sexta-feira, abril 12, 2013

Na Broadway da Justiça - LUCAS MENDES

BBC Brasil

Ganhei na loteria jurídica de Nova York. Ou perdi? Para mim, é um prêmio. Fui sorteado pelo Judiciário estadual e lá fui eu para o imenso teatro da Justiça de Manhattan. Centenas de peças, todas de verdade. E de graça.



Às 9 da manha, somos entre 200 e 300 pessoas em um salão para receber instruções, ao vivo e com vídeos, sobre a importância de servir num júri. Esta abertura é um xarope.

Outros sorteios dividem o grupão em grupinhos e lá vou eu, com outros 20, para a corte do juiz Fitzgerald.

Que sala! Se os dramas jurídicos não durassem tanto tempo, seriam imbatíveis. O cenário do juiz Fitzgerald é maior do que uma quadra de basquete, com pé-direito de 10 metros, paredes com madeira nobre, escura, reluzente, linda. Da Amazônia, aposto.

Despojamento e bom gosto. Os 22 bancos imensos são de madeira clara. Na frente, a mesa do juiz parece um altar. Atrás dela, um imenso mármore branco, do chão ao teto, com a frase "In God we Trust" ("em Deus confiamos"). Nenhum papel ou pasta à vista. O decoro combina disciplina militar com missa de cardeal.

Há quatro guardas assistentes, a promotora, uma estenógrafa e um funcionário que conduz os procedimentos e juramenta as testemunhas. Como o réu é de origem latina, tem direito a intérprete, mas, nos explicam, fala inglês fluente. Ou seja, o time da legalidade, incluindo o juiz, pago pelo contribuinte, inclusive o Lucas aqui, tem nove pessoas.

Quanto custa uma diária nesta corte? Um advogado me disse que custa de US$25 mil a US$30 mil. Acho barato. Um ambiente digno para julgar chefe da Máfia, de terroristas, de mensaleiros. Se um dia for condenado na Justiça, gostaria que fosse nesta sala.

Todos os fios do topete do juiz Fitzgerald, cinquentão, estão no lugar certo. Galão de novela mexicana. Com sua voz grave e pausada, nos dá uma preliminar do caso que vai ser julgado. O réu, Rafael Jimenez, é acusado de estar com dois cartões de crédito que não eram dele quando foi preso por dois policiais à paisana, por volta de uma da manhã, no East Village.

Ele não usou os cartões, mas a lei diz que se você é preso com algo de valor que não te pertence e não sabe dar explicações, é crime. Rafael nem é acusado de ter roubado os cartões. A promotoria só terá de provar que ele estava com os cartões que não eram dele. Um crime.

Inacreditável! Este vasto e magnífico aparato jurídico, neste imenso templo da democracia, vai passar os próximos dois, três ou até quatro dias ouvindo várias testemunhas, advogado e promotor para condenar ou absolver o "hermano" Rafael Jimenez, de 29 anos, simpático, em um blazer beige, novo, cabeça raspadíssima.

Putz, que pilantra! Em segundos, sem ouvir ninguém, decidi que ele era culpado.

As formalidades legais prosseguem. Dos 20 selecionados, sorteiam doze para sentar nos dois bancos do júri. Ninguém dá um pio. Em um tribunal de Manhattan, por lei, todos nos, os jurados, somos residentes da ilha. Depois do juramento, respondemos a 15 perguntas invasivas sobre trabalho, família, prazeres e conexões. Conto que sou jornalista e escrevo uma coluna para a BBC Brasil.

"Você cobre o judiciário?"

"Escrevo sobre tudo. Poderia até escrever sobre este julgamento."

Nós, jurados, refletimos a diversidade de Nova York. Cinco homens, sete mulheres. Três nascidos em Nova York, três latinos, duas chinesas, uma indiana. Os outros nasceram em Nova Jersey, Califórnia e Colorado.

Três jogam tênis. Há jurados com doutorados e cargos executivos, a maioria é solteira e autônoma, um está desempregado. Cada um de nós vai receber US$ 40 por dia de serviço para pagar o transporte e o almoço. Uma diária decente.

Depois do interrogatório, nós, jurados, saímos da sala enquanto advogados e promotores eliminam os indesejáveis. Alguém não gosta de jornalista. Lá fui eu, com mais dois, expulsos do júri.

Saí decepcionado, mas não perdi o interesse. Enquanto aguardava uma nova convocação no salão dos jurados, ia e voltava até a corte do juiz Fitzgerald.

Os cartões de crédito roubados pertenciam à "hermana" Fabiola Delgado, ex-jogadora professional de futebol. Agora técnica, estava numa clínica com mais de 20 crianças em um campo de futebol, às 3 da tarde do dia 28 de setembro de 2011. Ela guardou a carteira com US$ 30 e dois cartões em uma sacola que ficou em cima do banco.

Às 5, quando foi pegar o cartão do metrô, a carteira não estava lá. Ligou para o banco e cancelou os cartões. O depoimento dela foi firme, sem contradições. Não viu quem roubou os cartões.

Oito horas depois, a poucos quarteirões, dois policiais à paisana, em um carro sem identificação, viram um homem tentando tirar dinheiro de uma máquina. Fracassou e saiu. O policial Mullenbeck, de 33 anos, seguiu o homem e deu voz de prisão. O suspeito jogou dois cartões de crédito na rua, apreendidos pelo policial.

Rafael Jimenez chorou. Não sei se perdi testemunhas importantes. A última foi de um dos responsáveis pela segurança dos cartões de crédito do Citibank que tinham sido roubados da sacola e estavam com Rafael Jimenez quando foi preso. Depoimento longo, técnico e chato.

Quando cheguei em casa, entrei, como sempre faço, na minha conta no Citibank. Alguém fazia uma farra com meu cartão de crédito do Citi que estava no meu bolso. Só num restaurante gastou US$ 371. Naquele instante me pareceu justificado o imenso teatro para combater um crime tão banal.

Voltei hoje à tarde à corte do juiz Fitzgerald. O juiz dava instruções ao júri sobre como interpretar os depoimentos, o que era importante, o que era lixo. Quando terminei esta coluna, os jurados não tinham um veredito.

É democracia? E os milhares de imigrantes presos em condições brutais no outro lado do rio Hudson? Guantánamo?

É complicado. Na sua próxima viagem a Nova York, entre nas cortes da Center Street, número 111. Fica a menos de dez minutos das torres destruídas. É o melhor drama de Nova York, pelo melhor preço.

Diário de Classe - ANCELMO GOIS

O GLOBO - 12/04

Vai virar livro a história da estudante Isadora Faber, de 13 anos, que ganhou projeção nacional e internacional após a criação da página Diário de Classe, no Facebook, para expor os problemas da sua escola, em Florianópolis, SC.

A adolescente acaba de fechar contrato com a Editora Gutenberg, que lançará a obra ainda este ano. 

Jazz misturado
O álbum “Antonio Adolfo — Finas misturas”, que chega aqui em julho, já faz sucesso lá fora.

Na lista da revista americana “JazzWeek”, ele está entre os dez discos mais tocados nas rádios especializadas. O CD mistura jazz com “molho de forró, baião, samba...”.

Matthew Quick no Rio
Autor de “O lado bom da vida”, Matthew Quick confirmou presença na XVI Bienal do Livro do Rio.

Lançado em janeiro pela Intrínseca, o livro, que teve adaptação cinematográfica estrelada por Bradley Cooper e Jennifer Lawrence (que levou o Oscar de melhor atriz pelo papel), já chegou a cem mil cópias vendidas no Brasil.

Joaquim, a biografia
Escrita pelo coleguinha Wellington Geraldo Silva, atual secretário de Comunicação do STF, vem aí uma biografia de Joaquim Barbosa.

Há cinco editoras interessadas.

Gadu de saia
Maria Gadú vai usar saia pela primeira vez em um show.

Hoje, a cantora abre a sexta edição do Verão do Morro, na Urca, no Rio, vestindo uma peça da Espaço Fashion.

Novela de aço
Os alemães da Thyssen estiveram no Brasil semana passada para novas conversas com a Techint e a CSN, que disputam a compra da CSA.

Prometem anunciar o negócio em 30 dias.

Xixi do vovô
Paes começa hoje a instalar um banheiro químico ao lado de cada Academia da Terceira Idade fincada nas praças da cidade.

O primeiro de uma série de cem banheiros fica na Praça Xavier de Brito, a dos Cavalinhos, na Tijuca.

Próxima estação
Lula vai ao México semana que vem participar do lançamento de um programa contra a fome, a convite do presidente Enrique Peña Nieto.

O queixo de Sonia
O “Los Angeles Times” citou Sonia Braga, ao lado de Scarlett Johansson, Brad Pitt e George Clooney, em reportagem sobre evolução genética e beleza sexual.

Diz que a nossa atriz, assim como Scarlett, tem um queixo que é considerado sexy. Empregada móvel

A B24h, uma empresa carioca, está desenvolvendo um aplicativo para facilitar as vidas de patrões e empregados domésticos.

Em breve, será possível “bater o ponto” pelo celular.

Nei, o filme
A vida e obra de Nei Lopes, o compositor, escritor e pesquisador, de 70 anos, vão virar filme. O projeto da Cafeína Produções foi aprovado pela Ancine.

O documentário “Nei Lopes, coração e mente” será dirigido por Antônio Luiz Mendes.

Samba de luto
Martinho da Vila está muito triste com a morte do amigo e parceiro Mané do Cavaco.

— Ele foi o responsável, com o seu cavaco, pela maioria dos meus primeiros sucessos.

Tomba, Paes
O Cine Santa, em Santa Teresa, no Rio, foi tombado pela Câmara dos Vereadores.

A medida garante que o imóvel só poderá ser usado como cinema. Mas ainda falta a assinatura de Eduardo Paes.

Margaret Thatcher: é complicado... - BARBARA GANCIA

FOLHA DE SP - 12/04

O movimento punk não surgiu com Thatcher; ambos são fruto da penúria generalizada dos anos 70


Só não existe uma estátua de Margaret Thatcher para competir em magnitude com a monstruosidade erguida em homenagem a Winston Churchill na frente do Parlamento, porque o Establishment britânico jamais en­golirá o que considera ser a vulgari­dade das origens pequeno-burgue­sas da ex-primeira-ministra morta nesta semana.

Para se ter uma ideia da animosi­dade que a aristocracia nutre por Maggie, basta dizer que a rainha Elizabeth nunca manteve segredo de que os 11 anos de convivência com ela representaram um verda­deiro martírio para a soberana, obrigada a receber Thatcher todas as terças-feiras nas audiências de prestações de contas entre ambas.

Bem, qualquer ser minimamente sociável dificilmente escolheria a ex-primeira-ministra para passar o fim de semana no Guarujá, ou, qui­çá, a chamaria para flanar diante das vitrines do shopping JK. Além de ser a personificação mais refina­da da antipatia, a mulher represen­ta a imagem da crueldade para uma inteira geração. Mas não passa de maniqueísmo típico da turma que precisa apaziguar suas emoções in­fantis tratar Margaret Thatcher co­mo aquela governanta má de conto de fadas, que só causa fogo e caos.

Cheguei à Inglaterra para morar em 1976 e encontrei uma pocilga em que a juventude não tinha perspectiva de carreira. Todo o mundo e seu vizinho pareciam estar desempregados; imigrantes eram xingados nas ruas, quando não ata­cados fisicamente e culpados aber­tamente pelo desemprego recorde.

Os serviços públicos davam vergo­nha e/ou nojo. As filas eram enor­mes e as brigas com funcionários públicos, corriqueiras. O país vivia refém dos sindicatos --a cada dia pa­rava um serviço essencial.

A Inglaterra já estava moribunda, seja pela inércia de império acomo­dado, seja pela crise do petróleo. Não foi Thatcher que trouxe o problema. Até enten­do a lamúria do manifesto que Morrissey, ex-The Smiths, emitiu nesta semana, alegando que a "dama de ferro" "não tinha um pingo da hu­manidade".

Note que o movimento punk não surgiu por conta do governo That­cher. Ambos são fruto da mesma árvore de penúria generalizada.

Goste-se ou não dela, estamos fa­lando de uma mulher --repito, de uma mulher-- que conseguiu liderar o Partido Conservador contra a vontade da elite que conduz o país desde 1066 e que teve coragem de dobrar os sindicatos, coisa que os trabalhistas nunca tinham feito.

Além disso, mandou o maridão superbem-sucedido, Dennis, para casa vestir chinelos enquanto ela dava conta do recado.

Que eu saiba, quem sugere que se faça isso é o best-seller "Faça Acon­tecer", de Sheryl Sandberg, a superexecutiva do Facebook, considera­da a porta-voz do novo feminismo.

Maggie destruiu as pesquisas mé­dicas nas universidades, as artes, a cultura e a educação? Sim. Mas já estava tudo indo pro brejo mesmo.

A política de austeridade, de corte de gastos e a prestação de contas no receituário keynesia­no que ajudou a impor, taxando o consumo, não os ganhos, privati­zando serviços já sucateados e dan­do autonomia ao Bank of England, o Banco Central da Inglaterra, são medidas que reergueram o país.

É claro que sua figura dickensiana de vilã intragável com aquela ex­pressão de harabishueba (merda no bigode) não será esquecida tão cedo. Mas julgá-la por ser ami­ga de Pinochet ou por massacrar os pobres garotos argen­tinos indefesos sem pensar duas vezes é tentação à qual não podemos ceder tão facilmente diante do imenso novelo da histó­ria.

Boca livre cultural - NELSON MOTTA

O Estado de S.Paulo - 12/04

"O Conselheiro come" é o titulo de uma crônica antológica de João Ubaldo Ribeiro sobre um escritor que não consegue trabalhar para atender aos pedidos de entrevistas, depoimentos, prefácios, teses de mestrado e avaliações de textos, que lhe consomem muito tempo e esforço sem lhe render um tostão ou qualquer benefício. O título é uma citação da esposa do Conselheiro Ruy Barbosa, tentando explicar aos solicitantes que o marido precisava ganhar algum dinheiro com seu trabalho para pagar suas contas.

Assim como o Conselheiro e João Ubaldo, no Brasil, muitos profissionais bem-sucedidos de diversas categorias são assediados por amigos, conhecidos ou estranhos para trabalhar para eles, de graça por supuesto. Alguns são pressionado a ouvir discos e a ler livros, crônicas, peças de teatro, teses de mestrado e, pior que tudo, poemas, que não gostariam de ler nem muito bem pagos.

Os verdadeiros amigos entendem eventuais recusas, os profissionais compreendem os motivos, mas muitos não têm noção, esperam que você pare tudo que está fazendo para ajudá-los no trabalho de conclusão de curso.

De tanto atender a pedidos para depoimentos em vários documentários, de Paulo Francis à bossa nova, de Wilson Simonal aos Mutantes, de Raul Seixas a Cartola, dos Dzi Croquettes a Tim Maia, acabei merecendo uma gozação do crítico de cinema André Miranda como "o ator de documentários em maior atividade no momento".

Achei muito engraçado e oportuno, porque passou a me servir de álibi infalível para recusar novos depoimentos sobre os mais diversos temas: "Não dá, já fiz tantos que estou ficando ridículo como 'ator de documentários', vou queimar o teu filme, tenta o João Ubaldo". Valeu, André.

O pior é o tempo perdido, que poderia ser gasto descansando, trabalhando ou se divertindo com sua família e seus amigos, dado de graça para um estranho. E os jornalistas que pedem para escrever um depoimento sobre João Gilberto? Ou uma lista dos 100 maiores discos da MPB, comentados. Querem que você faça o trabalho deles. E nem imaginam o tempo e o esforço que me custam para escrever uma pequena crônica como esta.

Fausto e a Coca-Cola - MICHEL LAUB

FOLHA DE SP - 12/04

Até a publicidade tem limites, dizem. Artistas só não devem tê-los na hora de criar


Sempre tive problemas com publicidade, alguns de ordem cognitiva: não entendo por que anúncios precisam ter uma piada ao final, nem por que a mensagem às vezes parece ser contra o produto, nem por que alguém entraria num consórcio de casa própria seguindo a recomendação de Paulo Goulart.

O espanto maior decorre da lógica do processo. Como as marcas precisam falar a uma plateia ampla, naturalmente buscam o mínimo denominador de inteligência, charme, humor. Nos intervalos da TV aberta percebemos como vivemos entre imbecis, a massa dos Seu Ênio Dos Recursos Humanos que se identifica --alguma pesquisa deve provar-- com o espírito de um comercial de cerveja.

De qualquer modo, a publicidade faz parte do mundo. Além de possibilitar que eu escreva esta coluna, porque anunciantes são um dos sustentos de um jornal, é um dado até psicológico da vida contemporânea.

Num texto publicado no "Globo" (http://goo.gl/zurR9), Daniel Galera mostra como a identificação com marcas pode ser tão definidora de uma personalidade quanto preferências estéticas e políticas, o que não deveria ser ignorado por uma literatura que se diz realista.

A questão é saber até onde a arte, que sempre dependeu de mecenas, do Estado ou de ambos, pode ser contaminada por seus financiadores. É tão ingênuo negar que a relação é delicada como acreditar que exista independência absoluta. Alguém sempre paga a conta, mesmo que seja o público --forçando o artista a se repetir, diluir ou radicalizar para ter o trabalho aceito, demanda às vezes mais prejudicial que a de um ministério ou fábrica de biscoitos.

Nesse equilíbrio difícil, não dá para botar todos os exemplos no mesmo saco. Poucos desaprovariam uma empresa que adotasse uma orquestra, um museu, um festival de teatro, um prêmio literário. Mas o caso recente de Tom Zé, que precisou explicar sua presença num filme da Coca-Cola (http://goo.gl/Gko0I), depois de ter gravado sem problemas um disco bancado pela Natura, prova que há diferença entre patrocínio, cooptação e adesão, com as várias escolhas possíveis entre os extremos.

Depende de quem faz e como faz. Reynaldo Gianecchini usar um drama pessoal de saúde para vender seguros do Banco do Brasil, sabendo da comoção que sua história causou no país, é diferente de ganhar uns trocos num anúncio da Bombril. Mano Brown gravar um clipe produzido pela Nike, dada a habitual postura do cantor contra o mercado e o establishment, é de um simbolismo dificilmente ignorável (mais tarde, noticiou-se que ele processou a empresa por uso indevido de imagem numa campanha de tênis).

A associação entre cultura e propaganda contrapõe dois mitos. Por um lado, a herança romântica que nos faz enxergar artistas como indivíduos puros, cuja criatividade se alimenta de uma essência necessariamente pobre e em conflito com o mundo. É o que torna nobre a atitude de Lobão, ao recusar uma fortuna para vender o hit "Me Chama" para uma operadora de celulares.

O segundo mito é o de que o sucesso desculpa tudo, e daí uma celebridade topar sem receio campanhas à sua maneira inesquecíveis. Não imagino outra motivação para o Jota Quest estrelar um clipe onde cantava: "Fantasiados de esperança/ No futuro, no amor/ Como uma viagem de Fanta/ A todo vapor".

A punição a tal pacto faustiano, em que conteúdo e independência são sacrificados em troca de ganhos imediatos e mundanos, conta com o exemplo trágico do grande pop star de nossa época. Foi uma queimadura na gravação de um comercial da Pepsi, consta, que levou Michael Jackson a dores incessantes, cirurgias obscuras e o vício nos remédios que o acabariam matando.

Não é preciso ir tão longe na parábola, se quisermos esmiuçar o dilema de vincular imagem e obra a um slogan, negócio e/ou mentira. Como em toda questão moral, o bom senso é um guia seguro. Até a publicidade tem limites, dizem. Artistas só não devem tê-los na hora de criar.

'SALVE JORGE' NA REAL - MÔNICA BERGAMO

FOLHA DE SP - 12/04

O número de vítimas de tráfico de pessoas para exploração sexual ou trabalho escravo atendidas no Estado de São Paulo aumentou 44% no primeiro trimestre deste ano em comparação com o mesmo período de 2012. Os dados são da secretaria estadual da Justiça e da Defesa da Cidadania.

NA REAL 2
De janeiro a março, foram registrados 11 casos com 85 vítimas atendidas pelo Núcleo de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas, contra nove casos com 59 vítimas nos três primeiros meses do ano passado.

NA REAL 3
Segundo a secretaria, o aumento de denúncias pode ser reflexo de um maior conhecimento do problema, graças à ampla abordagem do tema pela novela "Salve Jorge", da TV Globo, "o que acaba despertando a população para a ação das máfias que comercializam pessoas".

ARQUIVO
Advogados do Instituto de Desenvolvimento e Direitos Humanos entraram com habeas corpus para trancar inquérito policial contra o cineasta Silvio Tendler. Ele é acusado pelo Clube Militar de "constrangimento ilegal". Teria jogado tinta vermelha e gritado palavras que foram consideradas ofensivas como "abaixo a ditadura militar" numa manifestação contra o golpe de 1964 que ocorreu em frente à entidade.

EM CASA
Detalhe: o cineasta, que assina clássicos como "Os Anos JK" e "Jango", estava em cadeira de rodas, acabara de passar por delicada cirurgia, chegou a sofrer um infarto e sequer estava no local da manifestação.

FANTASMA
O musical da Broadway "Ghost", versão do filme americano de 1990, ganhará montagem brasileira em 2014. Será uma das primeiras megaproduções assinadas pela 4Act, escola paulistana de teatro musical, que está expandindo seus negócios para a produção de espetáculos e shows. A empresa comprou ainda os direitos autorais de "Memphis" e "Bare". O investimento foi de US$ 300 mil.

ME PAGA
O estilista Rodrigo Rosner, que desfilou na última edição da São Paulo Fashion Week, promoveu campanha em seu perfil da rede social de fotos Instagram. Amigos seguravam um papel com a frase "#Paga o Rosner".

ME PAGA 2
Ele diz que fez um vestido sob medida para uma celebridade usar na capa de uma revista. Depois de tudo pronto, a editora da publicação mudou de ideia.

O profissional afirma que não recebeu pelo trabalho e agora entrou na Justiça.

BATISMO
"Amor em Sampa" é o título do novo filme com roteiro de Bruna Lombardi, uma comédia musical. Seu marido, Carlos Alberto Riccelli, vai dirigir e também atuar na produção.

ESE HOMBRE SOY YO
O produtor argentino Roberto Livi esteve há alguns dias no Rio para fazer as versões em espanhol das músicas do mais recente álbum de Roberto Carlos. Livi, que foi cantor da Jovem Guarda e lançou Sidney Magal, aproveitou a estada para produzir uma canção para Agnaldo Timóteo, "Cartão Vermelho".

LABIRINTOS PAULISTANOS
O diretor Flavio Botelho, a produtora-executiva Claudia Buschel e os atores Natalia Dal Moniln e Alejandro Claveaux rodaram o curta-metragem "O Táxi de Escher", no Mercado Municipal de SP.

Aleksei Abib, que não está na foto, é codiretor e roteirista do filme. Segundo Botelho, o curta retrata "o circular, o impossível e o infinito", temas da obra do artista gráfico holandês M. C. Escher (1898-1972).

LIGA DA JUSTIÇA
Os atores da Globo Cris Vianna e Fábio Lago apresentaram o 5º Prêmio Polícia Cidadã, anteontem, no Theatro Municipal. O secretário de Estado da Segurança Pública, Fernando Grella, e o vereador Alvaro Camilo (PSD-SP) foram ao evento do Sou da Paz, instituto dirigido por Melina Risso e Luciana Guimarães.

CURTO-CIRCUITO
A Orquestra Jovem do Governo do Estado de São Paulo vai participar do festival Young Euro Classic, em agosto, em Berlim.

O Museu das Telecomunicações do Oi Futuro (RJ) é finalista do prêmio Museums + Heritage Awards for Excellence, no Reino Unido.

O advogado Fernando Burattini faz festa de aniversário em sua casa, hoje, no Alto de Pinheiros.

Free again - SONIA RACY

O ESTADÃO - 12/04

Depois de conseguir que a Telexfree (que oferece serviço de voz pela internet) saísse do ar, o Ministério da Fazenda sofreu um revés. A empresa entrou na Justiça, processando a Fazenda, e conseguiu voltar a operar. O que há de errado no negócio? Existem indícios de que trabalha por meio de um sistema de pirâmide (à la Bernard Madoff), o que é proibido por lei. Grosso modo, se pararem de entrar clientes novos, a instituição quebra.

Avançando
Consta, em Salvador, que Eduardo Campos solicitou ao tio, cineasta Guel Arraes, e ao poeta baiano Antonio Lins um esboço de programa de governo na área da cultura.

Can I?
Não está certo que David Axelrod vá participar do dia a dia da campanha de Aécio à Presidência. Pelo que se apurou, a parceria fechada entre o conselheiro político de Obama e Renato Pereira, marqueteiro do tucano, se limita à troca de informações. O staff de Pereira passou duas semanas em Washington no mês passado, recebendo orientações da equipe de Axelrod, principalmente em relação à campanha digital.

Dia D
O destino do Banco BVA deve ser definido hoje. Vale lembrar que o período de intervenção, definido pelo BC, acaba semana que vem.

Mais polêmica
Novo corregedor da Câmara, Átila Lins deve ganhar, hoje, seu primeiro abacaxi: pedido de investigação por quebra de decoro contra Marco Feliciano. “Católico apostólico romano”, o deputado promete agir com rapidez: “O regimento e a Constituição serão a minha Bíblia”, declarou.

Maioridade
Miguel Reale Junior é contra diminuir a maioridade penal, como defendem alguns após a morte de Victor Deppman, assassinado por jovem que completa 18 anos hoje. “Isso não fará com que os latrocínios deixem de ocorrer. Precisamos é de uma política eficaz de combate à criminalidade”, afirma o ex-ministro da Justiça.

Foi gol?
Ninguém entendeu, no Morumbi, a notícia de que a Arena Fonte Nova tem pelo menos 6 mil “pontos cegos”. Conselheiros tricolores lembram: este foi um dos fatores que levaram CBF e Fifa a descartarem o estádio são-paulino.

Too much?
O preço do tomate tem dominado as buscas no Google Brasil. É o que o “termômetro” Google Trends vem mostrando.

O fruto bate tanto Marco Feliciano quanto a Coreia do Norte.

Na prateleira
No fim do mês, Ignácio de Loyola Brandão vai para as prateleira dos supermercados. Ao lado de Clarice Lispector, Fernando Meirelles e Elza Soares, a arte do escritor estampará as novas embalagens das garrafas de Johnnie Walker Black Label que homenageiam o Brasil.

Cena urbana
Plena Avenida Sumaré, sob o sol escaldante do fim da manhã, uma senhora esperava o ônibus, anteontem, em um dos novos pontos instalados na via.

Por causa do teto de vidro, teve de abrir seu… guarda-chuva.

Na frente
O McDonald’s está selecionando crianças de escolas públicas próximas aos estádios das cidades-sede da Copa das Confederações. Elas entrarão em campo de mãos dadas com os jogadores em todas as partidas do torneio.

Termina amanhã simpósio internacional que homenageia o centenário de nascimento do dr. Daher Cutait, do Sírio-Libanês. No IEP.

Mauricio Negro e Bia Villarinho autografam Ciranda do Pantanal. Sábado, na Livraria da Vila da Lorena.

E o Instituto Olga Kos de Inclusão Cultural lança o livro Antonio Peticov, Viajante, escrito por Jacob Klintowitz. Dia 18.

E já tem louco por tecnologia querendo saber: “Na onda da campanha para 2014, será que a edição do Campus Party em Recife será rebatizada como… Campos Party?”.

Inflação dos alimentos castiga os mais pobres - ROBERTO FREIRE

BRASIL ECONÔMICO - 12/04

Uma das grandes conquistas da sociedade brasileira nos últimos 20 anos, o controle da inflação está seriamente ameaçado pela irresponsabilidade que marca o atual governo na área econômica. Apesar do discurso falacioso da presidente Dilma Rousseff de que a prioridade de sua gestão é o combate à pobreza, é justamente a população de menor renda que vem sentindo no bolso os efeitos perversos da escalada no preço dos alimentos.

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o grupo de alimentação e bebidas teve alta inflacionária em todos os meses desde agosto de 2011, com elevação de 16,5% no período. Por outro lado, em escala mundial, de acordo com dados divulgados pela Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), a deflação acumulada chega a 9%, o que escancara a incompetência da gestão petista. No mundo, os preços dos alimentos estão em queda desde outubro de 2012, com deflação de 2,6% no período, enquanto no Brasil houve alta de 5,5%.

Os bolsos do trabalhador e da dona de casa têm sido tão castigados que, vejam só, o tomate virou item cada vez mais raro nas listas de compras. Segundo o IBGE, o preço do alimento subiu 105,89% nos últimos 12 meses, embora a inflação tenha ficado em torno de 6,5%. A farinha de mandioca é outro item que apresentou alta estratosférica, de acintosos 140,57%. Um levantamento divulgado esta semana pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) mostra que os preços dos alimentos essenciais subiram em 16 de 18 capitais brasileiras pesquisadas no 1° trimestre.

Para piorar, como consequência do processo inflacionário no setor alimentício, as vendas do varejo começaram a ser fortemente atingidas. Números divulgados pela Associação Brasileira de Supermercados (Abras) apontam que o faturamento real do setor caiu 4% em 12 meses, provavelmente porque o consumidor teve de reduzir suas compras diante da disparada dos preços.

A Dilma que adota o discurso da defesa dos pobres, mas se mostra leniente com a inflação que tanto os castiga, é a mesma que anuncia a desoneração da cesta básica como se fosse iniciativa de sua autoria, escondendo que meses antes vetara emenda de teor idêntico apresentada por um parlamentar da oposição. É a mesma que edita uma medida provisória ampliando o limite para as empresas declararem imposto de renda pelo lucro presumido, plagiando escandalosamente outra proposta feita por um deputado oposicionista. É a mesma Dilma, afinal, que escala um de seus ministros para negar que os órgãos de inteligência do governo tivessem espionado portuários e sindicalistas no Porto de Suape, em Pernambuco, e horas depois acaba desmentida por documentos da própria Abin revelados pela imprensa.

Como se vê, a propagada preocupação do governo Dilma com os brasileiros de menor renda é facilmente desconstruída pelos fatos. Enquanto a presidente e seus ministros traçam um cenário fantasioso sobre nossa economia, a inflação já é realidade nas prateleiras de qualquer supermercado do país. E o pobre trabalhador, que a presidente diz defender, é quem mais sofre ao fazer as compras do mês e não ter dinheiro sequer para o tomate.


O preço da igualdade - LUIZ GARCIA

O GLOBO - 12/04
Projetos de lei submetidos ao Congresso têm óbvia importância: se vencerem todas as etapas da tramitação e forem sancionados pelo Executivo, produzirão normas e regras que influirão, em diferentes graus de importância e alcance, na vida da gente.

Por isso mesmo, tanto no Senado como na Câmara, há comissões que - pelo menos em tese e em princípio - analisam as propostas em nome do interesse público. Obviamente, essas comissões dispõem de conhecimentos (ou de assessores competentes) que permitam a apresentação ao Executivo de projetos que tenham parentesco íntimo com o interesse público.

No momento, a Câmara discute se esse parentesco existe no caso da Comissão de Direitos Humanos, cujo nome já indica extraordinária importância. Aparentemente (para usar um generoso advérbio), o parentesco está sob suspeita.

O motivo é simples e mais do que óbvio: a escolha para presidente da comissão de um deputado acusado de racismo e homofobia. E que não nega isso: pelo contrário, apregoa-o. É o paulista Marco Feliciano, representante de um partido de média importância, o PSC. Foi ungido quase por acaso. Um acordo entre as bancadas e o Executivo destinara ao PSC uma vaga na Comissão de Fiscalização - que, como costuma acontecer, não cuida de assuntos sérios e delicados como preconceitos associados a opções sexuais e cor da pele dos cidadãos. Mas a tal vaga desapareceu devido a razões ignoradas, e sobrou para Feliciano um lugar na Comissão de Direitos Humanos.

O deputado Feliciano, deve-se notar, não esconde suas convicções. É racista e homofóbico. Tem direito a suas ideias - hoje em dia mais extravagantes do que perigosas.

Mas é certo que, na sociedade em que vivemos, homofobia e racismo não são considerados virtudes. Pelo contrário, trata-se de convicções que ofendem e muitas vezes ameaçam os princípios democráticos que a sociedade brasileira (com óbvias e minoritárias exceções) respeita e defende.

A plateia, convenhamos, não precisa temer as ideias de Feliciano. Preconceitos como os seus pertencem ao passado - pelo menos como forças poderosas. Mesmo assim, pelo sim, pelo não, vale a pena não esquecer que o preço da igualdade, como acontece com a liberdade, é a eterna vigilância.

Carandiru, um fato sem domínio - MARIA CRISTINA FERNANDES

Valor Econômico - 12/04

Secretário de Segurança Pública de São Paulo até novembro do ano passado, o coronel da Polícia Militar Antonio Ferreira Pinto foi a fonte de inspiração da pesquisadora Marta Machado. Ao justificar a nomeação para o comando da Rota de um dos réus do processo que apura o maior massacre em presídio já registrado no mundo, Ferreira Pinto declarou: "O Carandiru é coisa do passado".

Professora da Fundação Getúlio Vargas, Marta foi instada por aquela frase a empreender a mais completa reconstituição dos fatos que sucederam à morte de 111 presos no presídio do Carandiru, em São Paulo. O julgamento começa segunda-feira, 20 anos, 6 meses e 13 dias depois do ocorrido.

Na companhia de duas outras pesquisadoras da FGV, Maíra Machado e Luísa Ferreira, Marta deu início a levantamento que incluiu a fotografia de cada página dos 50 volumes do processo. O primeiro produto da trinca é um artigo publicado no final do ano passado pela Novos Estudos (Cebrap).

São 29 páginas a mostrar como truculência policial, incúria governamental, prepotência judicial e descaso político reunidos podem erigir um monumento à impunidade.

Entre os réus há um único oficial, o tenente coronel da Polícia Militar Luiz Nakaharada que, em função da origem japonesa, foi reconhecido por várias testemunhas como o policial que entrou numa cela e metralhou cinco presos.

O outro oficial arrolado no processo era o coronel Ubiratan Guimarães, morto em 2006. No intervalo de seus dois mandatos, Ubiratan submeteu-se a um júri que o condenou a 632 anos de prisão. Um desembargador do Tribunal de Justiça de São Paulo acabaria absolvendo o coronel. A possibilidade de recurso se esgotou com o assassinato, ainda não esclarecido, de Ubiratan.

Numa demonstração de que não era voz isolada, outro desembargador daquele tribunal, anos depois, negaria pedido de indenização da mãe de um dos presos mortos sob a justificativa de que a culpa era das vítimas que haviam iniciado a rebelião.

No último grande julgamento acompanhado pela opinião pública, a tese do "domínio do fato" pautou grande parte das discussões.

No do Carandiru as três maiores autoridades na hierarquia do sistema penitenciário do Estado da época, o governador Luiz Antonio Fleury Filho, o secretário de Segurança Pedro Franco de Campos e seu assessor para Assuntos Penitenciários, Antonio Filardi, nem sequer foram incluídos na denúncia.

A responsabilização dos três chegou a ser cogitada pela Justica Militar. O inquérito lá conduzido traz depoimentos em que o secretário de Segurança da época relata telefonema ao coronel Ubiratan, que chegara ao Carandiru na companhia do assessor de assuntos penitenciários. O secretário diz ter autorizado por telefone a invasão sem ter falado com o governador no interior do Estado.

Uma das epígrafes do trabalho traz uma frase com que o ex-governador um dia resumiu os acontecimentos: "Quem não reagiu está vivo". Duas semanas antes do aniversário de 20 anos do massacre, o atual governador, Geraldo Alckmin (PSDB), voltaria a usar a mesma frase para justificar a morte, pela Rota, de nove suspeitos num sítio da região metropolitana.

O inquérito acabaria remetido à Justiça comum, onde caberia ao procurador-geral de Justiça fazer a representação contra a cúpula do governo. O atual vice-presidente, Michel Temer, cumpria, no dia do massacre, sua última semana no cargo. Três governos e seis procuradores-gerais depois, nenhuma denúncia foi oferecida.

"Toda a jurisprudência internacional mostra que a responsabilidade aumenta quanto mais longe se está de quem pegou nas armas; o Carandiru vai na contramão", diz Marta Machado.

A instrução do processo teve dificuldade de atribuir responsabilidades individuais aos policiais porque os vestígios do massacre foram apagados do pavilhão 9. "O local dava nítidas demonstrações de que fora violado, tornando-o inidôneo para a perícia", diz o inquérito conduzido pela PM. Nos depoimentos dos policiais os detentos aparecem munidos de armas de fogo, facas contaminadas com sangue de aidéticos e sacos plásticos com urina. Mas no confronto não houve baixas policiais. O IML constatou que a maior parte dos 111 mortos foi atingida por mais de cinco tiros.

Se na Justiça o inquérito levou 20 anos de recursos, protelações e prescrições, na esfera administrativa a impunidade é ainda mais gritante.

Com base na Lei de acesso à informação, as pesquisadoras pediram os processos administrativos que tramitam na Polícia Militar. Receberam dezenas deles: um policial fora punido porque a farda estava incompleta e outro porque se atrasara na hora de se apresentar ao quartel. Não havia um único processo sobre o que acontecera naquele 2 de outubro de 1992.

O desdobramento mais concreto daquele massacre até o momento parece ter sido o PCC. No livro que escreveu sobre a organização ("Junto e Misturado", 2010), a antropóloga Karina Biondi recupera o depoimento à CPI do Tráfico de Armas em que Marcos Camacho, o Marcola, situa o massacre como determinante para o surgimento da facção criminosa que passou a liderar.

Ao propor, a um ano e meio da reeleição, que menores infratores tenham punições ampliadas Alckmin parece ver potencial eleitoral no discurso do endurecimento penal.

O médico Dráuzio Varella, que trabalhou no Carandiru, escreveu um artigo intitulado "Não haverá justiça sem punição do mandante". Recebeu três comentários no UOL, todos criticando sua posição. Num deles, uma leitora resume o espírito de parte do eleitorado que assistirá ao julgamento: "Pensava eu que encontraria aqui algo relacionado à corrupção. Esta frase salta do meu coração e do de milhões de outros brasileiros que perderam entes queridos, nas ruas, dentro dos seus lares, por esses mesmos bandidos citados na reportagem. E esses mandantes, na maioria desconhecidos, quem irá puni-los?"

Quando a demanda por justiçamento aparece assim, embaralhada, favorece um Estado policial, sem que este ofereça garantia de mais transparência e menos violência.

Os caminhos incertos de tecnologias sem limites - WASHINGTON NOVAES

O ESTADÃO - 12/04

Que será do mundo com o avanço exponencial da informática e da robótica tomando de assalto todas as áreas, da comunicação à política, em todos os países, da economia e das finanças à guerra entre nações? Como será esse mundo em que a imensa maioria das pessoas estará conectada, por computadores ou telefones, às redes de comunicação, com notícias em tempo real, possibilidade de interferir na política de seu país? Que mundo será esse amanhã, quando hoje, segundo o secretário-geral adjunto da ONU, Jan Eliasson, já existem 6 bilhões de telefones celulares, enquanto apenas 4,5 bilhões dos 7 bilhões de habitantes do planeta dispõem de instalações sanitárias em suas casas?

Há poucos dias, entraram em vigor no Brasil as primeiras leis que tratam de "crimes cibernéticos", contra condutas ilícitas mediante uso de sistemas eletrônicos, digitalizados ou similares, assim como invasão de computadores, roubo de senhas e/ou arquivos conectados ou não a redes de computadores. As penas são até brandas - vão de seis meses a dois anos -, quando se lê todos os dias que essas condutas ilícitas já estão até no campo da guerra. A robótica militar, como é chamada, já tem sob controle milhares de aviões não tripulados de dezenas de países (Estado, 15/3) - os chamados drones, capazes, em futuro próximo, até de decidir com autonomia onde e como atacar (21/3). Funcionários da inteligência do governo norte-americano admitem mesmo que o país "está se preparando para uma contraofensiva cibernética". O chamado cibercomando das Forças Armadas dos EUA tem 13 equipes de programadores e especialistas em computação - por entenderem que está nesse campo a "maior ameaça imediata aos EUA" (14/3), pois seus serviços de espionagem já detectaram invasões da rede de computadores do governo. O presidente Barack Obama chegou a acusar a China de patrocinar recentes ciberataques a empresas e bancos dos EUA. E a Coreia do Norte acusou os EUA de "sabotar" seus serviços de internet (Reuters, 18/3).

Fora do campo político-militar, as questões não são menos graves ou complexas. No Brasil, por exemplo, 28 milhões de pessoas foram vítimas no ano passado de algum tipo de crime pela internet (revista Problemas Brasileiros, março/abril). A cada segundo, 18 pessoas são vítimas no mundo, 1,5 milhão a cada dia - e isso inclui estelionatos, fraudes financeiras, difamações, calúnias, apropriação de dados pessoais, etc. Segundo a Federação Brasileira de Bancos (Febraban), só no ano passado as perdas bancárias no País atingiram R$ 1,4 bilhão.

O volume de informações que circula na internet é brutal, estimado pela IBM em 2,5 quintilhões de bytes de dados por dia, o equivalente a 450 bibliotecas do Congresso norte-americano a cada 24 horas, segundo Hélio Schwartsman (Folha de S.Paulo, 10/3). No Brasil já são 53,5 milhões de usuários da internet. Em cada um dos pontos, a média diária de uso é de quase dez horas e meia. Em cinco favelas do Rio de Janeiro, outro levantamento indicou que mais de 80% dos habitantes têm acesso a esse meio de informação.

Tudo isso quererá dizer que há mais possibilidade de participação na vida política e nas decisões? Não necessariamente. Pode depender da qualidade da informação e até da repressão. "Não estamos vivendo o mundo de 1984 de Orwell, mas também não estamos vivendo no mundo de harmonia e consenso cientificamente sancionado", diz James Rule em The New York Times, citado neste jornal (24/3). Significará mais segurança? Pouco provável, pois até as gigantes do setor já recorrem a "arquivos nas nuvens", desligados dos computadores físicos, para se livrarem de ataques.

Há pequenos avanços, até por aqui: 2 milhões de eleitores assinaram a petição que deu origem à Lei da Ficha Limpa; 1,6 milhão assinaram documento contra a ascensão de Renan Calheiros à presidência do Senado; algumas centenas de milhares apuseram sua assinatura contra a escolha do deputado Marco Feliciano (11/3) para presidir Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara. Mesmo quando adesões são maciças, entretanto, os resultados são incertos: basta ver que várias das revoluções no mundo árabe que levaram à deposição de antigas ditaduras - como no Egito ou na Líbia - passado algum tempo se mostram quase inócuas, com os mesmos problemas presentes nas administrações a que sucederam. E assim pode ser também em outras nações, onde os movimentos políticos são incipientes ou desorganizados, apesar da forte participação na internet. Alguns governos, porém, como o da Arábia Saudita, estão contratando organizações para controlar serviços como o Skype e mensagens escritas na internet. Parece claro, entretanto, que há uma revolução em processo na informação e que os "Estados coexistem em um mundo onde autoridades não têm mais o mesmo poder de controle que tinham no passado", como diz Joseph Nye, do Project Syndicate (15/2).

Quando há guerras iminentes ou possíveis os problemas se agravam. A Coreia do Sul, por exemplo, está acusando sua vizinha do Norte de haver paralisado seus sistemas de informática, emissoras de TV e dois dos maiores bancos de dados (12/3). E com guerra ou sem guerra, as empresas transnacionais da comunicação vivem "profunda crise", como observou há poucas semanas Ignacio Ramonet, ex-comandante da redação de Le Monde.

São rumos incertos, preocupantes - até mesmo porque ninguém consegue prognosticar os próximos estágios. Porém pode ser complicada a trajetória que não avaliamos no todo quando optamos por um mundo de tecnologias sem fronteiras e sem limites. Não se trata de ser "contra o progresso". Nem de manter a informação controlada apenas por uma "elite". Mas vem a tentação de citar o pensamento do filósofo, físico e matemático René Descartes, citado por Jorge Luis Borges (O Livro dos Seres Imaginários, 2007): "Os macacos poderiam falar, se quisessem; mas resolveram guardar silêncio para não serem obrigados a trabalhar".

Efeito Dirceu - VERA MAGALHÃES - PAINEL

FOLHA DE SP - 12/04

Prestes a definir o novo ministro do STF, o Planalto já trabalha com a perspectiva de que o substituto de Ayres Britto enfrentará dura sabatina do Senado. Auxiliares de Dilma entendem que, após a entrevista de José Dirceu, parlamentares cobrarão detalhes da triagem para o posto. A ordem é disseminar entre congressistas que Rosa Weber e Teori Zavascki foram escolhas "acima de qualquer suspeita" e Luiz Fux, nas palavras de um interlocutor, "uma herança do governo Lula".

Menos um Cotado para o STF, Luiz Roberto Barroso vai passar uma temporada no Instituto de Estudos Avançados, de Berlim. Ele era lembrado pela vaga por interlocutores com trânsito no Judiciário desde o governo Lula.

Sem chance 1 Advogados do mensalão não abraçarão iniciativa do setorial jurídico do PT de alegar impedimento de Fux no julgamento.

Sem chance 2 Para os criminalistas, a acusação de que o ministro prometera absolver Dirceu antes de ser indicado ao Supremo poderia ensejar pedido de impeachment definitivo, mas eles não vão topar a empreitada.

DNA Tucanos festejavam ontem os 13 anos de criação do Bolsa Escola, programa que consideram ter sido a gênese do Bolsa Família, vitrine de Lula. Coube a Fernando Henrique Cardoso exaltar nas redes sociais o ato inaugural, em abril de 2001, com o então ministro Paulo Renato Souza (Educação).

Tricô Depois de cumprir agenda em São Paulo, Fernando Pimentel (Desenvolvimento) encontrou FHC no aeroporto. Engataram animada conversa. Têm em comum duas paixões: os vinhos e a literatura ibero-americana.

Cinturão Prefeitos petistas da Região Metropolitana de São Paulo se reúnem hoje em Guarulhos. Tratarão da disputa interna em curso no partido e da eleição para o governo estadual em 2014.

Fla-Flu O presidente do PT-SP, Edinho Silva, vem sendo cobrado a selar o mais rápido possível o acordo para sua sucessão. Nas caravanas pelo interior, claques de Emídio Souza e Vicente Cândido têm trocado insultos. O ex-prefeito de Osasco é o favorito para assumir o cargo.

Avexado Chamou a atenção de senadores o empenho de Aécio Neves pela aprovação do substitutivo que muda a partilha do FPE. O tucano articulou apoio da bancada mineira ao texto, que beneficia Estados do Nordeste.

Copyright Kátia Abreu (PSD-TO) pediu o cancelamento de seu exemplar do clipping de jornais enviado diariamente pelo Senado. A senadora afirma que é "controversa" a elaboração de resumos noticiosos sem autorização e remuneração ao titular dos direitos autorais.

Colheita Após aceno ao MST, a corrente Esquerda Popular Socialista apoiará a reeleição de Rui Falcão no PT.

Visitas à Folha Renan Calheiros (PMDB-AL), presidente do Senado, visitou ontem a Folha, a convite do jornal, onde foi recebido em almoço. Estava com Weiller Diniz, assessor de comunicação da Presidência do Senado.

Elizabeth de Carvalhaes, presidente executiva da Bracelpa (Associação Brasileira de Celulose e Papel), visitou ontem a Folha. Estava com Carlos Anibal Almeida, diretor executivo da Unidade de Negócio Papel P&D e Inovação da Suzano Papel e Celulose e Ives Gandra da Silva Martins, advogado e presidente do Conselho Superior de Direito da Fecomercio-SP.

João Capiberibe (PSB-AP), senador, visitou ontem a Folha. Estava com Julio Moreira, assessor de imprensa.

Tiroteio
"O Congresso se mostra incapaz de cumprir o seu papel, ficando estático ante a demanda popular pela mudança do sistema eleitoral."
DO JUIZ MÁRLON REIS, integrante do Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral, sobre a Câmara ter sepultado novo projeto de reforma política.

Contraponto


Diversão noturna


Em sessão, anteontem, deputados discutiam projeto que restringe acesso de novas siglas a fundo partidário e tempo de TV. Esperidião Amin (PP-SC) defendeu:

--Ficamos mais ou menos na situação da prostituta que, tendo se aposentado com o dinheiro que ganhou, acha que a virtude pública exige o fechamento da zona. Fechemos o mercado ou a zona!

Chico Alencar (PSOL-RJ), crítico da tese, reagiu:

--Compararia com uma gafieira, como as do Rio, que fecharia a entrada antes do horário habitual. Quem entrou, dançou, quem não entrou, não dançará mais...

A costura tucana - ILIMAR FRANCO

O GLOBO - 12/04

Depois de sentar à mesa com o DEM, o candidato do PSDB ao Planalto, senador Aécio Neves (MG), conversou ontem com o presidente (em exercício) do PTB, Benito Gama. O tucano quer manter os trabalhistas na oposição e torce pelo insucesso das negociações para a integração deles ao governo Dilma. Aécio precisa do PTB para ter cerca de seis minutos de propaganda na TV.

Longe dos holofotes
Os articuladores de Aécio Neves avaliam que o PPS vai apoiar Eduardo Campos (PSB). E acham que isso é bom, pois temem que, sem aliados, Eduardo desista. Eles também precisam da candidatura de Marina Silva e, por isso, anteontem, votaram contra a urgência de projeto que deixava sem tempo de TV e fundo partidário novos partidos, como a Rede. "O Aécio precisa do Eduardo e da Marina. Sem eles, os eleitores vão achar que não haverá segundo turno", relatou um tucano. Aécio não teme o desgaste de uma guerra com Eduardo e Marina. Avalia que todos terão de bater na presidente Dilma, porque é ela quem tem intenções de voto para perder na campanha.

Dudu, o alarmista
A presidente Dilma está irritada com as opiniões do governador Eduardo Campos (PE) sobre economia. Avalia que o socialista estimula o "pânico" ao declarar que a economia está desandando e que os empregos estão ameaçados.

Língua solta
Caloroso o debate na Câmara sobre o projeto que dificulta a criação de novos partidos. Ao defendê-lo, Esperidião Amin (PP-SC), na foto, proclamou: "Nós estamos fechando a zona." Roberto Freire (PPS-SP) contestou: "Quando era para beneficiar o governo Dilma (PT), o bordel estava aberto. Agora, que Dilma e o PT têm medo, fechamos o bordel."

Cada um por si no PTB
Candidato a governador, o senador Armando Monteiro (PE) quer apoiar Eduardo Campos. Para ter o apoio do PT à reeleição, o líder no Senado, Gim Argello (DF), quer apoiar Dilma. O líder na Câmara, Jovair Arantes (GO), vai de Aécio Neves.

Carreira de Estado para médicos
As entidades sindicais, ouvidas pela presidente Dilma, são contra a proposta de importar médicos de fora para atender no Brasil. Disseram à presidente que vão lutar contra sua aprovação no Congresso. Propuseram a criação de uma carreira de Estado, como a dos juízes, com salários acima do piso legal, para que médicos atuem no interior e na periferia das cidades.

Água mole em pedra dura...
As derrotas na tentativa de votar a reforma política e de dificultar a criação de novos partidos não abatem o presidente da Câmara, Henrique Alves (PMDB-RS). Ele pretende recolocar as propostas para votar em 30 dias.

Os tentáculos das milícias
Com base em dados da investigação do Ministério da Educação, o deputado Miro Teixeira (PDT-RJ) diz que já há elementos para se concluir que, com o aval de prefeitos, milícias estão assumindo a merenda e o transporte escolar.

O PSDB do Rio entregou os comerciais na TV, que terá direito a partir do dia 15, para o candidato tucano Aécio Neves se dirigir "aos meus amigos do Rio".

Aécio, fase dois - DENISE ROTHENBURG

CORREIO BRAZILIENSE - 12/04

Pré-candidato pelo PSDB contra a reeleição da presidente Dilma Rousseff, o senador Aécio Neves fez ontem seus lances mais ousados até o momento. Para quem não acompanhou o seminário do PPS, vale lembrar que ele não só se apresentou como pré-candidato de oposição como anunciou que, no próximo dia 19, assumirá a presidência do PSDB. Tudo isso, entretanto, teve um único motivo: se posicionar antes que os outros pré-candidatos ganhem mais terreno do que ele, que sai de Minas Gerais com um caminhão de votos, mas precisa de aliados para conquistar uma vaga no segundo turno de 2014 contra a favorita Dilma.

Até o momento, Aécio se mantinha fechado em São Paulo, tentando conquistar o próprio partido. Se a pré-campanha presidencial fosse um videogame, poderíamos dizer que Aécio dedicou o primeiro trimestre inteiro apenas na fase um, ou seja, atrás do PSDB paulista. Ele ultrapassou essa fase ao garantir o apoio dos deputados estaduais e de grande parte dos prefeitos e vereadores ligados ao governador Geraldo Alckmin. Mas ainda assim deixou algumas valiosas moedas escaparem.

Uma moeda preciosa que ainda está à solta e que pode ser recuperada na fase dois é o palanque único de Geraldo. No momento, como já dissemos aqui, o governador de São Paulo negocia a candidatura a vice-governador com o PSB de Eduardo Campos. Fechado o acordo, Aécio e Eduardo estarão dividindo o mesmo palanque em São Paulo.

A outra moeda que lhe escorre é o ex-candidato José Serra. O colega tucano alegou um problema no ciático para não comparecer à abertura do seminário do PPS ontem. Promete passar por lá ainda hoje. Serra, entretanto, está cada vez mais isolado dentro do PSDB e, se sair do partido, dificilmente levará um grande contingente consigo. Ou seja, é preparado, inteligente, tem bons projetos, mas seu colchão político se mostra cada vez mais estreito. Para boa parte do PSDB, só o fato de Serra não conseguir levar muitos correligionários com ele se optar por sair do partido já é considerado bom para Aécio.

Enquanto isso, na próxima fase...

Com São Paulo equacionado, mas nem tanto, Aécio partiu ontem para tentar conquistar aliados. Começou na convenção do PP, pela manhã, no Auditório Petrônio Portela, no Senado. Embora o PP tenha recebido muito bem o pré-candidato tucano, a figura do novo presidente do partido sinaliza a vontade de seguir com Dilma Rousseff. Não há nada fechado ainda, mas vale lembrar que o novo presidente da legenda, Ciro Nogueira, é aliado do PT no Piauí, onde se elegeu senador. E, para completar, não deseja que a sigla fique longe do Ministério das Cidades.

O PP sente saudades de vários cargos que tinha no governo Lula. Nos bastidores, seus parlamentares lembravam com nostalgia ontem das secretarias no Ministério da Saúde, uma diretoria da Agência Nacional de Vigilância Sanitária, no gasoduto Brasil-Bolívia, na Cia. Brasileira de Trens Urbanos, diretoria da Petrobras... Hoje, restou o Ministério das Cidades e, ainda assim, dividido com o PT. Hoje, é bem capaz que o PP vá pedir alguns desses cargos de volta para seguir com Dilma em 2014. E, se ela não ceder, o partido pode perfeitamente buscar outro rumo, se sentir viabilidade em algum outro projeto que não a reeleição da presidente. É esse rebote que Aécio pretende pegar.

E no PPS...

O mesmo não vale para conquistar o PPS. Ali, o discurso de Aécio foi no sentido de lembrar a unidade com o presidente Itamar Franco, eleito senador pelo PPS em Minas Gerais em parceria com o senador tucano. Não faltaram ainda lembranças dos tempos em que o presidente do PPS, Roberto Freire, então líder do governo Itamar, foi fundamental para aprovar o Plano Real no Congresso.

O gesto de carinho vem justamente num momento em que Freire começa a se aproximar do governador de Pernambuco, Eduardo Campos, do PSB, e a pensar em fusão com o PMN, abrindo as portas para José Serra. Em breve, Aécio fará algo semelhante para o DEM. A ordem agora, nessa fase, é conquistar aliados antes que Eduardo Campos o faça ou que Serra encontre algum fôlego para correr por fora do PSDB. Ontem, por exemplo, o PSB esteve no evento do PPS representado pelo líder do partido na Câmara, deputado Beto Albuquerque (RS), que também deu o recado, ao dizer que o melhor é ter um projeto para, depois, ver quem será melhor para representar esse projeto enquanto candidato.

O apoio do PPS e do DEM são moedas que Aécio pretende levar para a fase três contra o PT de Dilma. A ideia é fechar a oposição, para depois percorrer a base governista. Ainda tem muito jogo pela frente.

Reforma de base - CRISTOVAM BUARQUE

GAZETA DO POVO - PR - 12/04

Na semana passada, o golpe militar de 1964 completou 49 anos. Além de tentar barrar a influência socialista neste lado da Cortina de Ferro, o golpe visava impedir as Reformas de Base que o governo Goulart se propunha a fazer. Elas eram uma necessidade para desamarrar os recursos econômicos improdutivos e distribuir melhor o produto de nossa economia.

Desde nossa origem, o Brasil foi um país que mantinha seus recursos acorrentados. Especialmente a terra, amarrada então por latifúndios improdutivos, e mão de obra sem instrução e impedida de trabalhar na terra. A reforma agrária visava liberar terras ociosas e a utilização de mão de obra ociosa no campo, a fim de desacorrentar a terra e a mão de obra.

As elites brasileiras temiam perder o controle sobre os recursos de sua propriedade e, em consequência, a renda que os recursos lhes proporcionariam. Somam-se a esse temor as forças internacionais. Elas temiam que as Reformas de Base pudessem ser os primeiros passos para libertar o Brasil do bloco dos países ocidentais e levá-lo para o bloco socialista. A Guerra Fria no mundo e o egoísmo no Brasil levaram ao golpe militar que barrou as reformas e atrelou o Brasil ao bloco ocidental.

Apesar de abortadas as reformas, o Brasil conseguiu crescer, aumentando renda para dinamizar produtos para a população de alta renda. Porém, criou desigualdade social que caracteriza a nossa sociedade. A indústria cresceu, mas ao custo da desorganização vergonhosa de nossas cidades, que viraram verdadeiras monstrópoles. Graças à ciência e à tecnologia, o nosso campo ficou mais dinâmico do que nunca (salvo no tempo do açúcar no século 17), mas vulnerável porque ainda depende da demanda externa por nossas commodities.

Mesmo crescendo, o Brasil ainda precisa fazer reformas de base em sua estrutura social e econômica. A reforma agrária já não visa tanto liberar recursos, porque a mão de obra já emigrou e a tecnologia usa a terra de latifúndios produtivos. Mas ainda é necessária por razões sociais: para os brasileiros sem terra e para a redução da migração às cidades.

O simples avanço não basta. A grande reforma do século 21 é a reforma no sistema educacional, que assegure escola com alta qualidade e igual para cada brasileiro, capaz de liberar o imenso patrimônio intelectual latente de um povo à espera de sua educação; e capaz de quebrar o círculo vicioso da pobreza.

O objetivo da reforma educacional é fazer que cada menino ou menina do Brasil tenha acesso à escola com a mesma qualidade, não importa a cidade onde viva nem a renda de sua família. Todos os pequenos experimentos e medidas adotadas nos últimos 30 anos não têm permitido um salto rumo à federalização da educação, no nível e na distribuição de que o Brasil precisa. O país precisa de uma reforma cujo caminho é a federalização da educação de base e fazer que cada uma das mais de 156 mil escolas públicas do país tenha, pelo menos, a mesma qualidade das atuais 431 escolas federais de educação de base.

É preciso fazer que cada uma delas receba o mesmo valor de investimento na educação para que, por seu total esforço, tenha seu desenvolvimento e possa desenvolver o país. E o investimento precisa ser do governo federal porque a renda dos municípios varia muito, com cidades ricas e cidades pobres.

49 anos depois, a reforma da educação de base é a reforma de base para o século 21.

FLÁVIA OLIVEIRA - NEGÓCIOS & CIA

O GLOBO - 12/04

Inflação afetou quatro setores do comércio
Móveis e eletrodomésticos, alimentos, gasolina e vestuário ficaram mais caros com IPI e reajustes. Vendas recuaram

A escalada da inflação já não causa estragos apenas no bolso dos consumidores. O desempenho do varejo também sentiu os efeitos das remarcações em fevereiro, atestou o IBGE na pesquisa de comércio divulgada ontem. A alta dos preços impactou negativamente as vendas de quatro importantes setores, a começar pelos super e hipermercados, o mais robusto. O volume de vendas caiu 2,1% sobre fevereiro de 2011 e arrastou o varejo para uma queda de 0,2%. Desde novembro de 2003 (-0,2%), o comércio não registrava variação negativa na comparação com o mesmo mês do ano anterior. Pesaram, segundo Reinaldo Pereira, responsável pela pesquisa, o aumento dos preços (alimentos à frente) e o efeito base (em fevereiro de 2012, os consumidores receberam salário mínimo corrigido em 14%). Por causa dos reajustes da gasolina, do diesel e do etanol, as vendas nos postos recuaram 2,1% sobre janeiro e 1% sobre fevereiro de 2012. O varejo de roupas e tecidos amargou queda de 1,1% sobre janeiro e de 1% sobre um ano antes. Não por acaso, em 12 meses, acumulam alta de 6% nos preços. O setor de móveis viu as vendas caírem (-0,2% e -1%) em razão da alta do IPI.

3º pior FEVEREIRO
Desde 2002, o comércio brasileiro não registrava um fevereiro tão negativo em vendas. Naquele ano, houve queda de 1,6%, número que se repetiu no mesmo mês de 2003. Ambos foram anos de crise. 

Melhora
A Firjan fez as contas. Se os serviços de liberação de cargas funcionarem 24 horas nos aeroportos nacionais, como promete o ministro Moreira Franco, da SAC, o tempo de desembaraço cairá de oito para dois dias e meio. No Galeão, o prazo sairia de dez para três dias.

Em tempo
Em Xangai, na China, a liberação leva quatro horas.

Urânio
A INB deve receber da União cerca de R$ 150 milhões para duplicar a produção de urânio nas minas de Caetité (BA). O dinheiro sairá após as licenças ambiental, do Ibama, e nuclear, da Cnen.

Virou suco
A Arbor Brasil assume de vez, hoje, a fábrica de sucos Brassumo, da MPE, em Campos (RJ). O grupo arrendou a unidade em 2011. Saiu de uma para três linhas de produção da marca Greenday; e de 60 para 120 funcionários. Até dezembro, serão 200. Investiu, ao todo, R$ 30 milhões, informa Christino Áureo, secretário de Agricultura do estado.

Emergentes
Visitantes de países do Brics não chegaram a 3,5% dos estrangeiros hospedados no Rio no ano passado. O dado é de estudo do Observatório Estadual de Turismo. O relatório deve direcionar campanhas da Embratur e do Rio Convention & Visitors Bureau no exterior.

Emprego direto
O Ministério Público do Trabalho no Rio reuniu dez redes de supermercados, no início do mês, para cobrar o emprego direto de promotores de vendas pela indústria ou pelo varejo. O MPT quer o fim dos contratos temporários e ou via agências. Haverá novo encontro em 20 de junho.

Inadimpléncia
A Cercred, de cobrança e recuperação de crédito, traçou o perfil de inadimplentes no Brasil. De 1.500 devedores, 80% são solteiros; 55%, mulheres; 58% não têm emprego formal; e 29% têm de 35 a 45 anos. No 1º trimestre,
o grupo recuperou 2% mais dívidas que um ano atrás.

Farmácias
Oito em cada dez atendentes de farmácias fluminenses desconhecem os produtos de perfumaria que vendem, aponta pesquisa do Grupo CDPV com clientes ocultos. O segmento representa 35% das receitas.

Lavanderias
A Lavasecco, paulista de lavanderias, prevê chegar ao Rio no fim do ano. A 1ª franquia deve ficar na Zona Sul ou na Barra. Cada unidade exige aporte de R$ 500 mil. A rede tem 18 lojas. Prevê faturar 20% mais no Rio.

Presentes
O Flores Online fechou com o 21 Diamonds, site de bijuterias. Lança hoje página na internet. Prevê faturar 20% no Dia das Mães. Faturou R$ 20 milhões em 2012.

SANGUE BOM
A Heads Propaganda assina o filme de animação que o Hemorio põe no ar no YouTube no domingo. É ação para atrair doadores de sangue para o instituto de hematologia. A timeline do vídeo simula o caminho da doação. A ideia é que há sempre alguém à espera do sangue.

Aporte
A Essor Seguros recebeu aporte de R$ 25 milhões das controladoras francesas MAF e Scor-Re. A meta é bater
R$ 150 milhões em prêmios ao ano, a partir de 2013.

Segurado
A corretora Taclaro.com traçou o perfil dos segurados on-line. De seis mil clientes, 77% são homens; 58% são casados; e 73% têm de 18 a 40 anos. São novas sete em dez apólices vendidas.

No Rio
A Chubb Seguros emitiu R$ 100 milhões em prêmios no Estado do Rio, em 2012. Foi alta de 11% sobre o ano anterior. As carteiras de empresas, automóveis e vida corporativa lideram.

Contra raios
Cresceu 34% em prêmios líquidos a carteira de seguro empresarial da Caixa em 2012. Foi o triplo do mercado nacional. A apólice cobre de incêndio a queda de raios.

Livre Mercado
Deve render R$ 950 mil em faturamento a 8ª edição do Spa Week. São 30% mais que em 2012. Aporte de R$ 580 mil, deve receber 13 mil pessoas, de amanhã ao dia 27 em seis estados, Rio inclusive.

O Sebrae criou serviço on-line de eficiência energética para micro e pequenas empresas. O sistema traça planos de redução de custos com eletricidade e água. É parceria com Eletrobras Procel.

O Simerj, de empresas de material elétrico, virou núcleo de eficiência energética do programa. Recebe consultas no site e envia ao Sebrae.

Teresa Pantoja, da Jucerja, assumiu a Corporate Registers Forum (CRF). É a 1ª não britânica a presidir a entidade de registros empresariais.

O apresentador Rodrigo Faro participa de ação da Pampers nas Lojas Americanas do Passeio hoje, às 11h. É parte do Festival do Mundo Infantil, até 5ª, em 50 filiais da rede.

A Vale lançou site para a exposição “Genesis”, que Sebastião Salgado estreou ontem, em Londres.

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO

FOLHA DE SP - 12/04

Quanto mais esperar para subir juros, pior
"Quanto mais cedo elevar os juros, mais cedo aparece a chance de descer. Quanto mais esperar para subir os juros, pior", diz Jorge Simino, diretor de investimentos da Fundação Cesp.

Para Simino, o país está acumulando muitas tensões: "o câmbio está fora de lugar, os juros reais estão fora de lugar, os salários reais, também. Tudo começa pelo câmbio", afirma.

A situação atual se parece com a que antecedeu a desvalorização do real de 1999, compara o diretor da fundação Cesp.

"Pode ser um pouco forçada a comparação, mas lembra o adiamento do governo para tomar a iniciativa antes da reeleição de Fernando Henrique Cardoso. Vencido o pleito, o governo teve de encarar o ajuste."

Agora a variável chave, do ponto de vista do governo, é manter emprego, não é a preocupação com o câmbio, diz Simino. O câmbio de equilíbrio deve ser de, no mínimo, R$ 2,30, estima. Do ponto de vista de investimentos, este será um ano difícil.

"Os preços dos títulos longos estão caindo, a Bolsa vai mal, com queda de cerca de 8% no acumulado deste ano. Adiado o ajuste, esse mau humor pode prosseguir."

Compacta A Casa Cor deste ano estará mais enxuta: terá 80 ambientes (60 já foram vendidos). Em 2012, foram 94. Espaços como os de crianças e escritórios serão abolidos.

Biotecnologia A Fundação Bio-Rio e a Apex lançam a Brasil Biotechnology, para exportar pesquisas em saúde, energia e agricultura. O investimento é de R$ 4 milhões.

Obras do 'Minha Casa' vão ter de incluir escola e posto de saúde
A partir de agosto, os projetos de conjuntos habitacionais destinados a famílias de baixa renda no programa Minha Casa Minha Vida deverão incluir, além dos imóveis, a construção de escolas e postos de saúde.

A ideia do governo é acelerar a instalação desses benefícios e evitar que os imóveis fiquem prontos antes de as prefeituras concluírem as áreas para educação e saúde.

O financiamento do empreendimento incluirá a escola e o posto de saúde. Tudo será feito pela construtora ao mesmo tempo.

A regra se aplicará apenas aos imóveis para famílias com renda de até R$ 1.600. O Ministério das Cidades deverá editar nos próximos dias uma portaria sobre o tema.

Após 'aperto', setor de plástico flexível deve crescer 4%
O mercado de embalagens plásticas flexíveis (sacolas e rótulos, entre outros) prevê um crescimento de aproximadamente 4% neste ano, tanto no volume, quanto no valor da produção, segundo a Abief (associação do setor).

"A perspectiva é positiva mesmo após termos passado por um aperto de margem histórico, no ano passado", afirma Sérgio Carneiro Filho, presidente da entidade.

Em 2012, o faturamento da produção cresceu cerca de 7,5% e o volume produzido teve um aumento de 1,9%. Carneiro Filho, porém, explica que os custos da cadeia de produção foram de quase 9%, o que gerou o "aperto".

Mesmo com uma projeção de alta para este ano, o presidente da associação avalia que é preciso que o governo faça uma revisão dos tributos de alguns produtos.

"O imposto de importação e o IPI são dois itens pesados em nossa cadeia produtiva e que possuem alíquotas diferenciadas para certas classificações fiscais. É preciso uma equiparação tributária para o setor", diz o executivo.

PASSOS ESPORTIVOS
A grife criada por Sarina Katnikas já existia há quase três anos, mas foi com a entrada de Patricia Birman que a Memo (abreviação de "Meu Momento"), que só tinha uma loja, ganhou um forte impulso.

Patricia --que é filha de Anderson Birman, fundador da grife de sapatos Arezzo, onde ela trabalhou-- trouxe da empresa a experiência de expansão no varejo.

A Memo abre hoje sua segunda unidade no shopping Morumbi e ainda neste semestre terá outros dois pontos, um deles no Iguatemi.

"Estamos quase fechando a negociação com um outro shopping para ter a quarta loja", diz Patricia.

O foco da marca são roupas esportivas e confortáveis "para se exercitar, passear com filhos ou ficar em casa".

"Vamos dar uma parada no segundo semestre para nos acomodarmos à abertura das lojas. Mas até 2015, teremos 15", afirma.

VALORES EMPRESARIAIS
Dez universitários foram selecionados para acompanhar o conteúdo do balanço anual da fabricante de pneus Pirelli, que deve ser publicado em maio.

Os dez jovens apresentaram valores universais que deveriam entrar no relatório como perseverança, humildade e honestidade.

O concurso foi feito pela empresa entre dezembro de 2012 e fevereiro deste ano. A companhia recebeu 600 propostas de alunos de 153 universidades do mundo.

"As respostas que os jovens nos enviaram dão a ideia dos princípios relevantes de amanhã", afirma Paolo Dal Pino, presidente da Pirelli América Latina.

Um dos selecionados é o brasileiro Nathan Baranauskas, da UFABC, que propôs simplicidade como valor.

FESTA JAPONESA
O ministro Guido Mantega (Fazenda) vai comentar pela primeira vez amanhã, durante um seminário em São Paulo, o afrouxamento monetário japonês. Na semana passada, o Banco do Japão anunciou a colocação de US$ 1,4 trilhão na economia em menos de dois anos.

Mantega, que cunhou a expressão guerra cambial, não deverá criticar a iniciativa japonesa. A expectativa do ministro é que as medidas do Japão também estimulem o mercado interno e não apenas as exportações.

Mantega poderá ouvir da plateia sugestões para reduzir um pouco o IOF, o que atrairia recursos que deixarão o Japão. "De um lado, o imposto nos protege, mas de outro, perdemos a festa do caqui", comenta um gestor.

Na próxima quarta-feira, o ministro viajará para Washington. Um encontro com o novo secretário do Tesouro americano, Jack Lew, está sendo agendado.

Charuto... A Emporium Cigars, importadora oficial no Brasil da cubana Habanos, está lançando um charuto para o público feminino.

...cubano O Julieta terá um blend mais suave e o diâmetro menor. As vendas da empresa devem ser 17% maiores em 2013 ante 2012.