quarta-feira, setembro 25, 2013

Coragem para ter medo - MARTHA MEDEIROS

ZERO HORA - 25/09


Saí tão comovida do espetáculo TôTatiando, que a cantora Zélia Duncan apresentou durante o Porto Alegre em Cena, que não posso deixar de falar dele, até porque me parece necessário fazer um barulho em torno. O Brasil inteiro merece assistir a um produto cultural dessa qualidade. Há muito tempo, eu não via algo tão genial.

É show? É teatro? É o quê?

Uma combinação de ambos. Um encontro empolgante do cênico com o musical, do simples com o sofisticado. Todas as canções são de autoria do inspirado Luiz Tatit, fundador do vanguardista Grupo Rumo, que surgiu em São Paulo nos anos 80. Zélia se apropria de cada letra, de cada sílaba, de cada palavra, e as canta, as conta, as encena e as faz levitarem até uma altura tão elevada, que a plateia atinge uma espécie de entorpecimento. Ficamos completamente chapados por 60 minutos, extasiados com tanta beleza, tanto lirismo, tanta graça. Quem precisa de drogas quando se tem arte pura ao alcance?

O espetáculo é incomum, mas o que ele transmite é comum. Não é fácil, e ao mesmo tempo é fácil, sim. Não é óbvio, porém não há estranheza alguma que impeça a comunicação. Luiz Tatit sempre escreveu sobre a singularidade mais prosaica do ser humano, e aí chega Zélia e transforma tudo em encantamento. Circo. Poesia. “Sempre quis o meu destino/ foi o meu destino que nunca me quis (...)/ Acho que ele foi atrás de outro alguém/ Pois destino tem destino também”.

Ao final da apresentação (ovacionada!), Zélia agradeceu à equipe e em especial à sua diretora, a talentosa Regina Braga, admitindo: “Se encarei esse desafio, foi porque a Regina me deu coragem para ter medo”.

A que medo Zélia se refere? Provavelmente, o medo de sair da sua zona de conforto e expandir seu talento (revelou-se uma excelente atriz, além da intérprete afinadíssima que já sabíamos que era). O medo de oferecer ao público um produto que se diferencia dos sucessos comerciais facilmente palatáveis. O medo de revelar a obra de um autor (o já citado Luiz Tatit) de quem a maioria dos brasileiros nunca ouviu falar. O medo de misturar gêneros (teatro, música, recital) e criar algo novo a partir disso. Algo novo. Novo! O que pode ser mais assustador do que o novo?

Costumamos nos agarrar ao que é conhecido, a emoções reprisadas, à manutenção do já visto, já feito – raramente arriscamos perder o chão sob nossos pés. Até que alguém dá um salto mortal bem na nossa frente, e não se estatela, ao contrário, sobressai. É quando dá vontade de ter coragem também. Coragem de sentir medo. E então descobrir que o destino não nos abandonou como parecia. Só estava esperando que a gente se tornasse mais merecedor de seu sorriso.

GOSTOSA



O lobo à cabeceira - RUY CASTRO

FOLHA DE SP - 25/09

RIO DE JANEIRO - Os principais jogadores em atividade no futebol brasileiro soltaram um manifesto pedindo uma reunião com a CBF sobre o calendário das competições nacionais. Vão exigir que, a partir de 2014, ele se torne mais racional, e a preparação dos jogadores, mais adequada. Dois itens da pauta serão a quantidade de partidas e o inchaço de certos campeonatos.

Os 75 assinantes do manifesto --entre os quais Rogério Ceni (São Paulo), Juninho Pernambucano (Vasco), Juan (Internacional), Alex (Coritiba), Leo Moura (Flamengo), Alessandro (Corinthians), Zé Roberto (Grêmio), Jefferson (Botafogo), Dedé (Cruzeiro), Arouca (Santos) e Paulo Baier (Atlético Paranaense)-- são respeitáveis pela carreira, idade e postura profissional (daí, talvez, a ausência de alguns grandes nomes).

Não era sem tempo --nos anos de 1920, os jogadores argentinos e uruguaios já se organizavam para, se fosse o caso, partir para o protesto e a greve. No Brasil, tivemos um século de atraso nesse departamento, provocado pelo despreparo dos jogadores, o subprofissionalismo dos clubes e a modéstia dos nossos antigos calendários --até 1969 só havia competições regionais! Mas, diante da recente globalização do futebol, com sua política de lucros, era inevitável que, até entre os jogadores, surgisse um embrião de conscientização.

Embrião este que, se vicejar, atingirá a categoria mais egoísta e alienada do país. Não importa a cidade em que atuem, os jogadores brasileiros, em sua maioria, moram em bairros onde não se anda a pé; só se veem entre si; e seus interesses se limitam a carros, marias-chuteiras e o pagode que lhes entra pelos subprofissional Isso agora pode mudar.

Mas, atenção. O que pede o manifesto? Uma reunião com a CBF. Com José Maria Marin à cabeceira da mesa, vejo os jogadores como um bando de ovelhas a fim de negociar com um velhaco --o lobo.

Contra o imediatismo - ROBERTO DAMATTA

O GLOBO - 25/09

Os nobres eram sempre calmos. Até mesmo quando metiam a chibata, o faziam por meio de capatazes tranquilos



No premiado livro de Suzanne Chantal, "A vida quotidiana em Portugal depois do terremoto de Lisboa de 1755" (Hachette, 1962), diz-se que os juízes lusitanos eram astuciosos. Eu cito: "Sabiam que o delito não contava. O que mais importava era saber quem o cometera, por conta de quem, quem prejudicava e quem beneficiava e qual era, dentre todos os partidos em causa, o mais poderoso, aquele que se devia esperar mais ou que mais se havia de temer. Por isso tomavam o maior cuidado em não agir com demasiada precipitação. Era frequente um processo esperar quatro ou cinco anos antes de ser instruído; mais ainda para ser julgado" (pag. 252).

Isso ocorria num Portugal do tempo dos "terramotos", como lá se diz. Nós, cá de um Brasil sem terremotos, somos imunes a tais malfeitos, justamente porque não nos precipitamos. Somos — independentemente do delito e do devido processo legal — contra o imediatismo e a voz das "multidões".

Nada deve ser imediato. Muito menos a prisão ou a luz elétrica. A boa educação obriga a esperar. Protele-se, pois, a velocidade das corridas de cavalo e do forno de micro-ondas. Condenar sem conceder todos os direitos aos criminosos donos poder, é contra a nossa natureza de país pautado pela lei. Terra adorada na qual jamais os poderosos ( "gente boa") — jamais foram para a cadeia.

Ultra-legalistas, amamos a lei pela lei. Somos a favor do processo legal lento e grandioso em tamanho e absurdo. Tomemos a policia. Ela deve primeiro testemunhar com absoluta certeza que algumas propriedades foram vandalizadas para agir. E mesmo assim, levar em conta que a depredação de bancos e lojas podem ser sinais de uma nova era. Não sabemos ainda que mensagem é essa, mas ela certamente vai surgir com mais clareza tal como em março (ou seria abril?) de 1964; tal como ocorreu com o Estado Novo e na Alemanha a partir de 1933. Somos seguros e gradualistas. Demoramos mais ou menos 60 anos para abolir a escravidão e mais um outro tanto para retomar a democracia. Aliás, considerando o mensalão, hoje vemos com mais serenidade que ele foi um deslize banal. É mais um mero caso de corrupção, semelhante à dúzias de outros exemplos ocorridos em todos os governos, realizados por quase todo mundo. Diante disso, a Abolição da Escravatura foi um milagre de Nossa Senhora Aparecida.

Tudo o que é rápido e que produz resultados instantâneos e sem a intermediação dos compadres, dos ex-secretários e dos ex-advogados que nos julgam de modo ponderado e isento, deve ser pensado e evitado ou até mesmo — reitero — proibido. Mas proibido com tranquilidade, sem rompantes reveladores de má-educação e de gosto duvidoso.

O imediatismo — como dizia um velho e sábio professor favorável a uma "sociologia da calma" — era o problema do nosso tempo. Claro que esse "nosso tempo" deveria ser igualmente ponderado senão ele se transformaria num indesejável imediatismo o qual fatalmente levaria a um arriscado "colocar o carro adiante dos bois".

A pressa é inimiga da perfeição. O corre-corre é uma característica definitiva inferiores: dos criados e dos serviçais. E com o perdão que invoca os velhos e bons tempos nos quais cada qual tinha (não existia ainda essa novidade burguesa e liberal de saber) o seu lugar — como na escravidão — os nobres eram sempre calmos. Até mesmo quando metiam a chibata, o faziam por meio de capatazes tranquilos. Eles decidiam com consciência, tendo na memória os princípios perenes da desigualdade. Por isso prendiam suspeitos e com ajuda de alguns mecanismos, sabiam como transformar um "não" num "sim" em certas circunstâncias e com o justificado uso de certos mediadores como uns bofetes na cara, o choque elétrico e o pau de arara. Ou realizando julgamentos duplos, triplos ou múltiplos — ou melhor ainda, sem julgamento — esse direito fundamental que, em certas circunstâncias pode ser substituído por instrumentos mais eficazes como o fuzilamento sumário, desde que a causa seja justa como parir a justiça social, aplacar o ciúme da mulher bonita, inibir a competição de um colega brilhante, ou garantir a proteção do país contra alguma nação, "raça" ou classe como essa famigerada mídia comprada que hoje faz uma campanha vergonhosamente anti-esquerdista. Essa esquerda que é inimputável, feita de cruzados; que a tudo renunciou em nome do povo e que jamais roubou, corrompeu ou pecou. Essa esquerda que por sua total inexperiência no poder — onde está faz mais de uma década — tem cometido pequenos exageros. Erros dilatados pela mídia corrupta, liberal e imediatista, a ser posta de quarentena para que, numa apreciação mais detida e sem o clamor da multidão ensandecida possam ser reavaliados à luz do nosso exemplar direito luso-brasileiro.

Claro que o imediatismo tem tudo a ver com grandes injustiças. Talvez pior que a agilidade seja esperar sentado. Mas, conforme sabemos, quem espera, sempre alcança.

Jobs - MARCELO COELHO

FOLHA DE SP - 25/09

Filme retrata o criador da Apple como um monstro --mas isso é o que menos importa


Num tempo em que o Brasil ainda não era grande coisa, digamos no começo da década de 1980, um amigo especialista em relações internacionais tentava me curar do complexo de vira-lata.

Ele conhecia razoavelmente os bastidores da ONU. Garantiu-me que, por lá, as posições tomadas pelo Itamaraty eram levadas em consideração, e que nosso país não era visto como uma republiqueta.

"Você não sabe", dizia o amigo, "o que o embaixador americano na ONU faz com os representantes dos países da América Central". Chama-os para seu gabinete e, segundo se comenta, "as cenas ali são proibidas para menores de 18 anos".

Chantagem? Corrupção? Ameaça física? Sexo forçado? Interlocutor discreto, o amigo nada mais me adiantou, e de todo modo minha curiosidade não ia tão longe.

Respirei aliviado, concluindo que, à falta de maiores ativos econômicos e políticos, o Brasil pelo menos contava com grande contingente populacional e com a sempre enaltecida extensão de seu território.

A ideia de que o poder pudesse exercer-se tão cruamente ficou na minha cabeça, mas não cheguei a ler livros de história capazes de dar bons exemplos gráficos desse tipo de coisa. Mesmo no cinema, a violência das ruas supera em muito o que possa acontecer nos gabinetes.

O mais interessante de "Jobs", filme de Joshua Stern sobre o criador da Apple, está no que consegue mostrar da pura brutalidade, verbal e moral, que parece prevalecer no mundo corporativo.

Não tenho nenhum fetiche por iPods, iPads, iPhones e outras coisas parecidas; para mim são todos bastante iguais, aliás, e qualquer admiração que eu possa ter pelo inventor desses badulaques já fica relativizada com a constatação de que, pelo menos em matéria de nomes de produtos, a criatividade de Steve Jobs não é das mais ofuscantes.

A julgar pelo filme, ele era antes de tudo um monstro. Desde sua entrada no mundo da informática, desenvolvendo aqueles joguinhos primitivos de Atari, Steve Jobs grita, humilha, apunhala e pisoteia quem passa pela sua frente.

Sua primeira negociação, com o proprietário de uma lojinha de acessórios eletrônicos, já se apresenta como duvidosa, para dizer o mínimo. Jobs mente, ou blefa, a respeito de suas possibilidades como fornecedor de um novo tipo de aparelho --no qual, mente de novo, inúmeras outras lojas estavam interessadas.

O aparelho, claro, é um modelo de computador que se pode usar dentro de casa, acoplado à tela de TV. A genialidade técnica da invenção não proveio de sua mente autocentrada, cujo caráter visionário e persistente se confunde com os defeitos do açodamento e da cegueira.

Ele percebeu que o mundo poderia ser outro, se surgisse alguém capaz de saber o que o consumidor deseja, antes mesmo que esse desejo fosse percebido.

O preço a pagar durante o caminho é de não ver mais nada, nem ninguém, entre o primeiro passo e o objetivo final. Jobs ignora tudo --até a namorada grávida e depois a própria filha-- em favor desses aparelhos que, por sua vez, tanto nos ajudam a conhecer e a ignorar o mundo.

Isso seria o de menos, não fosse a presença de outros humanoides tão determinados e impiedosos quanto ele. São os que terminam por destituí-lo da própria empresa. Jobs só era suportável se desse lucros aos acionistas; mas sabemos de que modo as novas tecnologias têm o poder de emperrar e não dar certo.

Quando ele volta para a Apple, supostamente mais humano e sábio, o espectador já está farto de torcer por um sujeito tão detestável. O próprio Jobs se deixa amolecer, e os produtos da empresa começam a ganhar a aparência que têm hoje.

O jovem designer lhe mostra o protótipo de um computador arredondado e branco, de onde brotam, como num bufê infantil, balões transparentes de cor. Jobs aprova, recorrendo novamente à retórica de uma tecnologia humanizada e doce.

Mas o que havia de revolucionário no uso caseiro de computadores não se confunde com a cosmética de um novo produto, ou com sucessivas versões de um brinquedo básico.

Depois de nos convencer da antipatia fundamental do protagonista, o filme muda de foco. Jobs não importa mais; sequer sua mensagem merece atenção. Não é preciso elogiar o inventor; o filme só quer que gostemos da marca que ele criou. Jobs seria o primeiro a aprovar esse ponto de vista.

Flalacan - FRANCISCO BOSCO

O GLOBO - 25/09

Fui daqueles que lamentou a troca de Mano por Felipão na seleção, não apenas pelo arbítrio do simpatizante de general, mas pelo que me parecia regressão tática


Não é difícil entender por que Mano Menezes deixou o Flamengo: o elenco é fraco tecnicamente, não tem perspectivas de melhoria ainda nesta temporada, ao mesmo tempo o clube é o de maior torcida do Brasil e mantém o rarefeito título às avessas de jamais ter caído para a segunda divisão. Foi, para mim, o temor de ter seu nome vinculado a essa histórica possibilidade o maior motivo de seu abandono. Mano tem razão. A possibilidade de queda é forte. A derrota para o Atlético PR foi uma daquelas que podem afundar um time. O gol perdido por Elias contra o Náutico já foi seu efeito. Assim como confiança gera confiança, insegurança gera insegurança. E assim como dirigentes dizem que um técnico “está prestigiado” sem que isso seja verdade, mas na esperança de evitar um efeito fragilizador, Mano assegurava que o Fla não cairia, pelo mesmo motivo, e com a mesma descrença.

Eu sempre adorei o Mano. Ele é um caso raro no futebol: esclarecido, gentil, ponderado, com uma leitura aguda de tática, técnica e dos movimentos do futebol mundial. Defendi-o na seleção, mesmo nos piores momentos. Vibrei com sua ida ao Fla, junto à nova diretoria, porque me pareceu que finalmente poderia me identificar com o clube (e os sucessivos times que, em boa parte, são seu espelho): não mais um Flamengo oscilante, emotivo porém incompetente, capitaneado por trapalhões ou cafajestes — mas um time esclarecido, técnico, taticamente evoluído e comandado, na beira do campo e nos bastidores, por pessoas competentes e modernizantes. Só que...

O futebol é louco, meus amigos. Há muitos outros fatores além de competência, esclarecimento, racionalidade. Tenho cada vez mais a impressão de que falta ao Mano justamente o que sobra (o que sobretudo existe) em técnicos como Joel Santana e, de outra maneira, o próprio Andrade: carisma, carinho, autoridade emocional, capacidade de promover identificação, em suma, capacidade de dar confiança aos jogadores, para que eles possam render o seu melhor, e fazê-los “jogar pelo técnico”. Não é isso que o Felipão esbanja? Fui daqueles que lamentou a troca de Mano por Felipão na seleção, não apenas pelo arbítrio do simpatizante de general, a múmia acaju, pickpocket de medalhas, mas pelo que me parecia regressão tática, justo no momento em que mais parecíamos defasados taticamente. E eis que o projeto manqué de um Brasil a la Barcelona se tornou, com rapidez extraordinária, um arrebatador Brasil a la Bayern: vertical, marcando lá em cima, perfeitamente atualizado da perspectiva tática, sem que quase nunca ouçamos o Felipão dissertar sobre sistemas de jogo.

Meus amigos, a imensa torcida Flalacan sabe que o imaginário é mais poderoso que o simbólico. O Mano é frio, duro, às vezes cruel com seus jogadores. Vocifera o tempo todo na beira do campo. Quem não se lembra dele xingando o Douglas, quando o coitado perdeu uma bola no meio campo que resultaria no gol do Messi, num amistoso Brasil e Argentina? Foi um xingamento rodrigueano, que vazou pela TV e expôs o pobre estreante a uma humilhação de megafone.

Eis, portanto, a minitese desse racional não racionalista que eu sou (vivo sob o registro primordial da razão, mas não acredito tanto nela): o Mano mina a confiança de seus jogadores, que, em alguns casos, já não a têm em demasia (muitos são jovens, como no Fla, ou em situação inédita e de pressão, como na seleção), fazendo com que eles joguem menos do que, mais confiantes, poderiam jogar. Talvez tenha dado certo no Grêmio por uma cultura local — a do sul, marcada pela imigração alemã — menos paternalista. E no Corinthians por ter talvez jogadores mais experientes e ter tido na série B um contexto favorável para o trabalho de construção da confiança do time. Mas a sociedade brasileira, em geral, como se sabe, é pessoalista, emotiva, prefere a identificação paternalizante com um líder do que as regulações abstratas e impessoais da lei. Getúlio era o pai dos pobres. Lula quis uma Dilma mãe do PAC. Para Felipão, seus jogadores formam uma família.

Por isso não me espantarei se entrar um Abelão (grandão, paizão, do tipo ão, como o Felipão), o arquétipo e arcaico papai Joel (improvável, porque a diretoria, essa sim, é racionalista) ou um Andrade (sua humildade não esmaga o imaginário de ninguém) e até o introvertido Gabriel começar a jogar bola. A conferir.

A propósito da dimensão emotiva do futebol, estreia na próxima segunda-feira, no Festival do Rio, o documentário “Fla x Flu”, de Renato Terra. Com depoimentos de ídolos dos dois clubes e de outros torcedores apaixonados, o filme entra nos meandros da sempiterna rivalidade que começou 40 minutos antes do nada.

Corporativismo e novelas - HÉLIO SCHWARTSMAN

FOLHA DE SP - 25/09

SÃO PAULO - Deu na "Ilustrada" que psiquiatras, enfermeiros, advogados e laboratórios já reclamaram da novela "Amor à Vida". Eles se queixam desde procedimentos que julgam mal indicados até a conduta ética de personagens, passando por frases tidas por preconceituosas contra uma categoria profissional.

Tenho horror ao excesso de poder de que gozam as corporações no Brasil, mas me parece óbvio que elas têm o direito de reclamar. A liberdade de expressão, afinal, vale para todos. Daí não decorre que o responsável pelo folhetim precise atendê-las. A qualidade de autor lhe dá o direito de fazer o que bem entender.

A pergunta que se impõe é se os lamentos têm base. Embora não haja muita dúvida de que uma informação errada, mesmo numa peça literária, possa causar estragos, não me parece que as pessoas confundam ficção com realidade muito amiúde. Há, por certo, casos quase patológicos, como os dos que pregam a inerrância de textos religiosos, mas a maioria dos humanos diferencia sem dificuldades narrativas inventadas de relatos supostamente factuais.

Se há algo surpreendente aqui é que nos interessemos por histórias que sabemos ser totalmente fantasiosas. Por que perdemos tempo com invencionices? E não falamos aqui só de aficionados por romances. Narrativas literárias na vertente oral ou escrita são um universal humano.

Os psicólogos evolutivos John Tooby e Leda Cosmides acreditam que a ficção é útil e adaptativa porque coloca o cérebro em modo de treinamento, preparando-o para lidar com situações complexas que possam aparecer em algum momento da vida. Ler um livro de mistério nos habilita a lidar melhor com mistérios da vida real. E é mais seguro também. Não corremos o risco de levar um tiro do assassino. A analogia é com brincadeiras de crianças, que são um universal não apenas humano mas mamífero. Pense nisso da próxima vez que decidir combater ficções.

DILMACHO NA ONU


Direitos linguísticos - MARCO LUCCHESI

O GLOBO - 25/09

Não mais “o milagre de uma língua única”, mas o de sua multiplicação



A agenda intercultural da América Latina deve se orientar para um conhecimento maior das línguas de nosso continente. Não como favor, mas como demanda que promova uma democracia consistente, uma democracia coral, de timbres variados, de que todos façam parte.

Um ponto de partida multilíngue, que se incline para a cultura do encontro e da hospitalidade dos povos indígenas. Se no Brasil, não há latim nas escolas, tampouco se aprofundam rudimentos de tupi antigo.

Penso em Lima Barreto e no quanto seria importante não nos esquecermos de que se praticam pouco menos de trezentas línguas hoje em nosso país.

Urge delinear o trânsito cultural da América Latina, quais seus interlocutores realmente comprometidos com projetos multilaterais, que não se resumam a circuitos sem emoção, sem contraste, meramente econômicos e, portanto, voláteis, em nuvens de capital, erráticos e velozes.

Deve-se condenar com firmeza a hegemonia linguística, que impede a integração das línguas, valendo-se de uma gramática única, desligada da beleza do encontro, que demoniza as línguas nativas e seu território, sobretudo este, como faz a bancada ruralista e seus aliados no Congresso, para quem os índios dispõem de terra excessiva, em detrimento do cultivo da soja, que seria, esta sim, a única commodity capaz de salvar a economia brasileira. Cada coisa em seu lugar, alguém chegou a dizer, com a seguinte frase lamentável “a soja na terra e o índio no museu”.

Eis por que a demarcação precisa ser imediata, e que não falte coragem ao poder executivo e sensibilidade, mínima que seja, por parte do judiciário. Não há outra forma para a equação do patrimônio imaterial da língua com o capital simbólico da terra, tão imbricadas se mostram, dentro de uma cultura da hospitalidade, que é a única que o Congresso tem obrigação de implementar.

Alguns livros recentes me parecem essenciais, na defesa de nossas línguas, como “Rio Babel”, de José Ribamar Bessa e a antologia da poesia brasileira, organizada por Sergio Cohn, “Poesia.br”, com um volume dedicado aos cantos ameríndios.

Esse me parece um indício crucial de um processo de mudança na renovação dos currículos nas escolas, incluindo-se um conjunto de disciplinas breve e compacto.

Não mais “o milagre de uma língua única”, mas o de sua multiplicação, em todos os rincões do Brasil, que precisa desconstruir, nos livros didáticos, a ideia aparente de uma torre de Babel.

É preciso descer as escadas da torre, no corpo sinuoso de nossa língua portuguesa, que olha escandalosamente para o futuro.

A poeta paraguaia Susy Delgado publicou Caminho do órfão, em guarani e espanhol, onde se integram e misturam ambas as línguas, como se mandasse um aviso: “outras formas deste caminho interminável, que cada dia mais se parece a uma Babel desértica.”

Perguntas retrospectivas - JULIA SWEIG

FOLHA DE SP - 25/09

Terá Dilma desejado sorte a Barack Obama na busca de apoio a uma resolução sobre a Síria? Duvido


Visualize o cenário nos bastidores do dia de abertura da Assembleia-Geral das Nações Unidas, ontem. Enquanto Dilma e Obama aguardavam juntos para fazer seus discursos, será que Obama indicou estar aberto ao chamado dela de reconhecer o direito à privacidade como direito humano, civil, e soberano?

Terá Dilma desejado sorte a Obama na busca de apoio por uma resolução sobre a Síria? Duvido. As divergências deles em relação a questões importantes de governança global e segurança internacional parecem pronunciadas, novamente.

Longe das câmeras, porém, quem sabe eles tenham se cumprimentado até calorosamente, com um suspiro de alívio --felizes, por motivos diferentes, por terem "adiado" a visita de Estado e o jantar oficial.

Dilma não precisa mais se preocupar com a inevitável e superficial crítica da imprensa ao seu vestido de baile. Mais seriamente, não precisa sentir-se frustrada pelo fato de a agenda bilateral, mesmo antes do escândalo da NSA, não possuir a ambição substantiva à qual faria jus um evento tão carregado de simbolismo. E Obama, conhecido por sua aversão às exigências sociais da Presidência, talvez se alegre com a perspectiva de passar uma noite tranquila com Michelle e suas filhas ou cuidando de questões mais importantes para seu legado.

O escândalo da NSA, a resposta da Casa Branca e a decisão de Dilma de cancelar a visita revelaram a fraqueza do relacionamento EUA-Brasil. Tirando grandes empresas, nem Dilma nem Obama têm bases eleitorais que estejam pedindo o fortalecimento dos laços. Com notáveis exceções, a linguagem corporal das burocracias de Washington e Brasília agora corre o risco de reverter para a de uma era anterior, marcada pelo ceticismo mútuo.

Terá Brasília novamente concluído que Washington se opõe fortemente à ascensão do Brasil? Terá Washington voltado a supor que o Brasil prefira exercer o papel de alternativa à hegemonia americana --quer seja em relação à governança da internet, na América Latina ou em uma série de questões globais? Espero que não, mas a percepção corre o risco de virar realidade.

Uma análise retrospectiva do "adiamento" da visita impõe o reconhecimento de verdades difíceis: Obama não pediu desculpas ao povo ou às empresas americanas pela espionagem da NSA. Ele demorou a reconhecer os excessos e violações de privacidade cometidos e de maneira alguma obrigou a NSA a suspender a espionagem. É difícil imaginar o Brasil recebendo resposta melhor que a que a população americana recebeu até agora.

Em vista do legado de espionagem de Estado no Brasil --cometida por um regime militar apoiado pelos EUA--, será que autoridades americanas esperavam que os brasileiros se orgulhassem da espionagem da NSA, enxergando-a como sinal da importância que Washington atribui ao Brasil no sistema global?

Com relação à vigilância da NSA, Washington tem uma divergência política séria com o Brasil e várias outras democracias importantes. A diplomacia não poderia resolver essa diferença. Mas, em vista da importância do Brasil como centro de passagem de cabos transatlânticos de fibra ótica, Dilma e Obama realmente têm o que discutir.

Merkel, a grande - ROGER COHEN

O GLOBO - 25/09

Henry Kissinger fez a famosa pergunta: qual é o telefone da Europa? Agora ele sabe: é o de Angela Merkel.

Depois de oito anos no cargo durante uma crise que sacudiu países dos EUA à Grécia, Merkel levou o Partido Democrata-Cristão (CDU) à maior votação em duas décadas. Numa eleição pobre de temas, ela era o assunto. Seu slogan era a chanceler . Foi uma vitória pessoal, esta quase maioria absoluta, e foi só isso.

Grande Angela Merkel, maior que a vida , definiu Thomas Schmid num comentário de primeira página do jornal alemão Diel Welt .

Ainda assim, ela é a face na multidão, mais do que a face que se destaca. Amarrotada, desajeitada, com sua calça comprida e blazer quase sempre um pouco apertado, Merkel pode parecer um estudo orquestrado sobre a normalidade, uma criação brilhante de estrategistas políticos antenados com a psiquê pós-traumática alemã. Talvez custe muito dinheiro parecer assim tão simples. Mas com o tempo torna-se claro que ela é apenas o que é, que o poder não a alterou; uma mulher, como Margaret Thatcher, que não dá para mudar.

Merkel é um fenômeno. Ela capturou algo do espírito da época. Nesta era olhe para mim de traficantes de imagem e mercadores de rodopios, ela é o sóbrio antídoto. Ela trabalha muito e é humilde. Poder à imaginação , dizia o slogan dos revolucionários de 1968 na Europa. A chanceler alemã é diametralmente o oposto disso. Ela é um estudo sobre a previsibilidade. Nas palavras de Rainer Stinner, do defenestrado (do Parlamento) partido FDP, ela é a derradeira gradualista. Numa era pós-ideológica, funciona.

Esta Alemanha não tolera experiências. É estável e rica, com seus 5,3% de desemprego, orçamento equilibrado e crescimento firme. Maior nação europeia, com queda para fazer uma coisa de cada vez, está em fase de consolidação. Aqui de novo Merkel se ajusta ao espírito do momento. Uma líder proveniente da antiga Alemanha Oriental, ela está costurando com prudência a união do país. Ela representa uma geração alemã pragmática cujo mote parece ser: depois dos grandes debates, depois da agonia, vamos continuar sendo prósperos.

É fácil esquecer essa agonia. Mais impressionante é o tempo de espera intelectual que a Alemanha adotou. Cada geração do pós-guerra se engajava num debate diferente: o silêncio dos anos de Adenauer deu lugar a raivosas demandas por responsabilidade por parte da geração dos 1960s; e então Willy Brandt de joelhos no gueto de Varsóvia; e a polêmica sobre a colocação no país dos mísseis americanos Pershing-2; e o milagre da reunificação; e o imenso custo desse longo processo; e finalmente a penosa indagação se, depois de Auschwitz, a Alemanha poderia voltar a ser normal e os alemães, orgulhosos - questões que acharam resposta na euforia da conquista da Copa do Mundo de 2006.

Merkel fechou o livro. Ela é a grande consolidadora. Este é o motivo pelo qual ela é amada numa nação cansada de autoquestionamento. Venda carros, equilibre o orçamento, mantenha-se competitivo, evite surpresas e viva feliz para todo o sempre.

É o bastante para o Estado mais poderoso da Europa? Schmid pôs em seu comentário o seguinte título: A chanceler finalmente emergirá de debaixo de suas cobertas? Suspeito que já emergiu: isto é o que Merkel é. Legados não são para ela se envolverem algum esforço artificial para registro histórico.

Ela caminhou numa tênue linha entre a exigência de prudência fiscal por parte dos alemães e a salvação do euro. O mesmo se pode dizer das demandas alemãs por liderança e percepções de sinistra dominância. Talvez, numa provável grande coalizão com os social-democratas, e sem os neoliberais do FDP, ela deverá mostrar um pouco mais de indulgência com a Grécia e outros países em dificuldades. Ela deveria, mas qualquer mudança será mínima.

O que mais? Merkel, mais atraída pelo mundo anglo-saxão que pelo gaulês, fará tudo o que puder para manter o Reino Unido na União Europeia, provavelmente trocando alguma devolução de poderes para os Estados nacionais por maior integração fiscal. Ela trabalhará duro para aumentar a competitividade da Europa. Ela exercerá o poder da discreta maneira germânica: contra o militarismo e o intervencionismo, por uma ordem mundial mais equilibrada, em que os EUA lideram, mas aceitam limites. O legado que ela deseja deixar é o de uma Alemanha forte numa Europa unida num mundo mais livre.

Ela já mudou a Alemanha mais do que as pessoas reconhecem. Há uma geração, alguém que sugerisse que uma mulher sem filhos do Leste pudesse liderar os democratas-cristãos e a Alemanha, com um ministro das Relações Exteriores gay e uma vice-chanceler descendente de vietnamitas seria considerado louco. Ela deu à Alemanha espaço para evoluir.

Giovanni di Lorenzo, editor do semanário Die Zeit , contou-me outro dia que ele estava com sua filha de cinco anos que, ao ver toda a propaganda eleitoral de Merkel, virou-se para ele e perguntou: Esta mulher é a líder do mundo?

Boa pergunta.

SERÁ MESMO? - MÔNICA BERGAMO

FOLHA DE SP - 25/09

A tese invocada pela Rede, de Marina Silva, pedindo que o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) reconheça assinaturas para a formação do partido que foram rejeitadas por cartórios encontra resistência na corte. Ministros dizem que a burocracia não é obrigada a justificar a glosa das firmas, como quer a ex-senadora.

TUDO CLARO
O argumento central da Rede é o de que o poder público tem que justificar todas as suas medidas. Já ministros do TSE acham que os cartórios não devem dar explicações adicionais à que já está explicitada: eles comparam assinaturas e informações apresentadas com os cadastros dos eleitores. Se alguma coisa não confere, anulam a ficha apresentada.

RABISCO
"O problema é que há uma série de precariedades nos cartórios, e a falta de justificativa é uma forma de lidar com elas", diz Bazileu Margarido, coordenador da Rede. Há também pontos considerados fora da curva. No Brasil todo, por exemplo, foram anuladas em média 20% das assinaturas. Em SP, 34%. No ABCD (Santo André, São Bernardo, São Caetano e Diadema) elas chegaram a 50%.

PONTO DE VISTA
E Marina Silva dividirá o palco com outro presidenciável, o tucano Aécio Neves (PSDB-MG), em um seminário sobre produtividade promovido pela revista "Exame", da editora Abril. O presidente do STF, Joaquim Barbosa, também dará palestra no mesmo evento, na próxima segunda, 30. O ministro Guido Mantega, da Fazenda, representará o governo.

NOVO APOIO
A Secretaria de Estado da Cultura abriu um edital inédito do Proac de apoio a produções independentes de séries para TV e web. Serão R$ 400 mil distribuídos entre oito projetos vencedores.

POPOZÃO
Valesca Popozuda retoma no dia 1º a gravação do primeiro clipe de sua carreira, o da música "Beijinho no Ombro". As cenas feitas em Petrópolis (RJ) serão juntadas a outras que a funkeira rodou na torre Eiffel, em Paris. "Vai ser num clima meio teatral, como se fosse num castelo. Estou igual criança esperando um brinquedo novo! Doida para o clipe ficar pronto logo. Vai ser fodástico!", diz.

IGUAL, MAS DIFERENTE
Valesca --que diz fazer em média 30 shows por mês-- afirma "curtir" Anitta, funkeira carioca que virou fenômeno de popularidade. "Espero que ela faça história, como eu faço." Ambas têm letras que valorizam a mulher, mas a veterana diz: "Anitta é meiga e abusada. E eu sou tiro, porrada e bomba".

RELAX
O encerramento do Yoga pela Paz, em outubro, terá duas atrações internacionais: a guru indiana Mother Maya e a cantora Donna De Lory, "backing vocal" de Madonna por 21 anos.

HISTÓRIA DA ARTE
A galerista Raquel Arnaud abrirá em fevereiro de 2014, no Instituto Tomie Ohtake, em SP, uma exposição coletiva retrospectiva dos artistas que já passaram por sua galeria. Vai pegar emprestadas obras vendidas a colecionadores que são seus clientes, como o banqueiro José Olympio Pereira.

É GOL, MÃE!
A maior parte dos torcedores de futebol (52%) prefere a companhia da família para assistir aos jogos pela TV. Amigos vêm na sequência, com 20%, diz pesquisa da Rádio Globo feita pela agência Box 1824. Dos 39% de entrevistados que vão a estádios, 57% são homens e 43%, mulheres. Entre os perfis mais comuns: torcedor religioso --devoto do time do coração-- e cientista --que admira mais o futebol bonito do que a vitória de seu clube.

FORA DA CASINHA
Os atores Leandra Leal e Bruno Gagliasso, protagonistas do longa "Mato sem Cachorro", foram à pré-estreia do filme, anteontem, no shopping JK Iguatemi. A atriz Gabriela Duarte e o apresentador Danilo Gentili, que também fazem parte do elenco, o diretor da produção, Pedro Amorim, e os humoristas Paulinho Serra e Rafinha Bastos estiveram no evento.

FAMÍLIA ENTOCADA
Os atores Maria Fernanda Cândido e Reynaldo Gianecchini, protagonistas da peça "A Toca do Coelho", receberam amigos na apresentação da montagem para convidados, anteontem, no teatro Faap. Simone Zucato é a produtora e também atua no espetáculo, dirigido por Dan Stulbach. O ator Taumaturgo Ferreira e a apresentadora Isabella Fiorentino estavam na plateia.

CURTO-CIRCUITO
Simone Wassermann organiza hoje dia de noiva para comemorar os 40 anos da Vasti Fashion, em Higienópolis.

O relojoeiro suíço Thomas Gäumann dá palestra sobre o relógio Siderále, avaliado em R$ 1,9 milhões. Hoje, no JK Iguatemi, às 18h.

Os chefs Henrique Benedetti e Jitpapa Chamratchay cozinham hoje em Brasília, a convite da Embaixada da Tailândia.

Ouvida e discutida - DENISE ROTHENBURG

CORREIO BRAZILIENSE - 25/09

Dilma Rousseff finalmente conseguiu. Dos três discursos que a presidente proferiu ao abrir a Assembleia Geral das Nações Unidas, esse último foi o que mais chamou a atenção da mídia internacional. Nos grandes sites da imprensa internacional, os adjetivos variaram de “palavras fortes” e “ásperas” a “virulento”. Os adjetivos têm lá sua razão de ser.

A presidente brasileira foi a primeira a levantar de forma contundente a questão da espionagem, referindo essa prática como violação dos direitos humanos. Assim, ganhou pontos não só perante os brasileiros como também em relação aos demais países que já foram vítimas da mesma invasão de privacidade. Não por acaso, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, num discurso centrado na questão da Síria, mencionou en passant em seu pronunciamento que seu país, hoje, “revisa a forma de coletar inteligência” para, assim, balancear a segurança e as preocupações com a preservação da privacidade.

Nenhum dos dois discursos anteriores de Dilma na ONU — o primeiro em 2011 e o segundo no ano passado — teve tanto destaque. No primeiro discurso, havia o inusitado da voz feminina abrir a 66ª Assembleia Geral, e a tônica da presidente foi em torno da crise econômica que assolava os EUA e a zona do euro, além da cobrança de medidas de regulamentação do sistema financeiro global. No plano internacional, Dilma cobrou a inclusão plena do Estado Palestino nas Nações Unidas.

Obviamente, depois de expor suas impressões e propostas de contenção da crise econômica, Dilma fez os comerciais das ações de seu governo, antes de mencionar a inclusão da Palestina e cobrar a reforma dos fóruns internacionais. A fórmula se repetiria no ano seguinte. Com destaque à falta de ações firmes para combater a crise econômica, Dilma repisou basicamente os mesmos temas, na mesma tribuna. Até a abertura do discurso com menção à voz feminina foi mantida. Desta vez, porém, ela fez diferente. Chamou Obama e a ONU para o centro do debate ao propor que as Nações Unidas tratem de regular as comunicações globais. Se Dilma queria destaque, desta vez, ela conseguiu.

Enquanto isso, em Brasília...

Por aqui, a vida segue frenética em função dos últimos dias para troca de partidos. Marina Silva faz um périplo para ver se tira a Rede do telhado sem rasgá-la. O PMDB trata de segurar seu povo ao emitir uma resolução avisando que pedirá os mandatos daquele que deixarem a legenda. Havia, só ontem, pelo menos três deputados na porta de saída: Arthur Maia (BA), Paulo Henrique Lustosa (CE) e Luiz Pitiman, do Distrito Federal.

No PSB, a saída da ala contrária à candidatura de Eduardo Campos era esperada. Está na porta o governador do Ceará, Cid Gomes — que leva o irmão Ciro — e Alexandre Cardoso, do Rio de Janeiro. Agora, o partido vai tentar levar Luizianne Lins, do PT. Essa dança das cadeiras só termina em 5 de outubro. Até lá, o estica e puxa por deputados continua, uma vez que cada um vale tempo de tevê para 2014. E ainda tem os partidos encalacrados no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que, se saírem, vão bagunçar ainda mais o coreto das 30 legendas oficialmente registradas no Brasil.

Por falar em PSB...

A presidente Dilma deve se reunir com Eduardo Campos na sexta-feira. Nada de retorno ao governo. Trata-se apenas de um gesto no sentido de reforçar as pontes para 2014. Tudo o que o PT não quer é ver Eduardo mais próximo do PSDB de Aécio Neves. E essa aproximação, hoje, depende mais de Dilma do que qualquer outro ator dentro do PT. Afinal, é ela a candidata e, agora, a mulher que joga na ONU o debate da espionagem. Os petistas esperam que ela seja tão pró-ativa na política interna quanto foi ontem em Nova York. Já não será sem tempo. Mas essa é outra história.

Folga de caixa - VERA MAGALHÃES - PAINEL

FOLHA DE SP - 25/09

Integrantes do governo afirmam que a Petrobras recebeu propostas de adiantamento do valor que teria que desembolsar para ampliar sua fatia no leilão do campo de Libra, em outubro. Pela lei, a estatal tem assegurados 30% de participação, mas quer ficar com 40% e, assim, ser a principal acionista do consórcio que vai explorar a área. Com o dinheiro, a estatal, que está com problema de caixa, deixaria de gastar R$ 1,5 bilhão, que equivale aos dez pontos percentuais de diferença.

Novos... As primeiras entrevistas do procurador-geral, Rodrigo Janot, foram lidas por advogados do mensalão como uma guinada em relação à gestão de Roberto Gurgel. Além das críticas administrativas feitas ao antecessor, Janot não defendeu com ênfase o "mérito" da denúncia, notaram os criminalistas.

... ventos Gurgel tinha encampado a linha de Antonio Fernando, que concebeu a tese da quadrilha chefiada por José Dirceu que agora pode cair no julgamento dos embargos infringentes.

Tour Os ministros Gastão Vieira (Turismo) e Izabella Teixeira (Meio Ambiente) começam em outubro uma série de visitas a parques nacionais. Estudo do Fórum Econômico Mundial aponta o Brasil como país número 1 em riquezas naturais, mas os parques brasileiros recebem só 6 milhões de turistas ao ano.

Currículo O presidente do Cade, Vinicius Carvalho, que comanda as investigações de cartel em contratos de metrô paulista, foi chefe de gabinete do deputado estadual Simão Pedro, em 2003. O parlamentar apresentou denúncias do setor ao Ministério Público sete anos depois.

Fogo brando A direção do PP altera hoje a estrutura do partido em São Paulo para reduzir o poder de Paulo Maluf. Ele passará a chefiar uma comissão provisória da sigla, mas suas decisões precisarão ser aprovadas pelo presidente nacional, Ciro Nogueira.

Nas... A Rede escalou artistas em uma campanha na internet para dar publicidade às barreiras enfrentadas na obtenção de seu registro. O ator Marcos Palmeira gravou mensagem em que diz que o partido é prejudicado por um "procedimento precário de conferência de assinaturas".

... estrelas Adriana Calcanhotto também protagoniza um vídeo e conta que sua própria ficha de apoio foi rejeitada pela Justiça Eleitoral.

É pró Ideli Salvatti (Relações Institucionais) recomendou de forma entusiasmada a candidatos do PT aos governos estaduais que procurem os responsáveis pelo Pros, partido que obteve ontem seu registro. A nova legenda é considerada simpática aos petistas.

Non grata Cid Gomes já havia reclamado anteontem com Eduardo Campos sobre as notícias de que o PSB estaria oferecendo legenda para Luizianne Lins (PT) disputar a eleição no Ceará. "Eu disse a ele: se desejam que eu saia, basta serem francos."

Banho-maria Rui Falcão, presidente do PT, telefonou para dirigentes do partido nos Estados comandados pelo PSB e os orientou a não romper com a sigla de Campos. No Piauí, por exemplo, os petistas estavam dispostos a se afastar do governador Wilson Martins (PSB).

Temporada O PSD-SP filiou o pastor Samuel Ferreira, líder da segunda maior ala da Assembleia de Deus.

Massa O PT vai mobilizar entidades como MST e CUT para uma campanha de rua a favor do plebiscito da reforma política. A ideia é reforçar a coleta de assinaturas do projeto a partir de novembro e apresentar a proposta ao Congresso em fevereiro.

com ANDRÉIA SADI e BRUNO BOGHOSSIAN

tiroteio
"A nota do PT repisa a velha cantilena do nós contra eles'. Acontece que nós e a sociedade brasileira estamos em outra."

DO LÍDER DO PSB NA CÂMARA, BETO ALBUQUERQUE (RS), sobre o texto do PT acerca da decisão do PSB de entregar os cargos no governo Dilma Rousseff.

contraponto


Fator RH
O novo secretário de Saúde de São Paulo, David Uip, visitou no início da semana o Hospital Regional de Ferraz de Vasconcelos, onde se encontrou com o prefeito Acir Filó (PSDB) e o chefe da pasta de Saúde da cidade, Luiz Nascimento. Orgulhoso, Nascimento contou a Uip que chegou ao primeiro escalão da prefeitura depois de trabalhar por 25 anos como médico no município.

No cargo há 20 dias, Uip respondeu que esteve no serviço público por 37 anos. Depois, brincou com o prefeito:

--Tenho muita experiência! Se você me nomear, venho imediatamente para cá!

José Serra, a esfinge - ILIMAR FRANCO

O GLOBO - 25/09

O tucano não abre o jogo sobre sua saída ou não do PSDB para concorrer ao Planalto. Ele diz, quando muito, que estuda o quadro e não tem definição. Mas, no PPS, garantem que houve mudança de disposição. Afirmam que Serra está convencido de que Marina Silva não concorrerá, e que seu voto ficará solto. Dizem que ele avalia que Aécio Neves não empolga a base nem os paulistas. Sobre ficar e lutar, ele teria dito que se sente isolado pela cúpula.

Rasgando a fantasia
Para viabilizar sua candidatura ao Planalto, Eduardo Campos está perdendo o apoio do governador do oitavo colégio eleitoral (CE) do país, Cid Gomes, e do prefeito do terceiro colégio do Rio (Duque de Caxias), Alexandre Cardoso. Cid, que provavelmente irá para o PROS, diz que está sendo "convidado" a deixar o partido. Crítico da candidatura, Cid acredita que somente "se Marina Silva não for (candidata a presidente), Eduardo tem alguma chance" Ele acusa o PSB de ter virado satélite do PSDB em alguns estados e se queixa de ser hostilizado pelos socialistas. Mesmo pulando fora, ele faz uma previsão: "Na reta final, o Eduardo vai decidir não ser candidato".

"A saída do ministro Leônidas Cristino (Portos) é uma questão de honra. É uma demonstração de apoio desprendido ao governo da presidente Dilma"
Cid Gomes
Governador do Ceará, sobre o rompimento do PSB com o governo petista

A vida como ela é
Os partidos do governo e da oposição estão poupando o ministro Manoel Dias (Trabalho), cuja pasta virou foco de escândalos. O PDT virou uma noiva e está sendo salvo porque todos os partidos disputam seu apoio na sucessão de 2014.

Eles não se bicam
Atendendo a apelos pela unidade do candidato e presidente do PSDB, Aécio Neves, o governador Beto Richa e o senador Álvaro Dias definiram, em encontro no fim de semana, que serão candidatos à reeleição. Mas, como os dois tucanos não se toleram, combinaram que as duas campanhas terão agendas separadas pelo Paraná.

A especulação da hora
O boato de ontem no Congresso era o de que José Serra se filiaria ao PSD. O presidente do partido, Gilberto Kassab, diz: "Sou amigo do Serra e sempre falo com ele. Mas não tem essa conversa. Chance zero. Isso só o enfraquece no PSDB"

Colocando os pés no chão
Depois de acompanhar Marina Silva, o deputado Miro Teixeira (PDT-RJ) saiu do TSE dizendo que "é um delírio culpar" o governo Dilma pelas dificuldades da Rede. "O problema nos cartórios eleitorais é a política local. São os vereadores e os prefeitos que estão segurando as certificações das assinaturas. Eles não querem adversários"

Credencial
Favoritos para manter o governo de Minas Gerais, os tucanos estão dizendo que "vão enfrentar o adversário mais difícil das últimas três eleições" O PSDB se refere ao candidato petista, o ministro Fernando Pimentel (Desenvolvimento).

Empurra-empurra
Reuniões de comissões e audiências públicas têm sido canceladas na Câmara por falta de plenários disponíveis. Hoje, funcionam 226 comissões para discutir projetos, travadas por falta de estrutura.

FALA O PRESIDENTE DO PROS, EURÍPEDES JUNIOR: "Estou com os braços abertos para receber o governador Cid Gomes e construir o partido em todo país".

A minirreforma - LUIZ CARLOS AZEDO

CORREIO BRAZILIENSE - 25/09

O presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), quer limpar a pauta da Casa para analisar a minirreforma eleitoral votada pelo Senado. Sua intenção é aprovar as mudanças e mandar para sanção da presidente Dilma Rousseff, a tempo de que entre em vigência já nas próximas eleições. O encaminhamento foi acertado com o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), mas enfrenta resistências do PT e do PSDB.

Líder do governo na Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP) disse que o Planalto não tem uma posição fechada em relação ao tema. Há muita divergência dentro do próprio PT sobre a minirreforma e Dilma está viajando. Já o líder da bancada petista, José Guimarães (CE), traduz a opinião da Executiva do partido sobre a reforma: “é tão mini, tão mini, que não tem muita consistência para que se ofereçam mudanças na legislação eleitoral”.

A minirreforma poderia romper o imobilismo em relação ao tema e abrir caminho para votação de outras propostas, mas profundas, que só passariam a valer nas eleições de 2016 e 2018.

Candidatos
A minirreforma eleitoral precisa ser votada e sancionada até 4 de outubro para valer na disputa do ano que vem. Entre as principais mudanças, está a proibição de que os partidos troquem seus candidatos na véspera da eleição. Foi o que aconteceu, por exemplo, na última eleição do Distrito Federal, quando a candidatura do ex-governador Joaquim Roriz foi impugnada e ele inscreveu a mulher, dona Weslian, em seu lugar.

Propaganda
O texto da minirreforma também proíbe que o presidente da República candidato à reeleição faça pronunciamento em cadeia nacional de rádio e televisão para se promover ou atacar candidatos da oposição. Estipula multa, além da prisão, para quem fizer campanha no dia da eleição. Propaganda em faixas, muros e placas e a “envelopagem” de carros são proibidos. Ficam permitidos adesivos de até 50cm no vidro traseiro e a emissão de opinião pessoal em redes sociais. Também é imposto um limite à contratação de cabos eleitorais.

Música
O Senado aprovou, em segundo turno, a proposta de emenda à Constituição (PEC) que concede isenção tributária para a produção de CDs e DVDs com obras de artistas brasileiros. Senadores do Amazonas votaram contra: a PEC prejudicará as empresas da Zona Franca de Manaus.

Trancamento
A pauta da Câmara está trancada por causa de três medidas provisórias: uma anistia as dívidas das Santas Casas de Misericórdia; outra cria a Agência Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural (Anater); a terceira autoriza funções comissionadas para o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit). Ontem, houve obstrução da oposição, que cobra a votação do projeto que estabelece o piso nacional dos agentes comunitários de saúde.

Na África
Estreia hoje, às 18h36, no Discovery Civilization, a série Presidentes africanos, apresentada pelo ex-ministro da Comunicação Social Franklin Martins. São reportagens sobre 13 países africanos — África do Sul, Angola, Cabo Verde, República Democrática do Congo, Costa do Marfim, Egito, Etiópia, Gana, Moçambique, Nigéria, Senegal, Tanzânia e Tunísia — , com entrevistas exclusivas com seus presidentes.

Espionagem
“O Brasil redobrará os esforços para dotar-se de legislação, tecnologias e mecanismos que nos protejam da interceptação ilegal de comunicações e dados”, disse ontem a presidente Dilma Rousseff na ONU. “Representações diplomáticas brasileiras, entre elas a missão permanente nas Nações Unidas e a própria Presidência da República, tiveram suas comunicações interceptadas”, disse no discurso. Segundo Dilma, a “intrusão” dos Estados Unidos fere o direito internacional e “afronta” os princípios que regem as relações entre nações amigas.

Defesa
Presidente do PSDB, o senador Aécio Neves, de Minas Gerais, criticou o discurso de Dilma Rousseff ontem na ONU. “O PSDB manifestou seu repúdio aos atos de espionagem tão logo eles foram denunciados pela imprensa. São ações intoleráveis, que agridem a soberania nacional. Mas é preciso que o governo brasileiro assuma sua responsabilidade em relação à defesa cibernética do país, e não trate essa questão sob a ótica do marketing”, disparou.

Beto
O livro Seu amigo esteve aqui (Zahar), de Cristina Chacel, será lançado hoje na Biblioteca do Senado, às 20h. Narra a história de Carlos Alberto Soares Freitas, militante político assassinado na Casa da Morte, em Petrópolis (RJ), na década de 1970. Conhecido como Breno, ele era dirigente da VAR-Palmares, organização clandestina que lutava contra a ditadura militar da qual a presidente Dilma Rousseff — que o citou no discurso de posse — fazia parte.

Educação
Será amanhã o seminário Fortalecimento da Indústria Brasileira e do Emprego, promovido pela CNI e as centrais sindicais CGTB, CUT, UGT, CTB e Força Sindical. O presidente da CNI, Robson Andrade, proporá às centrais sindicais um pacto pela educação de qualidade.

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO

FOLHA DE SP - 25/09


Cai número de passageiros em aeroportos do interior de SP


Os aeroportos regionais do Estado de São Paulo também estão sendo afetados pela crise do setor aéreo do país.

O número de passageiros que passaram por eles no mês de agosto diminuiu 7,8% na comparação com o mesmo período de 2012.

Dados do Daesp (Departamento Aeroviário do Estado) mostram que a queda foi ainda mais acentuada no volume de carga transportada (-22,35%) e no número de pousos e decolagens (-18,9%).

O departamento afirmou que a "retração na movimentação pode estar relacionada a fatores como realinhamento no número de voos oferecidos pelas empresas aéreas e fim das operações de companhias como Webjet e Trip, que operavam em alguns aeroportos do interior".

Apesar da baixa no movimento, o Estado continua investindo nos aeroportos. Neste ano, os aportes devem atingir cerca de R$ 70 milhões. Em 2011 e 2012, foram mais R$ 140 milhões.

"A malha aérea é definida pelas companhias e pela Anac (Agência Nacional de Aviação Civil). O Daesp tem por responsabilidade oferecer a infraestrutura aeroportuária em terra para as empresas operarem", informou o departamento.

No acumulado do ano, o declínio do volume de passageiros foi de 6,2%. Movimentação de cargas e número de pousos e decolagens diminuíram 21,24% e 6,4%, respectivamente.

Mesmo com esses resultados, o Daesp espera encerrar o ano com superavit de R$ 3 milhões --mesmo valor registrado em 2012. Em 2011, o departamento teve deficit de R$ 6 milhões.

CALÇADOS PARA O NORDESTE
A Piccadilly, fabricante gaúcha de calçados, planeja instalar uma indústria no Nordeste, a sétima do grupo e a primeira fora do Rio Grande do Sul.

A direção da empresa se reuniu ontem com representantes do governo do Ceará e da Prefeitura de Aracati, município que pode receber a nova unidade.

"Uma fábrica de calçados encerrou suas atividades nessa localidade e, com isso, haveria mão de obra qualificada disponível", afirma o presidente, Paulo Grings.

A falta de funcionários capacitados para o setor calçadista é um problema enfrentado hoje no Rio Grande do Sul, diz ele. "É uma guerra entre as fábricas."

A construção da planta no Nordeste também deve facilitar a distribuição de produtos na região, que hoje é responsável por quase 20% das vendas, segundo Grings.

"A gente teria condições de crescer mais no mercado local", afirma.

A nova fábrica não vai causar redução de produção ou de funcionários no Sul, de acordo com o presidente.

O grupo emprega cerca de 4.200 pessoas e faturou R$ 412 milhões em 2012.

CARGA PESADA
A movimentação de cargas em terminais portuários de uso privado recuou 2,6% no segundo trimestre deste ano, na comparação com o mesmo período de 2012, segundo a Antaq (Agência Nacional de Transportes Aquaviários).

De abril a junho de 2013, foram transportados 144,8 milhões de toneladas, ante 148,8 milhões nos três meses do ano passado.

A queda na movimentação de minério de ferro (-8,7%) contribuiu para a redução, de acordo com a agência.

Entre os dez maiores terminais privados do país, o de Ponta da Madeira, no Maranhão, teve movimentação 14% menor no período.

O local pertence à Vale e é usado para escoar minério que chega pela Estrada de Ferro Carajás.

A empresa disse que o excesso de chuvas e os protestos indígenas que interromperam a passagem de trens causaram a redução.

No caso dos portos, houve aumento de 9,6% no período, de acordo com a Antaq. O maior deles, o de Santos (SP), cresceu 21,4%.

Telecom terceirizada
As empresas de TI e telecom foram as que mais contrataram profissionais temporários no primeiro semestre deste ano, revela pesquisa da Page Interim, que faz parte da companhia de recrutamento Page Group.

O segmento foi responsável por 23% das contratações, seguido pelas áreas de saúde (15%) e bancos (11%).

"Os números refletem a expansão do setor e a chegada de start ups de TI e telecom no país", afirma Carolina Asevedo, diretora da empresa.

A limitação no quadro de funcionários das companhias é o principal motivo (39%) para a contratação de temporários. Em seguida está o aumento da demanda (18%).

"Principalmente as multinacionais americanas, que têm o quadro de funcionários restringido pela matriz", diz.

Profissionais da área financeira --contabilidade, fiscal e controladoria-- respondem por 60% dos contratos.

"Em junho e julho, por exemplo, a demanda foi maior devido a composição de orçamentos para o ano seguinte e auditorias externas."

Segurança... Para proteger as informações de seus clientes, a operadora TIM lança hoje a trinca de produtos TIM Protect: antirroubo, segurança e segurança computador.

...virtual Os dois primeiros aplicativos são voltados para celulares e tablets e o último está disponível tanto para PC quanto Mac. Os valores mensais vão de R$3,90 a R$ 7,90.

Projeto... Cerca de 70 alunos do ensino médio do colégio Humboldt assumirão durante cinco dias postos de trabalhos em empresas como Volkswagen, Coca-Cola FEMSA e Emirates.

...trabalho O objetivo é fazer com que os estudantes vivenciem o dia a dia em áreas que têm interesse em cursar na universidade antes de prestar o vestibular. A iniciativa é realizada pela escola há 17 anos.

Negócios... Uma comitiva de Barbados com cerca de 30 pessoas esteve no Brasil para conhecer o mercado do país e estreitar contatos.

...barbadianos Além de autoridades, estiveram na missão política e comercial representantes de companhias do setor agrícola, de energia solar e de bebidas e alimentos.

Devagar demais - CELSO MING

O Estado de S.Paulo - 25/09

Não dá para dizer que o governo Dilma não esteja aprendendo a conduzir as concessões de serviços públicos. Aprendendo está, mas devagar demais e com alguma repetência.

Já se vão 13 meses após o anúncio do programa bilionário de concessões e, no entanto, as falhas de modelagem e de regulação vão se sucedendo. E os adiamentos dos leilões, também. Como se o processo fosse conduzido por amadores.

Por temer mais um episódio de baixo nível de competição das operadoras, o governo acaba de reduzir as exigências para o leilão do aeroporto de Confins, em Minas Gerais. Antes, os concorrentes tinham de ter experiência com a administração de aeroportos de pelo menos 35 milhões de passageiros por ano. Esse número baixou agora para 20 milhões. E, para que mais empresas possam se preparar para a concorrência, o leilão foi adiado de 31 de outubro para 22 de novembro, prazo adicional aparentemente curto.

O governo demorou para entender que o crescimento econômico depende de investimentos maciços em infraestrutura. Como não há recursos públicos nem para 10% do programa, não há saída senão atrair o setor privado, daqui e do exterior. Mas, enrolado em preconceitos ideológicos, partiu travado para as concessões, como se fizesse favor para as futuras concessionárias se topassem contratos sem remuneração satisfatória, sem regras claras e sem eliminar previamente os buracos negros jurídicos. Os fiascos se sucedem, as correções começam a ser feitas, é verdade, mas a baixa velocidade.

Ontem, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, reconheceu em Nova York a existência de problemas e prometeu correções. Mas há razões para acreditar em que o governo continua com a intenção de atrelar o setor privado ao emperramento das instituições públicas. Nas licitações rodoviárias, até agora pretendeu que as futuras concessionárias ficassem excessivamente dependentes do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit). Essa foi a principal razão do fracasso do leilão da BR-262, que liga Minas ao Espírito Santo. As atuais licitações dos trechos ferroviários preveem que os concessionários fiquem na mão da Valec - Engenharia, Construções e Ferrovias S.A., empresa tão encrencada que deverá ser fechada e substituída, supostamente, por uma instituição mais moderna.

O governo não para de convocar para a ação, com discursos e alguma conversa, o espírito animal dos empresários. Mas o fator desconfiança continua obstruindo o entendimento.

O ex-ministro Delfim Netto resumiu ontem a situação a empresários reunidos em São Paulo para um fórum organizado pela Eurocâmaras: "O governo acha que os senhores são um bando de ladrões e egoístas. E os senhores acham que o governo só pensa em capitalismo com lucro zero. Os dois estão errados".

Independentemente de quem cuspiu no outro primeiro, o fato é que o País não pode se arrastar. Há muito crescimento e muito emprego em jogo. As coisas ficariam bem mais fáceis se o governo olhasse para o interesse nacional, deixasse de lado dogmas gerados no tempo da guerra fria e se entregasse de uma vez a um choque capitalista, como tem feito, ao menos pragmaticamente, o governo comunista da China.

Livro de queixas - VINICIUS TORRES FREIRE

FOLHA DE SP - 25/09

Manias, cacoetes, atrasos e erros do governo frustram otimismo que havia com concessões


MUITA GENTE que vive fora do universo paralelo de Brasília e mesmo críticos duros de Dilma animaram-se com o início, ainda que tardio, das privatizações de infraestrutura.

Apesar de manias e atrapalhações do governo e do fato de que esta rodada de privatização não salvaria a horta da economia, havia otimismo. Havia.

O calendário da privatização das rodovias será refeito, pois o interesse das empresas pelo negócio é bem menor do que o estimado pelo governo, porque os estudos sobre os empreendimentos são ruins, porque o entendimento sobre os editais era confuso até dentro do governo.

O leilão das ferrovias foi para as calendas, pois não há embasamento legal para o modelo inventado pelo governo. Além do mais, o modelo depende de uma estatal desacreditada e que não está estruturada para cumprir as tarefas que o governo a ela atribuiu.

Há confusão nas normas dos portos. Há confusão na renovação das concessões de energia, para nem lembrar o fiasco da redução do preço da energia deste ano, menor do que a esperada e que vai custar bilhões a mais que o previsto em subsídios. Há frustração de expectativas no leilão do pré-sal, prejudicado em parte pelo novo modelo de exploração, estatista demais. Decerto as empresas aproveitam o descrédito e a pressa ansiosa do governo a fim de arrancar vantagens. Mas o problema de fundo não é esse.

Para começo de conversa, o governo aceitou apenas tardiamente a privatização de parte da infraestrutura, lá pelo final de 2011 --não tinha planos, improvisou-os. Aceitou um tanto a contragosto, por falta de alternativa, pois as obras dos aeroportos da Copa mergulhavam no vinagre, pois havia inépcia e escândalos nos ministérios.

Para continuar a conversa, o governo tem dificuldade de entender que privatização significa aceitar preços: sem preço e rentabilidade, não há negócio. Decerto leilões de serviços públicos, monopólios, são coisas extremamente complicadas. Mas, em última análise, concessão depende de preços, os quais o governo quer mais ou menos tabelar, em vez de deixar que os leilões os definam.

Mais intrigante é que os deságios nos leilões têm sido enormes, vide os descontos oferecidos mesmo por empresonas que perderam disputas realizadas desde 2007. O governo se bate pela causa errada.

Terceiro, a tentação de tabelar preços é complementada pelo desejo de maquiar tarifas com subsídios. Quando o objetivo da intervenção não é baixar preços, o governo quer ser sócio porque quer: com a Infraero, com a PPSA (a Petrosal), com a Petrobras, com a Valec, com estatais elétricas etc.

Nesses casos, a intervenção por vezes prejudica a própria estatal, caso da Petrobras, sobrecarregada de tarefas e investimentos. Por vezes, assusta investidores (o que PPSA ou Valec vão aprontar?). Por outras, não cumpre prazos e obrigações, inutilizando investimento privado e causando prejuízo ao governo.

Intervenções estatais em lugar e hora errados, tentativas de tabelar preços, normas confusas, estudos mambembes, pressa depois de anos de inércia, tudo isso estragou o clima dos leilões de privatização. Pode levar o governo até a conceder favores indevidos a empresas.

Alguma coisa vai sair, decerto. Melhor que nada. Mas a quanto custo.

O que trava as concessões de infraestrutura? - ARMANDO CASTELAR

CORREIO BRAZILIENSE - 25/09
Meu pai gostava de um ditado que, segundo ele, dizia muito do Brasil: "Aos amigos, tudo; aos indiferentes, a lei; aos inimigos, a lei e seus regulamentos". Em um país com um emaranhado sem-fim de leis, nunca é bom brigar com a burocracia.
O risco de litígio com o governo é um dos entraves a se investir em infraestrutura. No Brasil, esse risco é alto. Nos últimos anos, ficou maior.

Quatro características tornam a infraestrutura mais sensível a esse risco. Primeiro, ela exige altos investimentos em ativos específicos, isto é, ativos cujo valor, quando usado em outra atividade, é relativamente baixo. Pense-se numa estrada: se ela não puder ser usada por veículos que desejam por ela trafegar, ela não vale nada.

Segundo, na infraestrutura investe-se primeiro para obter receitas depois, ao longo de décadas. Terceiro, nos setores de infraestrutura há pouca concorrência, de forma que é preciso um regulador público para evitar a exploração dos consumidores. Quarto, como muita gente consome serviços de infraestrutura, o setor é politicamente sensível.

Dadas essas características, há grande tentação para que o governo prometa mundos e fundos para o setor privado investir, mas também para que, feito o investimento, o governo renegue suas promessas. Sabedores disso, os investidores resistem às promessas e ficam longe desses setores.

A solução tradicional para o problema foi o setor público investir diretamente. Nos últimos anos, porém, viu-se que era melhor o setor privado cuidar dos investimentos e da operação, enquanto se limitava a capacidade do governo de renegar suas promessas.

Esse modelo foi implantado no governo FHC. O resultado foi bom, especialmente quando se considera que o modelo era novidade. Telecomunicações e ferrovias experimentaram um salto nos investimentos e na capacidade de atender a demanda. Em ferrovias e rodovias, melhoraram as vias e o número de acidentes caiu. Infelizmente, quando o investimento privado aumentou, o público caiu, em meio ao ajuste fiscal iniciado em 1998. Na média de 2001-2002, investimos apenas 2,6% do PIB em infraestrutura.

O governo Lula reverteu em parte esse modelo, reduzindo a independência das agências e interferindo nos setores. Inicialmente, tentou substituir o modelo anterior por parceiras público-privadas (PPPs), criadas pela Lei nº 11.079, de 2004. Mas não foi capaz de colocar esse modelo em prática: até hoje o governo federal não realizou nenhuma PPP.

Abandonadas as PPPs, voltou-se ao modelo antigo, de investir diretamente via setor público. O PAC é a expressão maior desse esforço. Alguns investimentos aconteceram, mas os resultados agregados foram insuficientes. Em ferrovias, o investimento público foi uma fração do privado. Em rodovias, as estradas sob gestão pública continuam bem piores que as privadas.

O fracasso em alavancar a infraestrutura via investimento público fez o governo voltar a tentar atrair o investidor privado. Ainda no governo Lula, várias estradas foram privatizadas. Mas com foco demais na modicidade tarifária: os pedágios foram baixos, mas os investimentos também. Em algumas dessas estradas, o número de acidentes aumentou e os pedágios depois subiram à frente da inflação.

Passados 10 anos, o atual governo ainda não encontrou um equilíbrio que permita deslanchar o investimento em infraestrutura. O fracasso com a privatização da BR-262 deixou isso claro. Em especial, o atual modelo de concessão e a prática regulatória carregam elevado risco político-regulatório.

É preciso mudar isso, ou ficaremos à base de sucessos pontuais, enquanto o investimento em infraestrutura continua baixo. É preciso adotar uma estratégia em três frentes. Em projetos com interesse comercial, deve-se seguir com a privatização, como planeja o governo. Quando não for possível viabilizar o projeto apenas com as tarifas, devem-se usar as PPPs. Um modelo interessante é fazer um leilão e dar a concessão para quem pedir menos subsídio público. Isso é mais transparente e eficiente, e embute menos risco, do que subsidiar via juros baixos do BNDES ou compras da Valec. E, para projetos sem cobrança de tarifas, recorrer ao investimento público.

Mas também se precisa de melhorias de gestão e fortalecimento do aparato regulatório. É irrealista achar que teremos grandes investimentos em infraestrutura sem a devida proteção à rentabilidade dos projetos, mesmo quando as concessionárias não gozarem da amizade da burocracia do momento.

Esqueci o que escrevi - ALEXANDRE SCHWARTSMAN

FOLHA DE SP - 25/09

"Neutralidade" fiscal do BC equivale a manter ingestão cavalar de calorias e esperar que paciente vá perder peso


O médico examina o paciente: acima do peso, pouco exercício, ingestão diária de 5.000 kcal. A recomendação é óbvia: "Ou o senhor reduz as calorias, ou aumenta a carga de exercício, ou uma combinação dos dois; sem estas providências, continuará a ganhar peso". Ao que o paciente responde: "mas, doutor, prometo não aumentar a ingestão para 6.000 kcal/dia; assim devo perder peso mesmo que não me exercite mais, certo?".

Ainda não pensei na resposta do médico, que deve oscilar entre mandar o paciente embora ou discretamente pedir para que experimente uma camisa de força, "só para ver se cabe em outra pessoa com o mesmo tipo físico, sabe?", mas, se alguém acha este diálogo irreal, bem, aí sugiro que leia as declarações do presidente do Banco Central à Comissão Mista do Orçamento feitas na quarta-feira passada.

Naquele fórum, explicou o que queria dizer o parágrafo 21 da ata do Copom, que mencionava a criação de "condições para que, no horizonte relevante para a política monetária, o balanço do setor público se desloque para a zona de neutralidade", ou seja, que o governo passe a controlar seus gastos.

Segundo ele, "olhando para frente, entendemos que criam-se [sic] as condições para que não tenhamos um balanço do setor público menor que neste ano".

Em outras palavras, a definição de "neutralidade" da política fiscal segundo o BC é equivalente à manutenção do balanço do setor público no mesmo nível de um período para outro, independentemente deste ser um deficit de 10% do PIB, ou um superavit de 10% do PIB.

Desde que seja mantido no mesmo nível, ele seria neutro, e, portanto, não requereria "" do ponto de vista da meta de inflação "" qualquer ajuste compensatório da política monetária.

A esta altura, os 18 fiéis, mais do que acostumados ao uso intensivo da metáfora alimentar, já compreenderam o problema da definição de "neutralidade" fiscal do BC.

Ela é rigorosamente equivalente a manter uma ingestão cavalar de calorias e esperar que o paciente, no caso o Brasil, perca peso sem se exercitar, isto é, consiga reduzir a inflação sem alterar a política monetária.

A verdade é que, exceto em casos de economias muito deprimidas, o gasto público disputa o produto com o gasto privado. Quanto maior é o primeiro, tanto menor deverá ser o segundo, se o objetivo for manter a produção próxima ao nível máximo que a economia consegue sustentar sem gerar pressões inflacionárias (isto é, o "produto potencial").

No caso, como é a taxa de juros que tem o papel de conter o dispêndio privado, deficit públicos elevados acabam gerando a necessidade de taxas de juros altas para conter a inflação e vice-versa.

Obviamente se o deficit for crescente, a taxa de juros que mantém o produto ao redor do "potencial" também o será, mas a relação original se dá entre o nível do balanço fiscal e o nível da taxa de juros, não entre a variação do balanço público e o nível da taxa Selic.

Não é por outro motivo que os modelos desenvolvidos e empregados pelo BC para prever o comportamento da inflação usam como insumo o nível do superavit primário medido como proporção do produto.

Caso a definição mencionada pelo presidente do BC fosse a adequada, os modelos teriam que utilizar a variação do superavit primário para prever a inflação, o que, felizmente, não fazem.

Isto dito, o presidente da instituição é coautor do artigo que detalha a formulação original do modelo de projeção de inflação, ainda hoje (devidamente aperfeiçoado e atualizado) o principal instrumento empregado na definição da política monetária. Seria surpreendente, pois, se desconhecesse os temas acima discutidos, a menos que tivesse esquecido o que escreveu.

Neste sentido, a definição de "neutralidade" fiscal adotada parece um artifício para justificar a bem conhecida leniência do BC no que se refere à sua tarefa de entregar a inflação na meta. Ou um caso grave de amnésia intelectual.