sábado, maio 09, 2009

MERVAL PEREIRA

Popularidade e legitimidade

O GLOBO - 09/05/09

A partir do momento em que o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, disse que Lula era “o cara”, naquela reunião do G-20 em Londres, um fenômeno político desencadeou-se: todos começaram a discutir a popularidade do presidente brasileiro. Na ocasião, o primeiro-ministro australiano, Kevin Rudd, um trabalhista, fez um comentário: “É o mais popular num segundo mandato”. E, depois, a chanceler da Alemanha, Angela Merkel, uma democrata-cristã, se interessou em saber qual o índice de popularidade de Lula, e quanto havia caído com a crise, chegando a fazer piada com o fato de que a queda fora pequena. Dias depois, o primeiroministro da França, Nicolas Sarkozy, elogiou o primeiro-ministro da Itália, Silvio Berlusconi, em conversa reservada que vazou pelo microfone aberto

Disse que, numa democracia, o importante era ser reeleito, e Berlusconi havia sido reeleito duas vezes. Recentemente, o próprio Berlusconi disse que era mais popular do que Lula e Obama, e que não reconheciam isso porque ele era considerado “de direita”.

Essas conversas em nível internacional mostram que os políticos hoje não têm a dimensão de estadistas que já tiveram em outros momentos da História.

Talvez porque vivemos numa crise mundial, todos estão preocupados com a popularidade, como fazer para mantêla e não perder o poder. E estamos falando de políticos de tendências distintas, tanto à direita quanto à esquerda do espectro político.

Lula acaba virando objeto de admiração neste mundo político, em que ser popular e vencer eleições é o mais importante.

A propensão a permanecer no poder o maior tempo possível não é uma característica de políticos nem de esquerda nem de direita, nem mesmo de políticos da América Latina, como seria justo pensar diante da segunda onda de tentativas de ampliar o número de mandatos presidenciais consecutivos, que começou com Hugo Chávez, na Venezuela, e hoje tem em Álvaro Uribe, da Colômbia, seu novo protagonista.

O presidente da Colômbia consolidou sua popularidade em torno de 80% e insiste na tese do terceiro mandato consecutivo, o que só o fará comparável ao adversário Chávez, ofuscando a fama que ostenta de “estadista moderno”, já bastante arranhada, aliás, com as acusações de ligações diretas com grupos paramilitares.

Além do cogitado referendo popular e da eleição dos novos magistrados da Corte Constitucional — que regerá o referendo e as eleições, e que é composta por maioria uribista, com a nomeação a dedo de cinco novos juízes — começa a ser negociado no Congresso um projeto de decreto legislativo que põe de pé a possibilidade legal de um terceiro mandato consecutivo.

O próprio Álvaro Uribe já não esconde o desejo. Participei de uma conversa com ele recentemente, quando esteve no Rio para a reunião regional do Fórum Econômico Mundial, e, perguntado sobre o assunto, assumiu ares messiânicos, dizendo que o importante era manter as linhas mestras de seu governo, que está tendo êxito no combate ao narcoterrorismo.

Aqui no país, com a revelação da doença da ministra Dilma Rousseff, já recomeçam os movimentos de bastidores, especialmente no PT e no PMDB, para retomar o tema do terceiro mandato consecutivo para que Lula possa disputar novamente a Presidência em 2010, na falta de um nome viável para o projeto de a aliança partidária governista permanecer no poder.

A tarefa é das mais difíceis, pois não há apoio da opinião pública, e nem maioria parlamentar no Senado, para mudar a Constituição — o que tem que ser feito até setembro deste ano, um ano antes da eleição presidencial.

O truque novo que está sendo negociado, ainda que timidamente, nos bastidores, é submeter a aprovação de uma emenda constitucional nesse sentido a um referendo popular, que poderia ser realizado no mesmo ano da eleição, caso a mudança constitucional seja feita ainda este ano.

Há quem prefira a convocação de um plebiscito sobre o tema, para só depois, se aprovada a proposta do terceiro mandato seguido, fazer a mudança constitucional, agora já respaldada pela “vontade popular”, como na Venezuela ou na Bolívia.

O sociólogo Francisco Weffort, ex-ministro da Cultura nos dois governos de Fernando Henrique, acha que o conhecido fascínio dos governantes pelas pesquisas de opinião e pelos índices de popularidade exacerbouse depois das eleições americanas.

“Neste mundo em que a política é, sobretudo, espetáculo e marketing, os Estados Unidos uma vez mais colocaram a Europa na sombra”, diz ele, comentando que a rigor, neste mundo, “o cara” é o Obama, não o Lula.

Para os europeus, analisa Weffort, falar do Lula é uma maneira de desviar o foco.

“Falando do Lula eles continuam sob as luzes do cenário, falando do Obama eles passam para uma área de penumbra do palco”.

Para Weffort, ao mencionar popularidade e continuidade do mandato, “Sarkozy, Merkel e Berlusconi estão expressando por via indireta seus próprios desejos em relação às suas próprias carreiras”.

Weffort diz que o mesmo acontece com Lula quando, a propósito da continuidade do mandato, menciona o Chavez.

“É evidente que todos eles querem continuar”.

Já Octavio Amorim Neto, cientista político da Fundação Getulio Vargas, no Rio, o efeito da popularidade de Lula nos seus colegas “é aumentar o prestígio internacional do nosso presidente e, de tabela, o do Brasil”. Ele não acredita que “tal aumento o leve a buscar um terceiro mandato consecutivo, pois os custos políticos para aprovar uma emenda constitucional que permitisse isto acabariam com o capital político do Lula e o deixariam mais ainda refém do PMDB”. 
(Continua amanhã)

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BRASÍLIA - DF

Ordens de Lula


Correio Braziliense - 09/05/2009
 

 

Com o problema Delúbio Soares fora da pauta, o comando nacional petista recomendará a todos os estados que deem preferência a ajudar a reeleição de governadores aliados em troca de uma candidatura ao Senado indicada pelo Partido dos Trabalhadores. O PT será aconselhado a agir assim em locais como Rio de Janeiro, onde Sérgio Cabral (PMDB) é candidato à reeleição, em Pernambuco, ao lado de Eduardo Campos (PSB), e em Goiás, com Íris Rezende (PMDB). A avaliação é a de que, em vez de perder tudo, inclusive o governo e atrapalhar os aliados, é melhor se juntar a eles e garantir um espaço de poder. 

*** 
O problema é que, até agora, os diretórios estaduais têm feito “cara de paisagem” a essa recomendação. Em Mato Grosso do Sul, por exemplo, o ex-governador Zeca do PT está ansioso para concorrer contra André Puccinelli, do PMDB, candidato à reeleição. Ele pretende colocar a tropa na rua ainda este ano, para não dar tempo de o Planalto tentar lhe demover da ideia. Se continuar nessa batida, avaliam os comandantes petistas, Lula terá que entrar em campo pessoalmente para organizar os palanques e garantir os acordos. Afinal, só ele consegue mandar no partido. E nem sempre.


Sai daí rapidinho!

Conhecedor dos bastidores do PT, o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu foi quem convenceu o ex-tesoureiro petista Delúbio Soares a recuar no pedido de reintegração. O principal argumento foi o de que a pressão do governo não iria parar e o partido, que não queria votar contra Delúbio, se sentiria obrigado a fazê-lo para não contrariar o chefe. 

Segurem essa, prefeitos!

O governo não vê a hora de aprovar um projeto da deputada Perpétua Almeida (PCdoB-AC) que torna improbidade administrativa a concessão de benefícios de programas sociais do Poder Executivo em desacordo com a legislação. No caso do Bolsa Família, e das denúncias que surgiram essa semana, o cadastro dos contemplados é feito pelas prefeituras. 

Querido carteiro

Além da polpuda verba de gabinete, os deputados distritais têm sido eficientes nos gastos com a cota postal. A deputada Jaqueline Roriz (PSDB), por exemplo, lidera na categoria com desembolso de R$ 243 mil desde janeiro de 2007. O deputado Benício Tavares segue com R$ 240 mil no período. Na rabeira, aparece José Antônio Reguffe (PDT), com R$ 1 mil acumulados. Cada distrital tem direito a R$ 9 mil mensais para postagem. 

Do contra

A interpretação do presidente da Câmara, Michel Temer (PMDB-SP), que permitiu aos deputados votar projetos próprios, em vez de se prenderem às MPs, conquistou um aguerrido adversário: o governador de São Paulo, José Serra. O tucano já externou a líderes da oposição estar preocupado com a possibilidade da reforma tributária entrar na pauta nas próximas semanas. 

No cafezinho

 
 

Fraldas/ Está explicado por que o presidente da Câmara, Michel Temer (foto), corre para São Paulo quase todos os dias essa semana para ficar ao lado da mulher, Marcela: Ele, aos 68 anos, acaba de ser papai pela quinta vez. 

Xô, vírus!/ A embaixada dos Estados Unidos disparou um comunicado via e-mail avisando a brasileiros que estiverem com algum sintoma de gripe e tenham entrevista agendada para tirar visto que adiem a visita aos consulados. Os enfermos que ainda assim decidirem comparecer, avisa a mensagem, serão inspecionados para averiguação dos sintomas de gripe. 

Caixa gordo/ Pré-candidatos ao Senado no Paraná, o governador Roberto Requião (PMDB) e Gleisi Hoffman (PT) terão que suar a camisa. É que o presidente da Federação Nacional das empresas de Seguros (Fenaseg), João Elísio Ferraz de Campos (DEM), está pronto para entrar em campanha no ano que vem. E essa área costuma ter um caixa pra lá de rechonchudo. 
Guerra de torcidas/ Está grande a briga para a vaga no Conselho Nacional de Justiça. Erick Wilson Pereira é o candidato preferido do Senado. E Marcelo Neves tem a simpatia do presidente do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes, e do Palácio do Planalto. 

RUTH AQUINO

REVISTA ÉPOCA
Quem tem medo da opinião pública?
RUTH DE AQUINO
Revista Época
RUTH DE AQUINO
é diretora da sucursal de ÉPOCA no Rio de Janeiro
raquino@edglobo.com.br

Eu, tu, ele, nós, vós, eles. Mas, especialmente, eles. Os políticos. Antigamente, para fazer uma passeata contra políticos, a organização podia levar meses. O protesto durava algumas horas numa rua central, e cada manifestante voltava para casa, exausto. Hoje, a “opinião pública” fica sentada na frente do computador, expressando permanentemente seu poder, 24 horas por dia. Existe uma democracia direta com poder de denunciar e criticar. O povo ocupará cada vez mais a rua virtual.

Essas reflexões são do senador Cristovam Buarque. Ele ficou impressionado com a repercussão de uma declaração sua recente. “Soltei no carro, por telefone, uma frase para um blog. Quando cheguei a meu destino, já havia um grupo de jornalistas me perguntando se eu queria fechar o Congresso com plebiscito. Nós, parlamentares, não nos adaptamos aos novos tempos da comunicação imediata e universal. Claro, temos nossas limitações de Brasil. Mas, daqui a 20 anos, o povo inteiro estará na rua virtual.”

Não sabemos que tipo de Congresso o Brasil terá daqui a 20 anos. Mas esperamos que não lembre nem de longe o atual. Não poderá haver espaço para um relator do Conselho de Ética como Sérgio Moraes, o deputado do PTB gaúcho que subiu nas galochas para proclamar: “Estou me lixando para a opinião pública”. Uma deputada criticou o “escárnio e a indecência”. Todo mundo leu e ouviu, mas não custa repetir. “Estou me lixando para o que sai nos jornais. Vocês batem, mas a gente se reelege”, disse Moraes.

Poderíamos admitir que ele em parte está certo. O que se reelege de pilantra não está no gibi. Esses políticos costumam se reeleger com os “currais eleitorais”. Algum eleitor se orgulha de estar num curral? Agora, entrou no roteiro um novo personagem: o rolo compressor da opinião pública virtual e nacional. Nunca antes na história deste país os leitores comentaram tanto e com tanta agilidade. Nunca antes as críticas foram tão contumazes e abundantes – às vezes, bloqueadas pelas baixarias.

Hoje o povo se expressa 24 horas por dia na frente do computador. 
Nunca houve tanta crítica aos políticos

As reações a frases lapidares como essa do deputado Moraes chegavam pelo correio, eram publicadas na imprensa dias mais tarde, e por isso perdiam impacto. A opinião pública assumiu, com a internet, um papel de protagonista. O povo na rua virtual tem empurrado os políticos a recuar de decisões e a pensar rápido – às vezes, se precipitar, como foi o caso do quase desconhecido Sérgio Moraes. Que vive agora seus 15 minutos de má fama.

Quase ninguém havia ouvido falar de Moraes. Ele é um daqueles deputados com uma ficha corrida que faria qualquer mortal tomar remédio de tarja preta para dormir e para acordar. Foi absolvido das seguintes acusações: lenocínio (crime contra os costumes), receptação de joias roubadas e favorecimento de prostituição numa boate que pertencia a ele e à mulher. Foi expulso do PMDB. Foi condenado a pagar R$ 3.500 por agredir um vereador e jornalista. O Supremo Tribunal Federal (STF) abriu quatro inquéritos e quatro ações penais contra Moraes. Foi absolvido em duas ações. Faltam duas.

Digamos que Moraes não representa o Congresso brasileiro. Mas como alguém com essa ficha se torna relator de Conselho de Ética? Ou Moraes é vítima de perseguição implacável, ou deve mesmo se lixar para a opinião pública. Como relator, solidarizou-se em público com Edmar “Castelo” Moreira, que elogiou o “vício da amizade” no Congresso. Edmar (sem partido, MG) tornou-se agora réu no STF. É acusado de embolsar o INSS descontado dos empregados de sua empresa de segurança. Parece ficção.

O clássico Quem tem medo de Virginia Woolf? – a peça de Edward Albee, que em 1966 virou filme com Elizabeth Taylor e Richard Burton, dirigido por Mike Nichols – envolve um jogo de sadismo psicológico entre dois casais. O filme começa inocente, mas evolui para uma trama de acusações e revelações, em apenas dois cenários. O roteiro cria uma tensão sufocante. Quem vê fica louco para chegar ao fim e se livrar do desconforto.

Confio na opinião pública, que assiste ao filme em cartaz em Brasília e se importa com tudo. Ela pode mudar o fim. 

J. R. GUZZO

REVISTA VEJA

J.R. Guzzo
É proibido proibir

"Quando sai em defesa da farra aérea, como acaba 
de fazer, o presidente mostra que entende muito bem como funciona o Brasil. O que não quer é mudá-lo"

Se o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fosse médico, em vez de político, faria grande sucesso como anestesista. Por que não? De todas as coisas que sabe fazer, na carreira de homem público pela qual optou, poucas se comparam à sua capacidade de adormecer qualquer problema que lhe apareça pela frente – sobretudo quando o problema é a denúncia de alguma safadeza no mundo que gira ao seu redor. O presidente, nesses casos, não varia nunca. Desde a primeira trovoada para valer de seu governo, em fevereiro de 2004, quando foi divulgado que o companheiro Waldomiro Diniz, funcionário graduado do Palácio do Planalto, havia sido flagrado pedindo dinheiro a um empresário da indústria de jogos de azar, sempre diz que não aconteceu nada de mais. A atitude de negar o erro, em vez de tentar curá-lo, funciona como um sedativo que vai direto na veia; não há problema que permaneça de pé se o presidente da República, em pessoa, se comporta dessa maneira. O tipo de anestésico aplicado por Lula vai mudando em cada história; ou "não há provas", ou "todo mundo faz isso", ou "sempre foi assim", ou a denúncia é feita porque seu governo "é a favor dos pobres" etc. O que não muda é o propósito real dessa conversa: dizer que não aconteceu nada de errado, ou, se por acaso aconteceu, a culpa não é de ninguém, e principalmente não é dele.

Nenhuma vigarice da vida pública, por mais grosseira que seja, parece escapar desse tratamento-padrão – nem mesmo a distribuição de passagens aéreas, pagas com dinheiro público, para familiares e amigos de senadores e deputados circularem de graça pelo Brasil e pelo mundo. A demência disso tudo ficou tão clara que os próprios deputados se assustaram com o que estavam fazendo e, embora a contragosto, resolveram suspender a trapaça. Mas o presidente Lula, que a rigor não tinha nada a ver com a história, e sem que sua opinião tivesse sido formalmente solicitada, resolveu sair em defesa dos parlamentares. Segundo ele, as críticas foram uma "hipocrisia". A possibilidade de que alguém, honestamente, tenha achado que não se pode gastar com a família passagens que só são pagas pelo Erário porque devem servir para viagens de trabalho nem sequer lhe passou pela cabeça; quem pensa assim é "hipócrita", e estamos conversados.

A partir daí, o discurso que começou torto foi entortando cada vez mais. Lula disse que a situação sempre foi essa, "desde a descoberta do Brasil" – argumento que não é apenas viciado, pois erros velhos não se transformam em acertos com o passar do tempo, como perfeitamente falso, já que a lambança das passagens só tomou impulso para valer com a degeneração iniciada depois que se inventou, em Brasília, o sistema geral das "mordomias". O presidente admitiu, é verdade, que usar as passagens para ir à França é "delicadíssimo", mas e daí? Ninguém está interessado em saber se é delicado ou não, mas se está certo ou errado. Para encerrar, disse que não vê "o tamanho do crime" se "o cara levar a mulher para Brasília". Não haveria crime nenhum, é claro, se o "cara" pagasse a passagem do próprio bolso – mas Lula está convencido de que esse tipo de detalhe é pura bobagem. É bobagem para ele, mas não para muita gente simples que parou para pensar um pouco no assunto. Se o presidente lesse de vez em quando o que sai na imprensa, talvez ficasse sabendo da melhor definição já feita até agora sobre essa história toda; seu autor é um carteiro. Em conversa com um deputado, explicou que tem direito de não pagar suas passagens de ônibus quando está entregando cartas – mas sua mulher paga todas as viagens que faz. Disse tudo.

O presidente da República talvez possa contabilizar, entre as obras de seu governo, a criação do neoliberalismo moral – sistema de pensamento pelo qual a presença da lei, e sobretudo dos bons costumes, deve ser a mínima possível em qualquer atividade dos políticos brasileiros. Seria uma nova versão do "é proibido proibir". Fica proibido, no caso, proibir tudo o que é bom para os políticos e ruim para o Brasil – das passagens para a "mulher do cara" até nomeações de parentes para cargos no governo, distribuição de dinheiro público para o seu laranjal de ONGs, negócios com suas empresas-fantasma, e por aí afora. Lula não faz isso por distração, mas por conhecer há muito tempo a qualidade dos políticos que o sistema eleitoral brasileiro produz, e com os quais tem de governar. Quando sai em defesa da farra aérea, como acaba de fazer, o presidente mostra que entende muito bem como funciona o Brasil. O que não quer é mudá-lo.

PAINEL

Operação Ciro

RENATA LO PRETE

FOLHA DE SÃO PAULO - 09/05/09

Embora Ciro Gomes (PSB-CE) tenha rejeitado publicamente a ideia, sob o argumento de que pode estar ficando "velho, mas não louco", seguem as conversas para tentar transformá-lo em candidato ao governo de São Paulo, especialmente agora que a Operação Castelo de Areia eliminou a opção Paulo Skaf.
Na quarta, os representantes do "bloquinho" Márcio França (PSB), Paulinho (PDT) e Aldo Rebelo (PC do B) reuniram-se para tratar do assunto com os deputados do PT Cândido Vaccarezza, Jilmar Tatto, José Mentor e Devanir Ribeiro. Os petistas sugeriram que poderia haver jogo caso Ciro se mostrasse viável, em pesquisa, contra Geraldo Alckmin, tucano mais cotado caso José Serra saia para disputar o Planalto.

Vai nessa. Paulinho da Força também tratou do projeto Ciro SP em conversa com Gilberto Carvalho. O chefe de gabinete de Lula, cotado para presidir o PT durante a campanha eleitoral de 2010, não se comprometeu, mas também não se opôs ao prosseguimento das negociações. 

Excluídos 1. O presidente do PT, Ricardo Berzoini, soltou fumaça ontem ao descobrir que o conselho informal da candidatura de Dilma Rousseff havia se reunido na segunda-feira no Palácio do Planalto. Tampouco o secretário-geral do partido, José Eduardo Cardozo, gostou de ter sido excluído. Houve quem defendesse nota de protesto, mas a turma do deixa disso resolveu a parada. 

Excluídos 2. Há precedente de curto-circuito na relação Dilma-Berzoini. Em recente reunião com a bancada da Câmara, a ministra defendeu a ida de Gilberto Carvalho para o comando do PT, dada a importância de ter ali alguém que fale por Lula. Subtexto: ao contrário da atual direção. Berzoini espumou. 

Roteiro. Embora soubesse que suas chances eram remotas, o ex-tesoureiro Delúbio Soares deixou o barco correr até ontem, quando se declarou injustiçado na reunião do Diretório Nacional petista, para ganhar discurso que pavimente sua candidatura a deputado por outra legenda. 

Pá de cal. Até o início da semana, Delúbio ainda tinha alguma esperança de alcançar o número de votos necessário para aprovar seu pedido de integração. Mas o Movimento PT, tendência de porte médio que se alia ora ao antigo Campo Majoritário, ora à Mensagem, roeu a corda e avisou ao tesoureiro do mensalão que não lhe daria seus dez votos.

Joint-venture. A emenda que anistia agentes públicos de responder por improbidade em decisões relacionadas ao sistema financeiro foi debatida entre o líder do PSDB na Câmara, José Aníbal (SP), e o presidente do BC, Henrique Meirelles. O banco trabalhava em um projeto com o mesmo propósito. 

Vai vetar? A aliança explica por que Tasso Jereissati (PSDB) e Aloizio Mercadante (PT), contrários a outros contrabandos na MP 449, não se opuseram à anistia para os dirigentes financeiros, acatada por Francisco Dornelles (PP). E por que a equipe econômica não incluiu o item entre os possíveis vetos ao texto. 

Afasta de mim. Apesar de críticos ao destempero de Sérgio Moraes (PTB-RS), aquele que está se "lixando para a opinião pública", integrantes do Conselho de Ética da Câmara estão recusando, um a um, as sondagens para substituir o colega na relatoria do caso Edmar Moreira. Membros da subcomissão que cuida do tema, Hugo Leal (PSC-RJ) e Ruy Pauletti (PSDB-RS) não topam. 

Repórter. Sem equipe de TV nem assessores para gravar imagens dos estragos das chuvas no Maranhão e Piauí durante o sobrevoo de Lula, o ministro Márcio Fortes (Cidades) sacou seu celular e registrou o cenário crítico para exibir aos colegas em Brasília.

Tiroteio

"Perder a oportunidade de indicar um brasileiro para a direção-geral da Unesco, optando por apoiar um egípcio obscuro e discutível, é mais um erro da política externa de Lula." 


De CELSO LAFER, chanceler no governo FHC, sobre o endosso do Itamaraty a Farouk Hosni em detrimento de Marcio Barbosa, atual diretor-adjunto do órgão da ONU para educação, ciência e cultura.

Contraponto

Pronto para tudo O ex-embaixador de Cuba Tilden Santiago esteve em Brasília em busca de apoio da cúpula do PSB para concorrer ao Senado por Minas. Em conversa com Renato Casagrande, secretário-geral do partido, fez sua propaganda:
-Posso ser o candidato da esquerda, porque terei o segundo voto dos eleitores petistas-, argumentou Santiago, que militou no partido durante 28 anos.
-Mas e se o Aécio for candidato ao Senado?
-Aí eu tenho o segundo voto dos eleitores do Aécio...
-Desse jeito você terá mais voto que o governador!
Tilden não se fez de rogado:
-Disposição e ousadia não me faltam.

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MARCOS CAETANO

Como antigamente

JORNAL DO BRASIL - 09/05/09

Depois de muitas edições com o título sendo disputado por dois ou três clubes – e de três anos que se constituíram num monólogo são-paulino – o Campeonato Brasileiro iniciará sua nova edição, neste final de semana, com fôlego renovado. O sucesso de uma competição baseia-se em três quesitos: grandes craques, bom nível de jogo e equilíbrio. Um campeonato com craques e sem bom nível não é um bom campeonato. Da mesma forma, um campeonato equilibrado, mas sem craques, não encanta. E um campeonato de alto nível, mas sem estrelas ou equilíbrio, também cheira a fracasso.

O auge do futebol de clubes no Brasil ocorreu entre o final dos anos 60, quando as disputas deixaram de ser regionais para ter abrangência nacional, ao início dos anos 80, quando o êxodo de craques começou a minar nossas equipes. Pena que, sobretudo no final dos anos 70, os campeonatos eram inchados e intermináveis – ainda que com o consolo de, com raríssimas exceções, terem sempre premiados os melhores times. A presente edição do Brasileirão, tem a seu favor, além do sistema mais justo dos pontos corridos, uma rara combinação de craques, bons times e equilíbrio. E isso me anima a apostar numa competição como aquelas de antigamente.

No quesito craques, não temos do que nos queixar. Embora os principais clubes não tenham três ou quatro foras-de-série, como nos áureos tempos, ao menos no comando do ataque não faltará talento. Poucos campeonatos têm centroavantes do quilate de Keirrison, do Palmeiras, Washington, do São Paulo, Nilmar, do Inter, Neymar, do Santos, Fred, do Fluminense, Adriano, do Flamengo e Ronaldo, do Corinthians. Se alguém duvida do poder de fogo dos atacantes brasileiros, basta recordar que os três últimos da lista foram selecionados por Parreira para a Copa da Alemanha, onde, aliás, todos marcaram gols.

No quesito equilíbrio, a temporada parece ser das mais animadoras. Os quatro grandes de São Paulo chegam para lutar pelo título e pela hegemonia do estado na década. O São Paulo não deverá monologar, mas tem todas as condições de, como especialista em pontos corridos, vencer o diálogo áspero da disputa. O Palmeiras é um time que, se reencontrar a regularidade do início da temporada, será sério candidato. O Corinthians já tem regularidade. E tem Ronaldo, o que o coloca em posição invejável. O Santos corre por fora, mas o time é aguerrido, tem padrão e, se Neymar crescer e aparecer, poderá surpreender. Entretanto, para o bem da disputa, nem só de paulistas viverá este campeonato. No Rio, reforçado pelo filho pródigo Adriano, o Flamengo sonha alto. O Flu tem um bom elenco do meio para frente e um grande treinador. Se conseguir reforços para a frágil defesa, entrará na briga. O Botafogo tem menores chances, mas, como o Santos, aposta na regularidade.

Não fica por aí. Para justificar o terceiro quesito, que trata do nível das equipes, Cruzeiro, Grêmio e Internacional também são candidatos. O Inter, aliás, talvez seja o mais candidato de todos. Muitos dos entendidos de futebol, se convidados a apostar no escuro em um bolão, antes do pontapé inicial do primeiro jogo, cravariam o colorado gaúcho como campeão. Um Campeonato Brasileiro com representantes de pelo menos quatro estados brigando pelo título é um sonho para quem gosta de bom futebol. E um belo presente para os torcedores no domingo das mães. Nem todo torcedor é mãe. Mas, como elas, sabemos o que é padecer no paraíso. Afinal de contas, sofrer por clubes que nem sempre correspondem às nossas expectativas é nossa especialidade. Quem sabe este ano as coisas mudam de figura, não é mesmo? Que comecem os jogos!

PANORAMA

REVISTA VEJA

Panorama
Holofote


Felipe Patury

Bois para lá de gordos

Divulgação


Está em curso um dos maiores negócios do setor de carnes: uma associação entre o frigorífico Bertin, o segundo maior do país, e o Marfrig, o terceiro colocado no ranking. Nos últimos dias, Reinaldo Bertin informou os dirigentes das associações de criadores de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul sobre o início dos entendimentos. O pressuposto que norteia as conversas é a – com o perdão da má palavra – otimização da operação. O Bertin ganhará acesso à logística de abate e à rede de fornecedores do Marfrig. Este, por sua vez, se beneficiará da logística de distribuição e dos preços mais altos praticados pelo Bertin. O BNDES, que é sócio de ambos os grupos, acompanha as conversas.

 

Cassação de ex-mulher

Renato Cobucci


Em abril, o ex-governador mineiro Newton Cardoso, do PMDB, quase foi parar na cadeia por não pagar a pensão da ex-mulher, a deputada Maria Lúcia Cardoso, também do PMDB. Newtão não se conforma com o valor de 116 250 reais mensais fixado pela Justiça e deu o cano por três meses. Só decidiu transferir o dinheiro quando os advogados de Maria Lúcia o ameaçaram com o xilindró. Agora, promete retaliar. Diz que não descansará enquanto a Câmara não cassar o mandato de sua ex-mulher. Segundo ele, Maria Lúcia teria quebrado o decoro parlamentar ao apresentar à Justiça uma certidão de casamento falsa. A deputada nega.

 

O dique do Duque

Marcos d’Paula /AE


A Companhia Brasileira de Diques (CBD) tenta persuadir a Petrobras a alugar o antigo estaleiro Ishibrás, situado no Rio de Janeiro. A CBD quer receber 4,5 milhões de reais mensais pelo espaço, mas só fechará o acordo se a estatal lhe adiantar 50 milhões de reais. Precisa de, pelo menos, 20% desse dinheiro para indenizar a atual locatária, a Sermetal. A CBD pertence ao Banco Fator e à Inepar e trata do assunto com o diretor de serviços da Petrobras,Renato Duque, muito ligado ao ex-ministro José Dirceu.

 

Sabe tudo

Edu Moraes/TV Record


O Aprendiz
 tornou-se o programa de maior faturamento da Rede Record e seu apresentador, o publicitárioRoberto Justus, dono de uma das maiores receitas de propaganda da TV nacional. Justus está faturando quase 3 milhões de reais por programa com vendas de patrocínio e merchandising, 30% mais que no ano passado.

 

Tempo ruim, Temporão

Agência Brasil


Não é de hoje que o presidente do Conselho Nacional de Saúde, Francisco Batista Júnior, se desentende com o ministro do setor, José Gomes Temporão. Mas, agora, as divergências chegaram a um nível crítico. Batista Júnior está aborrecido com o loteamento de cargos na área da saúde – todos para acomodar afilhados de políticos do PMDB, o partido de Temporão.

 

São muitas emoções na Sapucaí, bicho

Divulgação


A ideia partiu do próprio Roberto Carlos. No Carnaval do próximo ano, o cantor gostaria de ser agraciado com um enredo da Beija-Flor exaltando os cinquenta anos de sua carreira. O empresário Dody Serena já levou a proposta para Aniz Abraão David, presidente da escola. David adorou. Já pensa até em arquivar os três temas que disputavam o enredo de 2010. Entre eles, os cinquenta anos de Brasília, defendido pelo carnavalesco Joãosinho Trinta. A razão de tanto entusiasmo é que um desfile da escola de Nilópolis custa 8 milhões de reais e o amigo de fé, irmão, camarada poderia trazer consigo patrocinadores como Nescau e Unimed.

ANCELMO GÓIS

TEM CULPA EU?

O GLOBO - 09/05/09

Outra versão para o motivo que levou o presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, a adiar a viagem ao Brasil. O embaixador iraniano aqui, Mohsen Shaterzadeh, procurou o Itamaraty para reclamar da imprensa brasileira por “denegrir a imagem de seu país”.
SEGUE...
O chanceler Celso Amorim explicou que não podia fazer nada, que no Brasil há liberdade de imprensa e até Lula se sente muitas vezes injustiçado com reportagens e artigos nos jornais.
A conversa acabou com o iraniano achando melhor marcar a visita quando o clima político estiver menos tenso.
O PÉ DE CLÁUDIA 
Cláudia Raia se recupera de cirurgia no tornozelo em aulas de educação física na água.
A Donatela da novela A Favorita, lembra?, prepara-se com a professora Stella Torreão para viver Débora no novo longa da série Os Normais.
A MORTE DA BEZERRA
O TJ de Santa Catarina condenou o Departamento Estadual de Infraestrutura a cobrir metade do prejuízo do casal de fazendeiros Romildo e Érica Mai, que perdeu uma bezerra de R$ 1,5 mil, morta ao cair num buraco na estrada SC-153.
DE VOLTA PRA CASA 
A Galp, sócia da Petrobras no filé mignon do pré-sal, resolveu transferir para o Rio sua sede brasileira, atualmente em Recife.
A portuguesa era a única gigante do petróleo que não ficava perto da ANP e da Petrobras.
A BUNDA DO TONI 
A Playboy quis saber de Caetano Veloso qual a bunda mais bonita do Brasil. O supercompositor apontou a de... Toni Garrido. O vocalista do Cidade Negra agradeceu e...
– Ele não sabe como a declaração fez sucesso entre meus amigos da pelada, a turma da rua e o pessoal da academia onde luto boxe.
Ah, bom! 
ALIÁS...
A pergunta que não quer calar: onde foi que Caetano viu a bunda de Toni Garrido? Com todo o respeito.
LULA É O CARA
Lula será recebido novamente pela rainha Elizabeth II, dia 26 de outubro, no Palácio de Buckingham. O presidente será agraciado com o Prêmio Catham House por sua “contribuição à paz e ao desenvolvimento do mundo”.
JÚRI MIRIM 
O Colégio Ipiranga de Petrópolis realizou um debate sobre com quem deve ficar o menino Sean, aquele disputado pelo pai e pelo padrasto.
Um júri, formado por alunos, decidiu por 7 a 1 que Sean deve permanecer no Brasil.
SAI DA PISTA, TOTÓ
Ontem de manhã, no Rio, a pista sentido Centro da Linha Amarela foi fechada na altura de Del Castilho – e os motoristas, claro, ficaram apavorados. Mais ainda quando agentes que cuidam da via começaram a correr entre os carros.
Mas não era arrastão. A turma estava no encalço de um cachorrinho, que, coitado, circulava perdido na pista.
ACADEMIA DE POLÍCIA
O ministro Tarso Genro ficou feliz com a notícia. A procura pelas 180 mil vagas para profissionais de segurança estudarem de graça foi maior do que as expectativas. Todas já foram preenchidas por policiais interessados em receber formação de graça em disciplinas como direitos humanos, policiamento comunitário e segurança sem homofobia.

COISAS DA POLÍTICA

A salvação do voto em lista

Villas-Bôas Corrêa

JORNAL DO BRASIL - 09/05/09

O pior Congresso de todos os tempos, incluindo o dos quase 21 anos da ditadura militar dos cinco generais-presidentes, está sendo absolutamente coerente quando solta o balão de ensaio da substituição do voto no candidato pela do voto em lista fechada.

E nada mais fácil de entender, com a pitada de compreensão pelas fraquezas humanas na manobra da fatia dos 513 deputados federais – já que os estaduais, como os vereadores, não piam – para garantir a reeleição para o desfrute de um dos melhores empregos do mundo. Pois, nesta mal-afamada legislatura, com as exceções de praxe e que não são muitas, suas excelência foram de invejável criatividade na criação de atalhos e trapaças para a fruição da boa vida de milionários.

E, como não defender o que foi construído tijolo por tijolo, às escondidas ou com desculpas indigentes? A velha Câmara e o venerando Senado da época dourada, que começa com a queda da ditadura do Estado Novo de Getúlio Vargas em 1945 e termina com o golpe de 1° de abril de 1964, na então Cidade Maravilhosa eram de uma modéstia que hoje parece inacreditável para os que se acostumaram com as vantagens, da verba indenizatória, dos gabinetes individuais dos parlamentares, com verba de R$ 60 mil mensais para a contratação de até assessores, apelido de cabos eleitorais, dos R$ 3 mil mensais para pagar a conta do hotel e demais penduricalhos de uma lista que não parece ter fim.

Não custa reconhecer que a mudança da capital, em 21 de abril de 1960, para o canteiro de obras de Brasília inacabada provocou a reação dos escalados para a transferência. JK abriu o cofre da Viúva, sacando o argumento que dissolveu resistência. Os ministros ganharam mansões, os barnabés as dobradinhas de salários, e os parlamentares descobriram o paraíso, azeitado pela criatividade. A semana de segunda a sábado, com sessões com quorum para as votações, obviamente facilitado porque a quase totalidade dos senadores e deputados morava no Rio virou de pernas para o ar com o dobre dos sinos das mordomias. Poucos mudaram para Brasília. As quatro passagens aéreas mensais de Brasília para a base eleitoral do parlamentar permitiu o saudável hábito da semana de quatro dias inúteis, das terças às quintas, às vezes às sextas. E empilhou mordomias até a lua.

Mas o Congresso quando entorta não deixa nada no lugar. A herança da ditadura militar – que acabou com os partidos com raízes no contraditório municipal e impôs o caricato bipartidarismo da Arena majoritária, governista, e do raquítico MDB da sobra das cassações – bateu de frente com a morte do presidente Tancredo Neves, o presidente eleito pelo Colégio Eleitoral e que não chegou a tomar posse.

O vice que exerceu o mandato de cinco anos, o ex-presidente e atual senador José Sarney, presidente do Senado, passou a Presidência ao presidente Fernando Collor de Mello, eleito pelo voto direto, em 15 de março de 1990. De lá para cá, é a história de ontem, com a renúncia de Collor de Mello, os dois mandatos de Fernando Henrique Cardoso e os quase seis anos e meio dos dois mandatos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Em meio a tais turbulências e seduções, os partidos perderam a identidade. Da fórmula simples de dois blocos – governo versus oposição – e seus satélites, a praga da corrupção com a sucessão de escândalos, desde o mensalão, o caixa 2 em cadência crescente, a bagunça até o descalabro desta antevéspera de eleições, ditou a desmoralização do Congresso. Quando os parlamentares começam a sentir as fisgadas da opinião pública, dispersa na imensidão de Brasília.

O risco de perder a sinecura espeta a criatividade. E o Congresso que dissolveu os partidos nas alianças suspeitas e contraditórias entrou em outra fase. Os que têm a reeleição virtualmente garantida não temem as urnas.

As que têm todos os motivos para duvidar do eleitor foram catar o voto em listas fechada. Ora, o voto na lista, em que o eleitor vota na legenda e não no candidato, fortalece o partido, que compõe a bancada com o preenchimento das cadeiras conquistadas nas urnas na ordem da lista dos candidatos.

Com a desmoralização dos partidos é um tiro na cabeça. O eleitor, acostumado a votar no candidato, ignora os partidos, inclusive o PT que se perdeu no caminho.

GOSTOSA


HOMENAGEM AS MÃES
SEMANA DA MÃE GOSTOSA

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RUY CASTRO

Rapaz de bem

FOLHA DE SÃO PAULO - 09/05/09

RIO DE JANEIRO - O pianista, compositor e cantor Johnny Alf fará 80 anos no dia 19 próximo. Se todos os artistas que ele influenciou se dessem as mãos, a corrente humana iria de Vila Isabel, na zona norte do Rio, onde nasceu, em 1929, a Santo André, no ABC paulista, onde mora há dois anos, numa casa de repouso, desde que se submeteu a uma cirurgia e a um longo tratamento.
Exceto por alguns shows promovidos por seus fãs -Leny Andrade, Alayde Costa, Emilio Santiago, Cibele Codonho-, não se sabe de homenagens à altura da sua importância. Neste aniversário, ele mereceria um ciclo inteiro de espetáculos reunindo músicos de sua turma (ainda há muitos na praça) e das gerações mais novas, reconstruindo sua obra em vários contextos: orquestra, pequeno conjunto, piano solo, vozes, gafieira, jam session.
Os museus da Imagem e do Som do Rio e de São Paulo promoveriam palestras e debates sobre o estado de coisas na música popular quando ele apareceu ao piano de uma boate carioca em 1952 e de como, pouco depois, tivemos a bossa nova. O próprio Johnny gravaria um extenso depoimento para esses museus. Uma TV produziria um especial a seu respeito. Uma editora lançaria seu songbook. E seus discos, sempre difíceis de encontrar, seriam relançados. Mas não há nada disso programado.
Johnny não tem aposentadoria nem plano de saúde. Vive de uma pequena poupança e dos caraminguás de seus direitos autorais -e olhe que ele é o autor dos sambas "Rapaz de Bem" e "Fim de Semana em Eldorado", do baião "Céu e Mar", dos sambas-canção "O Que é Amar" e "Eu e a Brisa" e de muitos outros standards da música brasileira. Os 80 anos de Johnny começam daqui a alguns dias e levarão um ano para se completar. Ainda há tempo para homenageá-lo. De preferência, com ele ao piano.

DIOGO MAINARDI

REVISTA VEJA

Diogo Mainardi
Mister Maker

"Vik Muniz reproduz a Mona Lisa com pasta de amendoim e a Última Ceia com calda de chocolate. 
Em vez de ganhar um programa no Discovery Kids, 
ele tem suas obras compradas pelo MoMA"

Mister Maker tem um programa no Discovery Kids. Ele ensina a pintar coelhos e paisagens marinhas usando materiais insólitos como balas de goma, embalagens de ovos e tampinhas de garrafa. Vik Muniz é o Mister Maker do MoMA. Ele reproduz a Mona Lisa com pasta de amendoim e aÚltima Ceia com calda de chocolate. Em vez de ganhar um programa no Discovery Kids, ele tem suas obras compradas pelo Museu de Arte Moderna de Nova York.

Aleijadinho? Portinari? Hélio Oiticica? Lygia Clark? Ninguém é páreo para Vik Muniz. Ele é o artista brasileiro mais festejado de todos os tempos. Ele está para a arte brasileira assim como Leonardo da Vinci está para a arte italiana. O que já diz tudo sobre a arte brasileira. Vik Muniz valorizou as técnicas mais desprezadas da história da arte: a cópia e otrompe-l’oeil. Primeiro, ele copia, fotografando. Em seguida, reconstrói a imagem colando sobre ela elementos de uso cotidiano, como molho de tomate, geleia de amora e soldadinhos de plástico, em forma de mosaico. O resultado se assemelha às telas de Arcimboldo, o pintor maneirista que compunha figuras humanas a partir de legumes, frutas e livros. Além de ser o Mister Maker do MoMa, Vik Muniz é o Arcimboldo cearense. O Arcimboldo pau de arara.

Nos últimos anos, os artistas brasileiros se espalharam por museus e galerias dos Estados Unidos e da Europa. Vik Muniz é o mais popular de todos. Mas há outros na cola dele. Em particular: Cildo Meireles, Beatriz Milhazes e Ernesto Neto. Inicialmente, eles eram patrocinados pelo Banco Santos, do fraudador Edemar Cid Ferreira. Assim como as mulheres dos deputados, os artistas brasileiros iam a Veneza, Berlim ou Nova York com todas as despesas pagas pelos contribuintes. Agora isso mudou. Eles ganharam o mercado mundial. Em 1891, Paul Gauguin abandonou Paris e foi retratar os selvagens no Taiti. Um século depois, os artistas brasileiros percorreram o caminho inverso: eles representam os selvagens do Taiti indo retratar Paul Gauguin em Paris. Vik Muniz é aquela taitiana com o seio de fora. Ele é aquela taitiana de cócoras. Ele é aquela taitiana segurando uma fatia de melancia.

A meta de Vik Muniz é "romper a hierarquia da arte". É o que ele faz quando pendura uma cópia de Rafael ao lado de uma cópia de Bosch. O mesmo discurso populista e popularesco é estendido ao público de suas obras. Segundo ele, tanto faz se o espectador é um curador de arte ou um bilheteiro. Vik Muniz sempre diz que é um produto do Brasil. E é mesmo. Nós rompemos a hierarquia das ideias, dos valores, dos gostos, dos costumes, das leis. Os outros fizeram a Mona Lisa. Nós a lambuzamos com pasta de amendoim.

INFORME JB

Mais uma batalha entre PT e PMDB

Leandro Mazzini

JORNAL DO BRASIL - 09/05/09

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem ocupado mais seu tempo, ultimamente, atuando de bombeiro entre as perversidades das hostes do PT e do PMDB sobre a disputa de poder no Congresso – e, de quebra, inclui o ministro das Relações Institucionais, José Múcio Monteiro, no rol de negociações. O novo capítulo é a vaga de líder do governo no Congresso. Com vistas para palanques em 2010, o PT quer indicar a senadora Fátima Cleide (PT-RO), para sossegar o senador Valdir Raupp (PMDB-RO), com quem pode aliar-se ano que vem. Ou o PT pode indicar Osmar Dias (PDT-PR), que reforçaria a chapa dos petistas no Paraná. Mas o PMDB bateu pé e avisou ao Planalto que não deixa. "A vaga é do PMDB", grita um senador aliado.

Alô, TRE Passo a passo

Entra ano, sai ano, e todo ano é a mesma coisa: a campanha não passa. Esse Ford Focus flagrado pela coluna circula em Brasília com o adesivo "Federal é Oziel", numa clara campanha antecipada.

O vice-governador do Rio, Luiz Pezão, lembra à coluna que o PAC "está andando" no Rio. Para o Arco Rodoviário, das 3.600 desapropriações previstas, mais de 800 feitas.

Teleférico

Ainda segundo Pezão, a obra mais chamativa do PAC no Rio, o teleférico no Complexo do Alemão, saiu do papel. Já construíram a segunda estação.

Aprovados

A Faculdade Zumbi dos Palmares, onde 87% dos alunos são afrodescendentes, forma sua segunda turma de administradores dia 14. O patrono é o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.

Mutirão bilateral

A Caixa Econômica Federal recebeu visita de comitiva de representantes de Cabo Verde, chefiada pela ministra das Finanças, Cristina Duarte. Querem cooperação técnica entre os países na área de habitação.

Falta pouco

A ministra lembrou à presidente da Caixa, Maria Fernanda Coelho, que Cabo Verde tem hoje um déficit habitacional de 40 mil moradias. Parece pouco, mas não é. "É um número expressivo, se considerarmos a população de 500 mil habitantes", disse a ministra.

Prevenção

O TCU anunciou: vai acompanhar os gastos do governo com a gripe suína.

Rumo ao STF

O presidente Lula e o procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, reuniram-se quinta-feira para um papo. Prestes a mudar-se para a Corte da OMC, a ministra do STF Ellen Gracie pode abrir vaga para Fernando, como adiantou a coluna.

Lula lá

O ministro da Igualdade Racial, Edson Santos, foi incumbido pelo presidente Lula de representá-lo amanhã na posse do novo presidente da África do Sul. Santos viajou ontem com assessores.

Apito final

O STJ rejeitou mandado de injunção impetrado pela Federação Nacional dos Atletas Profissionais de Futebol, que pedia a proibição de jogos entre 11h e 17h em todo o país, no período de novembro a fevereiro.

Apito final 2

A Fenap sustentou que o Ministério do Trabalho, responsável pela regulamentação de todas as atividades ocupacionais, recusa-se a estabelecer regras específicas de proteção à saúde dos jogadores.

Além-mar

O governo brasileiro vai apoiar a criação do Sistema Nacional de Arquivos Moçambique. O diretor-geral do Arquivo Nacional, Jaime Antunes, e a ministra da Função Pública de Moçambique, Vitória Diogo, assinaram acordo de cooperação.

Piso verde

Com reciclagem de 7 mil toneladas de concreto, a ArcelorMittal Tubarão economizou R$ 750 mil para reformar 3,6km dos 9km da rodovia de acesso ao Terminal Privativo de Praia Mole.