quinta-feira, maio 19, 2011

JOSÉ SERRA - O direito à norma culta


O direito à norma culta
JOSÉ SERRA
BLOG DO SERRA

Já se escreveu bastante, mas leitores e amigos insistem para que eu aborde o tema do livro que ensina que dá no mesmo dizer “os livros” ou “os livro”.

O pensamento e a escrita são livres. O que me espanta é a dificuldade do Ministério da Educação – MEC para reconhecer que errou ao chancelar o livro, comprá-lo e distribuí-lo para quase 500 mil estudantes, usando dinheiro público – 5 milhões de reais, pelo que eu soube.

Claro que existe a chamada “norma culta” da língua e existem normas incultas. No bairro da Mooca da minha infância, então pobre, a garotada na rua falava “nós vai”; pegava mal falar “nós vamos”. No interior de São Paulo é comum comerem “s” e “r” do fim das palavras.

É óbvio que ninguém deve discriminar ninguém por isso. Mas não tem cabimento colocar as duas formas de falar no mesmo plano, num livro que deveria ensinar português a jovens e adultos que estão precisamente querendo aprender a norma culta da língua. A norma inculta passa a ser apenas vítima de “preconceito linguístico” e a norma culta um instrumento de discriminação de classes. Para aprender o português popular eles não precisariam ir à escola, ou, pelo menos, enfatizar o bom aprendizado. A norma culta precisaria ser reconhecida como um instrumento de dominação de classes, dos ricos aos oprimidos.

O MEC e as secretarias estaduais de educação às vezes deixam passar erros nos livros didáticos que distribuem. Errar é humano. O problema sério é não reconhecer o erro. Por vezes, o erro deixa transparecer uma intenção política. Este foi o caso de outro livro didático muito discutido por estes dias, que esconde acertos do governo FHC e erros de Lula. Se a moda pega… Transformar a escola em agência de doutrinação política é típico de regimes totalitários. O MEC não pode compactuar com isso.

Voltando ao livro de português: diga o que disser a autora, acho muito difícil que algum jovem tenha dúvida sobre a importância de falar e escrever bem o idioma nacional. O que eu observo por toda parte – e tenho andado pelo Brasil – é um esforço muito determinado dos jovens de aprender e usar a norma culta da língua.

Na língua falada, parece que vamos bem. Encontro pessoas que não tiveram chance de completar o ensino fundamental, falando de um modo claro e correto. O rádio e principalmente a televisão contribuem muito para isso, difundindo um padrão nacional de português pelos quatro cantos do país.

Na língua escrita, ainda temos dificuldades. Às vezes, em cartas e emails que recebo ou em comentários que leio na web, noto que o conteúdo é consistente, o raciocínio é bem articulado, mas há tropeços de ortografia e gramática.

Nossos jovens têm direito de aprender a falar e escrever um bom português, como parte de uma educação que os prepare bem para o trabalho e para a vida. O MEC, entre todas as instituições, é o último que poderia tergiversar sobre isso.

O CABARÉ BRAZIU

ANCELMO GÓIS - Boletim médico


Boletim médico
ANCELMO GÓIS
O GLOBO - 19/05/11

Dilma cancelou pela segunda vez um compromisso no Rio. Desta vez, o lançamento de uma plataforma no estaleiro BrasFELS, amanhã, em Angra. A presidente decidiu descansar até segunda no Alvorada. 

Bilhões no mar
A terra treme no setor naval por causa da decisão da Petrobras de reavaliar o modelo de compra de até 28 sondas, orçadas em uns US$ 22 bilhões. Sete foram encomendadas ao Estaleiro Atlântico Sul (Queiroz Galvão e Camargo Corrêa), que venceu a licitação em fevereiro. 

Só que... 

A dúvida são as outras 21. O que se diz é que Guilherme Estrella, diretor de Exploração, defende uma nova licitação, enquanto Renato Duque, diretor de Serviços, é a favor da entrega aos outros grupos classificados na licitação passada. 

A volta do ‘Abaporu’
Depois de exposta no Palácio do Planalto, a tela “Abaporu”, da nossa Tarsila do Amaral, que pertence ao argentino Eduardo Constantini, voltou ao Malba, em Buenos Aires. Um grupo de empresários brasileiros sonha em comprála. O problema é o preço. Constantini, que arrematou o quadro por US$ 1,5 milhão em 1990, pede agora... US$ 40 milhões.

No mais

Nunca foi tão válido o “Decálogo do estadista”, escrito pelo saudoso Ulysses Guimarães, que, em seu artigo 8, citava Agamenon Magalhães: 
— Político não compra nem vende nada.

Se fosse no Irã

Do historiador Marco Villa, da Universidade Federal de São Carlos, SP, sobre a prisão em Nova York do francês Dominique Strauss-Kahn, diretor do FMI: — Fácil distinguir democracia da ditadura. Se fosse no Irã, a camareira é que seria presa e condenada
à morte por lapidação. 

Armadilha política...

Mas impressiona como a maioria dos franceses considera DSK vítima de armação política. É que, em entrevista ao jornal “Libération”, dia 28 de abril, o danadinho admitiu seu fraco por mulheres e falou do risco de “cair numa armadilha sexual”. É. Pode ser.

Deve ser terrível...
Da professora francesa Jacqueline Bravo-Garcia ao escritor brasileiro Antônio Torres: 
— A França é loucamente dirigida: um presidente psicótico (Sarkozy), um candidato à presidência tarado (Strauss-Kahn) e dirigentes de futebol racistas. 

Câmera no ‘plus’
Acredite. O universitário Marcelo Tuber encontrou ontem, por volta de 17h45m, no banheiro masculino do bloco J do CasaShopping, na Barra, no Rio, uma câmera disfarçada de sensor de fumaça. A segurança, diz ele, alegou que não sabia do equipamento. O caso está na 16a- DP.

Brasil voando

A Anac divulga hoje que a demanda dos voos domésticos em abril cresceu 31% em relação ao mesmo mês de 2010. 

Calote das arábias 
Um badalado atacante deu um beiço de 1.000 litros de combustível no posto das lanchas do Iate Clube do Rio. O preju estourou no bolso dos empregados. 

Defende eu
Será que não vai faltar defensor? Hoje, Dia do Defensor Público, em vez do tradicional mutirão de atendimento, a turma festejará no... Copacabana Palace. O rega-bofe é bancado pela Firjan, que, muitas vezes, está do outro lado nos julgamentos. 

Oscar do luxo

A Osklen é a única grife nacional a concorrer na categoria Luxo Emergente no 15o- Luxury Briefing Awards, em Londres. 

‘Dilma, nós vai?’ 
Salomé, a velhinha interpretada por Chico Anysio no “Zorra total”, da TV Globo, voltará a ligar para Dilma no programa de sábado. Falará do livro do MEC com erro de português. Pedirá à presidente para mandar recolher a obra “antes que acabe com a concordância”.

CELSO MING - É freio na Petrobrás


É freio na Petrobrás
CELSO MING
O ESTADO DE SÃO PAULO - 19/05/11

Não ficaram nem um pouco claras as razões pelas quais o Conselho de Administração da Petrobrás rejeitou na última sexta-feira seu Plano de Negócios 2011-2015.

Nos últimos cinco anos, a Petrobrás foi empurrada pelo seu acionista majoritário (o Tesouro, administrado pelo governo federal) a fazer mais e mais investimentos: no pré-sal, nas refinarias, nas termoelétricas, no etanol, no biodiesel.

Para tocar tudo o que lhe está sendo cobrado, sua diretoria expôs na reunião do Conselho um aumento de seu plano quinquenal de investimentos de US$ 224 bilhões para US$ 260 bilhões. Mas a decisão foi exigir uma revisão nesses projetos.

O presidente do BNDES, Luciano Coutinho, também membro do Colho de Administração, declarou ontem que "a Petrobrás deve caminhar para metas mais realistas". E disse mais: "O Conselho coloca pressão para que a empresa seja eficiente, de forma a garantir o retorno dos projetos".

Ou seja, Coutinho está passando o recibo de que a Petrobrás não é nem realista nem eficiente. E não pode mesmo, diante das condições até agora exigidas pelo acionista majoritário.

As leis que estabeleceram as regras para o desenvolvimento das áreas do pré-sal determinam que a Petrobrás participe de pelo menos 30% de cada projeto de exploração, com a prerrogativa de que seja a única operadora. O governo federal, na condição de acionista majoritário, determina que os resultados da empresa não possam ser melhores porque está fazendo política de preços de combustíveis à custa de seu caixa. Exige, também, que seja dada preferência a empresas nacionais nas contratações de sondas, equipamentos e serviços, cujos preços são substancialmente mais altos do que os vigentes no mercado internacional e cujos investimentos não acompanham nem de longe os cronogramas impostos pela Petrobrás.

A empresa está sendo obrigada a fazer políticas de boa vizinhança de alto custo com a Bolívia, com a Argentina e com a Venezuela, também em prejuízo dos seus resultados. E agora, chega a advertência de que ela precisa baixar seus custos e melhorar sua eficiência.

No mais, fica difícil saber o que é afinal a política de petróleo do governo. A Petrobrás não está dando conta nem do atual ritmo de desenvolvimento de suas áreas do pré-sal e bem menos dará se a Agência Nacional do Petróleo recomeçar as licitações. Se for para esperar que se capitalize e que os fornecedores nacionais consigam um mínimo de eficiência, as riquezas do Brasil seguirão deitadas em berço esplêndido, onde estão há milhões de anos.

E, mesmo levando-se em conta que a Petrobrás manterá seu plano anterior de investimentos, da ordem de US$ 224 bilhões, não dá para imaginar que isso possa acontecer sem nova e gigantesca subscrição de capital. Mas como convocar nova rodada de capitalização, se a Petrobrás está se queimando no mercado de ações com as interferências a que vem sendo submetida e com os resultados que vem apresentando?

A esta Coluna, o diretor Financeiro da Petrobrás, Almir Barbassa, passou o recado: está proibido de falar sobre o Plano de Negócios por disposição da Comissão de Valores Mobiliários. Ontem, Luciano Coutinho, também do Conselho de Administração, não se sentiu igualmente tolhido.

CONFIRA

À procura de explicações

O especialista em energia, Adriano Pires, levanta três hipóteses de explicação para a decisão tomada pelo governo federal, na última sexta-feira, de exigir "mais realismo" da Petrobrás nos seus investimentos.

Enquadramento

A primeira, positiva, é enquadrá-la à nova realidade econômico-financeira global. E isso pede que a empresa apresente melhores resultados para só então aumentar os investimentos. Nesse caso, a melhor notícia seria que fossem impostos cortes de investimentos nas refinarias, no etanol, no biodiesel e em excessiva ampliação da exploração do pré-sal.

Subordinação

A segunda é negativa: subordinar o ritmo de investimentos da Petrobrás à atual política de achatamento dos preços dos combustíveis.

Questão fiscal

A terceira, também negativa, é impor à Petrobrás diretrizes da atual política fiscal (corte de despesas) do governo federal.

GOSTOSA

MERVAL PEREIRA - Maioria defensiva


Maioria defensiva 
MERVAL PEREIRA
O GLOBO - 19/05/11

O caso da multiplicação do patrimônio do chefe da Casa Civil, Antonio Palocci, serve para demonstrar que a base parlamentar tão ampla e incongruente que foi montada pelo governo Dilma no Congresso, que conta com dez partidos e mais um em formação, o PSD, não existe para aprovar algum projeto importante e nem mesmo para dar ao governo uma base programática ou ideológica sólida.

Existe, sim, para não deixar votar convocações de CPIs que possam colocar o governo em situação delicada ou o convite a ministros que possam se ver em situação delicada, como é o caso de Palocci. Quando se trata de um assunto de interesse do país, como a aprovação do novo Código Florestal, o governo tem votos apenas para obstruir a votação, um recurso usual da oposição. Mas, pela aprovação da urgência para votar o projeto, que foi de 399 a 18, sabe-se de antemão como seria a votação em si se o governo não a adiasse.

Já para evitar que o ministro-chefe da Casa Civil fosse convocado para dar explicações ao Congresso, mobilizou-se a maioria do governo, impedindo a realização de reunião de uma comissão que poderia convocá-lo e conseguindo a vitória no plenário por ampla maioria.

É a chamada "maioria defensiva", que, desde o susto da possibilidade do impeachment de Lula em 2005, passou a ser mobilizada pelo governo para blindar o presidente da República e os assessores e ministros que lhe são caros.

E pode ser que venha muito brevemente a ser convocada, pois sabe-se agora que nada menos que seis ministros do governo Dilma têm empresas de consultorias e afins em atividade. Mesmo que alguns digam que tais empresas não são utilizadas, ou que nunca prestaram consultoria, é claro que está muito frouxa a legislação que permite que parlamentares exerçam atividades particulares que, de alguma maneira, podem influenciar com seus votos ou ações políticas.

E quem se ofereceu rapidamente para comandar a defesa de Palocci? O PMDB, é claro, que viu no caso uma oportunidade de demonstrar sua "lealdade" ao governo, que será cobrada no seu devido tempo em nomeações e liberações de verba ao próprio Palocci, que é o coordenador das negociações com a base

Interessante foi observar que nem o PT nem o PSDB cumpriram seus papéis à risca. Os petistas demonstraram pouco entusiasmo na defesa de Palocci, quase confessando que as denúncias contra ele foram mesmo fogo amigo. E os dois principais líderes do PSDB, o ex-governador José Serra e o senador Aécio Neves, ficaram cheio de dedos ao falar do assunto, a refletir uma sensação generalizada entre os tucanos quando alguém que representa "o lado bom" do PT está em apuros.

Palocci, se não é possível ser classificado como um aliado do PSDB, é pelo menos um aliado quando se trata de colocar bom senso e modernidade nas decisões do governo, o que agrada aos tucanos e irrita parcela ponderável dos petistas.

Na verdade, foi Palocci, depois de convencido por Arminio Fraga, quem convenceu Lula de que o melhor seria continuar seguindo a política econômica do governo de Fernando Henrique. E certa vez teve a coragem de dizer que o ex-ministro Pedro Malan merecia uma estátua por ter conseguido organizar o sistema bancário brasileiro.

Por essas e outras, a oposição trata o caso do enriquecimento de Palocci com mais cuidados do que seria de se esperar de uma oposição que há muito está sem rumo e sem uma brecha para exercer o papel que lhe foi determinado pelas urnas.

A melhor defesa que o governo encontrou foi repetir a estratégia utilizada no escândalo do mensalão, quando, a partir do próprio presidente Lula, que se dissera traído por seus aliados, passou a defender a tese de que se tratava apenas do uso de caixa dois, prática comum na política brasileira.

Também agora, na nota oficial, o ministro Palocci elencou vários ex-ministros e ex-assessores de governos anteriores para justificar suas atividades particulares, que não são proibidas por lei, mas evocam claros conflitos de interesses, que só poderiam ser descartados caso fossem reveladas as empresas que contrataram os serviços do deputado federal petista ex-ministro da Fazenda.

A senadora Marta Suplicy, por exemplo, lembrou até mesmo a situação dos ex-presidentes Lula e Fernando Henrique, que teriam enriquecido depois de deixar o governo com palestras regiamente pagas.

A diferença é que nenhum dos dois prestou consultorias. E mesmo entre os dois há situações diferentes: Fernando Henrique está fora do governo há nove anos, e qualquer empresa que tenha contratado seus préstimos não poderia estar pretendendo benesses governamentais, já que o PT está no comando do país, e FH não é exatamente o político mais próximo dos petistas há algum tempo.

Mesmo o ex-ministro Mailson da Nóbrega abriu sua consultoria quando estava no poder Fernando Collor, que fez uma campanha ferrenha contra o governo Sarney, de quem Mailson foi ministro da Fazenda.

Os também citados economistas André Lara Resende e Pérsio Arida, que foram presidentes do Banco Central e do BNDES, eram prestigiados economistas do grupo Unibanco antes de irem para o governo.

Voltaram para seu mercado de origem e nunca mais tiveram cargos em governos. Eles mais o ex-ministro da Fazenda Pedro Malan prestaram serviços dentro de sua área de experiência e nunca exerceram cargos legislativos.

No caso de Palocci, há ainda um agravante: sua empresa de consultoria permaneceu em atividade durante o ano de 2010, quando ele era o coordenador da campanha que levou Dilma Rousseff à Presidência da República.

EUGÊNIO BUCCI - No coração do poder


No coração do poder
EUGÊNIO BUCCI
O Estado de S. Paulo - 19/05/2011

Na geração dos políticos dessa faixa indefinível da meia-idade, próxima da "curva perigosa dos 50", o ministro Antônio Palocci reluz como estrela rara. O seu talento desconcerta e seduz. Dos mais habilidosos, dizem que sabem dar nó em pingo d"água. De Palocci pode-se dizer mais: ele dá nó em pingo d"água e o pingo d"água ainda aplaude. Essa arte não é boa nem má, que fique bem claro. Ela não o transforma num homem virtuoso, assim como não inscreve em seu caráter a marca da dissimulação (tomemos cuidado com o julgamento moral, ou melhor, tomemos cuidado com o moralismo). Essa arte apenas o capacita para o jogo político, do qual ele tem sido um praticante exímio.

Ministro da Fazenda do primeiro governo Lula, ele pôs de pé uma construção impossível: manteve a política econômica inaugurada pelos tucanos, enquanto a comunicação do Palácio do Planalto só se referia à gestão de Fernando Henrique Cardoso para xingá-la de "herança maldita". Palocci foi escalado para manter vivo o que seu governo prometia sepultar e deu conta da tarefa com enorme sucesso. Muitos petistas que o patrulhavam pelas costas, a portas fechadas, batiam palmas para ele em público. Empresários e banqueiros o consagraram como o interlocutor confiável, o lastro da estabilidade. Não fosse a quebra do sigilo bancário de Francenildo Santos Costa, Palocci teria despontado como possível sucessor de Lula.

Depois da derrapada, ele passou quatro anos como deputado, discreto, reservado, até ressurgir com força na coordenação da campanha de Dilma Rousseff em 2010. Em 2011 virou ministro da Casa Civil. Na prática, é hoje o coordenador dos demais ministros. O seu poder, mais que vistoso, bojudo, incontestável, é necessário: ele organiza o governo. A palavra é um tanto pernóstica, mas ao atual chefe da Casa Civil se pode colar o adjetivo "estruturante". Falemos com respeito, portanto, do homem forte do governo Dilma, um homem sem o qual o governo será mais fraco.

Por aí é que podemos aquilatar o escândalo que ganhou as manchetes da semana. É o que Palocci tem de meritório, e não o que ele tem de menor, que confere gravidade à grande dúvida gerada pela exponencial evolução de seu patrimônio pessoal declarado, conforme revelaram os repórteres Andreza Matais e José Ernesto Credendio na Folha de S.Paulo de domingo. Que um político profissional catapulte sua fortuna às alturas não chega a ser uma novidade nestas terras (vivemos num país em que voto dá lucro). Ademais, pelo que se sabe até agora, não se pode afirmar que haja crime na prosperidade galopante desse patrimônio em particular. A questão só é complicada, muito complicada, pelo lugar que o proprietário do patrimônio ocupa - pelos seus méritos, não por seus defeitos - no Palácio do Planalto. Se falássemos de um ministro periférico, seria fácil. Seus superiores hierárquicos ordenariam que ele se explicasse. O desfecho seria breve e indolor. No caso de Palocci, porém, a equação encalacrou.

Encalacrou porque a dúvida que se avoluma não é meramente jurídica ou criminal - não se trata de saber se houve ou se não houve algum ilícito, embora essa interrogação proceda -, mas é antes política e ética. Não é a lei, mas o respeito aos eleitores que impõe ao ministro o imperativo de esclarecer como é que enriqueceu assim. Ele não precisa quebrar a confidencialidade dos clientes da empresa de consultoria que manteve até o ano passado; basta que forneça informações gerais, mas plausíveis. Antes de perguntar se houve afronta à lei, a opinião pública pergunta se houve conflito de interesses - mesmo que não tipificados em lei. Que serviços essa consultoria prestava? A que preços médios? A presidente da República estava informada dessas operações quando o nomeou?

As declarações de "caso encerrado", vindas do Palácio, não respondem a essas perguntas. A manifestação do procurador-geral da República, Roberto Gurgel, dizendo que a evolução patrimonial de Palocci merece "olhar mais cuidadoso", também não responde, além de nos brindar com uma nova aflição: qual o estatuto jurídico - e ético - de "olhar mais cuidadoso"? O que devemos entender por isso?

Para tumultuar ainda mais o cenário a Casa Civil enviou aos congressistas, na terça-feira, uma mensagem com a seguinte afirmação: "A passagem por Ministério da Fazenda, BNDES ou Banco Central proporciona uma experiência única que dá enorme valor a esses profissionais no mercado". Lá pelas tantas, a mensagem cita nominalmente outros ex-ministros, de outros governos, que também enriqueceram. Com isso a nota da Casa Civil põe mais dois problemas no tabuleiro. Primeiro, parece autorizar a porta giratória entre o Estado e interesses privados, uma prática que as democracias tentam inibir. Depois, pretende estender a ex-ministros que exerceram ou exercem no mercado atividades conhecidas, com cartão de visita e placa na porta do escritório, a mesma dúvida que paira sobre as operações privadas do chefe da Casa Civil. A analogia não vale - e tem sabor de provocação ou de ameaça. A dúvida continua.

Nesse caso, como em poucos outros, se evidencia a diferença entre a esfera da lei e a esfera da ética. A primeira impõe a norma e estabelece punições aos infratores. A segunda lida com escolhas entre alternativas igualmente lícitas, cujos efeitos podem ser bem distintos. É lícito que um cidadão, em dia com suas declarações de renda, não queira prestar contas ao público sobre seus negócios. Nada de ilegal nisso. Mas será essa a melhor escolha para o ministro e para a Presidência da República? Se o governo quer merecer a confiança da sociedade, deve prestar contas. Sem moralismo, sem prejulgamentos, os eleitores esperam. No coração do poder, porém, nem sempre vence a transparência. Nem sempre a legitimidade prevalece. No coração do poder, às vezes triunfa o poder sem coração - e então, um dia, ele cai.

ILIMAR FRANCO - Impasse


Impasse
ILIMAR FRANCO
O GLOBO - 19/05/11

Dois meses depois de a presidente Dilma Rousseff ter oficializado o convite, a indicação de Henrique Meirelles para a presidência da Autoridade Pública Olímpica (APO) está travada porque o governo resiste em conceder ao cargo o status de ministério, como quer o ex-presidente do Banco Central. Depois de indicado, ele ainda precisa ser sabatinado pelo Senado. A nomeação teria que sair até junho, quando a Comissão de Coordenação dos Jogos Olímpicos volta ao Brasil.

Guerra de guerrilha

Embora o maior teste político para o ministro Antonio Palocci, na avaliação de líderes aliados, tenha sido a derrubada de sua convocação ontem no plenário da Câmara, a oposição vai insistir na votação de um requerimento nas comissões. Sem confiança em sua base e sem articulação suficiente, o governo preferiu suspender ontem a sessão de 12 comissões. Assim, acabou levando o assunto para o plenário,
abrindo espaço para a oposição explorar o assunto por mais de duas horas. O governo temia traições de deputados da base, sobretudo ruralistas, por causa das negociações do Código Florestal, conduzidas por Palocci.

"O Fluminense vai contratar o Palocci para resolver a dívida deles” — Paulo Pereira da Silva, deputado federal (PDTSP), sobre o crescimento do patrimônio do ministro da Casa Civil

MAL-ESTAR.
 Condescendente com o ministro Antonio Palocci (Casa Civil), na foto, a oposição não gostou de ele ter citado, em nota enviada aos líderes partidários, os nomes de Pérsio Arida, Pedro Malan, Mailson da Nóbrega e André Lara Resende, todos afinados com o petista, para se defender. “Ele não explica os fatos e ainda envolve outras pessoas. Pisou na bola”, disse o presidente do PSDB, deputado Sérgio Guerra (PE).

Crachá
Ao reclamar que a polícia legislativa rasgou um cartaz “Blindagem do Palocci”, que ele colava, a maior indignação do deputado Rubens Bueno (PPS-PR) era que o policial perguntou quem ele era: “Ele tem que saber quem eu sou!”.

Para cima
Aliados de Orlando Pessuti tentam agora colocá-lo no conselho do BNDES. A resistência do senador Roberto Requião (PMDB-PR) praticamente inviabilizou sua ida para o conselho de Itaipu. O Planalto prefere não contrariar Requião.

Desafinados
O líder do PMDB, deputado Henrique Alves (RN), e o líder do governo, Cândido Vaccarezza (PT-SP), estavam em pé de guerra ontem por causa da insistência do petista em votar duas Medidas Provisórias. Alves tinha dado sua palavra aos ruralistas que não votaria nada antes do Código Florestal. O assunto acabou tendo que ser arbitrado pelo ministro Antonio Palocci (Casa Civil). As MPs e o Código serão votados semana que vem.

Grito da Terra

Em audiência ontem com a Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag), a presidente Dilma Rousseff anunciou a criação de uma política de preços mínimos para a agricultura familiar e R$ 16 bi para crédito rural.

Corrupção

Decisão da CGU impede o exsecretário de Saúde do governo Roseana Sarney (MA) Marival Lobão de ocupar cargos públicos. O órgão confirmou a participação dele no desvio de recursos do núcleo do Ministério da Saúde no estado.

 RELATOR da reforma administrativa do Senado, Ricardo Ferraço (PMDB-ES) propõe a incorporação de gratificações ao salário dos funcionários da Casa. Essa é uma forma de burlar o teto de R$ 26,7 mil.
 A CONVITE do ministro Alexandre Padilha, a secretária de Saúde dos EUA, Kathleen Sebelius, deve participar de re nião da OMS no Rio, em outubro, sobre determinantes sociais da saúde pública.
● O FÓRUM Brasileiro de Economia Solidária está participando do Grito da Terra e tenta conseguir 1,3 milhão de assinaturas para apresentar projeto de lei criando a Política Nacional de Economia Solidária.

CONTARDO CALLIGARIS - Considerações sobre novos desejos


Considerações sobre novos desejos
CONTARDO CALLIGARIS 
FOLHA DE SÃO PAULO - 19/05/11

Causa da depressão pode não ser perda e frustração, mas a chegada de novo desejo, que é silenciado


UM JOVEM não sabe o que ele está a fim de fazer da vida, e os pais pedem que eu descubra qual é o desejo do filho, de modo que ele possa escolher o vestibular e a profissão que ele "realmente" gostaria.
Na mesma semana, encontro um adulto que acha que, de fato, nunca fez nada por desejo. Embora bem-sucedido, queixa-se de que suas escolhas (profissionais e amorosas) sempre teriam sido circunstanciais, efeitos de oportunidades encontradas ao longo do caminho. Ele pede, antes que seja tarde, que eu o ajude a descobrir qual é "realmente" o seu desejo.
Nos dois casos, o pressuposto é o mesmo: quem viver segundo seu desejo será, no mínimo, mais alegre. Esta é mesmo uma boa definição da alegria: a sensação de que nosso desejo está engajado no que estamos fazendo, ou seja, de que nossa vida não acontece por inércia e obrigação. Inversa e logicamente, muitos estimam dever sua (grande ou pequena) infelicidade ao fato de terem dirigido a vida por caminhos que - eles declaram - não eram exatamente os que eles queriam.
Pois bem, esse pressuposto e os pedidos que recebi se chocam com esta constatação: o "nosso desejo" nunca é UM desejo definido por UM objeto ou por UM projeto. Não existe, nem escrito lá no fundo escondido de nossa mente, UM querer definido, que poderíamos descobrir e, logo, praticar com afinco e satisfação porque estaríamos fazendo aquela coisa ou caçando aquele objeto aos quais éramos, por assim dizer, destinados. Nada disso: de uma certa forma, todos os objetos e os projetos se valem, e nenhum é "nosso" objeto ou projeto específico. Ou seja, nós desejamos sempre segundo as circunstâncias, os encontros, as oportunidades - segundo as tentações, se você preferir.
Somos volúveis? Nem tanto, pois cada objeto e projeto não substitui necessariamente o anterior. O que acontece é que desejar é uma atividade inventiva a jato contínuo.
Por consequência, mesmo quando estamos alegremente convencidos de estar fazendo o que queremos com nossa vida, nunca estamos ao abrigo do surgimento de desejos novos.
Claro, podemos aceitar esses desejos novos. Por exemplo, em "As Confissões de Schmidt" (que não é um grande filme), de A. Payne, com Jack Nicholson, o protagonista acorda de noite, olha para sua mulher de sei lá quantos anos e se pergunta estupefato: "Quem é esta mulher que dorme na minha cama?". Logo, ele dá um rumo novo à sua vida, colocando o pé na estrada. Mas a expressão de seus novos desejos é fortemente facilitada por duas circunstâncias: providencialmente, o protagonista se aposenta e fica viúvo. Nessas condições, escutar novos desejos fica fácil, não é?
Agora, imaginemos alguém que esteja no meio de sua vida profissional e num bom momento de sua vida amorosa. Nesse caso, provavelmente, o novo desejo será silenciado, reprimido, menosprezado ("deixe para lá, é besteira"). Resultado: o indivíduo continuará declarando que está vivendo a vida que ele queria (e, em parte, será verdade); só que, de repente, sem entender por quê, ele perderá sua alegria.
Por que razão nosso indivíduo negligenciaria seus novos desejos? Simples: por serem novos, eles acarretam a ameaça de uma ruptura no presente: afetos e laços que poderiam ser perdidos, medo da solidão e preguiça dos esforços necessários para reinventar a vida.
Infelizmente, essa negligência tem um custo alto. Sempre entendi assim a "Metamorfose", de Kafka: alguém acorda, e o que até então era uma vida normal e legal, de repente, aos seus olhos, é uma vida de barata.
Nota útil para a clínica da depressão. Às vezes, procuramos em vão as causas de uma depressão; será que houve lutos ou perdas? Nada disso; está tudo bem, trabalho, família, filhos e tal, mas o indivíduo entristece, volta a fumar e a beber como se quisesse encurtar a vida, engorda como se estivesse num mar de frustração e precisasse de gratificações alternativas.
Em muitas dessas vezes, a origem da depressão não é uma perda, nem propriamente uma frustração, mas a aparição de um desejo novo que não foi reconhecido. E os novos desejos, sobretudo quando são silenciados, desvalorizam a vida que estamos vivendo.
Moral da fábula: 1) Não existem vidas definitivamente resolvidas, pois novos desejos surgem sempre; 2) É bom reconhecer os novos desejos, mesmo que deixemos de realizá-los.

JOSÉ SIMÃO - Ueba! Palofi tem o rabo pleso!!


Ueba! Palofi tem o rabo pleso!! 
JOSÉ SIMÃO 
FOLHA DE SÃO PAULO - 19/05/11

BUEMBA! BUEMBA! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Manchete do Piauí Herald: "Palocci multiplica língua presa em dez vezes". Não consegue mais falar as palavras estetoscópio e obséquio!
"Por obféquio, me pafa o esfefoscópi." O Palofi tem a língua plesa e a Dilma tem língua de sogra! Rarará!
"Palocci multiplica patrimônio 20 vezes em quatro anos." E comprou um apê de R$ 6,6 milhões. Então o nome dele não é mais Palocci, é Palácio. Antônio Palácio!
E a charge do Dálcio: "Senhor Jesus, acabou o peixe e o pão". E Jesus: "Espera aí que eu dou um jeito, PALLOOOOCCI!". Rarará! Isso! O novo apelido do Palocci é Jesus: multiplicação dos reais! Em vez de rabo preso ele tem a língua plesa!
Ministro Palocci, como encara as denúncias? "Com muita PAFIÊNFIA E PERFEVERANÇA! Dilma, me pafa a pafoca." Rarará! Eu já sei como ele ganhou tanto dinheiro. Fazendo o comercial da Dove: "Leve 11 e pague DOVE".
Essa Casa Civil parece a Casa da Mãe Joana. Casa Civil da Mãe Joana. Rarará!
E o Dentinho vai pra Ucrânia. Só que lá não tem Mulher Samambaia. Tem Mulher Gelo. Mulher Gelo é bom porque derrete à toa! E fica todo mundo falando: você zoa com o Corinthians, você zoa com o Palmeiras, mas não zoa com o seu São Paulo que perdeu pro Avaí! É que bambi é chique: se é pra morrer na praia, é melhor morrer no AVAÍ!
O mundo caiu na gandaia: a amante do diretor do FMI se chama Piroska, o pai do Sarkozy se chama Pal. E o Brasil, que é o país do Carnaval? E o diretor do FMI se chama Kahn. Mas vai mudar o nome pra KRAU! Rarará!
Krau na Piroska. Krau na camareira, Krau em Portugal. Krau na Grécia. Esse diretor do FMI cansou de dar krau no Fernando Henrique, o Boca de Suvaco! Rarará!
O Brasileiro é cordial! Olha a placa do Gervásio na empresa em São Bernardo: "Se eu ouvir alguém aqui se gabando ou contando vantagem sobre o tamanho da manjuba, vou fazer esse quadrúpede metido a pescador ser a dama de honra do novo filme do Kid Bengala. Conto com todos. Assinado: Gervásio".
E aí um funcionário escreveu embaixo com caneta Bic: "Ainda bem que eu tenho bilau pequeno". Rarará! Nóis sofre, mas nóis goza.
Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

CLÓVIS ROSSI - Decodificando Palocci


Decodificando Palocci
CLÓVIS ROSSI
FOLHA DE SÃO PAULO - 19/05/11

SÃO PAULO - Quando Lula montava seu ministério, no finzinho de 2002, Ricardo Kotscho, assessor de imprensa e, mais que isso, amigo íntimo, cobrou: "Você tem que nomear o Palocci".
Lula quis saber a razão, e Kotscho explicou direitinho: "Porque ele é muito divertido".
Premonitório meu amigo Kotscho: Palocci se divertiu à beça, como ele próprio confessa agora candidamente (ou cinicamente, a seu gosto, leitor).
Usou seus anos de ministério para construir os alicerces de um apartamento de R$ 6,6 milhões, comprado praticamente à vista. Como? "No mercado de capitais e em outros setores, a passagem por Ministério da Fazenda, BNDES ou Banco Central proporciona uma experiência única que dá enorme valor a esses profissionais no mercado", explica a nota de Palocci.
Ingênuo e purista que sou, não gosto de que se coloque etiqueta de preço em seres humanos, ainda mais em servidores públicos. Mas não sou tão ingênuo a ponto de ignorar que Palocci disse a verdade, parte da verdade ao menos.
A parte que ocultou é a seguinte: a passagem por esses postos -ou outros- dá a quem a fez conhecimento das entranhas e engrenagens do poder, o que facilita abordagens do setor privado que quer ou precisa fazer negócios com o Estado, em qualquer de suas esferas.
Em linguagem clara, o mecanismo chama-se tráfico de influência. Não sei se Palocci o praticou, mas é evidente que as empresas que contrataram a sua consultoria estavam de olho nessa possibilidade. Só não sabia que esse, digamos, trânsito dava tanto dinheiro assim.
Como é ilógico supor que uma eventual queda de Palocci seria um desastre (se não o foi em 2006, menos ainda o seria agora), resta suspeitar que a blindagem que até a oposição oferece ao ministro deve-se à expectativa de usar, hoje ou no futuro, a "experiência única" que tanto gozo deu a Palocci.

DORA KRAMER - Mal comparado


Mal comparado
DORA KRAMER
O ESTADO DE SÃO PAULO - 19/05/11

A impressão inicial de que o ministro Antonio Palocci certamente teria uma boa e elucidativa explicação para o espetáculo do crescimento de seu patrimônio se dissipa a cada nova justificativa que nada justifica.
Depois de dois dias de silêncio, o Palácio do Planalto começou a municiar os partidos no Congresso com argumentos típicos de quem está muito mais interessado em se desviar do assunto do que em esclarecê-lo de vez.
São basicamente dois. O primeiro chegou cedo ao plenário do Senado na tarde de terça-feira, dando conta da impossibilidade de Palocci revelar a clientela da consultoria Projeto, por meio da qual teria conseguido amealhar bens no valor de pouco mais de R$ 7 milhões em quatro anos. Estaria impedido por causa da cláusula de confidencialidade dos contratos.
De onde, concluíram os líderes partidários governistas, estaria encerrada a questão.
Impossível: se os contratos são confidenciais é de se supor que não sejam conhecidos por ninguém além dos signatários. Nem pelos líderes partidários escalados para a defesa de Palocci. Portanto, a afirmação peremptória de que os negócios da consultoria foram todos com a iniciativa privada carece de confiabilidade.
E esse ponto é fundamental, pois naquele período Antonio Palocci era deputado federal e estava proibido pela Constituição de relações comerciais com empresas de direito público.
O segundo argumento chegou ao Congresso um pouco mais tarde, por e-mail enviado da Casa Civil, alegando que o ministro fez o que todo mundo faz: assim como "pelo menos 273 deputados e senadores da atual legislatura", tinha sociedade numa empresa que lhe permitiu obter outros ganhos além dos salários de parlamentar, estes no valor total de R$ 974 mil no período referido, entre 2006 e 2010.
Para reforçar a explicação, a nota citava Maílson da Nóbrega, Pedro Malan, Persio Arida e André Lara Resende, como exemplos de integrantes de governos (no caso, José Sarney e Fernando Henrique Cardoso) que se tornaram "consultores de prestígio, profissionais de grande valor no mercado".
Nada mais diferente do caso de Palocci que as situações usadas como exemplos de que são perfeitamente iguais.
Deixemos de lado o aspecto da notória especialização dos citados em suas áreas muito antes de terem qualquer cargo em governo e o fato de Palocci ser médico por formação, político por vocação e ter se tornado consultor - não se sabe exatamente do que, pois não se revela a natureza das consultorias - pela contingência de ter sido ministro da Fazenda.
Nenhum deles voltou a ocupar cargo público, nenhum deles acumulou mandato parlamentar com as atividades nos respectivos ramos, nenhum deles se viu na circunstância em que se encontra agora o ministro da Casa Civil.
O fato é um só: a pessoa mais importante no governo depois da presidente Dilma Rousseff teve uma evolução de patrimônio grande em período relativamente curto e isso precisa ser explicado.
Ou então estaremos aceitando a existência no Brasil de uma nomenclatura que, ao molde das ditaduras, está acima de tudo e de todos, não devendo satisfações a quem quer que seja. Dando aos assuntos não encaminhamento normativo exigido no Estado de Direito, mas aquele ditado por seus interesses como se a sociedade simplesmente não existisse.

Pessoa incomum. Em meio ao escândalo da quebra do sigilo bancário de Francenildo Costa, o governo alegou que o caseiro da casa de lobby frequentada pelo então ministro da Fazenda, Antonio Palocci, estava sendo investigado pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) em função de "movimentação atípica" na conta corrente da Caixa Econômica Federal.
Tratava-se de um depósito de R$ 24.990, feito pelo pai do caseiro.
O mesmo Coaf, porém, ao que se saiba, não considerou atípicos os movimentos nas contas de Palocci no período (2006-2010) em que ocorreu o enriquecimento do então deputado dublê de consultor.

MÔNICA BERGAMO - MINHA CASA, SUA CASA


MINHA CASA, SUA CASA
MÔNICA BERGAMO 
FOLHA DE SÃO PAULO - 19/05/11

Marcelo de Carvalho e Luciana Gimenez fizeram anteontem jantar em homenagem a Adriana Cisneros de Griffin, vice-presidente do Grupo Cisneros. O empresário venezuelano Gustavo Cisneros, pai de Adriana, e o presidente da Rede TV!, Amilcare Dallevo Jr., estiveram no evento, que reuniu o atual e o ex-apresentador de "O Aprendiz", João Doria Jr. e Roberto Justus.

BOCA A BOCA

Só 7% dos brasileiros foram ao teatro em 2010, segundo pesquisa da Fecomércio-RJ. O levantamento, feito com mil pessoas em todo país, revela que não é o preço que afasta o público dos palcos, mas sim a falta de hábito, citada por 42% dos entrevistados.

BRIGA DE TORCIDA
O promotor Paulo Castilho, do Juizado Especial Criminal, enfrenta resistência no próprio Ministério Público na determinação de permitir que apenas uma torcida possa assistir aos jogos entre os grandes clubes nos estádios, para coibir a violência. Hoje a torcida visitante tem cota de 5% dos ingressos para ver as partidas. Na proposta de Castilho, só os fãs do alvinegro poderiam ver, por exemplo, um Corinthians x Palmeiras quando o Timão for mandante. Os promotores de defesa do consumidor discordam. A federação paulista também é contra a torcida única.

RECEITA MINEIRA
Castilho acredita que as finais do Campeonato Mineiro, que tiveram torcida única, possam criar um precedente para o Brasileirão. Se a medida for adotada, por exemplo, quando Cruzeiro e Atlético enfrentarem as equipes paulistas em Minas, a reciprocidade seria aplicada quando os dois clubes jogarem em São Paulo.

QUER CASA?
O atacante Neymar, que espera o primeiro filho, mas não vai se casar com a mãe da criança, é esperado no domingo na feira Casar 2011. O santista deve visitar o estande da amiga Samara Costa, dona da empresa de lembrancinhas SCards.

NÃO QUER

Outro santista que não quer subir ao altar por enquanto é o meia Elano, namorado da atriz Nívea Stelmann. "Casamento? Quem vai casar? Eu, não. Não vai sair casamento, não", disse o craque à coluna.

NÃO QUER 2
Elano também diz que o assunto Paulo Henrique Ganso, para ele, é caso encerrado. "Não falo mais sobre isso, nem com ele. Já falei demais. Isso agora é entre o Paulo Henrique, o Santos e os assessores dele." Ganso quer deixar o Peixe para jogar na Europa.

A GRAVIDEZ DE CARLA
A família de Carla Bruni sabia da gravidez da primeira-dama da França desde o Carnaval. O pai dela, o empresário italiano radicado no Brasil Maurizio Remmert, e a mulher, Márcia De Luca, passaram o feriado com ela na Europa, quando foram comunicados da novidade.

MAPA AÉREO

A Anac aprovou pedido da Gol para operar voos sem escalas para Aracaju saindo de São Paulo e de Brasília. A partir de 28 de junho, serão dois por dia. A viagem Guarulhos-Aracaju, que antes durava pelo menos 4h20, poderá ser feita em 2h50.

HERANÇA
Os filhos de Dorival Caymmi, Nana, Danilo e Dori, resolveram vender parte da coleção de quadros do pai. Entre as peças que Soraia Cals está leiloando, há um desenho de Lina Bo Bardi (R$ 800) e outros de Carybé (R$ 2.500). "Não são caros. O valor é histórico", diz Soraia.

A MARVADA

Ignácio de Loyola Brandão ajudará a escolher a melhor caipirinha de SP. Terá 40 dias, a partir desta sexta, para provar 30 drinques de dez diferentes bares e eleger seu predileto, junto com três outros jurados do prêmio Fulô Eu Amo Caipirinha.

LETRA VIVA

O escritor Moacyr Scliar será homenageado no 4º Festival da Mantiqueira, no fim do mês, em São Francisco Xavier. A atriz Rosi Campos fará a leitura de trechos da obra de Scliar, morto em fevereiro.

CURTO-CIRCUITO

A Defensoria Pública de SP inaugura a exposição "Cinco Anos em Imagens", hoje, às 17h30, na sede do órgão.

O cineasta Silvio Tendler autografa o livro "Quatro Baianos Porretas", hoje, às 19h, na Livraria da Travessa de Ipanema, no Rio de Janeiro.

O designer italiano Antonio Pio Saracino abre hoje, a partir das 19h, sua exposição "Gate 150", no MuBE.

Bia Duarte oferece jantar para o carnavalesco Paulo Barros hoje em sua casa, com menu assinado pelo restaurante A Bela Sintra.

com DIÓGENES CAMPANHA, LÍGIA MESQUITA, THAIS BILENKY e CHICO FELITTI

MÍRIAM LEITÃO - Agora, O Comef


Agora, O Comef
MIRIAM LEITÃO
O GLOBO - 19/05/11
O mercado de crédito está bombando. O problema é que quando bomba demais vira bolha e bolhas estouram. Os diretores do Banco Central não admitem que haja problemas. A cada parte da conversa, eles lembram o mantra que "o sistema é sólido." Anthero Meirelles, diretor de Fiscalização, e Luiz Awazu Pereira, diretor internacional, informaram, ontem, na entrevista à imprensa, e numa conversa que tive com eles depois, que o órgão estava sendo pensado há vários meses. Não vai inventar nada, vai apenas integrar áreas de fiscalização, supervisão bancária, informação sobre as instituições.

- Queremos ver como os instrumentos podem funcionar melhor - afirma Luiz Pereira.

Ontem o "Financial Times" publicou uma reportagem sobre o Brasil falando em riscos de bolhas no sistema e citando as quebras de bancos menores e dedicados ao crédito, o PanAmericano e o Morada. Anthero nega qualquer relação entre os dois casos e a criação do Comef, e nega que haja problemas no sistema.

- Foram casos específicos e que continuam sendo casos isolados. Os bancos brasileiros estão capitalizados e sólidos, com padrões de provisionamento (dinheiro reservado para cobrir rombos) acima dos exigidos internacionalmente - diz Anthero Meirelles.

O Comef vai funcionar assim: vai integrar todas as áreas que cuidam de fiscalização e supervisão bancária; terá uma reunião normal a cada dois meses, podendo se reunir em caráter extraordinário quando necessário. Uma vez a cada seis meses divulgará relatório sobre a saúde do sistema bancário.

A pergunta que não quer calar é: pode acontecer aqui o que aconteceu com outros países, há risco de superendividamento das famílias brasileiras?

Os diretores dizem que não, mas admitem que tudo precisa ser monitorado, exatamente para evitar a impressão de que os tempos bons serão bons para sempre, como se achava nos EUA e Europa em 2005 e 2006.

- O nosso sistema em termos de exigência de capital é superior ao de Basileia (normas estabelecidas para o mundo inteiro pelo banco central dos bancos centrais). Nós prestamos muita atenção ao crescimento do crédito - diz Luiz Pereira.

Anthero explica que a reportagem do "Financial Times" trata o caso dos dois bancos como se fosse generalizado. O PanAmericano vendeu sua carteira de crédito, mas continuou registrando como ativo de sua instituição. Foi o BC que descobriu em fiscalização a contabilidade falsa. É bom lembrar no entanto que demorou a descobrir, tanto que parte do capital do banco quebrado tinha acabado de ser comprada por R$700 milhões pela Caixa Econômica. Segundo Anthero, esses casos de cessão de crédito - que é o do PanAmericano e de todos os bancos que venderam carteiras nas crises para se financiar - representam apenas 0,5% dos ativos totais do Sistema Financeiro Nacional.

- O erro da reportagem é passar a ideia de que esse tipo de operação de cessão de crédito tem alto volume, quando é pequeno. Além disso os bancos pequenos brasileiros estão com um índice de 24% de Basileia - explica Anthero, querendo dizer com isso que os bancos cumprem bem acima dos 11% exigidos pela regulação internacional.

Os diretores explicaram também que essa ideia de institucionalizar todo o setor de supervisão e fiscalização num comitê é uma forma de preparar o Brasil para o aumento da internacionalização. Bancos brasileiros atuarão cada vez mais fora do país, e outros grupos entrarão aqui. Existem hoje no Banco Central 20 pedidos de grandes grupos brasileiros ou estrangeiros para atuar no mercado brasileiro. Grupos coreanos, japoneses, chineses, americanos e europeus estão pedindo formalmente para se instalar no país.

O que deixa esses grupos interessados em participar do nosso mercado é o crescimento do número de correntistas e de tomadores de crédito; por outro lado, é aí também que há o perigo porque o crescimento do mercado de crédito foi muito rápido e no país do dinheiro mais caro do mundo há o risco do endividamento exagerado. Mais fiscalização, supervisão, boa regulação, informação sobre saúde financeira, mais educação financeira, tudo isso só pode ser bom.

O problema é que por mais que o BC negue há sinais de perigo no comprometimento da renda familiar, na falta de compreensão dos tomadores sobre o custo do dinheiro, nas taxas de juros exageradas cobradas das pessoas em algumas operações e, principalmente, de mudança na situação da economia.

Nesse último ponto, os diretores admitem que é uma preocupação do Banco Central: a reversão do ciclo. O dólar que está baixo há tempo demais pode sofrer uma elevação, como aconteceu em 2008, levando empresas à crise. Ou outras mudanças inesperadas como já aconteceram no passado.

Quem está cansado das siglas da economia terá que aprender mais uma: o Comef, Comitê de Estabilidade Financeira. Sua existência foi anunciada ontem por dois diretores do Banco Central e seu objetivo é aperfeiçoar o trabalho para evitar crise de crédito ou nos bancos brasileiros. Há 20 grupos estrangeiros e nacionais querendo abrir bancos no Brasil.

ELIANE CANTANHÊDE - O tamanho do estrago


O tamanho do estrago 
ELIANE CANTANHÊDE 
 FOLHA DE SÃO PAULO - 19/05/11

BRASÍLIA - Uma brincadeira recorrente em Brasília é que o ministro das Relações Institucionais, Luiz Sérgio, é "o garçom" do governo -só anota o pedido. Quem assa, frita, põe sal, adiciona pimenta e serve -ou não- é Antonio Palocci, que nasceu para ser poderoso e viver metido em confusões.
Basta refletir sobre a metáfora do garçom e do "chef" para ver o quanto a política e a administração estão centradas em Palocci. E, daí, avaliar o impacto do escândalo.
É inegável que a descoberta do "boom" imobiliário do chefe da Casa Civil pega o governo Dilma. Encerra abruptamente a lua de mel antes de concluído o primeiro semestre e abre uma fase de incertezas e enorme perda de energia.
Na política, nunca é bom ter de ficar explicando o inexplicável e abre-se um flanco perigoso no Congresso -apesar do bom-mocismo de Serra, derrotado em 2010, e Aécio, a promessa para 2014.
Na administração: Dilma se gaba, até com razão, de ser uma boa executiva, mas toda a engrenagem burocrática passa pela Casa Civil, que ela já ocupou. Pode-se imaginar como anda o ambiente por lá.
Com a exposição negativa e com Palocci ocupado demais em salvar a própria cabeça, o principal risco para o governo é comprometer a rotina, o andamento e as decisões de vários ou de todos os setores.
Por enquanto, Dilma convive com a empresa misteriosa, o vertiginoso aumento do patrimônio do homem-chave de sua equipe e o desgaste. Palocci vai ficando. Mas é preciso traçar cenários e combinar com os adversários.
Se o Congresso está imobilizado pela maioria governista e os órgãos públicos de investigação fingem que não é com eles, isso não vale para a... imprensa. As reações de Dilma e o destino de Palocci dependem do que ainda for publicado.
A principal dúvida é se a "Projeto" e o apartamento de quase R$ 7 milhões são o escândalo em si ou só a primeira onda de uma tsunami.

RENATA LO PRETE - PAINEL DA FOLHA


O capital
RENATA LO PRETE
FOLHA DE SÃO PAULO - 19/05/11

Antonio Palocci entrou em campo ontem na tentativa de desfazer o mal-estar causado pela divulgação, na véspera, de texto elaborado pela Casa Civil no qual se procura justificar o salto patrimonial do ministro citando integrantes de governos anteriores que se tornaram profissionais bem-sucedidos no setor privado.
Palocci telefonou para os quatro mencionados -os ex-ministros da Fazenda Pedro Malan e Mailson da Nóbrega, o ex-presidente do Banco Central Pérsio Arida e o ex-presidente do BNDES André Lara Resende- e apresentou desculpas pelo constrangimento causado. Consta que as reações foram elegantes.

Primeira baixa 

Luiz Antônio Azevedo, que pediu demissão da Casa Civil depois de ter sido responsabilizado pela chegada da malfadada nota às mãos de parlamentares da oposição, vai trabalhar na Finep, ligada ao Ministério da Ciência e Tecnologia. Ele nega que sua saída se deva ao incidente.

Alta plumagem 
Pouca gente na base aliada está mais operante na redução de danos a Palocci do que os principais líderes tucanos.

Placar 

A reunião em que foi fechado acordo para a votação do Código Florestal na próxima terça não teve a presença do líder do governo, Cândido Vaccarezza (PT-SP). Um peemedebista resume o espírito do acerto: "O governo perderia o jogo por 5 a 0. Agora, vai perder de 3 a 0".

Reflorestamento 

De Ivan Valente (PSOL-SP) sobre a blindagem de Palocci, cuja convocação foi rejeitada com folga, e o pacto para votar o código: "A motosserra está ligada no plenário".

Terceiro turno 

Exceto Aloysio Nunes, senadores do PSDB redigiram ontem manifesto pela condução de Tasso Jereissati ao Instituto Teotônio Vilela. O documento foi entregue a Sérgio Guerra como resposta à articulação de Geraldo Alckmin para levar José Serra ao posto.

Calendário 
Marcelo Odebrecht foi recebido por Dilma Rousseff em Brasília na quinta passada, véspera de reunião sobre Copa, em SP, na qual Geraldo Alckmin foi informado pela construtora de que o novo estádio do Corinthians, até recentemente orçado em R$ 650 mi, vai custar cerca de R$ 1 bi.

A + B 
Na reunião também estavam o ministro Orlando Silva (Esporte), o prefeito Gilberto Kassab e Andrés Sanchez (Corinthians). Luciano Coutinho (BNDES) não compareceu. Como nenhuma das partes diz ter condições de arcar com os R$ 350 mi adicionais (o governo do Estado desde sempre declarou que seu investimento será em infraestrutura no entorno), o novo preço do "Itaquerão" joga na berlinda as chances de SP abrir a Copa.

Altos e baixos 
A relação do comitê paulista da Copa de 2014 com CBF, Fifa e clubes foi ruim ao longo do mandato de José Serra, melhorou durante a interinidade de Alberto Goldman e voltou a apresentar sinais de estresse sob Alckmin.

Palanque 
Pré-candidato à prefeitura paulistana, o secretário estadual Rodrigo Garcia (Desenvolvimento Social) protagonizará as inserções de TV do DEM que entram no ar este mês.

Limpeza 

Antonio Anastasia (PSDB) publica hoje decreto que institui a obrigatoriedade da "ficha limpa" para todos os 17 mil servidores que exercem cargos de confiança na administração direta e indireta em Minas. A Assembleia já aprovara projeto similar para o primeiro e o segundo escalões.

com LETÍCIA SANDER e FÁBIO ZAMBELI

tiroteio

"Persio Arida, André Lara, Malan e Maílson têm atividade privada de conhecimento público. Já Palocci manteve atividade secreta no exercício da função pública."
DO DEPUTADO JUTAHY JÚNIOR (PSDB-BA), sobre nota da Casa Civil que comparou o enriquecimento do ministro ao de membros de governos anteriores.

contraponto

Balança comercial

Durante viagem oficial à Rússia, o líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves, encontrou-se com o presidente do Parlamento, Boris Gryzlov, que lhe falou do interesse do país em ampliar a importação de carne brasileira. O peemedebista brincou:
-Vamos então fazer um trato: a gente vende carne para vocês e vocês vendem caviar para a gente...
Depois de um instante, Alves completou:
-Mas tem de ser pelo mesmo preço!