sexta-feira, dezembro 24, 2010

O BLOG COMEMORA


Morre em SP o ex-governador Orestes Quércia

SÃO PAULO - Morreu em São Paulo na manhã desta sexta-feira o ex-governador Orestes Quércia. Ele lutava contra um câncer de próstata e estava internado há três meses no Hospital Sírio Libanês. Quércia chegou a se candidatar ao Senado nas eleições deste ano, mas desistiu para se tratar da doença. Quércia deixa a mulher Alaíde e três filhos.

O BLOG COMEMORA:  MENOS UM CORRUPTO 
FALTA SARNEY, MALUF, LULA...

GOSTOSA

NELSON MOTTA

Cartas marcadas, dados viciados
NELSON MOTTA 
O Estado de S.Paulo

A vida é um jogo, em que se ganha e se perde. Parece filosofia de para-choque de caminhão, frase lapidar de uma crônica de Sarney, ou um velho e surrado lugar comum, mas é uma evidencia incontestável.

Só a burrice bem intencionada, o moralismo seletivo ou a hipocrisia crônica, ou tudo isso junto, impedem a discussão e regulamentação dos bingos e cassinos no país do jogo do bicho e de todas as loterias, mega-senas e raspadinhas exploradas pelo Estado. A diferença é que o apostador tem melhores chances de ganhar no bingo, na roleta e no black jack do que nas loterias estatais aleatórias. E com muito mais diversão e emoção.

Hoje a tecnologia oferece todos os meios para um controle eficiente dos bingos. Basta uma rede de internet que os mantenha interligados em tempo real com uma central de controle que registra e analisa todas as operações. Vale o digitado. Prêmios acima de R$ 1 mil pagos em cheque nominal, com cópia para a Receita. Licitações públicas para a exploração de um número restrito de bingos por bairro e por cidade. Quem quiser cumprir a lei e aceitar os controles terá lucros legítimos, já a bandidagem interessada em subprodutos mais lucrativos do bingo vai cair fora.

Os cassinos americanos, argentinos, suíços, italianos e portugueses, alguns estatais e a maioria privados, funcionam há décadas sem problemas e geram empregos, impostos e turismo. Por que não no Brasil? Não deve ser por amor à família, à moral e aos bons costumes que os nossos congressistas não conseguem legalizar o jogo.

Las Vegas, a capital mundial da jogatina, se transformou em um dos grandes destinos turísticos das famílias americanas, com seus hotéis temáticos, seus espetáculos e atrações infanto-juvenis. Tudo é feito para divertir e entreter os filhos, enquanto os pais jogam e assistem a shows. Fundada por gângsteres, Las Vegas virou uma das cidades mais seguras e familiares dos Estados Unidos.

Afinal, a crise de 2008 provou que Las Vegas é coisa de criança diante das mesas de operações de Wall Street, o grande cassino global em que fortunas são ganhas e perdidas - com o dinheiro dos outros.
CLUBE DO MILHÃO 
MÔNICA BERGAMO

FOLHA DE SÃO PAULO - 24/12/10

O cantor Roberto Carlos anuncia nos próximos dias uma parceria com a Credicard e o Citibank para lançar um cartão de crédito com seu nome. O contrato terá a duração de dez anos. 

OS AMIGOS DO REI 
As duas empresas e o cantor ambicionam atrair "1 milhão de amigos" de Roberto para o produto. 
O cartão de crédito deve oferecer vantagens como programa de milhagem e também benefícios ligados a eventos do artista. 

TIME DO CORAÇÃO 
A CEF (Caixa Econômica Federal) estuda lançar em breve um novo produto para ajudar a engordar a receita dos times brasileiros de futebol. Será um título de capitalização, nos moldes da Tele Sena. O torcedor poderá adquiri-lo por um valor que será destinado ao clube que ele indicar. Com a cartela que comprou, concorrerá a prêmios como casa e a produtos de seu time. 

NA ÁREA 
O projeto, em fase de finalização, já tem até nome: "É Gol". Pode ser lançado ainda em janeiro. 

BOCA LIVRE 
O governo federal adotou novo entendimento e passou a considerar que policiais têm direito, garantido na Constituição, de manifestar opinião à imprensa, em fóruns de discussão ou em blogs. E só estão sujeitos a punição se cometerem crime ou quebra clara de hierarquia. A decisão foi formalizada em portaria conjunta do Ministério da Justiça e da Secretaria Nacional de Direitos Humanos. Ela representa um golpe na "lei da mordaça" na atividade policial. 

AGORA PODE 
No começo do ano, a "mordaça" fez vítima notória: o deputado eleito Protógenes Queiroz (PC do B-SP), suspenso por dois dias por ter postado que havia sido afastado das atividades de delegado porque isso "possivelmente" favoreceria Daniel Dantas, do Opportunity. O banqueiro foi investigado na Operação Satiagraha, comandada por Queiroz. 

SIMPLES ASSIM 
O filme que o diretor Bruno Barreto está fazendo sobre a vida do maestro João Carlos Martins já tem nome. 

FESTA EM DOSE DUPLA 


O arquiteto Paulus Magnus reuniu amigos para uma festa de final de ano em sua casa. Aproveitou para cantar parabéns atrasado, já que estava viajando em novembro, quando fez aniversário. Ele recebeu convidados como a DJ Lara Gerin, a designer Daniela Cutait e a estilista Helena Linhares.

CAUSA NOBRE 
A Credipaz, que concede microcrédito aos moradores da favela do Sapé, fez um leilão beneficente no Café de La Musique. A presidente do instituto, baronesa Lorian von Fürstenberg, contou com a presença dos pais, conde Raffaele Leonetti e condessa Graziella Matarazzo. O banqueiro Louis Bazire também participou.

NO RINGUE 
O lutador Anderson Silva entabulou negociações com a 9INE, empresa de marketing esportivo de Ronaldo, Marcus Buaiz e WPP que pretende dar consultoria a atletas de primeiro time na área. Além dele, também Kaká e Pato conversam com o craque sobre parcerias. 

NA LUA 
Ainda Ronaldo e Buaiz: a dupla procura um ponto entre Ipanema e Leblon, no Rio de Janeiro, para abrir uma filial do clube Royal na cidade. 

TÃO PERTO 
O fotógrafo J.R. Duran conseguiu o ok do presidente Lula para fotografá-lo com pessoas que conviveram com ele na intimidade do palácio em Brasília. Nada de ministros, assessores diretos ou familiares. A ideia é clicá-lo com funcionários do palácio, seguranças, cozinheiros, motoristas que estiveram quase sempre ao lado do petista sem nunca aparecerem na frente dos flashes. 

NÃO ME TOQUES 
A atriz Jennifer Aniston levou divisórias para o set e exigiu que as pessoas ficassem a pelo menos seis metros dela nas filmagens de "Wanderlust", seu novo trabalho. 

CURTO-CIRCUITO

A festa Buon Giorno fará hoje, a partir das 23h59, sua terceira edição, no espaço Villa Lobos. Classificação: 18 anos. 
O Natal do clube Lions terá apresentações da banda Mecanika e dos DJs Mau Mau, Mat Pereira e Fernando Moreno, a partir de 1h. 18 anos. 
O clube Glória fará a festa Crew de Natal. 18 anos. 
A Trash 80's terá mesa de frutas e distribuição de panetones depois da meia-noite, no clube Caravaggio. Amanhã à noite, a balada encerra a temporada com festa de pré-Réveillon e aniversário do DJ Tonyy. Classificação: 18 anos. 
Renato Carioni faz a ceia de Natal do restaurante Così, nas unidades de Higienópolis e Vila Nova Conceição. 

com DIÓGENES CAMPANHALÍGIA MESQUITA e THAIS BILENKY

GOSTOSA

JOSÉ SIMÃO

Ueba! Vou na capota do avião!
JOSÉ SIMÃO
FOLHA DE SÃO PAULO - 24/12/10

Sei como resolver a greve dos aeroviários: passa um CHEQUE VOADOR pra cada um deles! Pelo menos voa!


BUEMBA! BUEMBA! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República!
Zona aérea! A greve está suspensa. Mas os atrasos estão mantidos. Rarará! Eu quero ir pra Bahia. Nem que seja na capota do avião. Que nem trio elétrico! Avião é a coisa mais segura do mundo. Quando vai aterrissar, o piloto grita: "SEGUUUUUUURA!". Rarará!
E eu sei como resolver essa greve dos aeroviários. Passa um CHEQUE VOADOR pra cada um! Ué, não é aeroviário? Vocês querem quanto? Um milhão e meio de reais? Taí, cheque voador, vuuuum! Pelo menos voa! Rarará! Eu só quero ver quando tiver a greve dos usuários!
E a melhor manchete do dia: "Santos combina vender 5% do Ganso com desconto". Eu acho que eu vou trocar o peru pelo ganso. Ceia de ganso com desconto! Rarará!
E um amigo pretende embarcar na véspera do Ano-Novo. E quer saber a programação de festas de Réveillon nos aeroportos! Pretende embarcar no aeroporto que prometer a melhor festa. Queima de fogos em Cumplica! Grande virada no Galeão! Rabanada em Brasília!
E o que eu vou fazer no Natal? O que eu faço todo ano: vomitar no tapete da sogra e fazer xixi no elevador do prédio! Rarará!
E a pior coisa do Natal: aquele cunhado bêbado que fica contando piada do Lula. Que a gente já ouviu o ano inteiro! E Natal é a data mais incoerente do mundo: matam o peru e fazem missa pro galo! E depois mostram o papa na janela. Por isso que o papa vive gripado. Rarará!
É HOJE! RUMO AO PERU DA SOGRA! Por que todo peru é o peru da sogra? Tem um amigo meu que vai passar a ceia na casa da sogra. Eu quero peru do pé duro. Aquele criado em quintal!
E tem a maionese da tia. Pensam que eu me esqueci da maionese da tia? Aquela maionese que ela nunca acertou o ponto!
Natal é uma promiscuidade: o primo corno, a prima ninfomaníaca e a sogra de joanete e calcanhar rachado! E o vizinho que chega de repente e fica encoxando a cunhada no corredor. Rarará!
E perguntaram pra uma quenga: "O que você pediu pro Papai Noel?". "A mesma coisa que eu peço pra todo mundo, R$ 50." Rarará! Nóis sofre, mas nóis goza! Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!
FELIZ NATAL, MACACADA!

EDUARDO NOBRE E SILVIO GARRIDOO

MP precisa conhecer seus limites
 Eduardo Nobre e Silvio Garrido   

O Estado de S. Paulo - 24/12/2010


Nunca é demais lembrar que o Ministério Público (MP) é um dos responsáveis pela manutenção da ordem jurídica e obediência aos ditames da nossa Carta Magna. Desta forma, não se pode admitir que, sob o pretexto de promover o bem comum e comprovar cometimento de ilícitos pelos cidadãos, o MP possa atropelar as garantias e os direitos fundamentais resguardados em nossa Constituição federal.
É louvável, portanto, a decisão proferida recentemente pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ)nos autos da Suspensão de Segurança n.º 2.382. A questão teve início com a instauração, pelo Ministério Público paulista, de inquérito civil com a finalidade de apurar notícias de irregularidades praticadas por membros da Igreja Universal do Reino de Deus. Durante as investigações, o MP expediu solicitação de assistência legal mútua entre Brasil e EUA, a fim de que as autoridades destinatárias do pedido de cooperação providenciassem informações relativas a operações bancárias indicadas como ilícitas pelo inquérito.
O pedido de cooperação, todavia, não teve autorização prévia da Justiça brasileira, partindo diretamente do MP para o exterior. Em outras palavras, a intenção do MP era obter a quebra do sigilo bancário dessas pessoas no exterior sem que antes obtivesse autorização da Justiça.
A Igreja Universal impetrou mandado de segurança contra ato do promotor de Justiça da 9.ª Promotoria de Justiça do Patrimônio Público e Social de São Paulo. Pediu, ainda, a cassação da solicitação de assistência legal, argumentando que a quebra de sigilo bancário depende de prévia autorização judicial. Em primeiro grau, a ordem foi concedida para tornar nulo o teor da solicitação de assistência mútua, que objetiva a quebra do sigilo bancário. A decisão considerou que o pedido não continha a prévia e necessária autorização judicial.
O MP pediu ao Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP) a suspensão da sentença. Segundo afirmou, a investigação visa a apurar a utilização indevida de entidades de fins religiosos, inclusive com desvio de valores para enriquecimento de particulares. O MP explicou, ainda, que a assistência solicitada consistiu na apreensão ou no congelamento de bens e quebra do sigilo de contas bancárias declinadas, com o fornecimento de documentos dos investigados a partir do ano de 1992.
A sentença foi mantida. O TJSP considerou que, por mais relevantes que sejam os fatos objeto de investigação, as providências iniciadas por meio da cooperação judicial não podem deixar de observar os procedimentos e as restrições legais vigentes nos países parceiros, principalmente quando puderem resultar na obtenção de informações pessoais e sigilosas relacionadas à vida privada e à intimidade. Inconformado, o MP recorreu ao STJ, com pedido de suspensão de segurança, alegando grave lesão à ordem pública.
Ao se deparar com um desses cada vez mais constantes abusos por alguns promotores, o ministro Ari Pargendler entendeu por determinar imediatamente a suspensão da cooperação jurídica firmada pelo MP sem prévia autorização judicial, reafirmando, assim, o entendimento de que o Ministério Público não pode violar o direito ao sigilo bancário dos indivíduos sem que, para tanto, previamente requisite e, principalmente, obtenha expressa autorização judicial. A decisão serviu para demonstrar que o MP também está adstrito à tripartição das funções do poder estatal, não podendo desrespeitar as normas legais e devendo se submeter às ordens que emanam do Poder Judiciário.
O caso em questão desperta ainda mais a atenção porque se tratava de uma investigação no exterior, onde o MP buscava obter do governo do EUA a quebra de sigilo bancário dos investigados no Brasil, contudo, sem a devida autorização de autoridade judicial brasileira. Vale lembrar que as cooperações internacionais vêm sendo comumente utilizadas pelo MP tanto no âmbito criminal como no civil, e esta decisão, de forma correta, impôs clara e devida limitação ao poderes do Ministério Público.
Bem afirmou o ilustre presidente do STJ, ministro Ari Pargendler, que "salvo melhor juízo, a autoridade brasileira (no caso, o Ministério Público), portanto, não pode obter no exterior, pela via da colaboração jurídica internacional, o que lhe está vedado, no exercício da competência própria, no País. Sob esse viés, parece temerário autorizar o MP a solicitar a quebra de sigilo bancário no exterior, sabido que no Brasil essa providência depende de ordem judicial. Tanto mais que a quebra do sigilo bancário é fato irreversível, e que, portanto, caracteriza o perigo inverso: o de que o sigilo bancário seja quebrado e posteriormente declarado ilegal."
Contudo, em sede de reconsideração, entendeu o ministro por permitir que a cooperação se desse sem a anuência do Judiciário brasileiro. O fundamento para reconsiderar a decisão inaugural foi de que competiria às autoridades estrangeiras, com base em sua legislação, apreciar o pedido de quebra de sigilos. Não concordamos, com a devida vênia, com esse argumento, notadamente quando, como ocorria naquele caso, o objeto da investigação é cidadão brasileiro e os atos a ele atribuídos tiveram sido aqui praticados. O MP deveria não só observar as regras do Estado estrangeiro, como também as vigentes no Brasil, sob pena de cometer nulidades e infrações à nossa Constituição.
No caso aqui mencionado, a discussão acabou não sendo concluída. Ao ser informado pela parte interessada de que a ação penal em que seriam utilizadas as informações obtidas via cooperação internacional foi anulada pelo TJSP, o ministro relator do STJ novamente suspendeu a cooperação, abrindo prazo para que o MP se manifestasse. Embora ainda não haja uma decisão final do STJ, o posicionamento apontado na decisão inaugural deve ser visto com bons olhos, haja vista que reforça o entendimento de que a atuação do MP se deve dar em estrita observância aos preceitos constitucionais, sob pena de ser rechaçada judicialmente.

GOSTOSA

SONIA RACY - DIRETO DA FONTE

Inveja mata
SONIA RACY
O ESTADO DE SÃO PAULO - 24/12/10

O ano para o Grupo Votorantim foi muito bom, com os negócios voltando aos níveis anteriores à crise. Estão contabilizando lucro recorde de R$ 5 bilhões. Um crescimento de quase 10% sobre 2009.
Remédio mata
O escândalo do desvio de emendas parlamentares para fins turísticos, levantados pelo Estado, bateram na área cultural. Entidades privadas, sem fins lucrativos, não poderão mais receber recursos dessas emendas. O que inclui a Flip e a Festa do Peão de Barretos.
A Flip desconhece o assunto.
Corte
Dilma informou a integrantes da equipe de transição: quer renovar velhas práticas do cerimonial. A presidente eleita deve fazer "performance majoritariamente solo" durante a posse. Tradicionalmente, o líder do Executivo recebe os cumprimentos acompanhado da primeira-dama, do vice e sua mulher.
A assessoria do cerimonial diz que nada está decidido.
Vapt-vupt
Emilio Botín, do Santander, deu rasante em São Paulo. Assinou convênio com a USP e avalizou as trocas no banco por aqui. Poucas horas depois... voltou para Madri.
Os com teto
Como a Justiça não pode tirar o único imóvel de uma família, os advogados de Edemar Cid Ferreira pedem reintegração de posse da casa na rua Gália, avaliada em R$ 10 milhões.
O outro lado contesta. Márcia Cid Ferreira tem apartamento na rua Pierre Blancher, 171, apto 404, no Rio. E chácara na rodovia Raposo Tavares.
Pedaço de mim
Hoje faz um ano que Sean Goldman foi entregue ao pai americano, David. Sem vê-lo há um ano, João Paulo Lins e Silva, padrasto, decidiu criar Twitter sobre o garoto. Endereço: @saudadedesean.
Bond, o James
A Volvo inventou sistema de segurança inédito. Ao toque de botões no teto dos seus carros, localizará o veículo via satélite. E por meio de um atendente, pode-se chamar guincho, resgate ou ambulância.
Se o botão for acionado e o motorista não responder, a segurança corta combustível, destrava as portas e... toma providências. A partir de janeiro.
Wally no gelo
Onde está Serra? Ao ser indagado sobre paradeiro do tucano, amigo íntimo atirou: "Está em uma montanha suíça com a família sem saber se é melhor ser campeão de esqui ou candidato à Presidência".
Serra: campeão do Mundial de 2011 em Garmisch, na Alemanha?
Himalaia
Fonte da Vale teve tempo para fazer contas que dão a dimensão da maior mineradora de ferro do mundo. Vamos lá:
O concreto consumido só em projetos em construção significam 36 Maracanãs. A movimentação de terras nos processos de terraplanagem equivale à escavação de duas Itaipus. Muito? Não. A medição da quantidade de material na montagem eletromecânica daria para fazer... 60 torres Eiffel.
Na frente
Acontece hoje a badalada festa Buon Giorno. No Espaço Villa Lobos.[17 E 18/12]
Las Chicas, o novo restaurante de Carla Pernambuco, já tem nova data para abrir: 18 de janeiro. Nos Jardins.
Alex Atala, DJ Marky, Alex Hornest e os irmãos Campana estão na nova campanha da SPTuris, assinada pela Lew''LaraTBWA. A produção é de Fernando Meirelles.
Correção: faltou identificar, na coluna de ontem, o casal Sérgio Gordilho e Renata Castro.
Descoberto: certa indústria farmacêutica estuda patrocinar... Pedro Novais, o ainda futuro Ministro do Turismo. 

MERVAL PEREIRA

O mito Lula
Merval Pereira
O GLOBO - 24/12/10

A despedida do presidente Lula transmitida ontem em cadeia nacional de rádio e televisão tem pontos comuns com dois outros documentos que já fazem parte da história política recente do país, a carta-renúncia de Jânio Quadros de 25 de agosto de 1961 e, principalmente, a carta-testamento de Getulio Vargas, de 23 de agosto de 1954. Os momentos políticos são diferentes, evidentemente, mas os três textos são narrativas de corte populista e espelham a vontade de permanecer com papel ativo na política brasileira.

O deputado federal Chico Alencar, do PSOL do Rio, reassumiu momentaneamente seu lado de professor de história para identificar algumas dessas semelhanças.

O famoso "saio da vida para entrar na História" de Getulio tem como similar um "saio do governo para viver a vida das ruas".

A presença quase mística, sempre que o "povo sofrido" estiver humilhado, como Vargas destacou, tem o sucedâneo no "onde houver um brasileiro sofrendo quero estar espiritualmente ao seu lado", e "que minha lembrança lhes traga um pouco de conforto".

O tom épico, com alguma pitada dramática, também esteve presente na carta-renúncia de Jânio, naquele agosto de 1961.

De fato, existem essas e muitas outras semelhanças, sobretudo de tom populista, embora o texto da carta-testamento seja superior em termos de estilo e ênfase.

Getulio Vargas, sabendo que, com o suicídio, transformava uma derrota em vitória política, escreveu: "E aos que pensam que me derrotaram respondo com a minha vitória. Era escravo do povo e hoje me liberto para a vida eterna. Mas esse povo de quem fui escravo não mais será escravo de ninguém". E com a certeza de que saía "da vida para entrar na História".

Jânio Quadros, "vencido pela reação", deixou o governo "com o pensamento voltado para a nossa gente, para os estudantes, para os operários, para a grande família do Brasil", encerrando "esta página da minha vida e da vida nacional", mas, ao que tudo indica, esperava que a renúncia não fosse aceita para voltar ao governo com plenos poderes.

Todos os três colocam-se como defensores do povo. Jânio afirma na carta-renúncia: (...) "baldaram-se os meus esforços para conduzir esta nação, que pelo caminho de sua verdadeira libertação política e econômica, a única que possibilitaria o progresso efetivo e a justiça social, a que tem direito o seu generoso povo".

Lula diz que se algum mérito teve foi "haver semeado sonho e esperança". "Meu sonho e minha esperança vêm das profundezas da alma popular - do berço pobre que tive e da certeza que, com muita luta, coragem e trabalho, a gente supera qualquer dificuldade. E quando uma pessoa do povo consegue vencer as dificuldades gigantescas que a vida lhe impõe, nada mais consegue aniquilar o seu sonho, nem sua capacidade de superar desafios".

Já Getulio, na sua carta-testamento, afirma: "Precisam sufocar a minha voz e impedir a minha ação, para que eu não continue a defender, como sempre defendi, o povo e principalmente os humildes. Sigo o destino que me é imposto. Iniciei o trabalho de libertação e instaurei o regime de liberdade social. Tive de renunciar. Voltei ao governo nos braços do povo".

Tanto Lula quanto Getulio atacam "as elites". Escreveu Getulio: "À campanha subterrânea dos grupos internacionais aliou-se à dos grupos nacionais revoltados contra o regime de garantia do trabalho. A lei de lucros extraordinários foi detida no Congresso. Contra a justiça da revisão do salário-mínimo se desencadearam os ódios. Quis criar a liberdade nacional na potencialização das nossas riquezas através da Petrobras, mal começa esta a funcionar, a onda de agitação se avoluma. Não querem que o trabalhador seja livre. Não querem que o povo seja independente".

Lula também usou a Petrobras na despedida: "Também estamos fazendo os maiores investimentos mundiais no setor de petróleo, principalmente a partir da descoberta do pré-sal, que é o nosso passaporte para o futuro".

E atacou os que governaram o país, segundo ele, com visão elitista: "Se governamos bem, foi principalmente porque conseguimos nos livrar da maldição elitista que fazia com que os dirigentes políticos deste grande país governassem apenas para 1/3 da população. E se esquecessem da maioria do seu povo, que parecia condenada à miséria e ao abandono eternos".

Getulio Vargas deixou em sua carta-testamento um registro emocionado da ligação com o povo. "Quando vos humilharem, sentireis minha alma sofrendo ao vosso lado. Quando a fome bater a vossa porta, sentireis em vosso peito a energia para a luta por vós e vossos filhos. Quando vos vilipendiarem, sentireis no meu pensamento a força para a reação. Meu sacrifício vos manterá unidos e meu nome será a vossa bandeira de luta".

Lula foi pelo mesmo caminho: "Minha felicidade estará sempre ligada à felicidade do meu povo. Onde houver um brasileiro sofrendo, quero estar espiritualmente ao seu lado. Onde houver uma mãe e um pai com desesperança, quero que minha lembrança lhes traga um pouco de conforto. Onde houver um jovem que queira sonhar grande, peço-lhe que olhe a minha história e veja que na vida nada é impossível. Vivi no coração do povo e nele quero continuar vivendo até o último dos meus dias".

O Lula da fase de líder sindicalista defendia o fim da Era Vargas, dizia que a CLT é o "AI-5 dos trabalhadores" e ironizava Vargas como sendo o "pai dos pobres e mãe dos ricos".

Hoje, a CLT e a unicidade sindical (apenas um sindicato por categoria em cada município), marcos da Era Vargas, persistem e foram aprofundados com o reconhecimento das Centrais Sindicais e o aparelhamento do Estado, atualizando o peleguismo e o corporativismo.

E Lula tenta virar um "Vargas vivo", o que mais temia Fernando Henrique Cardoso na crise do mensalão, referindo-se à possibilidade de um impeachment transformar Lula em vítima, assim como o suicídio transformou o sentimento do povo em relação a Getulio Vargas.

A coluna volta a ser publicada no dia 4 de janeiro. Feliz Natal a todos.

FANTASMA

FERNANDO DE BARROS E SILVA

Chanchada na largada
Fernando de Barros e Silva
 FOLHA DE S. PAULO - 24/12/10

SÃO PAULO - O futuro ministro do Turismo de Dilma Rousseff patrocinou com dinheiro público uma noitada a amigos no Motel Caribe, na periferia de São Luís. Até ontem uma figura obscura e irrelevante da política nacional, o deputado Pedro Novais, do PMDB maranhense, usou R$ 2.156 da sua "verba indenizatória" (R$ 32 mil mensais, além do salário) para pagar essa farra privada. Aconteceu em junho.

Uma porção de rabanadas natalinas a quem adivinhar: quem é, quem é o padrinho da indicação do animado deputado ao ministério? Sim, o próprio. José Sarney, em parceria com Henrique Eduardo Alves (RN), o líder do PMDB na Câmara.

Flagrado agora pelo jornal "O Estado de S. Paulo", Novais "corrigiu o erro", como ele disse, e devolveu o dinheiro. Deveria fazê-lo fantasiado de Papai Noel, o bom velhinho.

Ontem, quem alegou "erro administrativo" foi a futura ministra da Pesca, Ideli Salvatti, do PT-SC. A Folha revelou que a senadora gastou mais de R$ 4 mil de verba indenizatória para pagar diárias de um hotel em Brasília, ao mesmo tempo em que recebia o auxílio-moradia.

Ideli, Novais, Pesca, Turismo... Não é o caso de perguntar o que essa gente fazia no hotel ou no motel -e sim o que vai fazer no governo.

O Ministério da Pesca é uma piada em si. E o Turismo se transformou nos últimos anos num entreposto de emendas fajutas, uma espécie de Casa das Fraudes a serviço de conchavos parlamentares.

Dilma deveria levar mais a sério o pouco que falou depois de eleita. Na sua primeira entrevista coletiva, ela disse o que buscava nos seus ministros: "Vou exigir competência técnica, desempenho, um histórico de pessoas que não tenham problemas de nenhuma ordem".

Ao tolerar que a periferia do primeiro escalão do governo seja loteada na base da chanchada, a presidente desautoriza a si mesma e destrava portas que não deveria. Não é a melhor maneira de subir a rampa. Sobretudo para quem bancou Erenice Guerra na Casa Civil.

VINICIUS TORRES FREIRE

Casa, carros e plástico-bolha
Vinicius Torres Freire
FOLHA DE S. PAULO - 24/12/10

Apesar de certa histeria com alta do crédito para imóveis e veículos, parece muito remota a hipótese de bolha



O crédito no Brasil cresce à taxa de 20% ao ano. Quase nada cresce a 20% ao ano -com exceção de cogumelos depois da chuva e das cidades-fantasmas da especulação imobiliária chinesa. O estoque de crédito no Brasil, além do mais, cresce ao quíntuplo do ritmo médio da economia nos últimos oito anos, quando o PIB avançou, em média, 4% ao ano. Apenas nos últimos 12 meses, o crédito para habitação subiu 54%; o para veículos, 48% (afora operações de leasing, que vêm murchando desde julho de 2009).

Essas disparidades suscitam conversas sobre bolha, em particular nos mercados imobiliário e de veículos. As definições de bolha são um tanto controversas ou imprecisas. Mas nem todo excesso financeiro é bem uma bolha, que tem consequências mais graves do que ondas de inadimplência derivadas de uma demasia de empréstimos.

Mas quão importantes em relação ao PIB são ou ficaram os financiamentos para imóveis e veículos?

O estoque de crédito para habitação, segundo dados divulgados ontem pelo Banco Central, relativos a novembro, equivale a 3,7% do PIB, mais ou menos um terço do registrado em países como Chile e México -um nada, pois. Os executivos do setor imobiliário de bancos privados, da Caixa Econômica Federal e de associações do setor vêm dizendo que o crédito para imóveis pode ir, sem problemas e rapidamente, para 10% do PIB em quatro anos.

Além de pequeno, o crédito imobiliário no Brasil é conservador. Aqui, as entradas do financiamento imobiliário são grandes, muito acima da média de países comparáveis, assim como a inadimplência é bem inferior (até devido ao fato de o comprador do imóvel já ter comprometido muita renda na entrada do financiamento). A participação de instrumentos financeiros mais complexos no financiamento ou no refinanciamento imobiliário é minúscula.

Nosso mercado, nesse aspecto, ainda é tão primitivo que limita o aparecimento de bolhas.

No caso da compra de veículos, a situação é mesmo algo mais enrolada, pelos motivos sabidos. Há financiamentos longuíssimos para um bem que perde um terço do valor em um ano, que dirá em quatro ou cinco. Logo, em caso de inadimplência o credor recupera parte muito pequena da dívida se retomar e vender o "colateral", a garantia, o próprio bem. Enfim, o BC acaba de dar um jeito de evitar eventuais excessos perigosos, com medidas que induzem a limitação de prazos de financiamento e/ou o encarecem.

Isso não significa desprezar o fato de que, por exemplo, o crédito para pessoas físicas crescia ainda rápido demais em novembro. Porém, isso tem mais cara de problema macroeconômico do que de bolha.

Evidentemente, uma parada súbita e catastrófica da economia pode encardir o balanço dos bancos. Porém, a economia e os bancos passaram bem nesse teste, na crise de 2009. O grande problema financeiro daquele ano foram os derivativos cambiais, uma farra incompetente promovida por grandes empresas em conluio com bancos estrangeiros, em operações não reguladas.

No que há de mais visível, o crédito bancário, as coisas parecem bem administradas. Mas aparentemente ainda resiste no país um medo do crescimento econômico, temor que se manifesta em especial quando pessoas comuns vão às compras.

GOSTOSA

ILIMAR FRANCO

Um lugar para Ciro
Ilimar Franco
O Globo - 24/12/2010


Fora do Ministério, Ciro Gomes agora quer ser presidente do Banco do Nordeste. A presidente eleita, Dilma Rousseff, disse ao governador Cid Gomes (CE) e à direção do PSB, no entanto, que quer preencher esse cargo com um quadro técnico, e não com um político. O PT do Ceará quer emplacar na presidência do BNB o atual superintendente estadual do órgão, Isidro Moraes de Siqueira.

Foi muito desgastante esse processo todo. E o Ciro atirou em todas as direções" - Eduardo Campos, presidente do PSB, em jantar anteontem no Palácio da Alvorada, sobre a montagem do governo Dilma Rousseff

Dança das cadeiras na Saúde

Secretário de Planejamento de Belo Horizonte, Helvécio Magalhães será o novo titular da Secretaria de Atenção à Saúde (SAS), que responde por 70% do orçamento do Ministério da Saúde e faz a articulação do SUS com estados e municípios. Ele foi secretário de Saúde de BH na gestão de Fernando Pimentel (PT), uma das pessoas mais próximas da presidente eleita, Dilma Rousseff. Hoje, a SAS é dirigida por Alberto Beltrame, indicado pelo PMDB gaúcho. Já Fausto Pereira dos Santos, ex-diretor-presidente da ANS, está cotado para a Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos, no lugar de Reinaldo Guimarães.

NA POLÍTICA. O ministro José Gomes Temporão (Saúde) se filiou ao PSB. O projeto do partido é lançá-lo para a prefeitura do Rio em 2012, mas o plano de Temporão, por enquanto, é disputar um mandato de deputado federal. Embora estivesse no governo na cota do PMDB, Temporão foi indicado para o Ministério por Roberto Kalil, médico do presidente Lula. Ele será substituído na pasta por Alexandre Padilha (PT).

Evitando ruídos

No jantar com ministros, ex-ministros e a equipe de Dilma Rousseff, anteontem, o presidente Lula disse que a presidente eleita fará um grande governo e, com certeza, vai disputar a reeleição. Ele tem deixado no ar sua volta em 2014.

Agnelo e Cristovam rompidos

O governador eleito Agnelo Queiroz (DF) e o senador Cristovam Buarque (PDT-DF) nem se cumprimentaram no jantar no Palácio da Alvorada, anteontem. Senador mais votado do Distrito Federal, Cristovam havia indicado Marcelo Aguiar para a Secretaria de Educação, mas Agnelo nomeou a professora Regina Gracindo (UnB). "Eu soube da nova secretária pela TV. Tive um papel fundamental na eleição dele", reclamou o senador.

Questões sensíveis

Em telegrama confidencial de setembro de 2005, o conselheiro da embaixada americana Phillip Chicola classifica como "imaturidade política" a "hipersensibilidade" brasileira a questões vistas como uma ameaça à soberania nacional. Cita como exemplo o suposto interesse dos EUA pela Amazônia. E trata como questões sensíveis a política de imigração e a concessão de vistos. Ele mostra-se preocupado com defesa feita pelo presidente Lula de Hugo Chávez.

O DEPUTADO federal Brizola Neto (PDT-RJ) será o novo secretário estadual de Trabalho do Rio, no lugar de Ronald Abraão Azaro (PSC).

O FUTURO ministro Moreira Franco (Assuntos Estratégicos) escolheu para a secretaria executiva Paulo Eduardo Furtado, que era secretário-executivo do Conselho Curador do FGTS.

O EX-MINISTRO José Dirceu distribuiu cartões de Natal com os dizeres: "Valeu a pena acreditar que os brasileiros sabem o que é melhor para o seu destino".

Oportunidade

Ao receber a visita ontem do presidente Lula e de Dilma Rousseff, no hospital, o vice-presidente José Alencar surpreendeu a todos ao dirigir-se para a presidente eleita e disparar: "Esse negócio de Banco Central independente não cola".

LUIZ GARCIA

Depois do poder
Luiz Garcia
O Globo - 24/12/2010

E agora, Lula? Depois de oito anos dando duro em Brasília, o projeto é ir para casa. Ou partir para o mundo, onde sua popularidade é inegável, mesmo com aquele probleminha chato de ter de andar por quase toda parte com intérprete na ilharga. E, claro, um líder de reputação internacional não pode fazer vidinha só na ponte-aérea Rio-Lisboa.

O observador distante - eufemismo para palpiteiro inteiramente desprovido de fontes confiáveis ou mesmo desconfiáveis - pode desconfiar que, ainda tendo idade para isso, o presidente que sai, estando na força da saúde, pode muito bem ter o projeto de ser o sucessor da sucessora. Daqui a oito anos ou, devido a eventuais problemas no percurso, daqui a quatro.

É uma questão curiosa. Se Dilma, com perdão pela expressão grosseira, der com os burros na água a curto prazo, a possibilidade da volta de Lula ao Planalto virá mais cedo - mas será projeto mais difícil, exatamente devido às acima mencionadas cavalgaduras molhadas. E, caso a nossa primeira presidenta faça tudo direitinho, quem garante que em 2018 o escolhido pelo Planalto será como é mesmo o nome dele?

A crônica da República registra duas tentativas de retorno ao poder pelo voto. Rodrigues Alves, presidente de 1902 a 1906, tentou voltar em 1918. Ganhou a eleição, mas foi da urna direto para o caixão: morreu antes de tomar posse. E Getúlio Vargas voltou em 1950 ao Catete. Onde se suicidou ante a iminência de ser deposto.

Se Lula acredita em bruxas, fica na arquibancada o resto da vida. Em tese, poderia seguir o exemplo de Fernando Henrique Cardoso, hoje dedicado a um sério instituto de estudos sociais e mantendo o seu dedo na política apenas - tanto quanto sabe a arquibancada - em artigos semanais, nos quais a política só aparece de "P" maiúsculo.

Na prática, e sem qualquer desdouro, a biografia de Lula não sugere trilha semelhante. Com ou sem projeto eleitoral a longo prazo (pensando bem, principalmente com) poderia dedicar seu tempo livre, a partir do ano que vem, a transformar a colcha de retalhos da militância petista num cobertor homogêneo, livre dos desvarios ideológicos da ala dos, digamos, pipocas-loucas ideológicos. Seria louvável empreendimento.

O CÉU PODE ESPERAR

MÍRIAM LEITÃO

Cabral do Rio
 Mírian Leitão
O GLOBO - 24/12/10

O governador Sérgio Cabral disse que as forças de paz instaladas ontem não têm data para sair do Rio. Cabral negou que tirou o secretário de Assistência Social para atender ao PT, que queria o cargo. O governador defendeu a descriminalização do aborto e a legalização do jogo. Disse que o Rio vai ganhar a briga no STF contra a União, no caso do petróleo cedido à Petrobras.

Entrevistei Cabral no Espaço Aberto, da Globonews. Ele teve um dia cheio, que começou com a instalação das forças de pacificação no Complexo do Alemão:

- Me emocionei; foi a vez que cantei o Hino Nacional com mais emoção. A cerimônia foi num local que era o clube dos traficantes. Ali era o centro de comando, dos bailes funk, onde eles levavam as meninas.

As Forças Armadas não têm tempo determinado para sair, segundo o governador:

- O importante dessa parceria é que ela permitiu que nós não comprometêssemos nosso calendário de UPPs. A retomada do território demanda um tempo das forças mais ostensivas. Aconteceu assim na Cidade de Deus, no Chapéu Mangueira, Babilônia. Na Cidade de Deus, ficamos quatro meses até que as UPPs pudessem entrar. Esse processo ia acontecer no Alemão entre 17 a 18 meses. A Inteligência mostrava que era ali o olho do furacão. Existem outros furacões, mas ali era o maior. Para enfrentá-lo, precisávamos de armamentos que a própria legislação nos impede. Para comprar um helicóptero blindado foi uma loucura.

Quando, do ponto de vista militar e de segurança, o projeto parece vitorioso, o governador exonera o secretário de Assistência Social, Ricardo Henriques, que é considerado um dos melhores quadros na área de políticas públicas. Ele é um dos formuladores do Bolsa Família.

Cabral alega que não cedeu à barganha política:

- Está entrando um secretário muito qualificado, Rodrigo Neves. Não foi pressão política. Não tenho nada contra Ricardo Henriques, mas acho que a ideia de uma UPP Social é cada vez mais municipal: é recolhimento de lixo, esporte e lazer, creches. São dois bons quadros, mas eu não estou perdendo não.

O governador criticou a mudança feita pelo presidente Lula no regime de exploração de petróleo e admite que o veto do presidente à emenda Simon não resolve inteiramente o problema. Ele defendeu o regime anterior, o de concessões, do governo Fernando Henrique, dizendo que funcionou bem. Em relação à briga no Supremo pelos royalties do petróleo, que foi objeto de cessão onerosa para a Petrobras, o governador disse que ela vai continuar e está confiante de que vai ganhar:

- A cessão onerosa foi feita quando o regime ainda era de concessão e portanto o estado tinha direito à participação especial. Foi um desrespeito à lei. Por isso, entramos na Justiça e não tenho dúvidas de que vamos ganhar. Quanto à mudança para o regime de partilha, eu era contra e disse isso. O Brasil cresceu, se desenvolveu, operou parcerias no regime criado por FHC.

Na visão de Cabral, com o veto e a nova proposta de redivisão de royalties, o Rio deixará de ganhar o que ele ganharia no futuro. Ele disse que não teme que no Congresso se forme novamente a coalizão de 24 estados contra dois - Rio e Espírito Santo - e seja derrubado o veto ou mudado o projeto de lei para retirar mais receitas do Rio:

- Não acredito, porque passou o ano eleitoral. A presidente Dilma já reafirmou o acordo comigo.

Ele disse que o Rio é o segundo maior contribuinte do Fundo de Participação dos Estados, e é o penúltimo em receitas que recebe do FPE por habitante. E disse que há estados que recebem do Fundo quase igual ao que o Rio recebe hoje de royalties do petróleo:

- É assim que se faz uma federação, respeitando os direitos dos estados. Quando se desrespeita um direito consagrado na Constituição, se está desrespeitando o princípio federativo. Fiquei chocado com a violência no Congresso produzido por aquele clima pré-eleitoral.

Falei com o governador sobre a forma como ele se referiu recentemente à questão do aborto - "quem aqui nunca teve uma namoradinha que tivesse que abortar?" Perguntei a ele que frase é esta. Se ele não estaria "banalizando" a questão, depois de na campanha os candidatos, inclusive a presidente eleita, terem tratado de forma moralista esse problema:

- Eu não banalizei. Coloquei a questão diante de senhores executivos para ressaltar que eles podem ter tido que enfrentar essa questão difícil, uma namorada ou uma companheira, ou caso fortuito. Sou a favor da descriminalização do aborto, a discutir o tema de forma transparente e que haja política pública para se oferecer à população carente. Por que não se faz um plebiscito?




Eu sempre coloquei assim, nunca tive temor de discutir esse tema nem qualquer outro. Fui autor da lei que permite a pensão para parceiros do mesmo sexo e, no Senado, fui autor da PEC permitindo união estável de casais do mesmo sexo. São temas polêmicos. No jogo, o Brasil está na companhia do Afeganistão e Cuba, como únicos países que proíbem. Argentina, Chile, China, França, Inglaterra, Estados Unidos, todos permitem o jogo.

O governador Sérgio Cabral defendeu a siderúrgica CSA, do grupo Thyssen, apesar de seu funcionamento ter provocado a emissão de uma fuligem que cobriu toda a região de Santa Cruz. Ele alega que não errou quando deu a licença e garante que a fuligem e a fumaça não causaram dano ambiental. Já a CSN, ele diz que é nociva ao meio ambiente.

Controvérsias à parte, o que a coluna deseja a todos é um feliz Natal, sem dúvida.

CELSO MING

 A pitonisa falou
Celso Ming
O Estado de S. Paulo - 24/12/2010

Na sua estratégia de comunicação, o Banco Central lembra o modelo do Oráculo de Delfos. Muitas vezes prefere ambiguidades e expressões vagas porque precisa preservar margens de manobra. A clareza nem sempre ajuda, especialmente quando é preciso mudar de repente a avaliação ou a dosagem da política de juros.
No século 5 a.C., relata Heródoto, Creso era o rei da Lídia (hoje Sudoeste da Turquia) e enfrentou a ameaça de Ciro II, da Pérsia, cujas forças acamparam na margem leste do Rio Hális. Na dúvida se sairia para combater o inimigo ou se permaneceria em segurança na cidadela de sua capital (Sardes), Creso consultou o Oráculo de Delfos. Envolta pelos vapores que emanavam do chão, a resposta da pitonisa foi antológica: "Se cruzares com teu exército o Rio Hális, destruirás um grande reino." Animado pela mensagem do deus Apolo, Creso saiu a combater Ciro II e foi fragorosamente derrotado. Quando cobrou o Oráculo pelo acontecido, foi-lhe dito que o grande reino a ser destruído era o dele e não o de Ciro II.
Os bancos centrais sabem que precisam conduzir as expectativas dos remarcadores de preços de maneira a saberem que serão punidos com encalhe de mercadoria ou com rejeição do serviço que prestam se passarem a cobrar preços mais altos do que a economia está suportando. Vai daí a necessidade de clareza e transparência na comunicação.
Por outro lado, também se utilizam dos ensinamentos de Delfos. Seus oráculos, muitas vezes, servem para qualquer interpretação e, em certos momentos, mais confundem do que esclarecem. Quando tratam de matéria menos importante, não produzem consequências, mas, às vezes, complicam tudo.
Tortuoso como o caráter de Apolo, por exemplo, foi o texto da ata da última reunião do Copom, cuja essência parecia dizer que os juros poderiam não subir, embora a inflação se mostrasse excessivamente solta. O Banco Central enfatizou então que não olha para o curtíssimo prazo, mas que opera no âmbito da influência dos juros básicos (Selic), que têm entre seis e nove meses para produzir efeito. No entanto, apenas seis dias depois, o texto do Relatório de Inflação, cuja elaboração precedeu o da ata, tomou direção oposta. Lá ficou dito que a alta dos juros básicos seria iminente, mensagem reforçada pela entrevista do diretor de Política Econômica, Carlos Hamilton Araújo.
É que, poucos dias antes, quando da elaboração da ata do Copom, o Banco Central optou por deixar saídas para qualquer que fosse a decisão futura. No entanto, foi tal a divergência de leituras entre os analistas que o entendimento lá no Banco Central passou a ser o de que, na redação do texto do Relatório da Inflação, seria melhor optar pela clareza do que deixar tudo imerso nos vapores das evasivas.
Nem todos os bancos centrais precisam ser como o da Suécia, que sempre antecipa seus movimentos. Mas se não dá para ser transparente num mundo tomado pela neblina, parece mais construtivo avisar que, num determinado momento, não é possível ter clareza sobre o que está acontecendo do que sair depositando fichas tanto no vermelho como no preto sobre a mesa da roleta.
O gráfico mostra como cresce o crédito dos bancos em relação ao PIB do Brasil. (Apenas para comparar, o PIB acumulado no período de 12 meses terminado em novembro foi calculado pelo Banco Central em R$ 3,6 trilhões.)
Expansão forte
O chefe do Departamento Econômico do Banco Central, Altamir Lopes, informa que, apesar das restrições das operações de crédito, a carteira total de financiamento dos bancos brasileiros deve continuar a se expandir ao longo de 2011 e deverá chegar aos 50% do PIB.

GOSTOSA

MARCOS SÁ CORRÊA

Sem ministério no Natal
Marcos Sá Corrêa
O Estado de S. Paulo - 24/12/2010
Os políticos trabalharam tanto ultimamente para compor o ministério do governo Dilma Rousseff, embananar mais uma conferência do clima e resolver outros problemas cruciais da humanidade que às vezes a gente se esquece de quem trata de assuntos concretos cá embaixo.
Séculos inteiros podem passar sobre o cotidiano antes que um historiador como Fernand Braudel resolva cavucá-lo em busca da História silenciosa, a que parece imóvel mas, calada, move o mundo. E nada impede que, um dia, 2010 seja lembrado como o ano em que a GM começou a fazer nos Estados Unidos um carro elétrico, o Volt, com a escória do plástico que serviu para enxugar o óleo derramado pela BP no Golfo do México.
Isso não faz necessariamente da GM um modelo para o futuro. Suas vendas de carros estão em queda. As de picapes e outros mastodontes de lata em alta. O Volt fecha o ano com 10 mil carros vendidos. Deve emplacar uns 45 mil em 2011. Por enquanto, só está aí para provar que existe. Mas é o quanto basta para lançar a sombra da obsolescência e do anacronismo sobre os carros que fabricamos, importamos e compramos como nunca no Brasil. Se até a GM já faz carro elétrico, está na hora de adiar a visita às concessionárias que não acertarem o passo com as matrizes estrangeiras.
Não adianta argumentar que, sim, nossos carros novos estão na fila de velharia, mas em compensação o i-Pad e todos os "i-s" da Apple já desembarcaram em massa no Brasil. Vestidos de alumínio, são todos tão elegantes que esta semana, no Wall Street Journal, o jornalista Brett Arends, guru de bolsa, admitiu que as ações da Apple furaram estrepitosamente o teto de cotação que ele considerava prudente, ou mesmo possível. É que não se trata mais de uma empresa de tecnologia, mas de uma grife. "A Apple", ele alegou, "é uma marca de luxo, como a Hermés ou Tiffany".
E é exatamente por estar tão em voga que não pode dar ao freguês a sensação de que, ao adquirir um objeto bonito, comete em público um ato feio. Para remediar o embaraço, a última palavra em acessório para MacBook pode ser um atestado de bom comportamento, expedido em Nova York pela Belgrave Trust. A Belgrave calculou quanto cada MacBook de alumínio custará ao planeta, da fábrica ao fim da vida útil. São 630 quilos de dióxido de carbono, que o feliz proprietário pode zerar, de saída, pela bagatela de US$ 10, investidos em reflorestamento. Se colar, a indulgência da Belgrave arrecadará uns US$ 100 milhões. É árvore que não acaba mais.
E, para não parecer que só o presente aponta para o futuro, ponha-se no pacote do Natal o Homem de Denisovan. Ou seja, o osso da mão de uma prima do Homem de Neandertal descoberta na Sibéria. É uma velha obsessão do biólogo Bernd Heinrich o sumiço repentino dessas criaturas, que tinham cérebros tão grandes quanto os nossos, usavam fogo, despachavam seus mortos com flores e zanzaram pela Ásia e a Europa por mais de 250 mil anos.
Ele acredita que o Homem de Neandertal sobreviveu pacificamente a três eras glaciais por ter o corpo coberto de pelos. Desapareceu porque o clima esquentou, abrindo alas para o glabro Homo sapiens e sua incurável propensão a exterminar tudo o que considera diferente. O homem peludo sofreu a primeira campanha de limpeza étnica de nossa história. E Heinrich insiste que ele até hoje tem algo a nos dizer sobre as vantagens para o planeta da coexistência pacífica. A época não poderia ser mais propícia para o dedo de Denisovan indicar o caminho.

WASHINGTON NOVAES

Uma discussão para nos iluminar
Washington Novaes

O ESTADO DE SÃO PAULO - 24/12/10

A oito dias do início do seu governo, a presidente Dilma Rousseff precisa incluir com urgência em sua pauta uma discussão, com a sociedade brasileira e os setores produtivos, que o atual governo federal ficou devendo: qual a matriz energética adequada para o País e os passos que devem - ou não devem - ser dados para atingi-la.

Já se recordou neste espaço o estudo promovido pela Confederação Nacional da Indústria mostrando que o setor pode consumir 25% menos energia do que hoje, com programas de eficiência e conservação. Também já se discutiu o estudo da Unicamp/WWF segundo o qual o consumo total de energia no País pode ser metade do que é hoje - ganhando 30% com conservação e eficiência, 10% com a redução das perdas nas linhas de transmissão e mais 10% com repotenciação de geradores de usinas antigas (e a custo muito menor que o de novas geradoras). Mas só o que se lê e ouve é sobre planos de investimentos de dezenas de bilhões de reais em novas usinas, principalmente na Amazônia, em meio a graves discussões sobre os problemas ambientais e sociais dessas unidades - e ainda esquecendo que esses investimentos poderiam ser redirecionados para setores carentes, como o da saúde, sem necessidade de recriar impostos. E para energias "alternativas".

O noticiário das últimas semanas tem sido farto sobre os problemas nesta área. A começar pela repetição da disputa judicial - no leilão de uma hidrelétrica no Rio Teles Pires (entre Pará e Mato Grosso) - do processo de Belo Monte. Porque na verdade se trata de um complexo de várias usinas, com licença prévia do Ibama, mas submetido a 63 condicionantes (14 da Funai), por envolver questões delicadas com áreas indígenas e de preservação permanente. O mesmo caminho desponta no horizonte com a Usina São Luís do Tapajós, parte de um complexo de 10 mil MW, já condenada pelo Fórum Social Pan-Americano (O Eco, 30/11) e por grupos indígenas da região. E continua com a ação proposta pelos ministérios públicos federal e de Rondônia, por causa de irregularidades no assentamento de todas as famílias deslocadas pela Hidrelétrica de Jirau (Rio Madeira) com a inundação em Mutum Paraná - sem falar nas discussões sobre a conveniência de uma linha de transmissão da energia do Madeira para o Sudeste, com 2.369 quilômetros de extensão (quando quase toda a Amazônia só dispõe de energia de termoelétricas).

Já a discussão sobre o projeto de Belo Monte (classificado pela revista do Instituto de Engenharia de São Paulo como "vergonhoso") parece não ter fim. A última vistoria do Ministério Público Federal mostrou (Amigos da Terra, 17/12) que não estão sendo cumpridas condicionantes impostas pelo Ibama na análise do estudo de impacto ambiental. Em dez anos são dez ações judiciais em torno do projeto, que nem sequer se sabe exatamente quanto custará, pois as informações variam de R$ 7 bilhões a R$ 30 bilhões. Nem quanto gerará de energia, pois isso depende de transposição de águas na seca (e para isso se fala na escavação de um canal maior que o do Panamá, sem explicar onde se depositarão os sedimentos). Ou para quantas pessoas se terá de prover instalações (20 mil? 80 mil?). Ainda assim, a usina é incluída no livro de realizações do atual governo e a Eletronorte anuncia o início das obras para abril de 2011, sem que 40 condicionantes do Ibama tenham sido cumpridas (o órgão já deu dois pareceres contra o início da construção), sem que se tenha autorização para remover comunidades indígenas atingidas e sem que se saiba até mesmo para onde irá a energia (ao que parece, em parte para usinas de alumínio e alumina no Pará. Será com subsídios na tarifa?).

Também não se sabe como fica a discussão sobre a matriz energética na Amazônia, onde as hidrelétricas suprem apenas 20% do consumo total e o restante vem de usinas movidas a óleo diesel. Há 115 termoelétricas no Estado (13 em Manaus, que consomem perto de 1 bilhão de litros de diesel por ano). Segundo o Fórum de Mudanças Climáticas do Amazonas (O Eco, 29/11), já em 2008 a Amazônia emitia, por esse caminho, 3,97 milhões de toneladas anuais de dióxido de carbono, quase 40% mais que seis anos antes. O consumo de combustíveis nas usinas custou R$ 2,4 bilhões em 2009 e chegará este ano a R$ 4,7 bilhões (Estado, 9/8).

Segundo o Tribunal de Contas da União, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) não tem controle sobre os métodos e técnicas para esse consumo (Folha de S.Paulo, 14/8) e por isso o custo subiu 7,8% comparado com igual época do ano passado (da mesma forma que a Aneel não controlou os aumentos de tarifas de energia nos últimos anos e agora diz não ter como exigir a devolução de cerca de R$ 8 bilhões aos consumidores). O gasoduto Coari-Manaus, que pode reduzir em R$ 1 bilhão os custos, ainda não opera, não tem rede de distribuição (Estado, 9/8). E não se sabe com que técnica se pretende construir um linhão Tucuruí-Macapá-Manaus que atravesse os muitos quilômetros de largura do Rio Amazonas para transportar energia hidrelétrica (Estado, 15/3). Como não se sabe o que fazer para evitar que aumentos no preço do álcool desviem parte do consumo para a gasolina, aumentando os preços. Ou até quando se estimularão termoelétricas poluidoras.

Talvez não seja demais pedir que também se discutam um pouco os caminhos pelos quais se pretende apressar a exploração do petróleo na camada pré-sal. Certamente não é despropositado pedir que a sociedade - que paga tudo - seja esclarecida e possa opinar. Que a comunidade científica, que tantos estudos tem feito, possa conhecer os argumentos que avalizam as posições contrárias que estão prevalecendo. Democracia é para isso. E seria muito bem-vinda se levada à prática - nesta e em todas as áreas - desde os primeiros dias. O País só ganhará se, em lugar de entregar-se ao "gênio" de alguns iluminados, puder cada vez mais participar das discussões e da escolha dos seus caminhos.

*Washington Novaes é jornalista.

É NATAL

ROGÉRIO L. FURQUIM WERNECK

As políticas macroeconômicas de Lula
Rogério L. F. Werneck

O ESTADO DE SÃO PAULO - 24/12/10

Não há como rememorar a sinuosa política econômica dos últimos oito anos sem começar pela metamorfose do PT na campanha eleitoral de 2002. Cerca de um ano e meio antes, nas eleições municipais do final de 2000, o partido havia patrocinado um despropositado plebiscito, que indagava se o governo deveria de fato pagar suas dívidas interna e externa. Não se tratava de desatino que pudesse ser atribuído a alas radicais ou ao baixo clero do partido. Muito pelo contrário. A consulta popular contava com o apoio explícito e determinado da elite dirigente do PT e de seus economistas mais proeminentes.

Não foi surpreendente, portanto, que a perspectiva de vitória do PT em 2002 desencadeasse avassaladora onda de desestabilização da economia. Foi o temor de que tal surto de incerteza pudesse ameaçar a vitória de Lula que levou à guinada no seu discurso econômico, a partir de junho de 2002, com a publicação da Carta ao Povo Brasileiro. O que se seguiu é bem conhecido: a eleição de Lula, a nomeação de Antonio Palocci e Henrique Meirelles e a crise aplacada por uma política econômica que, em meio ao assombro do País e ranger de dentes de boa parte do PT, apenas seguia e aprimorava o que vinha sendo feito no governo anterior. Quis a História, com alguma ironia, que coubesse a Lula colher os frutos de 15 anos de penosa mobilização do País com a estabilização macroeconômica. A expansão da economia mundial e o boom de preços de commodities, advindo do rápido crescimento da Ásia, criaram ambiente propício para que a política econômica do novo governo logo redundasse em aceleração do crescimento a partir de 2004.

Ao contrário do que resmunga parte da oposição, foi uma sorte para o País que a política econômica de Lula tivesse logrado resultados tão positivos já em 2004. Não se sabe o que poderia ter ocorrido se as convicções de Lula e do PT sobre o acerto da política econômica tivessem de ter passado, àquela altura, pelo teste de uma espera mais prolongada pela retomada do crescimento no País.

Em 2005 a equipe econômica chegou até a propor medidas de ajuste fiscal para conter a expansão de gastos do governo. Mas, com a brusca mudança do quadro político que se seguiu à eclosão do escândalo do "mensalão", o cálculo político do Planalto passou a ser dominado pelo imediatismo, especialmente depois da queda de Palocci, em março de 2006. Na esteira do descabeçamento do PT e da fragilização política do presidente, o governo entendeu que não tinha como se dar ao luxo de conter gastos. O senso de urgência apontava na direção oposta. A prioridade passou a fazer o melhor uso possível do círculo virtuoso por que passava a economia para assegurar a reeleição do presidente.

O segundo mandato afigurava-se, de início, bastante promissor: quatro anos de crescimento rápido, em meio a um ambiente externo favorável. O bom desempenho da economia em 2007 reforçou ainda mais esse otimismo. E o governo chegou até a considerar a possibilidade de substituir Henrique Meirelles por um nome mais alinhado ao "desenvolvimentismo". Mas a rápida deterioração do ambiente externo, na esteira da crise financeira de 2008, impôs novo choque de realidade ao Planalto.

A perspectiva de uma crise mundial prolongada foi o ensejo que faltava para que o governo decidisse abrir as comportas do gasto público, com a criação de um orçamento paralelo no BNDES com ligação direta ao Tesouro. A verdade, contudo, é que o impacto da crise no Brasil acabou sendo muito menor do que se temia. Após breve recessão em 2009, a economia voltou à trilha do crescimento rápido. O que não impediu que, ao longo de 2010, o governo insistisse na política fiscal expansionista, fixado no objetivo de garantir a vitória de sua candidata na eleição presidencial.

O decantado compromisso com a coerência da política macroeconômica que Lula exibiu de início não durou muito. Esvaiu-se aos poucos, a partir de 2005, ao sabor das circunstâncias políticas, e acabou no vale-tudo fiscal deste ano.

*ROGÉRIO L. F. WERNECK, ECONOMISTA, DOUTOR PELA UNIVERSIDADE HARVARD, É PROFESSOR TITULAR DO DEPARTAMENTO DE ECONOMIA DA PUC-RIO

ANCELMO GÓIS

Cartão do Rei
ANCELMO GÓIS
O GLOBO - 24/12/10


Roberto Carlos lançará, pela bandeira Credicard, um cartão de crédito com seu nome. Será daqueles que também rendem pontos a cada compra, com algumas novidades. Uma certa pontuação, dará, por exemplo, direito a ingressos para shows do Rei, e por aí vai.

GAMA FILHO 
A Rádio Corredor dava ontem como certa a venda da Universidade Gama Filho, no Rio, a um grupo de investidores. A conferir.

NATAL NO XADREZ 
O ex-banqueiro Alberto Cacciola, 64 anos, não deixará o presídio, em Bangu, no Rio, para passar o Natal com a família. O Ministério Público recorreu contra a progressão da pena para regime semiaberto, obtida por Cacciola, e reteve o processo.

PEDALADAS NO RIO 
Robinho, o craque da seleção, desembarcou quarta no Rio, na surdina, e caiu na farra. Na mesma noite, foi a várias boates da Barra. Depois, foi sozinho para um hotel no bairro.

PALESTINA NA POSSE 
Mahmoud Abbas, presidente da Autoridade Nacional Palestina, confirmou ontem que virá à posse de Dilma.

CONTAGEM REGRESSIVA 
Faltam sete dias para sair um presidente que tem língua presa, mas fala como língua solta, e entrar uma presidente que tem língua solta e fala como se tivesse língua presa.

AXÉ EM VIGÁRIO 
Daniela Mercury fará um ensaio geral aberto, em Vigário Geral, terça agora, para seu show do réveillon de Copacabana. Na apresentação, vai fazer um dueto virtual com Carmem Miranda, cuja imagem será projetada num telão.

ESTÁDIO VERDE 
O Amazonas terá, para a Copa de 2014, um estádio verde. Acredite: 95% de todos os materiais retirados da demolição do antigo Estádio Vivaldo Lima, em Manaus, para a construção da Arena da Amazônia serão reutilizados em outras obras.

O PREÇO DA PAZ 
Moradores do Complexo do Alemão que tiveram casas desapropriadas por causa do PAC e da UPP começaram a receber o aluguel social. Mas... Com a valorização patrimonial dos imóveis, os aluguéis estão lá em cima, e os desalojados não podem pagar.

NO QUE... 
Sérgio Cabral assinará um decreto que eleva o aluguel social para R$ 400 em todos os casos. Variava de R$ 250 a R$ 375.

RECOLHA O COCÔ 
Um senhorzinho de 70 anos, saudável, passeava segunda no Parque das Rosas, na Barra, quando... Escorregou num cocô de cachorro, caiu, quebrou o tornozelo e rompeu os ligamentos. Chegou sujo ao Hospital Barra D’Or, onde foi operado e passará o Natal. O cachorro é inocente. Seu dono, não.

CORRIDA AO PERU 
Quarta à noite, o supermercado Extra do Maracanã, no Rio, estava tão cheio, tão cheio, que a gerência pôs uns banquinhos para as pessoas esperarem sentadas na filas dos caixas.

AI, QUE LOUCURA 
Jane Di Castro, a travesti que é cabeleireira, cantora e atriz, vai promover com as amigas do grupo Divinas Divas, no Edifício Kansas, em Copacabana, a... Ceia de Natal das Bibas.
– Vamos cair de boca no peru e na rabanada!
Na minha terra, cair de boca assim é... Deixa pra lá.