quinta-feira, junho 21, 2012

Fator Odebrecht - ANCELMO GOIS

O GLOBO - 21/06

A ministra Isabel Gallotti, ao decidir que o caso será apreciado pela 4+ Turma do STJ, deu uma vitória parcial à fami-lia Odebrecht em sua batalha judicial com os Grandin.
Trata-se de uma das maiores disputas societárias do Brasil. Em jogo, uns R$ 3 bi.

Magoou

Era enorme ontem a irritação do governo com as críticas das ONGs estrangeiras.
O Planalto considerou que elas são duras com o Brasil, que tem reduzido desmata-mentos, enquanto falam manso com EUA e Europa, os grandes poluentes do mundo.

FH+20
De FH, irônico, ontem, no burburinho da Rio+20, ao encontrar no restaurante do Hotel Sofitel um ex-assessor seu que agora trabalha com Lula e lhe disse estar ali “para acompanhar o presidente”:
— Que presidente mesmo?

Ele é craque
Ronaldo, para assumir o marketing da AmBev, teve de convencer a gigante WPP, sua sócia na 9INE, que trabalha com a concorrente Coca-Cola.

Maconha+20
Acabou ontem a “Rio+420, Cúpula Canábica”, na Rio+20.
Foram três dias de debates com mais de cem ativistas do país todo. A turma decidiu criar a Rede de Coletivos e Ativistas pela Legalização da Maconha.

Homem como Túlio
Autor do livro “Nunca houve um homem como Heleno”, que virou filme com Rodrigo Santoro no papel-título, o coleguinha Marcos Eduardo Neves vai escrever a história de Túlio Maravilha, o folclórico jogador de 43 anos que diz estar perto de mil gols.

NESTES DIAS de Rio+20, a coluna abre sua janela fotográfica para imagens captadas por dois Renatos. As primeiras, de Renato de Sousa Almeida, celebram, nesta sequência, a vida na cidade fluminense de Itaperuna.

Uma rolinha construiu seu ninho numa árvore junto à varanda da casa dele. Logo em seguida, pôs dois ovinhos e começou a chocá-los. Dias depois, com a maternidade, o encanto da vida se fez presente, e lá estava a penosa a cuidar de dois filhotes. A outra, de Renato Gomes Pires, carrega muito simbolismo. Éesta coruja que parece tapar a boca de um velho canhão do Forte de Copacabana — palco, aliás, de emocionantes eventos da Rio+20 — para pedir paz. Que Deus proteja a todos — a coruja, a rolinha eseusfilhinhos, ea nós não desampare jamais

Rumo ao México
Rubem Fonseca, 87 anos, parece, melhor assim, que vai abandonar sua vida de recluso.
Primeiro, posou aqui ao lado de uma árvore que protege no Le-blon. Agora, vai à Feira de Guada-lajara, em novembro, a maior de livros em espanhol e português.

Rombo no fundo
A 7+Turma do TRF do Rio julga dia 28 se mantém anulação de multa de R$ 504 milhões da CVM a um pessoal que vendeu créditos imobiliários do finado Banerj.
A empresa ASM DTVM é acusada de favorecimento. A operação deu preju ao RioPrevidência.

Poder feminino
Com Dilma, as mulheres têm a força. Ontem, a presidente teve de escolher um médico da Aeronáutica para ficar de plantão na ambulância de sua comitiva.
Entre quatro doutores e uma doutora, escolheu... você sabe.

Bandejão dos vips
O restaurante Antiquarius, da Barra, perto do Riocentro, virou uma espécie de... “bande-jão” dos vips nessa Rio+20.
Além do presidente de Gana, almoçou ali ontem Ted Turner, o magnata da mídia nos EUA. Comeu peixe e bebeu água sem gás. Na véspera, jantaram a rainha Sílvia e o rei Carl Gustav, da Suécia.

Mama África
Dilma confirmou presença no jantar que Lula oferece hoje no Palácio da Cidade aos chefes de Estado africanos.

Santo Antônio, valei
Frei Ivo Müller, guardião do Convento de Santo Antônio, no Rio, para ter a ajuda dos homens, apela à de Deus.
Conclama amigos e fiéis, por e-mail, para um abraço ao convento, terça, às 11h, “pedindo em oração que o Iphan e o MinC aprovem a captação dos recursos necessários para a restauração desse patrimônio do Rio”.

Rio+Varig
Os ex-funcionários da finada Varig aderiram à onda de protestos da Rio+20.
O deles será hoje, às 10h, perto do Forte de Copacabana.

Cena carioca
Um indígena da Rio+20 embarcou no metrô na Estação Largo do Machado, ontem, no vagão... feminino.
Em protesto, uma passageira começou a bater na boca, produzindo aquele grito de guerra de índio de cinema: “Uu-uu-uu-uu... ”

A próxima fronteira - DENISE ROTHENBURG

CORREIO BRAZILIENSE - 21/06




Se Dilma tivesse que respeitar a lei eleitoral em caso de eventos internacionais, poderia ser punida por transporte de eleitores. Ela aproveita a Rio+20 para, corretamente, estreitar relações com os países africanos

Com a Rio+20 praticamente limitada a um “caldo ralo” em termos de avanços de financiamentos para o desenvolvimento sustentável, a aposta desses dois dias para muitos países será mesmo na possibilidade de encontros bilaterais. E, no caso do Brasil, está clara a prioridade aos países africanos, ao ponto de o governo oferecer “carona” a várias comitivas do continente em aviões da Força Aérea Brasileira.

Dos 64 pedidos de audiência que a presidente Dilma Rousseff recebeu, haverá tempo para 10, sendo três dedicados aos africanos. Além de um jantar com a União Africana — solução encontrada com o auxílio do prefeito Eduardo Paes e com o governador Sérgio Cabral, para que todos os presidentes do continente presentes pudessem ter uma conversa com Dilma, ainda que mais informal — ela recebeu para conversas reservadas os presidentes do Senegal, Macky Sall; e o da Nigéria, Goodluck Jonathan; e vai conversar com o presidente do Congo, Joseph Kabila, em audiência hoje, às 15h.

O sinal é claro: a aposta deflagrada no governo Luiz Inácio Lula da Silva não só tem a total concordância da presidente como deverá ser ampliada, conforme a visão de diplomatas brasileiros. E com total aval de Lula, também convidado para o jantar hoje com representantes da União Africana.

Por falar em aposta…
Você leitor, às vezes, pode se perguntar por que diabos a presidente Dilma aposta na África. Afinal, você que tem memória deve se lembrar de que Lula, em certa ocasião não muito distante, cometeu a gafe de dizer que a Namíbia era tão “limpinha que nem parecia a África”. Mas saiba que ali no caso da aposta na África, Lula não estava errado nem “malufou” como fez agora na campanha de prefeito de Fernando Haddad em São Paulo.

A aposta de Lula foi correta. Afinal, é preciso ter em mente que, em política externa, assim como na vida, vale o ditado que quem chega primeiro bebe água limpa. Como me disse ontem um alto funcionário do Itamaraty, nem sempre o que parece filantropia pode ser encarado como tal. Isso inclui a carona da FAB. Há toda uma estratégia de aposta no futuro envolvida nesse relacionamento e na escolha da agenda em um evento tão repleto de rodadas de negociações como a Rio+20.

Por falar em “carona”…
No caso da “carona”, se Dilma tivesse que cumprir as regras eleitorais na Conferência da ONU certamente seria punida por transporte de eleitores. Afinal, os países africanos têm jogado em parceria com o Brasil nos eventos multilaterais, como a Rio+20. Se dependesse do G-7, onde o continente tem mais peso, certamente o documento final da Rio+20 seria bem mais ambicioso do que o acordado em bloco com os europeus e os Estados Unidos, que ameaçavam reabrir tudo, caso houvesse uma insistência em reformular o texto fechado antes da chegada dos chefes de estado à Conferência.

E votos não são o único aspecto a levar em conta nesse estreitar de relações. Há todo o interesse em levar empresas brasileiras nas áreas de fabricação de móveis, materiais de construção, e de energia para os países africanos em desenvolvimento. E a África é hoje o pedaço da terra que cresce mais do que a Ásia. Ok, você pode pensar que, para quem sai praticamente do zero, qualquer crescimento soa grande, algo do tipo, “em terra de cego quem tem olho é rei”. Mas não é por aí. Vale averiguar o que fazem outros países em relação à África.

E se você, leitor, considera o chinês um comerciante de primeira grandeza há milênios, saiba que eles veem a África como a próxima fronteira. E estão investindo lá recursos com os quais o Brasil não tem condições de competir. São quase US$ 70 bilhões. E chinês não brinca com dinheiro. Se a África não fosse uma aposta positiva, eles não estariam jogando seus preciosos recursos no continente. Pelo visto, ao contrário do que disse há alguns anos o nosso então presidente, a África está cada vez mais brilhante aos olhos do mundo, em especial, do Brasil.

Mensagem de Atenas - DEMÉTRIO MAGNOLI


O ESTADÃO - 21/06

"É um triunfo para toda a Europa" - as palavras de Antonis Samaras, líder do Nova Democracia (ND), o partido conservador que venceu por escassa margem as eleições gregas, simultaneamente revelam e ocultam a verdade. A coleção heteróclita de partidos contrários ao memorando de austeridade firmado com a União Europeia teve o respaldo da maioria dos eleitores. O eleitorado que conferiu ao ND o direito de formar uma coalizão de governo moveu-se sob a espada da chantagem: a alternativa, exposta quase explicitamente pela alemã Angela Merkel, era a saída forçada do euro - e a fusão do que resta da economia grega.

"Eleições não podem colocar em questão os compromissos assumidos pela Grécia", alertou Merkel, num recado direto ao partido vencedor. No horizonte de semanas, a coalizão de Samaras deve promover novos cortes nos gastos públicos, para adaptá-los aos "compromissos assumidos", agravando uma depressão econômica sem fim. Seu governo pode não sobreviver a tal prova. O Syriza, partido de esquerda que rejeita o memorando, tinha menos de 5% dos votos no início da crise do euro. Há um mês, obteve 17% e, no domingo, 27%. Samaras apelou à formação de um "governo de salvação nacional", pela via da unidade de todos os grandes partidos, mas o Syriza se recusou a avalizar o memorando. O "triunfo para toda a Europa" não é mais que uma estreita janela de oportunidade.

Há 15 anos, às vésperas da introdução do euro, o economista Nouriel Roubini, que se tornou célebre mais tarde por prever a crise financeira global de 2008, sugeriu o cancelamento da união monetária. Como muitos outros, Roubini apontava a inconsistência de uma zona monetária submetida às forças centrífugas decorrentes do diferencial de produtividade entre as economias europeias e, ainda por cima, não sustentada por uma união fiscal. Há pouco, o ex-ministro Luiz Carlos Bresser Pereira ofereceu como solução para a crise do euro a dissolução da união monetária e a restauração das antigas moedas nacionais. Roubini e Bresser Pereira abstraem a História: a moeda única, tanto quanto a própria União Europeia, é um fruto de Hitler, não o produto da mente dos economistas.

"A União Europeia foi criada para evitar a repetição dos desastres da década de 1930", escreveu o mesmo Roubini, em parceria com Niall Ferguson, num artigo recente, publicado no semanário Der Spiegel, que não comete o erro de circundar a História. "Europa", no sentido atual do termo, é o conjunto de intercâmbios destinados a dissolver a rivalidade franco-alemã que provocou as duas guerras gerais do século 20. A barganha fundadora, idealizada por Jean Monnet e aceita por Konrad Adenauer em 1951, colocou a siderurgia alemã sob autoridade plurinacional, na hora da criação da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) e do rearmamento da Alemanha Ocidental. A barganha seguinte, quatro décadas depois, foi articulada por François Mitterrand e aceita por Helmut Kohl: a união monetária soldaria a aliança do pós-guerra, afastando o persistente espectro da "Europa alemã". O euro nasceu de um imperativo político, como solução para o problema da reunificação alemã. É por isso, não por seus discutíveis méritos econômicos, que ele deve ser preservado.

"É algo extraordinário que seja a Alemanha, entre todos os países, a desconhecer as lições da História. Hipnotizada pela inexistente ameaça da inflação, a Alemanha de hoje parece conferir maior importância a 1923 (o ano da hiperinflação) que a 1933 (o ano em que a democracia morreu)", escreveram Roubini e Ferguson. É pior que isso: a fixação de Merkel nas políticas de austeridade extrema reflete uma interpretação nacionalista alemã sobre a União Europeia. A narrativa, que contrasta com o que pensavam os também democrata-cristãos Adenauer e Kohl, descreve o projeto europeu como uma chantagem permanente contra a Alemanha. Segundo tal tese, o euro teria sido contaminado pela inclinação dos outros - da Grécia, de Portugal, da Espanha e também da França - de viver além de seus meios, na crença de que, no fim de tudo, a Alemanha pagaria a conta.

A falha intelectual da tese tem escassa relevância diante das suas consequências políticas. Os planos radicais de austeridade impostos por Berlim nos últimos anos não apenas fracassaram na esfera econômica, aprofundando a estagnação e ampliando as dívidas, mas produziram uma crise política com o potencial de arruinar a própria União Europeia. O aspecto mais óbvio dessa crise se manifesta na escala dos sistemas políticos nacionais, pela desmoralização dos partidos tradicionais e pela ascensão de correntes extremistas, à esquerda e à direita, que contestam a "Europa" em nome da nação. Abaixo da superfície, contudo, a crise desgasta as engrenagens geopolíticas que sustentam a União Europeia.

Dias atrás, o ministro da Economia Social da França, Benoît Hamon, disparou projéteis contra a Alemanha, acusando-a de operar como "lobo solitário" na Europa, praticando políticas de aumento da competitividade nacional que minam as redes de proteção social erguidas nos demais países. Hamon fala aquilo que François Hollande não pode dizer, escancarando a estratégia francesa de organizar uma coalizão europeia de resistência à orientação de Merkel. A solidariedade franco-alemã, motor do projeto europeu, já não existe mais. No lugar dela, ressurgem sob disfarces cada vez mais diáfanos os discursos do ressentimento nacional.
O euro será salvo - ou perecerá - na esfera da política. De Atenas, enquanto a Grécia continua a dançar à beira do abismo, parte uma mensagem decisiva dirigida à "Europa". Os gregos votaram contra o desmantelamento instantâneo de sua economia, mas não se curvaram à perspectiva de um longo, inexorável, empobrecimento nacional. Eles estão dizendo que a "Europa" tem uma oportunidade final para reverter a política destrutiva da austeridade permanente. Berlim deveria escutá-los.

História do futuro próximo - VINICIUS TORRES FREIRE

FOLHA DE SP - 21/06


A ECONOMIA DOS Estados Unidos vai estar entre adoentada e convalescente até 2015. É pelo menos o que deram a entender os diretores do banco central americano, o Fed.

A política de taxa de juro zero (Zirp, na sigla em inglês) continua pelo menos até 2014 ou 2015. A Zirp começou no fim de 2008. Vai fazer seis anos.

Juro zero por tanto tempo assim significa que muita gente está desempregada ou endividada demais para consumir e que muita gente está com medo de consumir e de investir (em aumento da produção). Oferta-se dinheiro à vontade, mas a coisa não anda.

Para completar, o Fed anunciou que continuará até o fim do ano as operações de recompra de títulos da dívida pública de longo prazo.

Trocando em miúdos, continua a pôr dinheiro na praça para tentar baixar taxas de financiamentos longos, como a da casa própria. Mas a economia reage devagar, quase parando quando leva susto da Europa.

A crise americana começou já em 2007. Mesmo que os EUA voltem à "normalidade" em 2014 ou 2015, a Europa ainda estará com lama pelos joelhos.

Nas estimativas mais otimistas, a economia europeia volta a ser o que era em 2007 lá por 2017, 2018. Se o caso de Grécia, Portugal, Espanha ou Itália não der em besteira grave.

Portanto, a crise vai chegar a dez aninhos.

Ou será que a "crise" e seus desdobramentos serão o "normal" daqui por diante? Não se trata de dizer que o tumulto financeiro e econômico será eterno, mas de imaginar que o tombo de 2008 foi um episódio crítico de processo maior de mudança e que tal tombo deixará sequelas.

Talvez o mundo euroamericano não possa nem consiga (ou mesmo deva) crescer a um ritmo forte. Porque talvez não consiga é assunto para outro dia e para mais espaço. Mas, a esse respeito, note-se que o mundo rico vive de bolhas financeiras faz uns 20 anos. Não vinha crescendo a não ser com anabolizantes.

Porque não deve crescer mais é o assunto do momento, pois estamos no meio da Rio+20, a conferência ambiental, e o assunto lá, em última instância, é como equilibrar o crescimento mundial (mais nos lugares mais pobres, menos nos mais ricos) e como dividir a conta do investimento em melhoria ambiental.

O problema maior (e talvez insolúvel) é, claro, como coordenar o rebalanceamento (quem vai querer segurar seu crescimento?), como dividir a conta sem guerra e como reduzir a desigualdade em cada país, mesmo rico. Entenda-se: o esteio social e político de uma programa de "crescimento menor" depende de melhoria na distribuição de renda.

EUA ou Europa Ocidental ainda precisam crescer rápido? O esforço de solução da crise deles deve ter esse objetivo? E a eventual retomada deve se apoiar em que setor?

Note-se que o consumo per capita de energia nos EUA é o dobro do britânico, 85% maior que o alemão, num mundo em que bilhões ainda passam fome e frio.

Note-se que o "plano" europeu de recuperação econômica em última instância se baseia na depressão de rendas (de salários e benefícios), em aumento da desigualdade, para que se mantenha a "competitividade" da economia tradicional deles, assolada pela concorrência asiática. Isso não vai dar certo. Talvez nem seja possível.

Erundina acertou no milhar! - TUTTY VASQUES

O ESTADÃO - 21/06


Claro que não foi premeditado! Nem o mais maquiavélico dos marqueteiros conseguiria bolar estratégia tão eficiente de promoção política: Luiza Erundina é, desde terça-feira, a grande vencedora das eleições municipais de São Paulo, quatro dias após sua apresentação como vice na chapa do candidato do PT.

A deputada abandonou a campanha de Fernando Haddad para entrar para a história enaltecida nas redes sociais como a mulher que teve "dignidade", "coerência", "postura ética", "decência", "lucidez", "vergonha na cara" e o escambau para não aceitar o batom do Maluf na cueca do Lula em flagrante de primeira página nos jornais de anteontem.

Para quem nunca foi unanimidade entre o eleitorado paulistano, Erundina sai desse episódio apoiada até pelos que ainda outro dia a desprezavam por puro preconceito à sua origem de mulher nordestina, solteirona e sem filhos.

Marta Suplicy deve estar morrendo de inveja! Se imaginasse a repercussão positiva de uma reação extrema à aliança de Lula com Maluf, talvez não ficasse perdendo seu tempo nas últimas semanas rejeitando Fernando Haddad pelas beiradas.

Tem dó!

Rejeitado por Marta Suplicy e abandonado por Luiza Erundina, Fernando Haddad tem ainda boas chances com o eleitorado feminino. Mulher nenhuma resiste àquela expressão de andorinha molhada posada em fio de alta tensão. Muitas vão votar nele por pena!


Vaga aberta

Ter perdido a Erundina não foi nada! Pior é que, com Maluf no time do PT, nem o Vasco vai querer ser vice do Haddad!

Fim do mundo

Um universitário africano venceu o prêmio Estudante Empreendedor Global com a invenção do "banho sem água", à base de um gel que dispensa chuveiro, sabão e toalha. Isso quer dizer o seguinte: no futuro, ninguém mais vai precisar fazer xixi durante o banho para economizar a água da descarga.

Nome a zelar

Chocado com a denúncia do Ministério Público Federal contra os "aloprados" do PT por lavagem de dinheiro e formação de quadrilha, Paulo Maluf pode abandonar a campanha de Fernando Haddad em São Paulo. O ex-prefeito não sabia que Lula andava com esse tipo de gente!

Companheira

No mesmo dia em que Luiza Erundina renasceu em São Paulo, morreu no Rio Iramaya Queiroz Benjamin, símbolo brasileiro da luta pela anistia, outra grande mulher que o PT não fez por merecer. Que Deus a tenha!

Conta zerada

Com a decisão do Flamengo de pedir R$ 40 milhões a Ronaldinho por danos à imagem do clube - mesmo valor cobrado pelo jogador a título de salários atrasados -, deve terminar empatada a briga judicial entre partes. Resta saber se a sentença vai considerar os dois igualmente culpados ou inocentes.

Investir mais para garantir o crescimento - PEDRO SIMON

ZERO HORA - 21/06

O governo deve ao país uma estratégia clara de enfrentamento da crise financeira internacional, uma política capaz de garantir o crescimento da economia. Especialistas apontam a necessidade de elevação do investimento público, expressiva o suficiente para induzir o setor privado a seguir o exemplo. 
As autoridades econômicas insistem nas desonerações pontuais de impostos e no crédito barato para promover o consumo. Um conjunto de medidas esparsas que não representam estímulo consistente à economia. O endividamento das famílias chegou ao limite. Os pátios das montadoras de automóveis permanecem lotados e a GM já incentiva as demissões voluntárias. 
Paralelo à desoneração fiscal, o governo permitiu uma agressiva desvalorização do real frente ao dólar, buscando maior competitividade aos nossos produtos no mercado internacional. Mas qual mercado? A Europa, a China e os Estados Unidos, nossos clientes principais, restringiram as compras no exterior. 
A alta do dólar tem impacto nos índices de inflação. Vamos pagar mais pelo pão nosso de cada dia, pois aumentou o preço do trigo que importamos. E ficam mais caras as máquinas e equipamentos para modernização do parque fabril. Ainda temos a energia mais cara do mundo, graças aos impostos. 
Outra recente medida de impacto do governo é a oferta de empréstimo, via BNDES, aos Estados - em ano eleitoral - para que possam investir mais. Um reforço em orçamentos já bastante pressionados por uma dívida histórica impagável. Aumentar esse passivo, contraindo mais empréstimos, não parece ser a melhor opção. 
Nesse cenário, uma das propostas em debate é a redução do superávit primário, atual- mente fixado em 3,1% do PIB. Uma diminuição de 0,5% representaria mais R$ 22,4 bilhões para investimentos. Outra sugestão se refere ao desequilíbrio entre o que os Estados arrecadam e transferem à União e o montante que recebem de volta. O Rio Grande do Sul repassa R$ 30,8 bilhões e recebe de volta apenas R$ 6,2 bilhões. 
A renegociação das dívidas dos Estados também está sobre a mesa. Num momento em que a taxa básica dos juros é rebaixada e o governo consegue reduzir sua dívida pública, o mesmo não acontece com os Estados. Esses continuam comprometendo suas receitas de forma excessiva. 
Uma redistribuição mais justa dos royalties do petróleo também integra o conjunto de temas que estão na ordem do dia. Finalmente, seria recomendável uma redução no gasto da máquina pública. Mas essa já é outra história. 

Arrastões - CONTARDO CALLIGARIS

FOLHA DE SP - 21/06


Hoje, é impossível invocar um aumento da diferença econômica para explicar a volta da criminalidade



Um amigo, dono de um restaurante paulistano tradicional, não perde a piada. Ele me explicou por que sua categoria está preocupada com a recente onda de arrastões: é que pensávamos, ele me disse, que assaltar os clientes fosse prerrogativa exclusiva da gente.

Piada à parte, na semana passada, a TV Folha me entrevistou sobre os arrastões que estão acontecendo logo em São Paulo -onde sair para jantar é o programa convivial por excelência, e o restaurante é um lugar tão familiar quanto a casa da gente.

Mesmo sem considerar essa especificidade paulistana, o assalto à mesa é sempre perturbador. A oralidade é o prazer mais primitivo, cuja "lembrança" (digamos assim) permanece em nós como modelo de qualquer outro prazer (por isso, aliás, é difícil parar de fumar ou de comer: as tentações orais são as mais irresistíveis).
Consequência: a experiência de ser assaltado no meio de uma boa refeição é comparável à de um bebê que recebesse um cascudo bem na hora em que ele está mamando, de olhos fechados, perdidamente feliz.

Enfim, a reportagem suspeitou que os arrastões ganhassem espaço na mídia por serem contra restaurantes na moda. Será que as classes C e D são excluídas das pautas da mídia?

A questão me levou de volta aos anos 1980 e 90, quando quase todos os bem-pensantes pareciam concordar com a suposição de que a causa da apavorante criminalidade brasileira fosse a também apavorante diferença social. Essa ideia (desmentida por qualquer pesquisa séria) voltava, como um joão-bobo, a cada vez que se tratasse de explicar a insegurança nas nossas ruas.

Para proteger essa tese falida, a gente (eu mesmo cooperei) insistia na distinção entre diferença econômica e exclusão: a diferença, por maior que fosse, não seria causa de criminalidade, enquanto a exclusão social, ela sim, produziria criminalidade, pois, afinal, quem é ou se sente excluído não pertence à comunidade -e, se não pertenço à comunidade, por que eu respeitaria suas leis? Para o excluído, as ditas forças da ordem não teriam legitimidade, mas seriam uma espécie de exército estrangeiro de ocupação. Para ele, o crime seria, então, um ato de resistência? "Mamma mia."

Mesmo a ideia de uma relação entre criminalidade e exclusão mal resiste à prova dos fatos. Mas tanto faz: o que importa é que, hoje, no Brasil, é difícil invocar um aumento da diferença econômica ou da exclusão para explicar a volta da criminalidade.

De fato, sempre soubemos que a criminalidade não é um efeito da diferença econômica, nem da exclusão, mas adorávamos essa ideia porque ela satisfazia tanto nossas aspirações de clareza (temos uma criminalidade absurda, mas "sabemos" por quê) quanto nossos anseios de justiça (a criminalidade compensa a iniquidade social).

A criminalidade brasileira assim explicada não precisava de um plano de ação: a culpa era nossa, e, portanto, podíamos nos resignar a sermos "justamente" assaltados (ou quem sabe mortos) por sermos cúmplices de um sistema "injusto". Aguentaríamos a violência e a inexistência de um espaço público frequentável porque assim expiaríamos o pecado original da diferença social.

Você não acha que a violência dos anos 1980 e 90 fosse aceita como uma necessária penitência depois da confissão? Certo, havia outras razões por essa tolerância da criminalidade: uma delas é que as ditas elites econômicas eram tão estrangeiras ao país quanto os excluídos -não havia problema em entregar ruas e esquinas aos bandidos, contanto que a residência (real, psíquica ou sonhada) das elites fosse em Miami, Nova York ou Paris.

Seja como for, a prova dessa aceitação é que nenhum político nacional dos anos 1980 ou 90, nem mesmo um demagogo, apresentou-se como porta-voz de um grande plano de segurança pública. Com a verbosa exceção da "Rota na rua" de Maluf em 2002, parece que um verdadeiro projeto de segurança nunca foi prioritário (aparentemente, porque tal projeto não prometia dividendos eleitorais suficientes).

Pois bem, felizmente, nos últimos dez anos, a diferença social diminuiu, assim como diminuiu a exclusão. Portanto, não é possível explicar a criminalidade crescente pela diferença social, que não está crescendo.
Talvez, agora, possamos começar a lidar realmente com o problema da segurança pública no Brasil, sem que nossos conselheiros sejam a culpa e a necessidade de autopunição.

O impacto do filho evitado - FERNANDO REINACH


O ESTADÃO - 21/06


A Europa vai decidir como controlar mais uma fonte de poluição: a urina das mulheres que tomam pílulas anticoncepcionais.

As pílulas anticoncepcionais, utilizadas por mais de 100 milhões de mulheres em todo o mundo, contêm uma quantidade muito pequena de substâncias capazes de bloquear a produção de óvulos pelos ovários. Sem óvulos capazes de serem fertilizados, o sexo pode ser praticado sem o risco de a mulher engravidar.

Um dos componentes mais usados na composição de pílulas anticoncepcionais é o ethinyl-estradiol (EE2), uma molécula semelhante ao estrógeno. Ao contrário do estrógeno produzido pelo corpo, o EE2 não é rapidamente degradado pelo fígado e, portanto, pode ser administrado em doses extremamente baixas. Isso tornou possível o desenvolvimento das pílulas anticoncepcionais em meados do século 20. Nos últimos 50 anos, as doses e combinações de hormônios nas pílulas foram aperfeiçoadas com a intenção de reduzir os efeitos colaterais sobre o organismo da mulher. O resultado é que hoje dispomos de pílulas extremamente seguras, baratas e quase infalíveis (se as mulheres não se esquecerem de tomá-las todos os dias e os fabricantes não substituírem o estradiol por farinha).

Mas o fato do EE2 não ser degradado tem uma consequência importante. Ele é retirado intacto do sangue pelos rins e excretado na urina de todas as mulheres que tomam o anticoncepcional. E essa urina acaba no sistema de esgoto das cidades, que, depois de tratado, é despejado nos rios.

A quantidade de EE2 presente nas pílulas é pequena e extremamente segura para os seres humanos, mas o mesmo não pode ser dito para diversas formas de vida aquática. Ao longo dos últimos anos, diversos experimentos demonstraram efeitos nocivos do EE2 sobre a reprodução de peixes.

Em algumas espécies de peixes, as doses de EE2 despejadas nos rios provocam alterações nos testículos e impedem sua reprodução. Em outras, provocam o aparecimento de indivíduos transexuais. Um estudo cuidadoso, feito em 2001 no Canadá, adicionou a um lago doses mínimas de EE2 (5 miligramas para cada milhão de litros de água).Diversos peixes tiveram sua reprodução reduzida e uma espécie foi totalmente dizimada, desaparecendo do lago. Atualmente, doses muito maiores que essas são encontradas nos rios que recebem o esgoto tratado de diversas cidades.

Em 2004, a agência ambiental inglesa admitiu que era necessário administrar esse risco para o meio ambiente. E finalmente, neste ano, a União Europeia decidiu que até 2021 o nível máximo aceitável de EE2 no rios deve ser reduzido a 0,035 miligramas para cada milhão de litros de água. Nesses níveis, essa opção para evitar filhos não afeta a reprodução dos peixes.

Pílulas mais caras. Essa decisão está sendo amplamente debatida. O problema é o investimento necessário para tratar o esgoto e remover o excesso de EE2. O método mais barato consiste em filtrar a água com carvão ativado, o que para uma cidade de 250 mil pessoas custa R$ 20 milhões para instalar e R$ 2 milhões por ano para trocar os filtros. E quem deve pagar essa conta? Todos os cidadãos, quem polui ou a indústria farmacêutica que vende as pílulas? Qualquer que seja a escolha, o custo de evitar filhos vai subir.

É claro que o EE2 não é uma das maiores ameaças ao meio ambiente, mas um aumento no custo dos anticoncepcionais pode ter um impacto significativo no mundo.

A capacidade do ser humano de controlar sua reprodução, evitando o crescimento descontrolado da população, é um dos fatores mais importantes para a preservação do meio ambiente. O controle populacional contribui para reduzir a devastação dos ecossistemas, facilita o combate a pobreza, ajuda no esforço educacional e aumenta a liberdade das mulheres, permitindo sua participação mais ativa no mercado de trabalho. Parte de todos esses ganhos pode ser creditada à disseminação de métodos baratos, seguros e eficazes de contracepção. E a pílula é um dos mais importantes.

O dilema a ser enfrentado pela União Europeia, que em novembro vai ter de decidir se coloca ou não o EE2 na lista de substâncias poluentes, é no mínimo cruel.

O que você decidiria? Devemos exigir a remoção do EE2 dos rios, aumentando direta ou indiretamente o custo dos anticoncepcionais e salvar algumas espécies de peixes? Ou devemos sacrificar esses peixes e manter os anticoncepcionais cada vez mais baratos, garantindo um controle cada vez mais eficiente da natalidade, o que pode ajudar a salvar milhares de espécies ameaçadas pela expansão descontrolada do Homo sapiens? Esse é um bom exemplo dos dilemas e compromissos que terão que ser enfrentados se desejamos preservar a Terra, mais um bom tópico para ser discutido nos corredores da Rio+20.

Ueba! Nina é a Noiva-Cadáver! - JOSÉ SIMÂO

FOLHA DE SP - 21/06


Ainda bem que a novela se chama "Avenida Brasil", se fosse "Avenida 23 de Maio", só ia ficar tudo parado!


Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! E como escreveu um amigo no meu Twitter: quem é o vice do Haddad? ERA UNDINA! Rarará!

E já tão dizendo que, se o Lula quer mais tempo de TV, devia ter feito aliança com o Chaves!

E o Maluf roubou o dedo do Lula. O da aliança! E a Luiza Erundina? Foi pro Canaddad. Rarará! Bem infame essa!

E a novela barraco "Avenida Brasil"? Ainda bem que se chama "Avenida Brasil", se fosse "Avenida 23 de Maio", não ia acontecer nada, ia ficar tudo parado!

"Avenida Brasil"! UFC das nove! Ultimate Barraco Fighting! E a Nina? A Nina parece a Noiva-Cadáver! Rarará!

E quem eu adoro mesmo é a Suellen Periguete. Com aquela calça lycra Knorr: deixa qualquer galinha gostosa!

E, se a Suellen viesse em cima de uma carroça, a gente começava a chupar pelo burro! Rarará!

E a Carminha? A Carminha não está parecendo aquela menina de "O Exorcista"? Ou então, "Carrie, a Estranha"! Carminha, a Estranha. Rarará!

E a Rio Mais ou Menos 20? Pensamento da Rio+20: "Se tivesse julgamento para quem soltasse gás poluente, meu pai pegava perpétua".

E um amigo meu pegou um táxi no Rio, a corrida deu R$ 25 e o taxista cobrou R$ 45. Aí ele reclamou, e o taxista gritou de volta: "Rio Mais 20!". Rarará!

E a manchete do Piauí Herald: "Sarney é homenageado como pioneiro do nepotismo sustentável". Senador Orgânico Sustentável. Sarney+200! Parentes! Tudo sustentável! Diz que tem parente do Sarney até nas tribos ianomâmis! Tudo no Brasil acaba no Sarney. Obsessão nacional!

E o desmatamento tá tão grande que o Mato Grosso vai mudar de nome pra Desmato Grosso. "Bem-vindos ao Desmato Grosso". Rarará! É mole? É mole, mas sobe!

Os Predestinados! Mais três para a minha série "Os Predestinados". Direto de São Paulo, funcionária da Tim: Anália ALÔ!

E João Pessoa embaixo d'água e o coordenador do órgão de áreas de risco se chama: Noé Estrela! Rarará! E adorei o nome daquela velhinha que matou o assaltante em Porto Alegre: Odete Hoffman! Rarará!
Nóis sofre, mas nóis goza. Hoje só amanhã!

Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

Segurança ou incompetência? - CARLOS ALBERTO SARDENBERG


O GLOBO - 21/06


James Bond já surfou ondas de três metros para alcançar praias inimigas. Assim, por que um terrorista não poderia voar de asa-delta da Pedra da Gávea até o Riocentro, descer lá armado de bazucas e eliminar meia dúzia de chefes de estado?

Vai daí, o Exército proibiu voos de asa-delta em todo o espaço aéreo da cidade durante a Rio+20.

Com segurança não se brinca, dizem.

Reparem, porém: o sujeito teria que trazer a arma de algum lugar, circular pela cidade, carregar a coisa até a Pedra, voar e descer no Riocentro, tudo isso sem ser percebido e interceptado. Ninguém desconfiaria. E com todos aqueles soldados e policiais, brasileiros e estrangeiros, que estão na cidade e, concentrados, no local da conferência? Só se fossem muito incompetentes, não é mesmo?

Mas proibindo todos os voos, em todo o Rio, qualquer um que passar de asa-delta torna-se suspeito. Fica fácil para a segurança. E atrapalha a vida de quem gosta de asa-delta.

Dirão que esse é um aspecto menor e que, afinal, o pessoal pode ficar uns dias sem voar, em nome da segurança que garanta um bom evento no Rio.

O problema é que esse tipo de comportamento se aplica a todo o evento. Não há qualquer esforço ou qualquer planejamento para garantir a segurança e, ao mesmo tempo, causar o menor dano possível aos moradores e visitantes.

Não está vetada apenas a asa-delta. O espaço aéreo foi fechado. Até os inocentes voos da Ponte Aérea sofrem restrição. Será que não conseguem detectar uma aeronave suspeita, voando fora das rotas?

Só para lembrar: todo mês de setembro tem a assembleia geral da ONU em Nova York, para onde se dirigem mais de 100 chefes de estado. Sabem o que acontece com o tráfego aéreo? Nada. Continua tudo normal nos três aeroportos.

Dirão: lá tem mais aeroportos e mais pistas, de modo que fica mais fácil. Falso. Lá também há muito mais voos por hora. A resposta é outra: mais equipamento, mais engenharia, mais eficiência e empenho de não torrar a paciência dos moradores.

Outra: as comitivas não podem ficar presas no trânsito carioca, claro. Saída simples: fecham-se vias ou pistas, que se tornam seletivas para os carros credenciados. Assim, o não credenciado fica horas e horas no trânsito, tendo ali ao lado pistas e vias vazias, apenas vez ou outra ocupadas por uma comitiva. Será que não existe engenharia melhor?

E, pensando bem, quem precisa mesmo de segurança extrema? Hilary Clinton certamente é um alvo, mas, com todo respeito, o chefe de estado de Tuvalu? Na verdade, nem precisa ser chefe de estado. Autoridades menores gostam do aparato de segurança. Polícia e Exército também gostam de exibir seu aparato.

Experimente passar um tempinho ali no Forte Copacabana, por exemplo, onde há exposição e reuniões. A autoridade vai deixar o local. Aparecem seguranças com terno preto, mesmo quando são mulheres, e soldados com metralhadora. Motos param o trânsito, fecham a rua, afastam as pessoas. Surgem os carrões, pelo menos três: um da segurança, o da autoridade, outro da segurança. Param abruptamente, abrem-se as portas, gritaria nos celulares. Chega o tal, sempre acompanhado, e todos vão entrando rapidamente nos veículos, como se estivessem fugindo. Então, o grande espetáculo: as portas batendo em sequência, as motos arrancam, os carros partem em velocidade. Todos os seguranças com expressão de que estão tirando alguém de um atentado.

E ali olhando, com expressão de paciência obrigada, um homem de bermuda tomando sorvete, a mulher ao lado de um carrinho de bebê, garotos esperando com pranchas, que, aliás, ainda não foram proibidas. Não devem ter visto o filme do James Bond.

Grandes eventos valorizam as cidades. Mas também exibem suas carências. Falta de equipamentos e de planejamento cobram um custo da cidade e, sobretudo, de seus moradores.

Sem contar as contradições: a Rio+20 provoca aumento de emissão de poluentes só com os enormes congestionamentos. E terem utilizado geradores a diesel no Riocentro é inacreditável. E o etanol?

Na Rio 92, o governo brasileiro encontrou a melhor maneira de fazer propaganda de uma energia renovável bem nacional: os carros oferecidos às autoridades eram todos movidos a etanol.

De lá para cá, a tecnologia do etanol só melhorou. A produção de cana tornou-se mais eficiente e sustentável, inclusive com a progressiva eliminação do penoso corte manual, as usinas são mais produtivas, o etanol gera mais energia, sendo, pois, mais econômico, e, ponto forte, o motor flex é um marco tecnológico. Também se começou a produzir energia a partir do bagaço da cana. Mas na Rio+20, nem a presidente Dilma vai de carro a álcool.
PREÇO

Parece que um minuto e meio de televisão vale mais que uma Erundina.

Água e óleo - VERA MAGALHÃES - PAINEL


FOLHA DE SP - 21/06

O episódio Luiza Erundina-Paulo Maluf evidenciou fissura na campanha de Fernando Haddad. O braço executivo, a cargo do PT paulistano, e o núcleo político, Lula à frente, não se entendem. Petistas da capital, que cuidam da parte operacional, se queixam da atuação dos "estrangeiros", como Luiz Marinho e Edinho Silva, incumbidos de tratar com aliados. A eles é atribuída a malsucedida aproximação com Gilberto Kassab e a ideia de levar o Lula à histórica foto com Maluf.

Climão Erundina terá novo encontro com o PT no dia 29. A ex-prefeita é uma das homenageadas no evento que a liderança petista na Câmara de São Paulo promoverá para celebrar 30 anos da sigla no Legislativo. A ideia é reunir os 54 vereadores que se elegeram pelo partido.

Malufaram 1 O PP de Paulo Maluf se coligará com os petistas em três praças da Grande SP consideradas estratégicas por Lula: São Bernardo, Santo André e Osasco.

Malufaram 2 Apesar do namoro com o PT, pepistas se associaram ao PSDB em Taboão da Serra, Itapevi e São José dos Campos. "Foi um pedido do governador Geraldo Alckmin", diz o secretário-geral da sigla, Jesse Ribeiro.

Nada feito O pleito inicial de Maluf era a Secretaria de Habitação do Ministério das Cidades, desde o primeiro mandato de Lula sob o comando da petista Inês Magalhães. Dilma Rousseff mandou dizer que nada feito.

Meio a meio Novo lote de inserções de propaganda na TV do PSDB-SP, no ar a partir de amanhã, terá 47 pré-candidatos a prefeito, inclusive José Serra, dividindo espaço com Alckmin. O governo pretendia usar o espaço apenas para divulgar obras.

Tô fora Ferrenho opositor do "chapão" com o PSD, João Câmara redigiu carta de renúncia à vice-presidência do PSDB da capital e deve entregá-la hoje. A iminente saída abre caminho para a coligação proporcional desejada por Serra e Gilberto Kassab.

Sufoco Observadores dos lances pré-convenções em São Paulo atribuem a volta do PTB ao leilão de alianças à pressão dos candidatos a vereador, em pânico com o 1% de Luiz D'Urso nas pesquisas.

Só nós? Peemedebistas reagiram nos bastidores à revelação sobre doações ocultas da Delta repassadas pelo diretório nacional a candidatos de 2010. Eles disseram que a construtora, alvo da CPI do Cachoeira, também doou para diversos partidos, incluindo o PT, e atribuem a divulgação a fogo amigo.

Cotação Nem Izabella Teixeira (Meio Ambiente), nem Antonio Patriota (Relações Exteriores). Quem ganhou pontos no Planalto com o acordo da Rio+20 foi Luiz Figueiredo, negociador-chefe do Brasil no evento.

Viva o verde Marcelo Lelis, pré-candidato do PV à Prefeitura de Palmas (TO), terá o apoio do PSD da senadora Kátia Abreu, expoente da bancada ruralista e uma das principais defensoras do polêmico Código Florestal.

PhD O ministro Aloizio Mercadante designou o assessor especial Carlos Ramiro de Castro para negociar a greve nas universidades federais, que atinge 55 instituições. Ramiro chegou a ter os bens penhorados por danos à cidade de São Paulo em greve de professores quando comandou a Apeoesp.

Conta cara O Sindifisco estima em R$ 150 milhões ao dia a perda de arrecadação de impostos do governo com as operações padrão e crédito zero, deflagradas pelos auditores fiscais na segunda-feira. Em 2011 a arrecadação aduaneira de impostos foi de cerca de R$ 77 bilhões.

com FÁBIO ZAMBELI e ANDRÉIA SADI

tiroteio

"Crítica do 'ambientalismo de fantasia', Dilma fantasiou os resultados da Rio+20, enxergando avanços em meras intenções."

DO DEPUTADO FEDERAL CHICO ALENCAR (PSOL-RJ), sobre o discurso no qual a presidente defendeu a erradicação da pobreza como meta da conferência.

contraponto

Melhor prevenir

Antonio Carlos de Almeida Castro, advogado de Demóstenes Torres (sem partido-GO) que obteve liminar no STF garantindo mais tempo de defesa ao senador, entrava no Conselho de Ética da Casa na segunda-feira quando foi saudado em voz alta por Ciro Nogueira (PP-PI):

-Kakay, quero lhe contratar com antecedência, pagando em prestações, para se precisar no futuro.

Nogueira, que se encontrou em Paris com o dono da Delta, Fernando Cavendish, emendou:

-Sei que não vou precisar, mas depois dessa liminar quero você comigo!

O caminho do etanol - ROBERTO ABDENUR


O Globo - 21/06


Ao tomar posse como presidente da Petrobras, em fevereiro, a engenheira química Graça Foster disse que uma de suas metas será aumentar a participação da estatal no mercado de etanol. A declaração é positiva para quem trabalha seriamente com etanol no Brasil, país pioneiro no desenvolvimento da tecnologia para esse biocombustível. A Petrobras é uma peça importante no setor, que busca reverter um dos principais problemas do comércio do etanol hidratado: a sonegação de impostos.

O não pagamento de impostos tem afetado mais o comércio do etanol do que de gasolina e diesel, que têm a totalidade dos impostos recolhidos no produtor de forma antecipada, o que evita a sonegação. No caso do etanol, o pagamento dos impostos é feito pelos produtores e pelas distribuidoras.

Naturalmente, muitas distribuidoras trabalham de forma ética. Mas outras recorrem a meios ilícitos para obter vantagens competitivas não pagando tributos.

A forma mais grave é a modalidade conhecida como "barriga de aluguel". A distribuidora vende o etanol hidratado para o posto de combustível com nota fiscal, mas não paga os impostos. Quando a fiscalização tenta localizar a distribuidora, essa empresa já não existe, pois era usada apenas como fachada e operada por empresas "laranjas", que não têm ativos para pagar os tributos.

De acordo com estimativas de especialistas, um terço do etanol consumido no Brasil não recolhe os impostos devidos. O Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de Combustíveis e de Lubrificantes (Sindicom) avalia que o país deixou de arrecadar R$ 1,3 bilhão no ano de 2011 em impostos sobre o etanol.

Esses impostos são federais (PIS e Cofins) e estadual (ICMS). Sua carga é alta. Só de PIS/Cofins, as usinas produtoras de etanol pagam 9,25%. As distribuidoras também pagam esses impostos, o que gera um efeito cascata e, de certa maneira, induz à sonegação.

Concentrar o tributo no primeiro elo da cadeia produtiva do etanol - como é feito com gasolina e diesel - é extremamente importante para evitar sonegação de impostos.

A fiscalização também é prioridade. Merecem destaque os esforços conjuntos da Agência Nacional do Petróleo (ANP) e secretarias de Fazenda de estados como São Paulo, Minas Gerais, Goiás, Ceará e Bahia, para dar corpo ao Comitê de Combate à Sonegação Fiscal no Comércio do Etanol. É importante debater ideias capazes de reduzir a evasão de impostos. Afinal, o não pagamento dos impostos favorece toda uma cadeia de comércio ilegal.

São criativas as formas de fugir ao pagamento de impostos de quaisquer produtos. Há poucos meses, reportagem de TV revelou uma fraude denominada bomba baixa, pela qual a quantidade de litros colocada no tanque dos veículos era menor do que o que estava marcado. Por controle remoto, a vazão era alterada - e o controle era desativado quando havia fiscalização.

A reportagem causou impacto, pois o consumidor viu como pode ser lesado por comerciantes inescrupulosos. Mas pouca gente percebeu que a burla ao consumidor tem outro lado: o da falta de qualidade do produto. A reportagem mostrou que é fácil comprar combustível sem nota e que, com essas remessas clandestinas, donos de postos adulteram o combustível. Ou seja, o preço baixo pode indicar ao consumidor que ele corre o risco de ter outros prejuízos.

A tecnologia ajuda a coibir fraudes, e as autoridades estão recorrendo ao que é possível para flagrar novos e sofisticados golpes. Mas o que faz a diferença é a atitude do consumidor. Se ele desconfiar de ofertas muito tentadoras e recursar-se a consumir produtos baratos demais, vai desestimular os sonegadores. Se denunciar às autoridades para que a fiscalização investigue se há algo errado, mais eficiente ainda. Agindo em conjunto, autoridades e cidadãos podem ajudar no combate ao comércio ilegal de combustíveis.

O fato em foto - DORA KRAMER

O Estado de S.Paulo - 21/06



Uma fotografia às vezes conta uma história e desperta sentimentos, como contou e despertou a imagem da menina em chamas durante a guerra do Vietnã.

A deputada Luiza Erundina mesmo disse que pesou mais em sua decisão de recusar a indicação para vice de Fernando Haddad a foto da confraternização "chez" Paulo Maluf que propriamente o fato de PP e PT se juntarem na disputa municipal de São Paulo.

A julgar por suas declarações, ela repudiou a forma, mas não impôs reparos ao conteúdo. Nem poderia sem incorrer em tropeços de argumentação, dado o banimento do fator identificação programática na formação de coalizões partidárias.

A pá de cal sobre qualquer resquício de ordenamento foi posta pelo Congresso em 2006, quando aprovou emenda constitucional para enterrar a interpretação do Supremo Tribunal Federal segundo a qual a lei maior obrigava os partidos a seguir regras de isonomia para alianças nacionais e regionais.

A chamada "verticalização" ruiu e com ela caiu a última barreira à anarquia geral. Talvez a penúltima, se o eleitorado resolver dar sentido prático às ondas de indignação que vêm quando ocorre um episódio gritante e vão quando é substituído por outro pior.

A despeito da reação negativa em setores engajados da vida, não é possível avaliar com alguma chance de precisão se a reconciliação entre Lula e Maluf resultará em prejuízo para a candidatura do PT em São Paulo ou se simpatizantes do partido e "antipatizantes" do PSDB tratarão a cena como a materialização pragmática do mal necessário.

Por necessário entenda-se a meta a ser atingida no jogo de perde-ganha entre o PT e seu único adversário ainda na posse de competitividade eleitoral e não, como seria aconselhável, na perspectiva do cotejo de projetos, biografias, trajetórias e capacidade profissional dos candidatos.

Se o desgaste é evidente - embora talvez não permanente - junto ao eleitorado para o qual a ética ainda é uma referência, de outro a celeuma dá publicidade a um candidato cuja tarefa primeira é tornar-se conhecido da massa em cujo espírito Lula incentiva o lema de que princípios não enchem barriga. Nem urnas, é a "lição" subjacente.

A aliança pode ou não ser uma jogada eficiente, o que será visto mais adiante. Por enquanto, contudo, há um vencedor inquestionável: Maluf, mais um cliente da clínica de reabilitação dos combalidos da política a serviço do PT.

De qualquer maneira a vida obviamente não anda fácil para o partido na capital paulista. Lula não está na forma física em que esperava estar, a aliança com o PSB que era para ser solução virou um problema e a última pesquisa do Instituto Datafolha registra queda de dez pontos porcentuais em seu poder de influenciar o voto do paulistano.

Além disso, nunca foi tão contrariado: a senadora Marta Suplicy mostrou que só se dobra à vontade do ex-presidente quem quer e Erundina passou-lhe reprimenda pública ao dizer que "passou dos limites".

Apenas poderia tê-lo feito enquanto ainda havia limites a serem respeitados. 

Tudo isso dificulta a execução do plano original, mas não define o quadro. Há possibilidade de vitória apesar de todos os pesares? Evidentemente.

O problema é que os percalços subtraem de Haddad vantagens e proteções e o deixam cada vez mais exposto a si mesmo. Quando a campanha ganhar corpo dependerá dele conquistar o eleitorado e mostrar se Lula acertou ou se foi vítima da fantasia da onipotência ao escolhê-lo candidato.

Outro modo. Candidato a prefeito de Salvador depois de ter administrado a cidade por duas vezes, o radialista Mário Kertész resolveu não fazer aliança com partido cujo papel seja o de barriga de aluguel de tempo de televisão.

Kertész desautorizou negociações em curso no PMDB baiano e explica por que: "Se não é possível montar uma coalizão de peso, melhor seguir na base do puro sangue para não repetir velhos erros dos quais a sociedade anda farta".

Políticos fora - ILIMAR FRANCO


O GLOBO - 21/06


O Ministério da Fazenda derrubou ontem as nomeações políticas no Banco do Nordeste. O presidente Jurandir Santiago renunciou e os diretores Isidro Siqueira e José Alencar foram exonerados. O diretor de Negócios, Paulo Ferraro, vai comandar o banco até a escolha do novo presidente. O diretor Gama Lyra vai para a diretoria de Gestão. Nelson de Souza vai assumir a área Administrativa e Manoel dos Santos, a de Controle e Risco. Os líderes aliados decidiram engolir em seco.

Governadores do Nordeste negociam
Os governadores do Nordeste entregaram um documento com sete reivindicações para a presidente Dilma. Os principais pleitos: "manter os benefícios fiscais existentes até que seja aprovada reforma tributária"; "incentivos com alíquotas reduzidas do IPI, IR, PIS e Cofins para empresas que se instalarem na região"; "preservar no Fundo de Participação dos Estados a reserva de 85% para os menos desenvolvidos"; "adotar o IPCA mais 2% ao ano como indexador da dívida dos estados"; "reduzir as alíquotas interestaduais para 0%"; e "distribuição dos royalties do petróleo, do pré-sal, para todos os entes federados, e não restrito aos estados e municípios produtores".

"Sabe qual a soma de Maluf com Haddad? Maldad” — deputado paulista petista, fazendo piada (no anonimato) da aliança costurada pelo ex-presidente Lula

SEM CORTES. O relator da CPI do caso Cachoeira, deputado Odair Cunha (PT-MG), fez um bate-volta ontem até Goiânia. Foi pessoalmente até a 11+ Vara da Justiça Federal colocar as mãos em todos os áudios das operações Vegas e Monte Carlo. O material é o bruto das gravações feitas pela Polícia Federal, inclusive dos personagens com foro privilegiado. Foi de carro, só com o motorista, e trouxe as mídias na bagagem.

Frios
Na tradicional festa junina do ministro José Jorge (TCU), ontem em Brasília, o ex-ministro Nelson Jobim e o ministro Gilmar Mendes (STF) ficaram a poucos metros um do outro. Jobim foi quem organizou encontro com Lula, depois abominado por Mendes. Mantiveram distância regulamentar.

Faca no pescoço
As associações e sindicatos da advocacia pública federal realizam hoje assembleias nos estados. Eles podem parar e dizem que isso levará ao atraso da solução de pendências judiciais envolvendo obras da Copa, das Olimpíadas e do PAC.

Fora mesmo
O prefeito de Recife, João da Costa (PT), pode ter ganho liminar na Justiça para concorrer à reeleição. Mas não vai levar. Um cacique nacional petista disse que o partido não aceita a “judicialização de processo interno” e que a decisão judicial não será cumprida. Na próxima segunda, o diretório do partido analisa pedido de recurso de João da Costa, mas, segundo estimativas de seus adversários, ele perde por 60% dos votos. A demora em superar o impasse prejudica a candidatura do senador Humberto Costa (PT). 

Índio quer apito
Descendente de índios, o senador Wellington Dias (PT-PI) fez uma visita à aldeia Kari-oca na Rio+20. Lá assinou declaração que será entregue aos dirigentes mundiais e defendeu que está na hora de a Funai ter um presidente indígena.

Moeda de troca
O PP nacional está irritado com a substituição de Leodgard Tiscoski na Secretaria de Saneamento do Ministério das Cidades. O cargo foi para Oswaldo Garcia em troca do apoio do deputado Paulo Maluf ao PT na eleição em São Paulo.

REAÇÃO do presidente nacional do PP, senador Francisco Dornelles (RJ), ao aperto de mão entre o deputado Paulo Maluf (PP-SP) e o ex-presidente Lula: "Em política ninguém é paulista impunemente".

ELEGÂNCIA. Crítica da política ambiental do governo Dilma, a ex-ministra Marina Silva não tinha credencial para a abertura da Rio+20. A ministra Izabella Teixeira (Meio Ambiente) soube e mandou credenciá-la para que Marina pudesse assistir à cerimônia.

O MINISTRO José Múcio (TCU) comenta o fato de estar na lista do deputado João Carlos Bacelar (PR-BA): "Não recebi nenhum presente do Bacelar".

Investimentos - o pacote federal para os Estados - ROBERTO MACEDO


O ESTADÃO - 21/06


Na sexta-feira, a presidente Dilma Rousseff anunciou novas medidas para estimular os Estados a investirem mais em projetos de infraestrutura. Veio, então, uma linha de crédito de R$ 20 bilhões do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Para se credenciarem, os Estados terão ampliados os seus limites de endividamento, que dependem de regras federais.

Outra medida alcançou as parcerias público-privadas (PPPs), ao eliminar Imposto de Renda e PIS/Cofins sobre parcelas que os entes públicos entregam às empresas privadas a título de participação em projetos, cujo custo será, assim, reduzido.

Antes, em 12 de junho, entrou em operação outra linha de crédito, do Banco do Brasil, para investimentos estaduais, no valor de R$ 39 bilhões. Como na descoberta do Brasil, o primeiro a chegar foi Cabral, no caso, o governador do Rio de Janeiro, que logo levou R$ 3,6 bilhões, quase 10% do total.

Na aparência do seu conjunto, as citadas medidas se revelam boas, como a mostrar o governo federal eliminando impostos e reconhecendo, assim, pelo menos um "pedacinhozinho" dos enormes danos que a elevadíssima carga tributária impõe ao País - tal como ocorria ao ampliarem o custo dos investimentos em PPPs. Também é bom ver estímulos a investimentos, dado o viés que o governo federal demonstra para o consumo - próprio e da sociedade em geral. E, ainda, a incentivar PPPs, embora ele seja reticente à prática, um tipo de privatização à qual é alérgico.

Mas, nos detalhes e nas suas implicações, as medidas voltadas para financiamentos aos Estados têm graves problemas. Antes de tudo, revelam a prática contumaz do governo de buscar créditos, para famílias, para empresas, para si e, agora, com essas novas medidas, que implicarão maiores dívidas estaduais. Com isso, não se estimula o que prioritariamente deveria ser buscado: o próprio esforço da União e de cada Estado em gerar recursos para investimentos mediante contenção dos demais gastos.

Mas é sabido que, em geral, os Estados vivem em situação financeiramente muito apertada, o que não ocorre com a União. Portanto, o exemplo deveria vir dela, que arrecada mais que os Estados e, ainda assim, investe menos que o conjunto deles. E ela não tem, como as unidades federativas e os municípios, limites para seu endividamento.

Aliás, quanto a limites desse tipo, se serão ampliados agora para os Estados, por que isso não ocorreu antes, para que expandissem suas dívidas por iniciativa própria? Assim, vejo o risco de serem empurrados pelo governo federal a se endividarem além de limites que a prudência recomenda.

Sintomáticas disso, conforme matéria deste jornal no dia 14 de junho, foram as declarações do governador de Sergipe, Marcelo Déda (PT). Convidado para a cerimônia de anúncio dos referidos financiamentos do BNDES, informou que, autorizado a contratar mais R$ 700 milhões em 2011, já havia comprometido esse adicional em operações com o BNDES, o Banco Mundial e o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). Também afirmou que "aquele limite foi do ano passado, mas o ideal é antecipar o espaço fiscal dos anos seguintes". Pode ser ideal para ele, mas como ficará o endividamento do Estado para seu sucessores e para a população local, diante desse abstrato e incerto "espaço fiscal" dos anos que virão? E, vale insistir, se existia tal espaço, por que o governo federal não ampliou antes o limite de endividamento sergipano?

Outro aspecto a destacar é que, com esse pacote de medidas, o governo federal confirma suas dificuldades de realizar investimentos com recursos próprios e, mesmo quando dispõe deles, de levar adiante os projetos. A propósito, são emblemáticos os casos da Ferrovia Norte-Sul, cuja construção se arrasta há dez anos, e o da transposição do Rio São Francisco, também muito atrasado. E tudo indica que o Ministério dos Transportes, por onde passam projetos federais de expansão e manutenção da rede rodoviária, está ainda mais lento depois de assolado por escândalos que no ano passado resultaram na faxina que varreu o seu próprio titular. Aliás, recentemente, assisti à palestra de um especialista em finanças públicas que, entre outras considerações, afirmou que o governo federal dá sinais de que "desaprendeu" a tocar projetos.

Se ele quisesse de fato se envolver profunda e seriamente com os Estados e municípios no indispensável esforço de fazer o País investir mais, deveria encarar realisticamente suas próprias dificuldades nessa empreitada e delegar, em particular aos Estados, a responsabilidade de executar investimentos de interesse comum, mas com dinheiro da União e sem induzi-los a arriscadas ampliações de endividamento. Eles estão mais próximos dos locais onde obras federais são realizadas, sabe-se que historicamente no seu conjunto investiram mais que a União e, em geral, são mais eficazes na execução de projetos.

Uma forma de fazer isso seria no contexto das discussões em andamento sobre as dívidas dos Estados perante a União. Com forte indexação do seu valor desde que assumidas, mais os juros, elas dificultam a gestão financeira estadual e seus investimentos. A ideia seria aliviar as condições dessa dívida, desde que os Estados se comprometessem a utilizar os recursos correspondentes em investimentos de interesse mútuo, que integrariam o currículo de obras das duas partes envolvidas em cada caso.

Há a inadiável necessidade de a presidente Dilma retomar e ampliar o que chamou de "parcerias republicanas", como em outubro do ano passado, ao aportar recursos federais para obras tocadas pelo governador Geraldo Alckmin, em São Paulo.

As medidas de financiamento recém-anunciadas, de engenharia financeira para atrair governadores a um maior e arriscado endividamento, têm muito pouco de autênticas parcerias e de verdadeiramente republicanas.

Adeus, Rio - EDITORIAL FOLHA DE SP


FOLHA DE SP - 21/06


Malogrou a Rio+20. Não há outra forma de descrever o resultado da Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável.

Não se encontra palavra mais apropriada que "fracasso" para qualificar uma reunião cujo mérito maior foi evitar um retrocesso de duas décadas, em relação à primeira Cúpula da Terra, no mesmo Rio de Janeiro, em 1992.

Até o comedido Ban Ki-moon, secretário-geral da ONU, permitiu-se afirmar que desejaria um documento final mais ambicioso. Só o governo brasileiro, no papel de anfitrião, saudou os 283 parágrafos da peça "O Futuro que Queremos" como "vitória" e "avanço".

O Itamaraty pode ter evitado um fiasco do porte da conferência do clima de Copenhague (2009), que se mostrou incapaz de produzir uma declaração conjunta. Mas falar em texto "estupendo" é um exagero que nem mesmo a proverbial presunção diplomática autorizaria.

Todo o esforço da representação brasileira foi fechar um documento de consenso antes da chegada dos chefes de Estado e de governo ao Rio, ontem. Entre hoje e amanhã, eles devem limitar-se a fazer discursos pomposos e chancelar uma declaração inócua.

A habilidade negocial brasileira se resumiu a tentar agradar a todos retirando substância do texto. A União Europeia (UE) queria uma Organização Mundial do Ambiente, mas não levou. Os EUA vetaram, com apoio do Brasil e de países emergentes.

Estes pediam um fundo de US$ 30 bilhões custeado pelos desenvolvidos. Tiveram de contentar-se com a manutenção do princípio -velho de 20 anos- das "responsabilidades comuns porém diferenciadas" (ricos e desenvolvidos devem investir mais e transferir tecnologia para combater os males do ambiente global) e com um grupo de trabalho sobre o assunto.

O máximo que se logrou acordar foi que o mundo precisa de metas quantitativas de desenvolvimento sustentável, ao estilo das Metas de Desenvolvimento do Milênio. Quantas e quais, fica para outra comissão, com prazo até 2015.

O produto mais evidente da Rio+20, ao final, talvez seja o esgotamento da via multilateral para concertar decisões de governos nacionais quanto a questões globais complexas. Como no caso da negociação sobre mudança do clima, as idas e vindas desembocam sempre nos mesmos impasses.

Seria bem mais promissor delegar a formatação de soluções para quem realmente conta, econômica e ambientalmente: EUA, UE, Brasil, China, Índia e Rússia. Mas desse futuro ninguém na ONU quer saber.

Cameron, Hollande e Angela Merkel - GILLES LAPOUGE


O ESTADÃO - 21/06


A Europa continua enfrentando ventos contrários. Na cúpula do G-20 e nas chancelarias, todas as outras potências, Estados Unidos, Brics, China ou Rússia a advertem e imploram que se mexa um pouco para salvar sua moeda comum, este euro, tão exuberante quando não existia e tão pálido, tão melancólico, agora que existe.

Ademais, à margem ou por baixo dessa guerra disfarçada entre a Europa e o resto do mundo, uma outra questão se desenvolve entre as principais potências do Velho Continente.

O francês Hollande (o presidente François Hollande), esse homem tão doce, tão pacato, tão roliço e tão pouco agressivo, só precisou de algumas semanas para se indispor com as duas principais nações da União Europeia, a Grã-Bretanha e a Alemanha.

O (primeiro-ministro) inglês David Cameron disparou um foguete devastador em Hollande. Ele declarou à cúpula do G-20 que Hollande tivera uma ideia estúpida quando decidiu taxar em 75%, na França, as rendas superiores a 1 milhão de euros anuais. Por quê? Porque os empresários franceses, se os privarem de suas existências douradas, vão fechar suas empresas e transportá-las para ambientes mais serenos. Por exemplo, para o ambiente britânico.

E Cameron, longe de se indignar, antes encoraja os ricos franceses e se propõe a acolhê-los em seu país. Com seu belo sotaque de Oxford e um "humour" intempestivo, ele acrescentou que a Grã-Bretanha estenderia o tapete vermelho para acolher os franceses que quisessem fugir dos apetites delirantes do fisco francês.

Esse entrevero verbal extraordinário revela que a integração no cerne da União Europeia não faz grandes progressos.

Não é curioso que um chefe de Estado europeu seduza cidadãos de um outro Estado europeu, encorajando-os a burlar o fisco de seu país e se deslocar para um outro Estado da mesma "comunidade europeia"?

Eventuais riscos. Mas os temores de Cameron são compreensíveis, como o são os dos empresários franceses e de muitas capitais europeias. Ele teme que Hollande, um dos únicos dirigentes socialistas na Europa, siga caminhos escabrosos mais propícios a alimentar o mal europeu que a curá-lo.

O receio de Cameron, como o do empresariado, é que as empresas francesas, cuja competitividade já é fraca, sejam prejudicadas pelas primeiras escolhas de Hollande: aumento das deduções sociais para financiar uma redução parcial da idade de aposentadoria, taxação das empresas que pagam dividendos, aumento da fiscalização do capital, elevação iminente do salário mínimo, tudo coroado por essa taxação de 75% sobre os salários superiores a 1 milhão de euros anuais.

O alarmante é que o caso de Cameron não é isolado. As divergências francesas também se aguçam com a Alemanha. Hollande intriga Madame Merkel (a chanceler alemã Angela Merkel).

Esse homem pouco vistoso, gordo e roliço, amável e modesto, a surpreende. Ele a tirou do convívio com Sarkozy (o ex-presidente francês Nicolas Sarkozy). Com este, era formidável. Como Merkel e Sarkozy tinham a mesma ideologia e a mesma estratégia, Merkel falava e Sarkozy seguia.

É o que dá ser socialista: Hollande não é contra o rigor, mas diz que é preciso também pensar no crescimento. Merkel não está convencida disso. Mas ela prometeu à cúpula do G-20 dar um passo, um pequeno passo, na direção de Hollande. E Hollande concluiu que ele também daria um passo. Um pequeno passo. / TRADUÇÃO DE CELSO PACIORNIK

FORA DE CONTROLE - MÔNICA BERGAMO


FOLHA DE SP - 21/06

O novo longa do pernambucano Cláudio Assis, "Febre do Rato", teve pré-estreia anteontem no Reserva Cultural. O título se refere a uma expressão nordestina que remete "àquele que está fora de controle". O elenco formado por Matheus Nachtergaele, Irandhir Santos e Mariana Nunes, entre outros, participou da apresentação. A atriz Luiza Lemmertz estava na plateia de convidados.

A VOZ DO BRASIL
Gilberto Gil foi convidado para verter o "Rei Leão" para o português. As canções do espetáculo original são do inglês Elton John.

A VOZ 2
Um dos mais duradouros musicais da Broadway, em cartaz há 15 anos em Nova York (EUA), "Rei Leão" estreia em SP em março de 2013. O espetáculo já foi produzido em 19 países e tem bilheteria acumulada de US$ 4,8 bilhões segundo a Time For Fun, responsável pela montagem brasileira.

CHORINHO
Rafinha Bastos diz que chorou, sim, em frente a toda a equipe ao terminar a apresentação do programa "Saturday Night Live" no domingo. Mas foram lágrimas "de orgulho" e não de tristeza por causa da pouca audiência. Ele afirma que achou a edição "do caralho". "Em nenhum momento fiquei triste. Sempre soube que não seria um projeto simples."

SABADÃO AO VIVO
Rafinha diz que a RedeTV! estuda passar o programa, hoje aos domingos, para a grade de sábado, com reprises na madrugada. Quinta-feira é outra possibilidade para escapar de um horário "muito família" e "da briga de foice" com "Pânico" (Band), "A Fazenda" (Record) e "Fantástico" (Globo).

BEM LONGE DAQUI
Em meio à crise no PT de São Paulo por causa da aliança com Paulo Maluf, a ex-prefeita Marta Suplicy vai sumir do mapa. Ela vai ao Panamá em viagem de "caráter pessoal", segundo sua assessoria. Volta na outra semana. Direto para Brasília.

FALHA NOSSA
Apesar dos discursos públicos que minimizam o episódio, o comando da campanha de Haddad concluía ontem que a foto de Lula com Maluf foi "um desastre" que a campanha não conseguiu dimensionar.

O ÚLTIMO GENERAL
Na avaliação de um dos petistas mais próximos de Lula hoje, o ex-presidente está muito "solitário" na condução da campanha. "Faltam generais que o ajudem a pensar. José Dirceu está preocupado com o mensalão, Antonio Palocci está fora de combate. Ele tem que analisar e decidir tudo sozinho. Às vezes, num curto espaço de tempo, como foi o caso do Maluf", diz o petista.

PRESSÃO MÁXIMA
A fragilidade física do ex-presidente, que ainda tem restrições alimentares e faz tratamento de fonoaudiologia e fisioterapia para se recuperar do tratamento contra o câncer, também influenciaria. Lula estaria dividido entre duas prioridades: sua plena recuperação e a campanha eleitoral.

MINHA HISTÓRIA
A decisão sobre a foto com Maluf foi tomada no laço. O ex-prefeito iria à sede do PT anunciar o apoio a Haddad - sem Lula. Para mudar tudo e convencer o ex-presidente a ir à sua casa, Maluf argumentou que estava difícil, para ele, justificar "às bases" malufistas o apoio ao PT. Só mesmo dizendo que fazia isso "em homenagem" a Lula. Que, pressionado, cedeu.

O ARTICULADOR
E Maluf articula: Luiz Flavio D'Urso, pré-candidato do PTB à Prefeitura de SP, diz ter recebido ligação dele para dizer que o apoiaria para vice de Haddad.

A HORA DO ESPANTO
Já a cantora Leci Brandão, do PC do B, também cotada para vice, dizia até a manhã de ontem que não tinha ouvido falar do assunto. "O que me deixou espantada é que ninguém chegou a mim."

ORDEM
O advogado Roberto Podval, ao lado da mulher, Ritiene, ganhou coquetel em apoio à sua pré-candidatura à presidência da OAB-SP, anteontem, no restaurante Dalva e Dito. Os colegas Adilson Dallari e Sérgio Rosenthal participaram do evento.

CURTO-CIRCUITO

Maria Isabel Landim e Felipe Elias são os curadores da mostra "Biodiversidade - Fique de Olho", em cartaz desde ontem na Estação Ciência.

O americano Randy Mosher coassina carta de bebidas que será lançada hoje pela Melograno Forneria e Empório de Cervejas, na Vila Madalena.

com ANNA VIRGINIA BALLOUSSIER, LÍGIA MESQUITA e OLÍVIA FLORÊNCIA

O passado assombra - MERVAL PEREIRA

O GLOBO - 21/06


A coincidência não deve agradar a Lula, mas dificilmente será possível dizer que se trata de mais um golpe dos reacionários contra o governo popular do PT. Aliás, o noticiário criminal envolvendo o PT indica que o partido há muito vem se metendo em enrascadas.

Às vésperas do julgamento do mensalão, desta vez a Justiça reavivou o escândalo dos aloprados, que na eleição de 2006 tentaram comprar um dossiê que supostamente continha denúncias contra o candidato do PSDB ao governo paulista, José Serra, o mesmo que hoje Lula tenta derrotar com o auxílio de Paulo Maluf, na disputa para a prefeitura de São Paulo.

Naquela ocasião, Serra venceu o candidato petista Aloizio Mercadante no primeiro turno. Um dia depois do escândalo provocado pela exibição despudorada de intimidade entre o ex-presidente e Maluf, um dos brasileiros relacionados na lista de alerta vermelho da Interpol dos criminosos mais procurados do mundo, aJustiça de Mato Grosso aceitou denúncia do Ministério Público Federal contra nove dos envolvidos.

Dois deles, Jorge Lorenzetti, petista de Santa Catarina que era também churrasqueiro ex-traoficial da Granja do Torto no primeiro governo Lula, e o advogado Gedimar Pereira Passos, que supervisionava a segurança do comitê da campanha de reeleição, eram ligados diretamente ao ex-presidente, que, no entanto, como sói acontecer, declarou desconhecer o assunto e ainda fez-se de indignado, classificando os membros do grupo de “aloprados”.

Preso na Polícia Federal, Ge-dimar incluiu no grupo um segurança particular da primeira-dama Letícia Maria de nome Freud (que não se perca pelo nome) Godoy, que o teria chamado para avaliar se o tal dossiê continha mesmo fatos que comprometiam Serra. Freud acabou desaparecendo do noticiário, assim como uma coincidência reveladora: o ex-ministro José Dirceu (sempre ele), antes mesmo que fosse divulgado o conteúdo do dossiê, escreveu que as acusações seriam “a pá de cal na campanha do picolé de chuchu”, como se referia ao candidato tucano à presidência Geraldo Alckmin.

Gedimar Passos, assessor da campanha de Lula, negociava a aquisição do dossiê com Valde-bran Padilha, empresário filiado ao PT. A PF prendeu a dupla em flagrante com 1,7 milhão de reais que seria usado na compra do material forjado.

Expedito Veloso, outro dos envolvidos, denunciou meses mais tarde que o atual ministro da Educação, Aloizio Merca-dante, e o ex-governador de São Paulo já falecido Orestes Quér-cia foram os mandantes. Mesmo que entre os acusados estivesse Hamilton Lacerda, então assessor de Mercadante, e que ele fosse o maior beneficiado, o candidato petista não foi arrolado como partícipe do golpe.

O centro da conspiração estava no “Núcleo de Informação e Inteligência” da campanha de reeleição de Lula, e quem chefiava a equipe de “analistas de informação” era o petista histórico Jorge Lorenzetti, ex-dirigente da CUT, enfermeiro de profissão, diretor financeiro do Banco do Estado de Santa Catarina e churrasqueiro do presidente nas horas vagas.

Lorenzetti chefiava Gedimar Pereira Passos na tarefa de con-trainformação eleitoral, e foi nessa qualidade que teria sido
enviado para analisar o dossiê contra os tucanos.

A descoberta do plano revelou a existência de uma equipe dentro da campanha de reeleição que se envolve em falcatruas variadas, uma maneira de atuar politicamente que vem das batalhas sindicais do ABC, as quais Lula conhece bem com que armas se disputam.

Esse mesmo esquema provocou uma crise no comitê da candidata Dilma Rousseff, quando foi descoberto que havia um grupo recrutado para fazer espionagem, inclusive o jornalista Amaury Ribeiro Filho que levou para o grupo o hoje nacionalmente conhecido Dadá, o grampeador oficial do esquema do bicheiro Carlinhos Cachoeira.

Os protagonistas do chamado escândalo dos aloprados responderão pelos crimes de lavagem de dinheiro e operação fraudulenta de câmbio.

Segundo a denúncia do Ministério Público, eles “se associaram subjetiva e objetivamente, de forma estável e permanente, para a prática de crimes contra o sistema financeiro nacional e de lavagem de dinheiro, que tinha por fim a desestabilização da campanha eleitoral de 2006 do governo de São Paulo”.

O Ministério Público, embora as investigações tenham rastre-ado todo o caminho do dinheiro, não conseguiu definir sua origem, um dos grandes mistérios desse caso.

A fotografia da montanha de dinheiro apreendido acabou sendo divulgada às vésperas do primeiro turno da eleição presidencial, e os petistas atribuem ao impacto da imagem a ida da eleição para o segundo turno.

Passou despercebida, mas uma declaração do ex-ministro da Justiça de Lula, Márcio Tho-maz Bastos, em entrevista recente na televisão a Monica Ber-gamo e ao cientista político An-tonio Lavareda, admite claramente a existência do mensa-lão, ele que é advogado de um dos réus. Disse Thomaz Bastos a certa altura, falando sobre a corrupção do Brasil: “Vamos chegar a um ponto em que a democracia, por sua própria prática, vai resolver isso. Lembremos que, no início do século passado, na Câmara dos Comuns, no Reino Unido, havia um guichê onde os parlamentares recebiam o dinheiro, uma espécie de mensalão da época. O que não impediu que a Inglaterra se tornasse um país altamente democratizado. Isso dá a esperança de que, pela reiteração dos usos, possamos encontrar isso, um outro patamar de regime democrático”.

O presidente do Supremo Tribunal Federal, Ayres Britto, parece enxergar longe. Em voto favorável à punição de Lula por propaganda antecipada, na campanha para eleger Dilma Rousseff, classificou de “antirre-publicano” projeto de poder que inclui eleger o sucessor: “Quem se empenha em fazer o seu sucessor, de ordinário, pensa em se tornar ele mesmo o sucessor de seu sucessor”. Outro dia Lula admitiu que “se Dilma não quiser”, ele se dispõe a ser candidato novamente...

Mais um refresco - CELSO MING


O Estado de S.Paulo - 21/06


O Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) decidiu ontem ampliar em alguma coisa a chamada Operação Twist, que se destina a achatar os juros de longo prazo e, assim, continuar a estimular a retomada da economia dos Estados Unidos.

Essa operação não envolve despejo de mais moeda. O Fed vai vender títulos do Tesouro de curto prazo e recomprar títulos de longo prazo. O efeito prático pretendido é a redução dos juros de longo prazo: se entra como comprador, o Fed acaba por aumentar a demanda por esses títulos, seu preço sobe e seu rendimento (yield) cai na mesma proporção.

Juros de longo prazo mais baixos, por sua vez, devem concorrer para baixar também os juros dos empréstimos para investimentos e os juros cobrados nos financiamentos imobiliários garantidos por hipotecas.

Um dos maiores obstáculos à retomada da economia dos Estados Unidos ainda é consequência do estouro da bolha imobiliária ocorrida em 2007. Por falta de compradores, os preços dos imóveis desabaram abaixo das próprias garantias hipotecárias. Esse problema provocou dois efeitos: derrubou em mais de 60% o patrimônio familiar do americano médio, amarrado ao valor de mercado da casa própria; e provocou forte deterioração das garantias dos créditos em poder dos bancos que, em seguida, passaram a ser chamados ativos tóxicos ou ativos podres. O empobrecimento do consumidor americano e a perda da capacidade de concessão de crédito dos bancos paralisaram a economia.

Para reativar a locomotiva, o Fed vem atuando na fronteira do que separa a responsabilidade da irresponsabilidade. Ainda no auge da crise, emitiu US$ 1,7 trilhão para recomprar ativos privados e, desta forma, livrar alguns bancos do naufrágio. Em dezembro de 2008, colocou em marcha a operação Afrouxamento Quantitativo (Quantitative Easing - QE1), pela qual despejou US$ 300 bilhões na recompra de títulos do Tesouro dos Estados Unidos. Em novembro de 2010, com o mesmo objetivo, lançou o QE2, dessa vez com o calibre de US$ 600 bilhões.

Apesar desse esforço, em meados do segundo semestre do ano passado, a economia americana continuava travada. O consumidor permanecia relutante em sacar seu cartão de crédito; os bancos, retraídos no crédito; o setor produtivo, semiparalisado; e o desemprego batendo recorde após recorde.

Foi por isso que, em setembro, o Fed tentou mais uma respiração boca a boca. Anunciou a primeira Operação Twist, de US$ 400 bilhões, não mais para irrigar a economia com moeda emitida, mas para trocar títulos de curto prazo por títulos de longo prazo. Agora, às vésperas do vencimento dessa primeira operação, lançou a segunda, desta vez, de US$ 267 bilhões, que será concluída no final do ano.

Vai funcionar? Não dá para afirmar que o esforço anterior tenha sido inútil. Imagine-se o que seria da economia dos Estados Unidos se o jogo pesado não tivesse sido posto em marcha. O fato é que a retomada continua insatisfatória e o desemprego segue aumentando. Muitos observadores vinham pedindo mais do que saiu ontem. Pediam mais uma alentada rodada de afrouxamento quantitativo, o tal QE3. O Fed não ousou partir para mais essa. Mas seu presidente, Ben Bernanke, avisou que mantém o trunfo prontinho para usar se for preciso. Provavelmente será preciso.

A piada do atual crescimento baixo pode azedar o humor - SÉRGIO VALE


FOLHA DE SP - 21/06


Como esperado, os primeiros dados de maio e junho sinalizam uma franca deterioração da economia brasileira, obviamente atrelada ao cenário internacional.

Esses resultados são um prenúncio de um segundo trimestre que deverá terminar com crescimento ainda menor do que o do já fatídico primeiro trimestre.

Em outras palavras, para crescer parcos 2% neste ano, teríamos que crescer quase 2% na margem no terceiro e no quarto trimestres. Ou seja, já podemos entregar os pontos de que o crescimento não decola neste ano.

A razão é que o pior da crise europeia ainda não aconteceu e isso trava qualquer expectativa de investimento. E o setor bancário está arredio depois dos excessos ocorridos na farra dos automóveis dos últimos dois anos.

Logo estaremos falando de 1,5% como nova possibilidade de crescimento neste ano, e não descarto pensarmos em 1%. Portanto, nada do que o governo fizer agora ajudará muito. Deveria, isso sim, aproveitar o momento de intempérie mundial e aguardar o trabalho do BC de baixar a Selic nos próximos meses.

Não descarto vermos a Selic chegar a 7% ou 6,5% neste ano. É uma janela de oportunidade a favor do crescimento em 2013. Mas não sem tropeços no caminho.

Em janeiro, os EUA terão que decidir o que fazer do pacote fiscal aprovado em julho do ano passado. Se o mantiverem, ficará a dúvida sobre a capacidade americana de diminuir sua dívida; se reduzirem o pacote, podem trazer riscos para o crescimento.

Seria hora de o governo aproveitar a popularidade da presidente e aprovar reformas efetivas para estimular o crescimento de longo prazo. Como provavelmente não veremos isso, a piada do crescimento baixo em 2011 e 2012 infelizmente poderá ser humor negro mais à frente.

A palavra-chave - MIRIAM LEITÃO


O GLOBO - 21/06


Ambição foi, até agora, a palavra mais falada no Riocentro. Mais especificamente, a falta de ambição. O governo acha que perdeu a batalha da comunicação, e que os jornalistas não estão vendo os avanços que teriam ocorrido na Rio+20. Antes fosse apenas uma questão de avaliação da imprensa. É generalizada a reclamação: das ONGs, do presidente François Hollande, do secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon.

O presidente francês veio, em começo de mandato, com a Europa em crise, e disse que sua presença aqui era para assumir uma responsabilidade pública. Viva a diferença. A líder alemã, Angela Merkel, estava no México e não veio porque não quis. O presidente Barack Obama, também.

Na segunda-feira, num dos vários momentos de falta de sinceridade que reuniões diplomáticas sempre propiciam, o negociador-chefe dos Estados Unidos, Todd Stern, disse à imprensa que "desenvolvimento sustentável é um dos pilares da segurança nacional americana" e que o governo Obama o considera um tema muito importante. A CNN perguntou em seguida: "Se é assim tão importante por que o presidente Obama não veio?" A resposta foi um contorcionismo vazio que nem vale a pena transcrever.

A verdade é que os Estados Unidos foram responsáveis por um parágrafo aguado sobre oceanos. A expectativa era de decisão de criação de áreas protegidas em águas internacionais. A marinha americana, dona da maior frota do mundo, não aceitou. Teme que isso atrapalhe suas movimentações para a defesa do que eles acham que é realmente segurança nacional. Foram também os Estados Unidos que se opuseram à criação de uma agência na ONU de meio ambiente porque acham que isso imporá a eles limitação externa nesta área, da mesma forma que já tiveram várias derrotas na Organização Mundial do Comércio (OMC).

Na questão ambiental, o mundo se divide de forma bem diferente do que a tradicional ideia dos ricos versus pobres. Tanto que o presidente François Hollande disse na entrevista que um dos pontos em que houve falta de ambição foi exatamente na criação de um órgão com mais poderes e que agregue todos os assuntos ligados aos temas ambiental e climático. Segundo Hollande, sempre que se tenta incluir algum tema ambiental nas reuniões do clima, o tema é retirado por não fazer parte do escopo da convenção. Por isso, ele reafirmou a necessidade de uma agência da ONU com poderes reais. Tudo o que o texto estabelece é a ampliação do número de participantes do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma). Era restrito a um grupo de países e passará a ser universal. Isso é bom, mas muito pouco. "Não temos uma agência, mas eu não perdi a esperança. Vou continuar a lutar por isso", disse o presidente francês.

Hollande também reclamou de não se fechar uma proposta clara e objetiva de financiamento. Voltou a defender a velha posição da França de se criar um imposto sobre transações financeiras para ajudar a financiar os países mais pobres. Aqui também ele reclamou de faltar ambição.

A resposta veio na entrevista diária do Brasil à imprensa, quando o embaixador Figueiredo não podia ser mais claro do que foi: "Não se pode ter ambição de ação sem ambição de financiamento. Quem exige um sem o outro está sendo, no mínimo, incoerente." A tréplica esteve no discurso do presidente da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso, que delicadamente lembrou que a União Europeia e seus membros continuam sendo o maior doador de recursos aos mais pobres na busca das "prioridades do Rio".

As mais de mil ONGs pediram, em plenário, para se tirar do texto a afirmação de que foram ouvidas. A estrutura escolhida pelo Brasil, de primeiro fechar o documento e consagrá-lo como impossível de ser reaberto para o debate, desperdiçou o momento político do encontro dos chefes de Estado e revogou qualquer ambição que por acaso houvesse.

Os governantes ficaram na estranha situação de virem ao Rio apenas para tirar a foto e fazer a habitual sucessão de discursos. O que rebaixa os chefes de Estado a uma coleção de rainhas da Inglaterra. Eles vêm apenas para carimbar o que seus negociadores decidiram.

Esta é a maior reunião da ONU já feita. Pedida e preparada pelo Brasil. O tema é urgente. A necessidade de cruzar a questão ambiental com a econômica e social é imperiosa. A utilidade de ter uma agência como a Organização Mundial de Comércio na área ambiental e climática, que concentre os temas, é óbvia. Não é hora de perder tempo em definir o que é economia verde, porque todos sabem o que não é sustentável e quais são as inúmeras ações na transição para uma economia de mais baixa emissão de carbono.

Apesar de ser a reunião certa, na hora certa e no local certo, o Brasil - com o enorme poder de influência que tem o país sede - escolheu este caminho de fechar com três dias de antecedência, e passar a chave, num documento que é visto como fraco. Não pela imprensa, mas pelos próprios governantes.

A reunião desperdiça seus preciosos dias finais com formalidades. A Conferência está terminando, como definiu Hollande, "abaixo das nossas responsabilidades e de nossas expectativas".