas áreas, onde quem manda é o governo federal pilotado pelo PT. Estão nessa lista Eletronorte, Itaipu Binacional e a Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU).

Quem manda
O líder do PT na Câmara, José Guimarães, ameaçou afastar o deputado João Paulo Lima (PT-PE) da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ). Tudo porque Lima pretendia levar os petistas a votar contra a proposta de emenda constitucional do Orçamento Impositivo. O PT terminou apoiando a PEC, mas perdeu para a dobradinha do DEM com a bancada da Saúde, e a emenda acabou fatiada.

Convers@ de Domingo
No site www.correiobraziliense.com.br, o presidente da Comissão Mista de Orçamento, Lobão Filho, diz que o país não vai parar por eventuais atrasos na aprovação do Orçamento de 2014. Revela ainda que seu mandato à frente do colegiado vai até março do ano que vem. Como ele é suplente do pai, o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, isso quer dizer que o titular não será removido com a reforma ministerial de janeiro.

Gestos
Depois de um início de mandato mais tímido, o senador Jader Barbalho (PMDB-PA) vai, aos poucos, saindo da toca. Dia desses, fez um discurso forte contra o voto aberto em todas as situações. Na quarta-feira, sentou-se à mesa de comando dos trabalhos, ao lado de Renan Calheiros. Há tempos não se via Jader no Olimpo do plenário.

Insolúvel
Perguntados sobre o que farão para resolver a relação truncada entre o presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves, e o do Senado, Renan Calheiros, os peemedebistas são diretos: “Ali, nunca destruncou”.

Planos
O ex-governador de São Paulo José Serra contratou um assessor de imprensa em Brasília.

Enquanto isso…
A ministra da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, e seu colega do Turismo, Gastão Vieira, aproveitaram uma viagem ao Paraná para ensaiar o discurso do governo para a Copa de 2014.

… No governo
A ordem agora é dizer que o possível para a Copa foi feito ou está em fase final. Resta aos brasileiros começar os preparativos para receber os turistas e conseguir com que os visitantes saiam daqui com vontade de voltar.

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO

FOLHA DE SP - 01/12

Grupo instalará três novos hospitais no Espírito Santo

Com R$ 250 milhões, o Grupo Meridional de Saúde, que tem quatro hospitais em operação no Espírito Santo, desenvolve um projeto de expansão que inclui três novos empreendimentos e a reforma de uma unidade.

Um dos hospitais planejados deverá ter um atendimentos voltado apenas para a classe A.

"A pesquisa de viabilidade está sendo feita por uma empresa de São Paulo. O resultado será entregue em janeiro", diz Antônio Alves Benjamim Neto, diretor-geral do grupo.

"Depois disso, vamos definir o padrão do hospital, mas a intenção é que seja de luxo", acrescenta. O terreno onde a obra será erguida, em Vitória, já foi comprado.

Em Guarapari (a cerca de 55 km da capital), um outro empreendimento será instalado. Com tamanho semelhante ao de Vitória, mas mais simples, de acordo com Benjamim Neto.

Ainda não há previsão para o início das obras. "Aguardamos o momento certo, que será quando os projetos da Petrobras e da Vale na região começarem a deslanchar", afirma o médico.

A terceira nova unidade será em São Mateus (215 km ao norte de Vitória) e terá 110 leitos. Já existe um projeto para duplicar esse número.

Apesar das ampliações, o grupo também sofre com o preço da mão de obra do setor. Os planos para construir um quarto novo hospital foram adiados.

"Devemos retomá-lo. Acreditamos que o problema de custos seja conjuntural. No longo prazo, não deve haver tanta dificuldade. Os planos de saúde crescem com as classes C e D."

O QUE EU ESTOU LENDO

Marcelo Carvalho, economista-chefe do BNP Paribas

Na cabeceira do responsável pelas análises econômicas do BNP Paribas no Brasil, Marcelo Carvalho, está um livro sobre o acaso.

"Estou lendo O Andar do Bêbado', de Leonard Mlodinow [em inglês: The Drunkard's Walk: How Randomness Rules Our Lives' (Random House)]", diz.

O autor cita casos do mercado financeiro a Hollywood da casualidade nas escolhas e aborda o que pode ser feito em relação ao imponderável.

"É bem interessante. Mostra em linguagem acessível e com exemplos claros como o aleatório afeta a vida das pessoas --muitas vezes sem que percebam."

CASA ARRUMADA

A rede de materiais de construção Leroy Merlin pretende unificar seu sistema de informações em todas as unidades do Brasil até 2017.

O país será o único, dos 27 onde o grupo está presente, a ter um ERP (sistema integrado de gestão empresarial, na sigla em inglês).

O software contemplará todos os módulos da empresa, como operação, abastecimento, contabilidade e folha de pagamentos.

"Teremos ganhos em produtividade e uma agilidade tributária que vai nos permitir melhor adaptação às frequentes mudanças de lei que ocorrem no Brasil", afirma Alain Ryckeboer, diretor-geral da Leroy Merlin Brasil.

A tecnologia demandará um aporte de R$ 120 milhões.

Hoje, a operação brasileira trabalha com dois sistemas, um local e um francês, o que torna o processamento de dados mais demorado, segundo Ryckeboer.

"Os impostos brasileiros são muito inconsistentes, mudam toda hora, Estado por Estado. Não tem um ano que não passamos por uma grande mudança tributária."

Apesar das dificuldades em se investir no país --"a lista é grande", segundo o executivo--, a rede mantém seu ritmo de expansão.

"Todas as capitais estão nos planos do grupo."

Em 2014, serão aportados R$ 300 milhões em lojas em São José (SC), Campo Grande (MS) e São Bernardo do Campo (SP), além da remodelação da primeira unidade aberta no Brasil, em Interlagos, em uma "loja conceito".

PROBIÓTICO SUECO

O laboratório Aché assinou um acordo exclusivo com a empresa BioGaia AB para comercializar no Brasil probióticos desenvolvidos e produzidos pela companhia sueca.

O grupo estrangeiro detém cerca de 200 patentes no mundo relacionadas aos produtos, de acordo com a farmacêutica brasileira.

Os probióticos são utilizados para ampliar o equilíbrio da flora intestinal.

MUDANÇA RÁPIDA

As empresas brasileiras precisam, antes de tudo, de flexibilidade, segundo o CEO mundial da Porsche Consulting, Eberhard Weiblen.

"As companhias devem responder de forma rápida às mudanças. Necessitam estar preparadas para aumentar ou reduzir suas capacidades, principalmente em economias como a brasileira, com altos e baixos."

Política frouxa - CELSO MING

O Estado de S.Paulo - 01/12

Às vezes, fica a impressão de que o governo usa deliberadamente um discurso enganador para encobrir os resultados ruins das contas públicas. Outras vezes, a impressão é a de que o governo se autoengana, é surpreendido pelos fatos e depois fica derrapando em explicações. Não dá para saber o que é pior para a sua credibilidade, se é enganar ou ser enganado.

Em setembro apareceu um rombo de quase R$ 10 bilhões nas contas públicas. O secretário do Tesouro, Arno Augustin, o inventor da chamada contabilidade criativa que enfeitou os números finais de 2012, não teve então como esconder o estrago. Mas apressou-se em garantir que outubro seria diferente e, até lá, já não se falaria mais do que acontecera em setembro. Pois vieram as contas de outubro, com um superávit, sim, mas de apenas R$ 6,2 bilhões, o mais baixo registrado em meses de outubro desde 2002.

Na quinta-feira, o secretário Augustin fingiu que se esquecera do que anunciara 30 dias antes, mas reprisou as promessas, desta vez para novembro: "Vai ser um resultado histórico", supostamente para melhor.

É provável que seja mesmo, não porque o governo tenha sido mais responsável na administração das contas públicas em novembro, mas porque prevê receitas extraordinárias, tanto em bônus de assinatura da licitação das reservas de petróleo de Libra quanto do que a Receita Federal conseguir arrancar na operação espreme-empresa (Refis). Não se trata de conversão ao bom caminho. Estas são fontes extraordinárias de arrecadação; entram só uma vez e não refletem nenhuma correção de rumo na política fiscal.

Apesar desse reforço extra, fica ameaçado o cumprimento do compromisso do governo de entregar até mesmo um superávit primário (sobra de arrecadação para pagamento da dívida) de R$ 73 bilhões (1,5% do PIB), meta que, por sua vez, já havia sido rebaixada de R$ 108 bilhões (2,3% do PIB).

Independentemente da mistura de falta de sinceridade com frouxidão na administração, prevalece a pilotagem contraditória. De um lado, a turma do acelerador gasta o que tem e o que não tem para aumentar a demanda; de outro, o Banco Central puxa os juros para frear a demanda e compensar os efeitos inflacionários da política fiscal frouxa. É como o que ocorreu com o Boeing da TAM em 1996, cuja turbina esquerda acelerava para garantir a decolagem na pista de Congonhas, mas o outro motor estava em posição de reversão e freava a aeronave.

A principal consequência não são apenas avarias na credibilidade do governo; é o desastre anunciado, se a anomalia não for corrigida a tempo.

Acumulam-se os sinais de que a economia está desequilibrada. O consumo de bens e serviços segue mais forte do que a oferta. O rombo nas contas externas vai-se alargando. Para tentar combater a inflação, o governo represa os preços dos combustíveis e das tarifas públicas e, com isso, além de estropiar a capacidade de investimento da Petrobrás, obtém menos arrecadação.

Diante disso, o investidor faz o quê? Espera pra ver o que acontece e só deixa para arriscar seus investimentos quando as coisas estiverem mais claras.