segunda-feira, julho 02, 2012

Salvem os seres humanos! - TÉTA BARBOSA


BLOG DO NOBLAT


Eu gosto de animais, com ressalvas, muitas ressalvas. Criada em apartamento, eu tinha pavor de galinhas, do tipo que pessoas normais têm de baratas ou aranhas. Eu também temia gatos, coelhos, hamsters e cachorros.

Principalmente cachorros.

Nada contra, juro, só falta de costume mesmo. Meus bichos eram de pelúcia e não tinham cheiro (exceto uma eventual poeira ou mofo) e não babavam. Cresci assim, desacostumada ao reino animal, praticamente a menina da bolha.

Provavelmente por isso nunca entendi o amor incondicional das pessoas por seus bichos de estimação. Não entender não significa ser contra, que isso fique bem claro.

E, na minha ignorância animal, entendi menos ainda a recente comoção nas redes sociais sobre a lei Contra o Abandono de Animais. Veja bem, não sou a favor de poodles ou gatinhos siameses serem largados por aí, muito menos concordo com a crueldade contra peixinhos dourados.

Se bem que, se a gente pensar direitinho, o que soa como crueldade é manter um passarinho numa gaiola, um peixe num aquário de 50cm ou um pastor alemão num apartamento de 90 m2.

Mas não vamos mudar de assunto, voltemos à Lei Contra o Abandono. Assim, como fila de banco, que basta o primeiro reclamar para a fila virar um motim, as redes sociais estão cheias de mensagens de apoio aos Chihuahuas e gatinhos Angorás.

A lei é digna e bonita, concordo, o que não me convence é essa comoção social para defender gatos e cachorros enquanto crianças descalças fazem malabarismo no sinal.

Entenda, eu acho animais legais, mas acho seres humanos mais legais.

Sou contra o abandono de crianças, contra homens revirarem lixo à procura do jantar, contra adolescentes que se prostituem para garantir uma refeição por dia.

Confesso que sempre me revoltei com o Greenpeace porque enquanto eles salvam as baleias, 300 homens e mulheres são assassinados por mês em Pernambuco.

Nunca vi uma faixa comum “Salve os seres humanos” nem com um “Criança passar fome é Crime”. Sempre imaginei, inclusive, que se eu vendesse aquele navio do Greenpeace, o dinheiro daria para alimentar o Coque (comunidade carente do Recife) inteiro durante uns seis meses.

Temos exceções, fato; ONGs e voluntários. Mas esses, infelizmente, não ganham a simpatia das milhões de pessoas que postam fotos de gatinhos fofos no Facebook.

Vou ser a primeira a apoiar os Yorkshires e Bulldogs, no dia em que nenhum ser humano morar debaixo de uma ponte ou se alimentar de lixo.

Téta Barbosa é jornalista, publicitária, mora no Recife e vive antenada com tudo o que se passa ali e fora dali. Ela também tem um blog - Batida Salve Todos

Como nos sustentamos - LYA LUFT


REVISTA VEJA
Sustentar a economia sem dilapidar ou sujar a natureza é algo que países civilizados fazem há tempos. Não com perfeição. pois somos humanos, e alguns interesses menos nobres ninguém contorna. Porém, basta sobrevoar um desses países e veremos florestas de gigantescos cata-ventos usando energia eólica para gerar energia limpa. Quanto a nós, ainda precisamos abrir olhos e cabeça para entender e aproveitar essas belas florestas geradoras de energia limpa. Como precisamos retomar o estímulo ao etanol -- o etanol, que já foi valorizado - e deixar de nos esforçar tanto para lotar de carros nossas atravancadas ruas e péssimas estradas. lançando imundícies na pobre mãe natureza. Esse é um exemplo grande de como sustentamos mal o planeta. Darei dois exemplos pequenos, práticos, de minhas idas ao supermercado. Um é negativo: produtos orgânicos difíceis de encontrar, mais caros e piores do que os outros. O positivo: em lugar das chatíssimas bolsas de pano que a gente esquece em casa, não sabe onde enfiar nem quantas deve carregar a cada vez, minhas compras são colocadas em sacolas plásticas verdes, que não vão durar 100 anos.
Seguindo o fio desse tema: como grandes eventos fazem parecer que estamos realizando grandes coisas. acabamos de promover um gigantesco seminário sobre meio ambiente. cujas conclusões brilharam pela falta de propostas práticas a curto prazo. Sobraram palavras grandiloquentes, como se a utopia absolvesse nossos grandes e imperdoáveis erros. Não era hora nem lugar para literatura, para otimismo retumbante, para autopromoção ou sorrisos de fotografia. A mais alta autoridade da ONU afirmou em discurso sua decepção com o documento final: mas, surpresa, logo reviu sua afirmação e até que o achou bonzinho. Também os protestos dos ativistas presentes à Rio+20 dizem que o documento foi pífio. Autoridades afirmam que pelo menos não foi um retrocesso: há quem negue isso. Ainda por cima. cientistas famosos começam a dizer que, na verdade, o planeta nem está se aquecendo, ao contrário. Isso naturalmente não elimina a sujeira gigantesca que lançamos nos oceanos, nos rios e lagos, e nas nossas ruas, porque somos inconsequentes, alienados e infantis. Os protestos tiveram de tudo: defesa do meio ambiente. feminismo, questões sociais e econômicas, xingamentos ao FMI, aos países ricos, a Angela Merkel. aos homens, aos governos, ao capitalismo, às elites, para variar. Tiveram peitos e bundas de fora - não que não tenham razão. Nisto acho que a Rio+20 valeu: para que muita gente comparecesse, se conscientizasse, se assustasse talvez e. quem sabe, comece agora a agir no seu cotidiano. na sua família, na sua escola, no seu município, na sua empresa. Nas empresas, grandes interesses financeiros terão de ser enfrentados, é difícil a ética não perder para o bolso. Mas algumas empresas por aqui começam a pensar e agir "verde": nem tudo está perdido.

Nesses dias tenho pensando que também deveria existir uma sustentabilidade ética, moral. Alianças entre partidos fazem parte da democracia, mas a promiscuidade nas nossas alianças é chocante. Adversários ferrenhos se abraçam e se dão, mais que tapinhas nas costas. palmadinhas afetuosas nas bochechas: inimigos figadais se cortejam: nesse caldeirão se funde água com azeite. Nós fingimos que está tudo bem, Aliás, em matéria de política. lembro uma frase de meu velho pai, por ocasião de uma de suas várias decepções nesse campo: "O verdadeiro partido no Brasil é o PIP - Partido do Interesse Próprio".

Não sou tão pessimista: apesar da nossa alienação e julgamentos precários. apesar da não sustentabilidade moral, nesse tabuleiro de interesses. onde se jogam conceitos como ambientalismo e política, ainda remos restos de ideologia positiva - embora o conceito de ideologia também esteja cedendo ao da praticidade, eficiência e utilitarismo. Se algum otimismo significa autossustentabilidade para seguir em frente em qualquer campo desta vida. sejamos otimistas.

"Temos provas do mensalão" - ENTREVISTA - OSMAR SERRAGLIO


REVISTA ÉPOCA

O relator da CPI que investigou a compra do apoio de parlamentares ao governo Lula rebate a versão de que o esquema é uma farsa criada pela oposição

Leandro Loyola e Marcelo Rocha


COM O PLENÁRIO QUASE VAZIO, A NOITE DA QUARTA-FEIRA ERA ATÍPICA NA CÂMARA FEDERAL, quando o deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR) chegou sorridente e subiu à tribuna. Conhecido tanto pela calma como pela rigidez, Serraglio fez um discurso duro, a pouco mais de um mês do julgamento do mensalão pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Relator da CPI dos Correios, que investigou a compra de apoio de parlamentares ao governo de Luiz Inácio Lula da Silva, Serraglio defendeu a investigação da comissão. Atacou de forma veemente os que propalam a tese de que o mensalão foi apenas um episódio de caixa dois de campanha eleitoral. Nesta entrevista a ÉPOCA, Serraglio expõe o que considera as provas da existência do esquema e revela bastidores da investigação.

ÉPOCA - Por que o senhor diz que se aborrece quando alguém usa a expressão “farsa do mensalão”?

OsmarSerraglio- Porque não é a mim apenas que se desacredi­ta, mas a um trabalho do Congresso. Eram 16 senadores e 16 deputados titulares, mais 32 suplentes. Todo esse exército traba­lhou, colaborou, vigiou o trabalho da CPI. O Congresso já tem dificuldades para se hrmar e, quando faz um trabalho denso, aprofundado, se diz que não houve nada do que se levantou?

ÉPOCA - A CPI dos Correios obteve provas do mensalão?

Serraglio- Quase que matemáticas. Tenho convicção absoluta. Tivemos peças que eram intestinas desse emaranhado. Marcos Valério e Roberto Jefferson: tudo o que eles falaram restou comprovado. Roberto Jefferson era o líder de um partido. Frequentava o poder, acompanhava, e ele mesmo fala que alertou - para os fatos que estavam acontecendo - o (então) presidente (Luiz Inácio Lula da Silva). Hoje procura se desa­creditar Roberto Jefferson porque ele foi cassado.

ÉPOCA- Dizem que Roberto Jefferson foi cassado porque mentiu ao inventar a existência do mensalão. É verdade?

Serraglio- Isso é uma falácia. Ele foi cassado porque integrou o mensalão. Ele recebeu R$ 4 milhões.

ÉPOCA - O senhor acha que sua compreensão da CPI tem reper­cussão na sociedade e no Judiciário?

Serraglio-A sociedade se convenceu por si. É esse convenci­mento que, imagino, dificulta a invenção de novas versões que seriam convincentes. Você pega a defesa do (ex-ministro) José Dirceu. Quem vê o que ele fala, (parece que) ele recebia as pessoas sem saber quem eram. Como se qualquer pessoa botasse lá na agenda, e o ministro recebesse! Abre a porta e vem quem vem! Achar que alguém vai se convencer disso fica meio difícil.

ÉPOCA - O então ministro José Dirceu o procurou durante a CPI?

Serraglio- Não posso dizer que ele tenha pedido. Mas o filho dele (o hoje deputado federal Zeca Dirceu) era prefeito da cidade vizinha à minha.Um dia, recebi um telefonema de que o ex-ministro José Dirceu estava na cidade - isso foi muito próximo da entrega do relatório final - e queria falar comigo. Eu não fui.

ÉPOCA - Era para ser um encontro privado?

Serraglio - Era para ser um encontro privado em Cruzeiro do Oeste. Recebi este telefonema: “Olha, o ministro está lá, queria conversar...”. Não tivemos esse encontro. Aleguei al­guma coisa, que não poderia. Imagina o relator da CPI se encontrando com um dos principais investigados?

ÉPOCA - Outros investigados tentaram falar com o senhor?

Serraglio- (O deputado) João Paulo (Cunha) levou docu­mentos de Osasco. Ele entregou notas (fiscais) de pesquisa, coisa assim. As notas se autodenunciavam. A nota número um era do dia l2 (de um mês), e a número dois era do dia 30 (do mês) anterior. Havia inversão de datas, números.

ÉPOCA- O que o senhor acha de o ex-presidente Lula se pronunciar em relação ao mensalão?

Serraglio - Fico entristecido. Independentemente de ser ou não ser convencido, ele é ex-presidente da República, com apreço popular elevado, deveria se preservar. Nunca ninguém buscou evidenciar que ele (Lula) estivesse (envolvido com o mensalão). Eu não poderia responsabilizar. Como no caso de José Dirceu. Não é porque ele era ministro que, neces­sariamente, seria sabedor das coisas. No discurso que fiz, há muitas coisas que indicam que ele sabia. É o caso da ex- mulher dele (Ângela Saragoça).

ÉPOCA - O caso da compra do apartamento?

Serraglio- Do apartamento e do emprego (um sócio de Marcos Valério, Rogério Tolentino, comprou o apartamento de Ângela em São Paulo. Valério conseguiu para ela um emprego no banco BMG, outra fonte de “empréstimos” do PT para o mensalão). Por que Marcos Valério estava em São Paulo, arrumando emprego para a ex-esposa de José Dirceu? O emprego foi Marcos Valério (que arrumou), e o apartamento foi o sócio de Marcos Valério. (O ex- ministro José Dirceu) nunca soube de nada... É muito fácil, né?

ÉPOCA - A versão do governo na ocasião diz que o mensalão era um esquema de caixa dois eleitoral. O que o senhor acha?

Serraglio - Em meu relatório, falo que alguma parcela pode até ter sido caixa dois. Mas não dá para dizer que tudo seja caixa dois, porque a eleição foi em 2002, e esses pagamentos foram em 2003 e 2004.

ÉPOCA- Foi usado dinheiro público para pagar o mensalão?

Serraglio- Sim. Bem claramente, o dinheiro da Visanet (em­presa de economia mista da qual o Banco do Brasil é um dos sócios). Quando era campanha da Visanet, o Banco do Brasil fazia sem plano de mídia. Absolutamente descontrolado. Lembro que tinha R$ 75 milhões em cheques, tinha um che­que de R$ 35 milhões. Depois, a auditoria interna do Banco do Brasil confirmou o absurdo. O Banco do Brasil fazia as campanhas em nome da Visanet (a agência encarregada das campanhas era a DNA, de Marcos Valério. Segundo a CPI, parte do dinheiro pago à DNA era repassada aos mensaleiros). Banco do Brasil: dinheiro público.

ÉPOCA- O PT diz que o dinheiro do mensalão veio de empréstimos tomados nos bancos BMG e Rural. Um ex-diretor do Rural disse a ÉPOCA que os empréstimos eram simulados. Os empréstimos existiram?

Serraglio - Não. E esse pagamento é uma simulação (recen­temente o PT declarou ter pago os empréstimos). De repente, arrumaram R$ 50 milhões para pagar esses empréstimos. Agora? O que ficou provado: o dinheiro era posto lá no ban­co, e o banco simulava que estava emprestando. O emprés­timo existia para esquentar um dinheiro que estava sendo subtraído da Visanet. A gente fez o elo.

ÉPOCA - O senhor diz que a CPI enfrentou escaramuças. Quais?

Serraglio - Um dos momentos mais dramáticos (ocorreu quando) nós tínhamos de entregar as informações para a CPI do Mensalão. Falei que iríamos concluir nosso relató­rio parcial. Havia um servidor do Senado que funcionava como uma espécie de ghost-writer: ia juntando tudo para eu apresentar. Eu tinha de apresentar o relatório parcial na terça seguinte. Na quinta-feira anterior, fui comunicado de que esse servidor não viria mais porque estava indo para o exterior. Ele me deixou na mão.

ÉPOCA - Oficialmente, 18 parlamentares estavam envolvidos no mensalão. Havia mais envolvidos?

Serraglio - Ficou em aberto o dinheiro que Roberto Jefferson recebeu (R$ 4 milhões). Para onde foi o dinheiro? Se Ro­berto Jefferson tivesse aberto a Caixa de Pandora, teríamos a identificação de mais gente.

O fundidor e o STF - PAULO BROSSARD

ZERO HORA - 02/07


Como é sabido, o Supremo Tribunal Federal assentou que no dia 2 de agosto começará o processo de julgamento da ação penal que envolve 38 réus no mais volumoso processo, se não o maior, a ser decidido pela mais alta Corte da nação. O que talvez nem todos tenham ciência é da particularidade que esse processo trata do que passou a ser denominado “mensalão”, que objetivava envolver o Poder Legislativo como um todo, na maior teia de corrupção já vista, mediante uma dinheirama de espantar. Denunciada, passou a ser negada nada menos do que pelo presidente da República, o senhor Luiz Inácio Lula da Silva, e pelo presidente nacional do PT. Mais, enquanto o processo penal tomava corpo, com a apresentação da denúncia pelo então procurador-geral da República e seu recebimento pelo relator do feito no STF, o presidente da República, ao aproximar-se o termo de seu mandato, declarou que, exaurido ele, dedicar-se-ia a desmascarar a farsa (sic) do mensalão.

Ousada tentativa de melar a apuração penal se deu quando o ex-presidente e o antigo ministro da Defesa, no escritório deste, marcaram encontro com ministro do STF, que acolheu o convite; pretendia o ex-presidente que o julgamento do mensalão fosse postergado para depois da eleição municipal, ideia rejeitada pelo convidado; a esse dado seguiu-se a insidiosa reiteração, referindo-se a viagem que o magistrado fizera a Berlim, assegurou-lhe blindá-lo (sic) na CPI em curso, o que levou o convidado a dizer-lhe que ia a Berlim (onde reside uma filha sua) quando quisesse, como ele, o ex-presidente, ia a São Bernardo. O resto é conhecido, o convidado revelou a ocorrência ao presidente do STF, ao PGR e a dois senadores e, como aparecessem notícias que revelavam a origem, como percebeu o ministro Gilmar Mendes, deu publicidade à ocorrência; a versão foi impugnada pelos outros dois participantes do encontro, mas não deram a sua versão, de modo que calaram o que ela poderia ser.

Destarte, enquanto a nação ficava aliviada, elementos contrários permaneceram atuando. Como foi dito, o ex-presidente foi às do cabo, para ele o mensalão de que se ocupa o PGR e o STF nunca existiu, trata-se de uma farsa e ponto final.

Houve a denúncia do PGR de antes e ratificada pelo atual, assim como aceita pelo ministro relator, e para o ex-presidente o processo não passou de farsa! Dir-se-á que ele não tem formação jurídica, mas possui responsabilidades inerentes à majestade do cargo exercido. Talvez o fenômeno se explique pela circunstância de haver começado sua atuação pública como chefe sindical, que lhe foi abrindo todas as portas até chegar à culminância a que chegou. Durante o período ascensional sempre se manifestou hostil a partidos. Até na Constituinte, foi essa sua linguagem e só a abandonou quando se converteu em fundador de um partido, para ser diferente dos demais.

Quer dizer, o ex-presidente chegou ao patamar de sua expressão nacional como líder sindical, cujas normas são diferentes das normas universalmente modeladas para a atividade política. Esta se caracteriza pela persuasão como meio e, em regra, pela composição como finalidade.

O sindicalista é o manejador de técnicas ou expedientes úteis e adequados para obter vantagens concretas, materiais, mediante outros meios, onde não há ideologia nem princípios, apenas o interesse. A medida dos resultados constitui o limite dos meios; a melhoria das condições salariais ou outras justificam quaisquer excessos. São procedimentos diferentes no plano sindical e no trato parlamentar.

O êxito do ex-presidente, que ninguém nega, teve como modelo os padrões sindicais e com tais antecedentes passou à prática da mais política de todas atividades, a chefia de um partido político, e à presidência da República.

Agora, ao lado de um processo penal em curso na mais alta Corte da nação, o antigo mecânico-fundidor desperta e, inconformado com o novo quadro, não hesita em negar a existência do mensalão; para ele nada mais que uma farsa!

Largo do Millôr - ANCELMO GOIS

O GLOBO - 02/07

Eduardo Paes vai pôr um banco de praça na Pedra do Arpoador (foto) para se ver dali o pôr do sol. Era sonho de Millôr Fernandes (1923-2012).
Além disso, vai dar à área o nome de Largo do Millôr. A ideia foi levada ao prefeito carioca por um grupo de amigos do saudoso escritor, liderado por Fernanda Montenegro e Jaime Lerner, em encontro na sexta.

Adeus ao tráfico
O AfroReggae negocia com a Secretaria de Segurança de Cabral a rendição de um grupo de traficantes que quer se entregar.

UPP em Nova York
Dia 12 agora, o Museu de Arte Moderna de Nova York (Mo-MA) inicia mais uma mostra de filmes brasileiros recentes.

Vai durar uma semana. A abertura será com “À beira do caminho”, de Breno Silveira. Cacá Di-egues e Renata de Almeida Magalhães estarão lá com “5XFave-la, agora por nós mesmos” e “5XPacificação”, documentário sobre as UPPs, que produziram.

Spike Lee...
Cacá convidou o amigo Spike Lee, que roda um documentário sobre o Brasil, para ver os filmes no MoMA.
No Brasil, “5XPacificação” entra em cartaz em outubro.

Tema de Chayene
Quito Ribeiro, autor do sucesso das Empreguetes na novela “Cheias de charme”, da TV Globo (mais de 5 milhões de exibições no YouTube), finaliza nova canção para a trama.
Será cantada por Chayene, vivida por Cláudia Abreu.

PROMETE FICAR assim (vamos torcer, vamos cobrar) o novo campus do Centro Universitário Estadual da Zona Oeste (Uezo), erguido pelo governo Cabral na Av. Brasil, na altura de Campo Grande. Éa primeira universidade pública da região. Será um grande complexo da área tecnológica, com oito blocos e dez cursos — entre os quais, engenharia de produção e ciência da computação. O número de vagas vai aumentar de 600 para 6 mil. A ideia é abastecer as indústrias da área com mão de obra especializada. O projeto é do escritório do mestre Paulo Casé

Steinway para Nelson
O desafio de Sérgio da Costa e Silva, do projeto Música no Museu, para o concerto de Nelson Freire em São João Del-Rei, MG, sábado, no mesmo palco em que o grande pianista tocou aos 5 anos, em 1950, foi achar para o mestre um piano Steinway, espécie de Ferrari do instrumento.
Teve de alugar um em Sorocaba, SP, levado na madrugada de sexta num caminhão especial escoltado por oito técnicos.

Aliás...
Uma das muitas emoções de Freire foi rever o piano no qual tocou há 62 anos.
O Erard, segundo ele, ainda está bom, mas precisa de reforma.
Secretaria municipal de Urbanismo

Pinguço...
Freire fechou a noite na vizinha Tiradentes, com o imortal Luiz Paulo Horta, dando importante contribuição para o aumento do consumo da cachaça mineira.

Sem remédio
Este puxadinho construído pela filial das drogarias Venâncio na Rua Visconde de Pirajá 477, em Ipanema, no Rio, teve as obras embargadas e multadas pela prefeitura várias vezes. Mas o remédio não deu jeito. Foi concluído assim mesmo e já está em funcionamento.
Sexta, o secretário de Urbanismo, Sérgio Dias, aumentou a dosagem e aplicou mais uma multa, no valor de R$ 24.169,25.

Golpe na bomba
Pelo menos dois postos de gasolina da Barra, no Rio, segundo o sindicato do setor, caíram num novo golpe.
Na hora de pagar, o consumidor troca a máquina do cartão por outra, e o valor vai parar na conta de uma empresa fantasma. Um posto perdeu R$ 300 mil.

Coleguinhas
O Sindicato dos Jornalistas do Rio conseguiu penhorar o título do “Jornal dos Sports” para pagar ex-funcionários.

Número dois
Eduardo Paes vetou projeto do vereador Jorge Manaia que obrigava o uso das chamadas “descargas inteligentes”, de acionamento automático, nas privadas de locais públicos do Rio.
No mais... lave as mãos.

Gestão versus eleição - DENISE ROTHENBURG


CORREIO BRAZILIENSE - 02/07

O video preparado para mostrar que onde o PT governa dá certo traz imagens vencidas, como a exibição de Lula numa plataforma de petróleo. A estatal colocou refinarias na gaveta e o governo há anos não licita a exploração de novos campos

Talvez desde 2005, quando estourou o escândalo do mensalão do PT, a política não tenha um julho tão quente quanto o deste ano. Na montagem dos palanques municipais, suspenses até o último minuto em cidades da maior importância, como Belo Horizonte. Na gestão governamental, um poço de problemas. As complicações administrativas podem , inclusive, colocar em risco o slogan “onde o PT governa dá certo” enviado a todos os municípios de forma a massificar a mensagem do partido nesta temporada eleitoral. E em meio a tudo isto, germina a desconfiança entre os partidos da base aliada. 
Vamos por partes. A questão de Belo Horizonte mistura nesta segunda-feira suspense e desconfiança. O entrevero entre o PT e o PSB do prefeito-candidato Márcio Lacerda estará hoje na ordem do dia das executivas nacionais dos dois partidos. E não será tão simples de resolver quanto parece. O PSB considera que cumpriu sua parte no acordo de cavalheiros entregando ao PT a vaga de vice na chapa de Lacerda. O PT, entretanto, quer a aliança ampliada à chapa de vereadores da capital de Minas Gerais. 
A desconfiança mútua impera nessa queda-de-braço. Os socialistas consideram que a insistência dos petistas em compor uma chapa de vereadores conjunta faz parte de um jogo para que o partido de Lula tente reconquistar a prefeitura sem o PSB. Já os petistas acham que a resistência dos seus parceiros em compor uma chapa está diretamente relacionada a planos de independência do PSB. Não por acaso, o vice-presidente socialista, Roberto Amaral, atuou no fim de semana para afastar essas especulações e reforçar a política da boa vizinhança com o PT. 

Por falar em boa vizinhança...A aposta do PSB é a de que, passado o calor eleitoral em outubro, tudo voltará ao normal. Os partidos votarão os projetos de interesse da presidente Dilma Rousseff e a política caminharará para a próxima disputa, a presidencia da Câmara e do Senado, onde ficará claro interesse do PSB em respeitar a proporcionalidade, mantendo o apoio ao PMDB. “O PSB jamais deixou de cumprir a proporcionalidade e acordos fechados no Congresso”, afirmou o vice-presidente do PSB. 
A lembrança de Amaral é um sinal de que seu partido não pretende criar problemas futuros ao governo Dilma. Serve ainda para tentar restrignir as rusgas eleitorais ao campo municipal, cenário em que os partidos costumam colocar de lado os acordos nacionais e deixam correr solta a luta pela sobrevivência e ampliação de espaços. 
Mas não dá para achar que tudo ficará bem. Não dá para esquecer que o PSB e o PT concorrem entre si em 12 capitais, sendo oito no Nordeste. O PMDB e PT estão em palanques opostos em 11 e o PCdoB e os petistas em cinco. E confrontos deixam sequelas. Se incuráveis, só o tempo dirá. 

Por falar em tempo...O período do Congresso pré-recesso começa a se esgotar com uma pauta recheada de projetos polêmicos para o governo, como antecipamos aqui há alguns dias. Não por acaso, a presidente Dilma Rousseff determinou a todos olho vivo na Câmara e no Senado. Ela sabe que não dá para brincar ali. A prioridade é a economia. Mas o cenário também mexe com o PT. O partido não quer ver jogadas no lixo as imagens enviadas aos municipios como parte da campanha para incentivar o lançamento de candidatos próprios com o slogan “onde o PT governa dá certo”. 
Algumas imagens estão vencidas. Por exemplo, a exibição do ex-presidente Lula numa plataforma de petróleo. Em tempos de aumento de preço da gasolina, essa associação atrapalha mais do que ajuda. Pode remeter a falhas gerenciais do governo, à revisão dos planos da Petrobras. Não dá para esquecer que duas refinarias, lançadas com toda a pompa no governo Lula , foram parar na gaveta por absoluta falta de recursos. 
Para completar, o mesmo país que incentiva a compra de carros não realiza novas rodadas de licitações para concessão de novos campos de exploração de petróleo e gás. Está tudo parado desde 2008. Se somarmos a esse quadro as obras do PAC em câmera lenta, restará pouco para comprovar o slogan. Portanto, todo o cuidado é pouco na hora de deixar que os congressistas, por birra ou vingança, aprovem propostas que comprometam ainda mais o caixa da União. A nós, resta acompanhar essa vigília e a montagem final dos palanques nas capitais. Semana, sem dúvida, quente. 

Acordo com a China numa hora dessas - SERGIO LEO

VALOR ECONÔMICO - 02/07


A Argentina é o país que, em todo o mundo, mais aplica barreiras aos produtos chineses, e o Brasil vem logo atrás, queixou-se uma graduada funcionária chinesa a jornalistas latino-americanos que visitaram a China há duas semanas. Dias depois, o primeiro-ministro chinês, Wen Jiabao, visitou o Cone Sul e, em teleconferência patrocinada por uma entusiasmada Cristina Kirchner, anunciou a intenção de negociar um acordo de livre comércio com o Mercosul. Para quem desconhece os movimentos por trás das cenas, parece haver alguém com esquizofrenia nesse namoro entre países. Mas há uma boa explicação, que traz preocupações no Brasil.

É mesmo desafiador entender o que leva Brasil e Argentina, temerosos da competição chinesa, a celebrar um acordo que a China vê como um passo para o futuro tratado de livre comércio. Mas intrigante é saber, por conversas com diplomatas e funcionários graduados brasileiros e argentinos, que não há planos para nenhum acordo de redução de barreiras aos produtos chineses, nem para um futuro distante.

Imaginar que o anúncio de tal acordo com os chineses pode incentivar outros potenciais parceiros, como a União Europeia, a flexibilizar exigências na mesa de negociações comerciais é subestimar a capacidade de análise dos europeus. Eles sabem bem dos limites ancorados no protecionismo crescente do Mercosul. O que não sabem é que, já na preparação da reunião do Mercosul encerrada neste fim de semana, ficou clara a razão da aproximação com os chineses: a necessidade argentina de financiamento para cobrir seu crescente déficit no balanço de pagamentos.

Avanço chinês na América do Sul ganha mais fôlego

O governo brasileiro trabalhou nos bastidores para reduzir a abrangência do acordo "estratégico" a ser firmado com os chineses e conseguiu, ao fim, um daqueles belos documentos vazados em linguagem diplomática, suficientemente vaga para agradar a todas as partes.

Se o acerto com a China não abre portas a um acordo comercial, o acordo sanciona, porém, o impressionante movimento chinês em direção à América do Sul, quintal relegado dos Estados Unidos. O avanço chinês, temido no terreno comercial, se dá também no campo financeiro, de serviços e de investimentos.

Sem acesso ao mercado internacional, a Argentina precisa de dinheiro para equilibrar suas contas externas e não por outro motivo tenta, a patadas, fechar as alfândegas a produtos importados, inclusive dos sócios no Mercosul. A China agora oferece financiamentos e investimentos, música para os argentinos, ainda que promessas anteriores de investimentos chineses tenham se desmanchado no ar.

Curiosamente, o desespero comercial argentino beneficiou os chineses onde mais doeu no Brasil: segundo dados da consultoria Abeceb.com, as vendas de calçados brasileiros à Argentina caíram 37,5%, com a ajuda das barreiras do secretário de Comércio Interior, Guillermo Moreno, que, no entanto, deixaram passar um aumento de 36% nas importações de origem chinesa. E, enquanto as vendas de têxteis e confecções brasileiras caíram quase 23% entre janeiro e maio, a China aumentou para lá as vendas dos mesmos produtos em 34%.

Já inconformados com o peso da competição chinesa, os empresários brasileiros veem com apreensão a expansão da China na área de serviços de infraestrutura e investimentos. Um dos presentes de Wen Jiabao a Cristina Kirchner, no encontro em Buenos Aires, foi a promessa de investir US$ 11 bilhões na Belgrano Cargas, a estragada linha ferroviária que corta o país e que os Kirchner prometem trazer de volta à vida desde 2006.

Na terça-feira, em um encontro, em São Paulo, exportadores de serviços do país discutiram com preocupação a oferta chinesa de US$ 10 bilhões para financiar obras de infraestrutura na América do Sul. "A China quer, com os contratos de infraestrutura, exportar chineses como mão de obra e bens de valor agregado, e ocupar espaço", avalia o vice-presidente executivo da Associação de Comércio Exterior brasileiro, José Augusto de Castro. "Para o Brasil, que participa com 5% das obras de infraestrutura no Mercosul, preocupa, e muito".

"É a fome com a vontade de comer: de um lado a Argentina fragilizada, com dificuldades nas contas externas: de outro, a China com US$ 3,5 trilhões em caixa", comenta o diretor do Departamento de Relações Internacionais e Comércio Exterior da Fiesp, Roberto Giannetti.

Na costa do Pacífico, na América do Sul, empresas brasileiras já sentem o bafo chinês, com investimentos de US$ 20 bilhões da China em obras de infraestrutura. "Os chineses estão em transição na economia, vão contar cada vez menos com a exportação como alavanca e encorajar o mercado interno", comenta o presidente do Conselho Brasil-China, Sérgio Amaral, ex-ministro do Desenvolvimento. "Eles não querem continuar comprando títulos americanos, e saem às compras pelo mundo, investindo na Europa em busca de tecnologia, e na África e America Latina".

Essa movimentação, lembra Amaral, ocorre em um momento de "desanuviamento" nas relações entre China e Brasil, que trocaram conversas sobre respectivos atritos comerciais e prometeram esforços de parte a parte (o sinal mais visível foi a retomada de compras de aviões da Embraer). O câmbio chinês vem se valorizando, o brasileiro se deprecia e os dois países procuram uma articulação cada vez maior, por meio do grupo conhecido como Brics.

A ameaça do novo presidente paraguaio, Federico Franco, de reagir à suspensão do Mercosul firmando acordo com a China pode ser um teste para a amizade sino-brasileira, e aumenta o cacife chinês.

Não interessa ao Brasil extrapolar para um grupo maior, como o Mercosul, os entendimentos que já faz bilateralmente com os chineses, até para não contaminá-los com externalidades como a provável crise argentina. Mas a China parece ter outros planos. E já notou que o Mercosul pode ser útil a eles.

Maioridade do real - AÉCIO NEVES


FOLHA DE SP - 02/07


Em 1º de julho de 1994, data que ontem completou 18 anos, os brasileiros amanheceram o dia com uma nova moeda: o real. A iniciativa fazia parte de um programa de estabilização econômica, que deu cabo de uma inflação sufocante e de desastrosa duração. Sem congelamento de preços ou confisco da poupança, ainda então de memória recente, o real colocou o país novamente na trilha do desenvolvimento.

Embora tenha se tornado conhecido pelos resultados econômicos de controle da inflação, o Plano Real converteu-se certamente em uma das iniciativas de governo que mais trouxeram benefícios sociais em toda a história do Brasil.

No legado daquele período, há outro ativo de fundamental importância: a confiança. Em torno do Plano Real, fortalecemos as bases políticas que permitiram ao Brasil avançar também no seu sistema democrático. Vieram aquisições relevantes para a defesa da sociedade, como a Lei de Responsabilidade Fiscal e o Proer, hoje reconhecidos até mesmo por aqueles que, na época, por conveniência, os combatiam.

Entre as conquistas históricas propiciadas pelos efeitos do real está a universalização do ensino fundamental. Com toda criança na escola, a educação se converteu no primeiro serviço público a cumprir o objetivo republicano de acesso irrestrito por faixa de renda ou região geográfica.

Na saúde pública houve mudança no eixo de atendimento, com privilégio à atenção básica, destinada aos mais pobres, e a colocação em prática dos princípios do Sistema Único de Saúde (SUS). O Programa Saúde da Família chegou a 2002 com mais de 54 milhões de beneficiados, um salto de 4.750 % em relação a 1994.

Embora o PT reivindique para si o monopólio da defesa dos mais carentes, foi sob o impacto do Plano Real que o Brasil firmou as bases de uma rede de proteção social, composta originalmente pelos programas Bolsa Escola, Bolsa Alimentação e Auxílio Gás, entre outros, todos anteriores à chegada do PT ao poder. Data de 2001 o Cadastro Único para Programas Sociais, e de 2002 o lançamento do Cartão do Cidadão (base do futuro Bolsa Família) pelo então governo do PSDB.

Esses são alguns itens de uma relação de iniciativas que transformaram de verdade a sociedade brasileira. Entre aqueles que se dedicaram com responsabilidade para a implantação do Plano Real merecem o nosso reconhecimento, nesse dia, de forma especial, os presidentes Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso, pela determinação de honrar seu compromisso com o país e criar bases sólidas para o Brasil de hoje. Por amor ao Brasil, enfrentaram pressões e incompreensões, e, com coragem, fizeram o que precisava ser feito, dever supremo de todo governante.

Roubou, mas declarou? Está limpo - CARLOS ALBERTO SARDENBERG


O ESTADÃO - 02/07

Ou seja, se as contas dizem que o candidato roubou, não tem nada de mais


Suponha que a Receita Federal lhe convoque para explicar como pode ter comprado uma casa de R$ 100 mil, em dinheiro, se ganhou apenas R$ 50 mil no ano todo.

Você chega lá e diz:minha obrigação é fazer a declaração. Se bate ou não bate, se tem ir regularidade ou não,é outro problema.Mas faltam 50 mil para fechar as contas - argumenta o fiscal. E você: E daí? Não tem nada demais.Isso é mero problema aritmético. O que importa é que cumpri meu dever de cidadão ao apresentar a declaração.

Não vai colar, não é mesmo? Mas na Justiça Eleitoral cola.Se o cidadão,em sua campanha eleitoral, arrecadou R$ 50 mil e gastou R$ 100 mil, mas declarou tudo na prestação de contas - está limpo.

Mesmo que as contas tenham sido rejeitadas pela Justiça, ele pode se candidatar na eleição seguinte.

Essa foi a decisão tomada pelo Tribunal Superior Eleitoral(TSE) na quinta-feira. Trata-se de uma mudança de rumos,pois a mesma Corte havia decidido, em processo anterior, que contas não aprovadas configuravam uma ficha suja- e com ficha suja ninguém podia se candidatar. Mas um recurso endossado pelos principais partidos (PMDB, PSDB, DEM, PTB, PR, PSB, PP, PSD, PRTB, PV,PCdo B, PRP e PPS, portanto, situação e oposição no mesmo saco) argumentou que a lei eleitoral não exige contas corretas, mas só a apresentação das contas.O TSE, por 4 votos a 3,concordou.Ou seja,se as contas dizem que o candidato roubou, não tem nada demais.Declarou, está limpo.

Tudo bem,mas quem não é candidato a nada deveria ter o mesmo direito. Como no exemplo, o que importa é a declaração de renda, não se está correta. Declarou,mesmo com indícios de grossa sonegação, está limpo. Pode-se até dizer: sujeito honesto e corajoso, foi lá e declarou tudo. O que querem mais? Estudantes também podem entrar na onda.O importante, dirão, é entregar a prova.Se ela contem erros ou não, é outro problema.

Ou como diria o TSE,um"mero" erro de matemática não pode desqualificar o candidato a uma vaga universitária.

A bolsa é para a escola. Os programas tipo Bolsa-Família nasceram no âmbito do Banco Mundial - e aqui no Brasil com o trabalho de Cristovam Buarque-com base numa teoria precisa. O primeiro ponto foi a análise, em diversos países, dos programas que entregavam bens e serviços diretamente às famílias pobres (alimentos, roupas, remédios, material escolar, instrumentos de trabalho, etc.).O governo comprava e distribuía.

Já viu. Havia problemas de eficiência e de corrupção. No primeiro caso, o governo comprava coisas que as famílias não queriam ou não precisavam. Em cima disso, a corrupção nas grandes compras.

Tudo considerado, os técnicos do Banco Mundial calculavam que, do dinheiro programado, nem a metade chegava aos pobres.

O resto se perdia na burocracia e na roubalheira.

Houve algumas tentativas, até bem-sucedidas, de regionalizar as compras. Por exemplo,em vez de o governo adquirir os pacotes de merenda escolar e despachá-los para as escolas, mandava-se o dinheiro para as associações de pais e professores, que faziam as compras localmente.Mas para os programas de nível nacional, partiu-se da seguinte avaliação: as famílias não conseguem escapar da pobreza porque as crianças não frequentam as escolas, pois precisam trabalhar (na lavoura ou nas cidades, caso dos meninos) e cuidar dos outros irmãos (caso das meninas). Apostando que crianças com educação básica têm mais oportunidade de conseguir empregos bons, a ideia é clara:é preciso pagar para as famílias manterem as crianças na escola. Daí o nome oficial do programa: Transferência de Renda com Condicionalidade.

O cartão de saque do dinheiro contra o boletim escolar.

Parece óbvio, mas houve forte debate. Muitos técnicos diziam que os pais gastariam o dinheiro com coisas para eles mesmos, usando os filhos apenas como fonte de renda.

O bom senso sugeria o contrário.As pessoas não são idiotas nem perversas, sabem do que precisam. E os pobres também amam seus filhos. Começou com programas experimentais na América Central e funcionou muito bem. Nos anos 90, a ideia começou a se espalhar pela América Latina.

No Brasil,como nome de Bolsa- Escola (designação introduzida por Cristovam Buarque), apareceuem1994, em Campinas,e logo depois em Brasília. Foi ampliado para nível nacional conforme projeto liderado por Ruth Cardoso.

Surgiram ainda por aqui programas paralelos, como vale-transporte e bolsa-gás. Lula juntou tudo no Bolsa-Família.

Não se trata,pois,de dar dinheiro aos pobres. Se fosse apenas isso, seria apenas uma caridade públicas em efeitos no combate duradouro à pobreza.

Trata-se de colocar as crianças na escola, ou seja, abrir a oportunidade para elas escaparem da pobreza.

O boletim é a parte essencial.No México,o programa chama-se "Oportunidades" e o dinheiro entregue à família aumenta na medida em que a criança progride na escola. Vai até a universidade. Em muitos lugares, há limitação no número de bolsas por família, com dois objetivos: estimular o controle da natalidade (ou reduzir o número de filhos) e desestimular a acomodação dos pais. Com dez filhos, dez bolsas, isso pode ocorrer.

Também se introduziram outras condicionalidades, como a frequência das mães nos postos de saúde,especialmente para o acompanhamento pré-natal e parto, e das crianças, para as vacinas. Ao boletim escolar acrescenta-se a carteirinha do ambulatório.Resumindo, o programa funciona no curto prazo-ao dar um alívio imediato às famílias mais pobres - e no médio e longo prazos, com a escola.Mas há aí uma tentação perversa.

Como o programa funciona imediatamente, assim que a família recebe o primeiro cartão eletrônico, há um estímulo para que os políticos se empenhem em distribuir cada vez mais bolsas. É voto na veia. Ao mesmo tempo, esse viés populista desestimula a cobrança da condicionalidade. Pela regra, se as crianças desaparecem da escola ou não progridem,a bolsa deve ser cancelada.

Mas isso pode tirar votos, logo,é melhor afrouxar os controles.

Resumindo: há o risco, sim, de um belo programa social se transformar numa prática populista.

Quando os governantes começam a se orgulhar do crescente número de bolsas distribuídas e nem se lembram de mostrar os resultados escolares e índices de saúde, a proposta já virou eleitoral.

Navegar é preciso, mas com bússola - EVERARDO MACIEL


O ESTADÃO - 02/07


Belo verso da música Fado Tropical ( "É que há distância entre intenção e gesto"), de Ruy Guerra e Chico Buarque de Holanda; o desencontro entre intenções e fatos está no cotidiano da política, por ser ela um solo fértil para a construção de expectativas, frequentemente, frustradas, por demagogia ou incompetência. Dois episódios recentes exemplificam esse entendimento.

Nada mais republicano que a transparência na vida pública. Em seu nome, prosperaram, entre outras iniciativas, a Lei n.º 12. 527, de 18 de novembro de 2011, que assegura o acesso às informações tuteladas pelos poderes públicos, dando concretude a diversas normas constitucionais. Não há como se contrapor a tal providencial lei. Minhas inquietações se voltam para sua execução.

O primeiro ato decorrente da lei foi a publicação dos salários dos servidores. O que, realmente, se pretende com essa medida? Expor a intimidade dos servidores? Não seria uma violação do direito à intimidade, estabelecido no inciso X do art. 5.º da Constituição, norma qualificada como cláusula pétrea? Essas pessoas não ficariam vulneráveis a atos de chantagem, de sequestro ou de outras práticas criminosas?

No templo de Apolo, em Delfos, os gregos, traduzindo o equilíbrio apolíneo da alma helênica, proclamavam: nada em excesso. Não pode a transparência ser pretexto para desrespeito a direitos individuais. A divulgação dos salários dos servidores, na verdade, é uma via para dissimular a indisposição para se editar uma lei geral do serviço público, que contemple regras transparentes de remuneração e promoção, valorize o mérito e a eficiência, elimine as inúmeras assimetrias e privilégios de tratamento e desarme as guerras corporativas.

Pode, por exemplo, um ministro de Estado ser remunerado pela via oblíqua da participação em conselhos de administração de empresas públicas e sociedades de economia mista? A função exercida não exige dedicação exclusiva? Não há um enorme potencial de conflitos de interesse entre o exercício de suas funções e as atividades das empresas?

Não seria o caso de reexaminar, inclusive por meio de uma Emenda Constitucional, absurdas vantagens pessoais obtidas por servidores, por descaso dos responsáveis pela defesa do interesse público?

A transparência poderia, agora sim, ser invocada para tornar obrigatória a publicação, em balanços de empresas, dos benefícios fiscais concedidos pelo Estado. O conhecimento da renúncia fiscal, ainda que sob a forma de anexo à proposta orçamentária anual, encontra abrigo no § 6.º do art. 165 da Constituição.

As licitações, as transferências voluntárias intergovernamentais e as dotações para organizações não governamentais deveriam ser acessíveis a todos pela internet. Não seria esse um caminho para, ao menos, reduzir a malversação do dinheiro público?

São inúmeras as possibilidades de recorrer-se à transparência em bom proveito do interesse público. Atitudes espetaculosas e grosseiras, entretanto, poderiam ser dispensadas.

O outro episódio diz respeito à solução dada, pela Resolução n.º 13, de 2012, do Senado Federal, para a "guerra dos portos" (expressão criada para retratar a concessão de benefícios fiscais, no âmbito do ICMS, às atividades de importação). Tal prática, além de ofender a Constituição, gera um desarrazoado privilégio para os produtos importados vis-à-vis os nacionais.

Essa insensatez tributária mobilizou lideranças empresariais e trabalhistas, que cobravam do governo e do Congresso Nacional uma solução rápida para o problema. Alguns, com certa dose de exagero, pretenderam atribuir a esse fato o processo de desindustrialização que se constata no País. Ninguém se lembrou de acionar a Justiça, que já dispõe de farta jurisprudência contrária à guerra fiscal. A justa indignação, todavia, produziu um monstrengo.

O caminho escolhido para enfrentar o problema foi recorrer à competência do Senado para fixação de alíquotas interestaduais (art. 155, § 2.º, IV da Constituição). Ocorre, contudo, que essa competência alcança tão somente a partilha da arrecadação do ICMS nas operações interestaduais, entre os Estados de origem e destino.

A concessão de incentivos fiscais, em verdade, é tratada no art. 155, § 2.º, XII, g, da Constituição. Nessa norma, fica claro que somente a lei complementar pode disciplinar a forma pela qual os Estados deliberarão sobre a matéria. Adotou-se, portanto, uma solução abertamente inconstitucional. Não bastasse a inconstitucionalidade, a solução envolve conceitos ambíguos e de difícil operacionalidade, como certificação de conteúdo de importação, similaridade, processo de industrialização, etc.

A competência para definir alguns conceitos é remetida ao Confaz e à Camex, sendo, portanto, matéria estranha a uma Resolução. Institui-se, por conseguinte, uma complicada teia de decisões e controles burocráticos.

De resto, a vigência foi estabelecida para o início de 2013, o que nega o caráter de urgência da demanda. Nesse caso, os fatos serão, com certeza, a fornalha das intenções.

Bolchevique "traveco" - LUIZ FELIPE PONDÉ


FOLHA DE SP - 02/07

Todos os tipos de esquerda têm um traço em comum: são frouxos, como diria Paulo Francis

A esquerda é uma praga da qual não nos livramos. Egressa da tradição judaico-cristã messiânica, traz consigo a tara do fanatismo daquela. Mas ela tem várias faces.

No Brasil, após a ditadura, a esquerda tinha o absoluto controle da universidade e, por tabela, de muitas das instâncias de razão pública, como escolas de nível médio, mídia, tribunais e escolas de magistratura. Coitadinha dela.

Neste caso, do aparelho jurídico, sente-se o impacto quando vemos a bem-sucedida manobra da esquerda em fazer do Código Penal uma província ridícula do politicamente correto, para quem, como diz a piada, entre matar um fiscal do IBAMA e um jacaré, é menos crime matar o fiscal.

Com a crise da Europa e a Primavera Árabe, a esquerda se sente renovada. Interessante como, no caso árabe, ela flerta com os movimentos islamitas. A razão é, antes de tudo, sua ignorância completa com relação ao Oriente Médio. A esquerda sempre foi provinciana. Ela confunde o fanatismo islamita com o fanatismo revolucionário. Lá, não existe "povo em busca de igualdade democrática", mas sim fiéis em busca de tutela absoluta.

Antes de tudo, devo dizer que há uma forma de esquerda que respeito: os melancólicos de Frankfurt. Para estes, como Adorno e Horkheimer, vivemos o "échec" (impasse, fracasso) da modernidade, devido à mercantilização das relações. Para mim, isso é um fato. E, enfim, a melancolia sempre me encanta. Os melancólicos têm razão.

Desde Deleuze, Derrida e Foucault (três chifres da mesma cabra), a esquerda assumiu ares de revolução de campus universitário, que encampa desde movimentos como o engodo do Maio de 68, passando pela crítica da gramática como forma de opressão (risadas...), até a ideia boba de que orientação sexual seja atitude revolucionária. Que tal sexo com pandas? Por falar em pandas...

Outra forma é a esquerda-melancia. Verde por fora, vermelha por dentro. Essa se traveste de preocupação com os pandas para querer roubar o dinheiro e o esforço alheios, além de refundar a união das Repúblicas Socialistas Soviéticas, mas com obrigação de comida orgânica no cardápio.

Existe também a esquerda "de classe executiva" que vai a jantares inteligentes. O mais perto que ela chega de qualquer coisa vermelha é do vinho que gosta de discutir, marca de sua falsa "finesse". Nada mais "fake" do que falar de vinhos como modo de elegância afetada.

Há também a religiosa, que se divide em duas. A budista "light", aquela que acha que o budismo é uma espiritualidade "progressista". A outra, a católica, pensou que Marx precisava de um Che Jesus e se deu mal. Nem a esquerda a leva a sério, nem a igreja a considera mais.

Claro, não podemos esquecer do feminismo, aquele que acha que o patriarcalismo é responsável por todos os males e afirma que Shakespeare era uma menina vestida de menino. Outra forma é a esquerda multicultural. Essa confunde o mundo com uma praça de alimentação étnica de um shopping center de classe média, achando que "culturas" (esse conceito "pseudo") se misturam como molhos.

Outra forma é a esquerda "aborígene", aquela que entende que a vida pré-descoberta da roda é a forma plena de habitar o cosmo.

Há também a esquerda da psicologia social, composta basicamente de psicólogas, pedagogas e assistentes sociais a favor da educação democrática e da ideia de que tudo é construído no diálogo. Essas creem que se pode dialogar com serial killers, culpando a escola, o capital e a igreja pelas mulheres que eles cortam em pedaços nas redondezas.

Todos esses tipos têm um traço em comum: são todos frouxos, como diria Paulo Francis.

Mas existe uma outra esquerda, a bolchevique "traveco". Os bolcheviques eram cabras que gostavam de violência e a praticaram em larga escala. Hoje, para a esquerda, pega mal pregar violência. Ela sofre com um problema que é a imagem de si mesma como um conjunto de seres puros, dóceis e pacíficos.

Então, para os simpatizantes da violência revolucionária bolchevique, a saída é se travestir de gente dócil e falar em "violência criadora". O amor e a violência são os mesmos, mas a saia confunde.

Os políticos vêm de Marte? - RENATO JANINE RIBEIRO


VALOR ECONÔMICO - 02/07

Uma coisa que me incomoda na discussão política brasileira, especialmente a mais popular: até parece, quando se fala de mazelas e malfeitos, que nada temos a ver com os políticos que nós mesmos elegemos. Parece que eles desembarcaram de Marte. Não nos responsabilizamos pelo que fazem (outra coisa de que não gosto é a dificuldade de respeitar o outro, geralmente tratado, mesmo nas falas de pessoas com educação mais formal, como se fosse idiota ou patife).
Ora, o fato é que daqui a poucos meses completaremos 30 anos de eleições seguidas e livres. Em 1982, os brasileiros puderam eleger governadores de oposição, isto é: puderam votar. O país tinha sido privado do voto livre desde 1965, quando ocorreram, embora tuteladas, as últimas eleições para governador de Estado. Na década de 70, as principais prefeituras, centenas na verdade, se tornaram cargos de nomeação da ditadura. Quase nada restou para o voto. Mas, agora, são já três décadas de escolha livre, cada vez mais limpa, dos governantes. Ninguém decide impostos ou penas de prisão se não tiver sido eleito por nós. A democracia de 1985, aliás, foi além da instituída em 1946, porque permitiu o voto do analfabeto, liberou os partidos comunistas e, com o voto eletrônico e a propaganda na TV, fez despencar a fraude e a influência do coronelismo. Então, por que teimamos em renegar nossa responsabilidade na escolha de maus políticos?

Um sinal claro desta atitude é o uso do pronome "eles", na verdade subentendido, nem sequer mencionado. Não dizemos: a prefeitura mudou a mão de direção desta rua. Dizemos: "mudaram" a mão de direção. A ação é como se não tivesse sujeito. Quem fez? Quem mudou? Quem mandou, quem manda? Não sei. "Eles". Mas o pior é que nem digo "eles". Apenas conjugo o verbo: "proibiram", "ordenaram". Abrimos completamente mão da escolha. Não somos nós quem escolhe ou manda. Mas, muito pior que isso: nem sabemos quem manda, quem ordena ou proíbe.

O sujeito oculto oculta o governo e o eleitor

Na verdade, pior ainda: nem fazemos questão de identificar quem manda. Preferimos fingir que é alguém vago, sem identidade. Em tempos passados, usaríamos o agente da passiva, o final "-se": proibiu-se, mandou-se. Ele deixa indeterminado o sujeito. Mas hoje, no Brasil, o "-se" caiu em desuso. No seu lugar, usamos a terceira pessoa do plural - a mais anônima das pessoas do discurso. Eu, tu, você, ele, nós, vós, vocês: todos estes remetem a um nome. São pronomes, estão no lugar do nome. Quando os empregamos, sabemos quem sou eu, quem é você, quem é ele. Mas um "eles" apenas subentendido fica como se não houvesse nada, nem nome próprio, nem pronome em seu lugar, só o verbo, uma ação sem sujeito.

É como se um vazio mandasse em nós. Mas quem é este vazio? É alguém que elegemos. É alguém que escolhemos. Não é um vazio, tem identidade clara e determinada. Por que nos recusamos a aceitar este fato básico? Ficamos assustados com a responsabilidade de sermos nós quem os colocou ali? Quando ouvimos notícias sobre a corrupção, assusta-nos saber que os acusados gozaram de nosso apoio, de nossa fé?

Isto vale para todos. Os eleitores de Fernando Collor, em 1989, e do senador Demóstenes Torres, recentemente, trataram de dizer-se enganados. Recusaram-se a assumir a responsabilidade de terem acreditado no que outros já percebiam não ser bem o que parecia. Sem querer nivelar todos os políticos, temos também que lembrar as acusações que há a alguns filiados do PT. Em qualquer caso, vemos a dificuldade de reconhecer que erramos ao apoiá-los. O anônimo "eles", na verdade, permite que nós nos refugiemos no anonimato. Anônimos queremos ser nós, porque irresponsáveis. O mau político, que abusa do poder a ele conferido pelo voto, encontra um cúmplice no eleitor irresponsável. Um esconde o que fez no mandato. Já o outro esconde que fez o mandato daquele.

A sociedade assim gosta de fazer-se de pura, em face de um poder estatal que seria, repito, marciano. Ele está aí, sabe-se lá por quê. É como se a oposição entre sociedade e Estado, clássica na política, tivesse terminado assim: a sociedade nada tem a ver com o Estado. Ele não foi criado por ela, não beneficia nenhum setor dela. Ele caiu do céu (ou do inferno). Ora, isso é um absurdo. É claro que há classes ou grupos, na sociedade, que têm bala na agulha e por isso podem fazer-se ouvir e atender pelo Estado. Mais que isso, há setores que mandam no Estado. Podemos discutir quais são. Para a esquerda, trata-se do grande capital. Para a direita, quem manda no Estado podem ser funcionários públicos e seus sindicatos. Não tomo posição aqui. Basta-me que comecemos a considerar que o Estado é feito por nós.

Sei que ótimas intenções levam a separar o Estado da sociedade. Um dístico nos ônibus paulistanos, na época de Mário Covas prefeito, dizia: "transporte, direito do cidadão, dever do Estado". Concordo. Mas receio que essa frase leve a pensar que não é o cidadão quem deve mandar no Estado. Não basta o cidadão receber, do Estado, o transporte. O cidadão é quem paga o Estado, quem o constrói, por isso deve decidir o que ele é e faz.

Enquanto não conseguirmos completar este ideal de uma sociedade que se reconhece no seu Estado, poderemos pelo menos começar mexendo nas pessoas do discurso. A boa nova é que estamos usando cada vez menos esse "eles" que não ousa dizer seu nome. Sugiro aboli-lo de vez. Sugiro que paremos todos de dizer "proibiram", "fecharam", "mandaram". Sugiro que comecemos a dar sujeito às ações, a todas as ações: o prefeito, o governador, seja lá quem for. É um pequeno passo para cada um de nós e pode ser um bom avanço para o país.

1932, a esquina - JOSÉ DE SOUZA MARTINS


O Estado de S.Paulo - 02/07


Quando eu era menino, havia uma pequena placa na calçada da Praça da República, diante da Rua Barão de Itapetininga, com os nomes dos que ali morreram no banho de sangue da madrugada de 24 de maio de 1932. Houve feridos. O sangue ali derramado desenhou no peito do povo as letras rubras de um acrônimo que se transformaria numa bandeira e numa causa: MMDC. Ali começara a Revolução Constitucionalista.

Foi do prédio em frente, ainda existente, da esquina da Praça da República com a Barão, que partiram os tiros de metralhadora e de revólver. Vieram do Partido Popular Paulista, ex-Legião Revolucionária, lá sediado, presidido pelo general Miguel Costa, um dos comandantes da Revolução de 1924, comandante militar da Revolução de 1930, que levara Getúlio Vargas ao poder, e recentemente demitido do comando da Força Pública pelo governador Pedro de Toledo. Era o que restava do Tenentismo em São Paulo.

Morreram: Mário Martins de Almeida, de 31 anos, fazendeiro em Sertãozinho, de visita aos pais, na Rua Guaianases, na Luz. Euclides Bueno Miragaia, de 21 anos, morador na Rua Gomes Cardim, no Brás, auxiliar do cartório de um tio, estudante na Escola Álvares Penteado. Drausio Marcondes de Sousa, de 14 anos, nascido no Brás, auxiliar de farmácia do pai, na Rua Oscar Freire, no Jardim Paulista. Antonio Américo de Camargo Andrade, de 31 anos, comerciário, morador na Rua Caio Prado, na Consolação. Único não católico, no seu sepultamento, no Araçá, fez a oração fúnebre o reverendo Miguel Rizzo Júnior, da Igreja Presbiteriana Unida. Eles deram seu nome ao MMDC. Uma quinta vítima, Orlando de Oliveira Alvarenga, de 32 anos, escrevente de cartório, morador na Rua Maranhão, na Consolação, faleceria no dia 12 de agosto.

O acaso das balas reunira numa sigla a diversidade humana de São Paulo, gente comum que ganhou nome na morte antes do tempo. Os restos mortais de todos seriam, mais tarde, transladados para o monumento-mausoléu erguido, no Parque do Ibirapuera, por Galileu Emendábile. Na pedra, o pranto identitário, o encontro e o retorno. Metamorfose da dor em memória.

Desde a tarde do domingo, dia 22, a multidão se reunira em protesto na Praça do Patriarca. Mobilizada pela retórica inflamada de um promotor público, Ibrahim Nobre, colocou-se sob a direção política da Frente Única Paulista, que reconciliava o progressista Partido Democrático com o conservador Partido Republicano. Reação ao enquadramento e à sujeição política de São Paulo por Getúlio Vargas. Um dos vários tópicos da inquietação popular era o decreto federal recente de acerto de divisas, pelo qual São Paulo perdera território e população para Minas. A multidão perambulava. Já empastelara dois jornais. Muitos, portando armas de fogo, foram parar ali naquela esquina. De um lado e de outro, era matar ou morrer.

COMIDA DE BOTECO - MÔNICA BERGAMO


FOLHA DE SP - 02/07


Renata Cruz, do restaurante Amici, e Raphael Despirite, do Marcel, são os apresentadores do programa "Xepa", que estreia no dia 9 em um canal exclusivo no Facebook. Os chefs vão falar de "comida de estádio, de camarim, de motel", entre outras coisas, diz Despirite. A ideia é mostrar de restaurantes estrelados a botequins. Os episódios terão participação de convidados e direção de Camila Gutierrez.

LONGA ESPERA

O STF (Supremo Tribunal Federal) tem pendentes em gabinetes de ministros da corte mais de 4.000 habeas corpus para serem julgados. O número é considerado estratosférico pelos próprios integrantes da corte. São casos urgentes que versam sobre a liberdade ou a ameaça à liberdade dos réus.

FILA 2
"A carga de trabalho para o ministro que pega no pesado, que não transfere processos a assessores e juízes, é desumana", diz o ministro Marco Aurélio Mello, que trabalhará em julho. Seu gabinete acumula 747 habeas corpus que aguardam julgamento. Só fica atrás do decano do tribunal, Celso de Mello, com 868. Em terceiro está o gabinete de Joaquim Barbosa, relator do mensalão, com 403 habeas corpus.

PRIMEIRO LUGAR
"E meu gabinete não pode ser considerado lento nem relapso", observa ainda Marco Aurélio Mello. Em 2011, ele foi o ministro que mais decidiu e julgou processos: 7.834. No ano anterior, o campeão foi Joaquim Barbosa, com 8.799 decisões.

PRÉ-ESCOLA
Marcela Temer, mulher do vice-presidente Michel Temer (PMDB-SP), procura escola para o filho Michelzinho, 3. Ainda não sabe se faz a matrícula em Brasília ou em São Paulo. "Sempre acompanhando o marido", diz a vice-primeira-dama.

CANARINHAS
As cantoras Alcione, Ana Cañas, Céu, Daniela Mercury, Gal Costa, Margareth Menezes, Maria Rita e Vanessa da Mata farão shows entre agosto e outubro no Via Funchal, em SP, no projeto Mulheres do Brasil.

OI, OI, OI
Tiê fará um show para convidados, em sua casa, só com músicas da novela "Avenida Brasil" (Globo), no fim do mês. A apresentação faz parte do projeto Na Cozinha ou No Jardim e será transmitida pela internet. A cantora está grávida de três meses do segundo filho com o marido, o diretor Leandro HBL.

PRAINHA
Remixes de filmes de Glauber Rocha feitos pela Cia de Foto serão exibidos ao ar livre no Tomie Ohtake, em agosto. Farão parte da mostra "3M de Arte Digital".

HOMEM DO ANO
Em homenagem ao centenário de Nelson Rodrigues, o diretor Clovis Mello está dirigindo um longa-metragem baseado em sete contos do autor. O filme estreia nos cinemas em setembro e se chamará "Ninguém Ama Ninguém... por Mais do que Dois Anos". Mello tem apoio do instituto Cine.

VOLTEI
O ator Carlos Moreno volta a encarnar o Garoto Bombril, personagem criado em 1978. No novo comercial, veiculado a partir de hoje na internet, ele brinca com o grito de guerra "aqui tem um bando de loucos", do Corinthians. O time disputa a final da Libertadores na quarta.

LÁ FORA
O CD "A Vontade Superstar", de Bruno Morais, será lançado na Europa a convite da gravadora londrina Black, Brown & White Records.

SURPRESINHA
Eduardo Tess, enteado de Guimarães Rosa, assistiu na semana passada à peça "Maria Miss", no teatro Eva Herz. O espetáculo é baseado em conto do escritor. Tess, que foi de surpresa, conversou com os atores Tania Casttello e Daniel Alvim no camarim.

À ITALIANA

O arquiteto José Roberto Moreira do Valle ofereceu jantar em homenagem a Carlo Guglielmi e Marco Sabetta, do Salão Internacional do Móvel de Milão. O economista e colecionador de arte Waldick Jatobá, o empresário Roberto Gasparian e a mulher, Dayse, estiveram presentes.

TEATRAIS

A peça "Boca de Ouro", protagonizada por Marco Ricca e dirigida por Marco Antônio Braz, teve sessão para convidados no Teatro do Sesi. Os atores Fúlvio Stefanini, Angela Dip, Maria Luísa Mendonça e Letícia Sabatella foram conferir.

curto-circuito

A Biblioteca Mário de Andrade lança hoje, às 17h30, nova edição de sua revista, com homenagem a Boris Schnaiderman.

O empresário Alexandre Birman e sua mulher, Johanna, oferecem jantar em homenagem à fotógrafa Garance Doré, hoje, no Itaim Bibi.

A cantora mineira Gabriela Pepino faz pocket show na Fnac Paulista na sexta-feira, às 19h. Livre.

A marca inglesa Liberty, de design e tecido, abre escritório em São Paulo.

O empresário João Doria Jr. convidou o artista Romero Britto para passar o fim de semana em sua casa de Campos do Jordão.

com ANNA VIRGINIA BALLOUSSIER, LÍGIA MESQUITA e OLÍVIA FLORÊNCIA

Caminhando contra o vento - MELCHIADES FILHO


FOLHA DE SP - 02/07

BRASÍLIA - José Serra terá de encarar um adversário extra na eleição deste ano: a sina de perder quando se lança candidato de uma herança que não ousa dizer seu nome.

Em 2002, o tucano foi o homem da "continuidade sem continuísmo". O tortuoso conceito não deu conta de protegê-lo da insatisfação majoritária com a reta final de FHC. O eleitor preferiu a ruptura "de verdade".

Oito anos depois, houve novo descompasso, só que de sinal invertido. O país estava otimista, contente, e Serra era o nome da mudança. Ele tentou se mostrar disposto a seguir a trilha de Lula. Este, porém, não deixou dúvida sobre quem desejava ver instalada em sua cadeira.

Nas duas vezes em que Serra venceu, sua candidatura estava alinhada com o sentimento dominante.

Em 2004, ele apareceu à vontade para vestir o figurino oposicionista em São Paulo. Sapateou livremente sobre a equivocada campanha petista e a rejeição a Marta Suplicy.

Dois anos depois, não precisou de segundo turno para chegar ao Palácio dos Bandeirantes. Sucedeu o correligionário Geraldo Alckmin, então lastreado por taxas de aprovação ainda maiores do que as atuais.

Em 2012, porém, Serra se verá de novo obrigado a defender um passivo. No caso, a gestão de Gilberto Kassab. A ascensão do fundador do PSD no quadro partidário nacional é inversamente proporcional à opinião da maioria dos paulistanos sobre seu desempenho como prefeito.

Será difícil o tucano se desvencilhar de sua criatura. Kassab desponta como principal operador da campanha. Implodiu o sonho da chapa pura do PSDB, emplacando o vice.

Propaganda intensiva pode melhorar a imagem do prefeito e legitimar o viés continuísta da empreitada de Serra, além disso escorado pela liderança isolada nas pesquisas. Mas o ambiente parece inclinado ao "novo", na definição (e torcida) das hostes rivais. O PT antes não tinha chances em São Paulo; agora tem.

A economia anda como o fordeco do meu avô - MARCO ANTONIO ROCHA


O ESTADÃO - 02/07

Sem uma política de desenvolvimento bem estruturada ficamos "virando a manivela"

Com que então o Banco Central já acha que o crescimento do PIB em 2012 vai ficar em 2,5% apenas? A previsão anterior era de 3,5%. Seria o caso de dizer, puxa vida, que baita tombo entre as duas previsões? Pelo menos, isso explica por que a presidente Dilma está aplicando afobadamente tantas doses de anabolizantes no combalido organismo econômico do País para tentar reanimá-lo: baixa dos juros, desonerações fiscais, aumento do crédito,aumento das compras governamentais, estímulos a setores industriais,estímulos ao comércio, pacote para a agricultura-enfim,uma espécie de farra do boi com os dinheiros públicos.

É que, sem dúvida, bem antes da divulgação das novas previsões do Banco Central o governo já tinha informações que o preocupavam, e já percebia a inclinação da ladeira à frente. Portanto, os anabolizantes já vinham sendo estudados e, muito provavelmente -caso queiram os acreditar que esse governo tem preparo para adotar medidas estratégicas - os remédios estão se dirigindo para os setores nos quais se identificou maior agilidade e maior capilaridade econômica para disseminar os seus efeitos. Aguardemos, pois, com boa vontade. O ministro Mantega - uma das figuras mais anódinas das que já ocuparam a Fazenda deste país- dá muita risada e espalha aos quatro ventos que, com as medidas que o governo está tomando, no segundo semestre (isto é, a partir de hoje), a economia vai ganhar força e a maré vai nos levar a bom porto.

Talvez o crescimento do PIB ultrapasse até os 3%.

Esse tipo de remédio para as gripes ou resfriados da economia já foi aplicado inúmeras vezes pelos governos brasileiros. O ex-presidente Lula o aplicou, em2008,para afastar de nós a "marolinha".E deu certo.Sempre dá certo...a curto prazo! Por isso,não são poucos os críticos que dizem que a economia brasileira tem "voo de galinha"- sobe para cair logo adiante.

Com as medidas antimarolinhas do Lula a nossa economia ganhou impulso e chegou a crescer 7,5% em 2010-ritmo quase chinês.Em 2011 cresceu 2,7% e agora a previsãoéde2,5%.

A face simpática disso é que se trata de pequenos crescimentos em cima de um grande crescimento.E antes o Brasil tivera dois anos de bom crescimento: 5,4%, em 2007, e 5,1%, em 2008.

Apesar da queda de 0,2%, em 2009-efeito da marolinha-digamos que o balanço geral dos últimos cinco anos ainda é bom. O País está crescendo. O problema é que está crescendo feito carro velho,bem velho:dá um arranque e morre; dá outro arranque, morre de novo. Lembra os tempos da manivela.Ainda vejo meu avô saltando apressado do fordeco, manivela na mão, para "dar cordano motor", como ele dizia, só para morrer de novo na ladeira seguinte.

Não temos- e essa é a questão -uma economia com crescimento sustentável ainda. E por isso não temos também uma economia confiável.

A confiabilidade da economia, a médio e longo prazos, é importante para os investidores, nacionais ou estrangeiros, porque é ela que garante um fluxo regular de capitais para empreendimentos que exigem prazos dilatados de maturação. Os investimentos estrangeiros que têm vindo para o Brasil - e fala-se muito que esse fluxo tem sido importante para garantir o nosso superávit em contas correntes- na maior parte dirigem- se para negócios de oportunidade, como comércio ou bancos, ou para especulações, imobiliárias ou com ações.

Muito pouca coisa ou quase nada sobra para indústrias de ponta ou para a infraestrutura.

Na China,ao contrário, tsunamis de investimentos internacionais têm se dirigido para a infraestrutura,transportes(portos, ferrovias e energia) e indústrias de ponta( a Chinas e prepara para lançar uma estação orbital).

Por quê? Porque há confiabilidade no retorno a médio e longo prazos desses investimentos.

No Brasil não há um elenco bem estruturado de projetos de desenvolvimento básico dos quais o investidor, brasileiro ou estrangeiro,possa participar com confiança.O único, o da exploração do petróleo do pré- sal,só tem lugar para a Petrobrás, mesmo que ela não dê conta, o velho nacionalismo não deixa ninguém mais participar.O resto é só falatório, como o trem-bala São Paulo- Rio, sobre o qual já se fala há mais de quatro anos, prazo em que a China construiu um de 1.316 km, entre Pequim e Xangai.

Mas,além da falta de planos objetivos e definições de projetos de base (portos, pontes, rodovias, ferrovias, aeroportos, estaleiros, canais fluviais, etc.) que fariam a economia mais que crescer,avançar tecnologicamente, ainda há os obstáculos para a indústria normal, o comércio do dia a dia,o ensino e os serviços em geral. E que até o governo reconhece: juros, impostos, preços da energia, encargos de todo tamanho, burocracia.

Paulo Pedrosa, presidente da Abrace, dizia no Estado (29/06) que os encargos que recaem sobre a energia somam R$ 11,6 bilhões por ano.Mais do que os R$ 8,5 bilhões que o governo se propõe a gastar agora em compras de veículos e máquinas com o objetivo de dinamizar a atividade industrial.

Resumo da ópera:os anabolizantes do laboratório Dilma/ Mantega são bem-vindos, mas sem uma verdadeira e abrangente política de desenvolvimento de longo prazo,continuarem os como o fordeco do meu avô.

Na prorrogação - VERA MAGALHÃES - PAINEL


FOLHA DE SP - 02/07

Se depender de sua vontade, Dilma Rousseff só vai participar para valer da campanha eleitoral no segundo turno. A presidente tem dito a dirigentes dos partidos aliados e a auxiliares do governo que pretende passar ao largo da disputa num primeiro momento, seja para não suscitar ciúmes entre adversários de mais de um partido da base, seja porque acha que seu papel, agora, é cuidar para que a economia volte a acelerar depois dos sinais preocupantes do primeiro semestre.

Pé na... A coordenação da campanha de Fernando Haddad se reúne hoje para traçar a agenda do petista. O diagnóstico é que ele terá de se dedicar mais ao corpo a corpo que os adversários nessa fase pré-TV, pois ainda tem de se tornar conhecido.

... tábua O PT também tem pressa em começar a espalhar a propaganda do candidato. Mini-outdoors, faixas e cavaletes móveis vão para a rua assim que a lei eleitoral permitir. Candidatos a vereador serão incumbidos de distribuir material nos bairros.

Piloto João Santana ainda se divide entre Caracas e São Paulo, mas as gravações para a TV já começaram, em ritmo lento. Foram feitas cenas de Haddad em família e em lugares onde viveu, estudou e trabalhou, para uma biografia do ex-ministro.

Jetom O vice de José Serra (PSDB), Alexandre Schneider, que deixou a Secretaria Municipal de Educação em março e desde então está desempregado, deve receber um salário do PSD, seu partido e do prefeito Gilberto Kassab, durante a campanha.

Alvo duplo Além de protagonizar várias trocas de farpas com Haddad, Schneider é crítico ferrenho da gestão de Gabriel Chalita na Secretaria de Educação do Estado.

A volta dos... Exonerado em junho para coordenar a campanha de Serra, Edson Aparecido deve reassumir a Secretaria de Desenvolvimento Metropolitano. Vai conciliar as duas atividades.

... que não foram Rodrigo Garcia (DEM), preterido para vice, também voltará à Secretaria de Desenvolvimento Social. Deve ficar ao menos até novembro, quando Alckmin planeja reforma ampla do primeiro escalão.

Dono da bola Até deputados do PT se queixam da pauta "sindicalista" que o presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS), impôs à Casa. Os correligionários o acusam de tentar "retaliar" o governo depois do fracasso em emplacar aliados na máquina.

Olha a cobra! Enquanto pula miudinho a fogueira do Palácio, Marco Maia confirmou presença no "Arraiá do Trabalhador", da Força Sindical. O evento substitui no calendário político de Brasília a Festa Junina da Granja Torto, famosa nos governos Lula e abolida por Dilma.

Cifras Em conversa interceptada pela Polícia Federal, Carlinhos Cachoeira discute com a mulher, Andressa, a venda da famosa casa do governador tucano Marconi Perillo (GO) para o empresário Valter Paulo. Nos áudios de julho de 2011 que chegaram à CPI, Cachoeira afirma que pagou R$ 1 milhão pela casa.

Contradição O governador afirmou que recebeu, em março do ano passado, R$ 1,4 milhão pelo imóvel, cuja venda teria sido negociada por Wladimir Garcez, braço-direto de Cachoeira.

Psiu Petistas avaliam que o novo tom na CPI dos tucanos Álvaro Dias (PR) e Carlos Sampaio (SP) -que chegou a aplaudir o ex-chefe de gabinete de Agnelo Queiroz (PT), Claudio Monteiro- se deve a um recuo por conta das eleições. O PSDB, dizem, teme que o caso Perillo respingue nas campanhas do partido.

com FÁBIO ZAMBELI e ANDRÉIA SADI

tiroteio

"Os tucanos que se sentirem alijados diante das imposições da cúpula do PSDB serão muito bem-vindos na campanha do Chalita."

DE ALEX DARIO, ex-presidente da Juventude Tucana e membro do comitê de Gabriel Chalita, sobre divergência de alas do tucanato com decisões de Serra.

contraponto

A la Ronaldo

Durante a abertura de exposição promovida pelo Ministério do Esporte no Memorial da América Latina, segunda-feira passada, Gilberto Kassab discursava diante de autoridades, jornalistas e ex-jogadores, quando prometeu anunciar uma novidade:

-Queria aproveitar a presença de ex-craques do nosso futebol mundial para fazer um importante anúncio...

Enquanto a plateia aguardava algum aviso político, o prefeito, que cultiva saliente barriguinha, disparou:

-Não vai ter jeito não... Depois dessa cerimônia vou voltar a jogar futebol!

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO


FOLHA DE SP - 02/07

Rede de supermercados entra no setor de shopping

Principal grupo de supermercados de Santa Catarina e nono maior em faturamento no Brasil, o Angeloni entrará no setor de shopping centers com um empreendimento em Criciúma (202 km de Florianópolis).

O projeto está sendo desenvolvido em parceria com a Partage, empresa de investimento imobiliário do grupo farmacêutico Aché, e com a Paulo Carneiro & Associados, de planejamento e administração de shoppings.

"Os shoppings não são nosso principal foco, mas vamos entrar no segmento", diz o presidente do Angeloni, José Augusto Fretta.

Serão investidos R$ 150 milhões no empreendimento, cuja inauguração está prevista para o fim de 2014. As obras começam em março, segundo o presidente da administradora, Paulo Carneiro.

A empresa quer instalar um supermercado no local. O valor do aporte a esse projeto não foi divulgado. O grupo também expande sua atuação no Paraná. Com investimento de R$ 80 milhões, instalará um supermercado em Londrina e outro em Curitiba.

No mesmo Estado, tem outras duas unidades em construção e uma terceira em fase de negociações.

"Nossa intenção é ampliar a participação no Paraná não só na capital, mas principalmente nas principais cidades do interior", diz Fretta.

Para atender as novas lojas, a empresa planeja um centro de distribuição na região de Curitiba. O imóvel deverá ter cerca de 10 mil metros quadrados.

EMPREGO LONGE DE CASA

Os novos empregos na Baixada Santista têm levado as construtoras a investir em imóveis de um dormitório.

Entre março deste ano e o mesmo mês de 2011, 27,4% dos lançamentos foram desse tipo de empreendimento.

O número é o maior entre as regiões analisadas pelo Secovi-SP (sindicato da habitação) no Estado.

"É um fenômeno que ocorre em locais que ficam a até uma hora da capital. Os pais trabalham em Santos, mas mantêm os filhos em escolas de mais qualidade em São Paulo", diz Hubert Gebara, vice-presidente da entidade.

Em Santos, se considerados também os apartamentos de dois quartos, o índice supera 70%, segundo o Secovi.

ASSALTANTE CARIMBADO

O grupo Tracker, especializado em rastreamento de veículos, investiu US$ 20 milhões para ser representante na América Latina de um líquido usado para identificar objetos roubados.

O produto, de uma empresa britânica, ao ser ser passado em carros ou cargas, imprime uma "identidade" que pode ser posteriormente verificada pela polícia.

"Também pode ser usado em joalherias, por exemplo. Quando houver arrombamento, o spray cai sobre sobre a pele do invasor, que pode ser identificado se for parado depois pela polícia", diz Álvaro Velasco, presidente do grupo no Brasil. O líquido dura na pele por até 20 dias.

É necessária a participação da polícia, para quem o equipamento de verificação será doado em cada país.

"As máquinas vão ficar com a polícia científica em São Paulo. Uma delas já foi importada", diz.

A estratégia de preços ainda não é divulgada.

CRISTAIS E OVOS EM CESTAS SEPARADAS

A marca de cristais Swarovski vai abrir duas novas frentes de distribuição no varejo no Brasil.

A empresa, que tem 15 lojas no país, passará a franquear unidades para expandir a rede e a abrir pontos em lojas multimarcas, como já faz na Europa e nos Estados Unidos.

"Há uma estagnação dos mercados maduros, com crescimento mais lento, mas eu não creditaria à crise na Europa. O Brasil tem perfil consumidor com receptividade. Estamos buscando espalhar os ovos em novas cestas", afirma Carla Assumpção, diretora-geral da marca no país.

Até 2015, estão previstas 35 lojas, entre franquias e próprias, e cem multimarcas.

"A operação na América Latina equivale a cerca de 60 milhões de euros de faturamento. O Brasil corresponde a 27%", diz.

Fanfarra populista - VINICIUS MOTA


FOLHA DE SP - 02/07

SÃO PAULO - A crise que, em 2008, se disseminou a partir dos países ricos -reincidindo mais branda, porém mais duradoura, em 2011- abalou o valor do livre-comércio. Iniciativas, a começar dos EUA, de empurrar a conta para os outros avivaram nacionalismos e enfraqueceram blocos econômicos supranacionais.

Se a agonia europeia dá mostras diárias desse novo ambiente, ele não afeta só o velho continente. Aqui, no extremo Ocidente, uma leva de governantes adversários da livre circulação de mercadorias pôde lambuzar-se em populismo econômico tão logo a condição global permitiu.

A entrada da Venezuela chavista no Mercosul coroa esse movimento. E desloca o eixo do projeto na direção da parolagem anti-imperialista, enquanto o comércio entre Brasil e Argentina -responsável por mais de 80% das trocas no bloco- é objeto de uma guerrilha protecionista.

O Brasil nunca foi capaz de exercer uma liderança forte o suficiente nessa relação. Não porque lhe faltasse apetite expansionista. Faltou escala econômica e poder financeiro para, por exemplo, apoiar a Argentina na derrocada do início da década passada -ou para sustentar saldos negativos no comércio com o parceiro.

Agora, sentado em mais de US$ 370 bilhões de reservas internacionais, o Brasil poderia usar seu cacife financeiro para auxiliar o vizinho, mais uma vez em agrura cambial. Também poderia ceder renda comercial à Argentina, em troca de salvaguardas para investimentos brasileiros crescentes no sul do continente.

Mas ninguém em sã consciência passaria um cheque em branco desse tamanho ao governo Kirchner. A probabilidade de o Brasil ver-se sabotado no meio do caminho seria total.

Acabou, na prática, a confiança bilateral para tocar o projeto comum. Com regiões inteiras para desenvolver dentro de seu próprio território, não é de todo ruim que o Brasil deixe o Mercosul transformar-se numa fanfarra populista -e inócua.