domingo, março 22, 2009

GOSTOSA


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INFORME JB

O aeroporto da Edmarlândia

Jornal do brasil - 22/03/09

Leandro Mazzini

Depois de uma década intacto, com R$ 100 milhões investidos pela Infraero, o Aeroporto de Goianá (MG) (foto) vai operar. Com infraestrutura de causar inveja em muitos terminais pequenos, e pista de primeira linha – ali desce até um Boeing – o aeroporto nasceu de um lobby do então todo-poderoso da região Edmar Moreira, o deputado federal do castelo de São João Nepomuceno – a 40 km de... Goianá. Ele queria fazer da região um polo de atrações com seu hotel-castelo. Em 1998, convenceu o governador mineiro Itamar Franco da importância de sua Edmarlândia. Resultado: sem castelo nem avião, o sonho foi para o brejo. O terminal está com o governo de Minas. A Secretaria de Transporte e Obras de Minas lança um edital para concessão em 30 dias. Para quem se interessar, propõe investimentos de R$ 125 milhões em 20 anos.

Agora vai Troca

Deputados da Assembleia de Minas e empresários da Federação das Indústrias do estado debateram o futuro do aeroporto semana passada, em Juiz de Fora.

Em 2000, o terminal seria construído em Lima Duarte, perto de Juiz de Fora – que ganhara a fábrica da Mercedes. O lobby de Edmar foi tanto que conseguiu levá-lo para Goianá, a 400 km dali.

Deserto

Para se ter uma dimensão da importância do lugar, Goianá tem 3.643 habitantes, segundo o censo do IBGE em 2007 – a população aumentou 320 pessoas desde 2001.

Bomba armada

Quem chega em Brasília na próxima quinta-feira é o primeiro-ministro do Reino Unido, Gordon Brown. No mesmo dia, o chanceler Celso Amorim recebe o ministro de Negócios Estrangeiros do Irã, Manouchehr Mottaki.

Bomba armada 2

De Londres, Brown deu ultimato ao Irã para que abandone o enriquecimento de urânio, para evitar "duras sanções internacionais". O Itamaraty toma providências para que as duas comitivas não se cruzem na Esplanada.

Museóloga

A ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, tem tanto apreço pela arte que "tem um museu no computador", confidencia um amigo.

Agenda cultural

Sozinha, Dilma faz agenda cultural nas viagens oficiais. Foi assim quando saiu de uma reunião com o presidente Lula em Nova York e correu para o MoMa, para apreciar uma exposição impressionista.

PAC do frango

O presidente Lula inaugura amanhã uma fábrica da Sadia em Vitória do Santo Antão (PE), na região metropolitana do Recife. Depois, inaugura a expansão do metrô de superfície da capital.

Que queda?

Veja como está em alta a popularidade do presidente Lula também lá fora. Dia desses ele publicou artigo no conceituado Financial Times. A turma do The Guardian ligou, com ciúme, e pediu um artigo também.

Presente de sogro

Genro do deputado Armando Abílio Vieira (PTB-PB), Alexandre Magno Franco de Aguiar vai deixar a diretoria de Pessoal da Conab e herdar a Diretoria Financeira da estatal.

Eleitor-cabeça

Uma recente pesquisa divulgada pela Secretaria Especial das Mulheres traz um dado interessante. Pelo menos 8% dos entrevistados levam em conta o partido do prefeito ou vereador na hora de votar. O índice sobe para 14% na escolha do presidente.

Globalização

A empresa Serra Leste Indústria e Comércio, investigada por lavagem e formação de cartel em São Paulo por supostas fraudes na me merenda escolar da prefeitura paulista, enfrenta problemas agora no Ceará.

Cinzas do carnaval

O Ministério Público de Caucaia (CE) abriu investigação para apurar a vitória da Serra Leste numa licitação no valor de R$ 20 milhões realizada na segunda-feira de carnaval e concluída na quarta-feira de cinzas. A empresa foi a única a apresentar proposta.

PARA...HIHIHIHI

CONTO ERÓTICO TURCO

Todo dia, durante anos, quando Samir chegava em casa, sua doméstica Jacira servia o jantar e ia tomar banho. Até que um dia, Samir estava jantando e ficou ouvindo o barulho da água, enquanto Jacira tomava banho.
Mastigava a comida e pensava na Jacira tomando banho…
Mastigava a comida e pensava na Jacira tomando banho…
Mastigava a comida e pensava na Jacira tomando banho…
Até que Samir levantou da mesa e foi até o banheiro.
Bateu na porta:
- Jacira, você está tomando banho?
- Estou sim, seu Samir.
- Jacira, abre a porta pra Samir.
- Mas seu Samir, estou nua!
- Jacira, abre a porta pra Samir.
Jacira não resiste e acaba abrindo a porta. Samir entra no banheiro, vê a Jacira nua e pergunta:
- Jacira, quer foder com Samir?
- Mas seu Samir… eu não sei…
- Jacira, quer foder com Samir?
- Sim, quero sim, seu Samir, pode vir que sou toda sua…
Então Samir põe a mão no registro e diz:
- Não vai foder Samir não! Chega de gastar água!!!

COLABORAÇÃO ENVIADA POR APOLO

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EDITORIAL

A NOVELA DOS DIPLOMAS CUBANOS 
EDITORIAL
O ESTADO DE S. PAULO
22/3/2009


Pressionado pelo PT, pelo PC do B e pelo Movimento dos Sem-Terra (MST), o governo continua tentando encontrar uma forma de facilitar o reconhecimento de diplomas expedidos por faculdades cubanas e regularizar a situação dos brasileiros que se formaram na Escola Latino-Americana de Medicina de Havana (Elam). A última iniciativa data de fevereiro, quando os Ministérios da Saúde e da Educação baixaram uma portaria criando um "projeto piloto" cujo "público-alvo" são brasileiros formados em medicina em Cuba. Divulgada às vésperas do carnaval, a portaria passou despercebida. 

Dos 298 brasileiros que se formaram na Elam, nos últimos quatro anos, só 25 conseguiram, até agora, reconhecer o diploma e regularizar sua situação. Os demais continuam sem poder exercer a profissão, o que só será possível depois de se submeterem a um exame de proficiência e de habilitação profissional. Eles alegam que as principais universidades públicas do País não têm interesse em revalidar diplomas expedidos por escolas cubanas e que as demais instituições que se dispõem a fazê-lo cobram valores elevados. O que eles não contam é que, como os exames de habilitação e eficiência são rigorosos, de cada 100 médicos formados em Cuba, 85 são reprovados, em média. Assim, o que eles querem é o reconhecimento automático do diploma, sem precisar passar por qualquer exame de habilitação. 

O problema é antigo e, apesar das pressões, o presidente Lula até hoje não conseguiu resolvê-lo. Em 2007, ele enviou ao Congresso um projeto de lei que previa a equivalência automática dos diplomas de medicina expedidos nos dois países. Tendo por base um termo de ajuste firmado pelo Itamaraty e pela chancelaria cubana, o texto foi rejeitado por comissões técnicas da Câmara e aguarda votação do plenário, onde a possibilidade de aprovação é considerada remota até pelos líderes situacionistas.

Na viagem que fez a Havana, em 2008, Lula prometeu encontrar outra saída para o problema, mas teve forte oposição do Conselho Federal de Medicina e da Associação Médica Brasileira. Há três meses, o Ministério da Saúde anunciou que uma de suas metas, em 2009, seria regularizar a situação dos médicos brasileiros formados na Elam. E, há três semanas, espertamente impôs, por meio de uma simples portaria ministerial, o que não conseguiu aprovar por meio de projeto de lei. 

Na realidade, muitos brasileiros que frequentam cursos cubanos são estudantes que não conseguiram aprovação no vestibular no País. Eles foram para Havana indicados por movimentos sociais, sindicatos e partidos de esquerda. A Elam, por exemplo, aceita qualquer candidato, desde que tenha o aval de entidades simpatizantes do regime castrista. A seleção valoriza a afinidade ideológica, não o mérito.

Além disso, o currículo das escolas cubanas tem por objetivo divulgar um "modelo" de ensino que valoriza mais a medicina "preventiva", voltada à prevenção de doenças entre a população de baixa renda, do que a medicina "curativa". No marketing político cubano, os médicos "curativos" somente teriam interesse em atender a população rica dos grandes centros urbanos, não se preocupando com a saúde das chamadas "classes populares". 

Surpreendidas com o alcance da portaria dos ministros da Educação e da Saúde, que na prática dispensa estudantes brasileiros formados em Cuba dos exames de proficiência e habilitação, entidades médicas e corporativas mobilizaram-se para tentar derrubá-la. "A portaria é um subterfúgio. Não é possível um processo que se aplique só a estudantes de Cuba e não aos de Oxford ou Harvard", diz o presidente da Associação Médica Brasileira, José Luiz Gomes do Amaral. "A portaria saiu na véspera do carnaval e com artigo específico sobre escolas de medicina de Cuba. Não há como justificar o privilégio", afirma o deputado Rafael Guerra (PSDB-MG). 

O governo quer beneficiar "companheiros" que não conseguem ser aprovados em exames de habilitação profissional e bajular o regime cubano - à custa, infelizmente, de riscos para a saúde e o bem-estar da população brasileira. 

MERVAL PEREIRA

A garantia dos direitos

O GLOBO - 22/03/09


O "ativismo judicial" está fazendo com que o Supremo Tribunal Federal esteja no centro das discussões políticas desde que seu presidente, ministro Gilmar Mendes, a partir de uma denúncia da revista "Veja", levou diretamente ao presidente da República uma exigência de apuração sobre uma escuta telefônica clandestina de que teria sido vítima. A transcrição de uma conversa com o senador Demóstenes Torres, confirmada pelos dois, seria a prova de que a Operação Satiagraha, conduzida pelo delegado Protógenes Queiroz, teria grampeado ilegalmente diversas autoridades na seqüência da investigação que levou à prisão do banqueiro Daniel Dantas. Uma investigação da Corregedoria da própria Polícia Federal acabou indiciando criminalmente o delegado por ilegalidades na operação, entre elas escutas telefônicas não autorizadas e a violação de sigilo funcional.

Um grupo de agentes da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), recrutados "informalmente" teve acesso a dados sigilosos da investigação, como escutas telefônicas, fazendo papel de polícia judiciária, o que é proibido por lei.

As constantes intervenções do ministro Gilmar Mendes contra os abusos da Polícia Federal nas investigações e prisões levaram a que fosse acusado de estar protegendo o banqueiro Daniel Dantas, a quem concedeu dois habeas-corpus.

A última polêmica tem a ver com a interpretação de uma decisão do ministro Carlos Alberto Direito, que arquivou uma representação do PPS que alegava que são inconstitucionais os decretos 4.376/2002 e 6.540/2008, que autorizam a Abin a manter, em caráter permanente, representantes dos órgãos componentes do Sistema Brasileiro de Inteligência no Departamento de Integração do Sistema Brasileiro de Inteligência.

O arquivamento foi interpretado erroneamente como se o ministro Carlos Alberto Direito tivesse admitido que a atuação da Abin na Operação Satiagraha fora legal. O ministro me disse, no entanto, que decidiu apenas que a Ação Direta de Inconstitucionalidade não é o meio correto para questionar os decretos.

Outra decisão polêmica foi a súmula vinculante sobre o uso das algemas nas operações policiais, que devem ter caráter excepcional. Na verdade, o Supremo não pretendia editar uma súmula vinculante sobre o assunto, mas o fez depois que um delegado usou algemas desnecessariamente e, questionado sobre o pronunciamento do Supremo, disse que aquela decisão "não valia".

Joaquim Falcão, da Fundação Getúlio Vargas, do Rio, e membro do Conselho Nacional de Justiça, considera que a imagem do Poder Judiciário vem se afirmando diante da população. Com base em uma pesquisa nacional realizada pelo Ipespe, ele mostra que a Justiça do Trabalho e os juizados Especiais ou de Pequenas Causas são as instituições mais bem avaliadas pela população, o que demonstraria que a agilidade da Justiça, e sua atuação na base da sociedade, reforçam o seu papel institucional, legitimando um "ativismo" judicial.

O site Consultor Jurídico registrou recentemente que o advogado Saul Tourinho Leal, mestre em Direito Constitucional pelo Instituto Brasiliense de Direito Público (IDP), uma instituição de ensino cujo proprietário é o ministro Gilmar Mendes, fez uma tese de mestrado em que compara as decisões da Suprema Corte dos Estados Unidos em sua fase mais ativista, quando foi presidida pelo juiz Earl Warren, nas décadas de 1950 e 60, com precedentes adotados pelo Supremo no Brasil, garantindo direitos fundamentais aos indivíduos, em muitos casos contra a opinião majoritária da sociedade, como a progressão da pena para crimes hediondos ou o direito de um réu responder em liberdade, mesmo condenado, até que sejam esgotados os recursos legais.

Luiz Roberto Barroso, em estudo a ser publicado no mês que vem no volume 4 do livro Temas de Direito Constitucional, ressalta que quando Earl Warren deixou a presidência da Suprema Corte, em 1969, a segregação em escolas e demais ambientes públicos já não era mais permitida; o arbítrio policial contra pobres e negros estava minorado; acusados em processos criminais não podiam ser julgados sem advogado.

"Todas as profundas transformações foram efetivadas sem qualquer ato do Congresso ou decreto presidencial", realça. Barroso considera que esse "ativismo" do Supremo está acontecendo no Brasil por duas razões: primeiro, o Supremo mudou a composição.

Na sua análise, nos primeiros anos da Constituição de 1988, foi mantida a composição do Supremo que vinha do regime militar, que tinha um perfil muito comprometido com a velha ordem, fazia interpretações conservadoras, a jurisprudência ficava alinhada ao que sempre fora.

Nos últimos anos houve uma renovação do Supremo e, hoje, há mais ministros que têm um sentimento ligado ao novo regime, à Constituição de 1988, liberando forças represadas.

O outro motivo é que, para Barroso, o Poder Legislativo vive uma crise de funcionalidade que estimula também as medidas provisórias. A energia política que é necessária para aprovar qualquer coisa no Congresso é tão grande, para compor as maiorias, que é mais fácil atuar por medidas provisórias.

A recente decisão do presidente da Câmara, deputado Michel Temer, de encontrar um artifício legal para que as medidas provisórias não tranquem a pauta do Congresso, também é polêmica do ponto de vista jurídico e é outra forma de as interpretações jurídicas interferirem na política.

Barroso diz que ainda não se deteve a fundo na questão, mas considera que essa decisão frustra o sentido da lei, que é impedir que as medidas provisórias fiquem sem ser votadas. Mas admite que, ao mesmo tempo, o Poder Executivo ter o poder de paralisar a ação do Legislativo também fere a independência dos poderes. "O país precisa mesmo é de uma reforma política, e isso o Supremo não pode fazer."

ALMAS PENADAS


JOÃO UBALDO RIBEIRO

Fiquem sossegados, não muda nada

O Globo - 22/03/09

Acordado desde as quatro e meia, me entretenho em desafiar a petulância deste utensílio eletrônico que não cessa de enervar-me e de repente percebo que a nossa velha e querida amiga, a Rododáctila Aurora, já há alguns minutos esgarça nuvens diáfanas com seus dedos cor-de-rosa, o Astro-Rei esparge raios fúlgidos no firmamento, a Estrela d´Alva fenece melancólica etc. etc. Enfim, amanhece e é hora de buscar os jornais. Sempre me sugerem que faça assinatura, mas isso me privaria de um breve passeio matinal onde há sempre pequenas alegrias ou surpresas.


Uma dessas alegrias é encontrar meu camarada Salvatore, o bravo calabrês da banca de jornais, com quem faço uma troca ritual de palavras que por alguma razão nunca dispensamos e que termina sempre com os dois amaldiçoando la maledetta vecchiaia, a miserável da velhice que cada vez mais nos engolfa e que deixa Salvatore de péssimos bofes. Non si può fare niente! - brada ele inconformado, e eu concordo, com a seriedade e convicção necessárias, nesse ponto somos almas gêmeas. Em seguida ele me faz um resumo dos acontecimentos anunciados nas primeiras páginas. La stessa cosa! - sempre diz ele. - Nunca muda nada, só varia um ladrão ali, outro acolá, até as bundas são as mesmas!


No início, eu discrepava, não mais discrepo. Bem pensado, é sempre a mesma coisa, hoje nem ladrões novos parece haver, são os mesmos de ontem, notícia já vencida. E de fato, já vi antes todas as bundas na exposição do dia. Felizmente alguns jovens um pouco alegres e recém-saídos de alguma festa estão saracoteando por ali, entrando e saindo da pastelaria, fazendo algazarra e rindo muito, como devem fazer os jovens. Um deles me reconhece enquanto me despeço de Salvatore, fala com os outros me apontando, batem palmas, uma das moças me beija na bochecha e outro deles me exorta amavelmente:


— Viva, mestre! Pau neles, mestre! Cacete neles!

Sorri paternalmente, agradeci, dei um aceno de despedida e parti de volta para casa comovido com aquela manifestação juvenil. Engraçado, eu, que sempre me achei uma flor de pessoa, ter fama de caceteiro. Bem, talvez deva reconhecer que me destemperei algumas vezes, mas a verdade é que, sinceramente, não gosto disso e encaro com desagrado estas teclas, quando os únicos assuntos que se oferecem envolvem dar o tal ´cacete neles´, sob pena de se parecer omisso. É chato, esse negócio de ficar falando mal disso ou daquilo todo santo domingo, às vezes acho que há quem me imagine um nordestino enfezado, de sotaque cerrado e mau hálito, sem pescoço, feio como a necessidade, 1 metro e 58 de recalque e 52 quilos de raiva da humanidade. (Comentários sobre esta suposição para o editor, por caridade).


Não, não há por quê, nesta bela manhã já outonal, ficar falando mal do governo ou dos governantes, por exemplo. Para quê? Só para ficar repetindo o que já sabemos? Nem é nosso costume fazer nada, assim como é também uso aceitar tudo goela baixo sem tugir e muito menos mugir, nem ninguém vai fazer nada. A palavra de ordem, desde que o presidente Lula assumiu, é o contrário do que o otariado (no seio qual sempre me destaquei) pensava. Ou seja, é ´não muda nada aí e dá uns cala-a-boca a quem precisar´. E então não mudou nem vai mudar nada. Eles são caras de pau e dizem que já fizeram tudo isso, mas não fizeram xongas, nem reforma agrária, nem tributária, nem política, nem administrativa, nem nada.


Dirá a prezada amiga, que acordou agora e só funciona direito depois do primeiro drinque do brunch, que está havendo má vontade minha, pois que o presidente do Senado, o combativo representante do Amapá José Sarney, já tomou uma medida draconiana, inaudita nos anais da República. De fato, duvido que alguém antes dele tenha demitido 60 e tantos diretores, ou quantos foram lá que ele demitiu. Até porque em lugar nenhum deve haver tanto diretor para demitir de uma vez. E então - o que é que vocês queriam? - o homem foi fundo, vai deixar no Senado somente as 80 e poucas ou 90 e poucas diretorias imprescindíveis, como a de Garagem, a de Check-In no Aeroporto e certamente a de Sanitários e Toaletes e a do Cafezinho.


Além disso, ele contratou a Fundação Getúlio Vargas para fazer um estudo, uma auditagem completa no Senado, com vistas à racionalização e otimização do funcionamento da augusta casa. Vai demorar um pouco, pois não se faz um trabalho desses em alguns dias. Aliás, vai demorar tanto tempo que todo mundo já terá esquecido essa besteira. E é o tempo que dá para recolocar o pessoal que saiu com a extinção das diretorias, com um adicional de emergência para aqueles que, por causa de uma frescura puritana moralista de merda, ficaram sem receber salários, gratificações, horas extras, biênios, quinquênios, decênios, licenças-prêmios e mais o mínimo para a dignidade de um funcionário graduado.


Claro que não vai acontecer nada, não é para acontecer. Vai continuar todo mundo furtando, se locupletando e se fazendo, é nisso que se tornou a nossa vida pública. O partido diferente, o da ética, acabou assim que elegeu o presidente, embora fique por aí com essa empulhação ideológica, que agora, ao que parece, vai até trazer o professor Delúbio de volta aos salões do poder onde ele disse que sua história viraria piada - e não é que virou? Não muda nada, nem mensalão, nem lero-lero em torno da famosa governabilidade, nem medida provisória, nem despesas com cartões corporativos, nem leilões de cargos, nem partidos de aluguel, nada, nada, sempre foi assim e vai continuar assim e os incomodados que se mudem. Non si puó fare niente.

ÉLIO GASPARI

Boa notícia: o vestibular pode mudar


O Globo - 22/03/09


Nosso Guia poderá livrar os jovens da praga do vestibular. O ministro da Educação, Fernando Haddad, está concluindo uma negociação com os reitores das universidades federais e é possível que já em 2010 a primeira fase seletiva seja substituída pela nota do Exame Nacional do Ensino Médio, o Enem. Apesar de haver ideias adicionais, a mudança tende a começar pelo mais simples. A cada ano as 55 federais recebem em torno de 1,2 milhão de candidatos para 150 mil vagas. Numa primeira fase, 70% deles são massacrados numa prova mais preocupada em eliminar do que em julgar. Adotando-se as notas do Enem para a demarcação das linhas de corte, leva-se para dentro das escolas a responsabilidade pelo desempenho dos alunos. Atualmente, a irracionalidade da decoreba e das pegadinhas serve de álibi para quem ensina mal. A segunda fase, que cobraria taxas de inscrição, continuaria no âmbito das universidades.

Devem existir argumentos razoáveis contrários à mudança, mas desde já seria bom separá-los da defesa de interesses estabelecidos. Algumas escolas não gostam do Enem porque ele expõe a má qualidade do ensino que entregam. As burocracias da organização dos vestibulares não gostam de mudanças porque elas secariam uma fonte de arrecadação e de distribuição de gratificações. Afinal, quem paga o Enem é a Viúva.

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Uma obra do tamanho do Dr. Alceu

Talvez seja um sinal de que Deus existe. Numa época em que os católicos brasileiros se veem atirados em discussões sobre a utilidade das camisinhas, os poderes excomungantes de dom José Gomes Sobrinho e o revisionismo histórico do bispo inglês Richard Williamson (sagrado por dom Antônio de Castro Mayer, prelado cismático da Diocese de Campos), o professor Cândido Mendes publica seu livro Dr. Alceu da ‘persona’ à pessoa.

Candido Mendes escreveu 30 livros, mas “Dr. Alceu” é a obra de sua vida. Trata da monumental figura de Alceu Amoroso Lima (1893-1983), seu amigo e mestre. Ele foi a “trombeta bíblica” do laicato brasileiro e atravessou a história da igreja do início do século 20, elitista, até reacionária , que se transformaria num clero militante, defensor do andar de baixo e, a partir de 1970, adversário assumido da ditadura.

O regime militar ainda não completara cem dias quando Dr. Alceu escreveu um artigo intitulado “Terrorismo Cultural”. Dez anos depois, ele brigava contra o terrorismo da tortura e do extermínio de militantes da luta armada e assinou “Os Esperantes”. Referia-se ao sofrimento das famílias de cidadãos desaparecidos.

O livro de Cândido Mendes fixa-se no campo das ideias. É daquelas obras torrenciais que pede reflexão sem conceder o refrigério do cotidiano, com seu tempero anedótico. Projeto difícil, realiza-se porque mostra como “Dr. Alceu” foi maior que a política em que viveu. Foi um militante por imposição do pensamento e da fé, seu interesse pela ação era subsidiário.

Dr. Alceu teve algozes, e Nelson Rodrigues foi o mais famoso deles. O outro foi Gustavo Corção. A ele, sem contar tudo o que sabe, o professor dedica umas vassouradas, num capítulo intitulado “Da ordem ao dever da delação”.

Aos interessados, um aviso: o livro exige atenção, algum conhecimento da história da época e uns dicionários. Alguns exemplos: o Jackson da página 15 não é o do Pandeiro, mas o líder católico Jackson de Figueiredo; o cientificismo lamarckiano da 39 nada tem a ver com a VPR do capitão Carlos Lamarca, pois se refere ao naturalista francês Lamarck. “Patrística”, que está logo adiante, é o conjunto dos trabalhos filosóficos dos primeiros pensadores da Igreja.

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Natasha e Mantega

Madame Natasha tem horror à economia, mas descobriu um aliado recente no professor Ilan Goldfajn, ex-diretor do Banco Central. Ele ouviu o ministro Guido Mantega dizer que, apesar da contração de 3,6% do PIB no último trimestre de 2008, o cenário para este ano é razoável, pois “ficaremos distantes de um déficit técnico”.

Nas palavras do professor: “Que diabos é um ‘déficit técnico?’ Meu leitor, o termo ‘déficit técnico’ não existe. O que existe é o termo recessão, que ocorre tecnicamente quando há dois trimestres seguidos de crescimento negativo”.

Natasha acredita que o doutor Mantega está com déficit técnico. De que, ainda não sabe.

Seu colega Eremildo, de quem ela não gosta porque é um idiota, suspeita que o Banco Central passou a remarcar as previsões de crescimento do PIB pela técnica das liquidações do varejão. Baixou uma previsão feita por seus sábios de 1,2% para 0,59%. O cretino acredita que daqui a pouco o BC anunciará um PIB de 5,99% em oito prestações anuais.

El Deportador

Negociando com os arrozeiros de Roraima, o comissário Tarso Genro deve perguntar quantos deles gostariam de ir para Cuba.

Entra e sai

Pode-se entender melhor a qualidade da base de apoio do governo quando se vê que em menos de um mês aconteceram duas coisas:

1 – O deputado Eduardo Cunha, um parlamentar de real grandeza, defendeu a saída do senador Jarbas Vasconcelos do PMDB porque ele disse que uma banda do partido gosta do alheio.

2 – Delúbio Soares, ex-tesoureiro do PT, o Lord Keynes do mensalão, foi a Brasília para cabalar o seu retorno ao partido, do qual foi expulso.

O melhor seria chamar Jarbas para o PT, mandando Delúbio para o PMDB. Pode até dar na mesma, mas anima o bailado.

MP 449

O deputado Tadeu Felipelli (PMDB-DF), que chegou a um novo texto para a Medida Provisória 449 e concedeu um refresco amplo, geral e irrestrito para sonegadores, poderia receber uma Emenda Obama.

Como há grandes, prósperas e conhecidas empresas espetadas num contencioso de IPI que não foi pago à Viúva, ficariam taxados em 90% os bônus dos diretores daquelas que aderirem ao Trem da Alegria.

É o velho negócio: o andar de cima brasileiro está cheio de gente que é Obama por lá e Bush por cá.

ELIANE CANTANHÊDE

A Casa do pai José

Folha de São Paulo - 22/03/09

BRASÍLIA - Mexe daqui, remexe dali, vai-se descobrindo é que o Senado não é uma casa da mãe Joana mas uma Casa do pai José Sarney.
Ninguém tinha ideia de que as diretorias do Senado se contavam às dúzias, até que, somadas uma a uma, são 181. As atenções voltam-se naturalmente para Sarney, não só por ser o atual presidente, mas por ter sido presidente antes e continuar sendo uma espécie de eterno presidente. O que manda. O que fez todos os últimos ocupantes do cargo, seus correligionários.
Pelo visto, cada presidente cria as "suas" diretorias, para abrigar amigos e cabos eleitorais e garantir-lhes gratificações e privilégios. Mas cria também as "diretorias do Sarney", o dono da casa (ou Casa), que delega a administração a Renan Calheiros, que conhece tudo ali como a palma da mão.
Não é à toa que a reprovação do Congresso chega a 37%. A planta baixa do Senado deve mostrar um ambiente retalhado em salinhas e saletas para acomodar 81 senadores, 181 diretores e os demais milhares de funcionários que trabalham ou "trabalham".
E uma árvore genealógica contaria toda essa história de multiplicação de cargos, vagas e salários. Contrate-se o fulano, depois as mulheres do fulano, do sicrano e do beltrano e, enfim, como tudo é uma festa, os filhos de todos eles. Em seguida, genros, noras e sobrinhos.
Por último, os amigos do fulano, do sicrano, do beltrano, das mulheres, dos filhos, dos genros e das noras.
Além de um funcionário muito comum nessa cadeia: a mulher, o filho e até o neto do ex-senador, aquele sujeito tão bacana que morreu ou perdeu o mandato e não pode deixar a família à míngua.
Mas -acredite- há também o funcionário concursado, de carreira, com bons títulos e que leva a coisa a sério. Além, claro, de morrer de raiva de tudo isso, inclusive de não ter aquele gabinetão do apadrinhado do José. E é daí, com a inestimável disputa PT-PMDB, que os podres vêm à tona. Ainda bem.
Concurso já!

O IDIOTA


MÍRIAM LEITÃO

Ponto crítico


O Globo - 22/03/09


Aqui vão algumas frases que nos ajudam a pensar neste domingo, dia de olhar por outro ângulo esta onipresente crise. “O sucesso mascara as vulnerabilidades”, disse Michael Porter, professor de Harvard, guru da competitividade. Para ele, “houve um amolecimento geral” e isso porque “a economia ia bem, os mercados progrediam e mesmo quem tinha uma estratégia ruim era capaz de surfar a onda”.

Consigo pensar em tantos exemplos que confirmam a frase acima que só a lista já completaria essa coluna. Ficando num exemplo distante: a Rússia se sentia tão poderosa que foi capaz de entrar numa aventura militar. Tinha reservas de quase US$ 600 bilhões, acumuladas pelo fluxo de capitais para o país, depois da crise de 1998, e pelas altas do preço do petróleo. Desde o ano passado, o país enfrenta uma forte fuga de capitais, queimou bilhões de dólares tentando segurar o rublo e uma das hipóteses é impor controle de capitais.

No mercado financeiro, jovens com alta performance, em ativos exóticos, garantiam que o risco havia acabado e que, contrariando a lei da gravidade, as ações brasileiras só subiriam. Em política econômica, qualquer insensato era gênio. Na Venezuela, Hugo Chávez encampava multinacionais, rasgava contratos e estatizava empresas de adversários, mas o risco Venezuela caía. No Brasil, o governo estava convencido... deixa pra lá, como diria Ancelmo Góis. Segundo Porter, “entramos num período de limpeza, um momento de repensar tudo e voltar ao básico”.

“A crise é uma oportunidade boa demais para ser perdida”, disse Michael Silverstein, vice-presidente do Boston Consulting Group. Esqueça aquela velha conversa do ideograma chinês, tão batida. Crise, às vezes, é risco puro. Mas, como em qualquer situação, algumas portas se abrem. Só que escolher por qual delas entrar é mais perigoso.

Empresa tímida demais ficará num comportamento defensivo e pode perder mercado e competitividade. Quem tiver um comportamento aventureiro e desconhecer os riscos extremos de um momento tão fluido pode acabar saindo do mercado. Esse é o dilema que vai presidir o dia a dia das empresas nos próximos meses. O ponto ideal de equilíbrio é o de assumir riscos, sim, mas bem medidos e pesados.

Dirk Buchta, diretor da A.T. Kearney no Oriente Médio, lembra que a primeira iniciativa de qualquer empresa quando quer cortar custos é demitir funcionários. Ele alerta que nem sempre é a melhor solução. Aconselha “focar em fatores internos para garantir o crescimento lucrativo”. Tudo o que uma empresa fizer, deve fazer da melhor forma que puder. A frase dele é: “Na crise, o nome do jogo é eficiência”.

Melhor que a frase de Dirk Buchta é a do diretor geral da Marcopolo, José Rubens de la Rosa, sobre a qual falei aqui algumas colunas atrás. Ele chamou a equipe e disse que não pode haver erro algum. “Estamos na floresta e os animais estão nos ameaçando”. A imagem pode não ser ecologicamente correta, mas trabalhar com senso de urgência, e em busca do erro zero, é um bom lema para as empresas que quiserem se fortalecer nessa turbulência.

“A crise é, na verdade, o momento de clarear a mente sobre nossas estratégias”, diz Richard Rumelt, professor da Anderson School of Management, da Universidade da Califórnia. Só mesmo nas crises é que as organizações se dedicam ao saudável exercício de parar para pensar e se perguntar em que direção estão indo. Nos momentos de euforia, esses encontros das empresas são sempre autocongratulatórios.

Em geral, nos momentos de boom, quando são feitos os planejamentos estratégicos a tendência é construir cenários como se o futuro fosse ser sempre igual ao presente. Quem construir o cenário de ruptura, com consequências extremamente negativas, será tratado com desprezo, a menos que registre o cenário com um percentual ínfimo de probabilidade. Assim, só para inglês ver.

Estratégia é mais do que uma apresentação de PowerPoint no data show em reuniões de fim de ano. Nas crises, ela vira uma questão de vida ou morte. “É preciso ter uma estratégia para a crise, mas estratégias são ineficazes sem implementação. A execução é tudo, atenção no dia a dia para os detalhes e aprender com os erros”, explica Jeffrey Pfeffer, professor de Comportamento Organizacional da Universidade de Stanford.

As urgências são tantas numa crise que deixa de haver separação entre metas de curto e longo prazo. O futuro começa agora, no minuto seguinte. “Ao enfrentar uma crise, a experiência nos ensina que os passos para lidar com os problemas imediatos devem ser a base de uma estratégia de longo prazo”, diz Michael Porter.

Os economistas costumam olhar com desprezo para os especialistas em administração, como os pesquisadores da ciência pura olham para os da ciência aplicada. Na verdade, ambos erraram nesta crise e deveriam, como disse Porter, “voltar ao básico”.

Algumas grandes empresas brasileiras ou setores empresariais fortes não precisam perder tempo com nada do que foi dito acima. Basta pegar o próximo voo para Brasília e montar um bom lobby por uma ajuda governamental, um empréstimo subsidiado, uma venda salvadora de ações, uma rolagem de dívida em banco público, uma isenção tributária. Para dar certo a estratégia, basta dizer a certos ouvidos governamentais que o setor, ou a empresa, corre o risco extremo de ser comprado por multinacionais e desnacionalizado. Isso abre portas, ou melhor, cofres, em Brasília.

DORA KRAMER

De chips e outras bossas


O Estado de São Paulo


O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) concluiu um projeto de aperfeiçoamento do sistema de votação eletrônica que, segundo o presidente do TSE, ministro Ayres Britto, a partir de 2014 vai permitir ao brasileiro ir às urnas mesmo se estiver fora de seu domicílio eleitoral. Hoje o eleitor é obrigado a justificar a ausência, mas não pode ter seu voto contabilizado.

“É espetacular. É uma revolução”, comemorou o ministro Ayres Britto, entusiasmado com a nova sistemática de cartões eletrônicos com chips e outras bossas.

Todas novíssimas, à altura do avançado sistema de votação brasileiro, reconhecidamente um dos mais, se não o mais, modernos do mundo.

Em contrapartida, o Brasil é um dos poucos, entre as nações civilizadas, a sustentar a tradição do voto obrigatório. Isso desde 1932, há 77 anos, portanto. Não obstante a longevidade do sistema, as mudanças ocorridas principalmente nos últimos anos e o consenso em torno da necessidade de uma reforma político-eleitoral, o voto facultativo é um tema interditado do debate.

Pouco se fala no assunto e, quando se levanta a hipótese de liberação do eleitor para decidir se quer ou não votar, o mundo desaba em argumentos segundo os quais o Brasil – e o brasileiro, portanto – ainda não está preparado para fazer a opção entre comparecer ou não comparecer às urnas.

O que é um direito na Europa, na América do Norte (à exceção do México), na maior parte da América Central e em 205 nações do planeta, no Brasil e em outros 23 países (a maioria da América do Sul) é uma obrigação, passível de penalidades. Insignificantes na forma, mas desconfortáveis no conteúdo, principalmente pelo caráter impositivo a um ato que resulta numa escolha.

Por conta de um acordo tácito firmado sabe-se lá onde ou quando, a tese é intocável. Foi rechaçada durante a Constituinte por parlamentares de todos os matizes ideológicos e não encontra porta-vozes dispostos a levantá-la, ainda que como hipótese de consulta popular para conferir se o eleitor está satisfeito com o sistema atual ou se gostaria de mudar.

Um dos poucos defensores de peso era justamente o ministro Ayres Britto, entusiasta da modernização do sistema de votação, que, no entanto, mudou de opinião depois das eleições municipais do ano passado. Em outubro de 2008, o ministro entendia que brevemente o Brasil teria “um encontro marcado” com o voto facultativo.

“Entendo que a legislação consagrará, como em outros países, a voluntariedade do voto”, que, argumentava ele, dá ao eleitor a possibilidade de se engajar no processo eleitoral “com mais conhecimento de causa e determinação”.

Em janeiro de 2009, passou a defender o oposto. “A eleição é tanto mais participativa quanto obrigatório o voto. O voto facultativo significaria uma desmobilização física, provavelmente com maior repercussão nos setores economicamente mais necessitados e com menos educação formal.” Os pobres, bem entendido.

A razão da mudança? A de sempre: o Brasil precisa de educação política e uma das formas mais eficientes de educar o povo é obrigá-lo a votar.

Com cartão eletrônico e chip para reconhecimento digital, mas no cabresto. De pai para filho desde 1932 e até quando a justiça divina decidir que o brasileiro sabe se comportar direitinho e não vai dar vexame na democracia.

À sorrelfa

Aos quase dois meses da mais recente crise, o Senado vai caminhando para debitar suas mazelas na conta dos funcionários. Desde a negociação da “trégua” entre PT e PMDB, a questão passou a ser tratada como se as irregularidades fossem meramente funcionais, quando a disfunção ali é atinente ao decoro parlamentar, ao desrespeito à Constituição, à cultura do privilégio.

“Precisamos enxugar essa máquina”, alardeou o primeiro-secretário, Heráclito Fortes, que nos últimos dias assumiu o problema, permitindo ao presidente José Sarney um distanciamento estratégico do desgaste.

Fez um carnaval com a demissão de 50 diretores. Divulgou os nomes, ironizou a existência de diretorias bizarras, humilhou publicamente quem pediu para ficar, mandou recolher os carros oficiais aos costumes, falou como se o problema fosse da responsabilidade dos servidores e não primordialmente da alçada dos senadores.

Prometeu mais na semana que vem. Do mesmo, naturalmente.

O foco foi desviado para o lado administrativo. Assim, não se toca nos pecados dos parlamentares, não se responsabilizam aqueles que tomam as decisões e permitem que o Legislativo seja uma instituição onde o privilégio é a lei.

Há as diretorias absurdas, há os diretores sem compostura, há os passageiros de trens da alegria, há quem receba horas extras indevidas, há quem pinte e borde, mas nada – ou muito menos – disso haveria se suas excelências não autorizassem as práticas e não compartilhassem dos abusos.