sábado, setembro 05, 2009

MÔNICA CIARELLI

Especialistas preveem perdas para a Petrobrás

O ESTADO DE SÃO PAULO - 05/09/09

O eventual aumento da fatia do governo na Petrobrás pode afastar a estatal das boas práticas de governança corporativa, o que, segundo especialistas, terá impacto negativo no preço das ações. "A operação, como foi desenhada, tem como pano de fundo diluir os minoritários. (...) É óbvio que os acionistas vão precificar isso", alertou Edson Garcia, superintendente da Associação de Investidores do Mercado de Capitais (Amec).

Representantes do governo têm comentado a intenção de elevar a participação estatal na companhia. O próprio presidente Lula revelou, no dia do anúncio dos projetos para o pré-sal, que o governo tem interesse em comprar as sobras de ações no processo de capitalização.

Com 32,2% de participação, a União já tem hoje poder de mando na empresa. Mas o mercado vê no interesse demonstrado pelo governo o propósito também de aumentar sua ingerência política na empresa.

Especializado em direito econômico e empresarial, o advogado José Ricardo Bastos Martins é outro que prevê reflexos negativos nas ações da estatal. "Se as decisões não forem tomadas exclusivamente com base no que seria melhor para a empresa, mas sim para o governo federal, haverá confusão no mercado e muitos riscos. A consequência poderá ser uma queda no valor das ações da Petrobrás", disse.

Mesmo com o aumento da fatia da União, especialistas explicam que a Petrobrás continua sendo uma sociedade de capital misto, onde os acionistas minoritários têm o direito de eleger um representante no conselho de administração. Atualmente, o conselho da Petrobrás tem nove membros, sendo sete indicados pelo governo e dois por acionistas detentores de ações ordinárias e preferenciais.

O ex-diretor da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) Wladimir Castelo Branco lembra que a Petrobrás caminhou nos últimos anos na direção das melhores práticas de governança corporativa exigidas pela Bolsa de Valores de São Paulo às empresas listadas no Novo Mercado, apesar de a estatal não fazer parte desse segmento. Entretanto, observa Castelo Branco, "os sinais agora apontam na direção contrária", com o acionista controlador interessado em reduzir a base de acionistas minoritários.

"Não faz sentido o governo dizer que está preservando a equidade entre acionistas, quando um não precisa coçar o bolso e o outro terá que desembolsar dezenas de milhões de dólares", disse o presidente do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC), Mauro Cunha.

MIGUEL REALE JÚNIOR

Querer ou temer?

O ESTADO DE S. PAULO - 05/0909

O que levaria Lula e seus comandados a cerrar fileiras em torno de Sarney? Seria o interesse de garantir uma aliança eleitoral em 2010 ou a chamada "governabilidade"?

A vida partidária brasileira indica a pouca consistência das agremiações políticas. Terminada a ditadura getuliana, em 1945, formaram-se 13 partidos, dos quais três grandes. Dois destes foram constituídos de cima para baixo: o PTB e o PSD, ambos a serviço do getulismo, pois o PTB atraía a classe trabalhadora urbana e o PSD, os grotões e os líderes políticos do passado, muitos interventores no Estado Novo. Getúlio bem dizia que se elegia com o PTB para governar com o PSD.

Durante o regime militar, com o Ato Institucional nº 2, os 13 partidos existentes foram artificialmente reduzidos a dois, Arena e MDB, sendo necessário, em 1966, para acomodar as diversas alas que os compunham, criar a sublegenda, por meio da qual cada partido poderia ter três candidatos a prefeito e senador. Os antigos partidos sobreviviam em torno de lideranças locais, dentro dos dois partidos.

Em 1979, pretendeu o regime militar fragmentar a oposição, ao permitir a criação de novos partidos políticos, gerando o surgimento do PP de Tancredo Neves, do PDT de Brizola e do PT de Lula.

Em 1982 houve estrondosa vitória da oposição nos principais Estados, mas a eleição de Jânio Quadros em 1985 como prefeito de São Paulo, contra Fernando Henrique Cardoso, do PMDB, indicava a sobrevivência do populismo e a força do carisma.

O PDS, sucessor da Arena, desfez-se em 1986, com o surgimento da Aliança Democrática que elegeu Tancredo Neves. Criou-se, então, o PFL, com vários membros saídos do PDS. Em seguida veio a Constituinte, durante a qual não houve nenhuma sujeição programática dos parlamentares às linhas partidárias, já que os partidos não eram ideológicos, mas agremiações de variados interesses. Especialmente dentro do PMDB havia os maiores antagonismos em quaisquer das questões-chave, desde o sistema de governo ao tempo de mandato de Sarney na Presidência. Desde esse momento, os deputados passaram a ser menos de um partido que de uma região, como o Norte, o Nordeste, ou defensores de corporações: havia a bancada do Banco do Brasil, do Ministério Público, da Polícia Militar, da Petrobrás, os evangélicos, os ruralistas.

A eleição presidencial de 1989 foi a demonstração da nenhuma força eleitoral dos partidos ante o brilho dos carismas pessoais. O dr. Ulysses Guimarães garantia que o PMDB - o maior partido do País - o elegeria, pois, dizia, a qualquer recanto que chegasse haveria quem lhe carregasse a mala e montasse palanque. Ledo engano. Foram derrotados os candidatos dos maiores partidos, presenteados com votação pífia: Ulysses, do PMDB, e Aureliano Chaves, do PFL.

A vazia grife de Collor empolgou as massas descamisadas e os endinheirados, como candidato yuppie, sem partido, mas de atitude fortemente agressiva contra Sarney, que chegou a chamar de ladrão na campanha contra os "marajás". Ganhou o primeiro turno contra Lula, candidato de um partido então pequeno, mas de forte apelo popular, o metalúrgico que fazia contraponto ao moço bem nascido das Alagoas.

Destituído Collor, Itamar Franco herdou imenso processo inflacionário. Fernando Henrique assumira o Ministério da Fazenda com o desafio de debelar uma inflação galopante. Em 1º de maio de 1994, morte de Ayrton Senna, saiu pesquisa eleitoral que dava a Lula 41% das intenções de voto e apenas 19% a Fernando Henrique, agora no PSDB. O maior partido do Brasil continuava a ser o PMDB, que lançou como candidato Orestes Quércia.

Lula era tratado como virtual presidente eleito, mas o novo mito populista foi derrotado pela nova moeda, o real, lançada em 1º de julho. Rapidamente, Fernando Henrique foi subindo nas pesquisas para, em 9 de agosto, passar à ponta, com 36% dos votos, e em 19 de agosto ter a mesma previsão de Lula em 1º de maio: 41%. Elegeu-se no primeiro turno. Quércia, o candidato do maior partido, o PMDB, teve menos votos do que o teatral candidato dr. Enéas, membro de partido minúsculo.

Em 2002 José Serra fez todos os esforços possíveis para ter o PMDB de seu lado - a candidata a vice-presidente na sua chapa foi a deputada Rita Camata. De nada valeu o apoio institucional do PMDB. O certo não é o PMDB dar, por seus quadros, força eficiente ao candidato que oficialmente apoia. Se, segundo Renan Calheiros, o PSDB, com Tasso Jereissati, é minoria com complexo de maioria, pode-se dizer que ele, Calheiros, e o PMDB têm mania de ser maioria, em atitude de extrema coerência: ser sempre governo.

Portanto, o apoio do PMDB não pode constituir carta de seguro eleitoral. Não elege, como a História comprova, nem permanece em barco furado. A maioria parlamentar se consegue com favores, e não com fidelidade partidária, sendo o maior exemplo o expediente adotado pelo governo na captação de apoio com a mensalidade entregue em hotéis de Brasília. De outra parte, o esforço eleitoral só se dá com a perspectiva da vitória. Sem essa visualização é difícil a adesão efetiva. É triste a nossa realidade partidária. Se assim é, por que, então, Lula gasta tantos cartuchos no apoio a Sarney? Para garantir um aliado nas eleições de 2010? Difícil.

Seria para garantir a governabilidade? Mas qual governabilidade? Ora, o único perigo à vista é a CPI da Petrobrás, cujo relator é o senador Romero Jucá (PMDB-RR), que dita o andar da carruagem. O PMDB, com maioria na comissão e um presidente obscuro, o suplente João Pedro (PT-AM), pode cozinhar a CPI ou fritar o governo. Depende de como Lula e o PT se comportarem. É essa a razão da vergonha a que se assiste no Senado e no governo Lula, a constranger novamente com cartas de amor um líder que não lidera mais nem a si próprio.

Lula não quer o PMDB, mas, sim, teme o PMDB.

Miguel Reale Júnior, advogado, professor titular da Faculdade de Direito da USP, membro da Academia Paulista de Letras, foi ministro da Justiça

GOSTOSAS


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ROBERTO POMPEU DE TOLEDO

REVISTA VEJA
Roberto Pompeu de Toledo

Uma virada, uma doença
e uma solução

"Tomem tento, Américas do Sul, Central e Caribe.
Para certos males insolúveis, endêmicos à região,
acaba de ser aberto o precedente da recolonização"

Raramente se veem reviravoltas de tal magnitude. De campeão do biocombustível, o Brasil tornou-se o maior torcedor mundial pela sobrevivência do petróleo. Para a universalização do uso do álcool como fonte de energia, mobilizamos boa parte de nossas forças, dos produtores de cana-de-açúcar ao Itamaraty, até dois anos atrás. Era o tempo em que reinava a palavra "etanol". O auge desse período foi a visita do então presidente George W. Bush ao Brasil, em março de 2007, ocasião em que o presidente Lula recorreu ao melhor de sua lírica para cantar as maravilhas do álcool combustível, e ouviu respostas simpáticas do americano. Um pouco mais tarde naquele mesmo ano, no entanto, uma outra palavrinha faria seu triunfal ingresso em cena – "pré-sal". Uma fabulosa quantidade de petróleo havia sido descoberta nos mares brasileiros.

Então a mensagem brasileira ficou assim: o.k., mr. Bush, o.k., mr. Obama e todos os poderosos do mundo, o etanol é ótimo, mas vamos com calma; segurem as pontas, deem um tempo, e pelo amor de Deus continuem a consumir petróleo. Não sejamos tão crentes nessa conversa alarmista de poluição e aquecimento global. Além disso, vejam que felicidade: teremos reservas abundantes e de boa qualidade aqui deste lado do planeta, bem longe das complicações do Oriente Médio. O pré-sal brasileiro vai demorar no mínimo dez anos para dar o ar de sua graça nas bombas. Enquanto isso prosseguem os investimentos em carro elétrico, entre outras modalidades de veículo movido a energias alternativas. Para que tanta pressa? Os bons brasileiros esperam que o mundo continue confiando nesse meio seguro, eficiente e mais do que testado de mover os carros que é o petróleo.

***

O novo nome do golpe, na América Latina, é "terceiro mandato". O presidente da Colômbia, Álvaro Uribe, deu um importante passo para ganhar o seu ao obter do Congresso, na semana passada, aprovação para a realização de um plebiscito em que o povo decidirá se a Constituição deve ser alterada para permitir a re-reeleição. Até tu, Uribe! Até então, a febre do continuísmo estava restrita à banda bolivariana dos dirigentes latino-americanos, liderada pelo venezuelano Hugo Chávez, de quem Uribe é inimigo. A soma de Uribe com os bolivarianos prova que, independentemente da ideologia, os latino-americanos estão unidos no horror ao império da lei acima dos homens e das instituições acima das contingências.

Há uma diferença entre os projetos continuístas de Uribe e de Chávez. Uribe pleiteia uma reforma que permita três eleições seguidas do mesmo candidato a presidente, e não mais que três. Chávez foi além, e conseguiu aprovar a reeleição sem limite. Uribe mostra-se mais modesto? Em princípio, sim, mas a ver se, ao fim do terceiro mandato, ele não desencadeará novo movimento, desta vez para possibilitar um quarto, e se ao fim do quarto não pleiteará o quinto, e depois o sexto, e depois… Chávez, pelo menos, resolveu a questão de uma só tacada. Que vergüenza, Latinoamérica, que vergonzosa vergüenza.

***

As ilhas Turks e Caicos formam um pequeno país de cerca de 30 000 habitantes, no Mar do Caribe. Antigos refúgios de piratas e traficantes de escravos, desde o fim do século XVIII constituíram-se em colônia britânica. Nos anos 70 o antigo colonizador lhes concedeu o autogoverno. Por essa mesma época, as ilhas começaram a atrair quantidades crescentes de turistas, seduzidos por suas maiores riquezas – o sol, o mar e as areias. Enfim, um bafo de prosperidade as beneficiava, e com a prosperidade veio o quê? O quê? Ora, o que mais poderia ser? Veio a corrupção – viçosa, abundante, indomável. Uma investigação britânica apurou que vários ministros receberam suborno de empreendedores imobiliários estrangeiros, e concluiu pela existência de "corrupção sistêmica" no país. O primeiro-ministro, segundo a mesma investigação, levava uma vida de "estilo hollywoodiano".

A decisão da Inglaterra, diante de tal estado de coisas, foi iluminada: revogou o autogoverno. Em outras palavras, recolonizou Turks e Caicos. O governador que representava a rainha Elizabeth, até há pouco uma figura decorativa, assumiu de fato o governo. Foi uma inovadora solução que, pensando bem… Por que não? Tomem tento, Américas do Sul, Central e Caribe. Para certos males endêmicos, foi aberto o precedente da recolonização.

BRASÍLIA - DF

Xeque-mate na oposição

Por Luiz Carlos Azedo

CORREIO BRAZILIENSE - 05/09/09

Em meio a uma ampla campanha de cunho nacionalista, na qual não só a Petrobras, mas também o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal terão papel relevante, o governo Lula prepara um xeque-mate na oposição em relação ao pré-sal. Quer entregar a um de seus líderes a presidência da comissão especial encarregada de examinar o projeto de capitalização da Petrobras, cujo relator será o mais “liberal” dos quadros petistas no Congresso, o ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci (SP).


A proposta tem por objetivo colocar a oposição diante de um dilema inequívoco: ou toma a defesa dos interesses da Petrobras no reordenamento da economia do petróleo e assume o comando da comissão que discute o fortalecimento da empresa ou rejeita a tarefa e parte para um boicote irracional à estatal símbolo do desenvolvimento nacional. Líderes do PSDB e do PPS topam conversar, mas estão sob pressão do líder do DEM na Câmara, Ronaldo Caiado (GO), que tem inabalável fé liberal. Ou seja, contra a ampliação do peso estatal no setor.


Trilhos

Posta em marcha pelo presidente da Câmara dos Deputados, Michel Temer (PMDB-SP), a regulamentação do direito de greve do serviço público ganhou apoio do ministro do Trabalho, Carlos Lupi. Embora tenha um viés pró-servidor, Lupi avalia que as normas atuais dão margem para paralisações intermináveis.


Partilha

A Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado examina a criação do sistema “S” da Confederação Nacional do Turismo (CNTur): Serviço Social do Turismo (Sestur) e Serviço Nacional de Aprendizagem do Turismo (Senatur), de autoria do senador Leomar Quintanilha (PMDB-TO). A capacitação profissional de 50 categorias está entre as maiores preocupações de empresários e trabalhadores do setor, mas a proposta enfrenta oposição de parlamentares ligados à Confederação Nacional do Comércio (CNC).


Cara-pálida

Presidente da Unafisco, Pedro Delarue repudia o posicionamento do Sindireceita. Segundo ele, o sindicato está contra a Lei Orgânica do Fisco por causa da separação dos cargos de auditor fiscal e analista tributário em carreiras distintas. “Acaba com o sonho do Sindireceita de alçar analistas tributários à condição de auditores-fiscais sem o devido concurso público”, afirma.


Pele
O estilo durão da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff (foto), na discussão da partilha do pré-sal, está deixando o governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral (PMDB), decepcionado com a candidata petista. Segundo ele, Dilma deveria ter mais sensibilidade em relação à reconstrução econômica do Rio, na qual a indústria do petróleo é a única janela de oportunidade.



Pregão/ O Ministério Público Federal, em Campinas, abriu investigação para apurar a venda de bens extraídos da Rede Ferroviária Federal S.A. (RFFSA) na internet. O MP constatou que itens do patrimônio da extinta estatal, como peças de vagões de trens, estavam sendo leiloadas no site Mercado Livre.

Barriga/ Apesar da ensaiada salvação do ex-governador Joaquim Roriz, parte da Executiva do PMDB tenta empurrar a decisão de intervir no diretório local para o fim de setembro. É uma tentativa de encurralar Roriz, que teria até 3 de outubro para optar entre ficar no partido ou filiar-se a outra legenda.

Jogada/ A Mesa Diretora da Câmara dos Deputados foi chamada a emitir um parecer sobre o destaque do deputado Fernando Coruja (PPS-SC) à proposta de criação da Contribuição Social para a Saúde (CSS), que pede a extinção da base de cálculo do tributo. O destaque é o único item pendente na votação do projeto e, se for derrubado, a CSS será encaminhada ao Senado sem nova votação.



Dobradinha
Está fechada a dobradinha que vai zelar pela partilha dos royalties do pré-sal: o deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP) presidirá a comissão especial, e o líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves (foto), será o relator, com o compromisso de não desfigurar o projeto do governo.


Poupança

A captação líquida — diferença entre depósitos e saques — de recursos de caderneta de poupança caiu no mês de agosto. No mês de julho, havia sido de R$ 6,6 bilhões, o maior valor para meses de julho desde o início do Plano Real, em 1994. Em agosto, os depósitos foram maiores do que as retiradas em R$ 3,098 bilhões.

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JOSÉ SIMÃO

Are Baba! Feriadão ou Morte!

FOLHA DE SÃO PAULO - 05/09/09



Brasileiro gosta tanto de feriadão que grita: "Feriadão ou morte!'; ou melhor: "Sexo ou morte!"


BUEMBA! BUEMBA! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Direto do País da Piada Pronta!
Semana da Pátria! Brasileiro gosta tanto de feriadão que grita: "Feriadão ou morte!". Ou melhor: SEXO OU MORTE!
E tô adorando os últimos capítulos de "Caminho das Índias"! E corre na internet um dicionário indiano para entender os últimos capítulos. "Are Baba": aí, caraio! "Firangue": biscate.
"Baguan Keliê": putz, que cagada.
"Tik": tô ligado. "Tik tik": tô ligado na parada. "Tik tik tik": tô ligado na parada, mano.
A Glória Perez já carnavalizou o islã. E agora, a Índia. A Índia da Globo parece um carro alegórico! Globindia! Promoção: visite a Globindia e ganhe um beijo de língua de um dalit. E a Globo podia ter lançado o Viagra indiano: o encantador de serpente. Levanta até corda! E o poder da novela: o neto de uma amiga minha de dois anos já fala "vovó", "papai" e "Are Baba". É verdade. Todo mundo na sala conversando e o menino "Are Baba! Are Baba!". A segunda língua do Brasil é o indiano. A Locória Perez é sem noção!
E a Gol cobrando lanche? Parece garota de programa: nos leva às nuvens, mas cobra a comida. Rarará! E sabe o que quer dizer GOL? Grande Ônibus Lotado! E vou tirar os meus 15 dias restantes de férias. Vou pro Egito e Jordânia. Cansei das múmias brasileiras. Vou ver múmia nova. Rarará! Ah, cansei das múmias brasileiras: Hebe, Nelson Rubens e a Marta!
E vou pro Mar Vermelho. Moisés abriu o Mar Vermelho e atravessou.
Grandes coisas! O Sarney abriu o Mar de Lama e atravessou. E uma milionária baiana foi pro Egito -pirâmides e múmias. E aí ligou pro marido: aqui é lindo, mas só tem tijolo e defunto. Rarará!
E o desfile de Sete de Setembro?
No ano passado, o Lula foi recebido com 21 tiros de canhão. E SOBREVIVEU! Rarará! E diz que ele confundiu desfile de Sete de Setembro com desfile de escola de samba: "Marisa, essa escola tá muito chata, vamos pro camarote da AmBev". Rarará! E um amigo meu, pra comemorar a nossa independência de Portugal, foi transar com uma portuguesa. E ela ficava gritando: "Fura-me! Racha-me! FURA-ME!". Rarará! É mole? É mole, mas sobe!
E atenção! Cartilha do Lula. O Orélio do Lula. Mais um verbete pro óbvio lulante. "Suculenta": companheira dona Marisa tomando um suco de polenta. O lulês é mais fácil que o ingrêis. Nóis sofre, mas nóis goza.
Hoje só amanhã! Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno! E vai indo que eu não vou!

DIOGO MAINARDI

REVISTA VEJA
Diogo Mainardi

A ponta do macarrão

"Quarenta anos depois, Franklin Martins ainda
luta pelo poder. Considerando o que aconteceu
com Ana Maria Machado, é bom a ministra
da Casa Civil esconder as chaves do carro"

Ana Maria Machado é Ho Chi Minh. Por mais que eu a bombardeie – e eu a bombardeio continuamente –, um dia ela acabará derrubando, com sua literatura infantil, minha Saigon doméstica.

A própria Ana Maria Machado inspirou o paralelo histórico com Ho Chi Minh. Algum tempo atrás, indagada sobre a luta armada no Brasil, no período da ditadura militar, ela respondeu da seguinte maneira: "O vietnamita teve coragem de ir à luta, o brasileiro não teve".

Ana Maria Machado, a vietnamita, foi à luta. Como ela já declarou, envolveu-se "até as orelhas na resistência à ditadura", escondendo "gente e dinheiro de roubo a banco". Mas o episódio pelo qual ela é lembrada tem outro protagonista: Franklin Martins. Em 1969, ele planejou o sequestro do embaixador dos Estados Unidos no Rio de Janeiro. Para realizá-lo, usou o Fusca de uma de suas irmãs. Qual delas? Sim: Ana Maria Machado. Os agentes da ditadura identificaram seu Fusca e ela foi presa.

Quarenta anos depois, Franklin Martins ainda luta pelo poder. Seu plano mais recente é eleger Dilma Rousseff em 2010. Considerando o que aconteceu com Ana Maria Machado, é bom a ministra da Casa Civil esconder imediatamente as chaves do carro. Para Franklin Martins, a candidatura presidencial é uma espécie de Fusca recauchutado. Dilma Rousseff é um New Beetle.

Ana Maria Machado, como Franklin Martins, também continuou sua guerrilha ideológica. Só que ela passou a utilizar outro instrumento: o Mico Maneco. Ho Chi Minh ensinou que, para recrutar o campesinato analfabeto, era preciso "contar histórias curtas, simples e divertidas, mas sem revelar os segredos militares". Agora Ana Maria Machado tenta fazer o mesmo com a meninada analfabeta. O melhor exemplo disso é A Jararaca, a Perereca e a Tiririca. A obra, segundo ela, "fala da luta armada". A jararaca representa o martírio de um terrorista, porque "dá o bote e é morta". A perereca, por sua vez, simboliza o exilado, que "sai pulando e nadando até encontrar uma pororoca". E a tiririca é como o povo, que permanece inerte, passivo, "calado".

De acordo com Ana Maria Machado, o papel do escritor "é explicar às pessoas como tudo é complicado". O Brasil – diz ela – "é uma grande macarronada: você puxa uma ponta e acaba saindo uma outra coisa do outro lado do prato". O que eu ensino aos meus filhos é exatamente o contrário: quando se puxa uma ponta do macarrão, o que acaba saindo é apenas a outra ponta do macarrão. E, quando se puxa Franklin Martins, o que acaba saindo é ainda mais Franklin Martins. Alguém aí viu as chaves do New Beetle?

GOSTOSA DO TEMPO ANTIGO

RUTH DE AQUINO

REVISTA ÉPOCA
O bonde do funk agora é cultura
RUTH DE AQUINO
Revista Época
RUTH DE AQUINO
é diretora da sucursal de ÉPOCA no Rio de Janeiro
raquino@edglobo.com.br

Mas se liga aí novinha, por favor tu não se engane. Abre as pernas e relaxa. Que esse é o Bonde do Inhame. Que esse é o Bonde do Inhame. Esse é o bonde dos cria que enfogueta as novinhas. Esse é o bonde dos cria que enfogueta as novinhas. Vai na treta do Nem que a Kátia tá também eeemmm. Larga o inhame na Silvinha.

Essa letra edificante é exemplo tosco de um funk – o ritmo oficializado na terça-feira como “manifestação cultural” no Rio de Janeiro. Na Assembleia Legislativa, o funk saiu enfim da “tutela da polícia” e passou para o campo da Cultura. Agora, é ilegal a repressão policial aos bailes.

Eu não conhecia o “Bonde do Inhame” até uma semana atrás. No engarrafamento do Túnel Rebouças, no Rio de Janeiro, um motorista sem camisa fazia ecoar o batidão pelas janelas escancaradas. O asfalto tremia. Quem tinha criança no carro despistava para não traduzir “enfoguetar as novinhas” ou “ir na treta do Nem” – chefe do tráfico da Rocinha. A letra fazia apologia do tráfico, das drogas e da pedofilia.

Antes que os amigos do funk, os deputados, os acadêmicos e os jornalistas do funk digam que sou de elite e não gosto de “som de preto, de favelado, mas quando toca ninguém fica parado” (“Som de preto”, de Amilcka e Chocolate), queria dizer que nada tenho contra o funk popular e inocente. Tocado sem encher o ouvido alheio.

Entendidos dizem que o funk nasceu do cruzamento da cultura pop e da música negra americana com o cancioneiro popular nacional. “Existe muito preconceito. Acham que funk é coisa de favelado e estimula violência e consumo de drogas”, diz a antropóloga Adriana Facina.

Minha manicure vive na Rocinha. É mãe de uma menina de 9 anos. Perguntei o que ela acha da lei que torna o funk um movimento cultural.

“Cultura? É obscenidade, isso sim. Aqui em casa meus filhos estão proibidos de escutar ou cantar funk. As letras são pornográficas. Fico impressionada com mãe que deixa a filha ir nos bailes, de shortinho, top, tudo de fora, sainha sem nada por baixo. No fim dos bailes, todo mundo doidão, porque tem droga livre, botam funks pesados. Tem baile de domingo pra segunda até 7 horas, como se ninguém trabalhasse.”

Quem vai reprimir, no Rio, os bailes que fazem
apologia do tráfico e da pedofilia?

Queria ver os intelectuais do asfalto morando ao lado de uma quadra com o pancadão varando a madrugada. Se a elite tem direito à Lei do Silêncio, por que os pobres têm de ficar surdos?

Para proteger minha amiga, não posso publicar seu nome. Todos têm medo. Mas, não é cultural? Quem desvirtuou o funk foram os chefes dos morros, não a sociedade civil. Eles se apropriaram de um ritmo legítimo. Hoje, muitos favelados associam funk a bandidagem.

Injusto generalizar. Mas quem fala não é elite. É mãe, trabalhadora, sem coragem de apoiar publicamente a repressão aos bailes. Qual seria o resultado de um plebiscito anônimo nas favelas?

Algumas músicas, vendidas em CDs por camelôs ou tocadas nas ruas, me foram enviadas por moradores de favelas. As letras são chulas, baseadas em estribilhos. Aí vai um exemplo: "Ela vira de frente e vem assim,…Vem x…eca, vem x…eca, bem gostosinho. Ela vira de costas, ô, empina pra mim, ô e vem assim. Vem c…inho, vem… (voz de menina) Você quer meu c...? Você quer minha b…?” (repetida ad nauseam). O funk diz sofrer o preconceito que o samba já enfrentou. É sacrilégio comparar o samba com letras de mulher-fruta e créééu.

O lobby da periferia terá de recuperar a imagem do funk nas comunidades. Adianta só condenar no microfone quem incita a crimes? Os líderes do movimento precisam expurgar quem demoniza os bailes. Um dos autores da lei que tira o funk das sombras, o deputado Marcelo Freixo (PSOL) sugere que o ritmo seja “instrumento pedagógico nas escolas”. Propõe “oficinas profissionalizantes de DJs”.

Não faz sentido mesmo vetar um gosto musical. Ou fechar os olhos a um fenômeno que movimenta R$ 10 milhões por mês no Rio e gera milhares de empregos, segundo a Fundação Getúlio Vargas. Mas que se instalem banheiros químicos, câmeras e isolamento acústico, que se proíbam os proibidões. Que se controlem horários. E se fiscalize o consumo.

Eu queria que inhame fosse uma raiz. Que os bondes fossem aqueles sobre trilhos. Que as novinhas continuassem a ser meninas. E que Nem não passasse de um advérbio de negação.

MERVAL PEREIRA

Visões para 20 anos

O GLOBO - 05/09/09

Os economistas Claudio Porto e Rodrigo Ventura, da consultoria Macroplan Prospectiva, Estratégia & Gestão, estão coordenando um amplo estudo de tendências e cenários do Brasil e sua inserção no contexto global para os próximos 20 anos. Esse estudo prospectivo, incluindo quantificações e regionalizações, estará concluído no 1otrimestre de 2010, mas um ensaio preliminar, contendo as hipóteses e conjecturas que orientam as primeiras pesquisas que o integram, já indica algumas conclusões interessantes, especialmente diante da perspectiva de aumentarmos nosso diferencial competitivo no mundo com as novas descobertas do pré-sal.

O estudo lembra que por 60 anos, entre 1910 e 1974, o Brasil foi o país com a maior taxa de crescimento econômico do mundo (média de 7% a.a.).

Nas décadas de 80 e 90, este crescimento declinou substancialmente, e o país passou a registrar taxas médias de crescimento econômico inferiores à média mundial.

A partir de 2005, o Brasil voltou a expandir as taxas de crescimento (taxa média de variação de PIB de 4,5% a.a.

entre 2005 e 2008). Para os autores do estudo, no momento, no campo econômico as questões que se colocam são as seguintes: 1 A atual crise mundial abortará o crescimento econômico brasileiro? 2 O Brasil consolidará ou não uma trajetória de crescimento sustentado e em patamares elevados nas próximas duas décadas? Para os analistas da Macroplan, o futuro do Brasil, sob uma perspectiva de longo prazo, está condicionado à evolução de alguns fatores estruturais que poderão impulsionar ou inibir o seu desenvolvimento sustentado nas próximas décadas.

Entre os fatores inibidores estão o baixo nível de escolaridade e de qualificação da população; violência urbana; gargalos na infraestrutura logística; carga tributária elevada, sistema tributário distorcido e má qualidade do gasto público; déficit da Previdência e pressões crescentes sobre o sistema previdenciário; excesso de burocracia, prejudicando o ambiente de negócios e inibindo o empreendedorismo.

A questão ambiental também pesa. A elevada pressão antrópica, com atividades econômicas em larga escala e falta de regulação e fiscalização adequadas, aumenta drasticamente a taxa de desmatamento da Amazônia. Ao mesmo tempo, temos baixo desempenho dos investimentos em pesquisa, desenvolvimento e inovação (PD&I) e a degradação do sistema de representação política.

Os fatores impulsionadores são condições estruturais que asseguram diferenciais competitivos de grande potencial em âmbito mundial neste início do século XXI, entre eles a diversidade e abundância de fontes de energia, inclusive renováveis.

A combinação das recentes e grandes descobertas de petróleo (inclusive na camada pré-sal) e uma posição de liderança em biocombustíveis faz do Brasil uma das maiores potências energéticas do mundo, salienta o estudo.

Com as reservas do présal já licitadas nos campos de Tupi, Iara e Parque das Baleias (29% de toda a área do pré-sal), a produção nacional pode saltar para 30 bilhões de barris dia na próxima década. Em termos de energia hidroelétrica, o Brasil possui potencial de geração de 258.410 megawatts, dos quais apenas 28,2% são explorados.

Os analistas destacam ainda um mercado nacional integrado e de grande escala, com segmentos econômicos mundialmente competitivos; o sistema bancário altamente organizado e sólido; as grandes reservas internacionais e a democracia consolidada como fatores impulsionadores do desenvolvimento.

Para a Macroplan, a trajetória do Brasil está condicionada à evolução dos cenários externos, ao efetivo aproveitamento de nossas potencialidades e, sobretudo, ao equacionamento dos gargalos destacados.

Eles acrescentam ainda incertezas relacionadas aos desdobramentos da questão fiscal e à inserção internacional do país nas próximas duas décadas. Assim, entre as principais incertezas de longo prazo da economia brasileira, destacam: “Com que intensidade o Brasil enfrentará os gargalos estruturais ao seu desenvolvimento sustentado nos próximos 10 a 20 anos? “Como o Brasil lidará com a questão fiscal neste horizonte? “Como se dará a inserção internacional do Brasil neste mesmo período de tempo?” Diante dessas incertezas domésticas, e tendo em vista as diferentes possibilidades de evolução do mundo no pós-crise, eles desenham quatro cenários econômicos para o Brasil no horizonte 2012-2030: Cenário 1 Em duas décadas o Brasil dá “Um Salto para o 1oMundo” com um crescimento sustentado, mantendo elevada taxa de expansão média do PIB (entre 4% e 6% a.a.). Neste cenário, em 2030, o PIB per capita do país alcançaria os US$ 25 mil em Paridade de Poder de Compra (PPC), equivalente ao da Itália em 2008.

Cenário 2 “Um Emergente Retardatário”. Neste caso, o crescimento econômico do país se estabiliza em patamar mediano, entre 3% e 4% a.a.

até 2030, quando o PIB per capita do Brasil alcançaria os US$ 17 mil (em PPC), próximo ao de Porto Rico em 2008.

Cenário 3 “Mudança de Patamar: bem perto do 1omundo”.

Após registrar taxa média de variação do PIB moderada entre 2010 e 2020 (entre 2,5% e 4% a.a.), o Brasil consolidaria um crescimento após 2020 acima de 5% a.a.

Neste cenário, em 2030, o PIB per capita do país alcançaria os US$ 18,5 mil (em PPC), equivalente ao da Coreia do Sul em 2008.

Cenário 4 “Crescimento Inercial: a ‘baleia’ volta a encalhar”.

Como resultado da persistência dos gargalos econômicos, o crescimento brasileiro até 2030 voltaria a cair, situando-se entre 1% e 3% anuais. Neste cenário, em 2030, o PIB per capita do país alcançaria os US$ 13 mil (em PPC), equivalente ao do Chile em 2008. (Continua amanhã)

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MAÍLSON DA NÓBREGA

REVISTA VEJA
Maílson da Nóbrega

O subdesenvolvimento
não se improvisa

"Em tempo de disputa presidencial, o governo
mirou as eleições e não as próximas gerações,
apesar de o presidente Lula dizer o contrário"

O título desta coluna é inspirado na conhecida frase de Nelson Rodrigues (1912-1980): "O subdesenvolvimento não se improvisa. É fruto de séculos". Mais tarde, Fernando Henrique diria: "O Brasil não é um país subdesenvolvido. É um país injusto".

Essas frases retratam nossa dualidade. Uma parte da sociedade é moderna, bem-educada, possui hábitos propícios ao desenvolvimento capitalista. A outra é atrasada, malformada, acredita que o estado tudo pode.

O subdesenvolvimento a que se refere Nelson Rodrigues é aquele das ações políticas equivocadas e prioridades mal escolhidas. É o do país prisioneiro de antigas tradições culturais, que sobrevive, resiste aos avanços, reduz o potencial de crescimento.

O Brasil velho tem influência. Em um único mês, agosto passado, protagonizou várias ações. Duas delas chamam mais atenção: (1) a norma da Anvisa sobre farmácias e (2) o acordo do governo com sindicalistas sobre benefícios previdenciários.

A Anvisa decidiu que remédios vendidos sem prescrição médica não podem ficar em gôndolas. Terão de ser pedidos no balcão. As farmácias foram proibidas de vender produtos não relacionados à saúde ou cuidados pessoais. Fica vedado comercializar balas, biscoitos, doces, pilhas etc.

No primeiro semestre, as vendas das farmácias cresceram 11,8% sobre igual período de 2008. Esse desempenho não se deveu aos remédios, cujas vendas aumentaram 4,3%. As farmácias dependeram, pois, de muitos produtos que estarão proibidas de vender. Muitas vão dançar, inclusive porque terão de investir para mudar o seu layout.

O objetivo é inibir a compra de remédios por impulso? Os consumidores precisam de uma babá para decidir? E se o vendedor atender ao pedido no balcão? O que dizer aos que investiram confiando na estabilidade das regras? Por acaso o burocrata sabe que em todo o mundo as farmácias viraram lojas de conveniência, onde se vende até remédio? São questões que realçam a insensatez da mudança.

Vejamos o acordo com os sindicalistas. Prevê nova regra para o reajuste de aposentadorias e pensões superiores a um salário mínimo: a inflação mais 50% da alta do PIB de dois anos atrás. Em 2010, será de 2,6% acima da inflação. Mundo afora, os benefícios são ajustados apenas pela inflação, para preservar o seu poder de compra. Ganhos reais são para os que trabalham e de acordo com a produtividade.

O acordo substitui o fator previdenciário pela regra "85-95". A aposentadoria se baseará na soma da idade com o tempo de contribuição. Para as mulheres, 85; para os homens, 95. Um ministro disse que o acordo é "responsável" porque custa 3 bilhões de reais e cabe nas finanças da Previdência. Não deu para entender. Se a Previdência está em déficit insustentável, um ato que piora a situação é responsável?

Em regimes previdenciários, o relevante é o impacto no cálculo atuarial, isto é, no longo prazo. Estudos de Fabio Giambiagi indicam que o acordo é um desastre de graves consequências. Dentro de trinta anos, quando a próxima geração de segurados estiver aposentada, seus benefícios serão em média 30% maiores. Isso sem contar o aumento da expectativa de vida, que exacerbará o problema.

Trata-se, pois, de um atentado contra as gerações futuras. No Congresso, o acordo tende a ser aprovado com aplausos. Se o governo, que tem as informações, preferiu ignorar os efeitos terríveis do acordo, o que dizer dos nobres parlamentares, que pensam em reeleger-se? Em tempo de disputa presidencial, o governo mirou as eleições e não as próximas gerações, apesar de o presidente Lula dizer o contrário.

Agosto foi pródigo de ameaças semelhantes. Surgiram propostas para fazer renascer a CPMF e criar um tributo sobre a venda de livros. Sindicalistas e parlamentares se acertaram para reduzir as horas trabalhadas. Disseram que a medida aumenta o emprego. Nada prova essa lorota, mas outro ministro a apoiou.

O marco regulatório do pré-sal pode nos tornar a próxima vítima da maldição dos recursos naturais, aquela em que oportunidades são perdidas no embalo do populismo eleiçoeiro e do estatismo. Mais uma vez, o velho trabalha em prol do subdesenvolvimento. A esperança é que o novo se fortaleça e prevaleça. Oremos.

DIRETO DA FONTE

Intensivão antibandido

SONIA RACY

FOLHA DE SÃO PAULO - 05/09/09

Sem alarde, a Segurança Pública entregou aos seus policiais, há cerca de 15 dias, um sofisticado campo de treinamento numa área de 300 mil metros quadrados próxima da Capital. Umas das atrações é uma pista para treinar perseguições - com derrapagens
e cavalos de pau.

O pacote inclui sete laboratórios sofisticados - um deles para investigações no campo da genética. Conjuntos como esse há apenas dois, ambos nos EUA.

A fé é verde
Marina Silva a tiracolo, a causa verde está conquistando os bipos da CNBB. "A Vida no Planeta" acaba de ser definido como o tema da Campanha da Fraternidade em 2011.

Como as reuniões preparatórias do encontro são muitas, e feitas com antecedência, as
pastorais sociais vão atravessar 2010 debatendo e produzindo material sobre meio ambiente.

E há bispos avisando que "não são só as CEBs" - as comunidades de base - que veem com simpatia a candidatura da senadora.

Cartela cheia
Se a legalização dos bingos passar no Congresso nos termos em que está, avisa o relator
Régis de Oliveira, as casas de jogos vão pagar 17% de impostos - depois de quitados os prêmios.

Para ele, é a saída para impedir a corrupção. "Pois hoje eles operam fora da lei e não pagam tributo nenhum".

Quem te vê
Meia-festa na Ancine. Entre 2001 e 2008 a produção de filmes nacionais cresceu 163%. Mas o público, só 6,6%.

Welcome?
Não só os estádios estão atrasados para a Copa de 2014. O
Ministério do Turismo calcula que terá de qualificar 300 mil pessoas.
Terá R$ 440 mi para ensinar línguas e técnicas a garçons, taxistas e microempresas.

O Rio é uma pista
Feriadão à parte, os paulistas estão, neste fim de semana, invadindo as praias do Rio de Janeiro.

Só na
Meia Maratona Internacional, a ser disputada amanhã, inscreveram-se cerca de 5 mil.

Pelo alto
Mark Wigley, diretor da Columbia University, dá hoje uma geral sobre as 15 favelas que serão remodeladas por conta da escola.

Ao lado dele, no helicóptero, o secretário
Elton Zacarias, da Habitação.


COMO VERSALHES
Em clima de Ano da França, um show de vestidos, penteados e música dos tempos da monarquia vai marcar a entrega do Prêmio Master - o Oscar do mercado imobiliário.

Criada por
Richard Luiz, por encomenda do Secovi e da Fiabci, a noitada será no Monte Líbano, dia 23.

Cora em Sampa
Finalmente,
Cora Coralina terá homenagem à altura em SP. Suas obras são destaque da nova exposição do Museu da Língua Portuguesa. Estreia no dia 29.

Curadoria de
Júlia Peregrino e cenografia de Daniela Thomas e Felipe Tassara.

Les étoiles
Cada uma na sua.
Jeanne Moreauaterrissa no Rio, dia 21, para abertura do Festival de Cinema, no cine Odeon.
E
Fanny Ardent é presença confirmada na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. Em outubro.

De colecionador
Olga Safra casa-se amanhã a bordo de um Christian Lacroix. A mãe da noiva, Chella, também usa um modelo alta-costura do estilista.

Os vestidos estão entre os últimos criados por ele, antes da concordata da maison.


Na Frente
Milton Hatoum assumiu tarefa especial: está orientando leitura de grandes livros para internautas do site O Livreiro. O programa do momento é Crônica de Uma Morte Anunciada, de García Marquez.

Vai ter brasileiro, amanhã, no
Festival de Veneza. A atriz Simone Spoladore, os diretores Daniela Tomas e Felipe Hirsch se juntam ao produtor Beto Amaral, na apresentação do longa Insolação.

O último trabalho de
Tide Hellmeister, Brava Gente, será mostrado na Caixa Cultural do Rio, a partir de terça. As 50 ilustrações vão, em outubro, para outras capitais.

Com curadoria de
Marcela Lordy e Marcelino Freire, acontece segunda, na Mercearia São Pedro, a Independente Disso. Mostra de curtas.

Justin Timberlake engajou-se em causa social. Vai construir, em LA, campo de golfe para crianças carentes.

Dentro do mês da fotografia em São Paulo,
Valu Oria prepara coletiva de 31 artistas para sua galeria. Estreia dia 16.

Único brasileiro convidado,
Clóvis Brigagão fala em Berlim, na terça, sobre relações Brasil e Argentina na área nuclear. Na Fundação Heinrich Boll.

A marca holandesa
G-Star investiu alto para a Semana de Moda de Nova York. Contratou Sealpara fazer trilha sonora ao vivo, no desfile do dia 15.

Com bênção de
Lula e projeto de Marcelo Crivella, foi instituído o Dia Nacional da Marcha Para Jesus. O primeiro, em 2010, será dia 5 de junho.

O IDIOTA

BETTY MILAN

REVISTA VEJA
Betty Milan

O tabu da morte

"Perder o ser amado não significa deixar de tê-lo
ao nosso lado. Graças à memória, ele pode permanecer
conosco. Fazer o luto é entender isso. Implica tempo
e um trabalho subjetivo que leva à consolação"

Ercole de Robert/The Bridgeman Art Library/Getty Images

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O amor e a morte são os dois grandes temas da vida. Sobre o primeiro, recebo muitos e-mails endereçados à minha coluna em VEJA.com. Sobre o segundo, raramente alguém me envia correspondência. Resolvi escrever a respeito da morte porque ela é inelutável – mais dia, menos dia, todos nos confrontamos com o fim.

Entre nós, ocidentais, o tema da morte é um tabu. Erguemos um muro entre os mortos e os vivos, como se assim pudéssemos afastar-nos dela. A palavra de ordem é não falar disso. À diferença de nós, os povos primitivos cultuavam os ancestrais não só para entrar em contato com o morto, no intuito de reverenciá-lo, como para se fazer ajudar por ele. O morto era integrado ao mundo dos vivos, que se separavam dele sem perdê-lo.

Na falta de um culto dos ancestrais, o recurso que nós temos para superar o drama da morte é a rememoração. Perder o ser amado não significa deixar de tê-lo ao nosso lado. Graças à memória, ele pode permanecer conosco. Fazer o luto é entender isso. Implica tempo e um trabalho subjetivo que leva à consolação. O chamado "trabalho de luto", no linguajar dos psicanalistas.

A morte tem de ser desdramatizada para que nós possamos sobreviver a ela, e não desperdiçar o tempo que nos resta. Já no século XVI, o pensador francês Montaigne, que refletiu sobre praticamente todos os temas de interesse, diz em seus Ensaios que é preciso não estranhar a morte, incitando o leitor a se acostumar com ela porque, "como não sabemos onde ela nos espera, é melhor esperá-la em todo lugar". Para Montaigne, essa é a condição da liberdade.

Acostumar-se com a ideia da morte não significa se preocupar com ela. Nada é pior do que viver angustiado diante da ideia de não poder conservar o ser amado, e conservar-se vivo, até o final dos tempos. Quem vive assim torna-se infeliz antes da hora. Preocupar-se com o futuro significa perder o presente, deixar de gozar a existência. Temer a perda é o mesmo que perder.

Carlito Maia, que foi, sobretudo, um filósofo popular brasileiro, dizia que de nada adianta preocupar-se com um problema. Temos de nos ocupar dele e ponto. Porque ocupar-se é uma forma de superar o problema – e viver. Preocupar-se, ao contrário, é uma forma de se enterrar em vida – e morrer. Sabedor disso, ele era tão leve quanto solidário. Valia-se da sua posição prestigiosa na Rede Globo para exercer uma espécie de flower power – celebrava, por exemplo, os eventos culturais de São Paulo, enviando aos amigos flores com bilhetes inesquecíveis. Não está mais vivo, porém, graças ao seu espírito, continua entre nós. O escritor vive para escrever; Carlito Maia viveu para merecer a palavra "saudoso". É bom tê-lo ao lado.

CLÓVIS ROSSI

Maus companheiros

FOLHA DE SÃO PAULO - 05/09/09

LONDRES - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que gosta tanto de ditados tidos como populares, bem que poderia prestar atenção ao "diga-me com quem andas e te direi quem és".
Se prestasse, teria dito à sua candidata Dilma Rousseff quais ilações podem surgir do fato de ela rezar ao lado do apóstolo Estevam Hernandes e da mulher dele, a bispa Sônia Hernandes, da Igreja Apostólica Renascer em Cristo, que foram presos nos EUA.
Não levavam dólares na cueca, mas escondidos em bolsa, em porta-CD e até numa Bíblia. Se prestasse ainda mais atenção, tomaria cuidado ao receber em dezembro o presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad. Primeiro, porque, ao contrário do que disse Lula logo após a vitória eleitoral de Ahmadinejad, o que houve em seguida não foi uma batalha entre torcidas de futebol, mas a velha repressão pura e dura à oposição.
Até uma agência semioficial de notícias anunciou que um jovem, filho de um clérigo respeitado, morreu na prisão devido a maus tratos (leia-se: tortura). Autoridades não podem ser levianas em comentários sobre questões internacionais.
Ainda mais que o Parlamento iraniano ratificou a indicação de Ahmad Vahidi para ministro da Defesa. Ele é acusado de ser o cérebro por trás do atentado que matou 85 pessoas em uma entidade beneficente judaica de Buenos Aires, em 1994. Vahidi declarou, após a aprovação: "Minha nomeação é uma bofetada decisiva em Israel". Bofetada também na Argentina, cuja presidente, Cristina Fernández de Kirchner, já disse sobre a indicação de Vahidi: "É uma afronta às vítimas".
Se é tão grave a Colômbia bombardear um acampamento das Farc em território do Equador -e é muito grave-, por que é menos grave bombardear um centro beneficente em território argentino?