quarta-feira, novembro 18, 2009

ELIANE CANTANHÊDE

Brasil deve produzir substância radioativa com Peru e Argentina

FOLHA DE SÃO PAULO - 18/11/09


Produto usado em diagnóstico de câncer está em falta no mercado desde maio

Brasil, Argentina e Peru vão fechar um acordo tripartite para produzir molibdênio, uma substância radioativa importante para diagnóstico de câncer e de problemas cardíacos e que está em falta no mercado desde o fechamento de uma fábrica no Canadá, em maio. O Brasil foi particularmente afetado, com corte estimado em até 60% nos exames.
O molibdênio é usado em 80% da medicina nuclear, principalmente na cintilografia, que detecta obstrução de artérias e a existência de tumores em tecidos e órgãos com antecedência maior do que outros tipos de exames. É útil também para detectar disfunções pulmonares e hepáticas. O acordo tripartite será discutido hoje pelos presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Cristina Kirchner (Argentina), durante encontro em Brasília. Desde que o Canadá fechou sua fábrica, a MDS Nordion, a Argentina e a Bélgica têm suprido parte da demanda brasileira por molibdênio, mas de forma emergencial. Com o novo acordo, o fornecimento argentino e peruano passará a ser em bases regulares.
Faz parte do acordo o uso de um reator produzido pela Argentina, que foi comprado pelo Peru e está desativado. A operação conjunta deverá atender às demandas internas do Peru e da Argentina e um terço das necessidades brasileiras.
Quem assinará o acordo pelo Brasil será a CNEN (Comissão Nacional de Energia Nuclear), vinculada ao Ministério de Ciência e Tecnologia, com suas correspondentes da Argentina e do Peru, depois da decisão política ser discutida e acertada entre os três presidentes.
Desde 2007, a dependência de apenas um fornecedor (o Canadá) já vinha acendendo a luz vermelha em alguns setores médicos brasileiros. Agora, a crise de falta de molibdênio atingiu tanto os hospitais públicos quanto privados, e o governo tentou monitorar um percentual comum de corte para os dois sistemas, o que vem atrasando o atendimento.
Estima-se serem necessárias cerca de 8.000 cintilografias por dia nos 400 serviços de medicina nuclear brasileiros. Em 2008, o Brasil importou US$ 319 milhões do produto. De janeiro e outubro de 2009, foram US$ 43 milhões.
Colaborou EDUARDO RODRIGUES, da Sucursal de Brasília

EDITORIAL - O GLOBO

Apagão chavista

O Globo - 18/11/2009

Há cada vez mais indícios de que o tom belicoso de Hugo Chávez em relação à Colômbia tenha motivos mais próximos dele do que da cessão aos EUA de sete bases em território colombiano pelo governo Uribe. Trata-se de recorrer a uma ameaça externa para relativizar problemas que já corroem a duradoura popularidade do caudilho.

A Venezuela está sob racionamento de água desde o dia 2, e sofre constantes apagões. Na capital, segundo o jornal espanhol “El Pais”, cada bairro fica sem água pelo menos dois dias da semana. São frequentes os cortes de energia durante quatro horas a cada noite. Segundo pesquisa da empresa venezuelana Datanálisis, 66% dos entrevistados se disseram totalmente insatisfeitos com a gestão da crise por Chávez; 70% criticaram suas políticas para criar empregos; e 87% acharam que o governo não faz o suficiente para combater a criminalidade — Caracas é a cidade mais violenta da América Latina.

Outro dado relevante da pesquisa: oito em cada dez venezuelanos rechaçaram a possibilidade de um conflito militar com a Colômbia, o que mostra que o apelo de Chávez ao nacionalismo não parece estar funcionando.

As más notícias na economia venezuelana não dão trégua: uma alta fonte do governo disse que o PIB do país encolheu 4,5% no terceiro trimestre do ano em relação a 2008, contra queda de 2,4% no segundo, configurando uma recessão. A corrupção campeia: a Transparência Internacional incluiu o país entre os quatro mais corruptos da região.

Diante disso, Chávez tenta transformar um incidente no qual morreram dois guardas venezuelanos, e que parece ter mais a ver com o crime organizado e o tráfico de drogas na fronteira com a Colômbia, num pretexto bélico. Para manter a chama do nacionalismo acesa acima dos apagões, o líder bolivariano rejeitou proposta do Brasil para criação de um sistema venezuelano-colombiano com o objetivo de monitorar a fronteira comum de 2 mil quilômetros. Para isso, recorreu a uma de suas frases bombásticas: “(A fronteira) é tema de soberania, e soberania não se discute!” Entrevistado pelo GLOBO, o jornalista e escritor colombiano Ecchehomo Cetina, autor de “O tesouro — uma história de roubo nas Farc”, comentou: “Historicamente, presidentes administram os problemas de Colômbia e Venezuela declarando guerra ao vizinho.” É esse Chávez divisivo e beligerante que quer um lugar para a Venezuela no Mercosul. Para obtê-lo, depende apenas de aprovação no Senado brasileiro e no do Paraguai. O chanceler paraguaio, Héctor Laconagta, resumiu: Chávez “tem um discurso de confronto, criando um clima pouco propício para a integração regional”. Os senadores brasileiros devem pensar nisso.

JAPA GOSTOSA

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VINÍCIUS TORRES FREIRE

Conspiração de irresponsáveis

FOLHA DE S. PAULO - 18/11/09


Petistas, partidos mensaleiros e oposição conivente se aliam para aprovar um aumento de gasto irresponsável no INSS

A OPOSIÇÃO perdeu-se no triângulo das Bermudas da irrelevância -num lado, se omite; noutro, nada tem a dizer; no terceiro, limita-se à politiquinha, como no caso do apagão, da CPI da Petrobras e tantos outros. Entre as omissões mais descaradas, votou a favor de aumentos de servidores públicos, enquanto cinicamente critica a gastança luliana. Agora, é conivente com a tramitação de um projeto que, aprovado, também poderia prejudicar até mesmo um eventual governo de PSDB e cia., a partir de 2010. Ontem, foi aprovado o fim do fator previdenciário na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara. Petistas doidivanas, partidos mensaleiros (como o PTB) e tucanos oportunistas estão aliados na lambança.

O fator previdenciário é, em suma, um meio de tentar adiar a aposentadoria dos trabalhadores pelo INSS.

Trata-se de um redutor do valor do benefício previdenciário, calculado segundo uma fórmula que leva em conta a expectativa de vida dos brasileiros, o tempo de contribuição para o INSS e a idade de quem se aposenta. Quanto menor a idade e menor o tempo de contribuição, menor o valor da aposentadoria. Trata-se de um arranjo de reforma previdenciária aprovado em 1999, no governo FHC. Pretendia-se então dar cabo da aposentadoria por tempo de contribuição, o que não passou.

O motivo de tal reforma é, claro, reduzir gastos da Previdência, que tendem a crescer com o aumento da duração média da vida. Em qualquer lugar do planeta em que as pessoas vivam mais, esse é um problema tão incontornável como a morte e os impostos. Quanto mais cedo o trabalhador se aposenta, menos ele contribui e por mais tempo ele tende a receber o benefício do INSS.

A criação do fator previdenciário a princípio reduziu o ritmo de aposentadorias por tempo de contribuição, pelo menos até 2006. Diga-se de passagem que a emissão de tal tipo de benefício havia explodido nos primeiros anos FHC, dados os temores que essa reforma mal explicada causou. Entre 1995 e 1997, os benefícios por tempo de contribuição cresciam a 13% ao ano, em média.

De 2000 a 2006, a 2% ao ano. Nos dois últimos anos, a 4,2%. Conteve-se parte da despesa e, assim, do deficit da Previdência. A redução de despesa só não foi maior porque houve uma explosão muitíssimo suspeita de aposentadorias por invalidez, que cresceram 6% em 2005. Depois que o governo Lula melhorou a fiscalização, o crescimento das aposentadorias por invalidez caiu a 2% anuais.

Mais emprego formal, mais crescimento econômico, mais fiscalização, tudo isso ajuda a conter o deficit do INSS. Mas não é o bastante. Por que é preciso conter as despesas do INSS? As despesas do INSS são, é óbvio, pagas com impostos. Os nomes desses impostos são diversos, a começar por "contribuição para o INSS", assim como sua qualidade tributária. Mas são pagos pelos contribuintes e despendidos pelo mesmo governo que tem de gastar em educação, saúde, infraestrutura etc.

Logo, a fim de cobrir os gastos crescentes do INSS, ou se paga mais imposto, ou se gasta menos em outras rubricas, ou se faz mais dívida pública. Os irresponsáveis que ameaçam dar cabo do fator previdenciário não se sentem responsáveis por nenhum desses problemas.

CLÓVIS ROSSI

Visita de Obama à China é certidão de nascimento do G2

FOLHA DE SÃO PAULO - 18/11/09


Encontro é certidão de batismo do G2


China e Estados Unidos se firmam como únicos ocupantes do assento da frente na condução de grandes temas globais
A visita do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, à China serviu, acima de tudo, para emitir a certidão de nascimento do G2, formado obviamente pelos dois países, como os únicos ocupantes do assento da frente na condução dos assuntos globais.
Não se trata de interpretação de algum dos especialistas que têm falado assiduamente nesse novo G. É uma declaração de Jon Huntsman, embaixador dos Estados Unidos na China e, como tal, importante membro da delegação norte-americana:
"Só há realmente dois países no mundo que podem, juntos, resolver certos assuntos, seja energia limpa, mudança climática, segurança regional, Irã, Coreia do Norte, Afeganistão e Paquistão, chegando até à economia global", deixou claríssimo Huntsman, no "briefing" (sessão informativa) para os repórteres norte-americanos que cobrem a visita.
Vai ser muito difícil, quase impossível, conseguir uma declaração tão explícita de algum diplomata, de qualquer país, sobre como encara o gerenciamento do planeta.
É claro que os chineses, discretos como são, jamais exporiam, de público, uma visão tão nítida. Mesmo assim, o presidente Hu Jintao listou uma vasta coleção de temas em que ele e Obama estão "dispostos a atuar em benefício mútuo", coleção que, de alguma forma, equivale à lista de Huntsman: "Estamos dispostos a aprofundar nossa cooperação em contraterrorismo, aplicação da lei, ciência, tecnologia, espaço exterior, aviação civil, exploração espacial, infraestrutura de ferrovias de alta velocidade, agricultura, saúde e outros campos", para não mencionar "um progresso ainda maior no fortalecimento de laços de militares para militares".
É igualmente significativo que o G2 tenha puxado para si o tema do reequilíbrio da economia global, que ocupa também o G20 -o clube das 21 maiores economias do mundo mais a União Europeia- sem que tenha, contudo, sido satisfatoriamente encaminhado.
Qual é o equilíbrio que se busca? Ei-lo, nas palavras de Barack Obama:
"Uma estratégia em que a América poupe mais, gaste menos, reduza nossa dívida de longo prazo e em que a China faça ajustes em um amplo elenco de políticas para rebalancear sua economia e estimular a demanda doméstica".
O desequilíbrio que se quer corrigir agora existia antes da crise de 2008 e bom número de especialistas aponta-o como a grande causa para ela.

Yuan
No bojo desse grande desequilíbrio há outro, no câmbio, que é a grande preocupação imediata do ministro brasileiro da Fazenda, Guido Mantega: a sobrevalorização do real em relação tanto ao dólar norte-americano como ao yuan chinês, aliás a ele indexado.
Mantega levou essa inquietação à mais recente reunião ministerial do G20, sem que o comunicado final a mencionasse nem mesmo tangencialmente.
Evidência adicional que o G2 lida com mais fluidez com assuntos que o G20 não consegue administrar, Obama reclamou de Hu Jintao do câmbio do yuan, subvalorizado, e saudou "o compromisso chinês, feito em manifestações passadas, de mover-se rumo a uma taxa de câmbio mais ditada pelo mercado, com o tempo".
Mas, atenção, a certidão de batismo do G2 não quer dizer que EUA e China estão de acordo em tudo. Bem ao contrário, as divergências conhecidas (Irã, mudança climática, o câmbio etc.) permanecem.
Mas as duas partes reconhecem, como escreveu o jornalista Keith Richburg para o "Washington Post", que "as economias norte-americana e chinesa -a maior do mundo e a grande economia que cresce mais rapidamente, respectivamente- tornaram-se inextricavelmente ligadas, trancadas em uma espécie de codependência que nenhum dos lados acha que é particularmente saudável, mas que, no momento, nenhum dos dois vai se mover para romper".

STRIKE

BRASÍLIA - DF

Gênio fora da garrafa


Correio Braziliense - 18/11/2009


O governo tirou o gênio da garrafa da partilha do pré-sal e agora não consegue pô-lo de volta. O governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), inconformado com os termos do acordo fechado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva com os governadores do Espírito Santo, Paulo Hartung, e do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, rebelou as bancadas do Norte e do Nordeste para estender o novo marco regulatório aos 28% de áreas de exploração do pré-sal já licitadas pelo regime de concessão. No cafezinho da Câmara, era pule de 10 que Campos ganhará a votação em plenário, com folga, se a proposta for votada.

Cabral e Hartung resolveram marcar posição e resistir. Os deputados Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e Lelo Coimbra (PMDB-ES), ontem, pressionavam o líder do PMDB, Henrique Eduardo Alves, para que exigisse das bancadas do PMDB e do PT o cumprimento do acordo. A porteira foi aberta porque o relator do Fundo Social da Petrobras, o ex-ministro Antônio Palocci (PT), mexeu na divisão desses royalties ao destinar a parte que caberia aos ministérios à formação imediata do fundo. Se a emenda de Campos for aprovada, a disputa federativa somente acabará no Supremo Tribunal Federal (STF), pois a participação especial dos estados produtores é matéria constitucional e a proposta tem caráter retroativo.

Herói// Amanhã, na sessão das 20h30 do Festival de Brasília, estreia o filme Perdão, mr. Fiel, documentário longa-metragem do jornalista Jorge Oliveira que conta a história de um companheiro do presidente Lula que tombou no meio do caminho: o metalúrgico Manuel Fiel Filho, torturado e morto no DOI-CODI de São Paulo, em 1975.

Fogo amigo



O governador de São Paulo, José Serra (foto), anda se queixando do “fogo amigo” com os aliados do PSDB, DEM e PPS. Reclama, principalmente, do ex-prefeito carioca Cesar Maia, que o chamou de caudilho em recente entrevista, e da movimentação do governador de Minas, Aécio Neves, que ontem teve um novo encontro com o candidato do PSB, Ciro Gomes, desafeto do tucano paulista. Maia e Aécio são críticos da posição assumida por Serra de somente decidir sobre sua candidatura à Presidência da República em março de 2010, prazo de desincompatibilização do cargo de governador.

Itaipu

Está o maior alvoroço na imprensa paraguaia por causa da Operação Laçador, exercício das Forças Armadas brasileiras iniciado segunda-feira, com 8 mil homens do Exército, da Marinha e da Aeronáutica, que simula a ocupação por um país vizinho e a subsequente retomada da hidrelétrica de Ita (SC/RS) e do Porto de Rio Grande (RS). Participam 13 navios, dois submarinos, quatro lanchas e oito helicópteros, três divisões do Exército e 53 aeronaves da FAB. Uma semana após o apagão, a manobra é vista no Paraguai, que também ficou às escuras, como a simulação da tomada da usina binacional de Itaipu.

Menos



Na qualidade de filha de Olga Benário Prestes, extraditada pelo Governo Vargas para a Alemanha nazista, para ser sacrificada numa câmara de gás, Anita Leocádia Prestes (foto) enviou carta ao presidente Lula em defesa da anistia ao ex-terrorista italiano Cesare Batistti. Na texto, afirma que o presidente da República “não permitirá que seja cometido pelo Brasil o crime de entregar Cesare Battisti a um destino semelhante ao vivido por minha mãe e sua família”. A extradição do italiano, condenado à prisão perpétua por quatro homicídios, deve ser decidida hoje pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Filha do falecido líder comunista Luiz Carlos Prestes, Anita nasceu num campo de concentração.

Royalties

Com R$ 3,5 bilhões arrecadados por ano, o Rio de Janeiro, sozinho, recebe 73% do total dos royalties destinados aos estados, o que facilita a mobilização a favor de aplicar as novas regras do marco regulatório às áreas de pré-sal já licitadas. Somente o município de Campos arrecadaR$ 1,1 bilhão

Circos/ A Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJ) da Câmara aprovou relatório do deputado Ricardo Tripoli (PSDB-SP) que acaba com o uso de animais nos circos que circulam pelo país. Vale para a fauna silvestre brasileira e os animais exóticos, como leões, elefantes e chimpanzés.

Apagão/ A Comissão de Minas e Energia deve deliberar, hoje, sobre a convocação dos ministros da Casa Civil, Dilma Rousseff (PT), de Minas e Energia, Edison Lobão (PMDB), e do secretário de Energia Elétrica, Josias Matos de Araújo, para esclarecer as causas do apagão. O ex-ministro Silas Rondeau também deve ser convocado. Presidida pelo deputado Bernardo Ariston (PMDB-RJ), a comissão virou uma dor de cabeça para o governo.

Madeira/ A ministra em exercício do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Arlete Sampaio, recebe amanhã, em Brasília, a doação por parte do Ibama de 400 carretas de madeira apreendida na cidade de Vilhena, em Rondônia. A carga, avaliada em mais de R$ 860 mil, será leiloada e os valores arrecadados serão destinados ao Fundo Nacional de Erradicação da Pobreza, cujos recursos são aplicados nos programas sociais do governo federal. O ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, também participa.

Trade/ Foi lançada uma revista eletrônica com informações, artigos e vídeos sobre o comércio exterior do Brasil e do Distrito Federal em particular. É o site Comex-DF (www.comex-df.com.br), lançado para cobrir as atividades dos órgãos governamentais, de instituições privadas e das embaixadas e organismos internacionais na área do comércio internacional. O Comex-DF contém informações de interesse do exportador: portal do exportador e calendário de feiras e eventos no Brasil e no exterior.

FERNANDO RODRIGUES

A lei de acesso avança


Folha de S. Paulo - 18/11/2009

Hoje à tarde, na Câmara, será divulgado o relatório sobre o projeto de lei de acesso a informações públicas. Mais de 60 países no mundo têm esse tipo de legislação. O Brasil não faz parte desse grupo, composto não só por EUA e Suécia mas também por México, Chile e Colômbia.

Há indicações de que o texto do deputado Mendes Ribeiro (PMDB-RS) aperfeiçoará a proposta enviada ao Congresso por Lula e Dilma Rousseff no início deste ano. Da forma como nasceu no Planalto, a lei trazia avanços, embora fosse ambígua a respeito de sua abrangência.
Se prevalecer o entendimento do relator, a legislação será válida em todas as instâncias de governo (municipal, estadual e federal) e nos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário.
Há também um aspecto mais arrojado. Autarquias, fundações e empresas públicas ou de economia mista também passam a se submeter à lei de acesso. O mesmo se aplicará a ONGs que recebem financiamento de governos diversos. Grandes caixas-pretas, da Petrobras ao MST, podem chegar ao fim com a aprovação da lei de acesso.
Dois temas polêmicos devem dominar a tramitação desse projeto. Um deles é a instância para recursos quando o acesso a uma informação for negado. O outro é o período máximo de sigilo.
O Planalto deseja usar a Controladoria-Geral da União como órgão recursal. Não funciona. O ministro da CGU jamais terá poder para obrigar um colega na Esplanada a liberar algum dado.
Sobre o tempo máximo antes de liberar um documento, o Planalto propôs 25 anos -mas permitindo renovações indefinidas. Na prática, cria a execrável figura do sigilo eterno. Uma anomalia.
Nos debates sobre a lei de acesso, os deputados terão de decidir se chancelam o desejo do Executivo ou se colocam um limite máximo para as renovações dos sigilos.

GOSTOSAS


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TODA MÍDIA

Hu vs. Obama

NELSON DE SÁ

FOLHA DE SÃO PAULO - 18/11/09


Na manchete de papel do "China Daily", ontem, "Tem lugar para nós dois, diz Obama".
Já na manchete on-line do jornal chinês, "Pedido a Obama: controle os separatistas nos EUA" -sobre a cobrança do presidente Hu Jintao para que ele "pare de deixar secessionistas usarem seu território para separar Tibet e Xinjiang da China".
Em suma, manchete on-line do "New York Times", "Viagem de Obama mostra as diferenças, conforme cresce o papel da China". Entre outras diferenças, no enunciado do "Financial Times", "EUA estimulam China a valorizar o yuan". De sua parte, antes a China já havia "estimulado" o mesmo para o dólar.
E o "Wall Street Journal" fez longo editorial em apoio à posição de Pequim, dizendo que o dólar fraco ajuda na recuperação dos EUA, mas é "jogo perigoso", que já levou Brasil e Taiwan a restringirem aplicações estrangeiras nos dois mercados.

A FOX NEWS VENCEU
Um mês atrás, a diretora de comunicação da Casa Branca abriu guerra à Fox News. Semana passada, anunciou a sua saída do governo, no dia em que o Drudge Report postou que Obama concederia entrevista ao canal. A Casa Branca negou então, mas ontem a Fox News confirmou

ESPERANÇA?
EUA e China, que haviam inviabilizado Copenhague, soltaram comunicado prometendo "metas de emissão". Foi manchete on-line no otimista "Guardian", "Obama e Hu restauram esperança sobre clima".

"ZERO HUNGER"
No encontro da FAO sem "países ricos", como sublinhou o "NYT", Lula foi para a boca de cena, com o papa. No alto das buscas de Brasil, despacho ressaltou que o Brasil "fatura com êxito do Fome Zero", que teria reduzido em 73% a desnutrição

"CRESCIMENTO CHINÊS"
UOL e Terra destacaram ontem a coluna "O Presidente Responde", em que Lula adiantou que "o PIB do terceiro trimestre deve registrar crescimento a um ritmo chinês, de cerca de 9%". Ecoou, sobretudo pela América Latina, em despachos de France Presse e outras. No "Clarín", "Lula promete crescer com taxas chinesas".

A PETROBRAS SALTA
O dia abriu com o "Valor" garantindo que o novo diretor do Banco Central não era indicação do ministro Guido Mantega. O post "+ lido" do Valor Online, depois, avisou que o "mercado avalia" a mudança.
Fim de manhã, no mesmo Valor Online e manchete na Agência Brasil, "Henrique Meirelles diz que chance maior é continuar no BC" _e que não devem sair mais diretores. Em portais como iG e Exame, registrou-se então que o "mercado não se altera", "não se assusta".
Ainda assim, só no fim do dia as ações foram disparar, mas porque a Petrobras anunciou descoberta em Angola. Manchete final do Valor Online, "Petrobras salta e ajuda Bolsa a fechar na máxima do ano".

AINDA MAIS
O ministro da Fazenda não teria poder para indicar o novo diretor do BC, mas foi manchete por toda parte, ontem. Para começar, com nova aposta de PIB.
Em suma, no enunciado da Reuters Brasil, "Mantega prevê ciclo ainda mais forte". Foi parar no site do "WSJ", "Mantega, do Brasil, diz que crescimento pode atingir 6,5% em 2010-2016".

BONDADES
Também falou de imposto, ou melhor, de desoneração. Manchete no UOL, "Medida anticrise custa R$ 25 bilhões, diz Mantega". Logo abaixo, em contraste, "SP ganha R$ 650 milhões com IPTU" e o aumento de até 60%.
E tem mais, manchete de iG e sites econômicos, "Mantega promete agir por exportação competitiva" ou "proteção para a exportação".

FALA, MALAN
Em Londres, o ex-ministro Pedro Malan, "presidente do comitê internacional de assessoria do Itaú Unibanco Holdings", falou à Bloomberg que a moeda brasileira deve se desvalorizar de forma "inteiramente ordenada", desta vez. "Haverá forças naturais na direção da depreciação", opinou, citando a "alta taxa de crescimento".

RUY CASTRO

A fração do noticiário


Folha de S. Paulo - 18/11/2009

Uma enfermeira do hospital da Universidade Luterana, em Canoas, região metropolitana de Porto Alegre, foi presa no sábado acusada de aplicar morfina em recém-nascidos. Fez isso com 11 deles na última semana. Os bebês tiveram parada respiratória e ela, "providencialmente", os reanimou, provando que era capaz de "salvar vidas". Podem não ser os únicos casos nos dois anos em que a moça trabalha lá.
Em Fortaleza, uma mulher deixou seu filho de um ano na mão de um traficante como garantia de que voltaria para pagar a pedra de crack que acabara de comprar. O bandido aceitou a criança e, até hoje, meses depois, a mãe ainda não apareceu para acertar os R$ 2 e recolher o filho. A história é recente, mas já consta de um documentário sobre a esmagadora investida do crack na capital cearense.
Também no fim de semana, em Salvador, uma estudante de 20 anos, grávida de seis meses, foi morta com um tiro no peito. A bala era para seu namorado, com quem ela estava no carro. O rapaz, que, segundo a Justiça baiana, tem antecedentes por tráfico, assalto e homicídio, levou outros dois tiros, mas não vai morrer. Os assassinos foram dois homens numa moto.
E, também em Salvador nos últimos dias, uma menina de dois anos morreu vítima de uma bala perdida, à saída de uma escolinha no bairro Tancredo Neves, quando estava no colo da mãe. Segundo a polícia, o tiro teria sido disparado por traficantes que perseguiam correndo um garoto para lhe cobrar uma dívida de droga.
Sim, eu sei, não há muito em comum entre os casos. Exceto pelo fato de que as vítimas são jovens, as mortes, violentas, há sempre uma droga legal ou ilegal na história e -talvez porque já tenham se tornado rotina- apenas uma fração desses casos chega ao noticiário.

BAR ZIL

FERNANDO DE BARROS E SILVA

No vácuo de Lula


Folha de S. Paulo - 18/11/2009

Lula acredita que o Tribunal de Contas da União é um entrave ao progresso do país. Seu governo quer manietar o TCU para reduzir os efeitos práticos da fiscalização das obras e da aplicação dos recursos públicos. Lula também disse há pouco que a imprensa não deve fiscalizar o poder, mas informar seus leitores. Se for mais que um jogo de palavras, trata-se de uma defesa do jornalismo subalterno. Seria, claro, um enorme retrocesso, mas o traço obscurantista foi logo assimilado ao repertório de disparates de Lula a que, afinal, estamos habituados.
O lulismo começou esvaziando a desconfiança dos mercados. Depois esvaziou os partidos, os movimentos sociais, os sindicatos autônomos, o que restava de vida intelectual independente no país.
Lula ficou cheio de si e hoje aglutina um poder quase incontrastável. Mas, apesar das bobagens que diz, se mantém um democrata. Talvez tenha razão quem acha que Lula representa a parte boa do PT.
Sua aclamação popular, porém, dá ensejo para que o governo venha flertar com tentações autoritárias, bem ao gosto dos "neoestatólatras". Parece ser este o caso da Confecom -a conferência organizada por Franklin Martins para discutir a regulação das comunicações no país.
Segundo as propostas compiladas pelo Planalto, e reportadas ontem por esta
Folha, fica claro que a intenção é expandir e facilitar os negócios da mídia estatal, como a TV Brasil, que ninguém vê, e fortalecer a mídia privada regional e/ou comunitária, que hoje já é dependente da verba do Estado e na prática faz propaganda do governo. Sob a retórica da democratização, o que se busca é esvaziar a imprensa independente, aquela que fiscaliza e dá azia em Lula todas as manhãs.
Seria essa uma demanda da sociedade e da democracia ou uma agenda motivada por algum ressentimento pessoal? Seria uma iniciativa da gestão Lula ou do governo paralelo que o futuro primeiro-ministro começa a operar a serviço de Dilma Rousseff?

CELSO MING

Não há como compensar


O Estado de S. Paulo - 18/11/2009


O presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Armando Monteiro Neto, toma a estrada correta quando afirma, como afirmou ontem, que "é preciso reduzir o custo Brasil e avançar na agenda da competitividade". E acrescentou: "A valorização do real, que agrava o problema, exige mais celeridade na busca da competitividade."

A indústria parece ter entendido que o problema não está na valorização do real (que apenas o agrava), mas na baixa competitividade do produto brasileiro.

Até recentemente, sempre que aumentaram as dificuldades para colocar o produto nacional nos mercados, o governo veio em socorro com "mais câmbio". Ou seja, a desvalorização do real vinha para compensar um problema que, a rigor, não fora devidamente atacado. Agora que a tendência à valorização da moeda é estrutural e dificilmente reversível, não há como garantir a compensação cambial do passado.

O ex-diretor de Política Monetária do Banco Central (BC) Mário Torós pode ser criticado por muita coisa, mas tinha razão ao sustentar que a compra agressiva de dólares pelo BC para a formação de reservas atrai ainda mais dólares para o País. O BC pode ter lá suas razões para manter e até acelerar as compras de moeda estrangeira, mas elas são boas para blindar a economia contra crises, como se viu nessa última, e não para ajudar a reverter a tendência do câmbio numa conjuntura global de desvalorização do dólar ante todos os ativos.

Ainda ontem o ministro da Fazenda, Guido Mantega, assegurava que a cobrança do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), de 2%, na entrada de capitais destinados às aplicações em renda fixa e variável produziu algum efeito na medida em que "reduziu a volatilidade do câmbio". Mas a desvalorização do real não foi conseguida, como observou segunda-feira o presidente do Conselho de Administração do Itaú Unibanco, Pedro Moreira Salles. É improvável que venha a ser conseguida com providências pontuais, como as que vêm sendo tentadas pela Fazenda.

O BC também tem uma pauta de medidas de flexibilização cambial, como a que autoriza os fundos de pensão a investir no exterior. Mas elas vêm na linha da modernização do câmbio e não da desvalorização do real.

O Brasil fez a opção histórica de montar seu sistema econômico com um baixo índice de poupança, de 16% ou 17% do PIB, mais baixo que o padrão asiático (de 33%) e mais ainda que o chinês (de 44%). Isso significa que depende da poupança externa e, nessas condições, não pode dar-se ao luxo, como a China, de ter uma política ativa de câmbio.

A baixa competitividade do produto nacional, que se agrava num momento em que o dólar se desvaloriza globalmente, não pode ser resolvida com "políticas compensatórias", como ontem pedia equivocadamente o presidente da Fiesp, Paulo Skaf.

Não há nada a compensar, como se fazia no passado. O que se pode e se deve fazer é reduzir o custo Brasil por meio da redução da carga tributária, redução dos juros na ponta do crédito, forte investimento em infraestrutura, melhora do sistema de ensino e agilização do sistema judiciário, dentro do que foi reivindicado pelo presidente da CNI.

Mas isso exige forte austeridade das contas públicas, o que contraria a gastança que temos aí.

Confira

Cai a ficha - Aumenta a percepção de que não há saída fácil. O secretário de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Welber Barral, advertiu ontem que "o câmbio não pode ser enxergado como solução sebastiana para o comércio exterior". E pediu redução do custo Brasil.

O ex-diretor de Política Internacional do BC Demosthenes de Pinho Neto foi na mesma direção: "Não vejo mágica para impedir a valorização do real."

E o secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Nelson Barbosa, admitiu que "o desafio do câmbio não será encontrado nos manuais".

GAMBIARRA

MÍRIAM LEITÃO

Lado B do dólar

O GLOBO - 18/11/09


Quando o real sobe, aumenta o choro dos exportadores.

Mas inúmeras empresas ganham com a queda do dólar. Há um outro lado dessa moeda. Um empréstimo da Petrobras no BNDES ficou R$ 1,9 bilhão mais barato. Estudo da Economática em 78 empresas de capital aberto mostra uma queda forte de custos financeiros em empresas endividadas.

Quando o dólar cai, aumenta o investimento.

O economista Affonso Celso Pastore explica que no Brasil existe uma forte correlação entre dólar fraco, importação de máquinas, e investimentos.

O real se valoriza; o preço dos importados cai; as empresas aproveitam para investir (vejam nos gráficos abaixo).

— No Brasil, a formação bruta de capital fixo é muito dependente das importações.

As importações se elevam com a valorização do câmbio real, e isto significa que esta valorização reduz o preço relativo das máquinas importadas, que são fundamentais para a realização dos investimentos — disse.

Com a recessão do final do ano passado, os investimentos no país despencaram. E o dólar fraco está ajudando a reverter esse quadro. Pelos dados do IBGE, depois de nove trimestres seguidos de crescimento, a formação bruta de capital fixo encolheu 9,1% no 4º trimestre de 2008 e 12,3% no 1º trimestre deste ano. No 2º trimestre, houve estagnação. E os próximos dados que o IBGE vai divulgar, no mês que vem, mostrarão que o PIB cresceu com forte aumento do investimento.

O economista Luiz Roberto Cunha, da Puc-Rio, lembra que para o país crescer a taxas de 5%, 6%, é fundamental recuperar o ritmo de investimentos.

— Sem dúvida, há correlação entre queda do dólar e aumento de investimentos. E reduzir o custo dos investimentos é muito importante para um país que pretende crescer forte. Isso ajuda todos os setores da economia, inclusive os próprios exportadores — explicou.

Há outros ganhos. A Economática pesquisou o balanço de 78 companhias de capital aberto do país e constatou que os gastos para cobrir despesas financeiras caíram de 40% no 4º trimestre de 2008 para 5,2% no 3º trimestre de 2009. Isso porque uma grande parte da dívida das empresas era em dólar.

— Isso quer dizer que menos dinheiro está indo para o ralo — diz Fernando Exel, presidente da Economática.

O balanço da Petrobras mostrou que o efeito câmbio sobre um empréstimo de R$ 25 bilhões que a estatal pegou junto ao BNDES — corrigido pela moeda americana — fez com que ele ficasse R$ 1,9 bilhão mais barato. O impacto da variação cambial no balanço da empresa foi positivo em R$ 707 milhões.

O especialista em energia Adriano Pires disse que a Petrobras economizou R$ 4 bilhões na importação de petróleo e derivados de janeiro a setembro deste ano por causa da desvalorização do dólar. A Petrobras importa principalmente óleo leve e diesel.

A Cesp (Companhia Energética de São Paulo) teve lucro no 3º trimestre deste ano porque sua dívida em dólar diminuiu. A dívida total caiu 6,9% no 3º trimestre, na comparação com o anterior, enquanto a dívida em moeda estrangeira despencou 9,6%.

A queda do dólar também segura a inflação porque reduz o custo de produtos com componentes importados.

No atacado, o efeito é mais nítido. Os preços das matériasprimas agrícolas e minerais diminuem porque são cotados em dólar. O IGP-M, da FGV, está com deflação em 12 meses terminados em outubro: -1,31%. Os preços agrícolas ficaram em um ano 4,21% negativos.

Por outro lado, dólar fraco reduz a competitividade da exportação brasileira. Luiz Roberto Cunha lembra, no entanto, que a valorização do real faz parte do movimento geral de alta das moedas em relação ao dólar. É difícil lutar contra isso.

— É importante lembrar que os concorrentes do Brasil também estão passando pelo mesmo processo porque o dólar está se desvalorizando perante quase todas as moedas — disse.

Há outras formas de tornar o produto brasileiro mais competitivo, diz Luis Otávio Leal, do Banco ABC Brasil, como melhorar a infraestrutura, diminuir o custo de impostos e encargos sociais.

Mas para isso é preciso fazer um longo dever de casa.

MARCOS SÁ CORRÊA

Metamorfose contra mudança climática

O ESTADO DE SÃO PAULO - 18/11/09


Contra a metamorfose ambulante, nem a mudança climática aguenta. O presidente Lula já fez a pose de quem vai chegar a Copenhague em grande estilo, sem suor e com fôlego para discursar, como um corredor de maratona que apareceu de repente na reta de chegada.

Dias atrás, seu governo ainda patrocinava no Congresso, pelo ministro Reinhold Stephanes, o combustível legal para novos recordes de emissões de CO2, abrindo o Código Florestal às alas das fronteiras agrícolas. E agora até Stephanes enche a boca com as novas metas estratosféricas do combate ao desmatamento.

Serão, se cumprirmos a palavra empenhada por Lula, 570 milhões de toneladas de CO2 a menos. Entre vírgulas antes reservadas aos conchavos das autoridades monetárias, como as que estimaram as reduções entre "36,1 a 38,9%".

Parece que a ciência exata enfim está a serviço do oportunismo político, revolvendo um tema que o Brasil custou a levar a sério. Mesmo quando hospedou no Rio a Eco-92, os anfitriões mal podiam esperar que estrangeiros virassem as costas para resolver o futuro que realmente mais interessava aos brasileiros: o do governo Collor, já com um pé no ar, outro no impeachment.

Mudança climática é coisa velha, na política internacional. A primeira lei americana para a proteção de espécies ameaçadas data de 1969, ano em que Lula se elegia presidente do sindicato dos metalúrgicos em São Bernardo.

Aquela foi uma fase de avanços ambientais nos Estados Unidos que nós perdemos. Elas levaram o governo Jimmy Carter a baixar leis para a conservação do Alasca, a conter a poluição industrial, a banir o chumbo da gasolina e a perder feio a eleição seguinte.


O Brasil tinha outras prioridades internas, a começar pela de impedir que Carter, em nome de sua política de direitos humanos, cutucasse os princípios hegemônicos que permitiam aos governos militares fazer o que bem quisessem com seus presos políticos.

Essas ameaças à vida, do lado de cá, eram naquele tempo tão concretas que mesmo a esquerda brasileira não tinha cabeça para pensar nos lagos, rios e florestas que, lá fora, as primeiras ONGs discutiam.

ATRASO
As coisas no Brasil têm o dom de parecer novidade mesmo quando chegam atrasadas. Talvez porque nossa história começou em 2003, quando o primeiro relatório governamental sobre aquecimento da terra tinha quase 25 anos, a conferência de Estocolmo sobre meio ambiente, mais de 20, e o diagnóstico científico de que hiperatividade humana desregulava o clima, 15 anos.

Foi nesse período que o Brasil deu para bater recordes de devastação na Amazônia, primeiro no regime militar, depois no civil, como se não tivesse nada a ver com aquela conversa de gringo. Levamos décadas para entender que desenvolvimento não é bem copiar o atraso dos desenvolvidos. Isso veio após muito protesto e divergência científica.

O custo do desflorestamento na Amazônia ou na Mata Atlântica, com um mínimo de boa fé, qualquer um pode ver. Mas seu ganho só aparece em avaliações mais complexas. E é irrisório.

Graças a institutos de pesquisa, como o Imazon, ou de economistas como Carlos Eduardo Young, constatou-se que a pirataria madeireira leva em média 16 anos para produzir uma cidade fantasma habitada por miseráveis na Amazônia. Que os índices de desenvolvimento humano são mais baixos nos municípios mais desmatados do País. E que neles a violência é maior.

Foi dessas prerrogativas que o governo brasileiro relutantemente abriu mão esta semana. Mesmo que tenha dado o braço a torcer para fazer bonito em Copenhague, não custa reconhecer que a velha soberania já foi tarde.

GOSTOSA PELO SISTEMA DE COTAS DO BLOG

DIRETO DA FONTE

Pedra no caminho

Sonia Racy

O ESTADO DE SÃO PAULO - 18/11/09


As escolas públicas podem parar em 2010. A APEOESP - representante dos professores de São Paulo e maior sindicato da América Latina - promete deflagrar greve no início do ano letivo. A pedido do PT? "Isso não tem nada a ver com eleições", jura Maria Izabel Noronha, presidente da entidade e dirigente do partido. Ela conta que a decisão - fruto de encontro de 2.500 delegados da categoria em Serra Negra - será anunciada domingo. Quando termina a Conferência Estadual de Educação.
Mais um bode para José Serra tirar da sala.

No ataque
Silvio Santos estaria de olho é na butique dela.
No caso, na de Luiza Trajano, do Magazine Luiza.

Tá sobrando?
A Câmara autorizou o Planalto a doar R$ 13,6 milhões a... Moçambique.
A verba será usada para a instalação de fábrica de medicamentos contra aids.

Conversa quente
Xico Graziano acha que, com a decisão de Obama e da China, vai esquentar a reunião dos governadores pelo clima - um grupo independente e fora do jogo das potências - no dia 15 de dezembro, em Copenhague.
Como? O recuo dos dois países vai intensificar a cobrança de Estados como São Paulo e Califórnia, que já fizeram a lição de casa.

Bandeira verde
O Greenpeace acionou o Ibama com denúncia contra as Indústrias Nucleares do Brasil por causa de vazamento em mina de urânio. O órgão mobilizou equipe.

Tapete Uniban
A crônica do caso Geisy-Uniban, em vias de extinção, inclui detalhes pouco conhecidos. Alguns deles:
1. Escola e alunos mantiveram o caso em segredo
durante uma semana.
2. Os primeiros filmes no YouTube atacavam a estudante, com títulos do tipo "Veja aqui a p... da Uniban".
3. Fausto Salvadori Filho, o primeiro a denunciar o caso em blog, sofreu ameaças.

PAC da telona
Lula prometeu sexta-feira a Manoel Rangel, presidente da Ancine. Vai lançar pessoalmente o programa Cinema Perto de Você, que contará com recursos do BNDES para construção de salas em cidades onde a concentração da classe C é grande.

Festa na grama
Sábado vai ter prova clássica no Jóquei Clube. Marcio Toledo recebe o xeque Handam Al Maktoum, dos Emirados Árabes - patrocinador da Prova Especial Shadwell Farm - Cacique Negro.

2ª profissão
Isay Weinfeld vai dirigir... show de Maria Lima.

20 por hora
As carroças de Taubaté, em São Paulo, ganharam status de carro.
Desde a semana passada seus condutores têm que andar com habilitação, buzina, placa e se submeter ao... Bafômetro.

Beijo, tchau!
Depois de seis multas e advertências, o Zhi Club - antigo Blen Blen, casa tradicional da Vila Madalena - foi interditado. Por falta de licença de funcionamento.

Hypado, o Mutarelli
Miguel e os Demônios, de Lourenço Mutarelli, vai virar filme. Com roteiro de Tadeu Jungle, Marcelo Muller e Estela Renner.

Na Frente

Adolfo Pérez Esquivel, Nobel da Paz de 1980, apresenta hoje no Memorial da América Latina proposta de criação de uma corte internacional para o julgamento de crimes ambientais. Na estreia do Instituto Cultural Democrático, de Antônio Carlos Malufe.

Roberto Carlos faz hoje show fechado para o Itaú. No Auditório do Ibirapuera.

Ivan Zurita pilota jantar para Kofi Annan, dia 23, no Copacabana Palace, depois do seminário Nestlé Brasil Global. Com show de Mariana Aydar.

Sem crise econômica. O La Tambouille está na sua quarta remessa de tartufo...

James Stewart-Granger lança o livro de fotos Bahia Desconhecida. Hoje, no MuBE.

A Pirelli clicou no hotel Uxuá, em Trancoso, seu tradicional calendário, a ser lançado amanhã em Londres. Estampadas, as tops Ana Beatriz Barros e Miranda Kerr.

Calor gera recorde do Guinness na África do Sul: o do maior número de mulheres de biquíni desfilando juntas. Pelas ruas de Johannesburgo marcharam
nada menos que... 1.690.

MERVAL PEREIRA

Passo em falso

O GLOBO - 18/11/09


A insistência com que o governador Aécio Neves alardeia sua amizade pessoal e afinidade política com o deputado federal Ciro Gomes, candidato potencial do PSB à Presidência da República, e a repetição, por parte deste, da promessa de não se candidatar caso o governador de Minas venha a ser o escolhido do PSDB, é mais uma prova exemplar de como nosso sistema partidário é caótico, gerando governos eleitos sem uma mínima base parlamentar que lhes dê sustentação política efetiva.

Ciro foi de diversos partidos, inclusive da Arena no tempo da ditadura, mas teve sucesso político no PSDB, pelo qual chegou a ser ministro da Fazenda na transição do governo Itamar Franco para o primeiro governo de Fernando Henrique.

Esse período serviu também para que se tornasse adversário ferrenho tanto do ex-presidente quanto de José Serra, a quem, pela gana que tem, deve atribuir uma atuação decisiva para que não tenha continuado ministro da Fazenda.

A atuação de Aécio na tentativa de distender o ambiente político no pós-Lula tem sentido, mas ficou evidente que é uma tarefa quase impossível costurar alianças políticas com adversários figadais nesse período que antecede a eleição.

Ele já tentara uma aliança em Minas com o então prefeito petista de Belo Horizonte Fernando Pimentel para emplacar um candidato comum, Márcio Lacerda (PSB), e esbarrou na negativa do PT nacional.

Ao vetar a aliança na sua instância mais alta, depois que ela fora aprovada pelos diretórios regional e estadual, o PT mostrou que sua visão política é pragmática até certo ponto.

Aceita fazer acordos “até com o diabo”, mas não quer fortalecer uma eventual candidatura tucana à Presidência da República.

Aécio teve que se contentar com um apoio “informal” ao seu secretário, que acabou sendo eleito. Mas não ficou nada da aliança com o PT no estado.

Tanto que Pimentel é um dos coordenadores da candidatura da ministra Dilma Rousseff à Presidência e deve ser o candidato petista ao governo de Minas, com a tarefa de derrotar o governador Aécio, que pretende lançar seu super-secretário Antonio Anastasia.

Para aumentar as diferenças, a candidata oficial pretende ressaltar na campanha suas origens mineiras, embora tenha feito toda sua vida política e profissional no Rio Grande do Sul. Para não perder o controle político de Minas, caso não venha a ser candidato a presidente, Aécio terá que derrotar o petismo, que é forte no estado.

Mas, voltando à relação Ciro/ Aécio: é difícil acreditar que o PSB aceitaria sair da base petista para apoiar Aécio à Presidência, mesmo que Ciro assim o quisesse. Mais difícil ainda é aceitar que Ciro, desistindo do Planalto por Aécio, não se candidatará ao governo de SP, como quer Lula. E, candidatandose, não fará campanha agressiva contra Serra, que, nesse caso, seria candidato à reeleição.

Não é nem o caso de analisar as chances de vitória de Ciro em São Paulo, que são quase nulas em qualquer caso. Simplesmente os ataques de Ciro a Serra inviabilizariam o seu apoio a nível nacional a Aécio.

Portanto, essa estratégia do governador mineiro não serve para nada, a não ser para criar um ambiente de constrangimento dentro do seu partido.

A ideia central da candidatura de Aécio é a de que ele é mais agregador do que Serra, e que sua candidatura seria “mais ampla”, para usar as palavras do presidente do PSDB, Sérgio Guerra, que, de tão inábeis, podem ser tentativa pouco sutil de sinalizar a Serra que abra caminho para Aécio.

Mas, como vender essa imagem se ele não consegue conciliar em seu próprio partido? A busca de apoios em partidos que fazem parte da coligação governista, mas que são claramente peixes fora d’água, como PP e PTB, faz parte de um movimento correto para demonstrar sua suposta maior capacidade de agregar apoios.

Mas fazer provocação pública a seu concorrente e ao presidente de honra do PSDB, FH, em troca de nada, não parece uma estratégia adequada num momento capital como a definição da candidatura oposicionista.

É claro que deve haver alguma razão recôndita para que Aécio, um político experiente, tenha dado esse passo aparentemente em falso, quando encaminhava bem sua justa tentativa de ser escolhido pelo partido.

Talvez ele e seus assessores considerem que assim possa ser visto como um candidato desligado da história do PSDB, e que, por isso, não será apanhado na armadilha que o PT está armando, de comparar os governos de FH e de Lula.

Estaria incorrendo num erro que pode ser fatal, o mesmo em que incorreram Serra e Alckmin, os dois tucanos batidos por Lula: evitar a “contaminação” do governo FH, em vez de assumir suas virtudes e defender o programa partidário.

O mesmo erro Serra está cometendo novamente, na tentativa de se mostrar uma alternativa confiável para eleitores de esquerda que eventualmente possam estar insatisfeitos com a escolha de Dilma.

Até o momento, mesmo admitindose que exorbita de seu poder para tentar colocar em pé a candidatura de Dilma, é o presidente Lula quem está fazendo tudo certo, apesar de ser o PSDB que tem em José Serra o candidato preferido do eleitorado até o momento.

A indefinição do PSDB, e sua divisão cada vez mais clara, contrastam com a unidade governista, mesmo que a candidata oficial seja ruim de voto e não tenha traquejo político.

O que alimenta o apoio de um amplo leque de partidos à sua candidatura é a crença na capacidade de Lula transformar em votos para sua candidata sua grande popularidade.

O PT, com sua gana de poder e seu programa esquerdista reafirmado, deveria ser um empecilho a esse apoio por parte de partidos que confiam em Lula, mas não no PT.

Mas o PSDB teria que lhes dar alguma segurança. Até o momento, não tem nem candidato nem proposta alternativa.

A propósito de informação de que o PSDB gastou R$ 160 milhões na campanha presidencial de 2006, dada na coluna de sábado, “Plutocracia”, recebi o seguinte esclarecimento do vicepresidente executivo do PSDB, Eduardo Jorge Caldas Pereira: “A campanha do PSDB de 2006 custou cerca de R$ 83 milhões, e este número está na página do TSE. A confusão que leva ao erro pode ser a solicitação do TSE, que pediu ao PSDB para registrar, como doação do partido ao candidato, a parcela desses recursos que, segundo o TSE, deveriam estar explicitados como despesas específicas do candidato e não da campanha.

Assim, se trata de dupla contagem, pois o PSDB só arrecadou e só fez dispêndio na conta do Comitê financeiro”.

PAINEL DA FOLHA

Ensaio de orquestra

RENATA LO PRETE

FOLHA DE SÃO PAULO - 18/11/09

Na leitura dos tucanos mais próximos de José Serra, as peças todas se encaixam: o correligionário Aécio Neves e Ciro Gomes (PSB), que ontem trocaram elogios em Belo Horizonte, e os ‘demos’ Rodrigo e Cesar Maia, que agora atiram contra o governador de São Paulo um dia sim e outro também, estão juntos num movimento coordenado para levá-lo a desistir da candidatura à Presidência, que cairia no colo de Aécio.

Este nega. “Por mais que tentem me intrigar com o Serra, nós estaremos juntos em 2010. Quem apostar no contrário vai se dar mal.” Mas e a beligerância de Ciro, que ontem chamou Serra de ‘coiso’? “É um problema”, reconhece Aécio. “Mas eu sempre prefiro buscar a convergência no que interessa ao país.”

Paisagem - Quem conversou com Serra relata que este pretende fazer o possível e o impossível para não reagir publicamente nem ao encontro em Belo Horizonte nem ao bombardeio dos Maias.


Auto-ajuda - Na avaliação de um grão-tucano otimista, “a coisa ainda vai piorar mais para depois melhorar”.


Tic-tac - Mesmo a banda do DEM próxima a Rodrigo Maia acha que filho e pai há muito passaram do ponto. “Eles resolveram colocar uma bomba no casco do navio em que estão viajando”, diz um aliado.


Em resumo - Para Rodrigo, presidente do partido, o problema é a sombra de Gilberto Kassab. Para Cesar, trata-se da ausência de um palanque sólido no Rio para viabilizar sua candidatura ao Senado.

Bronca 1 - Em jantar anteontem com Marina Silva, lideranças do PV cobraram da candidata o fato de ter desaparecido e permitido que a eleição ‘voltasse a ficar plebiscitária’ justamente no momento em que Dilma Rousseff (PT) e Serra passaram a duelar em torno do meio ambiente, agenda da senadora.


Bronca 2 - Marina acolheu parte das críticas, mas fez menção à escassa estrutura de sua pré-campanha e ao fato de que o PV havia decidido não transformá-la numa candidata monotemática. Por enquanto, ficou combinado que ela fará pelo menos um discurso por semana no Senado.


Cabeça feita - Ainda no jantar do PV, Fernando Gabeira reiterou que disputará o Senado, não o governo do Rio.


Emergência 1 - O presidente do PT, Ricardo Berzoini, foi chamado ao Rio para aplacar os ânimos entre os grupos do deputado Luiz Sérgio e do prefeito de Nova Iguaçu, Lindberg Farias, que disputam o diretório local. O primeiro é pró-aliança com o PMDB de Sérgio Cabral. Lindberg quer o governo.


Emergência 2 - Luiz Sérgio afirma contar com o apoio de oito dos dez prefeitos do PT no Estado. “Ele está blefando para não desanimar sua tropa”, rebate Lindberg.

Que tal? - Vereadores paulistanos do PSDB tentam convencer o ex-correligionário Gabriel Chalita, desde anteontem no ar em inserções do PSB, a entregar seu posto na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara. Dizem que não se trata de “nada pessoal”, e sim de “ordem de cima”. Chalita não topa.


Minha filha! - A entrevista coletiva de Dilma pós-apagão ainda rende. Ontem, em reunião da bancada do PT, vários deputados criticaram o desempenho da candidata.

Despacho - Articulador político do Planalto, o ministro Alexandre Padilha enviou aos líderes de partidos governistas no Congresso convite para a pré-estreia de “Lula, o filho do Brasil”, ontem em Brasília.

Tiroteio

É algo sem base real, um factoide. Se Aécio for candidato a senador, e Ciro a presidente ou a governador, eles estarão separados.

Do deputado tucano ARNALDO MADEIRA (SP), sobre o fato de o correligionário Aécio Neves ter dito que gostaria de estar no mesmo projeto político de Ciro Gomes (PSB).

Diga “x’!


Guido Mantega participava dias atrás de audiência na comissão especial da Câmara que trata do projeto de capitalização da Petrobras, dentro do marco regulatório do pré-sal, quando uma voz invadiu o sistema de som:


- Um sorriso, mais um, vamos lá!

Os deputados se entreolharam intrigados. Na dúvida, o ministro da Fazenda abriu um largo sorriso. Logo em seguida, alguém explicou que se tratava de áudio vazado de um estúdio fotográfico improvisado numa sala próxima, mas Mantega não perdeu o rebolado:


- Até que eu fui bem, vai...