sábado, março 20, 2010

ADAOBI TRICIA NWAUBANI


Na Nigéria, não há mais más notícias 
O ESTADO DE SÃO PAULO -  20/03/2010


Já ouvi pessoas comentando que nós, os nigerianos, somos o povo mais feliz da
Terra. Somos também acusados de nos manter passivos diante de questões que
em outros países seriam o estopim de revoluções.

Um exemplo: faz pouco mais de uma semana desde que episódios de violência étnico-religiosa deixaram centenas de mortos nas imediações de Jos, uma cidade na região central da Nigéria, mas o massacre de nossos concidadãos parece já ter sumido das manchetes locais e das conversas entre os nigerianos. A reação geral diante do anúncio de que a polícia tinha detido alguns dos assassinos parece ser “Ah, é mesmo?”. Poucos dentre meus conhecidos nem sequer se importam com o que os brutos têm a dizer em defesa própria.

Alguém chamou isso de “amnésia nigeriana” – a tendência de bloquear os traumas nacionais observada entre os nigerianos. Na verdade, se não fossem
as constantes reportagens veiculadas nas redes de TV BBC e CNN, ninguém
lembraria que centenas de nigerianos inocentes, mulheres e crianças, foram
massacrados enquanto dormiam naquela noite de domingo.

Quando olho para a TV da redação onde trabalho, em geral vejo um repórter estrangeiro com expressão extremamente grave, com cenas de Jos passando
ao fundo. A cada vez que a Nigéria passa por um episódio de violência, parecemos
nos calar enquanto o restante do mundo fixa a atenção no problema.

Talvez seja compreensível que tenhamos começado a nos ressentir destes jornalistas estrangeiros que insistem em se concentrar nos nossos desastres. “Estas pessoas nunca trazem notícias positivas sobre a Nigéria”, diz um colega.“É questão de pura malícia. Eles têm uma imagem específica da África que querem retratar repetidamente ao mundo.”

Minha amiga Ruona tem uma teoria para explicar por que não reagimos de forma mais enérgica: os nigerianos são obrigados a encarar a carnificina o tempo
todo – tornamo-nos acostumados à violência e por isso a tratamos com indiferença
–, enquanto a mídia ocidental a
vê comum olhar novo.

Mas, mesmo que decidíssemos levar nossas calamidades mais a sério, os
acontecimentos de Jos, por mais terríveis que tenham sido, teriam de esperar
sua vez. Enquanto Jos é afetada por episódios de violência étnico-religiosa, as
pessoas do Estado de Ebonyi, que falam o mesmo idioma e partilham da mesma
religião, estão matando umas às outras na disputa pelos recursos naturais.

Militantes descontentes no Delta do Rio Níger ameaçam aleijar a economia por meio de atos de vandalismo contra os oleodutos. Políticos são assassinados
rotineiramente no oeste do país; os pais e mães de filhos prósperos são sequestrados e trocados por resgate no leste. E sabemos que é apenas questão de tempo até que haja no norte a erupção de novos distúrbios entre muçulmanos e cristãos.

Nosso país é um dos maiores produtores mundiais de petróleo bruto,e ainda
assim uma debilitante escassez de combustível nos assola, e as pessoas brincam dizendo que as filas nos postos de gasolina se estendem até Calcutá.

E a quem podemos nos queixar? Apesar dos boatos de que o presidente Umaru Yar’Adua – que não é visto em público desde que partiu para a Arábia Saudita em novembro para cuidar da saúde – tenha sofrido morte cerebral, sua devotada mulher e um leal círculo dos membros de sua tribo parecem bastante contentes em governar no lugar dele.

Lamentamos por aqueles que morreram em Jos e também pelos sobreviventes.
Estamos todos perturbados com a sequência de desastres que os acometeu. Mas tomamos o cuidado de não produzir em nós mesmos uma overdose de agonia. Até os
psicólogos reconhecem que a amnésia pode ser um mecanismo de defesa, útil para a preservação da sanidade.
ADAOBI TRICIA NWAUBANI ESCRITORA E EDITORA DO JORNAL NIGERIANO ‘NEXT´

MERVAL PEREIRA

O preço político

O GLOBO - 20/03/10 

O deputado federal Ibsen Pinheiro tem dito muitas coisas absurdas nos últimos dias, e parece inebriado pela súbita popularidade de que desfruta desde que apresentou um projeto de lei alterando a distribuição dos royalties do petróleo, provocando com isso uma desagregação federativa que está difícil de resolver.
Como aquele juiz de futebol que adorava ser xingado pela multidão, Ibsen a cada dia consegue dizer mais barbaridades do que no dia anterior, e parece especialmente satisfeito em afrontar o Rio de Janeiro e seus cidadãos.
Deve ter razões especiais, ou, como disse o senador Francisco Dornelles, está perdendo a sanidade mental e precisa da compaixão dos fluminenses. Mas ele tem razão quando insinua que seu projeto não teria a aprovação esmagadora que obteve na Câmara se o governo não quisesse, ou se pelo menos tivesse interesse em não aprová-lo.
O presidente Lula se colocou como o garantidor de um acordo que mantinha a distribuição dos royalties do petróleo como estavam até o momento nas áreas já licitadas, inclusive em 30% do pré-sal.
Pelo acordo, feito no relatório do deputado Henrique Alves, os estados produtores ficariam com 25% das receitas obtidas com a cobrança de royalties do pré-sal, em vez dos 18% anteriormente propostos.
Os municípios produtores teriam direito a 6% dos royalties; os municípios afetados pelas operações de embarque e desembarque de petróleo ficariam com 3%, e todos os demais estados e municípios da federação passariam a receber 44% dos royalties.
Em contrapartida, os royalties da União seriam reduzidos de 30% para 22%. A emenda de Ibsen Pinheiro colocou abaixo o acordo com a oposição e abriu o apetite dos estados e municípios contra os estados produtores.
Esse acordo original foi alcançado graças ao trabalho conjunto dos três governadores de estados produtores, Sérgio Cabral, do Rio de Janeiro, Paulo Hartung, do Espírito Santo, e José Serra, de São Paulo, e saiu de uma reunião no Palácio da Alvorada, onde os ministros das Minas e Energia, Edison Lobão, e a chefe do Gabinete Civil, Dilma Rousseff, defenderam propostas semelhantes à do deputado Ibsen Pinheiro sobre a distribuição dos royalties do pré-sal.
Foi o governador José Serra quem sugeriu, obtendo o apoio dos governadores e do próprio presidente Lula, que não se mexesse na distribuição dos royalties num ano eleitoral.
O presidente Lula, aliás, disse em entrevista na sua viagem ao Oriente Médio que já antevia que em ano eleitoral muita gente ia querer "fazer gracinha" com o assunto.
O ministro Nelson Jobim, da Defesa, que também participou da reunião, redigiu pessoalmente uma mudança no projeto do governo, que garantia que nada seria alterado.
Mas sabia-se naquela reunião que o Congresso poderia fazer alterações. E mais que isso, que setores fortes do governo tinham entendimento distinto sobre a distribuição dos royalties.
O ministro Edison Lobão, por exemplo, chegou a ter uma discussão ríspida com o governador Sérgio Cabral, já relatada aqui na coluna, em que garantiu que havia conversado com ele sobre as alterações.
"Não é verdade", reagiu Cabral, garantindo que já avisara ao ministro que não aceitava a mudança da repartição dos royalties dos estados produtores.
Os três governadores tinham como objetivo central naquela noite garantir que a divisão dos royalties se mantivesse inalterada, o que conseguiram, até que a emenda Ibsen Pinheiro alterasse o acordo.
O governador Sérgio Cabral agiu emocionalmente o tempo todo, inclusive naquela reunião do Alvorada, quando teve que ser acalmado várias vezes por Lula e teve discussão também com o ministro da Comunicação Social, Franklin Martins, que defendia a mudança para o sistema de partilha, dando como exemplo de sucesso a Líbia de Kadafi, arrancando uma risada de Cabral.
Depois, quando foi apresentado o projeto, o governador do Rio chegou a dizer que "um grupo de parlamentares de vários partidos está com uma postura de como quem quer defender seu estado e quer roubar o Rio de Janeiro. Isso é um absurdo".
Quando, ao final de muitas idas e vindas, o projeto do deputado Ibsen Pinheiro foi aprovado, Cabral chegou a chorar em público, e convocou uma passeata de protesto.
Sua decidida defesa dos interesses do estado pode lhe trazer reconhecimento do eleitorado, mas a confiança que depositou no presidente Lula, sem ser correspondido, pode prejudicar sua imagem.
Até o momento, não tem demonstrado capacidade de negociação dentro do Congresso, se fiando muito no apoio do governo federal.
O governador paulista, José Serra, que se envolveu no primeiro momento da discussão, saiu de cena no decorrer do debate, dando a parecer que a definição da questão não interessava muito a seu estado.
A articulação paulista na Câmara foi pior que a do Rio, e muitos deputados, inclusive do PSDB, votaram a favor da emenda Ibsen.
Serra teve uma primeira reação inteiramente equivocada ao dizer que não sabia detalhes da questão dos royalties, pois só lera pelos jornais, e teve que tentar recuperar a posição no dia seguinte, quando deu uma declaração firme contra a alteração da distribuição, se reincorporando à luta ao lado do Rio e do Espírito Santo.
Já a ministra Dilma Rousseff não ficou em cima do muro, mesmo correndo o risco de ir contra a maioria dos estados.
Diferentemente do presidente Lula, ela antecipou sua posição a favor da manutenção do sistema atual de divisão dos royalties.
Quando o presidente Lula lavou as mãos e disse que cabia ao Congresso resolver a pendenga, ele já sabia que não tem muito a fazer. Ou, como insinua o deputado Ibsen Pinheiro, não quer ter muito a fazer.
Todos os personagens dessa quase Secessão tupiniquim pagarão um preço político nas próximas eleições

BAR ZIL

O RATO TRAVESTIDO

ARI CUNHA

Lago Norte

CORREIO BRAZILIENSE - 20/03/10

Presença dos shoppings no começo do Lago Norte é garantia de que tudo vai mudar na região. Tasso Jereissati assume o mais pesado investimento em favor da cidade com a participação minoritária do ex-vice governador Paulo Octávio. Participação do governo local não deu tempo fazer. Ocorre que a linha elétrica está pronta, vem de longe, e é serviço para a chuva não demolir. A população do Lago Norte sente que está ambientada. O trânsito poderá encontrar dificuldades pela falta de acesso. Caminho será encontrado para justificar tamanho investimento, com tanta honra para participantes. A destacar, conjunto de casas de grifes, como satisfação para senhoras compradoras.

A frase que não foi pronunciada
“A partir de agora, quem ocupar a cadeira do governo do GDF estará em um touro mecânico.”
Deputado Reguffe pensando em uma Câmara que represente o povo.



Mascando
» 
Alô, aqui é o ministro. Pode ser que assim os funcionários dos ministérios melhorem no trato com quem faz o contato por telefone. As reclamações da burocracia e falta de educação dos atendentes chamam a atenção. Desde o chiclete até as conversas particulares que os interlocutores são obrigados a ouvir. Isso é o que se constata quando as nomeações são políticas e não se tem compromisso com o trabalho.
PID
» 
O Brasil é signatário da Convenção sobre Trânsito Viário celebrada em 1968 em Viena. Todos os países participantes honram as “permissões internacionais para dirigir veículos”. Isso significa que em Brasília você poderá solicitar ao Detran o documento PID (permissão internacional para dirigir) que o habilitará a conduzir veículos em diversos países ao redor do mundo. É bom ficar atento à ressalva de que o PID brasileiro não é válido no Brasil.
Sem mão de obra
» 
“Cresce Brasil + Engenharia + Desenvolvimento e a Superação da Crise.” Engenheiros arregaçam as mangas e sugerem estratégias práticas ao governo relacionadas a reservas de petróleo na camada do pré-sal, infraestrutura, energia, saneamento, mobilidade urbana, meio ambiente e comunicações. O grande problema apontado por Murilo Pinheiro, da Federação Nacional dos Engenheiros, é a falta de mão de obra especializada.
Nada ainda
» 
Apesar da boa organização e orientação, as mães dos adolescentes desaparecidos em Luziânia ainda não tiveram êxito. Os filhos continuam sumidos. A Polícia Federal e a Interpol apoiam nas buscas. Na reunião de que vão participar na Comissão de Direitos Humanos no Congresso, elas vão pedir ao ministro da Justiça, Luiz Paulo Barreto, que crie uma delegacia nacional de desaparecidos, além de um fundo para sustentar a família enquanto estiver envolvida com o problema.
Multa
» 
Por fazer propaganda política nas inaugurações, o presidente Lula foi multado em R$ 5 mil. É que extrapolou obrigações presidenciais. Não há resposta de quem vai cobrar e por que meios. Lula jamais reconheceu erro próprio. A sentença é forte.
Batalha
» 
Operação de guerra em Brasília com militares da Marinha, Exército e Aeronáutica. Aedes aegypti é o inimigo que mobiliza mais de 200 homens. Joaquim Carlos da Silva acrescenta que a Secretaria de Saúde também vai contratar 500 agentes para participar do combate e prevenção.
Novidade
» 
Depois de tantas críticas à política internacional adotada pelo governo, o Senado resolveu se levantar. Quer participar das decisões sobre a política externa. Membros da Comissão de Relações Exteriores discutiram que só assinam o que o governo impõe. Essa fase acabou. Segundo o senador Collor, enquanto não houver mais participação do parlamento, as solicitações de nomeações enviadas pelo governo ficarão na gaveta.
Participação
» 
Luiz Fux e conselho de notáveis fazem trabalho hercúleo pelo país para definir o novo código de processo civil em reuniões abertas. Em entrevista no Senado, Eduardo Casagrande disse que nada muda no que se refere ao princípio da justiça. Pelo contrário. O novo CPC vai reduzir a sobrecarga dos processos dando mais agilidade com menos recursos.
Escassez
» 
Nenhum projeto contra a corrupção está na pauta de votações da Câmara ou Senado. O deputado petista Francisco Praciano é quem protesta. Ele protocolou na Mesa das duas Casas pedido para que fosse criado um grupo de trabalho conjunto sobre o tema. Para as próximas eleições, seria mais honesto que os próprios partidos mudassem as regras nesse sentido. Não mudam porque falta coragem.
Voos
» 
Programada visita de representantes da Anac e Ministério da Defesa para explicar o movimento do Aeroporto de João Pessoa. O senador Roberto Cavalcanti é quem estranha. Durante o dia, um deserto. À noite um movimento frenético, diz o parlamentar. A preocupação do senador é acertar o passo para a Copa de 2014.


História de Brasília
Um garoto lavador de carros no aeroporto é exemplo de bom humor. Quando chega um carro sujo, ele oferece seus serviços. Se é rejeitado, quando o proprietário chega, encontra todos os vidros com uma única inscrição: “Quero água”. (Publicado em 28/2/1961)

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO


Baixa produtividade reduz crescimento da AL
FOLHA DE SÃO PAULO - 20/03/10



O baixo crescimento da produtividade é apontado como a principal razão para os países da América Latina e do Caribe apresentarem crescimento inferior ao dos países avançados.
A conclusão é de estudo realizado pelo BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), que analisou os ganhos e as perdas de produtividade de 76 países em relação aos EUA.
O Chile foi o único país da região em que a produtividade cresceu na comparação com os EUA. De acordo com o levantamento, o aumento foi de 19% no período de 1960 a 2005.
O Brasil foi um dos países em que a produtividade caiu menos em relação aos EUA, com queda de 2% no período.
O estudo rompe com a noção comum de que a região sofre escassez de investimentos. Com políticas que promovam uma melhor utilização dos recursos existentes, a América Latina poderia acelerar o crescimento econômico e reduzir a diferença de renda per capita em relação às nações industrializadas, segundo o relatório elaborado pelo BID.
De acordo com o levantamento, os custos elevados de transporte, o crédito escasso e os altos impostos são apontados como os principais fatores para a baixa produtividade no continente latino.
O estudo sugere que o crescimento econômico poderia melhorar com regimes tributários simplificados e com políticas voltadas para fornecer bens públicos essenciais, como infraestrutura, bem como medidas para promover a inovação tecnológica no setor privado.
O BID analisou a produtividade em vários segmentos da economia. A agricultura é o setor que apresenta o maior crescimento, embora o avanço seja ainda inferior à média mundial.
O pior desempenho foi o do setor de serviços, que emprega cerca de 70% da força de trabalho na região.
"BNDES CHINÊS" 
Com o apoio do China Development Bank Corporation, será realizado o seminário "Oportunidades de Negócio no Setor de Petróleo e Gás no Brasil", de quinta-feira a domingo, da semana que vem, em Pequim, Xangai e Dalian, na China. Representantes do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), da Petrobras e do Prominp (programa do governo para o setor), além de empresários do setor de energia, fazem parte da missão do Brasil.
ARTE SUPERA CRISE 
A sexta edição da SP Arte, feira anual de arte que vai reunir 81 galerias na Bienal, entre os dias 28 de abril e 2 de maio, está com 40 galerias na lista de espera -30 nacionais e dez internacionais.
A situação reflete o modo como o mercado brasileiro de arte superou a crise, afirma Fernanda Feitosa, diretora-geral da feira.
"As turbulências afetaram muito os mercados de arte no mundo, pois os grandes bônus vinham estimulando as vendas. A edição de 2009 foi a primeira da feira em um cenário desfavorável. Mas o país não sofreu tanto, pois os artistas brasileiros não estavam com os preços inflados."
A fila de espera não será toda atendida, pois a ideia é que o crescimento da feira acompanhe o amadurecimento do mercado consumidor no país. "Não quero dar ideia de feira vazia."
A feira de 2009 girou cerca de US$ 15 milhões. "Sem contar os negócios pós-feira, que não tenho como contar." Para este ano, são esperadas 15 mil pessoas. Serão expostas 2.500 obras modernas e contemporâneas, que podem custar de R$ 1.500 a R$ 1 milhão.
MODA EXECUTIVA
Esmaltes de cores berrantes no trabalho. Sim ou não?
A última moda dos esmaltes, em tons chamativos de azul, amarelo e verde, deve ficar fora dos escritórios.
Yolanda Cerqueira Leite, vice-presidente da Whirlpool, diz que as cores "lembram adolescente" e, portanto, não combinam com atitude profissional.
"Em uma reunião de trabalho não fica bem chamar a atenção do interlocutor para as suas unhas", afirma.
Em ambientes descontraídos, como agências de publicidade, as cores até podem entrar. Nos ambientes de empresas formais e escritórios de advocacia alguns tons de vermelho são válidos. "Sou a favor do vermelho, com bom senso", diz.
Outra executiva reconhecida pela elegância, Isabel Gomes, diretora da 3M, diz que "discrição é característica importante no trabalho, principalmente quando se está em posição de modelo". Para ela, vermelho e rosa são permitidos. "Principalmente se souber combinar com o batom. Mas, as outras cores chamativas é melhor deixar para usar socialmente."


com JOANA CUNHA e ALESSANDRA KIANEK

DIOGO MAINARDI


REVISTA VEJA
Diogo Mainardi

A história em inquéritos

"Júlio César foi retratado por Plutarco. Lorenzo de Medici 
foi retratado por Maquiavel. Frederico II foi retratado 
por Thomas Carlyle. Lula será eternamente recordado 
pelos depoimentos de Roberto Jefferson, Hélio Malheiro
e Lúcio Bolonha Funaro"

A biografia de Lula será escrita nos tribunais. O julgamento histórico de seus oito anos no poder estará estampado numa série de inquéritos penais. Ele permanecerá na memória nacional através do testemunho daqueles que rapinaram em seu nome. Júlio César foi retratado por Plutarco. Lorenzo de Medici foi retratado por Maquiavel. Frederico II foi retratado por Thomas Carlyle. Lula? Lula será eternamente recordado pelos depoimentos de Roberto Jefferson, Hélio Malheiro e Lúcio Bolonha Funaro. Quem precisa de Plutarco, se tem o presidente do PTB? Quem precisa de Maquiavel, se tem um técnico da Bancoop? Quem precisa de Thomas Carlyle, se tem o doleiro da Garanhuns?
Lula, até recentemente, ainda podia esperar que as ilegalidades praticadas em seu governo passassem impunes. As reportagens publicadas em VEJA, nas duas últimas semanas, demonstraram que isso nunca vai acontecer. No futuro, quando alguém quiser relatar os fatos deste período, terá de recorrer necessariamente aos processos judiciais, que detalharam o modo lulista de se organizar, de se acumpliciar, de se infiltrar e de fazer negócios. Está tudo lá: dos adesivos da campanha eleitoral de 2002, pagos com o dinheiro dos mutuários da Bancoop, às propinas dos parlamentares mensaleiros, pagas com o dinheiro do Banco Rural. As tramas, os nomes dos personagens e as mentiras repetem-se continuamente.
Alguns dos processos contra os lulistas podem desandar. Alguns dos réus podem ser inocentados. Mas um depoimento como o de Lúcio Bolonha Funaro assombrará para sempre a memória de Lula, como o fantasma do pai de Hamlet, que vem do purgatório para delatar seu assassino, o rei Cláudio:
FANTASMA – Escuta, Hamlet! Conta-se que o diretor-presidente da Portus, indicado pelo senhor José Dirceu, me picou quando eu me achava a dormir num shopping de Blumenau. Assim, todo o povo da Dinamarca foi ludibriado por uma notícia falsa da ASM Asset Management. Mas escuta, nobre mancebo! O pagamento "por fora" de 500 000 reais ao Partido dos Trabalhadores, que lançou veneno na vida de teu pai, agora cinge a coroa dele.
HAMLET – Vilão! Vilão que ri! Vilão maldito!
Hamlet sai dali e, muitas páginas depois, acaba se vingando do assassino de seu pai. Mesmo que os procuradores engavetem todas as provas contra os lulistas, mesmo que Dilma Rousseff seja eleita, a história de Lula será contada a partir dos depoimentos desses fantasmas.
Hamlet diz um monte de frases que podem ser aplicadas a Lula. A melhor delas é dirigida a Ofélia: "Vai embora. Vai depressa. Adeus".

RUY CASTRO

Cinédia, 80

FOLHA DE SÃO PAULO - 20/03/10

RIO DE JANEIRO - Uma grande instituição brasileira faz 80 anos: a Cinédia, primeiro estúdio de cinema do país. Dela, nos anos 30 e 40, saíram filmes como "Lábios sem Beijos", "Limite", "Ganga Bruta", "Alô, Alô, Carnaval!", "Bonequinha de Seda", "Descobrimento do Brasil", "Berlim na Batucada", "O Ébrio" e, pode crer, parte de "É Tudo Verdade" ("It's All True"), que Orson Welles filmou lá, em 1942.
A Cinédia foi o sonho de um homem: Adhemar Gonzaga, 29 anos em março de 1930, quando inaugurou as instalações em São Cristóvão. Ia a Hollywood, visitava os estúdios, aprendia as novidades técnicas e trazia tudo para cá. No apogeu, a Cinédia podia produzir, filmar, revelar, copiar e distribuir filmes de qualquer metragem, de cinejornais e documentários a dramas e musicais.
Gonzaga era um catalisador. À sua volta concentrou diretores como Humberto Mauro, Mario Peixoto, Carmen Santos, Lulu de Barros, Gilda de Abreu, Moacyr Fenelon e Mesquitinha, um intelectual como Roquette-Pinto e todos os astros da época. O Brasil lhe deve muito. Pois, com tudo isso, Gonzaga perdeu a guerra -para o exibidor, eterno inimigo do cinema brasileiro. E, se sustentou a Cinédia por quase 50 anos, foi porque torrou nela sua fortuna pessoal.
Quando ele morreu, em 1978, sua filha Alice Gonzaga tomou o leme e, desde então, luta para restaurar o acervo e conservar o fabuloso arquivo sobre cinema montado por seu pai e continuado por ela. Arquivo que Alice não pode abrir a consultas, porque não tem estrutura para isso.
Em outro país, o patrimônio da Cinédia seria pasto de disputas a dentadas entre ministérios da Cultura e empresas privadas que tentariam adotá-lo. Aqui, só se mantém vivo pela bravura desta mulher que trocou a sua identidade pelo legado de seu pai.

ROBERTO POMPEU DE TOLEDO


REVISTA VEJA
Roberto Pompeu de Toledo

Será a felicidade necessária?

Os pais costumam dizer que importante é que os filhos 
sejam felizes. Ora, felicidade é coisa grandiosa. Não há 
encargo mais pesado para a pobre criança

Felicidade é uma palavra pesada. Alegria é leve, mas felicidade é pesada. Diante da pergunta "Você é feliz?", dois fardos são lançados às costas do inquirido. O primeiro é procurar uma definição para felicidade, o que equivale a rastrear uma escala que pode ir da simples satisfação de gozar de boa saúde até a conquista da bem-aventurança. O segundo é examinar-se, em busca de uma resposta. Nesse processo, depara-se com armadilhas. Caso se tenha ganhado um aumento no emprego no dia anterior, o mundo parecerá belo e justo; caso se esteja com dor de dente, parecerá feio e perverso. Mas a dor de dente vai passar, assim como a euforia pelo aumento de salário, e se há algo imprescindível, na difícil conceituação de felicidade, é o caráter de permanência. Uma resposta consequente exige colocar na balança a experiência passada, o estado presente e a expectativa futura. Dá trabalho, e a conclusão pode não ser clara.
Os pais de hoje costumam dizer que importante é que os filhos sejam felizes. É uma tendência que se impôs ao influxo das teses libertárias dos anos 1960.
É irrelevante que entrem na faculdade, que ganhem muito ou pouco dinheiro, que sejam bem-sucedidos na profissão. O que espero, eis a resposta correta, é que sejam felizes. Ora, felicidade é coisa grandiosa. É esperar, no mínimo, que o filho sinta prazer nas pequenas coisas da vida. Se não for suficiente, que consiga cumprir todos os desejos e ambições que venha a abrigar. Se ainda for pouco, que atinja o enlevo místico dos santos. Não dá para preencher caderno de encargos mais cruel para a pobre criança.
"É a felicidade necessária?" é a chamada de capa da última revista New Yorker (22 de março) para um artigo que, assinado por Elizabeth Kolbert, analisa livros recentes sobre o tema. No caso, a ênfase está nas pesquisas sobre felicidade (ou sobre "satisfação", como mais modestamente às vezes são chamadas) e no impacto que exercem, ou deveriam exercer, nas políticas públicas. Um dos livros analisados, de autoria do ex-presidente de Harvard Derek Bok (The Politics of Happiness: What Government Can Learn from the New Research on Well-Being), constata que nos últimos 35 anos o PIB per capita dos americanos aumentou de 17 000 dólares para 27 000, o tamanho médio das casas cresceu 50% e as famílias que possuem computador saltaram de zero para 70% do total. No entanto, a porcentagem dos que se consideram felizes não se moveu. Conclusão do autor, de lógica irrefutável e alcance revolucionário: se o crescimento econômico não contribui para aumentar a felicidade, "por que trabalhar tanto, arriscando desastres ambientais, para continuar dobrando e redobrando o PIB?".
Outro livro, de autoria de Carol Graham, da Universidade de Maryland (Happiness Around the World: The Paradox of Happy Peasants and Miserable Millionaires), informa que os nigerianos, com seus 1 400 dólares de PIB per capita, atribuem-se grau de felicidade equivalente ao dos japoneses, com PIB per capita 25 vezes maior, e que os habitantes de Bangladesh se consideram duas vezes mais felizes que os da Rússia, quatro vezes mais ricos. Surpresa das surpresas, os afegãos atribuem-se bom nível de felicidade, e a felicidade é maior nas áreas dominadas pelo Talibã. Os dois livros vão na mesma direção das conclusões de um relatório, também citado no artigo da New Yorker, preparado para o governo francês por dois detentores do Nobel de Economia, Amartya Sen e Joseph Stiglitz. Como exemplo de que PIB e felicidade não caminham juntos, eles evocam os congestionamentos de trânsito, "que podem aumentar o PIB, em decorrência do aumento do uso da gasolina, mas não a qualidade de vida".
Embora embaladas com números e linguagem científica, tais conclusões apenas repisariam o pedestre conceito de que dinheiro não traz felicidade, não fosse que ambicionam influir na formulação das políticas públicas. O propósito é convidar os governantes a afinar seu foco, se têm em vista o bem-estar dos governados (e podem eles ter em vista algo mais relevante?). Derek Bok, o autor do primeiro dos livros, aconselha ao governo americano programas como estender o alcance do seguro-desemprego (as pesquisas apontam a perda de emprego como mais causadora de infelicidade do que o divórcio), facilitar o acesso a medicamentos contra a dor e a tratamentos da depressão e proporcionar atividades esportivas para as crianças. Bok desce ao mesmo nível terra a terra da mãe que trocasse o grandioso desejo de felicidade pelo de uma boa faculdade e um bom salário para o filho.

FERNANDO RODRIGUES


O PT e o tempo
FOLHA DE SÃO PAULO - 20/03/10

BRASÍLIA - Ninguém duvida que o tempo opere milagres e cicatrize feridas. O PT sabe disso. Sigla lulo-dependente em grau máximo e capacidade de formulação mínima, decidiu seguir o conselho do presidente. Lançará novamente ao governo de São Paulo o nome do senador Aloizio Mercadante.
A ideia de Lula parece lógica: "Lancem sempre o mesmo nome para o governo de São Paulo que um dia o PT ganha". Nunca até hoje um petista disputou duas vezes o Palácio dos Bandeirantes. Mercadante será o primeiro. Com esperança de o tempo se incumbir de envernizar e lustrar sua biografia.
Economista, o senador petista tem como obra mais genial o conselho dado a Lula e ao PT em 1994. Recomendou ao partido atacar o Plano Real. Para ele, seria um fracasso certo. Errou feio. Lula foi derrotado por FHC no primeiro turno. Eleito senador em 2002, Mercadante teve 10,5 milhões de votos.
Quatro anos depois, em 2006, conseguiu a proeza de disputar o Palácio dos Bandeirantes e encolher sua marca para 6,8 milhões de votos -em meio ao escândalo da mala de dinheiro usada por um de seus assessores na tentativa de comprar um dossiê antitucano.
Líder do PT no Senado, Mercadante brilhou pouco. Sem poder, chegou a anunciar no microblog Twitter sua renúncia ao cargo em caráter irrevogável. Não concordava com alguns petistas a favor de salvar José Sarney de uma merecida investigação. A nobreza durou pouco. Enquadrado por Lula, humilhado, revogou o irrevogável.
Como senador, sua ação mais positiva foi um apoio tardio à lei que liberou o uso da internet nas eleições. Nesta semana, tirou proveito disso. Punido por aparecer na TV fazendo propaganda fora de hora, colocou seu comercial na web.
Esse será o candidato do PT ao governo paulista. Pois o tempo opera milagres -e Lula deu a ordem para o nome ser repetido à exaustão.

BAR ZIL

O ESCROTO

RUTH DE AQUINO


REVISTA ÉPOCA
Os pegadores e as vagabundas
RUTH DE AQUINO
Revista Época
RUTH DE AQUINO
é diretora da sucursal de ÉPOCA no Rio de Janeiro
raquino@edglobo.com.br
Jovens mulheres têm três vezes mais parceiros sexuais do que tinham suas avós na mesma idade, segundo uma pesquisa com 3 mil moças de até 24 anos na Inglaterra. A pesquisa revelou que elas já tinham feito sexo com, em média, 5,65 homens. Uma em cada dez entrevistadas disse ter ido para a cama com mais de dez parceiros. Assim que os dados foram divulgados no blog Sexpedia, da jornalista Fernanda Colavitti, em epoca.com.br, uma espécie de ódio machista se abateu contra aquelas que muitos chamavam de “vagabundas”. Os comentários raivosos refletem a reação sincera de muitos homens ao encontrar uma mulher livre para exercer seu desejo. No Ocidente, até os anos 70 a virgindade era o tabu. Era vergonhoso para um homem casar com defloradas. O hímen era exibido como troféu. Felizmente, esse tempo passou.
Agora, é como se os machistas usassem a quantidade de parceiros para rotular uma mulher como “direita” ou “fácil”. “Posso ser machista e antiquado, mas mulher que teve mais de cinco parceiros não merece respeito”, diz o comentário do internauta Juliano ao post no Sexpedia. “Não sou preconceituoso, mas me incomodaria casar com uma mulher que muita gente já provou”, afirma Ricardo. “Saudades de quando havia uma distinção entre mulheres corretas e vagabundas”, diz Evandro. “Não quero pegar resto dos outros”, escreve Renato.
É sintomático como essa atitude muda completamente quando entra em jogo o número de parceiras sexuais do homem. Aí, o “garanhão” de antigamente hoje se chama “pegador”. Bom de cama, contribui como macho para a reprodução da espécie, faz pose de experiente e conquista um indisfarçável respeito de seus pares masculinos. Mas a mulher que transa com muitos é logo tachada de “vagabunda”. Qual seria o número mágico de parceiros sexuais que transforma uma jovem normal em promíscua aos olhos machistas? Três, cinco, dez, 20? “O número não importa tanto”, diz o psicanalista Francisco Daudt. “O que mais apavora um homem nessa hora é o fantasma de, sem saber, criar um filho que não seja dele.”
Os homens mais agressivos com as mulheres livres sentem dificuldade de lidar com a ideia de que elas têm desejo sexual próprio. “É como se a virilidade deles fosse transferida para elas”, afirma o psicanalista Contardo Calligaris. São homens capazes de agredir uma mulher por estar de saia curta. A vida sexual deles costuma ser frustrante, limitada e triste.
O antigo “garanhão” virou “pegador”. Mas mulher com vários parceiros é tachada de “vagabunda”. É ridículo
“Quando eles chamam a mulher de rodada, como um carro de terceira mão, isso não tem a ver com o uso de seu corpo, mas com o medo que ela desperta”, diz Calligaris. “O rapaz pensa: ela sabe fazer sexo melhor que eu. Meu desempenho será comparado ao de outros, mais experientes.” De acordo com a sexóloga Carmita Abdo, “vagabunda é aquela mulher que você quer, mas não te quer”. Aquela que transou com vários não estaria interessada em estabilidade. “Será que eu vou dar conta?”, pensa ele. Como se pudesse controlar a futura dor de uma rejeição ou troca.
Ninguém está sugerindo que é mais feliz quem faz sexo com muita gente, seja homem ou mulher. Mas as moças têm o direito de, caso queiram, experimentar o sexo com responsabilidade e sem culpa. Às vezes, elas próprias mentem. Em epoca.com.br, Luiza fez o seguinte comentário: “Tive de 20 a 25 parceiros e tenho 27 anos. Como sei que a maioria dos homens é machista, sempre digo que tive dois parceiros, o ex e o atual! Muitos homens são bobos. Outros não colocam o número de parceiros como fator determinante do caráter de uma mulher. Esses merecem respeito”.
Os machistas são exceção? Ou a maioria dos adolescentes e adultos de hoje pensa como eles? “Nos últimos anos, os adolescentes se tornaram muito mais caretas”, diz Calligaris. “Essa história de beijar dez ou 20 numa balada parecia ser uma continuação da liberação sexual. Nada disso. É superfície.” Para que insistir em saber quantos parceiros alguém teve no passado? Como diz Daudt, “se soubéssemos em detalhe a vida sexual que cada um leva, e as fantasias de cada um, ninguém ficaria com ninguém”.

MAÍLSON DA NÓBREGA


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Maílson da Nóbrega

Um duplo atentado

"O preconceito marxista contra a propriedade sobrevive 
nos corações e mentes do Movimento dos Trabalhadores 
Sem Terra (MST) e dos formuladores do malsinado programa de Lula"

No Terceiro Programa Nacional de Direitos Humanos, do governo Lula – que contém um amontoado de ideias autoritárias –, há um duplo atentado ao direito de propriedade: (1) aceita-se como natural a invasão de imóveis rurais e urbanos; e (2) viola-se a independência dos juízes, que não mais poderiam emitir liminares determinando a desocupação.
De fato, antes de adotar sua decisão, o juiz teria de realizar "audiência coletiva com os envolvidos, com a presença do Ministério Público, do poder público local, órgãos públicos especializados e Polícia Militar". Ou seja, uma assembleia que poderia intimidar o magistrado.
O direito de propriedade começou a surgir no século XVI sob o impulso do liberalismo e dos ideais iluministas. É parte do conjunto que inclui a liberdade do indivíduo perante a sociedade e o estado. Antes, a propriedade privada já era reconhecida. A novidade foi o estabelecimento de regras que a defendiam do arbítrio e dos predadores.
Levou algum tempo para que o direito de propriedade se firmasse como um dos grandes avanços da civilização. No século XVIII, Rousseau dizia que propriedade é que seria roubo, e não a sua espoliação. No século seguinte, Proudhon falava que ela seria a causa dos crimes e de misérias provocadas pelo homem. Influenciado por essas ideias, Karl Marx atribuiu à propriedade a origem de todos os males.
Por isso, Marx pregou a abolição da propriedade privada e sua coletivização sob controle do proletariado. Foi um desastre. Cerca de 100 milhões pereceram sob o tacão do totalitarismo comunista. Mesmo assim, o preconceito marxista contra a propriedade sobrevive nos corações e mentes do MST e dos formuladores do malsinado programa de Lula.
A entronização do direito de propriedade nas sociedades avançadas (e agora também na China) tem seu marco institucional mais relevante na Revolução Gloriosa inglesa, de 1688, que destronou o rei James II. A queda do monarca contou com amplo apoio popular, que se deveu, entre outras razões, a atos atentatórios à propriedade.
Em obra monumental (1688 – The First Modern Revolution), Steve Pincus assinala inúmeras queixas da população contra esses atos. O Judiciário não era garantia. James II demitiu doze juízes em seu reinado de menos de quatro anos, tanto quanto seu antecessor, Charles II, em 25 anos. Nomeava apenas juízes favoráveis ao absolutismo.
Com a revolução, os reis perderam o poder de demitir juízes. O poder supremo passou da monarquia para o Parlamento, que concedeu independência ao Judiciário e se dedicou intensamente, nos anos seguintes, a rever as restrições à hipoteca de bens e ao uso da propriedade em atividades econômicas.
Nos 150 anos posteriores a 1688, mais da metade das leis aprovadas normatizava o direito de propriedade. Regras medievais que inibiam o investimento foram substituídas por outras que permitiram a agricultores, industriais e comunidades aproveitar as oportunidades que surgiam com o novo ambiente.
Até hoje se discute por que a Revolução Industrial ocorreu na Inglaterra e não na França, na China ou no Japão. Não há dúvida, todavia, quanto ao papel do direito de propriedade no processo e à sua contribuição para a ascensão inglesa à condição de potência mundial no século XIX.
O direito à propriedade foi consagrado na Declaração Universal dos Direitos Humanos da ONU (1948). "Toda pessoa tem direito à propriedade, só ou em sociedade com outros. Ninguém será arbitrariamente privado de sua propriedade." Direito de propriedade e Judiciário independente são, assim, faces da mesma moeda. O programa de Lula investe contra essas duas conquistas.
A infeliz ideia foi criticada pela Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB). A entidade repudia o cerceamento da autoridade do juiz, que ficaria condicionada "à realização de uma audiência pública com viés não raras vezes político, postergando ainda mais a prestação jurisdicional pretendida". Por tudo isso, se não for abortada, a proposta nos levará às trevas.
P.S. – Eu concluía este texto quando se anunciou a possível revisão dessa e de outras propostas autoritárias. Mesmo assim, dado que seus defensores continuam no governo, vale manter o alerta.

PAINEL DA FOLHA

Padrinho de peso

RENATA LO PRETE
FOLHA DE SÃO PAULO - 20/03/10



 Fundos de pensão tem manifestado apoio, ainda que discreto, à emenda que acaba com o fator previdenciário e que, segundo o governo, pode quebrar as contas da previdência no país. 

Pronto, falei 

Do presidente do partido aos tucanos mais próximos de José Serra, foram todos surpreendidos pela entrevista em que o governador, “sem querer querendo”, respondeu como candidato assumido às perguntas do apresentador popular Datena. 

A avaliação mais ou menos geral é que Serra, à vontade com um entrevistador camarada, acabou ultrapassando a fronteira que havia estabelecido até então e falando até do que fazer na Presidência da República. Não que isso faça muita diferença. “Demorou tanto que virou uma ‘não questão’”, diz um cardeal tucano. “Todo mundo sabe que, quando março acabar, ele estará na rua fazendo campanha”. 

Local - De um tucano de outra praça, algo decepcionado com o evento de ontem: “Mas esse programa só passa em São Paulo, né?”. 

Vem cá - Antes de sair da Casa Civil, Dilma Rousseff (PT) fará nova rodada de conversas com o pequeno PSC, sigla na mira dos tucanos. 

Em outra - Recém-chegado de temporada nos EUA, o petista José de Filippi Jr. tem dito que não gostaria de assumir a tesouraria da campanha de Dilma. O ex-prefeito de Diadema, que cuidou das contas da reeleição de Lula, disputará vaga para a Câmara. 

Herança - Decidido a não renovar o mandato de deputado federal, o secretário-geral do PT, José Eduardo Cardozo, tentará transferir seu eleitorado para o colega Paulo Teixeira e para o ex-prefeito de São Carlos Newton Lima, que buscará cadeira na Câmara. 

Um é pouco - Diante da dificuldade em conciliar a agenda de vereador, presidente PV-RJ e coordenador nacional da pré-campanha de Marina Silva ao Planalto, Alfredo Sirkis desabafou: “Eu preciso ser clonado”. 

Pole - Após conversa com lideranças do PV, Fabio Feldman retomou a condição de mais provável candidato do partido ao governo de SP. 

Máquina - Informe oficial da Prefeitura de Indaiatuba: “o prefeito Reinaldo Nogueira (PDT) foi indicado pelo partido como candidato a vice na chapa de Aloizio Mercadante”. 

Climão 1 - No dia do retorno de Lula da viagem ao Oriente Médio, chamou a atenção o teor do comunicado à imprensa distribuído ontem pelo Itamaraty com o objetivo de condenar o ataque realizado na véspera contra Israel. 

Climão 2 - Depois do lamento, fugindo do tom tradicional de tais comunicados, o governo brasileiro “conclama” Israel a “‘abster-se de reações desproporcionais que possam tornar ainda mais difícil a retomada de negociações para um acordo de paz”. 

Cadeiras - Aliados do governador do Espírito Santo, Paulo Hartung (PMDB), apontam dois fatores para sua anunciada desistência em disputar o Senado: 1) desconfiança em passar o governo ao vice, Ricardo Ferraço, que disputará o cargo; 2) desgaste com as denúncias sobre o sistema prisional (superlotado e violento) expostas na Comissão de Direitos Humanos da ONU. 

Motivos - Hartung explica: “Nunca renunciei a um mandato no Executivo. A atividade pública não significa ter um mandato colado no outro”. Ele também descarta uma engenharia para lançar o prefeito de Vitória, João Coser (PT), para a sua sucessão. “Ele (Coser) disse ontem mesmo que não vai disputar”.

TiroteioSerra é o candidato do “não ir”. Faz tanto segredo que consegue ficar no muro até na hora de anunciar a candidatura. 

Do deputado estadual ANTONIO MENTOR, novo líder do PT na Assembleia paulista, sobre entrevista dada ontem pelo governador. 
Contraponto

A favorita 
Em palestra assistida por estudantes universitários e jornalistas, Ciro Gomes questionava pesquisas de intenção de voto que fazem ligação explícita entre a candidata Dilma Rousseff e seu padrinho superpopular, Lula. 

- Botam lá na cédula: Serra, Marina, Ciro e Dilma, “a candidata do Lula”. Então eu vou botar: “Ciro, marido da Patrícia Pillar”, e vocês vão ver quantos votos eu terei! 

Um estudante na plateia da Faculdade de Direito do Largo São Francisco interrompeu o deputado do PSB: 

- Aliás, Ciro, a nossa grande decepção aqui hoje é essa: a Patrícia Pillar não veio!

CLAUDIO DE MOURA CASTRO


REVISTA VEJA
Claudio de Moura Castro

O berço da ciência

"O futuro cientista necessita de um ambiente intelectualmente estimulante, para que se revele sua vocação e vingue sua carreira"

O Ministério da Ciência e Tecnologia publicou um folheto com os 38 cientistas brasileiros mais destacados de todos os tempos. Tomemos as suas minibiografias como peças de um quebra-cabeça. Qual a figura que emerge? Os critérios de inclusão não foram explicitados, mas é imperativo morrer para entrar na lista. Alguns poucos, como José Bonifácio, são do início do Império. Apesar de pescar cientistas em um intervalo de quatro séculos, a lista inclui 22 nomes (58%) cuja carreira profissional ultrapassa o ano de 1950. Ou seja, o último meio século convive com mais da metade dos grandes cientistas. Isso mostra a juventude da nossa ciência. Ademais, o número dos vivos já é bem maior que o total dos mortos.
Dos 38, nove nasceram no Rio de Janeiro. Portanto, vem de apenas um estado quase um quarto do total. Apenas cinco vêm de São Paulo, o estado hoje responsável por quase a metade das publicações científicas. Pernambuco produz cinco, a Bahia e Minas Gerais, três cada um. Ou seja, 63% nasceram nos estados "velhos" do país (RJ, SP, BA, MG e PE). Era lá que estavam as universidades e a vida intelectual. Aí está a geografia da ciência mostrando como riqueza e boas universidades induzem o aparecimento de cientistas ilustres.
Surpreende a ausência dos estados do Sul, cujo único cientista era alemão. Ou seja, estados que hoje lideram em qualidade de vida e veem desabrochar suas indústrias de base tecnológica não foram capazes de produzir um só cientista ilustre. A maior cobertura de educação básica não bastou. Seria a falta de boas universidades para nutrir os seus melhores talentos? Em contraste, os estados do Nordeste foram pujantes berços de cientistas, embora tenham recuado economicamente. Ou seja, o processo de produzir cientistas é muito inercial. Parece que o futuro cientista necessita de um ambiente intelectualmente estimulante, para que se revele sua vocação e vingue sua carreira. De fato, dois terços nasceram em estados então mais prósperos e com maior ebulição intelectual.
Quanto ao local em que os cientistas fizeram a sua carreira, fica patente a predominância absoluta do Rio de Janeiro, com 24 cientistas radicados e mais dois que lá passaram boa parte de sua vida profissional. Ou seja, foi no Rio que 68% dos pesquisadores produziram a sua ciência, pois lá estava a vida científica, atraindo as melhores cabeças e dando a elas condições de trabalho. Pesaram a influência da corte e, mais adiante, a sobrevida de sua densidade cultural e educativa. Importou menos o local onde os cientistas nasceram. Modestamente, São Paulo abrigou quatro cientistas e mais três cuja carreira passa por lá, o que contrasta com a atual hegemonia científica do estado.
Minas Gerais e Pernambuco abrigaram um cientista cada um. Ou seja, a sua vida intelectual permitiu produzir oito cientistas, mas foi pequena para criar-lhes condições de trabalho. Nos outros 23 estados, apenas três cientistas desabrocharam. Em suma, se as diferenças de educação e cultura já determinavam ferozmente o aparecimento de talentos científicos, as condições dos laboratórios e as tradições de produção científica se revelaram ainda mais excludentes para o trabalho de alto nível.
Como é delicado e exigente nutrir talentos científicos e oferecer-lhes condições de trabalho produtivo! A formação de cientistas promissores requer instituições e valores muito favoráveis. A ciência é um frágil castelo de cartas. No Brasil de antanho, só meia dúzia de estados produziu talentos científicos. E só o Rio de Janeiro foi capaz de criar as condições em que os talentos frutificassem e a pesquisa séria fosse desenvolvida. A singela lista do ministério, por permitir uma olhada no passado da nossa ciência, ilumina aspectos de que muitas vezes não nos damos conta. Vejamos:
• A ciência brasileira é muito recente.
• Os cientistas ilustres vieram de estados onde havia vida cultural e universidades.
• Mas, para produzir ciência, as condições são ainda mais excludentes (praticamente, só havia no Rio de Janeiro). Não produziram cientistas estados que hoje são prósperos, mas eram atrasados. Ou seja, leva tempo, e as condições devem ser muito favoráveis para promover ciência. Nada disso é especulação diletante, pois, sem uma ciência robusta, nosso desenvolvimento morre na praia.