terça-feira, outubro 04, 2011

ANCELMO GOIS - DE OLHO NAS GREVES



DE OLHO NAS GREVES
 ANCELMO GOIS
O GLOBO - 04/10/11

Guido Mantega, discretamente, atua nessas greves dos Correios e dos bancários.
O ministro da Fazenda teme que haja aumentos de salários num patamar que empurre ainda mais a inflação para cima.

ROBERTO EXPORTAÇÃO 
O show de Roberto Carlos em Jerusalém pode ter aberto um filão para nosso principal cantor.
Há propostas para que RC faça apresentações nesse modelo nos EUA, na Croácia, na Itália e até em Beirute, onde vivem uns 60 mil brasileiros.

CASACO MARROM... 
Aliás, Danilo Caymmi, depois de cantar no Teatro Rival, no Rio, no fim de semana, Casaco Marrom, brincou:
— Meu sonho é ter essa música gravada pelo Roberto...
Como se sabe, o Rei não usa nada da cor marrom.

SHOPPING AÉREO 
A Infraero baixou novas regras para concessões de áreas comerciais nos aeroportos.
A ideia é estabelecer critérios objetivos para inibir a ocupação de seus espaços com o mesmo ramo de atividade por uma única empresa ou por um só grupo econômico no mesmo terminal.

BRASIL QUE MUDA 
Deu no Diário Oficial da União.
Entrou em vigor a resolução 615/2011, do Conselho Federal de Serviço Social, que permite a assistentes sociais travestis ou transexuais 
usarem seu “nome de guerra” na carteira de identidade profissional.

VOAR, VOAR... 
O cantor Biafra foi reconhecido numa fila do supermercado Guanabara, na Barra, no Rio, no fim de semana.
A pedidos dos clientes e até da caixa, o simpático artista começou a cantar “Voar, voar, subir, subir...”. Não é fofo?
A VIAGEM DO BARCO Um parceiro da coluna pagou US$ 139 (uns R$ 262) por um barco do capitão Barba Negra para o filho na loja Lego, no Rockefeller Center, em Nova York.
Num shopping do Rio, viu que o mesmo brinquedo sai por R$ 956! Na minha terra, o nome disso é... Deixa para lá. 

AS BRECHAS DA LEI 
O novo livro do historiador Marco Antonio Villa se chama A História das Constituições Brasileiras – 200 Anos de Luta Contra o Arbítrio.
Sai este mês pela LeYa.

NOSSAS DESCULPAS 
Uma corrente de amigos de frei Cláudio, de Belo Horizonte, reclama de uma nota que dizia que ele não tinha passado pelo teste do bafômetro numa blitz da Lei Seca, pois “havia bebido na hora da comunhão”.
Frei Cláudio, pároco querido da Igreja do Carmo, nega a veracidade da notinha.

MINISTRO BOSSA NOVA 
Gastão Dias Vieira, novo ministro do Turismo, diz que os visitantes do Rio sentem falta de uma casa de espetáculo 
que celebre a bossa nova.
Gastão é do Maranhão. Mas viveu um tempo no Rio, onde fez mestrado em Direito na PUC.

O FIM DA ‘GATONET’? 
Já são 2.134 famílias nos complexos de favelas do Alemão e da Penha, no Rio, que compraram o pacote Via Paz, da Embratel, com 40 canais, a R$ 29.

JOSÉ SÉRGIO GABIELLI DE AZEVEDO - O que pagamos não é pouco


O que pagamos não é pouco
JOSÉ SÉRGIO GABIELLI DE AZEVEDO
O Globo - 04/10/2011

Muito se fala sobre royalties e participações especiais pagos pela indústria de petróleo no Brasil. Contas são feitas. Discursos são inflamados. Uns acham que pagamos pouco, outros, que pagamos errado. Alguns querem mudar o atual sistema de divisão do que se arrecada com a produção de petróleo em todo o país. No Congresso, tramitam dezenas de projetos tratando desses e de outros assuntos que nos dizem respeito. É por isso que a Petrobras quer dar a sua versão.

"Participação especial" é o nome de um dos "tributos" pagos pela indústria petrolífera aos governos federal, estadual e municipal, nos contratos de concessão, como compensação da extração do petróleo. É a "participação" governamental nos resultados das atividades da indústria.

Desde a implementação da participação especial, em 1998, os valores pagos cresceram substancialmente como resultado do crescimento da produção e dos preços médios do petróleo. Em 2000, com produção diária de 1 milhão e 464 barris por dia (bpd) a preço unitário médio de US$28,5, houve uma arrecadação de pouco mais de R$1 bilhão.

Em 2010, com produção de 2 milhões e 449 bpd a preço unitário médio de US$79,5, foram recolhidos por todas as operadoras, a título de participação especial, R$11,7 bilhões, variação superior a 1000% (fonte ANP). No período o valor médio do preço do petróleo subiu em torno de 180% e a produção nacional cresceu aproximadamente 67%.

Um dos maiores equívocos cometidos contra a indústria petrolífera é em relação à base de cálculo da participação especial. A Petrobras não paga a participação especial com base no preço do barril de petróleo a US$15. O valor de participação especial, receita governamental adicional ao royalty, leva em conta os preços internacionais do petróleo conforme atualizados mensalmente pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis, segundo estabelece o Decreto 2.705/98 em seu artigo 7º.

Além disso, o critério para definição da participação especial não leva em consideração apenas o preço do barril do petróleo. Ele é somente um dos componentes da rentabilidade do campo, que é influenciada pelo volume produzido e pelos custos de investimentos e operacionais.

Para cada campo de petróleo e gás natural existe um contrato de concessão celebrado entre as empresas e a ANP para exploração e produção. Neste contrato são definidas explicitamente as condições para pagamento das participações, de acordo com a Lei 9.478/97 e o Decreto 2.705/98. Os editais de cada licitação para exploração e produção de petróleo e gás também refletem os termos da legislação.

A participação especial incide sobre campos de maior volume de produção e rentabilidade. Conforme volume de produção e localização, as alíquotas variam de 10% a 40% da receita líquida. É preciso lembrar que os critérios para definição destas alíquotas foram estabelecidos em cada contrato de concessão de forma a preservar a viabilidade comercial dos campos aos quais se aplicam.

Alterações na participação especial que venham a majorar os valores a serem pagos configurariam descumprimento de contratos firmados com base na legislação vigente. Eventuais alterações nas normas da participação especial servirão para os contratos futuros, como ocorre na maioria dos países, e serão consideradas pelas empresas nas suas ofertas na ocasião dos processos licitatórios da ANP.

É importante destacar que, em 2010, a Petrobras pagou aproximadamente R$20 bilhões de royalties e participações especiais para União, estados e municípios brasileiros. Desse total, R$9,3 bilhões foram em royalties e R$10,8 bilhões em participação especial. Da arrecadação total destinada aos estados e municípios produtores, o Estado do Rio de Janeiro e seus municípios produtores receberam cerca de R$5,5 bilhões de participação especial (94%), e R$4,3 bilhões (67%) da arrecadação dos royalties. Não é pouco.

ILIMAR FRANCO - Na muda


Na muda
ILIMAR FRANCO
O GLOBO - 04/10/11

A presidente Dilma não pretende se posicionar publicamente sobre a divisão dos royalties do petróleo como quer o governador Sérgio Cabral. Lideranças do governo disseram ontem que a proposta dos senadores Vital do Rêgo (PMDB-PB) e Wellington Dias (PT-PI) não pode ser comparada com a do ex-deputado Ibsen Pinheiro. Logo, não acham razoável que a presidente Dilma faça como o ex-presidente Lula e antecipe um veto à lei.

A linha dos líderes do governo

A maioria dos senadores está construindo uma proposta de divisão dos royalties do petróleo, nas áreas já licitadas, que contraria os interesses do governador Sérgio Cabral (RJ). O líder do governo no Congresso, José Pimentel (PT-CE), disse ontem: "Vamos construir uma proposta que permita preservar os direitos adquiridos desses estados (RJ e ES), garantindo as receitas que eles recebiam em 2010". O líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), resume: "Todos vão perder um pouco. A União já abriu mão de receitas; os estados e municípios produtores vão perder e os estados não-produtores não vão ganhar o que querem de uma só vez, vai ter de ser gradativo".

PROVOCAÇÃO. O deputado Otavio Leite (PSDB-RJ) sugeriu ontem, na reunião com o governador Sérgio Cabral, que este chamasse o ex-presidente Lula para ajudar o Rio no debate dos royalties. O deputado Stepan Nercessian (PPS-RJ) protestou: "Deixa o homem descansar!" Embora Cabral tenha dito que iria conversar com Lula, a ideia de envolvê-lo na batalha foi arquivada, pois poderia ferir a autoridade da presidente Dilma.

Dilma sugere à Fifa o "Bolsa Ingresso"

Na conversa com o secretário-geral da Fifa, Jérôme Valcke, a presidente Dilma sugeriu à entidade que ela ofereça uma cota de ingressos a preços populares, permitindo que também os mais pobres possam, se quiserem, assistir aos jogos da Copa do Mundo de 2014. Valcke ficou surpreso com a proposta, mas afirmou que ela era simpática e que a Fifa poderia pensar em reservar parte das cadeiras nos estádios para esse fim.

Os estados produtores terão uma perda pequena, que será compensada, no ano que vem, com o crescimento da produção de petróleo" - Humberto Costa, líder do PT no Senado (PE)

Cochicho

Comentários no Planalto sobre as declarações do senador Lindbergh Farias (PT-RJ): "O Rio não tem 10% dos votos no Congresso, e ele briga com todo mundo"; e "A postura agressiva não ajuda o Rio na votação, mas o ajuda com os eleitores".

Escala

Deputados da base aliada estão fazendo rodízio para garantir quorum na Câmara às segundas e às sextas-feiras. O objetivo é assegurar a contagem do prazo mínimo para votar a prorrogação da Desvinculação das Receitas da União até 2015.

Limpando a barra

O deputado Brizola Neto (PDT-RJ) aproveitou a reunião com o governador Sérgio Cabral para dizer que está do lado da bancada do Rio no debate dos royalties do petróleo. "É importante o Rio buscar uma saída negociada", disse ele.

Desmatamento

Rondônia foi o estado com maior aumento relativo do desmatamento da Amazônia, com 103%, de janeiro a agosto deste ano, em relação ao mesmo período do ano passado. E o Maranhão teve a maior queda relativa, com 66%.

FOCADA. A única coisa que realmente importa para a presidente Dilma neste momento é a política econômica. Ela está obcecada por esse tema.

PARCERIA. A ministra Tereza Campello e Brad Smith, um dos vice-presidentes mundiais da Microsoft, discutiram ontem a adaptação de tecnologias para o cadastramento da população extremamente pobre.

A MINISTRA Ana de Hollanda (Cultura) e a comissária da União Europeia Androulla Vassiliou assinam hoje programa para promover seminários de economia criativa, intercâmbio de artistas e intelectuais.

FABRÍCIO CARPINEJAR - Falso brilhante


Falso brilhante
 FABRÍCIO CARPINEJAR
ZERO HORA - 04/10/11

Há o condicionamento de que amor mesmo, de verdade, é gastar metade do salário para a esquadrilha da fumaça assinar o nome da namorada pelos céus de Porto Alegre.

Temos uma noção de que amor mesmo, de verdade, é exibicionista. Depende de surpresas públicas de afeto como serenata na janela, carro de som, anúncios na TV, outdoors com pedido de casamento.

Mulheres e homens se desesperam por um amor público, encantado, de estádio cheio, e cobram provas mirabolantes de seus parceiros. Reclamam da rotina, da previsibilidade, e exigem declarações barulhentas para despertar a inveja do próximo.

O amor espalhafatoso recebe a fama, mas o amor contido é o mais profundo.

Ao procurar o amor empresarial, desprezamos o amor funcionário público, que atende às ligações e escreve nossos memorandos.

Ao perseguir o amor de cinema, desdenhamos o amor de teatro, de quem encena a peça todo dia ao nosso lado, sempre com uma interpretação nova a partir das falas iguais.

Ao cobiçar o amor sensual de lareira e restaurante, apagamos a delícia de comer direto nas panelas, sem pratos, sem medo do garçom.

Ao perseguir a aventura, negamos a permanência.

Preocupados em ser reconhecidos mais do que amar, esquecemos a verdade pessoal e despojada do nosso relacionamento. Recusamos o amor constante, o amor cúmplice.

Não valorizamos a passionalidade silenciosa, a passionalidade humilde, a passionalidade generosa, a passionalidade tímida, a passionalidade artesanal.

O passional pode ser discreto na aparência e prático na ternura.

O amor mais contundente é o que não precisa ser visto para existir. E continuará sendo feito apesar de não ser reparado.

O amor real é secreto. É conservar um pouco de amor platônico dentro do amor correspondido. É reservar as gavetas do armário mais acessíveis para as roupas dela, é deixar que sua mulher tome a última fatia da pizza que você mais gosta, é separar as roupas de noite para não acordá-la de manhã. E nunca falar que isso aconteceu. E não jogar na cara qualquer ação. E não se vangloriar das próprias delicadezas.

Buscá-la no trabalho é o equivalente a oferecer um par de brilhantes. Esperá-la com comida pronta é o equivalente a acolhê-la com um buquê de rosas vermelhas.

São demonstrações sutis, que não dá para contar para os outros, mas que contam muito na hora de acordar para enfrentar a vida.

PAULO SANT’ANA - Mulher, carro e celular


Mulher, carro e celular 
PAULO SANT’ANA
ZERO HORA - 04/10/11 

Mulher é como telefone celular. Incomoda, perturba, toma conta de todo o nosso tempo e atenção, mas é imprescindível e fundamental.

Já pensei em devolver meu celular à TIM, mas desisto sempre. E, também, por mais que me esforce para tanto, não consigo devolver minha mulher para o fabricante.

Se eu tivesse só telefone fixo, sem celular, minha vida seria mais tranquila, eu poderia organizar-me melhor, não interromperia minhas tarefas nem meus percursos, mas, pensando melhor, sem celular, quanta coisa seria perdida em minha vida, quantos recados importantes deixaria de receber, quantas mensagens necessárias deixaria de enviar.

Com telefone celular, eu sou um atrapalhado. Sem telefone celular, eu ficaria desligado completamente de pontos essenciais da minha existência.

O telefone celular, em síntese, é um mal necessário.

Olho para as pessoas ao meu redor que não têm telefone celular. São seres amorfos.

Vejam o caso do Kenny Braga. Ele não tem telefone celular e nunca dirigiu um carro.

Ou seja, a vida dele só endireitaria se contratasse um motorista e um telefonista.

Eu não entendo como uma pessoa pode não saber dirigir nem contrata um motorista.

Será que um ônibus e um táxi resolvem a falta de um carro próprio? Eu não sei, o Kenny Braga está já com 60 anos de idade e vai levando a vida sem celular e sem carro. Será que seria capaz de arrastar sua vida sem uma mulher?

Pensando bem, quando o Kenny Braga quer visitar sua terra natal, Livramento, compra uma passagem de ônibus. Quando quer deixar a Cavalhada, bairro em que mora, e vir trabalhar na Rádio Gaúcha, ele simplesmente embarca num coletivo.

Estive meditando que a minha vida, que tenho carro, não é nada melhor que a do Kenny. Pelo contrário, só eu sei o trabalho e a incomodação que me dá meu carro.

Todos os dias, eu noto uma batida na lataria do meu carro. “Mas como, se eu não bati, como pode estar arranhado ou amassado meu carro?”, é o que pergunto.

Acontece que, sem perceber, não sou só eu que dirijo meu carro. Todos os dias entrego meu carro a dois ou três manobristas de garagens. E acaba meu carro, no fim de semana, aparecendo com batidas na lataria.

Já o Kenny tem o privilégio de não conhecer nenhum manobrista na cidade.

Sem falar que o Kenny nunca gastou um tostão em combustíveis. Eu já vivi umas 40 crises internacionais do petróleo e sei bem o que me custou isso em gasolina: na minha vida inteira, daria para eu comprar mais uns 10 carros.

E o Kenny nunca gastou um tostão em IPVA, um maldito imposto que se paga pelo carro e que não dá direito nem a não pagar pedágio e outros tributos que acabam incidindo sobre o carro, inclusive flanelinha.

Refletindo mais atentamente, dá para viver perfeitamente sem carro, sem celular.

E até sem mulher.

E hoje é Dia dos Animais. Respeitemos esses adoráveis companheiros de nossa vida.

MIRIAM LEITÃO - Círculo europeu


Círculo europeu
MIRIAM LEITÃO 
O GLOBO - 04/10/11

Ler notícia velha sobre a crise europeia prova que as lideranças políticas estão sempre atrasadas e isso tem alimentado o agravamento do problema. Em fevereiro de 2009, a Comissão Europeia anunciou que abriria procedimento para saber o que fazer com cinco países, entre eles a Grécia, que tinham estourado o limite de 3% do PIB de déficit público. A Grécia disse que o déficit será de 8,5% este ano.

Os gregos anunciaram ontem que colocarão em "reserva" 30 mil funcionários públicos. Eles ficarão em casa sem trabalhar, com salário reduzido, e dentro de um ano serão demitidos. Um quinto da população economicamente ativa da Grécia trabalha para o governo. O país tem 11 milhões de habitantes, mas 3,5 milhões de população economicamente ativa. Desses, 750 mil são funcionários públicos. Visitados pela "troica" - representantes do FMI, Banco Central Europeu e Comissão Europeia - os gregos avisaram que não cumprirão as metas fiscais de 2011 e 2012, que são muito maiores do que os sonhados 3% de quando a UE foi organizada.

A revista Economist avisou que é para ter medo desta crise. Segundo ela, o mais preocupante é a incapacidade dos líderes de encontrar uma saída factível e rápida. "O melhor que pode ser dito é que eles agora têm o plano de ter um plano", mas só será discutido na reunião do G-20 em meados de novembro. O plano será fazer um círculo de proteção para a Itália, que tem um problema de liquidez, mas não de solvência; negociar uma reestruturação da dívida grega com perdas para os bancos; garantir que os bancos não terão novas perdas com outros países, e assim isolar o pior caso. É até um avanço o déficit de 8,5% da Grécia, porque em 2010 foi de 10,5%. Este ano, a previsão era de recessão de 3,5% e está indo para 5,5%. Os gregos ficaram presos no círculo que a América Latina conhece bem: os ajustes para enfrentar a crise da dívida soberana são muito fortes e aprofundam a recessão; a recessão piora o déficit.

Em fevereiro de 2009, a notícia era que a meta de 3% do PIB de déficit havia sido estourada por Espanha, França, Irlanda, Grécia e Letônia, em 2008. Hoje, esse número até parece bom. A Grécia naquele ano deu um susto na União Europeia quando o atual governo assumiu e descobriu que fraudes contábeis haviam escondido o real tamanho do rombo. Ele foi recalculado para nada menos que 9,8% do PIB. Em 2009, foi a 15,5% e em 2010 ficou em 10,5%. A Grécia entrou num círculo vicioso que a leva à mais dívida, mais déficit, mais dívida, mais déficit.

Os bancos credores desconfiam do país; o mercado desconfia dos bancos credores. Quando a Grécia recebeu a ajuda de 110 bilhões de euros para um PIB de US$ 318 bilhões, o país prometeu levar o déficit aos desejados 3% em 2014. Isso dificilmente vai acontecer. Hoje, a dívida é de 158% do PIB. O pior é que isso vem após um momento de prosperidade. Desde que aderiu à Zona do Euro a Grécia passou um tempo crescendo mais do que a média, principalmente na preparação das Olimpíadas de 2004.

A Zona do Euro não é funcional. Foi feita para tudo dar certo. Quando dá errado, qualquer solução tem de ser aprovada pelos parlamentos de 17 países que usam a moeda - dos 27 que fazem parte da UE - e para inúmeras questões os países têm direito de veto. Isso iguala a Alemanha, país mais forte da região, com a Grécia, o mais vulnerável. O BCE comprou muita dívida dos países endividados para mostrar o seu compromisso com a moeda comum. O próprio banco está com ativos podres, principalmente na hipótese aterradora de haver uma sucessão de moratórias como houve na América Latina nos anos 80. O francês Jean Claude Trichet sairá do BCE ao fim do mês e seu sucessor será Mário Draghi. Caberá a um italiano decidir sobre o resgate da Itália com o dinheiro de todos os europeus.

A Alemanha tem um poder pulverizado e um eleitor mandando sinais contraditórios: não quer que o euro acabe, mas não quer resgatar a Europa inteira. Os outros países estão presos nos seus dilemas: querem que os governos frágeis sejam resgatados mas temem fortalecer mais a Alemanha. Na França, o poder está mais concentrado no presidente Nicolas Sarkozy, porém ele está em campanha eleitoral e os bancos franceses estão expostos aos países encrencados.

A Europa está prisioneira de círculos. O continente é grande demais para que uma crise lá não afete o mundo inteiro com suas conexões mais estranhas. Ontem de novo o dólar subiu no Brasil, venceu a barreira do R$ 1,90 e o Banco Central teve novamente que vender dólar. Desde que começou a subir, a moeda americana já acumula alta de 18,6%. Pelo cálculo da Economática, tirando a Petrobras, o estoque da dívida das 240 empresas de capital aberto subiu R$ 15 bilhões no trimestre pelo efeito da desvalorização sobre o endividamento em dólar.

O que mais aflige na crise do euro é não saber exatamente quem está no comando da solução. Por mais inquietantes que fossem as outras crises, como a americana em 2008, havia um governo. Quem tem 17 governos não tem nenhum; uma estrutura que dá ao país resgatado e ao que vai resgatá-lo o mesmo poder de veto construiu uma governança inviável.

Uma moeda única que tem 17 tesouros nacionais tem dificuldade de ficar em pé. Essa crise é mais complicada que as outras.

ELIANE CANTANHÊDE - De escanteio


De escanteio
 ELIANE CANTANHÊDE
FOLHA DE SP - 04/10/11

Foi uma pena o presidente da Fifa, Joseph Blatter, ter dado o cano e enviado o seu segundo, Jérôme Valcke, para enfrentar o touro, ou “toura”, à unha. Dilma Rousseff, que atropelou bonitinho o Ricardo Teixeira, da CBF, saiu do Brasil com o discurso na ponta da língua para defender o país e as leis brasileiras para a Copa. Ela falou e disse.

O governo pesquisou as duas últimas copas para se preparar não só para sediar os jogos, mas também para segurar o tranco das pressões da Fifa, que não são poucas e às vezes são tipo chute na canela. Exemplo: quando Blatter critica o cronograma brasileiro e lança dúvidas sobre a capacidade do país de fazer um bom trabalho, um bom espetáculo, diz que “a Copa é amanhã e o Brasil pensa que é depois de amanhã”.

Uma das experiências foi a da África do Sul (2010), que teve de suportar a ingerência e a arrogância da Fifa, quase uma intervenção. Outra foi a da Alemanha (2006), que negociou de homem para homem, apesar de igualmente liderada por uma mulher, Angela Merkel.

As consultas foram principalmente em conversas olho no olho, ora entre embaixadores, ora entre assessores políticos, ora entre envolvidos diretamente na organização e realização das Copas. Evidentemente, a experiência da África do Sul mostra o que o Brasil não deve engolir, e a da Alemanha dá pistas de como reagir à altura. Dilma até pode, e deve, ceder em pontos daqui e dali. Afinal, a Copa não é do Brasil, é do mundo. Mas sem agredir as leis brasileiras.

Uma questão de honra para ela é garantir meia-entrada para os acima de 60 anos. Além de se afirmar na seara internacional, Dilma aproveita para ganhar mais uns pontinhos internamente. Não só da terceira idade, mas também dos que adoraram o escanteio de Ricardo Teixeira. O problema, porém, é outro: a infraestrutura vai ficar pronta?

CLÓVIS ROSSI - Do 'pop star' à gerente


Do 'pop star' à gerente
CLÓVIS ROSSI 
FOLHA DE SP - 04/10/11

Em 36 anos de cobertura de viagens presidenciais ao exterior, jamais havia visto o que ocorreu anteontem, quando Dilma Rousseff se instalou no hotel Sheraton de Bruxelas, para uma estada de três dias: não havia uma única mísera câmera/microfone de televisão para registrar o momento. Mesmo jornalistas de texto éramos três ou quatro.
Descontada a improvável hipótese de um erro coletivo das redes de TV, esse microinstantâneo mostra que a diplomacia presidencial brasileira mudou o jeito de ser.
Sai o "pop star" Luiz Inácio Lula da Silva, designação que lhe tascou outro dia o "Monde", mesmo já como ex-presidente, entra a sóbria gerente Dilma Rousseff.
Explico melhor: com Lula e com os seus antecessores, especialmente Fernando Henrique Cardoso, os jornalistas éramos obrigados a ficar permanentemente de plantão porque sempre havia a possibilidade de que o governante falasse algo inesperadamente.
Ou, no caso de Lula em especial, sempre havia um grupo de petistas a procurá-lo, bandeiras à mão e gritos de "Lula/lá" na garganta -imagem imperdível. Para Dilma, aqui em Bruxelas, nada, apesar de ser a capital europeia em que, proporcionalmente, existe o maior número de brasileiros residentes -parte da diáspora.
Dilma não fala com os jornalistas de maneira improvisada. Nem mesmo para comentários banais, como "o dia está lindo" ou "gostei do museu que visitei" (como o Magritte em que esteve no domingo). Passa batida e vai direto para o carro oficial.
Fala apenas quando decide que é a hora, e sua equipe organiza as coisas para evitar o que costumo chamar de cenas de jornalismo explícito -aquele monte de microfones e gravadores quase no céu da boca do presidente que se submete a essa tortura. É importante deixar claro que prefiro esse modelo, muito mais profissional, do que o caos anterior.
Cansei de dizer aos diplomatas incumbidos da comunicação presidencial em viagens que jamais um presidente francês, a chanceler alemã ou o presidente dos EUA aparecem cercado dos logotipos de emissoras, ao contrário do que acontecia regularmente com os brasileiros.
Feita essa ressalva fundamental, fica evidente outra diferença: Lula divertia-se no exercício do cargo. O que, de resto, é compreensível. Para quem veio de pau de arara de Pernambuco para São Paulo, trocar o velho caminhão pela carruagem de luxo com que presidentes são recebidos em Londres, por exemplo, é para aquecer o coração. Sinal exterior de um homem vitorioso. Já Dilma comporta-se como se desempenhasse uma função, o que não parece incomodá-la, mas tampouco é uma farra.
A mudança de estilo não significa mudança também de conteúdo. Lula diria sobre a crise exatamente o que Dilma disse ontem: não é pela via de ajustes fiscais recessivos que se resolve o problema. Mas Lula subiria num banquinho hipotético para gritar o seu ponto, recheando-o, preferencialmente, com histórias de seu tempo de negociador sindical. Dilma o faz sem alterar o tom de voz, professoralmente.
Que são diferentes na forma está evidente. Se uma forma é mais eficiente que a outra, só o tempo dirá.

GIL CASTELLO BRANCO - O mistério da multiplicação dos pescadores



O mistério da multiplicação dos pescadores
GIL CASTELLO BRANCO 
O Globo - 04/10/2011

A Bíblia conta sobre a multiplicação dos pães e dos peixes. Na Galileia, Jesus pregava para uma multidão quando anoiteceu e aproximou-se o horário do jantar. Diante da preocupação dos seus discípulos, Jesus chamou um menino que tinha à mão um cesto com cinco pães e dois peixes e orientou seus apóstolos a distribuir esses alimentos. O milagre permitiu que mais de 5 mil pessoas fossem alimentadas.

No Brasil, a multiplicação recente não é dos pães ou dos peixes, mas sim dos pescadores. A Lei 8.287 criou o seguro-defeso, a chamada "bolsa pescador". A intenção é correta. Para preservar espécies, o governo paga um salário mínimo aos pescadores artesanais por tantos meses quanto dure a reprodução, com base em portaria do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). Normalmente, o benefício é pago por 4 meses. Aos pescadores, basta comprovar o exercício profissional da pesca e que não possuem outro emprego, bem como qualquer outra fonte de renda.

Seja pela consciência ambiental, seja pela garantida renda fixa e fácil, o número de pescadores cresceu exponencialmente. Em 2003, eram 113.783 favorecidos. Em 2011, já são mais de meio milhão. Ou seja, exatamente 553.172 pessoas afirmam viver tão somente da pesca, individual ou em regime de economia familiar, fato que lhes assegura o direito de receber R$545/mês, durante um terço do ano.

Os gastos do governo, obviamente, cresceram na mesma proporção. Em 2003, o Ministério do Trabalho pagou R$81,5 milhões a título de seguro-desemprego aos pequenos pescadores. Neste ano, a dotação do Orçamento Geral da União (OGU) é de R$1,3 bilhão. Este montante corresponde a mais que o dobro do orçamento do Ministério da Aquicultura e Pesca para 2011 (R$553,3 milhões). O valor bilionário pago com recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador aos que vivem da pesca artesanal é, também, quase 3 vezes maior do que as exportações brasileiras de pescado mais crustáceos em 2009, que geraram US$169,3 milhões (R$318,3 milhões, com o dólar a R$1,88). Os números são tão estranhos que parecem "história de pescador"?.

É claro que tem boi na linha e no anzol. O procurador da República em Tubarão, Celso Três, afirma: "O pessoal que atua em outras atividades, que nunca viu um peixe na vida, inscreve-se na colônia de pescadores, paga a anuidade, conta como tempo de serviço e se aposenta. Existem o sindicato e a colônia, quase em disputa para ver quem distribui mais atestados. Na prática, basta não ter carteira assinada. Nós processamos aqui mais de 300 pessoas por fraudes, mas é como secar um oceano."

No Rio de Janeiro, por exemplo, cerca de 1.500 pescadores receberam o benefício em 2011, a maioria residente em Campos (319). Curiosamente, somados todos os pescadores artesanais de Rio de Janeiro, Niterói, Búzios, Angra dos Reis, Araruama, Rio das Ostras, Mangaratiba, Itaguaí e Arraial do Cabo, não se chega à metade dos que moram em Campos.

Para agravar o mistério, os nomes dos contemplados não são divulgados nos portais governamentais, impossibilitando o controle social. Após diversas solicitações, inclusive à Ouvidoria Geral da União, a Associação Contas Abertas obteve a relação nominal dos segurados e dos municípios onde ocorre o defeso. Até em Brasília existem favorecidos.

Como o que está ruim sempre pode piorar, há dois projetos de lei no Congresso Nacional que pretendem estender o seguro-defeso aos pescadores impedidos de exercer a atividade por conta das condições climáticas e, ainda, a toda a cadeia da pesca, incluindo os que transportam, comercializam, reparam embarcações e costuram redes, dentre outras atividades correlatas.

Ao contrário da passagem bíblica, fato que a religiosidade explica, é extremamente necessário que a Controladoria Geral da União, o Tribunal de Contas da União e o Ministério Público investiguem - de imediato e com rigor - a multiplicação dos pescadores, que afronta o bom-senso e exala má-fé.

JOÃO PEREIRA COUTINHO - Casamentos e infidelidades


Casamentos e infidelidades
JOÃO PEREIRA COUTINHO
FOLHA DE SP - 04/10/11 

O divórcio está a chegar. A única dúvida é saber quem abandonará a casa da moeda única primeiro

A crise da União Europeia faz lembrar alguns casamentos: enquanto havia dinheiro, a coisa rolava. Quando o dinheiro deixou de aparecer, começou a estalar o verniz da respeitabilidade conjugal.
Um amigo meu, que eu julgava intelectualmente articulado, dizia-me há tempos que a culpa da crise era da Alemanha. E acrescentava: quem pensam os alemães que são para tratar os gregos como subalternos? A Grécia deu ao mundo a filosofia. Haja respeito. De fato, haja respeito: se esse tipo de "pensamento" fosse para levar a sério, qualquer povo estaria sempre a salvo de crimes ou abusos. Os gregos gastaram o que tinham e não tinham? Mentiram nas contas? Tudo bem: Sócrates e Platão perdoam tudo.
O mais perverso dessa lógica é que ela não se aplicaria só aos gregos. Seria também aplicada aos próprios alemães: quem nos deu Bach ou Goethe pode ser perdoado por falhas posteriores. Como Hitler, por exemplo. Ou não pode?
Curiosamente, não pode: com a Grécia falida e o euro em perigo, não há dia em que os jornais gregos não lembrem supostas dívidas de Berlim a Atenas. Dívidas que remontam à Segunda Guerra, quando as tropas nazistas entraram no país. A exigência dos gregos, dispostos a ressuscitar velhos e perigosos fantasmas, é simples: paguem-nos os US$ 95 bilhões que nos devem e não se fala mais do assunto. Eis o mantra instalado na Europa: os alemães que paguem e não se fala mais do assunto. Curioso: a Europa passou a primeira metade do século 20 a combater a hegemonia germânica. Agora, nos inícios do século 21, a ideia é entregar à Alemanha a hegemonia da Europa. Desde que a Alemanha pague as contas.
O problema é que a Alemanha não quer pagar. Sim, o Parlamento do país aceitou a ampliação do fundo de resgate para evitar a falência imediata da Grécia. Mas o gesto não deve ser visto como o princípio de nada, muito menos como o primeiro passo para a emissão de dívida conjunta (os famosos "eurobonds").
O gesto deve ser visto como um fim. A sociedade alemã está cansada de um negócio onde foram enterrados os dois pilares essenciais da participação da Alemanha na moeda única.
O jornalista Wolfgang Proissl, em notável ensaio para o think tank Bruegel ("Why Germany Fell Out of Love with Europe"), explica esses pilares: a Alemanha abandonou o marco por acreditar que o euro acabaria por respeitar a tradição germânica de rigor monetário e fiscal.
Que o mesmo é dizer: o Banco Central Europeu seria independente de pressões políticas; e, mais importante, a União Europeia jamais seria convertida numa mera "união de transferências", em que os países mais ricos pagariam as dívidas dos mais pobres. A crise da Grécia -e da Irlanda, e de Portugal, e da Espanha, e da Itália- destroçou essas promessas. A compra maciça de dívida soberana dos países em dificuldades pelo Banco Central Europeu não é apenas uma grosseira violação da independência política da instituição, à revelia da própria lei europeia. É a violação de um compromisso de honra com a Alemanha.
E, sobre uma "união de transferências", ela é hoje fato consumado. No ensaio, Wolfgang Proissl é conciliador e espera que Angela Merkel mostre aos alemães as vantagens da União Europeia e do euro para a própria economia alemã. É uma esperança nobre, sem dúvida, mas duvidosa.
Para começar, a União Europeia como "projeto de paz" era um imperativo para a elite política alemã saída da guerra. Não tem o mesmo charme para a geração nascida nos anos 50 e 60, que não está disposta a carregar (e a pagar) o fardo da culpa germânica para todo sempre.
E, sobre as vantagens econômicas do euro, relembro: a Alemanha é hoje uma potência global, não apenas europeia. E haverá um momento em que as vantagens do divórcio serão maiores do que as vantagens de um matrimônio putrefato.
O divórcio está a chegar. A única dúvida é saber quem abandonará a casa da moeda única primeiro: se a Alemanha, se os países incumpridores. Uma coisa, porém, é certa: quando o divórcio chegar, os alemães serão cobertos com os piores insultos. Como sempre. Só que, desta vez, não foi a Alemanha que foi infiel à Europa. Na história desse casamento, talvez tenha sido o contrário.

RODRIGO CONSTANTINO - Uma petição nacionalista



Uma petição nacionalista
RODRIGO CONSTANTINO
O Globo - 04/10/2011

Prezados ministros, ilustre presidente Dilma. Venho, aqui, apresentar uma petição em nome da Associação Brasileira dos Produtores de Coisas Obsoletas (ABPCO). Tendo observado atentamente as últimas medidas do governo, como a elevação do imposto para carros importados, não pude deixar de notar um claro viés mercantilista.

O governo, finalmente, assume sua postura nacional-desenvolvimentista, que busca proteger produtores nacionais da concorrência externa. Objetivo deveras legítimo. Afinal, faz-se mister garantir os empregos dos brasileiros, não dos chineses ou coreanos. "Quem ama protege", disse Carlos Lessa. E é justamente com base neste nobre ideal que vos apresento esta humilde petição.

A ABPCO representa produtores de carroças, máquinas de escrever, gramofones, lampiões, tudo aquilo que foi injustamente prejudicado pelo avanço da tecnologia capitalista, importada de outros países. Pergunto: é justo um produtor de máquinas de escrever ir à falência só porque inventaram o computador?

Alguns liberais podem argumentar que o computador trouxe inúmeros benefícios para todos os consumidores, gerou produtividade maior na economia e ajudou no progresso da nação. Mas, e quanto aos empregos de todos aqueles pobres trabalhadores envolvidos na manufatura das máquinas de escrever? Como eles ficam sem proteção?

Como representante da ABPCO, regozijo-me ao saber que Vossas Excelências não sois insensíveis como os liberais. Vós compreendeis a importância de se proteger os empregos dos produtores nacionais, ainda que seus produtos sejam piores e mais caros.

Muitos empresários argumentam que o Custo Brasil é alto demais, que não é justo competir com esta infraestrutura, alta taxa de juros, burocracia asfixiante e impostos escorchantes. São reclamações legítimas. Mas o que o governo pode fazer? Reformas estruturais? E como fica a governabilidade? O governo vai reduzir seu raquítico gasto público, de um trilhão de reais? E como ficariam aqueles que dependem do governo? Políticos, burocratas, centrais sindicais, MST, ONGs, empreiteiras e milhões de famílias que vivem do Bolsa Família...

Aliás, permitam-me um parêntese: parabéns pelo recente anúncio do aumento de beneficiados com este programa. Já são quase 14 milhões de famílias! É assim que um programa social, que tem como meta reduzir a miséria, deve ser julgado: quanto mais gente depender do governo para viver, maior o seu sucesso. Maravilhoso será o dia em que todos estiverem no programa. Seremos tão ricos quanto Cuba!

Mas divago. Devo regressar à crítica dos empresários. O governo teria que demitir funcionários, e sabemos como os serviços públicos hoje são excelentes, justamente por conta do enorme aumento no quadro de pessoal durante a gestão petista. A saúde pública, segundo o ex-presidente Lula, é quase perfeita. Esta é uma conquista importante da qual não podemos abrir mão. Escolas excelentes, transporte público de primeira, segurança, e vamos sacrificar isso tudo só para permitir juros menores?

Creio que o caminho escolhido por vosso governo é mais sábio: decretar a redução dos juros na marra, mesmo sem cortar gastos públicos; aceitar mais inflação (o que são míseros 7% ao ano?); aumentar impostos; direcionar crédito subsidiado do BNDES para grandes empresas; e, claro, proteger o produtor nacional.

Alguns ousam chamar o aumento do IPI de protecionismo. Um disparate! O ministro Pimentel soube dar uma resposta à altura: argumentou que não é protecionismo porque as importações não foram proibidas. Brilhante! E é justamente pegando carona nesta lógica impecável que gostaria de propor, em vez de proibir a importação dos concorrentes, uma singela tarifa de 1.000% (o número é arbitrário; aceitamos 900%). Ninguém poderá acusar vosso governo de protecionista.

Finalizo esta petição confiante de que o governo será sensível à demanda dos produtores em questão. Empregos estão em jogo. Não podemos sacrificá-los apenas para o benefício dos consumidores, que, como bem colocou o ministro Mantega, sofrem assédio dos importados.

PS: gostaria de vos alertar quanto a uma campanha que circula na internet, de boicote aos carros nacionais após o aumento do IPI. Se os consumidores deixarem de trocar de carro até o fim do ano, os estoques poderão subir muito, entupindo os pátios das montadoras. Seria terrível para o governo. Mas não fiqueis tão preocupados. O povo é nacionalista. Quem ama o país está disposto a comprar até carroça nacional pelo preço de Ferrari. Contamos com isso...

MERVAL PEREIRA - Dilma e o Rio



Dilma e o Rio
MERVAL PEREIRA
O GLOBO - 04/10/11 

A decisão da presidente Dilma, revelada pelo governador do Rio, Sérgio Cabral, de entrar no Supremo Tribunal Federal juntamente com o governo do estado, caso o veto do ex-presidente Lula ao projeto do deputado Ibsen Pinheiro de distribuição dos royalties do petróleo seja derrubado, deve pôr a discussão nos seus devidos termos, fazendo valer o compromisso do Estado brasileiro com os estados produtores, assumido por Lula.
Não se trata de constranger a presidente Dilma a seguir um compromisso de seu antecessor, como se ela fosse apenas uma caudatária das decisões de Lula, mas sim de mostrar à classe política que o governo brasileiro tem o compromisso de não alterar os acordos já firmados de distribuição de royalties quando o sistema de exploração era de concessão, e não de partilha.
Diante da desinformação a respeito de sua posição pessoal, o governador Sérgio Cabral pedirá que a presidente faça essa afirmação pessoalmente, para balizar a atuação de políticos da base.
A presidente Dilma pensou que poderia se ausentar dessa disputa para que os estados produtores e não produtores chegassem a um acordo sem a interferência do governo, mas está sendo obrigada pelos acontecimentos a assumir uma posição mais explícita para orientar sua bancada. A repercussão política de uma decisão que afete as finanças do Rio seria desastrosa para o governo federal.
Até mesmo alguns campos do pré-sal licitados no regime anterior já estão sendo explorados dentro de regras prefixadas, que não podem ser alteradas como queria o deputado Ibsen Pinheiro.
A negociação para a redistribuição dos royalties do pré-sal ainda não licitados pode se desenvolver sem que seja necessário retirar dos estados produtores o que já lhes é devido por lei.
O Estado do Rio de Janeiro, por ser o maior produtor, seria o mais prejudicado, ficando inviabilizado financeiramente, o que não interessa a ninguém.
O senador do Rio Francisco Dornelles defendeu ontem a proposta de dobrar de 10% para 20% os royalties como maneira de compensar os estados não produtores sem que os produtores percam suas receitas. A bancada do Estado do Rio está trabalhando unida na defesa dos interesses do estado, e a exceção é o deputado federal Brizola Neto, do PDT, que, pensando estar ajudando a presidente Dilma, defende publicamente que o Estado do Rio, que ele deveria representar e defender, abra mão de recursos que são seus para conseguir um acordo com os demais estados.
Não passa pela cabeça do deputado sem voto uma solução que faça a União, ou as companhias de petróleo, abrir mão de parte de seus lucros para equilibrar a divisão dos royalties sem que o Rio seja prejudicado.
Sua atitude é tão insólita que fez com que o secretário estadual de Trabalho e Renda do Rio, Sergio Zveiter, eleito deputado federal pelo PDT, pedisse exoneração do cargo ao governador Sérgio Cabral, do PMDB. Com isso, Brizola Neto volta à condição de suplente, já que não teve votos suficientes para se eleger e está ocupando uma vaga na Câmara dos Deputados graças a um pedido da presidente Dilma ao governador Sérgio Cabral.
Os senadores Francisco Dornelles, do PP, e Lindbergh Farias, do PT, que também fazem parte da base aliada do governo, trabalham ativamente a favor do Estado do Rio sem precisar abrir mão de suas convicções.
O deputado sem voto Brizola Neto, seguindo a orientação de seu líder Carlos Lupi e pensando estar agradando à presidente Dilma, trai os eleitores do Rio de Janeiro por interesses próprios.
O presidente do PSDB do Rio, Luiz Paulo Corrêa da Rocha, escreve, a propósito da coluna de domingo, para garantir que não está perseguindo a família do prefeito de Duque de Caxias, Zito, como a Executiva Nacional considera:
"Será que lutar pela integridade partidária, não permitindo que o prefeito Zito, que deixou o partido, decida a vida do mesmo localmente, é perseguir alguém? Será que a lógica do voto deve prevalecer sobre a integridade partidária?".
Também Marcio Fortes, membro tanto do diretório regional quanto da Executiva Nacional, telefona para garantir que não há perseguição à deputada federal Andreia Zito nem a Claise Maria, deputada estadual.
A explicação para a intervenção da direção regional em Caxias, que foi revogada pela Executiva Nacional, é que o prefeito Zito saiu do PSDB para o PP, mas deixou no partido um grupo seu na tentativa de continuar a controlá-lo, a fim de que o PSDB da cidade apoiasse sua candidatura à reeleição em 2012.
Mas o PSDB estadual quer lançar a candidatura de Laury Vilar, ex-aliado de Zito, para disputar a prefeitura no ano que vem.
Os tucanos do Rio atribuem a decisão da Executiva Nacional ao temor de que a deputado Andreia Zito saia do partido para entrar no PSD, o que deixaria a bancada federal tucana com um número crítico de deputados para exercer certas funções na Câmara.
Os partidos que têm menos de 52 deputados federais (10% da Câmara) ficam em posição secundária, e no momento a disputa está sendo entre o PSDB, com 53 deputados, e o PSD, com 50 deputados.
Os tucanos do Rio alegam que Andreia não deixará o partido porque perderia seu mandato na Justiça. E não pode ir para o PSD - único caso em que ficaria livre de uma sanção - porque em Caxias o novo partido de Kassab já tem um líder que é inimigo da família Zito.

RUBEM ALVES - Sobre Deus



Sobre Deus
RUBEM ALVES
FOLHA DE SP - 04/10/11


"Ao ler as Escrituras, comportamo-nos como um artista que seleciona cacos para construir um mosaico.
Cada religião é um mosaico, um jeito de ajuntar 
os cacos."

"TRÊS HOMENS olham para o horizonte. O sol se anuncia colorindo de abóbora e sangue umas poucas nuvens escuras. Um deles diz: "Vejo, no meio das nuvens vermelhas, uma casa. Na janela, um vulto acena para mim." O segundo homem diz: "Vejo, no meio das nuvens vermelhas, uma casa. Mas não há nenhum vulto acenando para mim. A casa está vazia, é desabitada." O terceiro homem diz: "Não vejo vulto, não vejo casa. Vejo as nuvens abóbora e sangue... E como são belas! Sua beleza me enche de alegria!"Essa é uma parábola metafísica. O primeiro homem vê, no meio das nuvens, um vulto, quem sabe o senhor do universo. Se eu gritar, ele me ouvirá. Para isso há as orações: gritos que pronunciam o Nome Sagrado, à espera de uma resposta. O segundo vê a casa, mas a casa está casa vazia, não tem morador. É inútil gritar, porque não haverá resposta. É o ateu... E como dói viver num universo que não ouve os gritos dos homens... O terceiro, que não vê nem casa e nem vulto, vê apenas a beleza -que nome lhe dar? Acho que o nome seria "poeta".
A beleza é o Deus dos poetas. Quem disse isso foi a poeta Helena Kolody: "Rezam meus olhos quando contemplo a beleza. A beleza é a sombra de Deus no mundo."
Borges relata que, segundo o panteísta irlandês Scotus Erigena, a Sagrada Escritura contém uma infinidade de sentidos. Por isso, ele a comparou à plumagem irisada de um pavão. Séculos depois, um cabalista espanhol disse que Deus fez a Escritura para cada um dos homens de Israel. Daí por que, de acordo com ele, existem tantas Bíblias quantos leitores da Bíblia. Cada leitor vê na Bíblia a imagem do seu próprio rosto.
O teólogo Ludwig Feuerbach disse a mesma coisa de forma poética: "Se as plantas tivessem olhos, gosto e capacidade de julgar, cada planta diria que a sua flor é a mais bonita." Os deuses das flores são flores. Os deuses das lagartas são lagartas. Os deuses dos cordeiros são cordeiros. Os deuses dos lobos são lobos. Nossos deuses são nossos desejos projetados até os confins do universo. Dize-me como é o teu Deus e eu te direi quem és...
Mosaicos são obras de arte. São feitos com cacos. Os cacos, em si, não têm beleza alguma. Mas, se um artista os juntar segundo uma visão de beleza, eles se transformam numa obra de arte. As Escrituras Sagradas são um livro cheio de cacos. Nelas se encontram poemas, histórias, mitos, pitadas de sabedoria, relatos de acontecimentos portentosos, textos eróticos, matanças, parábolas... Ao ler as Escrituras, comportamo-nos como um artista que seleciona cacos para construir um mosaico. Cada religião é um mosaico, um jeito de ajuntar os cacos.
Como no caso do labirinto literário de Borges cujos cacos eram peças de um quebra-cabeças que, juntos, formavam o seu rosto, também o mosaico que formamos com os cacos dos textos sagrados tem a forma do nosso rosto. Há tantos deuses quanto rostos há. Assim, quando alguém pronuncia o nome "Deus" há de se perguntar: "Qual?"

JANIO DE FREITAS - O método



O método
 JANIO DE FREITAS
FOLHA DE SP - 04/10/11

Declaração falsa de presença de deputado, para assegurar-se o benefício financeiro, é fraude

Nos moldes da comissão da Câmara que há duas semanas aprovou 118 projetos, com a presença apenas de um deputado-votante e outro na presidência, as aprovações na quinta-feira com o plenário quase absolutamente vazio levaram a presidente da sessão a um comentário à Folha:
"Vou ser sincera. Não é só o modelo de quinta que está errado, mas o de quarta, o de terça, o de segunda". Rose de Freitas (PMDB-ES) diz ainda que vai apresentar (como convém a uma Freitas, ainda que de linhagem não definida) proposta de reformulação dos métodos da Casa.
Um desses "métodos" é o "modelo" de votações, frequente nas manhãs de quinta e já agora adotado em comissão, com base nas presenças assinaladas por deputados que, em seguida a fazê-lo, fogem para o aeroporto.
Não se trata, porém, de "método" nem de "modelo". A declaração falsa de presença, para assegurar-se o respectivo benefício financeiro, é fraude.
É ação prevista nos códigos penais. Tanto mais se sistemática. Como método, aí sem aspas, de apropriar-se de diárias indevidas pelos cofres públicos.
A sessão em que o deputado Luiz Couto, frade de formação, foi o único a confirmar presença e votar e os 118 projetos, teve a possibilidade de sua anulação comentada com firmeza pelo presidente da Câmara, Marco Maia, naturalmente do PT:
"Se fosse anular, teria que anular também uma porção de votações para trás. E não foi ilegal".
Não consta que a legislação e o direito brasileiro convalidem fraude, seja de que tipo for.
Neste ano, a ausência na segunda, em quase toda a terça, parte da quinta e toda a sexta foi aumentada com a ausência também no que sobrava da quinta-feira dos deputados na Câmara.
Conquista que não veio ao acaso, por iniciativas individuais, algumas hoje, outras em semana adiante.
Nenhuma reformulação que altere esse "método" ou "modelo" será aprovada. O ambiente está sob domínio da fraude. Corrijo: de fraudes.
O bloqueio O bloqueio, pelo Congresso americano, dos US$ 200 milhões de ajuda aos palestinos para alimentação, saúde e administração, expõe mais do que a alegada represália ao pedido de um Estado da Palestina apresentado à ONU, contra a vontade de Israel e dos Estados Unidos.
É um ato de desumanidade. Mesmo em Israel, há críticas fortes ao bloqueio.
Nos Estados Unidos, Bill Clinton foi de franqueza raríssima, por lá, quando atinge o "lobby" israelense e sua poderosa influência sobre decisões congressistas americanas:
"Todo mundo sabe que o Congresso americano é o Parlamento mais pró-Israel do mundo. Os congressistas não precisam provar isso".
Considerada também a carente inteligência da decisão, até o ministro da Defesa israelense, Ehud Barak, é crítico, lembrando a inconveniência do bloqueio à segurança de Israel.
Quando empossou, mesmo sem eleger, George W. Bush, os Estados Unidos talvez tenham decidido expor mais de si mesmos do que o mundo, apesar de tudo, poderia esperar.

JOSÉ PAULO KUPFER - Outros tempos


Outros tempos
JOSÉ PAULO KUPFER
O ESTADÃO - 04/10/11

Pouco mais de um mês depois do lançamento do programa apelidado pelo marketing do governo de Plano Brasil Maior, a mudança do regime automotivo, em meados de setembro,trouxe à baila, mais uma vez, o debate insepulto e inconclusivo em torno do valor e da eficácia das políticas industriais.

Também mais uma vez, a qualidade dos argumentos a favor e contra deixou a desejar.

A resposta mais comum à negação governamental de ofício do caráter protecionista das medidas foi a de um manual econômico já superado.

Não deixa de ser curioso observar que, ao definir as ações do governo como uma volta ao protecionismo dos anos 70, em que se dava proteção e subsídios a setores e empresas escolhidos pelo governo, a crítica emprega conceitos e argumentações dos... anos 70.

No mundo do comércio internacional, as diferenças entre os anos 70 e 2011 são tão gritantes que é melhor deixar na prateleira da história as ideias daquele tempo, tanto para formular políticas quanto para criticá-las. O ambiente econômico em que a questão hoje se coloca é, sem dúvida, muito diferente daquele existente nos primórdios da globalização.

O volume de bens transacionado no mercado global, nesses 40 anos, para começo de conversa, multiplicou por 15.

Se atualmente prevalece o câmbio flutuante, nos anos 70 o regime dominante, recém-saído do dólar-ouro, era o de câmbio fixo, com suas serpentes cambiais a atrelar uns aos outros. Sem falar numa mudança fundamental ocorrida mais à frente, na virada do século,como advento da China - de suas variadas peculiaridades econômicas e comerciais -, como avassaladora protagonista global.

No caso específico do aumento temporário do IPI, por exemplo,seria possivelmente mais apropriado considerar tal "política", apesar de toques típicos, não como industrial, mas, isso sim, comercial.

Uma política, em resumo, de guerra comercial - com seus ingredientes protecionistas -, em reação a um quadro de desvantagens competitivas, exacerbadas por defasagens cambiais.

Algo diverso do ocorrido nas décadas de 70 e 80, quando, sob a liderança de empresas estatais, o protecionismo avançou com o objetivo de substituir importações.

Estimuladas pela polêmica decisão do governo, as discussões sobre as fragilidades competitivas brasileiras deixaram pouco espaço para que se tentasse responder à pergunta crucial: existem razões para o governo querer impor tarifas compensatórias a importações? Um estudo recente, coordenado pela professora Vera Thorstensen, da Escola de Economia de São Paulo (EESP/FGVSP), que durante 15 anos, até 2010, foi a principal assessora econômica da missão brasileira na Organização Mundial do Comércio (OMC), oferece indicações bem detalhadas dos efeitos dos atuais desalinhamentos cambiais, nas grades tarifárias negociadas pelos países na OMC.

Valendo-se de uma variedade de modelos analíticos, a pesquisa leva à conclusão de que, dependendo do grau de valorização ou desvalorização das moedas locais, os países podem estar aplicando tarifas abaixo ou acima dos níveis de proteção negociados na OMC.

No caso brasileiro, diante de câmbios desvalorizados, como os dos Estados Unidos e da China, os níveis tarifários negociados são anulados e, na prática, se tornam negativos. "O Brasil está oferecendo acesso a seus mercados de forma muito mais aberta do que negociou na OMC", avalia o estudo.

Na OMC, porém, não existem, até agora, mecanismos de solução de conflitos cambiais ou de compensação tarifária nesses casos, embora seus dispositivos, de acordo com especialistas, caso da brasileira Vera Thorstensen, abriguem brechas para tanto. Uma hoje inexplicável divisão de tarefas entre OMC e Fundo Monetário Internacional (FMI), estabelecida ainda na época do dólar-ouro, reservou ao Acordo Geral de Tarifas e Comércio (GATT, na sigla em inglês), antecessor da OMC, as questões do comércio internacional, ficando sob controle do FMI os assuntos referentes a balanço de pagamentos e câmbio.

Na ausência, em foro multilateral adequado, de um mecanismo que abra espaço para a proteção das economias nacionais contra situações de dumping cambial, o que resta é sucumbir ou partir para o protecionismo.

Mas aí o que se tem é um falso impasse, na medida em que nenhuma das duas saídas é capaz de levar a um final feliz.

JOSÉ SIMÃO - Ueba! A Dilma é pit búlgara!


Ueba! A Dilma é pit búlgara!
JOSÉ SIMÃO
FOLHA DE SP - 04/10/11 

Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República!

E a piada pronta do dia: "Começa a fase oral do julgamento do Berlusconi". Rarará! Boquete no Bunga Bunga! E Dilma nas Oropa! Dilma desembarca em Bruxelas. Devia ser o nome do ministério dela: AS BRUXELAS! Rarará! Dilma com seu eterno terninho de técnico de futebol. Terninho da Colombo!
E eu só sei duas coisas da Bélgica: eles inventaram a batata frita e acabaram com o Congo! Rarará! E hoje tá na Bulgária. Só que eu já disse que a Dilma não é búlgara, é pit búlgara! Rarará!
E a Gretchen? Eu amo a Gretchen! Ela virou garçonete nos Estados Unidos. Garçonetchen! E a lanchonete logo lançou a promoção Big Mac Gretchen Feliz! Na compra de um Big Mac Chicken você leva de brinde um Big Mac Carne Louca ou uma rabada! Rarará!
E diz que, com a entrada da Gretchen, a lanchonete ganhou duas mesas pra quatro pessoas! E eu já sei o que a Gretchen foi fazer nos Estados Unidos. Doar fundos pro Obama! E se a Gretchen soltar um pum num saco de confete, é Carnaval o ano inteiro! Ueba! E a melhor solução pro Rafinha Bastos fica com o Kibeloco: a GNT contrata o Rafinha para um novo "Manhattan Connection", com Diogo Mainardi, Kajuru e Neto! Vai virar o Maisena Connection, só engrossa. Rarará!
E o Kassab promete fazer o Rock in Rio Tietê. E o palco Mundo vira In Mundo. Palco IMUNDO! Rarará! E aí perguntaram no meu Twitter: o Palmeiras é um time ou uma autoelétrica? Autoelétrica. Porque tá consertando a lanterna! Rarará! E esta: "Casal gay agredido na Paulista não conseguiu prestar queixa na Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância porque não funciona no fim de semana".
Aí um leitor diz: melhor apanhar de segunda a sexta! A intolerância pode se esbaldar no fim de semana! É mole? É mole, mas sobe! Ou como disse aquele outro: é mole, mas trisca pra ver o que acontece!
E mais dois para a minha série Os Predestinados. É que aqui em São Paulo tem um psicólogo chamado Rodrigo PENSADO! E apareceu na televisão uma nutricionista chamada Sonia TRECCO! Rarará! E a Dilma nas Oropa! A vassoura chegou bem? Rarará! Nóis sofre, mas nóis goza!
Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

MÔNICA BERGAMO - FAROL BAIXO


FAROL BAIXO
MÔNICA BERGAMO
FOLHA DE SP - 04/10/11

O índice de confiança dos empresários paulistas voltou a cair: era de 52,7 pontos em agosto e está agora em 50,7, próximo do pessimismo.

CURVA...
Na metodologia adotada pela Fiesp e pela CNI (Confederação Nacional da Indústria), 50 pontos significam neutralidade. Quando o índice está acima disso, os industriais estão otimistas; abaixo, pessimistas.

... PERIGOSA
A queda tem sido constante desde janeiro de 2010, quando o índice de confiança chegou a 69,4. Caiu para 59 em janeiro de 2011 e para 55,7 em julho. E agora chega perto do ponto de virada. Nas grandes empresas, a queda na confiança é maior.

EM PEDAÇOS
O desânimo entre os paulistas ainda é maior do que no resto do país. O índice de confiança brasileiro se manteve em 56,4 pontos entre agosto e setembro. Mas já teve momentos melhores: em janeiro de 2010, chegou a 68,7 pontos.

NO TRIBUNAL
A Record está tentando penhorar os bens de Datena. A emissora apresentou pedido à Justiça na semana passada, argumentando que ele rompeu o contrato com a empresa ao deixar a TV para retornar à Band. Seus advogados reagiram pedindo a extinção da execução. Eles alegam que quem rompeu o contrato foi a Record -entre outros motivos, impondo uma "lei do silêncio" ao apresentador ao proibir que ele desse entrevistas.

EM NÚMEROS
A execução da TV Record contra Datena giraria em torno de R$ 30 milhões.

DILMA BÚLGARA
O livro "Rousseff", sobre a trajetória da família búlgara da presidente Dilma, será lançado no país europeu. A editora Sinova quer aproveitar a visita dela à Bulgária, nesta semana, e recrutou quatro tradutores para dar conta do trabalho. Para pegar carona na popularidade de Dilma, a capa original será substituída pela foto oficial da presidente.

ENRIQUECEM JUNTOS
O escritor Gustavo Cerbasi, especialista em finanças pessoais, assinou contrato com a editora Sextante. Dois novos livros estão programados: "Pais Inteligentes Enriquecem seus Filhos", em novembro, e uma obra, ainda não definida, no primeiro semestre de 2012.

ONDE ESTÁ
Fernando Morais não pretende mais se mudar para a editora Benvirá. Continuará a editar seus livros pela Companhia das Letras, que já publicou obras de sua autoria como "Chatô" e "Os Últimos Soldados da Guerra Fria", seu título mais recente.

NO BRILHO
Em uma das cenas do musical "Cabaret", que estreia no dia 28, no Teatro Procópio Ferreira, em São Paulo, a atriz Claudia Raia usará um vestido feito com 20 mil cristais Swarovksi. Eles serão bordados à mão.

CALMA
Neymar foi o único que pediu oito pulseirinhas VIP do camarote do Rock in Rio, no sábado. E levou.
A promoter Alicinha Cavalcanti contou que durante os sete dias de evento "tive que tomar meio comprimido de Frontal [calmante], em jejum, no café", por conta do excesso de pedidos de convites. A cada noite do evento ela só podia chamar 25 pessoas, num espaço destinado para 4.000.

ACADÊMICOS DO ROCK
E o sábado de Rock in Rio foi chamado de "desfile do grupo de acesso do Carnaval" por alguns convidados.
É que, fora o Coldplay, as outras atrações da noite eram bem menos famosas.

MODA DE RUA
A top Camila Alves desfilou na primeira edição do Amauri Fashion Street, no Itaim Bibi. Paula Lima cantou no evento, que teve a presença da atriz Cleo Pires e da cantora Luciana Mello.

SASHA, RAINHA DO ROCK

"Gente, ela vai chegar. Sem foto agora, por favor! Senão ela nem vai entrar!", pede uma das assessoras do camarote Trident no Rock in Rio. Uma produtora do espaço sobe correndo a escada para pedir que a área seja esvaziada. "Precisamos tirar umas dez pessoas. Vou ter que escolher", diz. "Ela" é Sasha Meneghel, 13, filha de Xuxa e Luciano Szafir. São 22h45 de sexta-feira e Ivete Sangalo acaba de se apresentar no palco Mundo.

Às 23h05, uma garota de jeans, camiseta branca Abercrombie, moletom cinza e tênis rosa sobe as escadas. Apresenta-se como Carol. É amiga de Sasha. Vai até a varanda e vê o local reservado para elas ficarem. Desce pra chamar a princesa dos baixinhos.

Às 23h26, Sasha entra no espaço. Como quase todas as amigas, está de jeans, camiseta branca e moletom azul da marca americana Abercrombie, como se usassem uniforme de um colégio que tivesse esse nome. Cobre o rosto com o capuz da blusa. Um segurança vai na frente e o outro segue atrás, com as amigas. Correm para um canto logo apelidado de "Sasha's place" [lugar da Sasha].

"Mentiiiiiira que é a Sasha!!!", grita a atriz Milena Toscano.

O promoter Diógenes Bjay ultrapassa a barreira de seguranças e entrega à turma chicletes da patrocinadora do espaço. Sasha e as amiguinhas dão gritinhos de alegria. Uma produtora traz água e chocolates. Vavá, a babá/assessora, pede a Sasha que tire foto dela com artistas. E aproveita para fazer a propaganda de sua empresa: "Sou a dona do Kidoguinho [delivery de sanduíches]".

Um segurança aponta a lanterna para a cara de dois paparazzi: "Apaga! Apaga [a foto]", diz. A garota se senta no chão para não ser fotografada assim que começa o show de Lenny Kravitz.

"Gente, ela veio se divertir. Não quer foto porque não se considera celebridade. Se fosse a mãe dela, tudo bem. Ela é criança", diz um dos seguranças aos repórteres e fotógrafos.

À 00h30, Sasha quer ir embora. Troca de moletom com Carol pra tentar despistar. Olha os fotógrafos e diz, em tom de choro: "Não vai dar". As amigas sugerem que coloque uma blusa na cara. Ela desiste. Veste de novo seu agasalho, se senta e fica olhando o celular. Uma amiga pede cachorro-quente. O garçom providencia uma bandeja.

"Alô, Ivete [Sangalo]? É Vavá. Você está no camarim? Sasha quer te ver", diz a babá ao celular. Sasha pergunta ao segurança: "Com ou sem capuz?" Ele diz: "Você que sabe". Ela veste o gorro e deixa o local à 01h50.
(LÍGIA MESQUITA, ENVIADA ESPECIAL AO RIO)

DANÇA DA ILUSÃO
Constanza Gruber, diretora da turnê "Botanica", do grupo Momix, e a produtora Myriam Bak conferiram a estreia do espetáculo no Teatro Alfa.

CURTO-CIRCUITO

Josiane Motta e Motta lança amanhã, das 18h30 às 21h30, o livro "Sobrevida", na Livraria da Vila da rua Fradique Coutinho.

Alex Atala e o italiano Carlo Cracco preparam jantar para convidados do evento San Pellegrino Sparkles with Bvlgari, hoje, no Theatro Municipal.

Karim Aïnouz fala sobre o filme que está produzindo sobre o artista plástico Olafur Eliasson, hoje, às 11h, no Sesc Pompeia.

O barman Kascão Oliveira e Vicente Bastos darão hoje, às 20h, o curso "Deliciosos Sabores", no Anexo SB, no Itaim.

com DIÓGENES CAMPANHA, LÍGIA MESQUITA e THAIS BILENKY

CELSO MING - Falta sentido de urgência


Falta sentido de urgência
 CELSO MING
O ESTADÃO - 04/10/11

Sentido de urgência, decididamente, não faz parte da estratégia dos dirigentes da área do euro para enfrentar esta crise que ameaça provocar um enfarte na economia global.

No último fim de semana de setembro, todas as autoridades importantes do setor de economia e finanças que se reuniram em Washington, para a assembleia do Fundo Monetário Internacional, cobraram pressa dos representantes europeus.

Essa também é a mais nova insistência da presidente Dilma. Ela pediu determinação dos políticos não só para encontrar uma solução, mas também para que deixem de lado a excessiva rigidez fiscal nessa hora - uma recomendação feita também insistentemente pelo secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Tim Geithner.

Depois de atropelarem mil vezes leis e procedimentos - assim como fizeram com as próprias disposições do Tratado de Maastricht, que proíbem endividamento superior a 60% do PIB -, os líderes europeus se mostram cada vez mais empenhados em não avançar para além do que determinam as regras.

Em princípio, a presidente Dilma e o secretário Tim Geithner têm razão ao pregar menos rigidez com a austeridade. No entanto, é preciso entender que não há muito espaço para ampliar as despesas públicas de modo a retomar o consumo e a produção e baixar os atuais níveis atordoantes de desemprego.

O principal problema é o endividamento excessivo das economias ricas. Essa situação insuportável é, justamente, consequência de despesas demasiadas. Os Tesouros já estão avariados e não há como expandir ainda mais suas capacidades de endividamento.

No mais, a estratégia dos dirigentes europeus é mesmo a de ganhar tempo. Trabalham para esperar até que os Parlamentos europeus aprovem a ampliação do Fundo de Estabilidade Financeira Europeia (EFSF, na sigla em inglês).

Parece também que não lhes convêm fazer omeletes e, obviamente, quebrar os ovos exigidos pela receita antes de 1.º de novembro, quando o atual presidente do Banco Central Europeu, Jean-Claude Trichet, será substituído pelo italiano, já sacramentado no cargo, Mario Draghi.

Além disso, também aparentemente, querem ter prontos os planos de intervenção e de capitalização dos bancos no momento em que o governo da Grécia anunciar o inevitável calote de sua dívida pública em, pelo menos, 50%.

Talvez os dirigentes não consigam incutir sentido de urgência aos seus compatriotas por terem ainda de ganhar eleições - normalmente, não vencidas apregoando desastres e futura distribuição da conta da crise.

O problema é que o prolongamento da agonia vai custando caro tanto à população do bloco do euro como à do resto do mundo. A ausência de um desfecho suspende decisões de investimento e assinaturas de contratos. E o desemprego vai crescendo.

Enquanto isso, o mercado financeiro trabalha com outras necessidades e tem sua própria agenda. As incertezas crescem todos os dias e vão capitalizando aflições. Ninguém sabe como estarão os bancos da Europa e os de outros países ricos, fortemente expostos às dívidas da zona do euro ou às de outros bancos que se tornarão vulneráveis aos calotes. E isso deixa os capitais entocados, pouco disponíveis para financiar a retomada. O que é ruim para todos.

Confira

Comércio forte. No período de 12 meses terminado em setembro, as exportações do Brasil continuaram mostrando expressivo crescimento: 32,2%. As importações também avançaram com força, no entanto, pouco menos: 27,3%.

Meta de juros? Se é verdade que o governo Dilma quer baixar os juros básicos (Selic), hoje nos 12% ao ano, para 9% ao ano em 2012, dá para concluir que ele persegue uma meta de juros. O que pode ser perguntado é se meta de inflação e meta de juros são mutuamente compatíveis.

MARCIA PELTIER - Malas prontas



Malas prontas 
MARCIA PELTIER
JORNAL DO COMMÉRCIO - 04/10/11

De volta de seu giro por Bélgica, Bulgária e Turquia, no próximo domingo, a presidente Dilma tem mais uma viagem internacional agendada para breve. Dia 18, ela estará em Pretória, na África do Sul, para uma reunião do Ibas, grupo que reúne Índia, Brasil e o país africano anfitrião. As três nações destinam, anualmente, desde 2004, US$ 1 milhão para o Fundo Ibas, que promove ações em países menos desenvolvidos.

Resultados positivos

Entre os já beneficiados pelo fundo está o Haiti, que recebeu US$ 2,8 milhões para um programa direcionado a resolver dois problemas de uma só vez: como o país é deficiente em coleta de lixo e têm pouca oferta de gás encanado, o dinheiro foi doado para que o lixo fosse compactado em briquetes – espécies de pequenas toras – e usado como lenha nos fornos caseiros.

No exato instante 
A próxima temporada das semanas de moda do Rio e de São Paulo promete comportar um capítulo virtual. É que diferentes grifes negociam com o YouTube, do Google, a transmissão em tempo real da apresentação das novas coleções. A tendência mundial começou na recente edição da New York Fashion Week e facilitou a vida dos fashionistas, produtores e compradores.

Em sintonia 

De todas as celebridades que passaram pela área vip do Rock in Rio, o cantor Fiuk e sua namorada Natália Franscino merecem o troféu fofura. Ela, pela paciência em tolerar, sem nenhum sinal de irritação, o constante assédio sofrido pelo rapaz. Ele, pela gentileza em atender aos pedidos de fotos ao lado dos fãs, para o qual já tem até pose automática: Fiuk coloca o braço esquerdo no ombro do fotografado e, com a mão direita, aponta com o dedo indicador o fã, como se o tiete fosse a estrela do clique.

Cabelos arrumados 

Por falar no Rock in Rio, estar na área vip tornou-se um lugar tão cobiçado que blogueiros que cobram até R$ 8 mil para tuitarem em eventos abriram mão do cachê para estarem por lá. Foi assim com as blogueiras de moda levadas pela Niely Cosméticos, marca que montou um salão de beleza para as celebridades e outro próximo ao palco Mundo. Nos sete dias foram realizados mais de 5 mil penteados gratuitos, cerca de um a cada 15 minutos.

Concorrência 

O imóvel onde funcionou, até janeiro último, a livraria Letras & Expressões, em Ipanema, será ocupado pela segunda unidade da Drogaria Venâncio no bairro. A primeira loja será inaugurada ainda este mês, também na Visconde de Pirajá, onde estava localizada a tradicional Confeitaria Eldorado, que fechou as portas em junho.

Visual irretocável 

Estudo inédito da Associação Nacional do Comércio de Artigos de Higiene Pessoal e Beleza (Anabel), sob encomenda da Beauty Fair, apontou que o número de salões de beleza no Estado do Rio teve um aumento de 31,6% de 2005 para 2010, passando de 83.520 para 109.950. Já o número de empregados cresceu 39,4%, passando de 334.080 para 439.800.

Mestre do som 
O diretor e técnico de som Chris Newman, que tem no currículo três Oscar na categoria Melhor Som – por Amadeus, O Exorcista e O Paciente Inglês, vai desembarcar no Festival do Rio. Ele vai ministrar curso, de 15 a 17, e dará dicas preciosas sobre a sonorização dos inúmeros blockbusters nos quais trabalhou, cuja lista também inclui O Poderoso Chefão e O Silêncio dos Inocentes. Com 71 anos, Chris pediu para conhecer a Cidade de Deus. Além de ter assistido ao filme, ele é professor na Escola de Artes Visuais, em Nova York, e quer mostrar fotos atuais da comunidade.

Releituras 

Restaurantes citados entre os melhores do mundo, o NoMa (Copenhagen), o Fat Duck (Londres) e o Hélène Darroze (Paris) estão sendo homenageados pelo Casa Cor. O Cooking Buffet, de Adriana Mattar e Ana Cecília Gros, responsável pelo restaurante e champanheria do evento, incluiu pratos inspirados no menu dessas casas. Por exemplo, a salada de ervas com gominhos de cítricos, telha de parmesão e vinagrete de raiz forte, servida em bowl, é referência ao NoMa. Já os calissons, doce de massa de amêndoas e melão confit em forma de losangos, evocam o restaurante francês.

Livre Acesso

A bailarina Bettina Dalcanale - que estará na próxima temporada de Romeu e Julieta no Teatro Municipal, a partir do dia 16 - se apresenta, hoje, em evento da grife infantil Bianca Gibbon, no Hotel Marina. A tarde também terá exposição de fotos produzidas por Georgia Wortmann.

A estilista Thaise Gripp exibe coleção, hoje, na 15ª edição do Fashion Tea, no Hotel Copacabana Palace. Quem estreia no mesmo evento é a grife Dudalina Feminina, com as atrizes Marisol Ribeiro, Bruna Spinola e Simone Soares na passarela. A verba arrecadada será destinada ao Pró Criança Cardíaca.

A coleção de verão da Bob Store chega à loja carioca da grife, no Rio Design Barra, hoje. Para evocar a temporada e o clima caribenho, temas da coleção, o coquetel será regado a mojitos especiais, elaborados por barmen malabares.

Eliana Pazzini, da Way Design, e Caco Borges recebem, nesta quinta-feira, para coquetel pelo lançamento do espaço Grande Hall, assinado pelo arquiteto no Casa Cor.

A COI, Clínicas Oncológicas Integradas, comemora 21 anos, quinta-feira, com grande festa na Hípica.

O cineasta Francisco de Paula participa de debate com o público durante a mostra O cinema rock’n’roll – filmes brasileiros da jovem guarda aos dias de hoje, amanhã, às 19h, no CCBB Rio.

Silvia Herz, da Divina Culinária, lançou uma linha exclusiva de biscoito caninos para a loja virtual Degusta Rio (www.degustario.com.br), chamados DegustaDog.

Com Marcia Bahia, Cristiane Rodrigues, Marcia Arbache e Gabriela Brito

GOSTOSA


ANTÔNIO M. BUAINAIN e JOSÉ M. DA SILVEIRA - Biotecnologia - limites e oportunidades


 Biotecnologia - limites e oportunidades
ANTÔNIO M. BUAINAIN e JOSÉ M. DA SILVEIRA
O ESTADÃO - 04/10/11

Uma nova etapa da biotecnologia vegetal está para ser inaugurada: no dia 15 de setembro foi aprovado o primeiro cultivar geneticamente modificado (GM) direcionado a um produto de alimentação humana in natura e que integra a cesta básica do brasileiro do Norte ao Sul do País. A variedade é resistente ao vírus do mosaico, a principal doençado feijão, cultivo estratégico para o consumo e a renda familiar dos pequenos agricultores.

Por isso causou perplexidade a reação negativa de grupos que se dizem" defensores" dos pequenos produtores e que em geral acusam a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) de favorecer os grandes.

Resultado de pesquisas criativas da Embrapa, lideradas por Francisco Aragão e Josias Farias (respectivamente do Cenargene da Embrapa Arroz e Feijão), ocultivar é fruto de processos de manipulação gênica que não implicam transferência de material proteico, derrubando, assim, quais quer críticas sobre o potencial alergênico do produto.

Que limites, barreiras e mitos poderão ser rompidos, caso a estratégia de difusão do produto seja corretamente implementada? O primeiro se refere aos limites para aumento da produtividade e da produção do feijão, planta caprichosa no cultivo ou nas exigências do consumidor, que o aprecia mais recém-colhido (feijão novo). Isso limita a possibilidade de armazenamento e favorece um sistema de intermediação e comercialização tradicional, que mina a rentabilidade do agricultor, reduz incentivos para investir em tecnologia e mantém parte dos produtores na pobreza. As infestações do mosaico dourado elevamos custos e reduzem a produtividade. As dificuldades com o feijão se revelam na necessidade de importação em certos anos.

Os novos cultivares GM apontam na direção de uma agricultura de baixo impacto, de menor risco e com maior produtividade, uma vez que o uso atual de inseticidas não evita completamente o mosaico dourado. Espera-se, portanto, que a difusão dos cultivares GM em variedades do gosto do consumidor (pontal, vereda, pérola, todas do tipo carioca) tenha impactos não só sobre o preço, mas também sobre as condições de produção e de oferta do feijão.

O segundo se refere às barreiras impostas pela visão do consumidor sobre produtos GM, que representam um grande desafio para o sucesso da inovação.

Pesquisa feita pela Embrapa, liderada por Deise Capalbo, mostra forte polarização entre quem rejeita o uso da biotecnologia para alimentação humana e quem aponta os benefícios atuais e potenciais.

Entre esses dois grupos está um composto por mulheres com mais de 30 anos, que manifestam dúvidas ou que admitem não ter pensado no assunto.

O desafio está em garantir que o impacto da tecnologia resulte em melhores preços e oferta mais regular e abundante e que tal fenômeno seja captado pelos consumidores mais influentes.

Por fim, o lançamento pode romper o mito de que a biotecnologia seria monopólio de poucas empresas, com oferta direcionada a poucos produtos e com só uma ou duas tecnologias (tolerância a herbicida e resistência a insetos). Mas em que medida isso ocorrerá depende do empenho com que a política de segurança alimentar assuma que a tecnologia pode criar janelas de oportunidade para redefinir os padrões produtivos e de comercialização do feijão no País.

É fundamental realizar estudos que permitam antecipar os problemas que certamente surgirão no processo de difusão dos cultivares GM. Não aproveitar a oportunidade para tentar promover mudanças na base da produção e comercialização seria um equívoco que poderia reduzir o impacto produtivo e o alcance social do novo produto, que resolve um problema importante, mas não elimina os demais riscos produtivos e econômicos que vêm limitando a produção de feijão. Passada a fase de "oposição" e "aplausos", é necessário e urgente definir e implementar estratégia para difundir o produto nas regiões produtoras, tendo a agricultura familiar como prioridade do governo. Um gol de placa foi marcado, mas a partida ainda está no primeiro tempo.

PROFESSORES DO INSTITUTO DE ECONOMIA DA UNICAMP