sábado, novembro 15, 2008

ROBERTO POMPEU DE TOLEDO


REVISTA VEJA
Black is beautiful, fase 2

"A menina negra brasileira a partir de agora verá no Jornal Nacional as pequenas Malia e Sasha e – milagre – não sentirá, a rebaixá-la, a diferença de cor"

A eleição de Barack Obama para a Presidência dos Estados Unidos pode ser entendida, entre outras coisas, como a fase 2 do "black is beautiful", o movimento de orgulho negro com origem no programa libertário dos anos 1960. A essa luz, é uma revolução no gosto o que a presença de um negro na Casa Branca prenuncia. Claro que, se foi preciso surgir um movimento enfatizando que "negro é bonito", é porque negro era feio. Além de um ser inferior, conforme as doutrinas racistas, era também um erro, sob o ponto de vista estético. Não se veria filme de Hollywood estrelado por uma diva negra, nem anúncio em que o produto fosse recomendado por um galã negro. A fase 1 do "black is beautiful" insurgia-se contra esse estado de coisas. Na fase 2 a estratégia é outra e outros são os objetivos, mas a possibilidade de abalar a hegemonia da estética branca é maior.

Este é um assunto com o qual o Brasil, como país de maior população negra fora da África, tem muito a ver. Como tantas outras coisas, o Brasil abraçou desde sempre os códigos do gosto formulados nas matrizes americanas e européias. O resultado eram perversidades cujo efeito, à falta de uma expressão concreta, dá apenas para imaginar. Suponha-se uma menina negra que se encantasse com a mocinha da novela, ou o menino negro que admirasse a coragem do mocinho do filme. Entre eles e seus heróis havia, a rebaixá-los, e fazer com que se sentissem exilados do mundo do glamour, a diferença de cor. O desterro cultural dos negros vinha de longe. Em A Escrava Isaura, clássico da literatura brasileira de 1875 tido como um libelo contra a escravidão, a heroína-título é branca. Tudo bem o autor, Bernardo Guimarães, insurgir-se contra a escravidão; já se apresentasse a escrava como negra teria rompido a fronteira do bom gosto.

O "black is beautiful", em sua primeira encarnação, teve sucesso parcial. São resultados dele filmes de Hollywood com atores negros (embora raramente, talvez nunca, o casal romântico), modelos negras nas passarelas, apresentadores negros na TV americana. O Brasil foi atrás. Mas o movimento ancorava-se na afirmação negra pela diferença, não pela igualdade. Seu ponto de honra era a trancinha rastafári. Seu ideal de sociedade, uma utopia situada em algum ponto entre o socialismo e a fantasia regressista de uma África onde um dia todos foram bons e iguais. Por isso mesmo, o primeiro "black is beautiful" encontrou seu limite; sua opção fora pela marginalidade.

Esta fase 2, encarnada por Obama, tem como principal característica a renúncia à marginalidade. Obama chega sem trança rastafári e sem utopias. É no centro do sistema que vai operar. E é no centro do centro do centro, ou seja, a residência/escritório conhecida como Casa Branca, que o mundo verá alocada a função a ser protagonizada pelo casal negro Barack e Michelle Obama, pelas filhas negras Malia Ann e Natasha ("Sasha") e, eventualmente, por irmãos, pais, cunhados, primos e outros parentes negros do casal. Desde John Kennedy, não há família presidencial que chame mais atenção. O primeiro "black is beatiful" de certo modo coonestava a fórmula "iguais mas separados" em que se assentava a discriminação legal nos EUA. Os negros queriam se impor por modas, costumes e valores próprios. O "black is beautiful", fase 2, ataca pelo lado oposto. A família Obama apresenta-se como igual a todas as famílias americanas de classe média bem-sucedidas, só que negra.

A feição que a revolução do gosto assume com Obama é fruto de sua estratégia política. Decorre do fato de ele se ter recusado a concorrer como "candidato dos negros". Nem por isso tem menor potencial transformador, nos EUA como no Brasil e no resto do mundo. No Brasil, sempre atrasado, ainda faltam negros não só no centro do poder. Sua ausência é mais notória ainda nos melhores bairros (a não ser como empregados), nos melhores restaurantes, nos melhores shopping centers (nos dois casos, até mesmo como empregados), nas festas e recepções da classe média para cima, na própria classe média. Mas a menina negra brasileira a partir de agora verá no Jornal Nacional as pequenas Malia e Sasha e – milagre – não sentirá, a rebaixá-la, a diferença de cor. Não é pouca coisa.

PARA...HIHIHIHI

Telefonema urgente do S.U.S.

O telefone toca e a dona da casa atende Alô! Sra.Silva, por favor

É ela. Aqui é Dr. Arruda do Laboratório. Ontem,quando o médico enviou a biopsia do seu marido para o laboratório, uma biopsia de um outro Sr. Silva chegou também e agora não sabemos qual é do seu marido e infelizmente, os resultados são ambos ruins... O que o senhor quer dizer? Um dos exames deu positivo para Alzheimer e o outro deu positivo para AIDS. Nós não sabemos qual é o do seu marido. Nossa! Vocês não podem repetir os exames? O SUS somente paga esses exames caros uma única vez por paciente. Bem, o Sr. me aconselha a fazer o que? O SUS aconselha que a senhora leve seu marido para algum lugar bem longe da sua casa e o deixe por lá. Se ele conseguir achar o caminho de volta, não faça mais sexo com ele.

COLUNA PAINEL

Rei do gado


Folha de S. Paulo - 15/11/2008
 

Apontada no novo relatório da PF sobre Daniel Dantas como eixo de um esquema de lavagem de dinheiro, a Agropecuária Santa Bárbara Xinguara, no Pará, já era investigada sigilosamente pelo Ministério Público em Marabá antes da Operação Satiagraha.
Em três anos de atividade no ramo, a empresa do grupo Opportunity tornou-se um dos maiores projetos pecuários do mundo, negócio de mais de R$ 1,5 bi. O rebanho, hoje em torno de 500 mil cabeças, teve multiplicação relâmpago, segundo a Federação da Agricultura e Pecuária do Pará. À frente do pólo de 18 fazendas está Carlos Rodemburg, ex-cunhado de DD. Para resolver pendências com o governo estadual, ele recorreu ao petista Luiz Eduardo Greenhalgh.

Freio
Integrantes da CPI dos Grampos notaram arrefecimento na disposição investigativa do presidente da comissão, Marcelo Itagiba (RJ), desde que o nome do deputado passou a freqüentar a lista de peemedebistas que poderiam suceder Tarso Genro (PT) no Ministério da Justiça.

Álibi
Sob ataque de seu próprio partido, o PMDB, José Temporão (Saúde) fará na quinta-feira uma prestação de contas do combate à dengue, destacando que foram gastos neste ano R$ 200 mi a mais do que em 2007. O subtexto é que não convém trocar o ministro bem na época de maior incidência da doença.

A prazo
Temporão e o líder do PMDB na Câmara, Henrique Alves (RN), marcaram para terça-feira uma conversa a ser mediada pelo presidente do partido, Michel Temer. Devem acertar uma trégua na queda-de-braço pelo menos até o final do ano.

Minha obra
Na revista de 16 páginas que mandou distribuir aos deputados como parte de sua campanha à presidência da Câmara, Temer lista, como realizações dos quatro anos em que já esteve à frente da Casa (1997-2001), aumento de 100% na verba de gabinete e de 42,51% na cota de correios e telefone.

Vamos ver
Apesar de seu partido ter declarado apoio a Temer, Fernando Gabeira (PV-RJ) diz que não está fechado com a candidatura. Vai reunir a "terceira via", grupo de cerca de 30 deputados, antes de tomar sua decisão.

Na manga
Os principais jogadores da eleição na Câmara acham que as cartas ainda não estão todas postas. Dizem que um nome alternativo ainda vai surgir, seja ou não o de Aldo Rebelo (PC do B-SP).

Inconfidência 1
Corrente dominante no PT de Minas, a Articulação encerrará seu encontro em Contagem, amanhã, com apoio formal a Dilma Rousseff para presidente e Patrus Ananias para governador. Sobrarão críticas a Fernando Pimentel, que se aliou aos tucanos em BH e disputa com o ministro do Desenvolvimento Social a vaga petista na sucessão de Aécio Neves.

Inconfidência 2
Sob influência de Patrus, o diretório estadual analisará no dia 29 um pedido de intervenção no de BH, controlado por Pimentel. Alega-se que o prefeito desobedeceu a direção nacional do PT ao se aliar a Aécio.

Currículo
Acusado em 2003 de pedir à PM que suspendesse ação contra o tráfico, o deputado estadual Chiquinho da Mangueira (PMDB) deve ser o novo secretário de Esportes do Rio. 

Memória
A Presidência lança na quarta-feira um portal de internet com dados demográficos e econômicos dos 5.563 municípios brasileiros. Também serão listados os recursos repassados a cada um em programas federais. 

Geografia
Em seminário na Itália sobre o PAC, o governador André Puccinelli explicou à platéia a localização de seu Estado: "Há no Brasil dois Mato Grosso. Um ao norte, o bruto, e outro ao sul, o belo. Este é o meu".

Tiroteio

"A Anac é símbolo de má gestão. Descumpriu critérios e regras nos aeroportos, e a única coisa que fez foi colaborar para o recorde de duas tragédias na aviação em dez meses."
Do deputado 
VANDERLEI MACRIS (PSDB-SP), sobre o laudo do Instituto de Criminalística que relaciona sucessivas falhas da Agência Nacional de Aviação Civil no acidente com o Airbus da TAM em Congonhas.

Contraponto

Amigo virtual

Eleito em segundo turno para a Prefeitura de São Luís, João Castelo encerrava sua campanha no bairro de Cidade Olímpica, na periferia da capital maranhense, onde se gabava de ter construído 7.500 casas populares quando governador (1979-1982). A dada altura da caminhada, o tucano foi abordado por uma jovem:
-Doutor Castelo, posso tirar uma foto com o senhor?
O candidato concordou prontamente, posou solícito ao lado da eleitora e achou que o assunto estava resolvido, mas na seqüência ela fez um novo pedido:
-E eu posso por essa foto no meu Orkut?

"DEPRÊ"



CLÓVIS ROSSI

Quanto dura o pior?


Folha de S. Paulo - 15/11/2008
 

Fátima Bernardes e William Bonner vão despejando uma catarata de más notícias sobre os telespectadores do "Jornal Nacional" da quinta-feira. Na essência, são as mesmas que comporão a capa desta Folha no dia seguinte: é juro do cheque especial que atinge o maior nível em cinco anos, é a inadimplência que dá um salto, é a indústria que corta 10 mil vagas. 
Minha mulher ouve, olha para mim com olhar melancólico e diz: "Fazia tempo que a gente não ouvia essas coisas, né?". 
Para quem lê a 
Folha regularmente, não chega a ser uma surpresa. Vinicius Torres Freire já escreveu faz algum tempo, lá no seu espaço do caderno Dinheiro, que "o melhor já passou". Só faltou acrescentar: "É bom, não foi?". 
O "melhor" nem conseguiu ser o tal espetáculo do crescimento que o presidente da República, em seu ufano-voluntarismo, prometeu ainda no primeiro ano de seu mandato, em 2003. 
A rigor, nem os 5,4% do ano passado -um bom resultado, é verdade- bastam para caracterizar um espetáculo, quando se sabe o quanto os outros emergentes cresceram nesses anos de bonança internacional, agora página virada. 
O pior é que ninguém sabe verdadeiramente quanto tempo e quão profundo será o pior desenhado nas competentes vozes de Bonner e Fátima e nas páginas dos jornais. 
Tem gente que inverte "o melhor já passou" do Vinicius para dizer que o pior é que já passou. 
Mas é chute, como o próprio Lula indiretamente admitiu outro dia, em Roma, ao dizer que esperava pouco da cúpula deste fim de semana em Washington porque ninguém tem um diagnóstico completo da crise.
Se ninguém sabe como, exatamente, é a doença, menos ainda saberá da sua evolução. 
Acho melhor mudar para a ESPN ou para a ESPN Brasil e ver o Barça jogar. Só tem "melhor".

SÁBADO NOS JORNAIS

Folha: Zona do euro já está em recessão

 

Estadão: G20 estuda criar grupo para vigiar grandes bancos

 

JB: Economia européia cai e preocupa o Brasil

 

Correio: Vem aí a taxa ambiental do Detran

 

Valor: FMI alerta para o "efeito bumerangue" na crise

 

Gazeta Mercantil: Crise faz crescer 20% as disputas contratuais