terça-feira, abril 20, 2010

ARNALDO JABOR

Só os anjos não têm sexo
ARNALDO JABOR
O GLOBO 20/04/10

Os olhos do papa me inquietam. São olhos frios, perscrutadores, inquisitivos. O corpo se mexe, sob o manto rubro e dourado, os gestos são eclesiásticos, mas os olhos são fixos, defensivos, preocupados em esconder os desvios de um dogma superado e "inevitável". Nesta onda de denúncias contra os padres pedófilos, seus olhos ficaram mais duros. Não digo que ele seja conivente com a pedofilia, mas são olhos desconfiados, olhos onde há medo das mutações do mundo.
Claro que o celibato não é a única causa da pedofilia na Igreja. Mas a própria escolha da vida religiosa já é uma negação alucinada da sexualidade - se a força máxima da vida é esmagada, a Igreja vira uma máquina de perversões. Claro. Pedofilia e homossexualismo pairam no ar de qualquer internato religioso.
Alguns religiosos dizem que a pedofilia não é resultado direto do celibato, pois o padre insatisfeito poderia procurar um adulto, como fazem tantos no interior do país, onde, diz a lenda, as mulheres amantes de batinas viram "mulas sem cabeça".
O problema é que em colégios e conventos há a facilidade de pupilos dóceis, a obediência reverencial, o medo infantil... Além disso, procurar um adulto seria assumir uma sexualidade plena, da qual o noviço foge desde o início. Talvez vivam a fantasia de que molestar uma criança seja um pecado venial, incompleto, infantil, uma decorrência perdoável da proibição da Igreja. O pedófilo também é infantilizado.
No velho colégio de padres onde estudei, a entrada dos alunos já era um desfile de velada pedofilia. O padre reitor - Ahh, tempos antigos de batinas negras... - postava-se imóvel na porta da entrada, numa pose paternal e severa, com as mãos oferecidas para abençoar os alunos. Passavam por ele duas filas de meninos, beijando suas mãos. Havia algo de veadagem naquilo, aquela negra batina imóvel como um manequim, as mãos beijadas por mais de 500 meninos de calças curtas. Ainda me lembro do vago cheiro de sabonete e cuspe na mão do padre.
Eu via as mães dos alunos, lindas, com seus penteados e decotes imitando a Jane Russel ou Ava Gardner, fazendo charme para os padres enlouquecidos pela castidade obrigatória. E eu me perguntava: "Meu Deus..., por que padre não pode casar?". Lembro-me do tremor dos jovens sacerdotes, excitados pelas madames pintadíssimas, trancando-se em negras clausuras, esvaindo-se no "vício solitário".
E esses mesmos padres nos diziam: "Cada vez que vocês se masturbam, morrem milhões de pessoas que iam nascer. É um genocídio! Igual ao que o Hitler fez!". E nós, além do pecado, sofríamos a vergonha de ser pequenos "hitlers" de banheiro. Eu pensava: "Por que tanta onda sobre nossos pobres pintinhos, por que essa energia que sinto em minha carne é criminosa?".
A masturbação era um crime inafiançável. Iríamos queimar no fogo por toda a eternidade. Lembro-me da descrição da eternidade no inferno: "Imaginem que o planeta seja um grande diamante duríssimo. De cem em cem anos, um passarinho vem voando e dá uma bicadinha na Terra. Só no dia em que toda a Terra for esfarinhada pelas bicadinhas, terminará a eternidade". E eu sofria, me esvaindo nos banheiros, pensando naquele passarinho que bicava o mundo, enquanto eu acariciava o outro "passarinho" se preparando para uma vida de traumas e medos.
No filme que acabo de fazer, há essas cenas, interpretadas por dois grandes atores - os "padres" Ary Fontoura e Jorge Loredo (o "Zé Bonitinho").

No colégio, tudo era sexo dissimulado. Essa palavra terrível estava em toda parte, como uma ameaça vermelha. O diabo nos espreitava detrás da estátua de santa Tereza em êxtase, nas coxas dos anjinhos nus, nos seios fervorosos das beatas acendendo velas.
A angústia da proibição sexual era visível: rostos mortificados, berros severos e excessivos nas aulas, castigos sádicos, perseguições a uns e carinhos protetores a outros.
Eu mesmo fui assediado por um padre que era notório "cantador" de menininhos; ele fazia mágicas para ser popular e, um dia, tentou me beijar num canto da clausura. Criado na malandragem das ruas, fugi em pânico. E falei disso em confissão com outro padre, que mudou de assunto, como se fosse uma impressão minha, como se a pedofilia fosse uma prática improvável, exatamente como os cardeais norte-americanos fizeram. Há, sim, uma tolerância velada com esses desvios criados pelo antigo dogma.
A mim ensinaram que o prazer era um crime. A partir daí, tudo ficava manchado de culpa; a alegria era falta de seriedade, a liberdade era um erro, as meninas eram seres inatingíveis com seus peitinhos e bundinhas. Até hoje, vivo dividido entre as santas e as "impuras"; quantas dores senti na vida por esses ditames que transformavam as mulheres em perigos, em "Liliths" demoníacas, tão ameaçadoras quanto o intenso desejo que tínhamos por elas. A mulher, como Eva ou Pandora, era a origem de todos os males. Delas saíam a vida e a morte, delas saíam o prazer pecaminoso, o mal do mundo. Essa doença mística gera desde a "burka" até o "strip-tease", numa antítese simétrica.
O problema da Igreja com o sexo leva-a a uma compreensão quebrada da vida, leva-a a denegar a Aids, a condenar o aborto, o controle social da natalidade e a outros erros maiores, advindos de um vazio originário, desde o Concilio de Latrão em 1123. Sem o sexo, os religiosos seriam quase "anjos", mais próximos de Deus.
Uma das grandes desvantagens da Igreja Católica diante de outras religiões é o celibato. Daí, em cascata, surgem problemas que justificam a queda do prestígio da Igreja na era do espetáculo e da derrubada de certezas.
Hoje piorou. O mundo virou uma incessante paisagem de bundas e seios nus, da hipersexualização que nos espreita no trânsito, nas ruas, na TV. Já imaginaram esses padres vendo as gostosas sexy do momento, trancados em escuras celas, sob o voto de castidade? Noite escura, sino batendo e a BBB nua na capa da revista? Essa é a minha ideia de inferno.

XICO GRAZIANO

Enigma agrário

Xico Graziano 

O Estado de S.Paulo

Acontece mais um abril "vermelho". O roteiro dessa confusão anda bem conhecido pela sociedade. Incerto mesmo está o propósito atual das estripulias agrárias no campo. O que pretende, afinal, o Movimento dos Sem-Terra (MST)?
Resposta óbvia: a reforma agrária. Sabe-se que o famoso movimento surgiu, há 25 anos, na luta contra o latifúndio. Historicamente a distribuição de terras se preconizava como caminho para o moderno desenvolvimento latino-americano. O Estatuto da Terra chega em 1964. Reprimido pelo regime militar, pouco solucionou o problema.
Quando, em 1985, sucedendo o autoritarismo, se instala a chamada Nova República, enormes expectativas se criam no País, cheio de vontade para redimir seu injusto passado. Um milhão de assentamentos rurais, no prazo de quatro anos, acaba prometido ao povo. Agora vai, pensaram os reformistas da esquerda.
Findo o governo Sarney, apenas 82.260 famílias foram beneficiadas pela reforma agrária. Uma frustração tomou conta da sociedade. Havia restrições legais. A nova Constituição, promulgada em 1988, exigia leis complementares que tardaram para regulamentar o processo de redistribuição fundiária. Collor não ligou para o assunto. Itamar tentou, mas pouco conseguiu avançar.
Fernando Henrique assumiu o governo, em 1995, com um enorme passivo agrário a enfrentar. Barracos de lona preta indicavam dezenas de acampamentos às margens das rodovias, na beirada de fazendas marcadas pela encrenca. Cerca de 50 mil famílias, gente excluída da modernização agrícola, se acotovelava gritando pela terra prometida. Reforma agrária já.
Nessa época, o MST começava a se firmar no cenário das lutas agrárias, rivalizando com a tradicional, e poderosa, Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag). Dominada historicamente pelos comunistas, a Contag envelhecera seus métodos de atuação política, acusada de peleguismo. Surgiram assim, pelas mãos da moçada gaúcha do MST, as violentas invasões de terras. O bicho pegou.
Invadir propriedades rurais - ou ocupar latifúndios, conforme dissimuladamente se denominava a arbitrariedade - chamava a atenção contra a lerdeza do processo de redistribuição fundiária, empurrando a agenda governamental para a frente. Por isso, recebia o apoio da sociedade. A mídia adorava.
Passaram-se 15 anos. E, surpresa, ao contrário do que pensa o senso comum, o Brasil realizou a maior reforma agrária do mundo. O último relatório do Incra aponta a existência de 8.562 projetos implantados, com 906.878 famílias assentadas. Somados os mais recentes, pode-se dizer que 1 milhão de famílias recebeu terras, somando 80 milhões de hectares distribuídos. Para comparação, a área total cultivada no País atinge 67 milhões de hectares. Pasmem.
Ora, se a distribuição foi tamanha, por que não se acalmam os sem-terras? O argumento histórico, percebam, sobre a lerdeza do governo no processo da reforma agrária, não cabe mais. Algo distinto move o MST. Destrinchar esse enigma faz bem ao debate nacional.
A turma do MST afirma que ainda falta muita gente para ganhar seu quinhão. Pode ser. Mas essa hipótese considera incluir os desempregados da cidade, não propriamente os tradicionais sem terra, aqueles excluídos no campo. Fabricar sem-terras nas periferias urbanas infla a conta, mas não garante sucesso. Pelo contrário. Parte do fracasso dos assentamentos rurais se deve exatamente à falta de aptidão para a lide rural.
Outra linha de raciocínio centra fogo no agronegócio. Antigamente era o latifúndio culpado pelo mal. Sua existência caracterizava o velho feudalismo a ser varrido do mapa. Agora, porém, modernizadas as relações de produção, criou-se nova dicotomia, aquela que opõe a agricultura familiar ao negócio rural capitalista. Os ideólogos do MST abriram um fosso entre a via campesina e a agricultura empresarial. Tremenda bobagem.
Celso Ming escreveu em sua coluna no Estado, dias atrás, que o MST carrega a bandeira do atraso, invocando, muito apropriadamente, o conceito das utopias regressivas. No popular, lembra o apelo bucólico do passado, aquela reminiscência gostosa, bem brasileira, da época em que o bolo de fubá se fazia com ovo caipira colhido no quintal, perto da horta caseira. Um passeio a cavalo, um fogão a lenha na cabana da montanha. Quem não gosta?
No fundo, ao defender a agricultura familiar e atacar o agronegócio, valoriza-se a pobreza rural. Utopia faz bem, perfuma a vida. Mas cultivar a existência miserável abre caminho para a subserviência humana. Fazer reforma agrária só tem sentido se, economicamente, resultar em progresso material, em melhoria de qualidade de vida dos beneficiados. O MST, ao recusar a tecnologia e a integração produtiva, características básicas da moderna agricultura, condena o assentado à eterna dependência.
Difícil entender as razões do MST. Possivelmente, ainda mais em anos eleitorais como este, a motivação se encontra na política. No período de Fernando Henrique, lembram-se, o MST dizia combater o neoliberalismo. Uma chatice. Entrou o Lula, roupagem dúbia adornou a tagarelice do Stédile, bem no estilo oficial do bate-e-assopra, uma invasão aqui, um convênio ali. Beira a picaretagem.
Aproximando-se o pleito presidencial, divulga o ignóbil líder do MST que a eleição do Serra seria o "pior dos mundos". Depreende-se, portanto, que suas ações avermelhadas servem à candidatura oficial. Para divulgá-la invadem fazendas produtivas, destroem laranjais, queimam viveiros, roubam gado, fazem justiça com as próprias mãos. Resultado: estimulam a violência no campo. Sorte da Dilma?
Azar da democracia. Ninguém aguenta mais as invasões de terras.
AGRÔNOMO, É SECRETÁRIO DO MEIO AMBIENTE DO ESTADO DE SÃO PAULO 

GOSTOSAS

MÔNICA BERGAMO

Vermelho 
Mônica Bergamo 

Folha de S.Paulo - 20/04/2010

A Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor da Fecomercio-SP mostra que, após dois meses em recuo, aumentou o número de famílias inadimplentes, que acreditam não ter como pagar total ou parcialmente suas contas. Em março, eram 4% nesta situação, contra 5,7% em abril.
Teto
Alberto Goldman (PSDB-SP) e sua mulher, Deuzeni, reviam ontem a decisão de não morar no Palácio dos Bandeirantes -mesmo depois que ele assumiu o governo de SP, o casal continuou a viver em seu apartamento de Higienópolis. A necessidade de passar um tempo, pelo menos, na residência oficial, vizinha ao gabinete de trabalho, se impôs depois da cirurgia na próstata a que Goldman foi submetido.
Só o Serra
E Deuzeni passou o fim de semana respondendo às centenas de autoridades que telefonaram ao hospital para ter notícias do marido. Entre os poucos que Goldman atendeu pessoalmente está o ex-governador José Serra (PSDB-SP).
Cantiga
O publicitário Duda Mendonça já informou a coordenadores da campanha de Dilma Rousseff (PT-RS): o jingle que ele compôs para a candidata, "Dilma, Leva Eu", adaptação do sucesso cantado por Zeca Pagodinho, deve ser usado nas eleições estaduais que comandará -como a de Roseana Sarney (PMDB-MA) no Maranhão. O ex-presidente José Sarney (PMDB-AP), por sinal, vive cantarolando a musiquinha.
Asa Própria
A dupla sertaneja Victor & Leo comprou recentemente um jato Phenom 100, da Embraer. O modelo, o mesmo da cantora Claudia Leitte, custa US$ 3,9 milhões e tem capacidade para quatro passageiros e dois tripulantes.
Voar Voar
O mesmo modelo de jatinho dos sertanejos estará exposto a partir de quarta-feira, em Comandatuba, na Bahia, onde acontece o 9º Forum Empresarial. Os participantes do evento poderão olhar e fazer um voo"test drive" na aeronave.
Leite de Pedra
O grupo JBS, dono da Friboi, Bertin, Vigor, entre outras empresas, arrematou 11 esculturas no leilão da Cow Parade, na semana passada. Pagou cerca de R$ 140 mil. Nove vacas vão para a sede do grupo, em SP. As outras, para a escola Germinare, braço social do Instituto JBS.
Aliança
Em cerimônia que reuniu empresários e executivos do mercado financeiro na Praia do Forte (BA), Manoela, filha do empreiteiro Carlos Laranjeira, se casou no sábado com Marcelo Kayath, do Credit Suisse.
Pipoca Carioca
Uma festa junina gratuita para 60 mil pessoas na Quinta da Boa Vista, no Rio de Janeiro, com corrida do saco, correio elegante, ovo na colher, pescaria, quermesse, prendas e show de Gilberto Gil e convidados. O evento, organizado por Flora Gil, empresária e mulher do ex-ministro, e com apoio da prefeitura, está marcado para o dia 29 de maio. "Depois do Réveillon e do Carnaval, o Rio não tem eventos grandiosos e populares. Só diversão paga", diz ela. Alcione, Mart'nália e Preta Gil já confirmaram presença.
Portas Abertas
A festa será o primeiro evento em que Flora, depois de uma quarentena, voltará a usar a Lei Rouanet. É que, como Gil era ministro da Cultura, ela estava impedida de recorrer aos benefícios para financiar seus projetos. Flora já tem apoio da Petrobras, da Eletrobrás e da rede de supermercados Extra para realizar o arraial.
Telona 
Duas novas salas de cinema "VIP" da Cinemark estão sendo construídas no shopping Cidade Jardim. Elas seguirão o padrão das outras duas que já funcionam no lugar, com poltronas de couro e cardápio com espumantes. A inauguração está prevista para o dia 30. E a TV Globo já pretende usar uma delas para exibição em 3-D de jogos da Copa do Mundo.
Curto-cicuito

ANGELA ALONSO, professora de sociologia da USP, dá palestra hoje no Bildner Center, em Nova York, sobre Joaquim Nabuco e o movimento brasileiro contra a escravidão.

O QUINTETO VIOLADO se apresenta hoje, às 21h, no teatro do Sesc Vila Mariana. Classificação etária: 12 anos.

A WORLD WINE promove hoje no Meliá Jardim Europa encontro com produtores de vinícolas como Odfjell, La Joya e San Pedro, durante a 4ª edição do World Wine Experience.

DOZE DJS se apresentam hoje na festa de dez anos do clube D-Edge, na Barra Funda, a partir da meia-noite. 18 anos. O LIVRO "Mil Anos de Cultura Ashkenazi", da Editora do Bispo, tem lançamento hoje, às 20h, no Midrash, no Leblon, no Rio.

FERNANDO DE BARROS E SILVA

Estofadinhos
FERNANDO DE BARROS E SILVA

FOLHA DE SÃO PAULO - 20/04/10

SÃO PAULO - Ainda ameaçado por liminares, está previsto para hoje o leilão da usina de Belo Monte. Quando iniciada, será a maior obra em construção no mundo (e a terceira maior hidrelétrica do planeta). No entanto, as duas maiores empreiteiras do país, Odebrecht e Camargo Corrêa, anunciaram há dez dias a sua saída do negócio.
O governo correu para arrumar um consórcio que pudesse "disputar" com aquele liderado pela Andrade Gutierrez e a Vale do Rio Doce. Há boas razões para supor que Odebrecht e Camargo não estavam dispostas a coadjuvar um teatro.
Em entrevista à Folha, Dilma Rousseff explicou a atitude das desistentes de maneira um tanto curiosa: "O pessoal está estofadinho de obras. Antes, tinha só uma obra, eles sofriam. As empresas hoje têm um leque grande de oportunidades". A explicação deve ser falsa, mas a afirmação é verdadeira. A rigor, não só as empreiteiras estão "estofadinhas". O setor privado como um todo nunca faturou tanto.
Eis, no entanto, o mistério: por que esses estofadinhos nadando em dinheiro preferem José Serra?
Ok, é verdade que os empresários são sobretudo pragmáticos e tendem a apoiar os donos do poder, quaisquer que sejam. Mas também é um fato que têm preferências.
O jornal "Valor Econômico" divulgou na semana passada uma enquete com 142 executivos. Resultado: todos afirmaram que suas empresas cresceram de forma significativa sob Lula, mas, apesar disso, 111 disseram preferir Serra, contra apenas 13 que escolhem Dilma. Marina teve 8 votos. Ciro, só 1.
Ou seja: Lula conquistou os empresários pelo bolso, mas o coração deles (que também pulsa no bolso) não bate por Dilma. De onde vem tanta resistência? Reação à retórica de classe (ricos contra pobres) da campanha? Medo de uma tutela maior do Estado sobre o setor privado? Desconfiança de que Dilma e Lula sejam tão diferentes? A verdade é que Serra, apesar da fama de mau, larga com a preferência da turma que Lula deixou estofadinha.

SONIA RACY - DIRETO DA FONTE

Fora, mas dentro 
Sonia Racy 

O Estado de S.Paulo - 20/04/2010

Aviso aos navegantes. Independente de terem desistido de participar do leilão de Belo Monte, Camargo Corrêa e Odebrecht pretendem participar do processo da hidrelétrica.
Como construtores.
Dono do cofre
Escolhido para coordenar o funding da campanha de Marina Silva, ninguém menos que Álvaro de Souza, ex-Citi e hoje comandante da WWF no Brasil.
De classe
Acaba de entrar para Academia Nacional de Medicina José Gomes Temporão.
Único a assumir a cadeira enquanto ministro.
Alta
Alberto Goldman deve sair hoje do hospital para o Palácio dos Bandeirantes apesar de não ter se mudado para lá.

"Vamos ficar só alguns dias, para evitar locomoção", explica Deuzeni, sua mulher. Que comemora o resultado dos exames: não há uma só célula cancerígena fora do tumor extirpado.
Café no bule
Dilma Rousseff pré-agendou para dia 29 sua participação no Programa do Ratinho, exibido pelo SBT.
Diferentemente de Serra, ela entra ao vivo.
Verde-amarela
Presente de Dilma para o neto, filho de Paula, que está grávida: um boneco do Louro José com camisa da seleção.

Enviado pela nova velha amiga Ana Maria Braga.
In loco
Stefanía Fernández, Miss Universo 2009 - para variar, venezuelana... -, chega de Nova York dia 6 de maio e assiste, no dia 8, à escolha de Miss Brasil 2010, no Memorial da América Latina.

De quebra, visitará a ONG Florescer, em Paraisópolis.
Fumaça à parte
O grupo Abba Magic se desdobrou para chegar a São Paulo a tempo de se apresentar, hoje, no Teatro Bradesco.

Desde Londres, o grupo teve de fazer uma via crúcis de carro, trem, ônibus e barco para chegar a Madri.
Bola pra frente
Alvaro Dias reúne Pelé e Orlando Silva em audiência pública em Curitiba. Vão debater mudanças na Lei Pelé.
Sem estresse
Vizinhos do vice de Marina Silva, Guilherme Leal - em sua futura casa nos Jardins - passaram o fim de semana ao som de motosserra. Indignados, chegaram a ligar para Secretaria do Meio Ambiente: ninguém atendeu.

Calma, vizinhança! Leal, escudeiro da natureza, obteve autorização da Prefeitura para remover a árvore gigante. "Ela infelizmente morreu", explica.
Conexão Bruxelas
O príncipe Philippe, da Bélgica, aterrissa com "bagagem" de 220 empresários para conversar com Lula, dia 21. Visitam também a CSN, o Porto de Santos e a Única. Já a princesa Mathilde conhecerá projetos como o CEU Meninos, em Heliópolis.
Nova vida
Segunda grande notícia para os botafoguenses em uma semana: o ídolo Nilton Santos vai ganhar documentário. Com roteiro de Ricardo Calvet.
Na frente
Fernanda Fonseca promove a Expovinhoff, primeira feira off de vinhos no País, inspirada no que se faz na Vinitaly e na Vinexpo, na região de Bordeaux, na França. Dia 26, no Pandoro.

Rosângela Lyra antecipa: a campanha de verão da Dior vem inspirada em divas dos filmes dos anos 40.

Cecília Menezes convida para a abertura da exposição Bonequinhas de Luxo. Hoje. no Clube Paulistano.

Carlinhos Carvalho e George Koshoji comemoram com pompa e circunstância, no fim de semana, os 22 anos do Kosushi.

Na onda do filme de Tim Burton, Alice Através do Espelho chega ao palco. No teatro Ruth Cardoso. Quinta-feira.

O Fundo Social de Solidariedade convocou o sertanejo Daniel como garoto-propaganda da Campanha do Agasalho 2010 em Guarulhos. Onde espera arrecadar mais de 300 mil peças.

Ponto para as tops brasileiras. No ranking das mais bem pagas do site Models.com estão Gisele Bündchen, Adriana Lima e Alessandra Ambrósio em terceiro, quarto e quinto lugares.

Começa amanhã a exposição Anne Frank, uma História para Hoje. No Espaço Cultural do Hotel Feller.

Não só na Europa os aeroportos viraram acampamentos. As camas improvisadas estavam por toda parte, domingo, no JFK, em Nova York.

JOSÉ SIMÃO

Ueba! Gol de mão, Santos campeão!
JOSÉ SIMÃO
FOLHA DE SÃO PAULO - 20/04/10

Uma amiga criou um slogan: "Assombração por assombração, vote Zé do Caixão!". Rarará!


BUEMBA! BUEMBA! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Direto do País da Piada Pronta! Fumacê no mundo! O vulcão impronunciável. Quem consegue pronunciar o nome do vulcão da Islândia? EYJAFJALLAJOKULL. E Eyjafjallajokull em islandês quer dizer "espalha merda". Rarará! E sabe o que quer dizer sala VIP nos aeroportos? Vai Isperá Pacas! E eu adoro isso: "Cancelamento de voos gera protestos". Vai protestar contra o vulcão? E eu já disse: manda a Marta. Pra ela gritar: "Relaxa e goza". Em 11 línguas! E a Padrefolia? A sacranagem continua. "Religioso mantinha casa com bebidas para encontro com coroinhas". Ou seja, um inferninho! Os padres montaram um inferninho!
Onde? Em Arapiraca, Alagoas. Então tem que mudar o nome pra Arapiroca! O MONSENHOR DE ARAPIROCA! Rarará! E o papa é contra os gays, mas na Polônia é chamado de Papiesa Benedykta! E o Jesus Luz também pegou uma coroinha, a Madonna!
E o gol de mão do Neymar? Ops, Neymão. Com gol de mão, Santos campeão! Ele não vai ser convocado pra seleção do Dunga, vai ser convocado pra seleção de vôlei. Avisa que não é handebol, é pébol!
E sabe como são-paulino xinga o juiz? Juiz ladrão, bonitão e gostosão! Rarará! E a Dilma Rouchefe e o Serra Vampiro? Uma amiga minha criou um slogan pra 2010: "Assombração por assombração, vote em Zé do Caixão!". E ainda ganha uma Bolsa Manicure. Rarará! E olha essa: "Homem rouba Viagra de duas farmácias no Rio". Isso que é desespero! Rarará!
E mais uma pra minha série O Brasileiro É Cordial. Pichação em um muro lá de muro de Belo Horizonte: "Espaço reservado pra pixador TOMAR TIRO!". Rarará! O brasileiro é muy cordial. É mole? É mole, mas sobe! Ou como disse aquele outro: "É mole, mas trisca pra ver o que acontece".
Antitucanês Reloaded, a Missão. Continuo com a minha heroica e mesopotâmica campanha Morte ao Tucanês. É que no Panamá tem um terminal rodoviário chamado Terminal de Boquete. Então é inicial e não terminal. Ueba! Mais direto, impossível! Viva o antitucanês! Viva o Brasil!
E atenção! Cartilha do Lula. O Orélio do Lula. Mais um verbete pro óbvio lulante. Hoje não tem. Motivo: aperreio, abuso e espinhela caída! Falta quanto tempo pro Lula ir embora? Rarará! O lulês é mais fácil que o ingrêis. Nóis sofre, mas nóis goza. Hoje só amanhã. Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno. E vai indo que eu não vou!

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO

Fundos dobram investimento em emergentes
Maria Cristina Frias

Folha de S.Paulo - 20/04/2010

China, Brasil e Índia são vistos como os mercados mais atraentes para o investimento de fundos de "private equity".

Mais da metade (57%) dos investidores desses fundos que já atuam em mercados emergentes planeja acelerar novos compromissos nos países ao longo de 2010 e 2011.

É o que mostra levantamento realizado pela Coller Capital e pela Empea (Emerging Markets Private Equity Association), com 151 investidores do setor em todo o mundo.

A proporção dos investimentos totais dos fundos de "private equity" que irão para os mercados emergentes vai dobrar para o intervalo entre 11% e 15% em dois anos, de acordo com a pesquisa.

Os fundos de "private equity" são aqueles que compram participações em empresas, frequentemente das que ainda não têm ações em Bolsa.

O Brasil deve receber o maior aumento de novos investidores nos próximos dois anos.

De acordo com o levantamento, 19% dos investidores de "private equity" em mercados emergentes esperam começar a investir no país, enquanto apenas 3% dos atuais investidores têm planos de reduzir ou parar de investir.

"O Brasil continua a liderar os mercados emergentes em atração de novos investidores. Quase um em cada cinco experientes investidores de mercados emergentes planeja começar a investir no país", disse Erwin Roex, sócio da empresa Coller Capital.
Dança das Cadeiras
Sérgio Gordilho, que passou a dividir a presidência da agência Africa com Márcio Santoro, na vaga deixada por Nizan Guanaes, recontratou Flávio Waiteman. A agência terá dois vice-presidentes, Waiteman e Cássio Zanatta, que já ocupava o cargo desde março de 2009, no comando da equipe de 60 pessoas da área de criação.
Construção
Com investimentos de R$ 30 milhões, a Cosan deu início à construção de seu Centro de Apoio ao Negócio, em Piracicaba. O edifício terá procedimentos certificados para redução de impactos socioambientais. A construção deve terminar em dez meses. Serão 9.500 metros quadrados de área construída, três andares e capacidade para acomodar 850 colaboradores.
Combustível
O álcool abre a semana com nova queda nas usinas, conforme cotação do Cepea. O metro cúbico do hidratado foi negociado a R$ 815,50. O recuo foi de 2,34%. A cotação toma como base negociações em Paulínia.
Pecuária
O Mega Leilão 10.010, que ocorreu dia 17, em Água Boa (MT), vendeu 31.710 cabeças de corte e rendeu mais de R$ 26,6 milhões. Em mais de sete horas, os 173 lotes à disposição foram comercializados.
Protestos
Em março foram protestados 72.936 títulos, segundo levantamento do instituto de protesto de títulos de São Paulo junto aos dez tabeliães da capital. A alta foi de 26,5% ante fevereiro.
Pouso
O brasileiro Marcos Calixto passa a comandar a operação da Copa Airlines no país. A partir de 1º de julho, a companhia vai operar um terceiro voo diário de São Paulo à Cidade do Panamá.
Água
Em 2010, a ArcelorMittal Tubarão investirá R$ 1,3 milhão para o desenvolvimento dos processos de gestão hídrica. Estão previstas instalações de novos equipamentos, como sensores para verificação da temperatura de seus efluentes, melhorias em sistemas de separação de água e óleo, decantação e estações de tratamento. O recurso será destinado à unidade da ArcelorMittal Tubarão, na Serra (ES).
Casa Própria em Shopping 
Parece uma loja qualquer de shopping, mas o produto à venda é crédito imobiliário. A BM Sua Casa tem 32 pontos de venda e projeta chegar a 60 unidades até o final deste ano.

Criada em 2007, com foco em pessoa física, a empresa foi a primeira a oferecer financiamento para casa própria em centros comerciais.

O financiamento dos imóveis é de até 30 anos, a uma taxa média de juros de 12%. Os créditos giram em torno de R$ 120 mil. A empresa, que afirma não exigir comprovação de renda do cliente, apenas o extrato bancário ou a fatura do cartão de crédito, financia até 80% do imóvel, que é dado em garantia.

A holding Brazilian Finance Real Estate do grupo controla a Brazilian Mortgage, responsável pelos empréstimos; a Brazilian Capital, gestora de recursos e a Brazilian Securities, que emite títulos securitizados.

"A securitização imobiliária ainda vai crescer muito. Os Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRIs) são isentos de tributação para pessoa física", diz Fábio Nogueira, diretor-presidente.
Sem Volta
A consultoria BCG (Boston Consulting Group) lança o livro "Accelerating Out of the Great Recession: How to Win in a Slow-Growth Economy" (McGraw-Hill, 202 págs.). Os autores, David Rhodes e Daniel Stelter, dizem que não há retorno à "velha normalidade" e que é improvável que o crescimento de emergentes como China e Índia seja suficiente para um retorno ao crescimento ocorrido até 2008.

O ABILOLADO E A VAGABUNDA


O ABILOLADO E A VAGABUNDA

PAINEL DA FOLHA

Aposta dobrada 
Renata Lo Prete 
Folha de S.Paulo - 20/04/2010

Depois de patrocinar em São Bernardo do Campo um evento para Dilma Rousseff (PT) contestado na Justiça Eleitoral pelo PSDB, as centrais sindicais trabalham para repetir o feito, em versão ampliada, no dia 1º de junho, durante sua conferência nacional.

CUT, Força, CTB, CGTB e Nova Central pretendem reunir 30 mil pessoas no estádio do Pacaembu, em São Paulo. Além de convidar Lula para estrelar a festa, a CUT quer Dilma no palco e, no campo, sindicatos contrários a José Serra (PSDB), como o dos professores da rede estadual. Segundo convite distribuído pela Força, "as eleições se realizarão num quadro político singular, de afirmação do movimento sindical".
Calendário
Às vésperas de receber R$ 30 milhões do governo, a UNE fará congresso de quinta a domingo para "construir uma plataforma a ser entregue aos candidatos". A bolada, a título de indenização pela destruição de sua sede na ditadura, já foi aprovada pela Câmara e hoje vai a voto na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado.
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Guru virtual da campanha de Dilma Rousseff, Marcelo Branco deixou a candidata de cabelos em pé, ontem, ao se referir repetidas vezes aos "perfius" dela no Twitter, Facebook, Orkut e cia.
Roteiro
Dilma agendou participação amanhã no "Brasil Urgente", da Band, pilotado por José Luiz Datena. Foi nesse programa que José Serra "escorregou" e falou pela primeira vez como candidato.
Cobras... 
Em Minas, enquanto Serra fazia campanha com Aécio, Itamar Franco criticava, em evento do PPS, candidato de oposição que fala bem do governo. "Nunca se elogia adversário, ou o eleitor vai pensar: por que mudar?".
...e lagartos
Itamar disse que os feitos de seu governo são frequentemente esquecidos. Trata-se de sua eterna cruzada contra tucanos -aos quais o PPS está aliado- pelo "copyright" do Plano Real.
Cartilha
Aécio entregou a Serra lista de obras prioritárias para Minas: duplicação da BR-381, ampliação do metrô, reforma do anel rodoviário de BH e do aeroporto de Confins.
Para comparar
Objeto de investigação do Ministério Público, o contrato da Secretaria de Saúde do Rio com a empresa Toesa Service fixa em R$ 5 milhões a despesa anual de manutenção de 122 carros usados no combate à dengue (R$ 41 mil por unidade, valor superior ao dos próprios automóveis). Em São Paulo, o governo gasta R$ 740 mil para manter 450 carros.
Foco
A secretaria de Saúde do governo Sérgio Cabral (PMDB) é hoje um dos órgãos públicos mais escrutinados do país, sob exame de promotores, procuradores e policiais. Suspeitas pairam sobre quase tudo: da manutenção dos carros da dengue ao superfaturamento de remédios, passando por contratos de gerenciamento de estoques.
No Sul 1O PSDB sofreu novo revés na tentativa de montar uma aliança em prol da reeleição de Yeda Crusius no Rio Grande do Sul: o PP, que indicaria o vice, ameaça deixar o barco. O partido reivindica coligação também na chapa proporcional, para "repartir" os votos de deputados.
No Sul 2De olho no terreno do vizinho, o PMDB já ofereceu ao PP indicar um dos dois nomes ao Senado na chapa de José Fogaça ao governo -a outra vaga é do peemedebista Germano Rigotto.
MicrofoneLula aproveitará seu último discurso na cerimônia do Dia do Diplomata, hoje no Itamaraty, para rebater críticas da oposição à política externa de seu governo. Visita à Folha. Carlos Teixeira Leite Filho e Décio de Moura Notarangeli, desembargadores integrantes da Comissão de Imprensa do Tribunal de Justiça de SP, visitaram ontem a Folha.
Tiroteio
Se os petistas de fato acreditassem que Dilma empatou com Serra, como quis demonstrar a pesquisa Sensus, não estariam tão nervosos.
Contraponto
Leve e solto 
Ao recepcionar José Serra ontem em Belo Horizonte, Aécio Neves chamou a atenção da imprensa e dos correligionários pelo princípio de barba em seu rosto. Depois de ouvir uma série de brincadeiras, entre elas a inevitável comparação com o presidente da República, o ex-governador de Minas foi chamado de lado por Duarte Nogueira, deputado tucano de São Paulo, que lhe perguntou:

-Agora me conte: por que essa barba?

Aécio, que não deverá ter dificuldade caso leve adiante o projeto de se eleger ao Senado, respondeu brincando:

-Você tem de levar em conta que eu, além de estar em férias, agora sou um desempregado...

CELSO MING

A pressão do consumo 
Celso Ming 

O Estado de S.Paulo - 20/04/2010

Por toda a economia, aumentam os sinais de que o crescimento do consumo, "em ritmo chinês", de 10% ao ano, é excessivo e insustentável.

O único que finge não ver o que acontece é o ministro da Fazenda, Guido Mantega. Às vezes, parece aceitar o diagnóstico de que vem vindo aí um surto de inflação e para atacá-la ameaça reduzir tarifas alfandegárias. Outras vezes, sugere que o superconsumo ainda é consequência residual da política anticíclica do governo, já removida na medida em que foi eliminada a isenção temporária de IPI para automóveis e aparelhos domésticos. Nessas condições, conclui o ministro, é só esperar que o aumento do consumo reflua naturalmente, sem necessidade de contra-ataques de política monetária (aumento dos juros).

Aí há dois equívocos e uma omissão. O primeiro equívoco consiste em tentar rebater a alta dos preços internos com redução de tarifas aduaneiras. O principal foco de inflação está no setor de serviços contra o qual uma redução de tarifas não resolve.

O segundo está em ensaiar uma explicação descabida. As pressões altistas não estão localizadas no setor de veículos e no de aparelhos domésticos, os mais beneficiados com a redução de impostos, como sugere o ministro. Além disso, a julgar pelos depoimentos obtidos pela imprensa no setor varejista, a demanda de bens de consumo durável continua forte, mesmo depois da normalização da cobrança do IPI. Isso mostra renda em expansão e disposição crescente por parte do consumidor de se endividar.

A omissão antes mencionada tem a ver com a falta de coragem do ministro em reconhecer que o forte consumo e as pressões sobre os preços que daí advêm se devem à excessiva expansão das despesas públicas (da ordem de 17% neste ano), comandadas pelo governo Lula em seu empenho de amolecer o eleitor. É o governo gastando demais que cria renda artificial e aumento do consumo.

O ministro Mantega tem, sim, razão quando deixa subentendida sua contrariedade pelo propósito já manifestado pelo Banco Central de resolver com aperto monetário (alta dos juros) um problema produzido por causas não monetárias. Falta reconhecer que o problema é fundamentalmente fiscal e que, por isso, mais adequado é enfrentá-lo com remédios fiscais, ou seja, com a volta da austeridade na condução do orçamento federal. Isto é, a solução correta está no âmbito da jurisdição do próprio ministro, e não do Banco Central.

Na medida em que a Fazenda se omite e nem sequer se dispõe a fazer o diagnóstico correto, sobram a louça por lavar e a arrumação da cozinha para o Banco Central, que está obrigado a empurrar a inflação de volta para a meta, com o único instrumento de trabalho de que dispõe (a política monetária).

O ministro da Fazenda não é, no caso, o único omisso. Também a direção do Banco Central (e não só seu presidente) se esconde e prefere usar panos quentes a denunciar com clareza a natureza fiscal da inflação de demanda. Essa deve ser a principal razão por que o Banco Central vem perdendo a iniciativa na administração das expectativas. Semana após semana, a projeção de inflação feita pelos formadores de preços vai subindo, como mostra a pesquisa Focus, do Banco Central (veja gráfico).
Confira
Há dois meses, a pesquisa Focus, do Banco Central, apurou que as 100 instituições ouvidas semanalmente projetavam para o final de 2010 uma inflação de 4,86%. Na semana passada, esse número já havia saltado para 5,32%.
São horizontais
O gerente executivo de Exploração e Produção do Pré-sal da Petrobrás, José Miranda Formigli Filho, pede reparo numa afirmação da coluna de domingo. "As camadas de sal estão sujeitas a cortes, deslocamentos horizontais (e não verticais, como foi dito) ou encavalamentos."

GOSTOSA

MÍRIAM LEITÃO

Custo do inesperado 

Miriam Leitão 

O Globo - 20/04/2010

Nas cinzas do vulcão islandês é preciso ler as lições. O tráfego aéreo começava a voltar ao normal, depois de US$ 2 bilhões de prejuízos, e a erupção piorou novamente. Vulcões e terremotos são parte da atividade sísmica que sempre existiu na Terra. Os prejuízos de eventos sísmicos e climáticos entre 2004 e 2009 foram de US$ 753 bilhões, segundo a resseguradora Munich Re.

Num mundo mais complexo e interligado, as repercussões econômicas de qualquer evento são grandes e ocorrem em cadeia. Na crise financeira recente, a quebra de bancos islandeses provocou uma crise em vários órgãos ou empresas de outros países. Agora, o vulcão islandês paralisa o tráfego aéreo por cinco dias.

Por isso, a grande lição que as cinzas estão deixando é que é preciso ter planos de contingência. As atividades sísmicas são até certo ponto imprevisíveis e parte da natureza do planeta. Já os eventos climáticos extremos são em parte agravados ou provocados pelo aquecimento global. O que o mundo claramente precisa é se preparar, ter planos alternativos, para eventualidade de eventos que provoquem fatos em cadeia, como agora.

Ontem, a empresa de tráfego aéreo da Inglaterra, a Nats, divulgou às 15h30m uma nota dizendo que tudo estava caminhando para a normalidade, apesar de afirmar que a situação era “dinâmica e mutável.” Mais à noite, divulgou outro boletim, avisando que infelizmente a erupção do vulcão tinha piorado.

O pano de fundo em que esse inesperado ocorre é o de uma economia europeia começando a se recuperar da crise financeira e bancária de 2008 e 2009, no início de uma crise fiscal que atingiu a Grécia, mas com risco de se espalhar. Está também neste pano de fundo o fato de que há muito tempo as empresas aéreas do mundo estão em dificuldades financeiras, mas não podemos viver sem elas.

A economista Monica de Bolle, da Galanto Consultoria, diz que a Alemanha é altamente dependente do fluxo de comércio, e ainda que uma pequena parte se faça por avião, ela é afetada.

A Grécia é a maior prejudicada porque precisa do turismo como uma esperança de se reerguer. O mesmo acontece com a Espanha.

O professor Istvan Kasznar, da FGV, calcula que numa média de 65% de ocupação, a rede hoteleira europeia está perdendo US$ 380 milhões por dia. Mas há quem ganhe, como o transporte marítimo e as telecomunicações. Já que não se pode viajar, haverá mais reuniões telefônicas.

O professor Respício do Espírito Santo, da UFRJ, lembra que 40% do tráfego aéreo mundial ocorre na Europa, o que torna o setor altamente vulnerável. A Emirates diz que está perdendo US$ 10 milhões por dia.

No Brasil, só 5% das nossas exportações acontecem por aviões, segundo a AEB.

Pode afetar apenas importações de alto valor como chips e software. A Abinee (Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica) informou que ainda não há relatos de perdas porque, em sua maioria, as importações são feitas de países asiáticos, que não foram afetados.

Mas o professor Paulo Fleury, do Instituto Ilos, explica que não se pode pensar de forma estática quando o assunto é logística. A Europa é o centro de escala do tráfego aéreo internacional, isso significa que os voos que vem da Ásia podem não conseguir chegar ao Brasil.

— O impacto não é restrito à Europa porque temos um efeito cascata já que o sistema é interligado. Um voo que sai do Brasil e vai para Nova York pode não acontecer porque a aeronave viria da Europa — explicou.

O problema é mais grave mundialmente porque os modais alternativos de transporte estão todos lotados, segundo Fleury. Ou seja, não é possível desviar o fluxo de cargas e de pessoas para navios, trens e caminhões. Além disso, haveria perda de produtividade porque os prazos de entrega seriam maiores.

Segundo relatório do Royal Bank of Scotland (RBS), na Europa, só 1% das mercadorias é transportada por aviões. Apesar da pequena participação, Fleury lembra que os aviões são usados para o transporte de itens essenciais, como remédios e frutas, bens de alto valor e de tamanho menor.

O diretor-executivo da Fieam (Federação das Indústrias do Amazonas), Flávio Dutra, diz que os problemas na Zona Franca podem começar a aparecer se o caos aéreo durar mais uma semana.

O reflexo aconteceria daqui a 60 a 90 dias, que é o período entre o pedido e a entrega da encomenda.

— As fábricas de televisores estão operando em três turnos para atender à forte demanda deste ano de Copa do Mundo. O volume de importações aéreas é muito grande de componentes eletrônicos de pequeno porte e de alto valor agregado — disse Dutra.

A empresa de seguros Munich Re levantou dados mostrando que os eventos climáticos extremos e os eventos geofísicos produziram de 2004 a 2009 um total de 543 mil mortes, US$ 753 bilhões de perdas financeiras e US$ 256 bilhões de perdas seguradas.

Num mundo em que eventos climáticos extremos serão mais frequentes, em que os vulcões e terremotos continuam tão imprevisíveis como sempre foram, e em que a interdependência é cada vez maior, fatos espantosos como os dessas cinzas podem acontecer mais vezes. Inesperados farão mais surpresas.

ANCELMO GÓIS

Obama de saia 

Ancelmo Góis 

O Globo - 20/04/2010

Obama de saia Marina Silva se reuniu domingo com a ONG Educafro, de Frei David, o franciscano que lidera a campanha pelo sistema de cotas para negros.

Fez questão, três vezes, de assumir, com orgulho, que é candidata negra à Presidência.
Segue...
O dinheiro da multa ficará no Fundo para a Reconstituição de Bens Lesados (FRBL).
Tempos modernosA Vale acaba de lançar seu perfil nos principais sites de relacionamento.

Em apenas cinco dias, já tem 1.000 visitas no Facebook, 700 amigos no Orkut, 170 seguidores no Twitter e 85 conexões no LinkedIn.

Até na praia Sábado, por volta de 13h, Jorginho, o auxiliar de Dunga na seleção, não conseguiu relaxar com a família na Praia da Barra da Tijuca, no Rio.

Entre um mergulho e outro, era abordado por torcedores que pediam a convocação de Neymar, do Santos. Eu apoio.
‘Il Postino’Em outubro, na Ópera de Los Angeles, estreia “Il Postino”, do mexicano Daniel Catan, baseado no lindo “O carteiro e o poeta”.

O diretor é Ron Daniels, 66 anos, nome artístico do niteroiense Ronaldo Daniel, há anos na Inglaterra e agora nos EUA.
AeroReiRoberto Carlos veio de Nova York para o enterro da mãe, Lady Laura, a bordo de um jato Global 5000, posto à sua disposição pela Bombardier, fabricante da máquina de voar. O avião é capaz de vir dos EUA ao Brasil sem fazer escalas com 17 passageiros.

Custa US$ 45 milhões.

É que o cantor comprou um Learjet 40, recentemente, brinquedo de uns US$ 9 milhões, mas a fábrica canadense ainda não entregou seu avião.
Tudo azul...
O AeroRei já virá todo pintado de azul, cor preferida de RC.
Você é quem mesmo?Aliás, teve coleguinha da área de celebridades no enterro de Lady Laura que passou por saia justa no Cemitério Jardim da Saudade, no Rio.

Não sabia diferenciar Wanderléa de Rosemary.
No país de ArrudaO juiz Marco Antônio Novaes de Abreu, de Cambuci, município de 15 mil habitantes no Noroeste fluminense, condenou o ex-prefeito Pedro Carlos Mendes a prestar serviços obrigatórios por um ano no asilo da cidade.

Mendes, acusado de “apropriação indébita”, deverá, entre outras coisas, dar banhos e trocar as fraldas dos idosos.
Bandeira 2De 23 de fevereiro a 31 de março, a prefeitura do Rio vistoriou 592 táxis em seis pontos.

Acredite: 29% (quase um em cada três) foram reprovados.

A Rodoviária Novo Rio foi o local com a maior quantidade de veículos reprovados (33), seguido pelo Píer Mauá (29) e pelo Santos Dumont (16).
Aliás...
Outro dia um gaiato confessou que só vai acreditar em Choque de Ordem quando Eduardo Paes acabar com os taxis bandalhas da Novo Rio. Faz sentido.
Dia da Cuíca
Amanhã, Dia de Tiradentes e do aniversário de Brasília, é também o “Dia da... Cuíca”.

A data, extraoficial, foi criada pelos próprios cuiqueiros. Para festejar, tocadores de cuíca do Rio e de São Paulo se reunirão para uma festança na quadra da União de Jacarepaguá, às 14h.
De saídaA Rádio Corredor do Samba diz que Marco Lira deve renunciar à presidência da Viradouro.

No mais Veja mais coluna Ancelmo na capa do Caderno de Esportes.

ELIANE CANTANHÊDE

Caiu na rede
ELIANE CANTANHÊDE
FOLHA DE SÃO PAULO - 20/04/10

BRASÍLIA - Como já escreveu Márcio Aith nesta página, seria ingênuo desprezar o peso da internet nesta eleição, mas também há uma dose de exagero em comparar o impacto da internet nos EUA e aqui.
Não custa lembrar que o Brasil não é exatamente os EUA. A internet tem um peso eleitoral crescente, mas está longe de ser prioritária ou decisiva num país em que 97% dos domicílios têm TV aberta e só 18% estão conectados à rede.
Por ora, as campanhas usam a internet para xingar os adversários e, acessoriamente, falar bem do candidato. No fogo cruzado, os estilhaços sobram para a imprensa.
O "Dataeliane" informa que a rede serve basicamente para o jogo sujo, com palavrões, ameaças e imputações às vezes graves dos dois principais lados -os petistas à frente, os tucanos depois-, que tentam confundir o seu pessoal de ataque com "leitor" comum. Há quem acredite.
Eis a "metodologia": as campanhas fazem uma triagem, escolhem uma trilha e jogam a sua interpretação na rede. Em horas, aquilo vai às centenas, depois aos milhares. O fato some, a versão se impõe.
Um exemplo concreto: há alguns anos, mudaram uma vírgula (literalmente) numa coluna minha e o que ficou foi a versão. A frase era: "...senão, Lula, o Aedes Aegipt vem, pica e mata". E virou: "...senão, Lula, o Aedes Aegipt, (olha a vírgula aí) vem, pica e mata". Ou seja: como se eu tivesse chamado o presidente de mosquito da dengue, pronto a dizimar a população brasileira. Foi a vitória da má-fé.
Até o final do ano, haverá ataques em série pela internet ao profissionalismo, à credibilidade, às intenções e à honrabilidade principalmente dos candidatos, mas não só deles. Serra e Dilma, pelo twitter, posarão de bons moços. Fora dali, em blogs e por e-mail, seus cães estarão prontos para morder.
A grande dúvida é: isso dá voto? É mais fácil imaginar que dá raiva e, em vez de dar voto para um (ou uma), tira o respeito de todos.