sexta-feira, agosto 30, 2013

Um zumbi na Casa do Espanto - NELSON MOTTA

O GLOBO - 30/08

Donadon é o simbolo máximo do ponto mais baixo de uma instituição que, unindo o espírito de corpo ao espírito de porco, não hesita em se solidarizar com um condenado



“Não acredito”, bradou aos céus o deputado Natan Donadon, caindo de joelhos em patética pantomima, quando viu no placar da Camara 131 votos a favor, 41 abstenções e 108 bem-vindas ausências, que mantinham o seu mandato e o consagravam como o primeiro deputado-presidiário da nossa história. Que ronco das ruas que nada, eles não ouvem e não têm medo, e mais uma vez votaram, ou fugiram, em causa própria, porque também acumulam processos na Justiça e podem ser o Donadon de amanhã.

“Não a-cre-di-to” digo eu, dizemos nós, diante da cena inacreditável, mas quando se trata dos 300 picaretas que Luiz Inacio falou deve-se acreditar em tudo, porque de tudo eles são capazes. Nunca na história desse país houve um deputado-detento, mas Lula agora diz que fica puto quando falam mal de políticos.

Zoologicamente é facil identifica-los: andam em bandos, têm pelagem acaju, negro graúna ou raposa prateada, alimentam-se de verbas públicas e são pacificos e afáveis, condição necessária para seus golpes e tramoias, mas quando ameaçados podem se tornar hostis e violentos em defesa dos privilégios e impunidades do bando. Seu habitat natural é a Câmara dos Deputados.

Donadon é o simbolo máximo do ponto mais baixo de uma instituição que existe para dar voz e poder aos representantes dos eleitores, mas, unindo o espírito de corpo ao espírito de porco, não hesita em se solidarizar com um condenado pelo STF, que teve amplo direito de defesa e usou todos os recursos e chicanas para retardar o processo.

Aprendi com meu pai que é covardia tripudiar sobre os caídos, que a compaixão beneficia mais quem se compadece do que ao compadecido, que perdoar é mais leve do que carregar o saco do rancor e do ressentimento. Mas no caso desse picareta foram ele e seus colegas de trabalho que tripudiaram sobre todos os cidadãos honestos e as instituições democráticas.

E também sobre os presidiários. Reclamando da comida, da falta de água, das algemas, do camburão “escuro como um caixão”, viveu a realidade diária dos presos brasileiros, a maioria por crimes menores que os dele, que prejudicaram toda a sociedade.

A cidade é deles - RUY CASTRO

FOLHA DE SP - 30/08

RIO DE JANEIRO - Outro dia, pelo calçadão do Arpoador, vinham dois "black blocs" no rigor dos trinques: coturno, calças, mochila, camiseta e jaqueta pretos, e moletom com touca idem enrolado à cabeça, deixando apenas os olhos de fora --uma espécie de burca militar, como já se disse aqui. Imagino que trouxessem consigo os adereços de mão próprios da categoria: álcool, vinagre, pedras, molotovs e máscaras contra gases --todo cuidado é pouco quando se tem a lei pela frente.

Mas não havia lei à vista, nem roupa mais imprópria para um "footing" àquela hora --três da tarde, com um sol de veranico sob o qual a dupla suava e parecia apenas exótica, não ameaçadora. Bem faz o Batman, que só sai à noite para trabalhar --sabe que, à luz do dia, sua roupa de morcego tem algo de ridícula. Por sinal, a fantasia dos "black blocs" é a mais próxima que eles acharam para substituir a de Batman --que, tudo indica, usavam até há pouco.

Nossas cidades não têm opções para se trocar de roupa em público. Donde os dois devem ter saído de casa já paramentados e cruzado no prédio com seus vizinhos e porteiros --que os conhecem desde crianças e sabem muito bem quem são. Bem provável que morassem na Vieira Souto (com os pais, naturalmente) e estivessem a caminho do acampamento armado pelos meninos do "Ocupa Delfim", no Leblon.

O fato de saírem fantasiados às ruas e com a maior naturalidade sugere que estamos nos habituando aos "black blocs". E por que não? A cidade é deles. A noite cai e a função começa. Do Leblon, seguem para o largo do Machado, onde quebram o que encontram pela frente. Destroem metade de Laranjeiras e, de lá, vão para o Castelo, a Cinelândia ou a Lapa, onde o rastro da depredação continua.

Hoje, já não passam de 200. Mas são suficientes para subjugar os demais 5.999.800 com que convivem.

Congresso! Nem aí pro Gigante! - JOSÉ SIMÃO

FOLHA DE SP - 30/08

E o Danadão é o deputado que todos sonhamos: já tá preso! Superprático: um deputado que já tá preso!


Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! O Congresso deu uma banana pro Gigante! E o Donadon? O deputado Danadão! "Câmara livra de cassação deputado condenado e preso." Qual a novidade?

E o Danadão é o deputado que todos sonhamos: já tá preso! Superprático: um deputado que já tá preso! O primeiro deputado presidiário!

E o tuiteiro Marcelo Amaral: "Um absurdo isso, o deputado vai ser uma péssima influência na prisão". Rarará!

Enfim, o Congresso deu uma banana pro Gigante! Vergonha, viu? E atenção! "Bolívia pede pra Dilma devolver o Pinto". Sugestão para a Dilma: Troca um pinto por três corintianos. Rarará!

Devolve o pinto pro ovo, e não pro Evo! E um Patriota que é patriota mesmo não vai buscar um pinto lá fora! Rarará!

E o apagão no Nordeste? Diz que foi uma queimada no Piauí. Tão querendo dar uma queimada no Piauí. Pelo tamanho do estrago, foi uma queimada de rosca, isso sim! Queimada de rosca provoca apagão no Nordeste! Rarará!

Eu acho que o Nordeste botou todos os celulares pra carregar ao mesmo tempo! E sabe o que a Dilma perguntou pro Lobão? "Por que esse apagão tão grande?" E o chargista Lute: "Alguém aí conhece um eletricista cubano?". Isso! Chama um eletricista cubano! Rarará.

E a Dilma deve ter dado uma queimada de rabo no Mantega: "Maaantega! Liga essa porra dessa luz! Você não trocou a porra da lâmpada!" Rarará!

E as três causas dos apagões: raio, balão e queimada! E gato! Gambiarra! E a Carla Perez: "Vou ligar a TV pra ver como tá o apagão". Rarará!

E adorei essa chamada: "Veja fotos do apagão". E uma amiga baiana foi alugar um gerador no A Geradora e não conseguiu porque eles estavam sem energia. Como diz uma amiga: "No Brasil não basta ser gostosa, tem que ter gerador próprio". Rarará!

E não é apagão, é trapagão. Trapalhada com apagão!

É mole? É mole, mas sobe!

E o Palmeiras? Manchete do Sensacionalista: "Furacão passa em Curitiba e mata um monte de porcos". Rarará! Tadinhos!

E o Pato comeu a zebra! Maus-tratos aos animais! Rarará!

Nóis sofre, mas nóis goza!

Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno.

Diplomata inteligente se refugia na literatura - SILVESTRE GORGULHO

CORREIO BRAZILIENSE - 30/08
O Correio Braziliense, edição de 27 de agosto, foi duro e verdadeiro em sua manchete: "Crise joga Itamaraty no inferno". O jornal da capital da República aborda com mais propriedade e mostra os fatos que estão na mídia do mundo inteiro.
- O senador Roger Pinto Molina, depois de 450 dias asilado na Embaixada do Brasil, em La Paz, encontrou a liberdade pelas mãos do diplomata Eduardo Saboia, que, numa viagem dramática de 22 horas, rodou 1.600km e chegou ao Brasil quase sem gasolina.

- Antes, o embaixador brasileiro na Bolívia, Marcel Biato, havia sido afastado do posto em La Paz por exigência do presidente Evo Morales.

- A presidente Dilma Rousseff decidiu demitir o ministro das Relações Exteriores, Antônio Patriota, por perceber que ele não estava indignado o suficiente com o episódio...

- A jornalista Miriam Leitão faz um comentário ácido: A presidente Dilma bateu boca com um diplomata "e, pior, ao negar o que ele disse, acabou confirmando...".

- O embaixador boliviano no Brasil, Jerjes Talavera, lavou as mãos e disse que a demissão do chanceler Antônio Patriota é um "problema interno do Estado brasileiro".

- Os atos de força de Evo Morales contra o Brasil são constantes: ele mandou revistar o avião do ministro Celso Amorim e invadiu, de surpresa, as refinarias da Petrobras com tropas do exército boliviano.

Não sei por que o governo brasileiro é tão cordato com Evo Morales, com as Farc, com Cuba e tão parceiro das sangrentas e corruptas ditaduras africanas. Sim, já perdoou as dívidas do Congo, do Sudão, da Guiné Equatorial e do Gabão. Agora o governo quer a aprovação da liquidação das dívidas de Zâmbia, Tanzânia, Costa do Marfim e República Democrática do Congo. O perdão da dívida desses países soma mais ou menos R$ 1,8 bilhão.

A população desses países é pobre. Mas os ditadores são biliardários. Por exemplo: Teodorin, filho mais velho e possível sucessor do ditador Oblang (Guiné Equatorial), gastou num só leilão de arte na Christie"s, em Paris, o dobro da sua dívida com o Brasil. E comprou uma mansão em Malibu, na Califórnia, de 48,5 mil metros quadrados, ou seja, 15% do tamanho de Ipanema, no Rio.

É bom ficar claro: o governo federal perdoa a dívida, mas é cada um dos 201.032.714 brasileiros que paga a conta. No rateio, são R$ 8,95 por pessoa.

Eu fiz esta abertura toda para voltar no tempo. Li uma entrevista que Clarice Lispector fez para o jornal Última Hora com a escultora e embaixatriz Maria Martins, mulher do diplomata Carlos Martins.

Maria Martins, mineira de Campanha, no sul de Minas, é uma das artistas mais premiadas na Bienal de São Paulo. Era amiga de artistas como Picasso, Mondrian e do pintor e escultor franco-estadunidense Marcel Duchamp. Suas esculturas, que estão espalhadas pelos principais museus do mundo, têm uma característica muito forte, por apresentar formas orgânicas, contorcidas e sensuais. São inspiradas em culturas arcaicas e nas lendas amazônicas. Ela foi destaque na Corcoran Gallery of Art, em Washington, e o Museu de Arte Moderna de Nova York, o MoMa, tem obras sua.

Tendo acompanhado o marido embaixador em vários países e convivido com reis, rainhas e artistas de primeira grandeza, Maria Martins, ao dar essa longa entrevista para Clarice Lispector, foi direto ao ponto, logo na primeira pergunta, justamente sobre a importância atual da diplomacia.

- Outrora, a vida diplomática era uma beleza. O embaixador representava seu governo. A responsabilidade era total. Hoje, a diplomacia é uma droga. O diplomata não passa de um caixeiro-viajante para vender café, meia de náilon etc.

E mais: "Quando o embaixador tem uma vitória política, se por acaso acontece, é do governo. Quando tem um fracasso, é dele, diplomata".

Mais interessante, ainda, é que Maria Martins termina sua resposta com uma pergunta para a entrevistadora, que também era mulher de diplomata:

- E você, Clarice, qual é a sua experiência de vida diplomática, você que é uma mulher inteligente?

- Não sou inteligente, sou sensível, Maria. E, respondendo à sua pergunta: eu me refugiei em escrever.

Clarice Lispector volta ao tema: "E como você conservou sua espontaneidade, mesmo depois de uma longa carreira de mulher de diplomata, o que é raríssimo?".

Maria Martins não pestanejou: "Eu respondo como você: porque eu me refugiei na arte".

A pergunta que deixo é simples. Dada a facilidade de encontros pessoais e de comunicação on-line entre presidentes, chefes de Estado e chanceleres, que papel têm hoje os diplomatas? Será que os diplomatas inteligentes têm mesmo que se refugiarem na literatura e na arte?

Se ficar, o bicho pega, se correr... - ILIMAR FRANCO

O GLOBO - 30/08

Há muita cautela com o anúncio feito pelo presidente da Câmara, Henrique Alves, após o deputado-presidiário Natan Donadon não ter sido cassado. Ele disse que não votará novas cassações até aprovar o voto aberto. O temor tem fundamento. Aprovar emendas constitucionais exige muita articulação, o que faltou no caso Donadon. O quórum necessário é de três quintos dos votos (308). E os afetados pela mudança (como os réus do Mensalão) podem tentar empurrar a votação para o final de seus mandatos. No Senado, a emenda do senador Álvaro Dias, apresentada em 2007, só foi aprovada em 2012.


A crítica à Câmara é merecida. Minha frustração é com quem não votou. Estavam na Casa 470, destes 459 registrados no painel e 405 votaram
Henrique Alves
Presidente da Câmara (PMDB-RS)


Donadon e o cachorro morto
Ao discursar ontem, o deputado Chico Alencar (PSOL-RJ) não foi poupado. Gritos vinham do plenário: "Não chuta cachorro morto!"; "Não seja cruel com o Natan"; "Poupa o cara, ele já está ferrado”; "Tenha coração"; e “Chico, cala a boca”.


Temer banca Paulo Skaf
A despeito das conversas de peemedebistas com o governador Geraldo Alckmin (PSDB), o vice-presidente Michel Temer garante: “Vamos ter candidato em São Paulo.” O tucano gostaria de um vice do PMDB. Temer admite que há uma espécie da acordo com Alckmin: o partido não faz oposição, mas também não participa do governo. O acerto com o PT está mantido. O presidente da FIESP, Paulo Skaf será candidato ao governo.


No canto do ringue
Os tucanos dizem que o ex-governador José Serra não tem mais espaço no partido. Criticam o fato dele ter posto "chapéu em todas as cadeiras". E sugerem cautela diante de informes que ele não sai do PSDB. Lembram que em 2002, Serra disse que não deixaria a prefeitura de São Paulo e, depois, renunciou para concorrer ao governo paulista.


Cara e coroa
A luta para eleger a nova direção do PT não tem limites. Uma ala dos petistas faz um discurso para a militância, atacando os mensaleiros, e outro para a opinião pública, dizendo que o partido é vítima de conspiração de seus adversários.


Eles é quem vão decidir
A concessão do refúgio ao senador boliviano Roger Pinto está nas mãos do Comitê Nacional para os Refugiados. Ele é presidido por Paulo Abrão, Secretário Nacional de Justiça. Os demais membros são: Marcelo Viegas, Itamaraty; Paulo de Almeida, Trabalho; Marcus Quito, Saúde; Luciana Mancini, Educação; Flávio Coca, PF; e, Padre José Roberto da Silva, Cáritas (RJ).


A luta continua
O governo Dilma avalia que ganhou a batalha na sociedade sobre o Mais Médicos. Avaliam que as entidades médicas perderam o embate devido à falta de sensibilidade social de sua reação. Mas ainda teme a “bancada do jaleco” no Congresso.


Pedido de socorro
Num dia desses, sem mais nem menos, numa viagem para São Paulo, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, pede ao vice-presidente Michel Temer maior apoio e engajamento do PMDB na defesa da política econômica do governo Dilma.


APESAR DO TSE se comprometer em pressionar os cartórios eleitorais, os parlamentares que devem se filiar a Rede de Marina Silva estão pessimistas.

Lendo nas entrelinhas - VERA MAGALHÃES - PAINEL

FOLHA DE SP - 30/08

Ministros e advogados leram o duríssimo voto em que Celso de Mello rejeitou o recurso de José Dirceu ontem como um sinal de que ele votará contra o recebimento dos embargos infringentes no mensalão. O decano é considerado o fiel da balança num possível cenário de empate. Um ministro diz que, mesmo que os recursos sejam acolhidos, dificilmente o resultado mudaria. "Então por que arrastar isso por mais um ano e distribuir a infelicidade por todo o tribunal?", indaga.

Mãozinha A despeito da negativa da bancada, o PT na Câmara é apontado por parlamentares como um dos principais operadores para livrar Natan Donadon (PMDB-RO) da cassação e abrir um precedente para os mensaleiros.

Tiro no pé No entender de advogados, no entanto, os próximos que caírem no plenário da Câmara serão cassados graças à repercussão negativa do caso e à possível aprovação do voto aberto para perda de mandato.

Tamo junto Outros deputados afirmam que o discurso de Donadon "pegou" e que o uso de algemas "sensibilizou" seus pares. O baixo clero teria dado o "troco" em Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), que cortou o salário do deputado-preso e despejou sua família.

Greve Julio Delgado (MG) falou com Eduardo Campos ontem para sugerir que o PSB só vote matérias na Câmara após a Casa pautar a PEC do voto aberto. Segundo o deputado, o governador topou.

Fria O líder do PSB, Beto Albuquerque (RS), faltou à sessão por ter sido enviado por Henrique Alves para representá-lo em evento literário em Passo Fundo.

Depois Fernando Haddad pediu paciência aos taxistas que pedem para trafegar nos novos corredores de ônibus de São Paulo. Em reunião com o sindicato da categoria, o prefeito disse que a prioridade é o transporte coletivo.

Independência... Em encontro recente, José Serra avisou a interlocutores que deve anunciar até 7 de setembro sua decisão de permanecer no PSDB ou migrar para o PPS. Assim, o ex-governador teria tempo para articular adesões a seu projeto: disputar prévias ou construir uma base em um novo partido.

... ou morte Aliados relatam que Serra se sentiu "agredido" pelas críticas feitas por tucanos a sua movimentação, nos últimos dias.

Avatar Geraldo Alckmin se mantém alheio à disputa entre Serra e Aécio Neves no PSDB, mas seu secretário particular, Ricardo Salles, esteve no almoço de deputados paulistas com o mineiro. Sua participação foi discreta, segundo convidados.

Venda casada Petistas calculam que a aproximação de Eduardo Campos (PSB) com Aécio deverá resultar em dobradinhas de Beto Richa e Ratinho Jr., no Paraná, e Geraldo Alckmin e Márcio França, em São Paulo, além de possíveis acordos no Rio Grande do Sul e em Minas Gerais.

De peso O diplomata Eduardo Saboia contratou Ophir Cavalcante, ex-presidente da Ordem dos Advogados do Brasil, para defendê-lo no processo administrativo aberto pelo Itamaraty após sua participação na fuga do senador boliviano Roger Molina para o Brasil.

Uma só... Gleisi Hoffmann comandou reunião ontem na Casa Civil com ministros e presidentes de estatais para "uniformizar" informações das pastas do governo.

... voz Alexandre Padilha (Saúde) falou sobre o Mais Médicos, e Marcelo Néri fez apresentação sobre "as transformações da sociedade".
com ANDRÉIA SADI e BRUNO BOGHOSSIAN

TIROTEIO
"Donadon já está assumindo a função de representação na cadeia, ao reclamar, na tribuna, da qualidade da comida na Papuda."
DO DEPUTADO CHICO ALENCAR (PSOL-RJ), para quem a Câmara criou uma jabuticaba" ao não cassar Natan Donadon: a do detento detentor de mandato.

CONTRAPONTO

Tá falando sério?
A procuradora-geral da República interina, Helenita Acioli, comemorava ontem, no plenário do Supremo Tribunal Federal, a aprovação de Rodrigo Janot na CCJ do Senado para assumir o comando do Ministério Público:
--É a notícia mais importante do dia! --vibrou, sorridente, diante dos jornalistas que cobriam a sessão.
Questionada se a aprovação do colega era mais importante que a decisão da Câmara de não cassar o deputado Natan Donadon (ex-PMDB-RO), ela disse:
--Por quê? Tem algum deputado preso? Tem?
Os repórteres não entenderam se era ironia ou não.

As veias abertas - LUIZ CARLOS AZEDO


CORREIO BRAZILIENSE - 30/08

A presidente Dilma Rousseff e o presidente da Bolívia, Evo Morales, devem se reunir hoje em Paramaribo, capital do Suriname, onde ocorre a reunião da União das Nações Sul-Americanas (Unasul). Ontem, Morales disse que o governo brasileiro deveria mandar de volta para a Bolívia o senador Roger Pinto Molina, para que responda às acusações de corrupção que pesam contra ele na justiça boliviana. Pôs uma saia justa na presidente Dilma Rousseff, que recebeu um ultimato. Dilma ficou irritadíssima e, ontem à noite, até cogitava cancelar a viagem.

Segundo Morales, o Brasil precisa explicar a fuga do senador Roger Pinto Molina. Ele deixou a embaixada brasileira, onde passou cerca de um ano e meio confinado numa sala sem janela, com o apoio do encarregado de negócios do Brasil na Bolívia, Eduardo Saboia, que assumiu a responsabilidade pela operação. Alega perseguição política e risco de vida porque denunciou o envolvimento do governo boliviano com o narcotráfico. Evo Morales se recusou a dar o salvo-conduto a Morales e, agora, pediu à Interpol que o prenda, pois ao sair do país tornou-se um foragido da justiça boliviana. Dilma demitiu o chanceler Antônio Patriota e removeu o diplomata, mas isso não basta para a Bolívia.

A concessão do asilo a Roger Pinto seguiu a tradição diplomática do Itamaraty e latino-americana. Contraria, porém, a atual doutrina da política externa brasileira para o continente. De um lado, temos os governos de esquerda — da Argentina, do Uruguai, da Venezuela, do Equador e da Bolívia; de outro, os governos de centro direita — do Chile, do Peru e da Colômbia, que se unem ao México e formam a chamada Aliança do Pacífico, alinhados aos Estados Unidos. O Paraguai, que havia sido afastado do Mercosul, está com um pé na Aliança do Pacífico. O Brasil optou por disputar com a Venezuela a liderança do bloco à esquerda e mantém distância regulamentar dos demais países. A concessão do asilo a Roger Pinto enfraquece a posição do Brasil na sua esfera da influência.

Liberais e nacionalistas
No Itamaraty , ao contrário das Forças Armadas, houve períodos de certo consenso sobre a política externa entre uma ala americanista, de caráter liberal, e outra nacionalista, de esquerda. Elas se uniram, por exemplo, em dois momentos decisivos para o país: quando o Brasil entrou na II Guerra Mundial e no governo de Juscelino Kubitschek. A corrente mais reacionária só foi hegemônica no Estado Novo, em 1935; e logo após o golpe militar de 1964. Mesmo no regime militar, com Saraiva Guerreiro, houve certo consenso. Com a democratização do país, o comando do Itamaraty continuou sendo disputado entre liberais e nacionalistas, mas o consenso se desfez. Os primeiros mandaram durante o governo de Fernando Henrique Cardoso: os segundos, dão as cartas desde a eleição do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O caso Roger Pinto expõe novamente essa contradição.

Dilma e Lula
A presidente Dilma Rousseff herdou do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva essa doutrina para América Latina, com a qual concorda. A diferença é que Lula visitava com muita frequência a Argentina, a Bolívia e a Venezuela, ao passo que a presidente Dilma Rousseff, por diversas razões, distanciou-se dos demais líderes de esquerda do continente, com exceção da presidente argentina Cristina Kirchner. Lula teve muita paciência com Evo Morales; Dilma, não tem nenhuma.

Apagão// Doutor em energia elétrica, o secretário da Indústria e Comércio da Bahia, James Correia, culpou a Chesf pelo apagão em nove estados do Nordeste. “É culpa da incompetência da Chesf.” Ele quer a cabeça do presidente da Chesf, João Bosco de Almeida, que é apadrinhado do governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB).

Fora de jogo
O deputado federal Romário (foto), do Rio de Janeiro, passou por uma cirurgia ontem de hérnia de disco lombar no Hospital Sarah Kubitschek, em Brasília. Foram seis horas de operação, mas o craque passa bem. O parlamentar já havia se submetido a outros procedimentos cirúrgicos, considerados paliativos, para amenizar a dor. Na semana passada, começou a sentir dores fortes e contínuas, que impediam sua locomoção.

Digitais
Não votaram na sessão que deveria cassar Donadon 103 deputados

Efeito Orloff
A Câmara dos Deputados livrou de cassação o deputado federal Natan Donadon, que está condenado a 13 anos, 4 meses e 10 dias por peculato e formação de quadrilha, em votação surpreendente. Foi um recado para o Supremo Tribunal Federal dos parlamentares contrários à cassação dos quatro parlamentares condenados na Ação Penal 470. Preso no Complexo Penitenciário da Papuda, Donadon sensibilizou muitos colegas: eu sou vocês amanhã. Dos 513 deputados, somente 233 votaram por sua cassação, que exigia 257 votos a favor. Houve 131 votos contra e 41 abstenções.

Nós, quem?/ A bancada do PT na Câmara repudiou “qualquer tipo de insinuação” de que o partido teria feito um acordo no processo de votação que manteve o mandato do deputado Natan Donadon. Assinada pelo líder José Guimarães, a legenda esclarece que 78 parlamentares marcaram presença; 10 não estavam em Brasília por motivo de doença ou missão oficial; 67 votaram e 11 não o fizeram.

Perto do céu/ Cerca de 200 médicos cubanos que estão em treinamento em Brasília foram transferidos de alojamentos militares para abrigos civis, mas confortáveis. Um deles é o Mosteiro de São Bento.

Cassação/ O presidente nacional do PPS, deputado federal Roberto Freire (SP), e o líder do PSDB, Carlos Sampaio (foto), anunciaram que entrarão com mandado de segurança no Supremo Tribunal Federal (STF) para anular todo o processo de cassação do deputado Natan Donadon (RO) porque a Mesa Diretora da Câmara enviou-o à Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) em vez de declarar, de ofício, a perda de mandato.

Dia do bom PIB - MIRIAM LEITÃO

O GLOBO - 30/08

Depois de uma maré de más notícias, hoje será dia de número bom: o do PIB do segundo trimestre. Ele deve mostrar um crescimento mais forte do que no primeiro trimestre e de maior qualidade, porque espalhado pela economia. Ontem, também saiu uma boa nova: o IGP-M despencou. Isso dá mais espaço para o impacto que os preços sofrem com a alta do câmbio.

Os bancos, consultorias e institutos estão prevendo que o número que sairá hoje do IBGE deve mostrar que o segundo trimestre foi o melhor do ano. Entre os grandes bancos, o Itaú Unibanco é um dos mais otimistas, apostando em 1,1% em relação ao primeiro trimestre e 2,9% na comparação com o mesmo período de 2012. O Bradesco calcula um dado mais perto do que mostrou o IBC-Br: 0,9%. A MB Associados também acompanha o 1,1%. A Galanto prevê 1%. A Tendência, 0,7%.

As previsões variam de 0,7% a 1,3% dependendo de vários fatores; um é a dúvida se o IBGE vai rever o número do primeiro trimestre, o que alteraria os cálculos do segundo. Seja como for, o importante não é o dado cravado, mas a convicção geral de que o segundo trimestre foi bom, superou o primeiro e o crescimento foi mais disseminado: bons números para a indústria, agricultura, consumo, investimento.

Se o PIB trimestral de 1% for anualizado dá um crescimento de 4%. O problema é que o índice não pode ser projetado para os próximos trimestres. O que houve com a economia de abril a junho não está repetindo no período de julho a setembro. Os indicadores antecedentes já divulgados mostram uma redução forte do ritmo de crescimento no terceiro trimestre. Nos últimos três meses do ano, o ritmo melhora ligeiramente. Por isso o trimestre bom não altera o fato de que 2013 será de crescimento baixo; maior do que o minicrescimento de 0,9% do ano passado, mas ainda assim, baixo.

Outra boa notícia do dia de ontem traz um certo problema para nós: os EUA deram mais um passo para o momento da retirada dos estímulos monetários à economia. O PIB do país cresceu 2,5% (taxa anual) no segundo trimestre, acima dos 2,2% esperados e do primeiro número previsto (1,7%). É mais que o dobro do ritmo visto no primeiro trimestre. Isso confirma a tendência de valorização da moeda americana: quanto mais aparecem dados provando a recuperação econômica dos EUA, mais se confirma a previsão de retirada dos estímulos e mais a moeda americana se fortalece. Com essa notícia, o dólar, depois de dois dias de queda, fechou ontem em alta de 0,94% - a maior desvalorização entre os emergentes, a R$ 2,370.

No Brasil, o ponto fraco continua sendo a área fiscal. As contas do governo central, por exemplo, tiveram em julho um superávit primário de R$ 3,72 bilhões, o menor para o mês desde 2010. Significa uma queda de 7% em relação ao mesmo mês do ano passado. E, ontem, o ministro Mantega admitiu que a taxa de superávit primário em 2014 também poderá ser menor. A meta, na verdade, será de 2,1%. E isso com eles prevendo para o ano que vem um crescimento de 4%. O mercado prevê 2,4%.

A inflação medida pelo IGP-M desacelerou. Em agosto, ficou em 0,15%. No mesmo mês do ano passado, havia sido de 1,4%. Isso fez despencar o dado em 12 meses para 3,85%. É bom que o índice esteja baixo porque a alta do dólar tende a pressionar os preços do atacado nos próximos meses. Os IGPs são formados, em parte, pelos preços do atacado. O impacto pegará o índice baixo.

Hoje, o governo vai comemorar o dado do PIB como prova de que os 4% incluídos no Orçamento de 2014 serão atingidos. Muita coisa terá que mudar na conjuntura para que esse número se realize.

Uma das apostas do governo para mudar o humor do mercado é a série de leilões de concessões que está marcada para os próximos meses. Há quem acredite que se forem bem sucedidos e atraírem investidores, os leilões dos aeroportos, rodovias e ferrovias podem mudar o clima e começar a atrair investimento. Nada disso altera o crescimento imediatamente, mas melhora o índice de confiança. O que pode impedir o sucesso dos leilões é que há muita incerteza regulatória, dúvidas sobre as regras dos leilões e rejeição ao modelo do governo de fixar a taxa de retorno. Mas é a melhor carta que o governo tem nas mãos para reverter o desânimo com a economia brasileira.

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO

FOLHA DE SP- 30/08


GO terá complexo hoteleiro de R$ 180 milhões

O Grupo Privé, que atua nas áreas de hospedagem e entretenimento, vai construir em Caldas Novas (GO) um complexo com investimento estimado em R$ 180 milhões.

Serão erguidos quatro hotéis no município goiano cujo turismo é impulsionado pelas águas termais.

A expansão vai fazer o número de apartamentos da rede praticamente dobrar em cinco anos, das atuais 1.250 unidades para 2.450.

Hoje, são seis hotéis administrados pela companhia e mais um empreendimento no sistema de cotas imobiliárias.

Com esse perfil de fracionamento, no qual os donos dos imóveis usam os flats por períodos definidos durante o ano, outros três prédios também estão em construção.

No novo complexo que será lançado em setembro, os hotéis terão 50% dos quartos no sistema tradicional e a outra metade por cotas.

"A gente tira os projetos do chão com recursos próprios e vende [de forma compartilhada] uma parte deles", diz o presidente da empresa, Waldo Palmerston Xavier.

"Temos comercializado cada projeto em um prazo de seis meses."

"Caldas Novas deve receber três milhões de turistas neste ano. O potencial é muito grande", afirma o diretor comercial Marco Aurélio Palmerston Xavier.

Além da hotelaria, o grupo é dono de três parques que recebem cerca de 500 mil pessoas por ano. Também tem restaurantes e explora águas termais para uso próprio e venda a outros hotéis.

COM ESCALA PARA OS EUA

A panamenha Copa Airlines oferecerá, a partir de dezembro, voos do Brasil para Tampa (EUA) com escala na Cidade do Panamá.

A companhia também planeja para dezembro ampliar a frequência para Nova York, Cancún e Los Angeles.

A crise pela qual passa o setor aéreo brasileiro não afetará a expansão do número de voos da empresa, pois apenas as saídas do Panamá em direção aos Estados Unidos serão alteradas.

"Vemos o que está ocorrendo com o real, mas não teremos alta de custos por causa da moeda, já que o volume de voos entre Brasil e Panamá não será modificado", afirma o presidente da empresa, Pedro Heilbron.

A intenção da companhia é elevar a frequência no país no próximo ano --assim como fez em 2012--, além de oferecer voos extras durante a Copa do Mundo.

Faturamento de restaurantes cai no primeiro semestre do ano

Sete em cada dez restaurantes associados a ANR (entidade nacional que representa o setor) registraram queda em seu faturamento no primeiro semestre deste ano, na comparação com o mesmo período de 2012.

Desses, pouco mais da metade afirmou que o decréscimo superou os 10%.

"A retração se deu em grande parte por causa do aumento dos custos. A inflação de alimentos e bebidas, que está bem mais alta que o IPCA, pesou", afirma o presidente da associação, Cristiano Melles.

Os arrastões e a lei seca também influenciaram o resultado fraco, segundo os entrevistados pela ANR.

"A expectativa é ter um segundo semestre melhor. Mas vamos pleitear um ICMS de 2% para compensar a inflação. Hoje, pagamos 3,2%", acrescenta Melles.

A Associação Nacional de Restaurantes reúne 310 empresas, como D.O.M., Ráscal e Outback, que representam 4.800 pontos comerciais.

Chá... O Inep, responsável pelo Enem ""exame que já deu muita dor de cabeça para o governo federal"" está comprando 6.000 caixas de chá para a diretoria do órgão, ligado ao Ministério da Educação.

Maiô... A Hope abrirá cinco lojas no Rio até o fim do próximo ano.

...calmante Segundo o edital de licitação, que prevê ao menos dez unidades em cada caixa, os servidores terão à disposição 60 mil sachês de chá de camomila, hortelã, erva doce e capim cidreira.

...carioca A empresa de lingerie acaba de abrir a sétima unidade na cidade.

BRASILEIROS NO TOPO

Entre os Brics (Brasil, Rússia, Índia e China), o Brasil foi o país que teve o maior volume de investimentos estrangeiros em negócios de fusão e aquisição de empresas entre 1990 e 2012, segundo o BCG (Boston Consulting Group).

Grupos internacionais injetaram US$ 231 bilhões (cerca de R$ 544 bilhões) no mercado para comprar ou se unir a empresas brasileiras.

A China ficou em segundo lugar, com US$ 203 bilhões. Em seguida estão a Rússia (US$ 116 bilhões) e a Índia (US$ 115 bilhões).

No período, o país que mais fez transações no Brasil foi a Espanha, responsável por 18% dos negócios.

Os Estados Unidos ficaram com um índice de 17%, e a China, com 8%.

Apesar dos altos valores, os acordos feitos apenas entre empresas brasileiras predominaram nos últimos anos.

Entre 2010 e 2012, 61% das fusões e aquisições foram internas e 32% foram conduzidas por grupos estrangeiros.

Entre os mercados emergente, os Brics foram responsáveis por 60% dos negócios entre 2010 e 2012.

HOSPEDAGEM NA ROÇA

O Grupo Mazzaropi vai investir R$ 16 milhões na construção de um hotel voltado para clientes corporativos em Taubaté, cidade que fica a cerca de 130 km de São Paulo.

Essa será a primeira vez que a empresa vai focar no turismo de negócios.

"Percebemos que há uma carência de estabelecimentos com esse perfil em Taubaté, que é uma cidade muito comercial", diz Jorge Arthur Girelle Ribeiro, diretor e administrador do grupo.

A companhia é dona dos hotéis Vila Inglesa, em Campos do Jordão (SP), e Fazenda Mazzaropi, também em Taubaté, que foi inicialmente erguido pelo ator e produtor de cinema Amancio Mazzaropi na década de 70.

A nova unidade, que ficará afastada do centro da cidade, terá 6.000 metros quadrados e 168 apartamentos.

Hoje, a empresa tem 160 funcionários, mas o futuro empreendimento deve gerar outras 70 vagas.

A abertura será em 2014.

"No total, o terreno tem 40 mil metros quadrados, pois temos um projeto de construir um centro de convenções para até 2.000 pessoas, integrado ao hotel", diz Ribeiro.

Recarga... O Banco Daycoval acaba de lançar uma plataforma on-line destinada a cartões pré-pagos para viagens internacionais.

...turística Com o e-commerce, é possível recarregar os cartões em moeda estrangeira de qualquer cidade do mundo. O valor mínimo é de US$ 100.

Acredite se quiser - CELSO MING

O ESTADÃO - 30/08

O governo federal divulgou nesta quinta-feira a peça de ficção que tem-se repetido: o Orçamento-Geral da União. É ficção não porque contenha erros de avaliação, tanto de arrecadação quanto de despesa, mas porque trabalha propositalmente com variáveis destituídas de senso de realismo.

Lá estão previstos para 2014 um avanço do PIB de 4,0%; uma inflação de 5,0%; e uma cotação do dólar (taxa de câmbio) de R$ 2,19. Qualquer administrador de patrimônio que precisa trabalhar com parâmetros macroeconômicos confiáveis sabe que esses números não têm consistência.

Não muda as coisas quando o ministro da Fazenda, Guido Mantega, adverte, como fez nesta quinta, que “esses números não devem ser tomados como previsões porque o governo não pode adivinhar” e, por isso, começa de alguma base para depois ir ajustando. Mas, se eles são inconsistentes, que valor podem ter? O governo não quer apontar suas verdadeiras estimativas provavelmente porque ainda imagina que é melhor esbanjar otimismo, para talvez com isso influenciar o estado de espírito dos formadores de opinião. Infelizmente, o resultado vai na direção oposta.

As projeções com que lidam cerca de 100 consultorias, departamentos econômicos de empresas e bancos auscultados semanalmente pelo Banco Central para a Pesquisa Focus, são bem diferentes: crescimento econômico de 2,9%, inflação de 5,8% e cotação do dólar (em fim de 2014) de R$ 2,35.

Desde 2011 é a mesma coisa: o ministro Mantega começa projetando o avanço do PIB em 4,0% ou 4,5% e termina entregando uma fração disso. Foi de 0,9% em 2012 e o próprio Mantega já não espera mais de 2,5% em 2013.

Como de tantas outras vezes, também agora o ministro condiciona o bom desempenho da atividade econômica brasileira à melhora do cenário mundial. No entanto, as principais limitações estão aqui dentro: distorções na economia, rombo progressivo nas contas externas, inflação alta, investimento baixo, mercado de trabalho aquecido demais, altos custos de produção e um desânimo crônico, que é, ao mesmo tempo, resultado e causa de tudo isso.

Para dar alguma racionalidade a uma inflação em 2014 de apenas 5,0% (acima da meta de 4,5%, mas, ainda assim, abaixo de todas as projeções que estão por aí), o governo se compromete a deixar uma sobra de arrecadação para pagamento da dívida (superávit primário) equivalente a 2,1% do PIB. Mas 2014 é um ano de eleições. Se a administração das contas públicas não passa confiança em anos comuns, como acreditar que em 2014 seja tudo diferente?

Mais uma vez, vai sobrar para o Banco Central a tarefa de segurar a inflação hoje pressionada pela esticada do câmbio e pelo represamento dos preços administrados, especialmente o das tarifas dos combustíveis.

Se repetir nas duas próximas reuniões do Copom (outubro e novembro) a mesma dose de alta dos juros básicos (Selic) definida quarta-feira, ainda neste ano poderemos ter de volta os dois dígitos (de 10% para cima), até agora tabu no governo Dilma. E, mesmo se a opção for por um último ajuste na Selic (no ano) de apenas 0,25 ponto porcentual, os dois dígitos podem perfeitamente acontecer de janeiro em diante, principalmente se o Banco Central continuar perseguindo a convergência da inflação à meta.

CONFIRA:

Foi bem mais. A revisão do avanço anualizado do PIB dos Estados Unidos no segundo trimestre do ano foi a boa surpresa de ontem. Em vez de 1,7% veio 2,5%.

Vai começar? O lado ruim da boa notícia é que a mais provável recuperação da economia americana reforça o argumento de que o Fed (o banco central dos Estados Unidos) inicie logo a reversão da política monetária expansionista.

Já vimos esse filme queimado - VINICIUS TORRES FREIRE

FOLHA DE SP - 30/08

Governo está satisfeito ou de mãos atadas, a julgar pelo Orçamento que enviou ao Congresso


A JULGAR PELO projeto de Orçamento que Dilma Rousseff enviou ontem para o Congresso, o governo está satisfeito com sua política de gastos, continua otimista depois de três anos de frustrações e não está lá muito preocupado em dar uma mãozinha ao Banco Central no controle da inflação.

Pretende poupar menos (isto é, pretende fazer um superavit primário menor: receita menos despesa, desconsiderados gastos com juros). Isto é, se considerada a despesa que pode ser abatida da meta de superavit: investimentos e "gasto" com reduções de impostos.

"Ah, o governo pretende investir mais." Seria até interessante a gente lidar com uma situação em que o governo acabou gastando mais porque investiu mais em "obras". A gente ainda está esperando sentada para lidar com tal dilema. Até agora, neste ano, o investimento cresceu quase nada, ao contrário das demais despesas. "Imagina na Copa e nas eleições" de 2014. Porém, nem a intenção é essa, de investir mais. Na ponta do lápis (e no papel), o governo pretende investir um tico menos do que no ano passado.

O governo, enfim, vai apenas recorrer mais ao artifício de reduzir o superavit primário com gastos com investimentos (isto é, vai poupar menos usando o recurso legal de abater da meta de poupança a despesa com certos investimentos, aqueles do Programa de Aceleração do Crescimento, o PAC).

O governo acredita ainda que Estados e municípios vão poupar mais no ano que vem. Uhm. Em ano de eleição, com prefeitos em segundo ano de mandato, já tendo aprendido a mexer os pauzinhos do gasto?

O aumento do salário mínimo, por ora, ficou dentro do previsto, inflação medida (por ora estimada) pelo INPC neste ano mais o crescimento do PIB em 2012 (que foi de 0,9%). O reajuste do mínimo, como se sabe, reajusta o piso de benefícios sociais, como o da Previdência. Se o governo resolver fazer um agrado, com reajuste maior, a conta do governo desanda ainda mais.

Na numeralha da apresentação do Orçamento ainda está dito que a despesa com juros deve cair de 4,7% do PIB (estimativa para este ano) para 4,5% do PIB. Uhm. Com a Selic em alta, chegando perto de 10% ao ano? Com os piripaques devidos à mudança da política americana e provável alta adicional de juros por lá, o que vai ter efeitos aqui? Uhm.

Não se trata de despesa sob controle do governo, decerto. Mas é improvável que o gasto com juros não aumente pelo menos 0,5% do PIB, por aí. A diferença, para nem mencionar outros problemas, é que o deficit total ("nominal") cresce; assim, a dívida cresce, ou cai menos. A dívida bruta ainda vai crescer, pois o BNDES pediu mais dinheiro para o governo, e está pendurada a conta do abatimento das tarifas de energia elétrica, que era para custar pouco e acabou sendo um dinheirão.

Na conta dos investimentos totais, que inclui estatais, está um baita desembolso da Petrobras. Espera-se que dê certo. Mas a petroleira está com a língua de fora por causa do vazamento no caixa provocado pela política de combustíveis (aquela história de a empresa ter de importar combustível caro e vender barato aqui dentro, pois o preço para a empresa está na prática tabelado).

Enfim, como era previsível, a política econômica muda muito pouco, até 2015, pelo menos. Uhm.

Terceirização sem preconceitos - CLAUDIO J. D. SALES

CORREIO BRAZILIENSE - 30/08
O Ministério Público do Trabalho tem dado declarações que buscam estabelecer uma correlação direta entre a terceirização de atividades no setor elétrico e a precarização do trabalho. Tal postura precisa ser reexaminada, pois pode levar a conclusões incorretas e provocar sérias consequências que, além de imputar responsabilidades indevidas, não contribuirão para melhorar as condições de nossos trabalhadores.
Os Três Poderes têm dedicado muito esforço para definir políticas públicas sobre a terceirização, tema que requer definição urgente e que continua sendo questão polêmica que afeta empresas e órgãos da administração pública e da esfera privada. Serão impactadas por tal definição empresas, clientes e empregados dos setores de energia elétrica, telecomunicações, automobilístico, serviços financeiros, entre outros.

A terceirização é uma técnica de gestão pela qual se opta por contratar outra entidade para desempenhar determinada atividade - em vez de realizá-la internamente - e que visa a aprimorar o desempenho da organização. Tal técnica tem sido atacada no Brasil com base na tese de que ela contribuiria para a precarização do trabalho. No entanto, os casos de precarização decorrem de falhas institucionais que resultam em condições trabalhistas não isonômicas. São falhas que podem e devem ser endereçadas, mas que não são causadas pela terceirização.

A terceirização proporciona benefícios para a sociedade na forma de ganhos de eficiência, flexibilização da cadeia produtiva, compartilhamento de riscos, ganhos de qualidade e inovação. Além dos impactos da terceirização que afetam as empresas diretamente envolvidas e seus empregados, também devem ser incluídos os efeitos - imediatos e de longo prazo - sobre os consumidores, sobre o nível e composição do emprego e sobre os poupadores e investidores.

Como exemplo, e conforme detalhado no White Paper nº 8 - Terceirização no Setor Elétrico e o Interesse Público (disponível em www.acendebrasil.com.br/estudos), no setor elétrico a terceirização tem propiciado a criação de novas empresas em que trabalhadores podem prestar serviços especializados com alta produtividade, o que tem redundado em menor custo da energia elétrica para os consumidores.

Como toda técnica de gestão, nem todas as implementações de terceirização foram bem-sucedidas. Há situações em que empresas voltaram atrás no grau de terceirização de algumas atividades, passando a internalizar a sua execução e/ou sendo mais criteriosos nas escolhas das empresas terceirizadas. Grande esforço também tem sido empreendido para garantir que as terceirizadas cumpram padrões de segurança como os determinados pela Norma Regulamentadora 10 (NR-10).

Embora nem sempre seja bem-sucedida, a imposição de regras para restringir a terceirização privaria a sociedade de seus benefícios. O sucesso dessa técnica depende de aspectos gerenciais que não podem ser tratados por leis ou regulamentos gerais. Os desafios não serão vencidos com artifícios burocráticos e universais.

É também importante evitar o risco de ideologização do tema. Alguns políticos - e até procuradores do Ministério Público - têm buscado vincular a prática de terceirização à "privatização" e à atuação de empresas privadas. Mas tais autoridades sabem muito bem que o setor elétrico brasileiro é marcado pela atuação mista de empresas privadas e estatais, que se valem desse modo de contratação de mão de obra da mesma forma. Insistir nesse discurso ideológico será prova de má-fé.

A terceirização amplia a concorrência, induz as empresas à eficiência, incentiva os trabalhadores a buscarem aprimoramento contínuo e reduz os custos da eletricidade. Nossas autoridades precisam estudar os efeitos líquidos e globais da terceirização por meio de um olhar mais amplo, que atenda aos interesses da maioria da população, e não às demandas corporativas de grupos específicos.

Colhendo os frutos da violência - FERNANDO GABEIRA

O ESTADO DE S. PAULO - 30/08

A presença no interior do País, que alguns jornalistas chamam de Brasil profundo, às vezes me deixa em dúvida se estou levando em conta todos os dados possíveis da realidade. Será que tudo o que estou vendo é só um refluxo do movimento de massas e a ocupação do terreno por grupos radicais que usam a violência como um instrumento pedagógico?

Usei um verso de Drummond para definir os acontecimentos de junho: nasce uma flor no asfalto. E disse que seu maior inimigo era a violência, que terminaria por esvaziar as mas e fortalecer o lado que se pretende combater. Não pensava em nada do tipo conselho aos jovens. Apenas dizia que é ilusão supor que a História recomeça do zero. Vive na minha memória, e de todos os sobreviventes dos anos 6o, a lembrança dos acontecimentos que resultaram na luta armada e no fortalecimento da ditadura militar.

Os grampos que se radicalizam na maré baixa dos movimentos acreditam estar mantendo o espírito e preparando nova investida. No 7 de Setembro, quem sabe? Tenho algumas razões para discordar dessa tática, para além da pura e simples objeção à violência. Claro que não me importo com os mal-entendidos nem espero indulgência dos críticos. Valho-me do sentido da realidade que às vezes abandona os grupos radicais quando as mas se esvaziam e só ouvimos o barulho do trânsito.

Nas ruas multidões portavam cartazes dizendo: "Desculpem o transtorno, estamos mudando o Brasil. As pessoas viam isso com tolerância, pois era verossímil que tamanha energia concentrada pudesse mudar o País. O mesmo não vale para um grupo de vanguarda, pois é difícil atribuir capacidade de modificar o País a círculos isolados que se escondem sob máscaras e destroem símbolos do capitalismo.

Essas ações pedagógicas são  realizadas na esperança de que I se universalizem, de que outros  as sigam e todos juntos destruam o sistema. Por essa esperança as pessoas se arriscam a ser presas. Acham que mais cedo ou mais tarde vingarão os frutos de sua ação pedagógica. O difícil é ver o tempo passando no cárcere e perceber que tudo aquilo era uma ilusão, constatar que a maioria esmagadora segue rejeitando a violência como forma de luta política.

É preciso passar um tempo  no cárcere, comprometer a própria vida, para aprender essa lição elementar? Pode ser que entre os que queimam e destroem haja alguns que o façam por uma simples explosão nervosa. Mas os que organizam sistematicamente e consideram a tática correta estão jogando conscientemente com o próprio futuro.

Cansei de ver quebra-quebras em Berlim no 1.° de Maio. Sempre os mesmos, sempre na  mesma loja de departamentos.

 E a Alemanha segue seu rumo.

Os políticos agora refluíram e  a polícia brasileira parece indecisa sobre o que fazer com a violência que sobrevive no rescaldo das grandes manifestações. Os políticos temem a eleição, sabem que, mesmo calados, terão dificuldades em 2014. Por que se pronunciar e afastar mais a chance de voltar ao cargo?

Os resultados da baixa maré são claros. As bandeiras principais dos movimentos foram enfraquecidas. O governo recupera gradualmente o prestígio perdido. Não importa se o gigante acordou ou voltou a dormir. Vamos supor como correta a inversão daquela frase comum: quanto mais as coisas ficam as mesmas, mais elas mudam. Ainda não sabemos o impacto que o movimento de junho deixou na consciência de muitos. A pura observação nos autoriza a dizer que se buscava mais a condenação da política do que propriamente uma alternativa. Não só continuaram insolúveis alguns problemas na área política, como se acentuaram os indícios de que a ilusão de prosperidade sustentada foi para os ares.

A queda do real é só mais um capítulo da queda na realidade. Espera-se um aumento da gasolina e com ele mais aperto no bolso, apesar de sua correção. A sensação de crise econômica ; aos poucos vai se impondo à euforia da prosperidade, mas não há nenhuma esperança, no momento, de que possa ser superada por uma visão correta do atual governo.

A política externa brasileira continua sendo a política de um partido. Foi preciso que um jovem diplomata arrancasse um asilado de um quarto da embaixada em La Paz e fugisse com ele para o Brasil. No episódio da prisão dos torcedores corintianos, o mesmo diplomata, Eduardo Saboia, se esforçou para atendê-los enquanto as negociações com Evo Morales patinavam.

Estive na Bolívia para cobrir a revolta dos índios contra a construção de uma estrada na região Amazônica com financiamento do BNDES. Dois governos que se dizem populares se meteram numa aventura altamente impopular. Alguns adeptos do PT acham que é preciso falar fino com a Bolívia e grosso com os EUA. Será que a maioria da Nação realmente se sente paternal diante da Bolívia e ofendida diante dos EUA?

Com todos os descaminhos do governo é preciso contar apenas com novas manifestações? Elas têm um grande poder, mas já não somos inocentes sobre seu alcance real. Os políticos encenam um esforço concentrado, esperam o refluxo do movimento e caem, de novo, nas mesmas práticas repulsivas.

As grandes manifestações de junho tiveram o poder de revelar a incapacidade do sistema político no conjunto, a incompetência do governo e a repulsa à corrupção. Está na hora de valorizar não só o protesto, mas a busca de alternativas reais para o País. O crescimento dos últimos anos, apoiado numa bolha de consumo, parece ter chegado ao fim. A mediocridade do governo fica mais clara ainda.

Manifestações são vitais, mas a História é mais parecida com maratona do que tiro de cem metros. E a política, uma navegação que requer conhecimento dos mares, rochedos, portos a serem alcançados e as dificuldades do caminho. Estamos à deriva. Tal como na Espanha, sabemos o que as pessoas não querem. Prevemos altos índices de voto nulo. Cairá a legitimidade do poder político. Saída mesmo ainda não se vê no horizonte.

Marketing bélico - HÉLIO SCHWARTSMAN

FOLHA DE SP - 30/08

SÃO PAULO - É complicada a perspectiva de intervenção na Síria. Meu receio é o de que estejamos prestes a assistir a um espetáculo de marketing militar, que visa mais a apaziguar clamores humanitários do que a pôr um fim à guerra civil.

É claro que, sob o aspecto moral, uma ação seria em princípio justificável. Interromper carnificinas é um imperativo ético que a comunidade internacional deveria tentar colocar entre seus objetivos. É difícil, entretanto, entender por que foi necessário esperar o uso de armas químicas para tornar a intervenção iminente.

Não vejo grande distinção entre morrer envenenado ou metralhado. E, se 100 mil óbitos por armas convencionais não foram suficientes para levar as potências ocidentais a agir, parece estranho que os mil cadáveres adicionais façam tanta diferença. Podemos, é verdade, descartar essa objeção como acadêmica e dizer que o gatilho da intervenção teria de vir em algum momento e que ele finalmente chegou.

Isso nos leva à mais difícil questão de determinar o que deve ser feito. Aqui as coisas ficam sombrias, pois não parece haver muitas possibilidades de intervenção que sejam ao mesmo tempo eficazes, duradouras e a preço aceitável para o Ocidente.

Não é tão óbvio como mísseis e bombardeios impediriam novos ataques químicos (deixando para lá os convencionais). Os EUA e aliados poderiam optar por derrubar o regime de Bashar al-Assad, mas tergiversam diante do risco de ajudar sunitas radicais apoiados por ramificações da Al Qaeda a tomar o poder. Estão ainda menos ansiosos para envolver-se na lenta, cara e incerta operação de construir uma nação democrática. O precedente do Iraque não anima.

Como não há um objetivo óbvio e factível, Washington deverá contentar-se em lançar alguns mísseis, dizer que fez a sua parte e esperar que os sírios resolvam a contenda. É mais fácil do que admitir que certos problemas não têm solução.

Los médicos - LUIZ GARCIA

O GLOBO - 30/08

A opinião pública talvez esteja solidária com eles. Ela certamente quer mais médicos no país



O programa Mais Médicos não pode ser condenado pelo nome. Ninguém deveria ser contra uma iniciativa que aumente o atendimento aos doentes brasileiros.

Mas é compreensível a irritação dos nossos doutores com a importação, pelo Ministério da Saúde, de profissionais, quase todos cubanos, provocando nos profissionais brasileiros a desconfiança, ou mesmo a certeza, de que o governo não os considera capazes de cuidar da saúde do nosso povo.

Mesmo assim, não é possível aplaudir as vaias e insultos contra os médicos estrangeiros que estão sendo treinados em Fortaleza esta semana. O sindicato local dos profissionais brasileiros, responsável pela manifestação, afirmou que o protesto era apenas contra o Ministério da Saúde, O que pode ser verdade — mas vaia não tem rótulo, e os profissionais importados, todos cubanos, têm direito a se sentirem injustamente insultados.

E a opinião pública talvez esteja solidária com eles. Ela certamente quer mais médicos no país — desde, é claro, que o Ministério da Saúde não se esqueça de providenciar intérpretes em quantidade e qualidade adequadas.

Outra providência oficial obviamente necessária é um diálogo inteligente com os profissionais brasileiros. Não será acusando-os de xenofobia — como fez o ministro da Saúde, Alexandre Padilha — que se resolverá o problema. Inclusive porque os médicos brasileiros insistem em afirmar que seu protesto não era contra os estrangeiros, e sim contra o Ministério da Saúde. Segundo o presidente do Sindicato dos Médicos do Ceará, José Maria Pontes, ninguém vaiou os cubanos: o alvo era apenas o Ministério da Saúde. Mas é óbvio que os estrangeiros se sentiram atingidos pela reação dos colegas brasileiros à sua presença.

Parece ser uma boa ideia a sugestão dos brasileiros de que os seus colegas estrangeiros sejam submetido ao Revalida, que é um exame nacional de validação do diploma dos médicos. E ninguém falou nisso, mas é obviamente necessário resolver o problema do idioma.

No fim das contas, é obviamente necessário aumentar e melhorar o atendimento aos nossos doentes — principalmente no interior do país. Desde, é claro, que o paciente e o médico entendam claramente o que um e outro estão dizendo.

Maioria licenciosa - DORA KRAMER

O ESTADÃO - 30/08

O que dizer diante da decisão da Câmara de preservar o mandato de Natan Donadon, ora em cumprimento de pena no Presídio da Papuda (DF) por desvio de dinheiro público e formação de quadrilha?

Se ele mesmo se surpreendeu – “Não acredito!”, reagiu – com o resultado da votação secreta (233 votos pela cassação, 131 pela absolvição e 41 abstenções), é de se ressaltar o caráter espantoso da decisão.

O aparentemente impossível, no Parlamento acontece. Parecia óbvio que suas excelências não cometeriam tal abuso: mais que uma agressão aos fatos, um desrespeito ao Judiciário que o condenou a 13 anos de prisão e uma afronta ao próprio Legislativo que admitiu, assim, a compatibilidade entre o exercício do mandato e a condenação penal.

Durante o dia a cassação era dada como certa. De noite, na sessão em que Donadon foi autorizado a tirar as algemas para apresentar sua defesa, nenhum discurso em prol da absolvição. Apurados os votos, contudo, emergiu a força da maioria silenciosa e, por ação e omissão, licenciosa.

Houve maior número de votos pela condenação, mas somadas as abstenções, os ausentes (108) e os favoráveis à preservação do mandato, chegamos a 280 deputados em apoio a Donadon contra 233. Faltaram 24 votos para o alcance do quórum necessário (257) à cassação.

O presidente da Câmara, Henrique Alves fez o gesto inútil de declarar afastado do cargo o deputado que já estava afastado, confinado a uma cela desde o dia 28 de junho e, não obstante, será “excelência” ainda por um ano e meio. A maior parte de seus pares fez isso confiando na proteção do sigilo. Atingiram a todos, inevitavelmente nivelados por baixo.

O resultado não seria o mesmo se a votação fosse aberta. Nem a Câmara precisaria arcar com o inevitável acréscimo em seu robusto patrimônio de desgaste se tivesse optado pelo artigo da Constituição que determina a perda do mandato para os condenados em ações penais, e não pelo dispositivo que transfere a última palavra ao Legislativo.

As duas questões já poderiam ter sido resolvidas, caso houvesse interesse real em resolvê-las com a aprovação do fim do voto sigiloso em processos de cassação e da emenda que prevê a perda automática de mandato para condenados, ambas as propostas em tramitação no Congresso.

Mas, como ficou claro na exorbitante decisão da noite de quarta-feira, a maioria no Legislativo não está preocupada em corrigir nada. Aliás, está pouco ligando para coisa alguma que não seja a causa própria, neste caso a autoproteção.

Está criado o precedente para que os condenados no processo do mensalão continuem deputados até o início de 2015, independentemente de o Supremo Tribunal Federal daqui até lá determinar ou não o cumprimento das sentenças.

Os quatro, José Genoino, Pedro Henry, João Paulo Cunha e Valdemar Costa Neto estavam ausentes da sessão, engrossando a tropa dos que ajudaram a absolver o condenado fazendo da Câmara merecedora do troféu vergonha alheia do ano.

Fogo na roupa
O ministro das Minas e Energia, Edison Lobão, nega que haja “fragilidade no sistema elétrico” ao mesmo tempo em que atribui o apagão de quarta-feira no Nordeste a queimada em uma fazenda no Piauí.

Uma contradição em termos, pois ou o sistema não é firme e seguro o bastante para evitar que nove estados fiquem sem luz por causa de uma queimada ou a razão da queda de energia é outra

Em dezembro, o diretor-geral do Operador Nacional do Sistema (ONS) e o secretário-geral do ministério disseram que a série de apagões país afora era provocada por raios.

Dias depois, a presidente Dilma Rousseff desmontou em público a versão: “Raio cai todo dia, se caiu o sistema, é falha humana. No dia que falarem que caiu um raio, vocês gargalhem”.

Suicídio - ELIANE CANTANHÊDE

FOLHA DE SP - 30/08

BRASÍLIA - Ninguém trata tão mal os políticos quanto os próprios políticos. Nem mesmo o mais ácido crítico teria tanta eficácia quanto Suas Excelências ao corroer a imagem de deputados, de senadores e, pior, do Congresso Nacional.

Há inúmeros adjetivos, além de expressões impublicáveis, para definir a decisão de quarta-feira à noite, absolvendo o presidiário Natan Donadon da cassação de mandato, mas um só basta: é inacreditável.

Os parlamentares que votaram a favor de Donadon, abstiveram-se ou ausentaram-se sem bons motivos deixam uma dúvida. Se eles são colegas de Donadon na corporação Congresso ou deveriam ser na corporação Papuda, onde o parlamentar-presidiário está preso, com uma condenação de mais de 13 anos por formação de quadrilha e desvio de dinheiro público, o popular roubo.

Para tentar contornar o clima de enterro da instituição, o presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves, saca uma solução heterodoxa e sem respaldo no regimento, declarando o afastamento de Donadon e a convocação de seu suplente, Amir Lando. Está criada a seguinte situação: Donadon não é deputado, mas é; Lando é deputado, mas não é.

E, numa tentativa patética de reduzir as labaredas na opinião pública, o presidente do Senado, Renan Calheiros, desfralda uma "saída célere" anunciando a votação da PEC 18, que determina a perda automática de mandato, sem votação do Legislativo, em caso de condenação por improbidade administrativa e crime contra a administração pública.

Ah! Todos, claro, berram pelos salões, corredores e comissões contra o instituto do voto secreto para a cassação de parlamentares. Quem quiser se igualar a condenados, que vote pelo menos às claras.

Agora, porém, tudo isso é secundário, porque Inês é morta e Donadon está bem vivo. Mas, se alguém acha que isso pode ajudar Genoino, João Paulo Cunha e Costa Neto, está muito enganado. Ou será que não?

STF e Congresso nos seus labirintos - MERVAL PEREIRA

O GLOBO - 30/08

A situação criada pela decisão da Câmara de não cassar o mandato de Natan Donadon, condenado pelo STF a 13 anos de prisão pelos crimes de formação de quadrilha e peculato, por desvios na Assembleia de Rondônia, poderá repercutir no julgamento do mensalão, mas dificilmente alterará o entendimento sobre o tema já na próxima semana, quando será julgado embargo de declaração do deputado João Paulo Cunha.
Caso o plenário admita os embargos infringentes, aí sim, é quase certo que tanto as decisões sobre cassação de mandatos quanto formação de quadrilha serão alteradas, favorecendo os condenados, em especial os membros do núcleo político.
Essa será uma mistura politicamente explosiva, provocada pela posição dos dois novos ministros, Roberto Barroso e Teori Zavascki, que mudaram a jurisprudência do STF nos dois casos.
Embora a maioria dos ministros não veja espaço para uma alteração desse tipo nesta fase, pois os embargos de declaração têm abrangência muito restrita, há pelo menos dois precedentes no STF em que a jurisprudência do tribunal foi atualizada através de embargos de declaração. O entendimento sobre formação de quadrilha, por exemplo, não foi atualizado nessa etapa, mesmo que tenha sido modificado.
Os votos de Barroso e Zavascki mudaram o entendimento do STF quanto à cassação de mandatos no julgamento do caso do senador Ivo Cassol, fazendo com que a decisão final passasse a ser do Congresso. No julgamento do mensalão, a Corte havia decidido pela perda dos direitos políticos dos condenados, o que levaria automaticamente à cassação do mandato de acordo com o parágrafo IV do artigo 55 da Constituição.
Nos dois casos fora do mensalão, há essa diferença crucial: as penas não se referiam à perda dos direitos políticos, e, portanto, abriu-se uma brecha para que fosse usado o artigo VI do mesmo artigo 55 da Constituição, que determina que perderá o mandato o deputado ou senador "que sofrer condenação criminal em sentença transitada".
Nesse caso, a cassação do mandato, em vez de ser automática, dependeria de votação secreta do plenário. Acontece que, de acordo com artigo 15 da Constituição, a perda ou suspensão dos direitos políticos acontece devido a (...) III - condenação criminal transitada em julgado, enquanto durarem seus efeitos.
Como não é possível haver um deputado ou senador sem os direitos políticos, a cassação do mandato é automática.
Tanto é verdade que o presidente da Câmara, deputado Henrique Eduardo Alves, ao constatar que o plenário se inclinaria para salvar o mandato do deputado condenado e já preso na Papuda, decidiu que ele não poderia exercer o mandato da cadeia e convocou imediatamente seu suplente.
Na verdade, a Mesa Diretora da Câmara não quis assumir a cassação do mandato de um par e acreditou no bom senso do plenário, e deu no que deu. Há diversas versões para o que aconteceu no plenário
da Câmara na noite de quarta-feira, desde a conjunção de interesses variados - os evangélicos salvaram "um irmão", os deputados que já tiveram ou têm problemas com o Ministério Público votaram em seu próprio benefício, muitos tiveram uma mera atitude corporativa, votando contra, não comparecendo ou abstendo-se de votar.
Mas há também a teoria conspiratória de que tudo não passou de um ensaio para os petistas sentirem a tendência do plenário quando chegar a hora de decidir sobre os mandatos dos mensaleiros condenados pelo Supremo. Se foi isso, o tiro pode ter saído pela culatra, pois a reação dos que se indignaram com a decisão final foi apressar a votação da emenda constitucional que acaba com o voto secreto para cassação de mandatos e outros votos no Congresso.
Além disso, o presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves, garante que não colocará mais em votação casos de cassação até que acabe o voto secreto, o que faria, no limite, que os políticos condenados no julgamento do mensalão passassem a cumprir suas penas ao fim do julgamento, ainda investidos do mandato parlamentar.

O tempero de Donadon - DENISE ROTHENBURG

CORREIO BRAZILIENSE - 30/08

O caso do deputado Natan Donadon, de Rondônia, mereceria uma dissertação de mestrado no sentido de entender o que se passa na cabeça dos políticos. No início da quarta-feira, ninguém apostava que ele seria "absolvido" por seus colegas. Mas, passadas as primeiras 24 horas, era possível vislumbrar o que levou um presidiário a manter o seu mandato. Donadon ganhou na política. E nas próximas linhas você descobrirá o porquê.
A lição número um para sensibilizar os colegas parlamentares foi agir com humildade e ter a coragem de enfrentar o camburão. Só ali, ele conquistou uns votinhos, mas o que provocou as 41 abstenções, a maioria decidida de última hora, foram os 40 minutos em que o congressista ocupou a tribuna da Câmara.
 Dramalhões à parte, com citação da família e etc., Donadon foi crescendo a cada minuto que falava. O discurso cirúrgico bateu exatamente naquilo que cala fundo aos parlamentares: o Ministério Público, instituição da qual os parlamentares, salvo raras exceções, reclamam quase que diariamente. Este ano, por exemplo, os deputados e senadores só não restringiram os poderes de investigação do Ministério Público por causa das manifestações de junho.
Para quem não se lembra, vale um parêntese: em junho, estava em discussão a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 37, de autoria do deputado Lourival Mendes (PTdoB-MA). A PEC definia que as investigações seriam de responsabilidade da polícia e não do MP, a quem cabe fazer as denúncias de cada caso. A proposta seria aprovada, não fosse a presença maciça de jovens na porta do Congresso Nacional naqueles dias de outono.
Em seu discurso, Donadon usou e abusou de expressões para atacar o MP e se colocar como vítima dos procuradores de Rondônia que apuraram o desvio de recursos na Assembleia Legislativa do Estado. "Entraram, arrombaram, invadiram", disse ele ao se referir à apreensão de documentos na Assembleia estadual. Mencionou ainda que, se os procuradores quisessem, poderiam ter investigado as empresas envolvidas, mas não o fizeram com o intuito de condená-lo. "O MP diz que fui cooptado. Quem cooptou foi o MP", afirmou.
Dada a quantidade expressiva de deputados que se considera vítima do ímpeto dos procuradores, não foi tanta surpresa a absolvição. Quem ouviu atentamente seu discurso concluiu na hora que muitos ali se identificaram. Isso, somado à vontade dos deputados de mandar um recado ao Supremo Tribunal Federal (STF) sobre quem manda no parlamento, foi como juntar a fome à ânsia de comer. Tanto é que, quem tiver curiosidade de verificar as ausências em plenário por partido, verá que não houve uma única legenda responsável pela absolvição. A média foi de 20% de ausências por partido, o que, grosso modo, tem relação direta com o percentual de deputados que têm alguma restrição ao Ministério Público.

Por falar em responsável.
Em conversas reservadas, muitos debitam a absolvição de Donadon na conta do presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves, que começou a sessão tarde da noite, numa semana em que o plenário ficaria restrito a debates na quinta-feira, sem que fosse obrigatório o registro da presença. Isso permitiu que muitos voltassem a seus estados ainda na quarta-feira à noite, contribuindo para as ausências.
Há quem diga ainda que a data para votar o processo de Donadon foi mal escolhida, uma vez que estamos a oito dias do
Sete de Setembro e da perspectiva de uma grande manifestação. Agora, com a manutenção do mandato, há quem aposte em um aumento no número de pessoas dispostas a participar dos protestos por todo o país, especialmente, em Brasília. Talvez, se Henrique Eduardo Alves estivesse esperado passar o Dia da Independência ou a aprovação do voto aberto para efeito de cassação de mandato, o resultado tivesse sido outro.

Enquanto isso, no Planalto.
Quem observa tudo a distância é a presidente Dilma Rousseff. Dentro do governo e do parlamento, muitos consideram que o resultado em favor de Donadon é para desviar a atenção dos manifestantes no Dia da Pátria. Não se surpreendam se, em vez dos protestos serem dirigidos ao Poder Executivo, as palavras de ordem e os cartazes centrarem fogo sobre o Congresso Nacional. Aliás, leitor, pode reparar que, todas as vezes em que os congressistas decepcionam um pouco mais os eleitores, a turma do Planalto fica bem na fita. E, para sorte da presidente Dilma, quem comanda o parlamento é o PMDB, que dia sim e outro também se desgasta perante o eleitorado e fica mais dependente do governo para se manter no poder e eleger bancada. Mas essa é outra história.

Um governo em apuros - ROGÉRIO FURQUIM WERNECK

O GLOBO - 30/08

Em seis meses, o governo passou do triunfalismo de fevereiro à indisfarçável apreensão, que agora se vê em Brasília, com a longa e problemática travessia dos 13 meses que ainda faltam para as eleições de 2014.

No início do ano, embalado pela comemoração de uma década de conquista da Presidência, o PT pretendia estender os festejos por todo o ano de 2013, com a realização de dez grandes eventos nas maiores cidades do País. Há cerca de um mês, contudo, foi discretamente anunciado pelo partido que o último evento seria o de Salvador, no fim de julho. Os demais seriam cancelados. Interrupção tão abrupta das comemorações bem ilustra a rapidez da mudança de clima por que vem passando o governo.

Em fevereiro, o Planalto ainda alimentava a fantasia de que, após dois anos de crescimento econômico pífio, 2013 poderia ser o ano da virada. A ideia era assegurar a retomada da economia, a qualquer custo, e, na medida do possível, manter a inflação sob controle, com a adoção de medidas casuísticas de desoneração. Mas essas esperanças esvaíram-se ao longo dos últimos meses.

Em abril, com a inflação já no teto da meta, o governo se viu obrigado a conter a gritante perda de credibilidade do Banco Central e dar sinal verde para novo ciclo de alta da taxa de juros. No fim do primeiro semestre, as perspectivas de recuperação da economia tornaram-se ainda menos promissoras, na esteira do aumento de incerteza que adveio da onda de protestos de junho e da crescente perda de confiança na condução da política econômica.

Nos últimos dois meses, o que parecia ser apenas um quadro macroeconômico pouco promissor vem evoluindo para uma situação bem mais difícil, marcada por preocupante redução de espaço de manobra na condução da política econômica. Em grande medida, o estreitamento de possibilidades decorre do vigor da depreciação cambial que tem sido induzida pela perspectiva de mudança da política monetária americana e agravada pela perda de credibilidade da política econômica no Brasil.

Se não puder ser revertida, a depreciação do câmbio deverá impor ao governo escolhas muito mais duras na condução da política de metas para inflação. E é bem provável que, ao fim e ao cabo, o governo, com uma eleição pela frente, se veja obrigado a conviver com uma combinação de taxa de juros, crescimento e inflação bem mais desfavorável do que imaginava possível há alguns meses.

As escolhas poderiam ser menos adversas se o governo estivesse de fato disposto a restaurar a credibilidade da política fiscal. Mas tudo indica que lhe falta um requisito básico para fazer um movimento crível nesse sentido: convicção de que isso é efetivamente necessário.

O máximo que o governo se dispõe a fazer nessa linha é prometer, de pés juntos, que não voltará a recorrer à lamentável alquimia contábil que tem conspurcado o registro das contas públicas nos últimos anos. Mas nem mesmo isso é crível. Basta constatar, por exemplo, que, poucas semanas depois de ter ensaiado esse tipo de promessa, o governo já aventou a possibilidade de excluir gastos com projetos de mobilidade urbana da contabilidade da dívida dos governos subnacionais.

A esta altura, qualquer esforço sério de restauração da credibilidade da política fiscal exigiria mudança da equipe econômica. Algo que o governo obviamente não está disposto a fazer. Não obstante o lamentável desempenho da economia e a extensão do descrédito da política fiscal, a presidente não parece ter intenção de fazer qualquer alteração maior na equipe econômica, seja na Fazenda, seja no Tesouro, seja no BNDES.

Isso sugere que o problema de falta de credibilidade da política econômica é de solução bem mais difícil do que em geral se pensa. É preciso levar mais a sério o que diz a presidente Dilma, quando se dá ao trabalho de esclarecer, com todas as letras, que, na verdade, a central de formulação e condução da política econômica está instalada no terceiro andar do Palácio do Planalto. Só não entende quem não quer.