domingo, junho 20, 2010

DANUZA LEÃO

O tempo
DANUZA LEÃO
FOLHA DE SÃO PAULO - 20/06/10


Quando você não tem nada para fazer, ele não passa, e se fica esperando que chegue a noite quase em desespero 

QUAL A COISA MAIS PRECIOSA do mundo, mais que o ouro, que todos os diamantes, todas as moedas fortes, toda a riqueza e poder da terra? Acertou quem respondeu o tempo.
Coisa misteriosa este tal de tempo. Quando você não tem absolutamente nada para fazer, ele não passa, e se fica esperando que chegue a noite, e o dia seguinte, quase em desespero. Mas quando a vida está movimentada e boa, ele voa, e quando você se dá conta, a semana acabou sem saber como, e o mês também, e foram-se os anos. Não há meio termo: ou se morre de tédio ou de exaustão. O que é melhor? Difícil escolha.
Quando não se faz nada, sobra tempo para pensar em coisas que nos fazem ou fizeram sofrer, lembrar do passado com arrependimento, saudades, ou, o pior de tudo, com a sensação de não ter vivido -pensamentos, aliás, absolutamente inúteis. Quando o tempo sobra, qualquer palavra que se ouve é analisada, o contexto em que ela foi dita pode ter proporções perigosas, e até o tom de voz tem -ou pode ter- um grave significado.
Se seu porteiro diz alguma coisa que não te soa bem, é uma punhalada no coração, e quem tem o dia pela frente para ficar remoendo o que ouviu vai viver um drama, pois nada para fazer de uma bobagem uma grande tragédia como uma boa tarde ociosa. Mas pergunte a alguém, com dois empregos, quanto tempo dura o sofrimento. Exatamente o tempo entre a casa e o trabalho; na fila para o ônibus, o problema já acabou.
Ah, o tempo; o tempo que não se tem para ouvir a amiga, para escutar o problema do filho, o tempo que ninguém tem para escutar os nossos. E como não se pode viver sem ter com quem falar existem, felizmente, nossos queridos analistas, que dedicam 50 minutos inteirinhos só a nós, ouvindo todas as bobagens e nos compreendendo, sem que o telefone toque ou que a empregada bata na porta pedindo dinheiro para comprar carne.
Coisa mais curiosa; quando você está esperando ansiosamente por alguém que marcou de chegar às nove -e você às oito já está pronta, claro-, é capaz de passar uma hora inteira olhando para o relógio, e só para isso foi inventado o ponteiro dos segundos; para se ter certeza de que o tempo passa. Por outro lado, se estiver com o homem que mais ama fazendo a mais maravilhosa viagem, quando se der conta ela já acabou, sem deixar uma só prova de que tudo existiu, a não ser na memória e em algumas vagas fotos. Só que um dia, quando você estiver amando outra pessoa, já terá esquecido -como tantos se esqueceram de você. O tempo, remédio para tantas coisas, mas que demora tanto para fazer efeito.
O tempo não tem forma, cheiro, sabor; não pode ser comprado em farmácias, ser dado nem emprestado, não é vegetal, animal nem mineral, não pode ser guardado no cofre, não pode ser esbanjado, nem é possível economizá-lo para o futuro. Ele não existe, e ao mesmo tempo só ele existe.
E o homem, que já conseguiu tantas proezas, como voar, chegar à lua, ser mais veloz que o som, fazer chover, transformar a água do mar em água doce, irrigar os desertos, só não conseguiu ainda dominar essa coisa tão preciosa e abstrata que é o tempo.

PS - Estou saindo de férias, estarei de volta dia 25 de julho, até lá.

JOSÉ (MACACO) SIMÃO

UEBA! Bingo do Galvão!
JOSÉ SIMÃO
FOLHA DE SÃO PAULO - 20/06/10


BUEMBA! BUEMBA! Macaco Simão Urgente! Direto da Cópula do Mundo!
É HOJE! Brasil contra Costa do Marfim! Chama o Incor. Vou assistir ao jogo direto do helicóptero do Incor! Hoje a plástica do Galvão despenca!
E pode torcer pelo Brasil e contra o Dunga? Um amigo meu disse que a seleção do Dunga é como a mulher dele de biquíni: NÃO EMPOLGA!
E eu sei por que o Dunga só convocou volante para a seleção brasileira. Vai abrir uma autoescola. Rarará! Autoescola Dunga!
E tem um amigo que assiste ao jogo do Brasil gritando "Pênalti! Pênalti!". O Brasil entra em campo, e ele já começa a berrar: "Pêêêênalti"! Até ficar vermelho como uma beterraba!
E eu adoro o hino da Inglaterra: "Deus salve a nossa GRACIOSA rainha". A única graciosa rainha na Inglaterra é o Beckham! Rarará.
E chega de zebra. A vuvuzela vai virar VUVUZEBRA! Essa Jabulani é feita de couro de zebra, a Jabuzebra! Jabulani Já Pro Gol!
E atenção: "TSE proíbe Lula de tocar vuvuzela". Rarará! E Japão e Holanda? O time da Holanda joga de van: Van der Wiel, Van Bronckhorst, Van der Vaart, Van Bommel e o técnico, Van Marwijk. Só faltou o Vampeta. E a VANderléa! Rarará!
E Japão faz macumba com prato de sushi. Parece mesmo. E sabe qual é a diferença entre o sushi e uma perereca? O arroz.
E sabe o que a torcida de Gana tava gritando pra Austrália? Uh! Uh! Uh! Pau no cu do canguru. Rarará. Desculpe a baixaria. É Copa! E o Maradona é o Nelson Ned da Argentina! E já imaginou se na final der Sérvia e Eslovênia? Rarará!
BINGO DO GALVÃO! Corre na internet o Bingo do Galvão. Para jogar durante o jogo. Imprima a cartela e marque um X sempre que o Galvão falar uma dessas frases manjadas: 1) Bem, amigos da Rede Globo. 2) Este jogo é um teste pra cardíaco. 3) Casagrande, você acha que o Ganso e o Neymar estão fazendo falta? 4) Isso pode, Arnaldo? 5) Eu conversei com ele no saguão do hotel. 6) Haja coração! 7) RRRrrr 8) ERRRRGUE o braço! Rarará!
Diversão garantida. O Galvão é o bônus track da Copa do Mundo.
Nóis sofre, mas nóis goza. Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno.
E força na vuvuzela!

GOSTOSA

JOÃO UBALDO RIBEIRO

Cobertura moderna

João Ubaldo Ribeiro 
O Estado de S.Paulo - 20/06/10
Esse que entrou agora aí é o Güterwagen, que joga no Strappaziert de Colônia, não é isso mesmo?
- Isso mesmo, é a sexta participação dele num jogo dessa seleção alemã. A primeira foi num amistoso em Munique, em 15 de maio de 2008, quando ele entrou em campo para substituir Trockenbagger, que saiu contundido exatamente aos 23 minutos do segundo tempo. E a anterior a esta foi na última partida das eliminatórias, quando ele ficou no banco. Foi a 19ª vez em que ele ficou no banco e, curiosamente, sempre sentado do lado direito do técnico, exatamente como está agora.
-Perfeito. Mas parece que ele não está sozinho nessa mania, não tem um outro jogador que faz a mesma coisa?
- Você está lembrando o zagueirão Plusqueparfait, dos Camarões.
- Isso mesmo, o Plusqueparfait, o popularíssimo Pupu! Eu conheço muito os pais do Pupu, estive lá com eles, em minha última visita à aprazível Yaoundé, capital da República dos Camarões. O Plusqueparfait naturalmente mora na França, onde joga no Bêtise de Toulouse, mas seus pais, d. Muana e s. Buano, ainda moram lá em Yaoundé, naquela vida simples a que estão acostumados. Não creio que eles estejam me assistindo agora, mas, de qualquer forma, quero enviar um abraço especial para d. Muana, carinhosamente chamada de Muanette pelos seus familiares. Um beijo para a d. Muanette aqui de nossa equipe, o esporte é assim mesmo, o futebol é assim mesmo, aproxima as pessoas e os povos. Epa! Enquanto eu estava distraído aqui, o Wagenspinner irrompeu pela grande área adentro e mandou uma bomba que o goleirão espalmou de susto! Eu acho que essa ele espalmou de susto, não foi, não?
- É o que parece. Essa bola saiu a 126 quilômetros por hora, quer dizer, um pontapezinho respeitável.
- É verdade, essa foi apenas a terceira bola de mais de 125 quilômetros disparada do lado esquerdo da grande área, no primeiro tempo de um jogo entre seleções de continentes diferentes, este ano!
- Também com aquele pezão, o Wagenspinner... Olha só o tamanho, o pé dele parece uma prancha de surfe.
- É o maior número de chuteira da Copa, 48, bico largo, e assim mesmo feita sob medida para ele. O Wagenspinner superou o Schlepper, também da seleção alemã, que até a Copa passada era o recordista, calçando 47. Hoje o recorde do Schlepper já foi igualado por Nicomakowsky, da Rússia, e Zambetovic, da Sérvia. E o recorde absoluto do chuteirão agora é indiscutivelmente do Wagenspinner.
- Que não gostou, porque o árbitro já havia invalidado o lance anterior ao chute dele, marcando impedimento do seu companheiro Wildeber. Para mim, não estava, eu acho que o Sakonakara dava condição ao Wildeber, bem ali do lado direito. Vamos rever aqui.
- Marcação perfeita. No instante do lançamento, o Wildeber estava quatro centímetros à frente do Sakonakara, em clara posição de impedimento. Acertou o árbitro, mais uma vez.
- É, realmente, quatro centímetros, dá pra ver aqui sem a menor sombra de dúvida. A arbitragem tem tido um padrão muito bom, nesta Copa, não tem?
- De modo geral, sim. Nesse caso mesmo, trata-se de um trio grego de muita tarimba. Os auxiliares, Oipopoulos Saidopoulos e Papapoulos Catapoulos, estão em sua primeira Copa, mas são muito experientes, cada um com mais de 15 anos na liga grega. E o árbitro principal, Seforpênaltis Eudoulos, está em sua segunda copa. Esse é um árbitro com grande história pessoal, neto do lendário Mandoulous Prochuveirous, que fez escola em toda a Europa balcânica, apitando pela liga macedônia. Seu neto pode não ser igual a ele, até porque são outros tempos, mas é um árbitro muito bom. E tem um senso de colocação também muito bom, você vê que ele está presente em todos os lances, mas não corre muito, desloca-se sempre na medida do necessário. Veja aqui, só correu até agora um total de 0,9 quilômetros, o que é muito pouco, quando se sabe que, nesta Copa, a média de distância percorrida pelos árbitros está bem acima de dois quilômetros e acho que quem cravou três quilômetros no bolão das distâncias percorridas pelos árbitros vai se dar bem, apesar da contenção aqui do sr. Eudoulos.
- É verdade, eu também tenho essa opinião. E quanto ao futebol que está sendo jogado no momento? Por enquanto, a posse de bola está bem equilibrada, com 51 por cento para os alemães e 49 por cento para os japoneses. Um instante, mudou agora! Ah, sim, a última verificação dá 52 por cento para os alemães e 48 por cento para os japoneses, alterou-se o panorama!
- É, pode ser até empolgante, mas não creio que venha a se refletir no resultado da partida. Eu acho que o problema enfrentado pelas duas equipes, talvez um pouco mais pela japonesa, é uma questão de atitude.
- Que é isso, cara, a questão da atitude era na Copa passada, nesta é a qualidade.
- Tem razão, distração minha. Qualidade, claro. É óbvio que a seleção da Alemanha, até pela sua tradição futebolística, tem mais qualidade do que a japonesa. Mas...
- Termina o primeiro tempo! Não vá embora, porque no intervalo teremos a execução do Concerto Número Um para Vuvuzela e Orquestra, com o famoso solista Tispandongo Uzuvido, a Copa é uma festa! 

EDITORIAL - O ESTADO DE SÃO PAULO

Franqueza durou um dia
EDITORIAL
O Estado de S.Paulo - 20/06/10

Conversa franca e autocrítica não são para o governo Lula. O primeiro e único balanço honesto oferecido ao público num site oficial saiu rapidamente do ar. Segundo o balanço, a educação continua tão ruim quanto em 2003, a reforma agrária não funcionou, falta coordenação aos programas de infraestrutura e a política industrial só tem beneficiado alguns setores, em vez de favorecer o aumento geral da competitividade. Todos esses problemas são bem conhecidos e todo dia são citados na imprensa. Mas nunca haviam sido reconhecidos com tanta sinceridade por qualquer órgão do Executivo, até ser lançado o novo Portal do Planejamento. O portal foi apresentado pelo ministro Paulo Bernardo, na quarta-feira, como contribuição às políticas do governo e uma forma de difundir o conhecimento de seus programas. Ficou no ar até quinta-feira e na sexta de manhã já se havia tornado inacessível. Até cerca de meio-dia, quem tentava o acesso encontrava um aviso: "Em manutenção." Depois, nem isso.

Técnicos do Ministério do Planejamento levaram um ano e meio para montar o portal, com 53 temas apresentados e discutidos em cerca de 3 mil páginas. A cerimônia de lançamento foi gravada e difundida pelo YouTube e a novidade foi alardeada por vários canais do governo.

Segundo o ministro do Planejamento, vários de seus colegas telefonaram para reclamar, dizendo não terem sido procurados para discutir as informações. O ministro da Educação, Fernando Haddad, alegou haver dados incorretos no material divulgado. Segundo Paulo Bernardo, não teria sentido ele ficar numa posição de quem tenta detonar o trabalho do governo. Diante das críticas e reclamações, ele achou melhor, segundo contou numa entrevista à Rádio CBN, suspender o funcionamento do portal para uma revisão. Uma reunião, acrescentou, foi marcada para segunda-feira com o pessoal de seu Ministério para discussão do assunto.

Na mesma entrevista, comentou a reportagem publicada na sexta-feira no jornal Valor e reclamou do destaque atribuído às análises críticas, quando havia um material muito mais amplo, de 3 mil páginas. Mas a reportagem menciona também as avaliações positivas e as sugestões para aperfeiçoamento de programas como o Bolsa-Família e o de valorização do salário mínimo.

A parte crítica é obviamente a mais interessante, porque indica a existência, na administração federal, de técnicos capazes de avaliar com independência e objetividade a formulação e a execução de planos e programas. Além do mais, as críticas mais importantes não chegam a ser novas. O ministro da Educação talvez possa reclamar de um ou outro detalhe, mas não pode negar, por exemplo, a existência de um enorme número de analfabetos funcionais, cerca de um quinto da população com idade igual ou superior a 15 anos, nem a baixa qualidade do ensino fundamental. Também não é novidade a avaliação crítica dos planos de produção de biodiesel, apontada como economicamente inviável. As tentativas conhecidas no Brasil têm confirmado essa conclusão. Da mesma forma, qualquer pessoa informada é capaz de apontar o fracasso da chamada política agrária, marcada por muito barulho e violação de direitos e quase nenhum resultado positivo em termos de produção e produtividade dos assentados.

As avaliações da política industrial, dos programas de infraestrutura, da burocracia e da persistência de um sistema tributário de baixa qualidade apenas confirmam as análises de especialistas da academia, do setor privado e até de algumas áreas oficiais.

O portal pode ter sido uma surpresa incômoda para alguns ministros e também para os envolvidos na campanha da candidata oficial, a ex-ministra Dilma Rousseff. A análise mostra a pobreza de realizações em áreas importantes e confirma as falhas de coordenação dos investimentos - uma tarefa jamais cumprida pela ex-ministra da Casa Civil. À tarde, uma nota da Secretaria de Planejamento e Investimento Estratégico (SPI), criadora do portal, foi incluída no site do Ministério. Segundo a longa nota, as 3 mil páginas continham muitas avaliações positivas da ação do governo e a intenção não foi produzir um balanço crítico. Foi a autocrítica da autocrítica.

GOSTOSA

ELIO GASPARI

Marina é um perigo, é candidata da paz
ELIO GASPARI
FOLHA DE SÃO PAULO - 20/06/10

Numa campanha feroz e marquetada, ela parece que saiu da floresta de "Avatar"


O DESEMPENHO DA CANDIDATA Marina Silva na sabatina da Folha trouxe um aviso. Ela não é uma excentricidade. Numa campanha de ferocidades marquetadas, ela fala baixo, é serena. Não está com raiva nem vê o prenúncio do fim do mundo nos adversários. Pela biografia, não precisa brincar de rico contra pobre nem de pobre contra rico, muito menos de Lula ou anti-Lula: "É por isso que eu estou aqui, para quebrar o plebiscito".
Ela teve entre 7% e 12% nas últimas pesquisas e, pela exposição recente, deverá subir. A partir de agosto, levará a pancada da falta de espaço no horário gratuito oficial, pois terá apenas um minuto e meio diário. Poderá se preservar com a equanimidade do noticiário dos meios de comunicação.
De início, supunha-se que Marina tiraria votos destinados ao PT, mas isso não é mais uma certeza. Ela cresce junto aos jovens e junto a eleitores que se lembram do Brasil distendido de Fernando Henrique Cardoso. Percebe-se até mesmo um tipo de preferência móvel, a da pessoa que prefere votar em Marina, mas confessa: "Se eu sentir que assim elejo a Dilma no primeiro turno, voto no Serra". A essa altura da campanha, Marina Silva representa um voto sem culpas por mensalões ou privatarias.
Há quatro anos, existiu o caminho alternativo de Heloísa Helena, mas a senadora incomodava pela estridência. A ex-ministra do Meio Ambiente, com seu jeito de quem saiu ou está a caminho do filme "Avatar", aparece como uma candidata da paz, de um Brasil que há 21 anos não vê uma campanha eleitoral sangrenta e sente-se muito bem assim.
TUCANOS
Fernando Henrique Cardoso não foi à convenção do PSDB que sagrou a candidatura de seu amigo José Serra porque tinha um compromisso em Madri, mas, se quisesse, teria ido. O tucanato ainda não se deu conta de que, sem FHC, fica menor. Houve uma época em que o falecido PSD acreditou que JK era um estorvo. Em 1964, jogaram o ex-presidente ao mar e deixaram de existir como partido um ano depois.
VICE
Pode ser que não dê em nada, mas há tucanos acreditando que, a essa altura, o melhor nome para a vice de José Serra voltou a ser o do mineiro Itamar Franco.
REGISTRO
Para a crônica das relações de Nosso Guia com os meios de comunicação.
Em 2003, Lula tinha menos de um ano de governo quando surgiu o boato de que uma rede de televisão estava à venda. Ele perguntou: "Não dá pra gente comprar?" (Quem era "a gente", não se sabe.) Passou o tempo, seu governo criou a TV Brasil, e Nosso Guia referiu-se ao novo canal internacional da emissora como a "minha televisão".
MARACUJOCKEY
O Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico de São Paulo tombou todo o terreno do Jockey Club da cidade, dificultando um grande negócio imobiliário que espetaria duas torres e um shopping numa fatia de 100 mil m2 da propriedade. Como circula uma ideia parecida no Jockey do Rio, pouco custaria que se estudasse o tombamento da área das cocheiras do hipódromo da Gávea. Se os cariocas baixarem a guarda, a beleza da Lagoa pagará a conta.
QUATRO VEZES NÃO
Depois de anos de trabalho junto a jovens favelados do Rio de Janeiro, ensinando-lhes cinema, Cacá Diegues teve a ideia de levar para as telas uma nova versão do seu "Cinco Vezes Favela", o clássico de 1962.
Em vez de juntar cinco diretores conhecidos, convidaria jovens das comunidades para fazer "Cinco Vezes Favela, Agora por Nós Mesmos".
Precisava de R$ 4 milhões para o projeto. Bateu às portas dos grandes patrocinadores federais. A saber: Petrobras, Caixa Econômica e Furnas. Nada. Pediu socorro ao Palácio do Planalto. Nada.
Cacá só conseguiu os recursos na iniciativa privada. Eike Batista bancou metade do custo, e entraram também AmBev, Light, Columbia, Globofilmes. A RioFilme, da prefeitura da cidade, também ajudou. O BNDES patrocinou uma pequena cota, depois de ter negado o primeiro pedido formal.
O "Cinco Vezes Favela" 2.0 foi selecionado para o Festival de Cannes, os cineastas das favelas viram-se aplaudidos de pé, o filme tornou-se um sucesso de crítica e agora estreia no Brasil.
A ajuda foi negada por demofobia (favelados fazendo filme) ou pela velha e boa patrulha ideológica, por conta declarações de Cacá Diegues contra o comissariado cultural. Talvez, pelos dois motivos.

ERRO Estava errada a informação publicada aqui segundo a qual em 2007 a tropa de choque da PM paulista desalojou os invasores que ocupavam o Diretório Acadêmico da Faculdade de Direito do largo São Francisco.
Eles não ocupavam a sede do diretório, mas instalações da faculdade.
UMA BOA NOTÍCIA À VISTA: KATE MIDDLETON

Se os santos ajudarem, após a Copa o mundo poderá receber um novo motivo para sonhar. É possível que no mês que vem a Casa Real inglesa anuncie o noivado do príncipe William com sua namorada, Kate Middleton. Como na Copa, resta torcer.
A moça tem 28 anos. Os dois se conheceram na faculdade e estão juntos há cerca de seis anos. Ela frequentou alguns eventos públicos com o namorado e é protegida pelo dispositivo de segurança da realeza.
A morena é classuda, mas tem pouco a ver com a ingenuidade aristocrática de Diana, a mãe do príncipe William. A ascendência de Kate fará a alegria da patuleia.
Ela é filha de uma aeromoça com um comissário de aeroporto. Pelo lado paterno, descende de uma velha família da classe média do interior. Pelo materno, vem de famílias de mineiros e trabalhadores que migraram para os bairros miseráveis de Londres, gente que morria de doenças pulmonares, deixando a descendência na penúria. Um de seus ascendentes passou um tempo na cadeia.
Kate pertence à nobiliarquia da construção civil. Foram pelos menos três gerações de pedreiros. Seu bisavô foi estucador, enfeitando salões das casas de famílias endinheiradas com querubins e flores de gesso. Morreu cedo e a mulher empregou-se numa fábrica de alimentos.
Um avô materno da jovem que poderá ser coroada rainha da Inglaterra era carpinteiro e vivia com a família numa área onde hoje se chocam skinheads e imigrantes asiáticos. Sua mulher, Dorothy, descendia da cepa dos mineiros e ajudava as contas da casa trabalhando como vendedora. A ela se deve a garra que levou a filha Carole a uma boa educação e a neta à Universidade St. Andrew, onde conheceu o príncipe William.
Kate soube se preparar para viver no ninho de cobras da Casa de Windsor. Nunca deu entrevista.
(Nos anos 70, num bairro pobre de Chicago, o zelador Robinson e sua mulher, a secretária Marian, descendentes de escravos, pagavam as contas de Princeton para os filhos Craig e Michelle, endividando-se no cartão de crédito. Hoje Marian, viúva, vive na Casa Branca, cuidando das netas Sasha e Malia.)

CELSO LAFER

Diplomacia brasileira, novas variações críticas
CELSO LAFER 
O Estado de S.Paulo - 20/06/10

A política externa do governo Lula tem sido objeto de crescentes críticas. São muitos os rumos que vêm sendo questionados. No plano mais geral, aponta-se que o Itamaraty não tem escolhido os campos de atuação que oferecem ao nosso país, que alcançou um novo patamar internacional em função das transformações internas iniciadas com a redemocratização, as melhores oportunidades para se beneficiar da nova multipolaridade do cenário mundial.

É o caso da prioridade dada à busca de um reconhecimento protagônico na esfera da alta política da paz e da guerra no Oriente Médio (Irã), em detrimento da ênfase em resultados mais significativos em áreas mais próximas da influência real do Brasil. As tensões do contexto da nossa vizinhança (a animosidade Colômbia-Venezuela) e as que afetam nossas fronteiras e a vida nacional (trânsito de drogas da Bolívia) são minimizadas no dia a dia da condução diplomática. Interesses específicos do País e os seus interesses gerais, na boa dinâmica de funcionamento da ordem mundial, em síntese, não vêm sendo articulados de maneira eficiente em razão da obsessiva prevalência atribuída à paixão pelo prestígio.

Em contraste com as paixões, interesses são aspirações que levam em conta uma raciocinada avaliação do como efetivá-las. O como é fundamental, pois a realidade oferece resistência a aspirações que são apenas desejos. Daí a importância do bom juízo diplomático, que conjuga, com criatividade, o que se quer com o que se pode. É precisamente um exemplificativo rol de inadequados juízos diplomáticos do governo Lula o que listo a seguir.

As difíceis negociações na OMC não foram acompanhadas por concomitante interesse em buscar acordos comerciais regionais ou bilaterais propiciadores de acesso a mercados para os produtos brasileiros que carecem de preferências no continente e no mundo. A diluição crescente do significado econômico e político do projeto Mercosul não só está sendo passivamente aceita, mas viu-se agravada pelo empenho governamental em incorporar a Venezuela de Hugo Chávez, cuja visão de integração é apenas a de juntar forças para se opor aos EUA.

Sólidas iniciativas do governo FHC, como a Irsa, direcionadas para projetos de integração de infraestrutura regional sul-americana, ficam na penumbra e destaque é dado à criação de inócuos foros novos, como a União Sul Americana de Nações (Unasul). O Tratado de Cooperação da Amazônia, que reúne todos os países da Bacia Amazônica e poderia impulsionar a cooperação regional voltada para a preservação sustentável do bioma amazônico e, assim, contribuir para o encaminhamento de um dos grandes itens da agenda ambiental, dorme nos escaninhos do Itamaraty.

O benevolente endosso à violência e à fraude do processo eleitoral no Irã contrapõe-se à "birra" (na terminologia do presidente) na intransigente defesa de Zelaya, dificultando o equacionamento da questão democrática em Honduras. É patente a incoerência com que se invoca o princípio da não-intervenção para favorecer a omissão quanto aos riscos para a democracia e os direitos humanos provenientes da atuação do presidente Chávez na Venezuela e o seu ostensivo desrespeito para benefício eleitoral do presidente Evo Morales na Bolívia.

É lamentável a insensibilidade em relação a valores com que a repressão do governo cubano a dissidentes em greve de fome foi desqualificada pelo presidente como uma ação de criminosos comuns. É um desrespeito ao princípio constitucional da prevalência dos direitos humanos nas relações internacionais do Brasil a omissão perante o genocídio em Darfur.

É altamente discutível se o princípio constitucional da eficiência da administração pública se vê atendido seja pela indiscriminada abertura de novas embaixadas e de consulados-gerais (mais de 40), seja pela exagerada ampliação das vagas de ingresso na carreira, que compromete o padrão de qualidade da formação profissional dos quadros diplomáticos.

O princípio constitucional da impessoalidade da administração pública é continuamente posto em questão pela sofreguidão com que os responsáveis pela diplomacia brasileira se dedicam a glorificar o impacto da presença do chefe de Estado no cenário mundial. Essa celebração do prestígio do presidente aponta para um personalismo populista que impede a construção de um consenso mínimo em torno da política externa como uma política pública de interesse nacional.

A partidarização da política externa, com seu viés ideológico, tem sido um caminho para obscurecer e colocar em segundo plano a sua dimensão de política de Estado que, levando em conta os fatores da persistência da inserção internacional do Brasil, contribui para assegurar a previsibilidade e a confiabilidade externa do País. Observo que para a contundência crítica à política externa do atual governo muito tem cooperado a postura partidária dos seus responsáveis, que, sem base histórica, configuram a presidência Lula como o marco zero da diplomacia brasileira. Quem semeia os ventos da desqualificação colhe as tempestades do dissenso.

Em síntese, o que os críticos da política externa do governo Lula apontam é que a diplomacia brasileira está optando pelo inefável do prestígio em detrimento da realidade dos resultados. Por isso não vem traduzindo apropriadamente necessidades internas em possibilidades externas; não identifica corretamente as prioridades nacionais a serem defendidas no plano internacional; não escolhe com discernimento nem os campos de atuação nos quais o Brasil pode colher os melhores frutos para a efetiva defesa dos seus reais interesses nem os parceiros mais compatíveis com o progresso democrático interno; desconsidera valores e, deste modo, descapitaliza o legado do soft power do nosso país.

É a expressão intransitiva da "glória de mandar", "desta vaidade a quem chamamos Fama", para concluir com Camões.

PROFESSOR TITULAR DA FACULDADE DE DIREITO DA USP, MEMBRO DA ACADEMIA BRASILEIRA DE CIÊNCIAS E DA ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS, FOI MINISTRO DAS RELAÇÕES EXTERIORES/GOVERNO FHC

GOSTOSA

ANCELMO GÓIS

A 1.400 dias da Copa
ANCELMO GÓIS

O GLOBO - 20/06/10

É a seguinte a situação, segundo gente do ramo, dos estádios das 12 cidades da Copa de 14.

São Paulo: Com o Morumbi descartado, o jogo por enquanto está zerado.

Porto Alegre: O Internacional busca parceiro para investir uns R$ 200 milhões no Beira Rio.

Curitiba: Também é privado.

A Arena da Baixada negocia para que alguma empresa ponha uns R$ 50 milhões. Ainda assim, o setor público deve pingar uns R$ 40 milhões.

Rio: O edital do Maracanã está publicado. A reforma custará R$ 720 milhões. Dinheiro público.

Belo Horizonte: O edital de reforma do Mineirão deve ser publicado semana que vem, em modelo de PPP (Parceria PúblicoPrivada). Mas há dúvidas.

Brasília: Edital publicado.

Mas o processo é muito questionado na arena política. O estádio para 70 mil pessoas foi considerado grande demais.

Fortaleza: O caso foi parar na Justiça. Briga de consórcios.

Salvador: Obra já contratada.

O modelo é PPP.

Recife: Já contratada. PPP.

Cuiabá: Já contratada.

Manaus: Já contratada.

Natal: O quadro ainda não está muito claro, embora três consórcios tenham se interessado.

No mais

A conferir.

‘O Cruzeiro do Sul’ Parece até cota Os 34 números de “O Cruzeiro do Sul”, jornal dos pracinhas na Itália em 1945, vão virar livro em setembro com apoio da FGV.

A edição é organizada por Roberto Mascarenhas, neto do marechal Mascarenhas de Morais, que comandou a FEB.

O negro e a ditadura

Dia 1°, a Comissão de Igualdade Racial da OAB do Rio promove ato que vai lembrar negras e negros vítimas da ditadura militar.

A pergunta que não quer calar: por que só negros?

Outro lado

Marcelo Dias, que preside a Comissão, diz que a nossa História não dá suficiente visibilidade à participação dos negros nessa luta.

Há controvérsias.

Tarifa britânica

A Anac notificou a British Airways por falta de transparência nas tarifas. A voadora não respeitou a regra que obriga as empresas a informar aos passageiros todos os serviços e taxas cobrados nos bilhetes.

É que a companhia, espertinha toda vida, cobrava adicional de combustível sem dizer aos clientes.

Parece até cota

A revista “Sandton”, que leva o nome do bairro de bacanas de Johannesburgo, circula este mês com Matthew Booth, o único jogador branco da seleção da África do Sul, e a mulher, Sonia, na capa.

O casal é um dos ainda raros casamentos inter-raciais do país. Nascida em Soweto, a moça, modelo, foi finalista do Miss África do Sul.

Que sejam muito felizes.

Magalhães, meu avô

O jovem Paulo Fernando Magalhães Pinto, assessor especial de Cabral, vai escrever um livro sobre a vida de seu avô, o político e banqueiro mineiro Magalhães Pinto.

Vai ser lançado pela Réptil Editora.

Julita e as chaves

A socióloga Julita Lemgruber e a coleguinha Anabela Paiva acabam de entregar à Editora Record os originais de “A dona das chaves”.

Escrito a quatro mãos, o livro conta a história de Julita no comando das prisões do Rio de Janeiro na primeira metade dos anos 1990.

Eu apoio

Cabral tem um pedido a fazer à Fifa: por favor, proíba vuvuzuela na Copa de 14. Pelo menos no Maracanã.

Ninguém merece.

O DOMINGO é de Susana Werner, 32 anos, a bela mulher de Júlio Cesar, que hoje defende a seleção contra a Costa do Marfim (vai, Brasil!). Susana está no Rio investindo no projeto que chama de “Volta, Júlio”. Tem feito ginástica e, quarta passada, mudou o visual no salão Werner (que não é parente dela), na Barra. Repare, na foto, nas madeixas louras, agora repicadas: “Sozinha, eu me empolgo porque tenho mais tempo para me cuidar”, explica ela, que só não fala sobre o resultado do jogo de hoje: “Não conheço o time”

ZONA FRANCA

Luiz Antonio Secco e Debora Rozensztajn abrem a Azov RH, especializada em seleção para o varejo.

Abre dia 15, na Gávea, o curso Despertar na Unidade, com chancela da Oneness University, na Índia.

Inscrições: sboscardin@terra.com.br.

O promotor Sávio Bittencourt lança A Revolução do Afeto” e a “Nova Lei de Adoção”, amanhã, na Amperj.

Humberto Fernandes Machado e Carlos Gabriel participam de debate da Revista de História da Biblioteca Nacional, terça.

A grife Mamão Papaya lança sua coleção Festa Junina mamaepapaya.blogspot.com).

Fred Schiffer expõe no Rio Design Leblon.

A livraria Rio Antigo expõe parte do acervo do jogador Nilton Santos.

MARCEU NA COPA

A 5ª Avenida sul-africana

Bola que segue, aqui vão novas anotações de viagem da terra da Copa do Mundo.

“Mamãe, quero bundo”: Parece samba de uma nota só, mas não é. As negras sulafricanas (79,5% da população são pretos) não carregam seus filhos no colo, mas na corcunda, sentados em seus grandes “bundos”. Os bebês ficam presos — e protegidos do frio — num pano que elas passam pelas costas e amarram na cintura.

Apartheid da bola: A criançada branca do país de Mandela joga rúgbi nas escolas.

A criançada preta joga futebol em campinhos rala-coco ou nas ruas.

5ª Avenida: A África do Sul também tem sua 5 aAvenida (veja na foto). Fica na favela de Alexandra, a maior de Johannesburgo, espécie de Complexo do Alemão horizontal, com milhares de barracos de paredes de zinco que ardem no calor e congelam no frio, como agora. O lugar é retalhado por ruelas que ganham nomes de avenidas numeradas. A “5aAvenida” da favela miserável em nada lembra a de Nova York, símbolo da riqueza dos EUA.

Quatro rodas: A pobreza é grande, a desigualdade maior, mas cerca de 70% dos lares sul-africanos, segundo o governo, têm pelo menos um carro. Há automóveis demais. A velocidade máxima permitida é de 120km/h. Mas, em Johannesburgo, entre 15h e 19h, não se consegue passar dos 20km/h por causa dos engarrafamentos.