sexta-feira, dezembro 24, 2010

NELSON MOTTA

Cartas marcadas, dados viciados
NELSON MOTTA 
O Estado de S.Paulo

A vida é um jogo, em que se ganha e se perde. Parece filosofia de para-choque de caminhão, frase lapidar de uma crônica de Sarney, ou um velho e surrado lugar comum, mas é uma evidencia incontestável.

Só a burrice bem intencionada, o moralismo seletivo ou a hipocrisia crônica, ou tudo isso junto, impedem a discussão e regulamentação dos bingos e cassinos no país do jogo do bicho e de todas as loterias, mega-senas e raspadinhas exploradas pelo Estado. A diferença é que o apostador tem melhores chances de ganhar no bingo, na roleta e no black jack do que nas loterias estatais aleatórias. E com muito mais diversão e emoção.

Hoje a tecnologia oferece todos os meios para um controle eficiente dos bingos. Basta uma rede de internet que os mantenha interligados em tempo real com uma central de controle que registra e analisa todas as operações. Vale o digitado. Prêmios acima de R$ 1 mil pagos em cheque nominal, com cópia para a Receita. Licitações públicas para a exploração de um número restrito de bingos por bairro e por cidade. Quem quiser cumprir a lei e aceitar os controles terá lucros legítimos, já a bandidagem interessada em subprodutos mais lucrativos do bingo vai cair fora.

Os cassinos americanos, argentinos, suíços, italianos e portugueses, alguns estatais e a maioria privados, funcionam há décadas sem problemas e geram empregos, impostos e turismo. Por que não no Brasil? Não deve ser por amor à família, à moral e aos bons costumes que os nossos congressistas não conseguem legalizar o jogo.

Las Vegas, a capital mundial da jogatina, se transformou em um dos grandes destinos turísticos das famílias americanas, com seus hotéis temáticos, seus espetáculos e atrações infanto-juvenis. Tudo é feito para divertir e entreter os filhos, enquanto os pais jogam e assistem a shows. Fundada por gângsteres, Las Vegas virou uma das cidades mais seguras e familiares dos Estados Unidos.

Afinal, a crise de 2008 provou que Las Vegas é coisa de criança diante das mesas de operações de Wall Street, o grande cassino global em que fortunas são ganhas e perdidas - com o dinheiro dos outros.

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