sábado, maio 18, 2019

"Década ‘PerDilma’: como o Brasil perdeu o rumo de sua economia - LUAN SPERANDIO

Gazeta do Povo - PR - 18/05

Entre as duas décadas perdidas, a de 1980 e 2010, o crescimento real do PIB per capita deve ficar, na média, em torno de 0,8%. Nesse ritmo, estima-se que demorará 87 anos para dobrar a renda per capita real dos brasileiros.| Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

Se a década de 1980 é chamada de A Década Perdida, como chamar os anos 2011-2020? Os problemas vão muito além do fato de, ao longo de 11 trimestres, entre 2014 e 2016, o PIB brasileiro ter caido 8,1%, segundo o IBGE. A baixa atividade econômica e a lenta recuperação indicam que esta década deve ser a pior dos últimos 120 anos da história brasileira. Estima-se que, ao final do período, o Brasil terá crescido 0,9%. Nos anos 1980, a pior taxa de crescimento registrada até então, o crescimento havia sido de 1,6%.

Segundo avaliação do banco norte-americano Goldman Sachs, o país caminha para a segunda década perdida em 40 anos. Entre as duas décadas perdidas, a de 1980 e 2010, o crescimento real do PIB per capita deve ficar, na média, em torno de 0,8%. Nesse ritmo, estima-se que demorará 87 anos para dobrar a renda per capita real dos brasileiros. Nesse sentido, na avaliação da Gazeta do Povo, o Brasil terá, na verdade, perdido todas as últimas quatro décadas.

Ao longo da campanha presidencial de 2014 e da posterior defesa política do governo Dilma Rousseff, criou-se a narrativa de que o Brasil estava crescendo pouco em virtude de uma crise internacional. Contudo, segundo relatório do FMI, 183 dos 192 países analisados registraram crescimento econômico superior ao brasileiro entre 2015 e 2016. Já de acordo com estudo do economista da FGV Marcel Balassiano, mais de 90% dos países do mundo cresceram mais do que o Brasil entre 2011 e 2018. Entre os 191 países deste levantamento, 174 países expandiram o PIB mais do que o Brasil.

Dessa forma, há evidências de que a grande recessão brasileira foi causada por fatores integralmente internos. Enquanto o mundo cresceu e se tornou mais rico, o Brasil patinou e ficou mais pobre. Entender o porquê disso é essencial para não cometermos os mesmos erros. Segundo especialistas, a atual situação reflete uma sucessão de erros de política econômica e falta de reformas.

A Década “Perdilma”
A partir de 2011, o governo Dilma Rousseff apresentou um conjunto de políticas que ficaram conhecidas como "Nova Matriz Econômica". Tratavam-se de, segundo Fernando de Holanda Barbosa Filho, economista da Fundação Getúlio Vargas, “políticas de forte intervenção governamental na economia, que combinaram política monetária com redução da taxa de juros e política fiscal com dirigismo no investimento, elevação de gastos, concessões de subsídios e intervenção em preços”.

O governo Dilma abandonou a política de superávits primários (economias que o governo faz gastando menos do que arrecada em impostos). Gradativamente, a União passou a gastar mais, até que, em 2014, o país fechou o ano com déficit primário, que se tornou cada vez maior, impulsionado pelas despesas previdenciárias. 2018 foi o quinto ano seguido com as contas no vermelho, com a crise fiscal atingindo o patamar de R$120 bilhões. Waldery Rodrigues, atual secretário especial de Fazenda, admite que deve haver déficit pelo menos até 2022.

O governo Rousseff passou a interferir no Banco Central, reduzindo as taxas de juros de forma arbitrária. Como consequência, durante todo o mandato de Dilma a inflação esteve acima da meta e em trajetória ascendente. Para evitar que isso atrapalhasse suas chances de reeleição, a partir de 2013 o governo passou a regular artificialmente os preços da eletricidade, do gás e da gasolina. O represamento agravou o problema, resultando em uma inflação de 2 dígitos, a primeira desde 2002.

Além disso, os superávits primários foram abandonados, com o governo passando a gastar mais do que arrecadava, deteriorando a situação fiscal. Com isso, a dívida pública, que estava na ordem de 50% do PIB, passou a crescer rapidamente, e pode chegar a 80% em 2020, segundo proposta orçamentária enviada pelo Palácio do Planalto ao Congresso no ano passado.

Ainda em 2015, agências de classificação de risco rebaixaram a nota de crédito da dívida brasileira, isto é, passaram a avaliar que havia maior risco de o país não cumprir com suas obrigações financeiras. Assim, houve perda do grau de investimento, o que fez com que diversos fundos de investimentos retirassem dinheiro do Brasil. Entre os resultados, houve desvalorização do real, escalada inflacionária e juros maiores, minando ainda mais o desenvolvimento econômico e aumentando os níveis de desemprego, que atingiu a máxima histórica, afetando 14 milhões de brasileiros.

Na avaliação do mestre em economia pela Barcelona GSE e fundador do Terraço Econômico Leonardo Siqueira, a equipe econômica do governo Rousseff “merece um Prêmio Nobel em economia por ter conseguido piorar todas as variáveis macroeconômicas ao mesmo tempo”: “A inflação disparou dos 4% para 10%, a taxa de juros voltou a subir pros 14%, o desemprego atingiu 13% (antes 6%) e o PIB teve a maior queda da história em 2 anos, retrocedendo mais de 7% nesse biênio. [Essa situação] é extremamente difícil [de se conseguir]”, critica.

A opinião é endossada pelo mestre em economia pela FEA/USP Guilherme Tinoco. “Foi uma sucessão de erros: tentaram estimular a economia quando ela estava próxima ao pleno emprego, desorganizaram setores (como o elétrico), fizeram as desonerações sem critério, colocaram recursos muito além da conta nos bancos públicos, interferiram em preços, ajudaram a desorganizar as finanças estaduais quando flexibilizaram todo um arcabouço institucional que funcionava mais ou menos bem… É até difícil lembrar de cabeça todos os erros”.

Siqueira lembra a política de campeões nacionais do BNDES, que teve como mentor Luciano Cláudio Coutinho, presidente da instituição entre 2007 e 2016:

“Durante a gestão dele foi desembolsado R$ 1,2 trilhão em créditos pelo BNDES. Houve corrupção e um foco excessivo nas políticas macroeconômicas de juros baixos e crédito subsidiado. Enquanto isso, as reformas microeconômicas foram deixadas de lado. Essas, sim, importante para aumentar a produtividade. O resultado é que, enquanto ficou mais difícil empreender no Brasil (veja a queda no ranking de facilidade de se fazer negócios), os fundamentos macroeconômicos apenas pioraram.”


Com todas as digitais da culpa apontadas para quem ocupou o Palácio do Planalto, há quem chame o período de “Década Perdilma”.

A próxima década também pode ser perdida
Sem um ajuste fiscal que reequilibre as contas da União, além de reformas estruturais na economia, a próxima década também pode ser perdida, segundo o Goldman Sachs. A opinião é endossada pelos economistas ouvidos pela Gazeta do Povo.

Siqueira alerta que, entre 2000 e 2016, o país cresceu 2,3%, em média. Contudo, 1,7% do índice se deu em virtude de crescimento da mão de obra — a população ocupada cresceu — e apenas 0,6% do crescimento de produtividade. É o que economistas chamam de “crescimento fácil”. “Dado um declínio na taxa de natalidade do país, a expectativa é que a população ocupada cresça apenas 0,7% na próxima década. Ou seja, se quisermos crescer 3% ou 4% nos próximos 10 anos, teremos de tomar medidas que aumentem a produtividade”, salienta.

Já Tinoco lembra da importância de reformar a previdência em busca de maior equilíbrio fiscal para não sermos “meros pagadores de aposentadorias”. “A dívida é crescente, bem acima dos outros países emergentes, e as perspectivas são preocupantes. O teto de gasto [Emenda Constitucional 95/2017] foi de fato uma medida importante, mas ele só se sustenta com a reforma da previdência. A previdência representa cerca de metade do gasto primário do governo federal. A reforma também corrige injustiças. O Brasil gasta com previdência um montante bem acima do que outros países, mesmo países com a população mais envelhecida”, opina.

Siqueira explica a relação entre excesso de gastos com previdência e baixo crescimento econômico. “Se o país está gastando uma grande parcela do PIB com aposentadoria, isso significa que, para fechar a conta, ele tem que elevar os impostos. Além desses gastos em previdência terem zero impacto em produtividade – aquilo que de fato faz o país crescer –, a carga tributária alta tem diversos efeitos nocivos sobre as famílias, como mostram as evidências. O governo acaba por gastar menos em educação, saúde e segurança, sendo o primeiro (educação) o principal problema, já que há externalidades positivas na educação. Ou seja, investir em educação afeta toda a economia de maneira produtiva, na medida em que temos trabalhadores mais qualificados. Gastar apenas com aposentadoria de servidor público, militar, juiz, etc. não é um gasto inteligente”, aponta.

Tinoco endossa, afirmando que “sem reforma, o Estado brasileiro vai quebrar e o resultado será um ambiente econômico caótico, possivelmente com inflação elevada, alta de impostos e risco de calote.”

Há ainda influência da carga tributária alta com endividamento alto, perda de grau de investimento e custos maiores para se financiar, como informa Siqueira: “A inflação tende a permanecer a níveis mais elevados, os investidores relutam em trazer o capital pra cá e isso acaba por gerar menos empregos e deixar a economia muito menos dinâmica. A reforma da previdência é apenas condição necessária para maior crescimento, não é o suficiente. O que vai gerar crescimento são reformas que impactam a produtividade, entre elas, as 
reformas microeconômicas”.

Além da previdência, ele também argumenta em favor de o governo focar nas reformas microeconômica aumentarão a produtividade.

“Deixar o país menos atrapalhado tributariamente é um exemplo. Enquanto gastamos 1.958 horas por ano apenas para saber quais impostos pagar, não há juros baixos que deixe a indústria competitiva. Enquanto formos o país dos alvarás, onde, para abrir uma sapataria, leva-se em média mais de 60 dias, não há como aumentarmos a produtividade. Enquanto um credor não puder recuperar parte do seu crédito em caso de calote, não vamos melhorar o setor de crédito, por maior que seja a baixa na taxa de juros”.

Portanto, tão importante quanto a meta de inflação e o ajuste fiscal que recolocarão o país nos trilhos é focar no ambiente de negócios que vai aumentar a produtividade e aumentar o PIB potencial. Entretanto, enquanto a previdência não for aprovada, outras reformas não devem andar. Tinoco lembra que a reforma tributária proposta por Bernard Appy pode trazer ganhos em produtividade, mas ela deve ser pauta secundária enquanto as atenções do Congresso Nacional se voltam para a previdência."


O texto: “Mito” tenta tirar foco de Flávio e inflar ato golpista do dia 26 - REINALDO AZEVEDO

UOL - 18/05

A idiotia golpista está por aí faz tempo. A pregação estava presente nos atos pró-impeachment, mas era minoritária

Mas o que deu na cabeça de Bolsonaro para jogar no ventilador o seu manifesto golpista?

O nome disso é pânico.

A família está com medo da investigação em curso do Ministério Público do Rio.

Resta lançar uma teoria conspiratória para tentar vitaminar o "protesto a favor" marcado para o próximo dia 26. Grupos de extrema-direita pretendem ir às ruas em defesa do governo e de Bolsonaro.

Será, claro!, também um "protesto contra": contra o Congresso, contra o Supremo, contra a imprensa… Contra, em suma, a democracia.

Grupos como o MBL, o Vem Pra Rua e o Nas Ruas já anunciaram que não vão participar. Os dois primeiros apoiaram Bolsonaro no segundo turno; o terceiro esteve com o então candidato do PSL desde o começo e tem a deputada bolsonarista Carla Zambelli (PSL-SP) como uma de suas expressões.

Então quem vai?

Sabe-se lá. Chegaram-me algumas siglas e nomes (de youtubers) que eu não teria como distinguir de um pé de bugalho.

No entorno bolsonarista, há quem acredite que dá para ombrear com os protestos em defesa da educação, que levaram muitos milhares às ruas no dia 15. Com peculiar inteligência, Bolsonaro chamou os manifestantes de "idiotas úteis", "massa de manobra" e "imbecis".

Sim, caso se encostasse a cabeça ao peito dos manifestantes, como diria Ivan Lessa, ouvir-se-ia bater, no mais das vezes, um coração à esquerda e de esquerda… Mas não só. Os atos país afora reuniram as mais diversas colorações ideológicas.

A propósito: quando os liberais terão a coragem de protestar contra as agressões de Bolsonaro a valores elementares da democracia? Sim, protesto de rua também! Mas fica para outra hora.

O fato é que três grupos identificados com a direta, que tiveram um papel relevante nas manifestações em favor do impeachment de Dilma, estão fora da pregação golpista do dia 26. Como eu sei que será pregação golpista? Porque já é. Nas redes sociais, o que se pede de mais modesto é o fechamento do Congresso e do Supremo. Logo alguém se lembra de cobrar a suspensão da investigação das lambanças havidas no gabinete de Flávio Bolsonaro.

Tudo indica que será um tiro no pé. A ambição é botar mais gente na rua do que "as esquerdas" o fizeram, o que já traduz uma leitura errada dos eventos do último dia 15. Não vai acontecer. A manifestação, se menor, será uma derrota, mesmo que expressiva.

Ademais, o bolsonarismo de raiz deveria ter receio de ver a si mesmo em marcha. Já antevejo as imagens que ficarão para a história, as faixas, os cartazes… Essa gente — bolsonaristas e olavetes — já deu trabalho aos defensores do impeachment que tinham miolos. Iam para as ruas pregar golpe de estado. Estão de volta às origens, ignorando que aquele a quem chamam "mito" está no poder. E, como não lembrar? Até os generais são tratados como inimigos e filocomunistas.

A pregação golpista de agora só terá o condão de ampliar o espaço para a recuperação moral e política da esquerda.

Quem tem Bolsonaro, Carlucho, Ernesto Araújo, Abraham Weintraub, Ricardo Salles, entre outros, não precisa de adversários e inimigos. Já está cercado deles.

Sob ataque de Bolsonaro, Congresso prepara a sua própria agenda de reformas - JOSIAS DE SOUZA

UOL - 18/05


ENTREVISTA: Líder do DEM, deputado Elmar Nascimento (BA)


Reunido na última quinta-feira com os líderes dos partidos que dão as cartas no Congresso, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), deflagrou uma articulação que deve transferir do Poder Executivo para o Legislativo o protagonismo das reformas econômicas e sociais. "Estamos identificando uma pauta que interessa à sociedade", disse ao blog um dos participantes da reunião, o líder do DEM, deputado Elmar Nascimento (BA). "Em meio ao extremismo de um governo que vive de embates nas redes sociais, o Parlamento será a voz da moderação."

Haverá nova reunião na segunda-feira, dessa vez incorporando senadores e o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP). "A gente precisa blindar a reforma da Previdência, acelerando sua aprovação", declarou o líder do partido de Maia e Alcolumbre. "E vamos entrar numa pauta do Legislativo. Aprovaremos nos próximos dias a proposta de reforma tributária na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara."

Identificado pelo Planalto como uma das principais vozes do chamado centrão, Elmar afirmou que Câmara e Senado passarão a operar buscando o "ponto de equilíbrio". Na sua definição, "equilíbrio é parar de dar atenção a essa maluquice do governo de imaginar que o país pode ser governado nas redes sociais." Os objetivos da articulação inaugurada no Legislativo são: "Destravar a economia, liberar investimentos e criar empregos." Vai abaixo a entrevista com o líder do DEM:



— O relacionamento conturbado entre Executivo e Legislativo começa a prejudicar a economia do país. Como superar esse impasse? 


Eu e outros líderes conversamos com o Rodrigo [Maia, presidente da Câmara] na quinta-feira. Voltaremos a nos reunir na segunda-feira, dessa vez incluindo na conversa, além dos líderes da Câmara, o Davi [Alcolumbre, presidente do Senado] e alguns senadores. Estamos identificando uma pauta que interessa à sociedade. Em meio ao extremismo de um governo que vive de embates nas redes sociais, o Parlamento será a voz da moderação.

— Qual é a pauta que interessa à sociedade? 

A gente precisa blindar a reforma da Previdência, acelerando sua aprovação. E vamos entrar numa pauta do Legislativo, conectada com o interesse da sociedade. Vamos fazer a reforma tributária. Aprovaremos nos próximos dias a proposta de reforma tributária na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara. Trataremos do pacote anticrime. A coisa caminhou. O ministro Sergio Moro avançou no diálogo com o Alexandre de Moraes [ministro do Supremo que coordenou na Câmara a elaboração de um pacote análogo ao do ministro da Justiça]. Nossa ideia é pegar uns cinco projetos que tramitam na Câmara, outros cinco do Senado. Vamos colocar as duas Casas para funcionar, buscando o ponto de equilíbrio.

— O que significa o ponto de equilíbrio? 

Equilíbrio é parar de dar atenção a essa maluquice do governo de imaginar que o país pode ser governado nas redes sociais. Buscaremos uma agenda capaz de destravar a economia, liberar investimentos e criar empregos. Vivemos um momento muito difícil. A ida do ministro Paulo Guedes [Economia] à Câmara, nesta semana, criou uma atmosfera de alarmismo, com a difusão da imagem de um Brasil no fundo do poço. O desemprego só aumenta. A maior contribuição que a gente pode dar é acelerar o quanto possível, a partir desta semana, a tramitação da reforma da Previdência, além de deflagrar as outras pautas. Precisamos dar aos investidores a segurança de que irão investir num país que não vai quebrar.

— Isso será feito a despeito do governo? 

Vamos fazer o nosso trabalho. Parece que o governo não percebeu que a eleição acabou. Um presidente não pode ficar refém de uma parcela do eleitorado. Nós não podemos deixar que isso aconteça. Vamos dar sempre o tom do equilíbrio. Todas as vezes que vierem absurdos do âmbito de ministérios como o da Educação e das Relações Exteriores, a gente tem que fazer a moderação.

— Diria que vai vigorar no Brasil uma espécie de parlamentarismo branco, com o Congresso ditando o ritmo das reformas à margem do governo? 

Tudo leva a crer que o governo deseja ir para o confronto, para jogar a culpa da paralisia no Congresso. O que nós defendemos é que nossa reação seja o contrário disso: fugir do confronto e estabelecer uma pauta positiva. As pessoas terão a oportunidade de julgar quem efetivamente está querendo construir.

— Permita-me insistir: acha que o país caminha para um semiparlamentarismo?

 Quando o Executivo está forte, ele acaba se sobrepondo aos outros poderes em muitos aspectos. Ao longo do tempo —seja em âmbito municipal, estadual ou federal— o Executivo vem assumindo um protagonismo em áreas que são do Legislativo. Por conta dessa desarticulação do atual governo, o terreno é fértil para que se retome o protagonismo do Legislativo. Nossa Constituição, a despeito de termos um regime presidencialista, é meio parlamentarista. Muita coisa depende do Congresso. O ambiente está propício para que todos esses poderes constitucionais sejam exercidos em sua plenitude. Não estamos extrapolando nenhum milímetro. Estamos apenas resgatando prerrogativas que historicamente vinham sendo negligenciadas.

— Nesta sexta-feira, o presidente Bolsonaro distribuiu em grupos de WhatsApp um texto apócrifo que diz que o Brasil é "ingovernável" fora dos "conchavos" não republicanos. Em nota, ele insinuou que espera o apoio da sociedade para colocar o país nos trilhos. Esse tipo de procedimento funciona? 

Evidentemente, não funciona. Ultimamente, o presidente tem tentado governar por decreto. Acaba de baixar um decreto ampliando o porte de arma no país. Não é possível concordar com essa forma de governar. Temos o Estatuto do Desarmamento. Ele tem trechos que precisam ser modificados. Mas não pode ser via decreto, como se não houvesse Parlamento. Isso mostra que o governo tem um viés fascista. A Constituição prevê que esses temas precisam passar pelo Legislativo justamente para preservar o equilíbrio. Talvez o próprio Judiciário se manifeste antes que o Congresso tenha que deliberar sobre esse decreto.

— O vereador Carlos Bolsonaro, filho Zero Dois do presidente, incluiu o seu nome em postagens nas quais criticou parlamentares que votaram contra o governo na comissão que analisou a medida provisória sobre a reforma dos ministérios. Tratou como inimigos aqueles que, por exemplo, votaram pela retirada do Coaf das mãos de Sergio Moro. O que achou? 

Temos a obrigação de fugir disso. Do contrário, o país vai ficar refém dessa teoria do confronto pelos próximos quatro anos. E não é só contra o Congresso. É contra os militares, contra o Poder Judiciário. Há uma ânsia de viver sob a política do confronto. Temos que ignorar isso completamente.

— Na última terça-feira, o presidente Bolsonaro receberia em audiência o senhor, como líder do DEM, e o deputado Arthur Lira, líder do PP. Por que decidiram não comparecer? 

Há uns dois meses, o presidente Bolsonaro reuniu-se com o presidente da Câmara e vários líderes. Nessa época, o líder do governo, Major Vitor Hugo, muito criticado por sua inexperiência, procurou os demais líderes para organizar encontros individuais com o presidente. Eu disse que convite do presidente é convocação. Passaram-se dois meses. Na terça-feira, fui surpreendido pela minha assessoria. Disseram que meu nome estava na agenda do presidente. Liguei para o Vitor Hugo. Disse a ele que o momento era absolutamente inapropriado. Iríamos conversar com o presidente na semana seguinte à votação na comissão que tratou da medida provisória 870 [que reorganiza os ministérios]. Ir ao Planalto agora, depois de ter votado contra o governo em alguns pontos, pareceria que a gente está querendo barganhar alguma coisa, praticar o toma-lá-dá-cá. Não entendi também porque marcaram uma audiência conjunta com o Arthur Lira. Preferi não comparecer. O Vitor Hugo acabou levando vários líderes de partidos pequenos para conversar com o presidente.

— Por que votou contra a permanência do Coaf na Justiça? 

Essa questão foi colocada como uma causa do bem contra o mal. Não aceito esse maniqueísmo. O Coaf vem funcionando bem, desde que foi criado, sob o ministério da Economia. Em países desenvolvidos, órgãos com as mesmas funções estão nos ministérios econômicos. Nos países da Comunidade Europeia, os órgãos de inteligência financeira, que coíbem a lavagem de dinheiro, comunicam-se entre si sem precisar de nenhum protocolo especial. Isso só é possível porque nesses países eles entendem que, mantidos sob a autoridade financeira, os dados sigilosos armazenados por esses órgãos estão mais protegidos contra eventuais vazamentos.

— O ministro Sergio Moro diz que o rigor contra vazamentos será preservado na pasta da Justiça. Não crê? 

Estive com o ministro Sergio Moro na semana anterior. Perguntei a ele qual seria o argumento técnico para levar o Coaf para o Ministério da Justiça. Ele disse que, ao acumular dois ministérios —Justiça e Segurança Pública—, seu orçamento tinha melhorado. Disse que estava dobrando o número de funcionários.

— O argumento não o sensibilizou? 

Eu falei: ministro, o Ministério da Economia é resultado da fusão de três pastas. E controla o cofre. Pelo seu argumento, o ministro Paulo Guedes também pode reforçar o Coaf. Além disso, não posso tratar a Justiça como um ministério que, subjetivamente, pertence ao Sergio Moro.

— Acha que o ministro pode sair? 

A nossa posição foi reforçada na hora em que o presidente Bolsonaro anunciou que tem a intenção de indicar Sergio Moro para a primeira vaga no Supremo, que vai se abrir em um ano e meio. E se o presidente resolve nomear para o Ministério da Justiça um olavete desses que existem por aí? Estariam os dados sigilosos do Coaf nas mãos de um radical fanático. Achei que é melhor deixar na Economia, com o Paulo Guedes.

— Mas o ministro Paulo Guedes também pode deixar o governo, não?

Não creio nisso. Se Paulo Guedes e a equipe dele saem, desaba tudo, acaba o país. Hoje, há até uma espécie de blindagem da classe política em relação a ele. Achamos que o Coaf está muito mais seguro ali.

— Por que votou a favor da emenda que restringiu a atuação dos auditores da Receita Federal? 

O líder do governo no Senado [Fernando Bezerra] é o relator da medida provisória. Incluiu essa emenda no texto. Se o governo discorda, ele deveria ter sido demitido da função pelo presidente no mesmo dia. Não posso conceber que ele tenha incluído essa questão da Receita no texto sem a aquiescência do governo. O entendimento que ele nos passou era simples: se o próprio Ministério Público ou os delegados federais que presidem o inquérito precisam de autorização judicial para acessar dados sigilosos, porque o fiscal da Receita teria poder superior?

— O problema é que os auditores foram proibidos até mesmo de comunicar eventuais crimes ao Ministério Público. Acha razoável? 

Eles podem comunicar, mas repassar dados sigilosos só com autorização judicial.

— Não receia que isso retarde a investigação de ilícitos? 

Não creio. A autorização judicial pode ser solicitada rapidamente. É apenas uma questão de controle. Se há limitações para procuradores e delegados federais, por que o fiscal da Receita poderia manusear dados e informações não tributárias com maior facilidade?

— Embora os senhores tenham derrotado o governo nas modificações da medida provisória, votaram a favor da recriação dos ministérios das Cidades e da Integração Nacional. Não teria sido lógico rejeitar isso também? 

O governo deixou transparecer que estava recriando os ministérios para ceder a um apetite fisiológico do Congresso. Por isso o clima conosco é sempre ruim. Eu sou inteiramente contra esse tipo de indicação. Não adianta você ir para um governo que não lhe quer. Do ponto de vista do funcionamento do ministério, o presidente Bolsonaro juntou muita coisa numa única pasta. E os clientes daqueles ministérios, que são os prefeitos e os governadores, não estão conseguindo fazer as coisas andarem. O programa Minha Casa, Minha Vida, por exemplo, está totalmente parado. Isso se reflete na geração de emprego. Então, do ponto de vista técnico, a separação é positiva. Nosso papel é aprovar. Depois, o presidente nomeia quem ele quiser.

— Existe algum risco de a MP que reorganizou os ministérios não ser votada até 3 de junho, quando expira seu prazo de validade? 

Quando você tem um governo arrumado politicamente, consegue votar até 30 medidas provisórias num dia. Mas quando o governo está desarrumado, as coisas não avançam. Creio que nós vamos proceder assim: votamos no plenário o texto base, com as modificações feitas na comissão. Aprovamos esse texto, ressalvados os destaques [apresentados por parlamentares governistas para tentar restabelecer o texto original]. Vamos obstruir a votação dos destaques. Ou eles retiram esses destaques ou a MP vai caducar. A responsabilidade será exclusiva do governo. Se eles retirarem os destaques, o texto segue para o Senado. Se insistirem em manter os destaques, a MP vai morrer na Câmara.

— Se forem mantidos esses destaques que visam, por exemplo, manter o Coaf na Justiça e eliminar as restrições impostas auditores fiscais, os senhores têm maioria para obstruir? 

Sim, é só a gente não votar. Anunciaremos a obstrução. E eles não devem reunir 70 votos, 80 votos. A obstrução é um procedimento legítimo no Parlamento.

— O que é, afinal, o centrão? 

O pessoal fala muito em centrão. Para mim, não existe. O que há é uma conjuntura que faz com que a gente vote junto na maior parte das vezes. Tem um bloco que se formou para a eleição do Rodrigo [Maia à presidência da Câmara]. Mas o DEM, nosso partido, ficou na oposição ao PT durante todo o tempo. E não foi por falta de oferecimento de cargos. Se fosse por cargos, o DEM teria ido para o governo.

— O centrão pode não ter existência formal. Na prática, porém, um grupo de partidos conservadores se une à oposição para derrotar o governo na Câmara. O DEM integra esse grupo, não? 

Às vezes, o tema e a realidade impõem que, em determinados assuntos a gente se junte.

— Como essas coisas acontecem? 

Veja o que ocorreu nesta semana. O deputado Orlando Silva [líder do PCdoB] apresentou um requerimento de convocação do ministro da Educação [Abraham Weintraub]. A intenção era ouvir o ministro sobre o orçamento das universidades. O ministro falaria naquele dia, como convidado, numa audiência para três comissões. O Delegado Valdir, líder do PSL, partido do presidente, sugeriu que, em vez de ir às comissões, o ministro poderia falar no plenário da Casa. Ora, se o líder do partido do presidente é a favor, quem poderia ser contra?

— Houve ruído também na votação da medida provisória sobre a reestruturação dos ministérios? 

Antes da votação dessa medida provisória na comissão, o Onyx [Lorenzoni, chefe da Casa Civil] telefonou para o Rodrigo Maia. Disse que o Planalto precisava votar logo a MP. Perguntou se haveria condições de votar em plenário no mesmo dia, logo depois do resultado da comissão. Acho que ele imaginou que iria ganhar. Mas houve quatro ou cinco mudanças na composição da comissão.

— Rodrigo Maia tentou votar a MP no plenário… 

Sim, o Rodrigo pretendia cumprir o que havia combinado com Onyx. Naquele instante, o pessoal do PSL, partido do presidente, questionou Rodrigo. Alegou-se que ele não tinha feito a leitura de medidas provisórias anteriores. Esse tipo de procedimento é usual, porque as MPs trancam a pauta. Questionado, Rodrigo teve de organizar a fila das MPs. Hoje, a MP da reorganização administrativa do governo ocupa o quinto lugar na fila. Se não for votada até 3 de junho, vai caducar.

— Seu partido, o DEM, controla três ministérios: Casa Civil, Agricultura e Saúde. A despeito disso, não integra o bloco governista. Vota sistematicamente contra o governo. Por que isso acontece? 

Somos um partido de centro, com tendência para a direita. Mas não somos da extrema direita. Não dá para entrar num governo com essa agenda maluca que está aí. Na economia, estamos juntos. Mas não posso avalizar essa agenda da Educação, que prioriza a perseguição a universidades por mera discordância. Também não dá para se associar a essa pauta do ministro das Relações Exteriores. Não podemos participar da base congressual de um governo que a gente não sabe aonde quer chegar.

Flávio! Chega de mimimilícias! - JOSÉ SIMÃO

FOLHA DE SP - 18/05

O saldo da visita do Bozo aos EUA é que o Bush tá a cara do Renato Aragão



Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República!

Piadas Prontas! “Animadores de trenzinho infantil, Homem-Aranha, Batman e Lanterna Verde são presos pela delegada TANOS”. Melek Tanos, a vilã da Marvel! Os Vingadores do Ceará!

E PIB quer dizer Pobreza Individual do Brasileiro! E o novo apelido do Ministro da Deseducação: Ministro Cacau Show! Rarará!

E como disse a minha diarista: “O Bolsonaro tá no óleo”.

Tá mesmo! E o Sensacionalista: “Cresce a campanha para criar um pixuleco do Flávio — BONECO INFLÁVIO”. Inflável é o saldo dele. Saldo Inflávio!

E o sigilo bancário do Queiroz: “12 belinas, 5 voyages e 1 marea cor creme. Por R$ 7 milhões”. Por isso que a Ford faliu! Rarará! E quem consegue vender um marea cor creme merece os R$ 7 milhões!

Rarará!

E essa: “Apuração sobre Flávio pode avançar sobre milícias e primeira-dama”. A Micheque. Micheque Bolsonaro! E o Flávio disse que é tudo Mimimi. Sim, é tudo MIMIMILÍCIAS!

E o Dirceu preso de novo? O Dirceu nasceu pra ser preso: preso na ditadura, preso no mensalão e preso no petrolão! E preso na porta giratória da cela! Rarará!

E atenção! Direto de Ballas! O Bozo escolheu o Texas porque é terra de caubói! Porte de arma no Texas não é liberado, é obrigatório!

E o encontro do Bozo com o Bush? Tuiteiro Thiago Souza: “Bolsonaro se encontra com Renato Aragão”. O Bush tá a cara do Renato Aragão! Rarará! O discurso do Bozo devia ser na língua que ele mais domina, em emojis: bandeirinha americana, três palminhas e um dedão pra cima. Pronto!

E as melhores placas da Greve da Balbúrdia! “Sem ciência não há Viagra”. Xiii, essa foi a que mais abalou o mundo político. Rarará.

“Liberté, Egalité, Université e Bolsonaro Vá se Fudê”.

Rarará.

Os idiotas úteis. Os idiotas inúteis estão todos no goveno! Rarará!

E adorei a charge do João Bosco: “Ladrão: Passa a bolsa! Ministro da Educação: Passa a Bolsa”.

Rarará!

Nóis sofre mas nóis goza!

Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

E como dizia o Bandido da Luz Vermelha: quando a gente não pode, a gente esculacha!


José Simão
Jornalista, precursor do humor jornalístico.

O radicalismo ideológico e a revolução educacional necessária - MARCUS PESTANA

O Tempo - MG - 18/05

Precisamos de ideias claras e projetos consistentes


A prioridade para a educação povoa, desde que o mundo é mundo, o discurso dos líderes políticos. Quase sempre de forma apenas retórica, vazia, carente de diagnósticos precisos e estratégias corretas de transformação efetiva da realidade. É preciso levar a discussão educacional para além dessa usual torrente de obviedades, platitudes e boas intenções.

Mas se o problema fosse só a superficialidade do debate ou a ineficácia das políticas públicas, estaríamos numa plataforma melhor para a virada do jogo. Mas não. Como se não bastassem os graves problemas presentes, a educação brasileira patina, neste exato momento, no pântano do radicalismo ideológico que teima em tirar o foco das questões essenciais e substantivas.

Na última quarta-feira, dezenas de milhares de pessoas em mais de 200 cidades foram às ruas contra cortes orçamentários nas universidades. Não eram apenas eleitores da oposição a Bolsonaro. É verdade que a esquerda universitária e o movimento sindical dos professores têm dificuldade de aceitar a legitimidade de Bolsonaro, que, gostemos ou não, é o presidente de todos os brasileiros, democraticamente eleito. Mas o governo também demonstra dificuldades de abandonar a retórica de palanque, o que ficou claro nas atitudes do ministro da Educação, que se esmerou em apagar incêndio com mais gasolina, e na frase do presidente chamando os manifestantes de “idiotas úteis”.

À margem disso tudo, está a vida real: o cotidiano das crianças e dos jovens no sistema educacional brasileiro. No ranking internacional Pisa, que mede o desempenho da educação em 73 países, não estamos bem na foto: 59º lugar em leitura, 63º em ciências e 65º em matemática. Temos 27% de analfabetos funcionais entre os brasileiros de 15 a 65 anos. A cobertura de creches para a primeira infância, que – está provado – é o período que define a capacidade de desenvolvimento cognitivo e dos talentos e habilidades das crianças, não cobre um terço da necessidade. A evasão no ensino médio é ainda grande.

Mais do que guerrilha ideológica, parta de onde partir, precisamos de ideias claras, projetos consistentes, ações concretas, certo pragmatismo e boa gestão. Menos retórica ideológica, mais ação transformadora. A receita para uma boa educação não é nenhum segredo ou fórmula mágica. Avaliação de desempenho, qualificação e valorização de professores, foco em metas e prêmio por resultados, mobilização e participação intensa das famílias, descentralização e fortalecimento das diretorias para que a escola seja menos estatal e mais comunitária, introdução de novas tecnologias pedagógicas para que o quadro- negro possa competir com a “lan house”, transformação da escola num ambiente lúdico e acolhedor que mobilize a atenção das crianças e dos jovens. Ou seja, há bússolas e planos de ação baseados em evidências nacionais e internacionais e em experiências exitosas mesmo em municípios pobres como Sobral, no Ceará, e Teresina, Oeiras e Cocal dos Alves, no Piauí, que não deixam o pessimismo tomar conta e mostram que outra educação é possível.

Educação é cidadania, cultura, dignidade, qualificação de capital humano, aumento de produtividade. Em última instância, só ela pode transformar o Brasil. Chega de baboseira ideológica rasteira, vamos arregaçar as mangas e dar uma guinada na educação brasileira.

Marcus Pestana é secretário geral do PSDB

Riscos para a economia - JOÃO DOMINGOS

O Estado de S.Paulo - 18/05

Os que olham o Brasil com desconfiança não deixam de ter razão

A crise política começou a afetar a economia, disso parece não haver mais dúvidas. O que é um péssimo cenário para um país que mal saiu de uma recessão profunda, teve uma recuperação bastante pífia, com crescimento de 1,1% em dois anos seguidos, e agora se vê na possibilidade de ter um PIB negativo no primeiro trimestre deste ano e traz de volta o medo da recessão. Nesse mundo de incertezas, o dólar foi lá para cima, passou dos R$ 4. Há riscos de aumento da inflação. Sem falar na dubiedade do presidente Jair Bolsonaro quanto ao controle de preços dos combustíveis.

E tem a crise do emprego, com 13,4 milhões de desempregados na recente medição feita pelo IBGE, já em relação ao primeiro trimestre deste ano. Portanto, já no governo de Jair Bolsonaro, ante 12,1 milhões de desempregados no trimestre passado.

Pior, e esse é um dado preocupante, por causa de seu ineditismo e da impossibilidade de quaisquer tipos de previsão, é que muitas das crises políticas têm sido criadas pelo próprio governo e seu entorno. Além de ser alimentada pela falta de construção de uma base de sustentação no Congresso, o que todo governo necessita ter se não quiser sangrar até não ter mais jeito.

O resultado disso tudo é que o mundo passa a ver o Brasil com outro tipo de olhar, com dúvidas sobre a capacidade que o governo terá de aprovar projetos de grande importância, como a reforma da Previdência, o plano de privatizações, a reforma tributária.

Esses que olham o Brasil com desconfiança não deixam de ter razão. Como é que o presidente da República não consegue defender a medida provisória editada no primeiro dia de seu governo, a medida que lhe deu uma identidade própria, reordenou a Esplanada dos Ministérios, reduziu o número de ministérios de 29 para 22, criou o Ministério da Economia?

A medida provisória perde a validade no dia 3 de junho. Há riscos sérios de não ser votada. Se não for, caduca e seus efeitos legais desaparecem. Se isso acontecer, o governo voltará a ter a cara do governo de Michel Temer. Será um vexame sem tamanho, pois a identidade do governo de Bolsonaro, que foi bem aceita, corre o risco de desaparecer.

Bolsonaro continua a se recusar a criar uma base de apoio no Congresso sob o argumento de que não fará negociações políticas, não loteará seu governo, não cederá à pressão de partidos. Do outro lado, ao perceber que o governo está fraco, que a popularidade do presidente cai, o Congresso não cede e vai para o enfrentamento. A crise só aumenta.

Efeitos colaterais da crise política e do nó que não desata nas relações entre o Executivo e o Legislativo começam a aparecer. O ministro da Economia, Paulo Guedes, o grande fiador do governo de Bolsonaro no mercado, vê-se obrigado a deixar suas funções para ir ao Congresso mendigar a aprovação de um crédito suplementar que assegure ao governo o pagamento no segundo semestre das aposentadorias, dos benefícios de prestação continuada (BPC), do Bolsa Família e até das verbas para cobrir prejuízos causados por desastres naturais. E sem a certeza de que será atendido, porque o que não faltam entre deputados e senadores são questionamentos sobre o tamanho do crédito pedido. Se tiver de suspender o pagamento de um desses benefícios passará a sensação de incompetência de gestão.

Questionado sobre a situação atual, Bolsonaro tem culpado os governos anteriores. O presidente não deve se esquecer, porém, de que é ele quem está no comando, que as contas serão cobradas de seu governo. Terceirizar a culpa não resolverá nada em termos concretos. O único que pode acertar os passos dele é ele mesmo.

"Brasil, a Geni dos brasileiros" - GUILHERME FIUZA

GAZETA DO POVO - PR - 18/05


"Não há novidade alguma na obsessão brasileira pelo fracasso. Você não precisa ler nenhum sociólogo de passeata para constatar o fenômeno. Cada passo à frente corresponde a uns dez para trás – e andar de lado é progresso arrojado. Por uma razão miseravelmente simples: tacar pedra, aqui, é salvo-conduto.

Por que trabalhar dobrado para construir, num lugar onde destruir é muito mais charmoso, além de bem mais fácil? Você está cansado de saber que numa nação infantilizada fazer cara de nojo para governo é sucesso garantido. Arregaçar as mangas pelo bem comum e correr o risco de tomar uma chapa branca na testa? Deixa de ser otário.

Esse componente tão dramático quanto corriqueiro do caráter nacional já deu as caras, sem a menor inibição, inúmeras vezes. Uma das mais impressionantes se deu logo após a eleição de Lula, em 2002.

Desafiado publicamente por Pedro Malan a esclarecer se sua plataforma era a demagogia dos calotes e bravatas contra a elite malvada ou o cumprimento de contratos e a responsabilidade fiscal, Lula se comprometeu com a segunda opção. E cumpriu. Iniciou seu governo com uma equipe econômica de alto nível, chefiada por Antonio Palocci – cuja gestão foi reconhecida por dez entre dez expoentes do setor – e Henrique Meirelles no Banco Central.

Estavam dadas as condições para um novo ciclo virtuoso, depois das crises de energia (doméstica) e da Rússia (internacional) que travaram na virada do século a linha ascendente do Plano Real. Lula era um líder popular mostrando senso de pragmatismo para unir a estruturação econômica e o resgate social – enfim, para unir o país.

E o que fez o país? Fez o que faz sempre: sabotou.

A fritura de Palocci não demorou a começar e vinha de todos os lados (isso te lembra alguma coisa?). Corneteiros e cassandras brotavam no meio empresarial, na imprensa, nas artes, na política – inclusive no PT, o partido governante. Aliás, os tucanos fizeram a mesma coisa com Fernando Henrique e Malan – porque, como já foi dito, aqui fazer cara de nojo para governo é investimento. Mesmo se você estiver no governo.

O Plano Real triunfou apesar dos tucanos – que até o apoiaram majoritariamente na decolagem (covardia não é burrice), mas atrapalharam tanto no nascedouro quanto na sustentação. Malan passou oito anos sendo demitido na imprensa – e adivinha a origem dessas sementinhas? Uma equipe de abnegados executou o maior plano econômico da história enquanto o presidente era chamado todo dia de elitista, neoliberal (o fascista da época) e reacionário por ter se aliado a Antonio Carlos Magalhães, o Toninho Malvadeza. Identificou o padrão?

Voltando a Lula, aquela configuração que prometia unir o país (ahaha) logo virou tiro ao alvo: MST querendo mais grana, PT querendo mais cargo, PSOL nascendo para sua vida gloriosa de virgem do puteiro, tucano querendo o poder de volta, empresário “moderno” querendo dinheiro de graça e fritando o ministro da Fazenda que buscava a modernização. O vice-presidente, que era empresário, atacava dia sim, outro também, a política macroeconômica do seu próprio governo. Crise, teu nome é Brasil.

Segundo vários representantes da intelectualidade nacional, o presidente dos pobres estava vendendo a alma ao diabo. Veríssimo se declarava decepcionado com a adesão de Lula ao superávit primário… (Parece piada, e é, mas aconteceu). O país só se acalmou quando conseguiu interromper essa gestão virtuosa e abrir caminho para o maior assalto da história.

Aí sobreveio uma década de paz. Em meio à roubalheira e à depravação institucional não se viu nem passeata cenográfica pela educação.

Pega daí, caro leitor: boa equipe, chance de reconstrução, cara de nojo, decepção… Só continua chamando isso aqui de nação quem confunde rima com solução.

Nota antropológica: FHC e vários outros que combateram a praga nacional dos falsos virtuosos hoje estão na orquestra da crise. Que lugar está reservado para esses personagens na história do Brasil? Pergunta no Posto Ipiranga."

Bolsonaro, no outono - DEMÉTRIO MAGNOLI

Folha de S. Paulo - 18/05

O presidente tem prazo de validade, que não é 2022, mas 2020


FHC descreveu-se como o "improvável presidente", atestando seu reconhecimento de que chegara ao Planalto nas asas de um desvio histórico. Bolsonaro deve a cadeira presidencial a um acaso ainda mais fortuito que o sucesso do Plano Real: a ruína do sistema político da Nova República na moldura de uma profunda depressão econômica.

Mas, ao contrário do sofisticado intelectual, o capitão inculto imagina que seu triunfo deve-se à "necessidade histórica" —isto é, a uma "revolução" propelida pela ideologia. Dessa ilusão nasce a crise crônica que trava o governo e anuncia a sua implosão.

O sistema político edificado três décadas atrás combinou os poderes quase imperiais de um presidente que governa por decretos com as prerrogativas quase ilimitadas de um Congresso fragmentado em miríades de partidos. O presidente fantasiado de soberano precisa, ao longo do mandato, usar seus poderes para construir —e, depois, conservar— uma maioria parlamentar operacional. Bolsonaro não quer —e provavelmente não conseguiria, mesmo se quisesse— engajar-se na missão da governabilidade.

O impasse tem um contexto. FHC navegou o sistema político a bordo de uma nau mais ou menos estável: a aliança programática PSDB/PFL, que lhe conferia um núcleo sólido de apoio no Congresso. O tucano comprou a governabilidade a custo baixo, praticando moderadamente o esporte da fisiologia. Já Lula pilotou uma nau avariada pela falta de um consenso programático básico na coalizão PT/PMDB/PP e pela multiplicação descontrolada de partidos. O petista abriu as portas da administração pública e das estatais à sanha colonizadora das máfias políticas. Os resultados foram o mensalão, o petrolão e, no fim, a derrubada do edifício pela artilharia da Lava Jato.

O presidente —qualquer presidente eleito na hora da derrocada— teria as alternativas realistas de tentar restaurar o sistema ou de encarar o desafio de reinventá-lo. Bolsonaro, porém, não entende a natureza da encruzilhada. Isolado na concha ideológica de suas próprias redes sociais, singra o mar de destroços girando o timão erraticamente, desorientado por uma bússola que nunca aponta o norte. De um lado, teme uma conspiração parlamentar destinada a envolvê-lo no novelo fatal da fisiologia. De outro, teme uma conspiração do STF e da imprensa destinado a fabricar um impeachment. Na batalha contra os dois moinhos de vento, hostiliza o Congresso, os juízes e a opinião pública, cavando a sepultura de seu governo.

O governo não tem nada parecido com uma base parlamentar. As sucessivas derrotas em votações banais no Congresso, iluminadas pelos clarões de ataques aos parlamentares promovidos por ministros, assessores e filhos do presidente, erguem-se como nuvens de tempestade sobre o projeto de reforma previdenciária. A adição das ruas à equação política semeia o campo da incerteza. A gosma ideológica também é responsável pelo novo componente da crise: foram as repetidas provocações do ministro olavete, não um simples contingenciamento de recursos, que impulsionaram centenas de milhares de pessoas a aderir às manifestações. Da rejeição dos cortes na Educação à recusa da Nova Previdência, o passo depende apenas do ritmo da desmoralização do governo.

"Idiotas úteis": não é, ainda, 2013, mas um presidente alheio à realidade esforça-se para recriá-lo. Bolsonaro tem prazo de validade, que não é 2022, mas 2020. Sem uma reforma previdenciária forte, a persistência da estagnação econômica dissolverá a legitimidade política do governo.

No horizonte cinzento, para lá da operação tartaruga do Ministério Público, emergem os contornos agourentos de um certo Adriano e de um tal de Queiroz. O Brasil real quer emprego, renda e serviços públicos, não a "revolução" reacionária do bolsonaro-olavismo. Mas o outono já vai passando, e só a Carolina não viu.

Demétrio Magnoli, sociólogo, autor de “Uma Gota de Sangue: História do Pensamento Racial”. É doutor em geografia humana pela USP.

Quando as crises se encontram - MÍRIAM LEITÃO

O GLOBO - 18/05

Economia brasileira está sendo atingida por uma onda de aversão ao risco, que é agravada pelos erros e brigas inúteis do governo


Houve nos últimos dias um agravamento da crise brasileira e a isso se juntou um novo episódio da guerra comercial entre Estados Unidos e China. Nossas fraquezas, e as brigas deles, nos fazem ser atingidos pela onda de aversão ao risco. O ceticismo com o governo Bolsonaro aumentou muito no mercado financeiro e isso bateu no dólar. Quando o ambiente está assim, qualquer notícia pode detonar esse movimento no câmbio e nas bolsas, mas o mais perigoso está acontecendo dentro da economia.

Quem vê a economia brasileira por dentro acha que muitas empresas podem quebrar.

— Perdeu-se o momento, aquela hora do impulso, que leva a mais investimento. O mercado financeiro criou uma expectativa, com a eleição de Bolsonaro, que as coisas iriam melhorar. Os erros sucessivos do governo fizeram o país perder essa hora. Muitas empresas estão entrando em desespero, porque vivem uma crise financeira e estão se dando conta de que a melhora ainda vai demorar. Elas talvez não aguentem continuar esperando Godot — avalia um economista que assessora várias companhias.

Um diplomata que acompanha de perto as negociações entre Estados Unidos e China está convencido de que é tudo muito mais complexo do que parece.

— De um lado os chineses acham que os Estados Unidos estão sendo draconianos e exigindo nada menos que a rendição. De outro lado, os Estados Unidos não conseguem entender a cultura chinesa e interpretam de maneira equivocada os sinais dados na mesa de negociação. Os americanos não entendem mesmo o código chinês. Quando eles ficam em silêncio, acham que é aquiescência e depois quando vem a negativa entendem como recuo. Não têm paciência com a progressividade do processo negociador chinês — explicou o diplomata.

Cresce na economia brasileira a convicção de que este ano está perdido. Ouvi dentro do governo a previsão de que o país pode ter um crescimento abaixo de 1% este ano. No mercado financeiro afirma-se que nem a reforma da Previdência resolverá o problema. O diagnóstico é de que o governo tem criado distrações que afastam o país da agenda e produzem uma deterioração rápida da conjuntura. Essa piora da expectativa bate diretamente nas empresas. Os bancos emprestam cada vez menos para as companhias por causa do aumento do risco corporativo.

No mundo, a economia americana está crescendo, mas a chinesa está em maior vulnerabilidade, e a guerra comercial eleva a incerteza sobre o PIB chinês. O crescimento dos Estados Unidos é forte, 3%, com taxa de desemprego abaixo de 4%. Essa força reflete os “esteroides” dados por Trump, com a redução dos impostos. Alguns economistas acham que ainda este ano pode haver uma desaceleração da economia americana. Quem acompanha as negociações acha que Trump pode recuar, fingindo não estar fazendo isso, e aproveitar qualquer acordo para cantar vitória. Mas de qualquer maneira o clima azedou muito na mesa de negociação a partir do momento em que Trump escalou a agressividade através da mídia social.

No Brasil, há economistas no mercado financeiro defendendo que se reduza os juros para estimular a economia, diante dos dados de que ela está esfriando ainda mais. No governo o entendimento é outro: de que o Banco Central controla a Selic, mas ela é apenas parte de todo o conjunto das taxas de juros. O problema brasileiro é fiscal, por isso a queda dos juros pode provocar o efeito contrário, ou seja, a elevação das taxas cobradas das empresas e das pessoas.

A crise política contaminou a economia. O presidente Jair Bolsonaro cria problemas diários. Ontem divulgou um texto anônimo, com uma interpretação equivocada da realidade brasileira, e se dizendo vítima de conspiração. Lembra, obviamente, Jânio Quadros e suas “forças ocultas”. Sandices desse tipo consumiram o otimismo que havia sido gerado pela eleição.

— O mercado e as empresas “compraram” a agenda liberal de Paulo Guedes. Agora, o temor é de que a crise política torne inviável essa agenda — explica um integrante do próprio governo.

Essa deterioração acontece de forma muito prematura. Bolsonaro chega ao quinto mês enfrentando manifestações que lembram o fim do governo Dilma. Para piorar, as duas maiores potências ameaçam a economia global.


A seita olavista - RODRIGO CONSTANTINO

REVISTA ISTO É


Globalistas controlam tudo, a imprensa é vendida e há comunistas por todos os cantos. E quem discordar dessas ideias do guru deve ser silenciado por sua horda


Com as confusões criadas por Olavo de Carvalho, guru do presidente, muitos olhares se voltaram para a Virgínia a fim de entender o que pensa esse que influencia tanto o governo, gerando cizânia o tempo todo. Como desafeto do sujeito há mais de uma década, desde os idos tempos do Orkut, conheço bem o modus operandi dele e sua turma. Por isso não tenho receio em afirmar: é seita sim!

Algumas características mostram bem isso. Em primeiro lugar, toda a seita desperta um grau de fanatismo cego. Para tanto, é importante a crença de que só o guru consegue enxergar aquilo que ninguém mais é capaz. “Olavo tem razão” virou um bordão repetido nem sempre em tom de brincadeira. A turma acha mesmo que só ele viu de forma holística a coisa toda. Sua dialética, aprendida com o marxismo, ajuda a manter essa aura: como dá uma no cravo e outra na ferradura, está sempre certo.

Foi assim durante o impeachment de Dilma, na greve dos caminhoneiros etc. Já a postura diante de Bolsonaro é mais contraditória: ele “fez” o mito ser eleito e emplacou ministros, mas é o maior crítico do governo e dos militares. Se der certo, mérito dele. Se der errado, ele bem que avisou.

Como toda a seita, os críticos precisam ser calados e os discípulos devem se sentir parte de um seleto grupo de escolhidos. Qualquer crítica ao guru é repelida com uma chuva de ataques pessoais, acusações de traição ou algo que o valha. Diante de cada erro ou incoerência do mestre, seus seguidores repetem que só quem acompanha seus cursos é capaz compreendê-lo na totalidade. São as lindas roupas invisíveis do imperador. Só os mais inteligentes conseguem enxergá-la. Os demais apenas contemplam sua nudez.

Como afirma Czeslaw Milosz, em “Mente cativa”: “O inimigo, de forma potencial, sempre estará presente; o único aliado será o homem que aceitar a doutrina 100%. Se ele aceitá-la apenas 99%, necessariamente deverá ser considerado um inimigo, pois do 1% remanescente pode surgir uma nova igreja”. Basta ver como olavetes tratam os antigos aliados. O cantor Lobão tem sido massacrado por criticar essa postura.

As seitas costumam apelar para um simplismo extremo. “Séculos de história humana, com suas milhares e milhares de questões minuciosas, são reduzidos a algumas, a maior parte termos generalizados”, escreveu Milosz. Isso dá a ilusão de conhecimento pleno, fornecendo respostas para todas as perguntas. Teses conspiratórias seduzem: globalistas controlam tudo, a imprensa é vendida e há comunistas por todos os cantos. Depois de atacar a tudo e a todos com xingamentos, vem a reação. Daí o guru banca a vítima. Quem criticar essa postura, só pode ser obcecado ou invejoso. Novamente, uma resposta típica das seitas.

Presidente Bolsonaro? - MARCO ANTONIO VILLA

REVISTA ISTO É

O líder máximo do Executivo ainda pensa como deputado do baixo clero. Sua articulação é débil, repleta de improvisos e de polêmicas vazias. Os sinais de desgaste já são evidentes


Jair Bolsonaro precisa assumir a presidência. Quase cinco meses após a posse continua agindo como um deputado do baixo clero. Esqueceu que está no mais alto cargo da República. Que há um protocolo. Que qualquer coisa que fale tem imediata consequência política. Não custa lembrar o episódio sobre o preço do óleo diesel e a queda das ações da Petrobras. Insiste em agir como parlamentar que precisa a todo momento contentar sua base eleitoral. Suas falas agressivas acabam gerando repercussões extremamente negativas. Vai a Dallas — após o vexame de Nova York — receber um título que, após polêmicas, diminuiu de tamanho. E por que Dallas? Há o encontro com George W. Bush. Porém, o ex-presidente americano é opositor de Donald Trump. Assim como seu pai, o também ex-presidente George H. W. Bush (1924-2018), que fez questão de dizer que, em 2016, votou em Hillary Clinton. Qual o ganho diplomático? E o roteiro da viagem? Quais reuniões foram planejadas?

O improviso tomou conta do Palácio do Planalto. Não causará estranheza se em um banquete oficial for oferecido pão com leite condensado. Estamos no momento do vale-tudo. Porém, mostras de cansaço são evidentes. O Itamaraty virou sucursal de Steve Bannon. O extremista de direita tomou a Casa de Rio Branco. Hoje, a política externa é determinada por uma organização estrangeira a serviço de uma ideologia exótica e que coloca em risco a segurança nacional. Algo que nunca ocorreu na história da República.

O caos político poderá levar à derrota da reforma da Previdência. A coordenação política é confusa. Os parlamentares indicados para os cargos de liderança são de primeiro mandato. Não conhecem a história do nosso parlamento e são péssimos articuladores. Dão mais atenção às redes sociais do que ao trabalho. Estão deslumbrados com os minutos de fama. Esqueceram que precisam obter, no mínimo, 308 votos em duas votações no plenário da Câmara dos Deputados. Optaram por atacar os próprios colegas, ordenando que suas bases de apoio os desqualifiquem nas redes sociais. Como se isso levasse a construir uma maioria constitucional.

E Jair Bolsonaro nisso tudo? Assiste passivamente. Não age. Não consegue liderar. No fundo, sente saudades dos tempos da Câmara dos Deputados. Era tudo tão fácil. Bastava dar uma entrevista bombástica, de forma bem irresponsável, que virava notícia. O fato não trazia nenhuma consequência. Sumia para reaparecer, meses depois, como alguma nova patacoada

Competir ou morrer - RICARDO AMORIM

REVISTA ISTO É

O custo de um carro para o mercado interno é 40% maior que o de seu equivalente mexicano. Se exportado, os impostos somariam 15%. No México, o índice é de meros 2%



O momento é crítico. Entraves comprometem nossa competitividade, limitando investimentos e levando ao fechamento de fábricas, como as da Eli Lilly, Roche e Ford. Só com a fábrica da Ford, 2.800 empregos serão perdidos.

Por que isto está acontecendo? Alta carga tributária, excesso de encargos trabalhistas, alto custo logístico, ampla flutuação cambial e juros elevados. A indústria é um grande empregador, o setor mais produtivo e com os mais altos salários, mas também é um dos mais tributados. Isto nos condena a produzir e exportar produtos de baixo valor agregado. Dos dez principais produtos que exportamos no primeiro trimestre, nove são commodities. A consequência? Menos empregos e salários mais baixos.

Pela alta carga tributária, não atraímos investimentos para exportação de veículos, como o faz o México. Lá, além da produção para mercado interno, há uma produção ainda maior para o externo. Em 2018, o México exportou 88% da produção, o Brasil 22%.

Aqui, faltam programas para estimular exportações, impedindo o aproveitamento da grande capacidade ociosa e geração de empregos. Exportar é uma necessidade para a indústria receber investimentos externos e sobreviver. Por causa da grande flutuação cambial e sem grandes receitas de exportação, as multinacionais não têm previsibilidade de ganhos, deixando de investir. Preferem levar os recursos e os empregos para países onde as condições são mais favoráveis.

Após a entrada em vigor do acordo de livre comércio de automóveis e autopeças entre o Brasil e o México, a questão ficou ainda mais importante. Abertura de mercado é bem-vinda. Traz o potencial de aumentar nossa competitividade e integrar mais o Brasil na cadeia global de produção, mas para isso, necessitamos de equidade nas condições. Caso contrário, a indústria nacional será aniquilada e a produção e os empregos migrarão para o México.

Hoje, o custo de produzir um veículo no Brasil é 18% maior do que no México. Quando se acrescentam os impostos, caso o veículo seja vendido no mercado interno, os custos totais no Brasil são 40% maiores. Caso seja exportado, o carro pagará 15% em impostos.

No México, esse índice é de 2%.

Uma reforma tributária ampla é fundamental para novos investimentos e mais empregos. Enquanto não acontece, uma solução transitória seria aumentar o Reintegra, criado para compensar os impostos pagos na exportação, dos atuais 0,1% para 9%. Ou o Brasil acaba com seus problemas de competitividade ou os problemas de competitividade acabam com o Brasil.

A política brasileira entre dois passados - BOLÍVAR LAMOUNIER

ESTADÃO - 18/05

Somos um país sem elites autônomas, sem classe média e sem partidos políticos



Em 1958, quando publicou Os Donos do Poder (Editora Globo), mestre Raymundo Faoro introduziu o conceito de patrimonialismo, estabelecendo por meio dele a mais clássica das clássicas interpretações da História brasileira.

Mas, parafraseando Ortega y Gasset, podemos dizer que toda grande obra é ela mesma e sua circunstância. Nós, leitores preguiçosos, lemos o título e deixamos de lado o subtítulo do livro. Neste – Formação do Patronato Político Brasileiro – Faoro esclareceu melhor o sentido de seu trabalho. O Estado patrimonialista deitava raízes na era medieval portuguesa, mas Faoro quis manter a dignidade do substantivo formação. Nós, imbuídos da ideologia desenvolvimentista que à época emergia com todo o vigor, não quisemos perceber o paradoxo que o grande historiador gaúcho ali deixara, de caso pensado. Otimistas, só queríamos pensar no futuro e acreditávamos piamente que a industrialização liquidaria todos os resquícios do passado colonial. Portanto, o próprio patrimonialismo haveria de fenecer naturalmente. Morreria de morte morrida logo que as chaminés das fábricas de São Paulo enchessem o céu com sua espessa fumaça. Não nos passou pela cabeça que o Estado patrimonialista era uma estrutura poderosa, capaz de resistir a pressões contrárias à sua índole.

De nossa incapacidade de perceber a resiliência do patrimonialismo decorreram vários equívocos, o mais óbvio dos quais é que ele simplesmente se recusou a morrer. Está aí, perceptível a olho nu, agigantado e cada vez mais forte. Seu hábitat natural é, obviamente, Brasília, onde, sem dificuldade alguma, seus tentáculos sufocam e interligam os três Poderes. Estado patrimonialista, uma estrutura que vive em função de si mesma, que persegue os objetivos que ela mesmo escolhe, e o faz distribuindo o grosso da riqueza e as melhores oportunidades de ganho entre os “amigos do rei”. É certo que admite novatos, mas por cooptação, não como protagonistas autônomos, como bem explicou Simon Schwartzman no também clássico Bases do Autoritarismo Brasileiro(Editora da Unicamp).

Do equívoco que acima enunciei no atacado, penso que três outros merecem ser abordados no varejo: somos um país sem elites autônomas, sem classe média e sem partidos políticos.

Teríamos elites autônomas se as tivéssemos fora do Estado, capazes de balizar as ações do núcleo estatal, impelindo-o a levar mais em conta o que, para abreviar, chamarei de bem comum. Os poderosos “de dentro do Estado” obviamente não são elites no sentido que acabo de definir; são o próprio Estado, os amigos do rei, vale dizer, de si mesmos. Os que não se deixam balizar por nenhum poder externo, pois detêm em caráter privativo a função de balizar a sociedade, de fixar e aplicar as normas, com a parcialidade que lhes parece adequada em relação a qualquer assunto e a cada conjuntura.

Do ponto de vista histórico, como aconteceu isso? Ora, sabemos todos que a grande atividade econômica do Brasil colonial era a lavoura canavieira. O consórcio colonial luso-brasileiro deteve o monopólio mundial do produto até meados do século 17. Começou a perdê-lo com a invasão holandesa, iniciada em 1624. Expulsos, entre 1654 e 1661, os holandeses pegaram seus volumosos capitais, a técnica dos engenhos e o respaldo da Holanda, então a rainha dos mares, e foram para a América Central, de onde, num abrir e fechar de olhos, destruíram a hegemonia luso-brasileira. Rápida no gatilho, a camada dominante da lavoura açucareira percebeu que dali em diante sua sobrevivência dependeria mais da política que da economia. E pulou para dentro do Estado, onde até hoje se encontra.

Algo semelhante, mas em menor escala, ocorreu com a extração do ouro e dos diamantes em Minas Gerais, mas o caso verdadeiramente instrutivo é o da cafeicultura paulista. Tendo viabilizado a passagem do trabalho escravo ao assalariado, ela também deteve por algum tempo um quase monopólio do mercado mundial do produto. Não menos importante, como esclareceu Celso Furtado, ela permitiu o surgimento de uma elite muito mais qualificada, capaz de pensar grande e de operar com tirocínio no mercado internacional. Mas a História se repetiu, embora por outros caminhos. A superprodução e a competição internacional não tardaram a aparecer e a brilhante elite cafeicultora o que fez? Reuniu-se em Taubaté, em 1906, e pleiteou também seu lugarzinho no colo do Estado. Nos primórdios da industrialização, a elite nem precisou pleitear nada, pois já nasceu aconchegada na estrutura corporativista montada por Getúlio Vargas, encaixando-se no sindicalismo de empregadores.

Demonstrar que tampouco dispomos de uma classe média capaz de sobreviver com os rendimentos da pequena empresa ou de empregos de boa qualidade é uma tarefa bem mais simples. Poucos anos atrás trombeteamos muito o surgimento de uma “nova classe média”, não nos dando conta de que toda série numérica pode ser subdividida em quantas subséries quisermos, e uma delas será “média”. Uma pena que os limites mínimo e máximo de tal subsérie eram constrangedoramente baixos. Nada que ver com uma classe média numerosa, robusta e autônoma, e é por isso, evidentemente, que temos uma das piores distribuições de renda do mundo: nossa “classe média” é um conjunto vazio entre a pífia minoria que maneja o Estado patrimonialista e a massa de miseráveis à qual tal Estado nem uma escolarização decente proporciona.

E os partidos políticos? Ora, um partido político digno de tal designação tem como requisito fundamental a capacidade de se superpor a interesses demasiado estreitos, balizando-os no sentido do bem comum. Os nossos são incapazes de fazer isso porque no fundo eles não passam disto: são meros grupos de interesse, protagonistas do corporativismo desatinado a que nosso país chegou.

* BOLÍVAR LAMOUNIER É CIENTISTA POLÍTICO, SÓCIO-DIRETOR DA AUGURIUM CONSULTORIA, MEMBRO DA ACADEMIA PAULISTA DE LETRAS; É AUTOR DO LIVRO "DE ONDE, PARA ONDE – MEMÓRIAS" (EDITORA GLOBAL)

Políticas de Estado e de Governo - MERVAL PEREIRA

O GLOBO - 18/05


Diante da confusão instalada no país, com o presidente confundindo suas opiniões pessoais com as do Estado brasileiro, fica necessário diferenciar politicas de Estado e de governo. Penso que é um direito de qualquer governo, por exemplo, redefinir a política de combate às drogas, como agora está fazendo o governo Bolsonaro. Podemos ser contrários, considerar, como considero, um retrocesso abandonar a política de contenção de danos, mas qualquer governo tem o direito de definir seus programas de saúde.

O que não pode é transformar em política de Estado suas idiossincrasias. Uma política de Estado, por exemplo, é considerar, a partir da Constituição de 1988, a tortura inafiançável, igual a um crime hediondo, insuscetível de anistia. Mas a anistia aprovada no fim da ditadura militar abarca também esse crime, considerado como crime contra a Humanidade.

Acho, porém, que a anistia, mesmo aprovada numa ditadura, não deve ser revista. O que uma política de governo pode fazer é rever os critérios para a indenização, como está sendo feito. O jurista José Paulo Cavalcanti, ex-ministro da Justiça e membro da Comissão da Verdade, lembra que, na verdade, foram duas anistias. “Uma aprovada no fim da ditadura militar (Lei 6.683, de 28/08/1979). E, outra, aprovada depois do fim da ditadura militar (EC 26 de 27/11/1985). Por um Congresso livre. Já em plena redemocratização”.

Com relação a fatos ocorridos na ditadura militar, José Paulo Cavalcanti lembra que o Supremo já definiu a questão, com fundamento em cláusulas pétreas da Constituição. Considerando, por larga maioria (7 votos a 2), não poder se penalizar ninguém por fatos anteriores às Leis de Anistia. De parte a parte.

“Não há como rever isso, para atingir fatos ocorridos há 50 anos”. O ministro aposentado do Supremo Tribunal Federal (STF) Eros Grau foi o relator da ação no Supremo, aprovada por maioria. O que não impediu que, ao fim de seu voto, tivesse afirmado: “É necessário dizer, por fim, vigorosa e reiteradamente, que a decisão pela improcedência da presente ação não exclui o repúdio a todas as modalidades de tortura, de ontem e de hoje, civis e militares, policiais ou delinquentes”.

O jurista Joaquim Falcão, fundador da Escola de Direito da Fundação Getulio Vargas do Rio e um dos criadores do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), lembra que, com a Declaração dos Direitos do Homem, das Nações Unidas, muitos consideram a estrutura institucional de defesa dos direitos fundamentais como incluída na política de Estado. Ele defende que a segurança nacional é politica de Estado. Crime organizado, milícias, traficantes, lavagens de dinheiro relacionadas, tudo isso passou a ameaçar o Estado.

Com relação às idiossincrasias do presidente, José Paulo Cavalcanti considera que é preciso esperar por medidas concretas, “se é que elas virão, algum dia”, para, só então, aumentar o nível das críticas. “Criticar grupos que tenham preferências sexuais seria uma ‘política’? De governo?, ou de Estado? A primeira constatação é que todos somos livres para dizer as besteiras que quisermos. Inclusive quem está no governo. Mas isso não pode ser considerado ‘política’, permanecendo no reino, apenas, das opiniões.”

O ministro aposentado do Supremo Tribunal Federal (STF) Eros Grau ressalta que o artigo 2º da nossa Constituição é bem claro ao determinar que o Legislativo, o Executivo e o Judiciário sejam independentes e harmônicos entre si. “O que se extrai dessa independência e harmonia — na doutrina mais antiga referida como separação dos poderes — e da compreensão do todo que ela consubstancia (a Constituição) é o seguinte: exceto se e quando ela expressamente dispuser em outro sentido, (a) ao Legislativo incumbe fazer as leis, (b) ao Executivo aplicá-las e (c) ao Judiciário controlar sua aplicação pelo todo social, setor público e setor privado”.

“As políticas de governo competem ao Executivo, as de Estado são definidas pela Constituição. Suas idiossincrasias não podem afetar o cumprimento de suas funções”, afirma o ministro Eros Grau.


A ameaça de Bolsonaro - EDITORIAL O ESTADÃO

O Estado de S. Paulo - 18/05


Ao “contar com a sociedade” para enfrentar o “sistema”, Jair Bolsonaro repete o roteiro de outros governantes que, despreparados para a vida democrática, flertaram com golpes em nome da “salvação” nacional.


O presidente Jair Bolsonaro considera impossível governar o Brasil respeitando as instituições democráticas, especialmente o Congresso. Em sua visão, essas instituições estão tomadas por corporações – que ele não tem brio para nomear – que inviabilizam a administração pública, situação que abre caminho para uma “ruptura institucional irreversível” – conforme afirma em texto que fez circular por WhatsApp ontem, corroborando-o integralmente, como se ele próprio o tivesse escrito.

Ao compartilhar o texto, qualificando-o de “leitura obrigatória” para “quem se preocupa em se antecipar aos fatos”, Bolsonaro expressou de maneira clara que, sendo incapaz de garantir a governabilidade pela via democrática – por meio de articulação política com o Congresso legitimamente eleito –, considera natural e até inevitável a ocorrência de uma “ruptura”.

Não é de hoje que o presidente se mostra inclinado a soluções autoritárias. Depois da posse, Bolsonaro mais de uma vez manifestou desconforto com a necessidade de lançar-se a negociações políticas para fazer avançar a agenda governista no Congresso. Confundindo deliberadamente o diálogo com deputados e senadores com corrupção, o presidente na verdade preparava terreno para desqualificar os políticos e a própria política – atitude nada surpreendente para quem passou quase três décadas como parlamentar medíocre a ofender adversários e a louvar a ditadura militar. Não por acaso, o próprio Congresso parece ter desistido de esperar que Bolsonaro se esforce para dialogar e resolveu tocar por conta própria a agenda de reformas.

Desde sua posse como presidente, Bolsonaro vem demonstrando um chocante despreparo para o exercício do cargo, mas o problema podia ser contornado com a escolha de ministros competentes. Com exceção de um punhado de assessores que realmente parecem saber o que fazem, porém, o governo está apinhado de sabujos cuja única função ali parece ser a de confirmar os devaneios do presidente, dos filhos deste e de um ex-astrólogo que serve a todos eles de guru, dando a fantasias conspiratórias ares de realidade.

O texto que Bolsonaro divulgou – recomendando que fosse passado adiante – diz que “bastaram cinco meses de um governo atípico, ‘sem jeito’ com o Congresso e de comunicação amadora para nos mostrar que o Brasil nunca foi, e talvez nunca será, governado de acordo com o interesse dos eleitores”. Segundo o texto, o presidente “não aprovou nada, só tentou e fracassou” porque “a agenda de Bolsonaro não é do interesse de praticamente nenhuma corporação”. Nas atuais circunstâncias, “a continuar tudo como está, as corporações vão comandar o governo Bolsonaro na marra” – e, “na hipótese mais provável”, diz o texto, “o governo será desidratado até morrer de inanição, com vitória para as corporações”. Mas diz também que é “claramente possível” que o País fique “ingovernável”, igualando-se à Venezuela. Aí entraria a tal “ruptura institucional” de que fala o texto chancelado por Bolsonaro – que o usou para ilustrar o risco que diz correr de ser assassinado pelo “sistema”.

Isso é claramente uma ameaça à Nação. Conforme se considere o estado psicológico de Bolsonaro e de seus filhos, a ameaça pode ser o tsunami de uma renúncia ou o tsunami de um golpe de Estado em preparação. Pois o presidente não apenas distribuiu o texto, como mandou seu porta-voz dizer que, embora esteja “colocando todo o meu esforço para governar o Brasil”, a “mudança na forma de governar não agrada àqueles grupos que no passado se beneficiavam das relações pouco republicanas”. Em seguida, fez um apelo às ruas: “Quero contar com a sociedade para juntos revertermos essa situação” – e já no próximo dia 26 está prevista a realização de uma manifestação bolsonarista, contra ministros do Supremo Tribunal Federal e a favor do pacote anticrime do ministro da Justiça, Sergio Moro.

Ao “contar com a sociedade” para enfrentar o “sistema”, Bolsonaro repete o roteiro de outros governantes que, despreparados para a vida democrática – em que a vontade do presidente é limitada por freios e contrapesos institucionais –, flertaram com golpes em nome da “salvação” nacional. Se tudo isso não passar de mais um devaneio, já será bastante ruim para um país que mergulha cada vez mais na crise, que tem seu fulcro não nas misteriosas “corporações” – as suas “forças ocultas” –, mas na incapacidade do presidente de governar.