sexta-feira, novembro 11, 2011

Leandro Modé, David Friedlander e Fausto Macedo - 'Vamos encher a burra de dinheiro'


'Vamos encher a burra de dinheiro'
Leandro Modé, David Friedlander e Fausto Macedo
O Estado de S. Paulo - 11/11/2011

Em e-mail, ex-presidente do Panamericano revela expectativa com venda para a Caixa

Executivos do Panamericano cogitaram procurar o Banco do Brasil (BB) se não conseguissem vender a instituição para a Caixa EconômicaFederal. É o que revelam e-mails trocados entre Rafael Palladino, ex-presidente do Panamericano, e Guilherme Stoliar, sobrinho e braço direito de Silvio Santos. As mensagens foram apreendidas pela Polícia Federal no inquérito que apura as fraudes de R$ 4,3 bilhões no Panamericano.

Ainda assim, a prioridade era a negociação com a Caixa. "Com a grife da Caixa, vamos encher a burra de dinheiro", escreveu Palladino aStoliar no dia 9 de janeiro de 2009. A venda de metade do Panamericano para o banco do governo, por R$ 740 milhões, foi selada em novembro daquele ano. Palladino também afirmou que o fechamento da operação acabaria com o "problema de captação de grana".

Naquele momento, o sistema bancário sentia os efeitos da crise financeira global. Pequenos e médios bancos enfrentavam dificuldades para captar dinheiro no mercado. Nos e-mails, fica claro que os executivos enxergavam no governo a salvação para os problemas do Panamericano.

No dia em que o Banco do Brasil anunciou a compra de metade do Votorantim, Palladino escreveu a Stoliar: "É exatamente isso quetemos de fazer com a Caixa Federal. Se não der, vamos bater no Banco do Brasil. Fechando isso, o grupo vai ficar líquido para pagar todos os compromissos".

Stoliar respondeu: "Na conversa que tive com ele (referência a Silvio Santos), falamos da venda, ele está 100% de acordo e acha que é o nosso melhor caminho. Certamente ele já deve ter lido sobre o Votorantim".
Poucos meses antes dessa troca de e-mails, o Panamericano havia batido à porta do Banco do Brasil, mas por outro motivo, como revelou o Estado ontem. A instituição que, naquele momento, pertencia 100% ao Grupo Silvio Santos, tentou vender ao BB carteiras de crédito.

O banco estatal considerou sofrível a qualidade dos empréstimos oferecidos, rejeitou a maior parte das carteiras e comprou apenas umapequena parcela considerada de risco mais baixo.
"Amigos". Em outro e-mail, Stoliar relata a Palladino um jantar que tivera na noite anterior com Silvio Santos. Na mensagem, conta comoestava a negociação do Panamericano com a Caixa e afirmou ter comentado com o empresário que alguns "amigos" estavam ajudando na tarefa.

"Disse que vocês estão trabalhando firme para vender parte do banco e que, provavelmente, teremos a ajuda dos "amigos" nessavenda", escreveu. "Disse a Silvio quem eram os "amigos" e ele ficou de boca aberta, como qualquer um ficaria."
Para os investigadores, os "amigos" seriam políticos. Em meio às dificuldades, os executivos que comandavam o Panamericano tentaram montar uma rede de contatos políticos.

Os documentos da PF mostram que eles se comunicavam com Luiz Gushiken, ex-ministro do governo Lula, e procuraram a ajuda do presidente do Congresso, senador José Sarney (PMDB-AP). Além disso, tentaram convencer fundos de pensão de estatais a aplicar dinheiro no banco.

Stoliar termina a mensagem com mais uma referência a Silvio Santos. "Acho que é muito importante que Silvio esteja bem por dentro do que está acontecendo, para não ter medo e até para poder ajudar."

O escândalo do Panamericano estourou em 9 de novembro de 2010, menos de um ano depois da compra feita pela Caixa EconômicaFederal. Socorrida pelo Fundo Garantidor de Crédito (FGC), a instituição teve a fatia de Silvio Santos vendida para o BTG Pactual.

Procurados, Guilherme Stoliar, que atualmente é o principal executivo do Grupo Silvio Santos, e Rafael Palladino, indiciado pela PF como um dos responsáveis pelo rombo no Panamericano, não quiseram comentar.

TUTTY VASQUES - Marta adota nova minoria


Marta adota nova minoria
TUTTY VASQUES
O ESTADÃO - 11/11/11

O mundo LGBT está meio órfão! Lésbicas, gays, bissexuais e transformistas de toda sorte desconfiam que, sempre à frente de seu tempo, Marta Suplicy tenha adotado oficialmente no Senado a defesa dos interesses de uma nova minoria social.
Nunca antes na história desse País uma liderança política havia levantado a voz no Congresso para proteger o consumidor de bombom de licor:
“Quem dirigir depois de comer dois ou três desses de cereja com Cointreau, por exemplo, poderá ser criminalizado no teste do bafômetro pelas novas regras da lei seca?”
Ainda que, particularmente, você não conheça ninguém que cultive esse hábito, imagina quantas senhoras louras respiraram aliviadas após parecer da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) atestando, a propósito do questionamento da senadora, que bombom de licor não incrimina ninguém ao volante, independentemente de seu sabor ou da cor do cabelo do motorista.
Foi só a primeira vitória de uma luta que se anuncia longa. Não demora muito, o que vai ter de comedor de bombom de licor saindo do armário em blitz da madrugada, capaz até de dar quórum para marcha na avenida paulista. 

Lupimania"SÓ SAIO DO SANTOS À BALA!"
Neymar

Nem brinca!Nem um nem outro: O Nem que foi em cana no Rio não é ninguém de Brasília!

Só o que faltavaO humor está de luto! Com a queda anunciada do Berlusconi na Itália, a turma que ganha a vida fazendo piada perde um de seus principais colaboradores em todo o mundo. Aqui no Brasil, pelo menos, a gente ainda tem o Lupi para fazer rir, né?

Eu, hein!Que diabos o prefeito Eduardo Paes quis dizer com “obra é igual mulher bonita”? Toda esburacada, barulhenta e perigosa, é isso?

Estranho no ninhoDá para acreditar que o deputado Miro Teixeira (PDT-RJ) não foi à reunião da executiva nacional de seu partido com o ministro Carlos Lupi porque sentiu o joelho? Foi o que disseram os jornais!

Já pensou?Fãs do UFC reclamam de barriga cheia da anunciada narração de Galvão Bueno nas lutas de MMA que a Globo passa a transmitir a partir deste fim de semana. Deviam dar graças a Deus por não ser ele o lutador e Anderson Silva o locutor!

Aécio & CiaO feriadão começou ontem à noite para a bancada tucana no Congresso. A festa de aniversário do presidente nacional do PSDB, Sérgio Guerra, bombou madrugada adentro no Recife.

Notícia enguiçadaQuantas vezes o Real Madrid vai precisar comprar o Neymar para ele, enfim, se mudar para a Europa? Os jornais já anunciaram umas cinco vezes a transferência do craque para o time espanhol.

Calma!Faltam só 50 dias para terminar 2011!

ANCELMO GOIS - A Fifa e o PCdoB


A Fifa e o PCdoB
ANCELMO GOIS
O GLOBO - 11/11/11

Em que pese a hostilidade de Romário e outros deputados, Jerome Valker, secretário-geral da Fifa, voltou de Brasília satisfeito. Aldo Rebelo, novo ministro do Esporte, foi enfático ao afirmar que o governo trabalha no sentido de superar eventuais problemas e garantir uma grande Copa no Brasil.

Aliás...
Rebelo, na conversa com Valker, fez graça:
— Eu gosto da Fifa porque a entidade, a exemplo do PCdoB, tem um secretário-geral.

Fala sério, Fifa...
A versão em português do site da Fifa para a Copa de 14 traz, numa lista de indicações de hotéis, uma “pousada de Angra dos Reis com localização privilegiada entre a Av. Paulista e o Ibirapuera, a duas horas do Galeão e do Maracanã”.
Veja em http://bit.ly/vl5hg2.

Dilma não foi
Pela primeira vez desde que foi instituída, a entrega da Ordem do Mérito Cultural, quarta, em Recife, não teve a presença do presidente da República. No caso, da presidente. A ausência de Dilma significa que... não sei.

Cartão do totó
Veja só. Um parceiro da coluna recebeu uma ligação da operadora American Express com a oferta de um cartão adicional sem cobrança de anuidade. Respondeu que não carecia, pois mora só com seu cachorro. A moça perguntou, então, o nome do totó. “Fred”, disse. O cartão adicional veio, acredite, com o nome... “Frederico Santos”.

Tiago na Globo
Que tal um neto de Sílvio Santos, dono do SBT, numa novela da TV Globo?
Glória Perez sonda Tiago Abravanel, neto de SS que arrasa como Tim Maia num musical no Rio e fará turnê pelo Brasil em 2012, para sua próxima trama.

Fator crise do euro
O flamenguista Carlos Geraldo Langoni, diretor do Centro de Economia Mundial da FGV, diz que existem fundamentos macroeconômicos que ajudam a explicar a permanência de Neymar no futebol brasileiro até 2014:

— A crise implodiu a bolha imobiliária em países como Espanha e também a bolha dos clubes, superendividados.

Para ele...
Bancos europeus, às voltas com perdas, não têm condições de financiar a compra de estrelas do futebol mundial.

Do outro lado...
Langoni aponta a vitalidade da economia brasileira, que viabiliza um boom no marketing esportivo, e o câmbio valorizado por aqui.

Cultura inútil
Hoje é dia 11 do 11 do 11.

Cena carioca
Ontem de manhã, o monitor que transmite notícias a bordo de um ônibus da linha 512 (Urca-Leblon) exibiu uma foto da prisão de Nem, o traficante. Um senhorzinho começou a aplaudir, e todos festejaram. Há testemunhas.

ESTA PALMEIRA na Rua do Russel, perto do número 580, está com um buraco no tronco. Veja na foto do leitor Eneas Eduardo Mata. Eneas também reparou que, perto, há uma cratera no chão, de onde teria sido retirada outra árvore (acima). Inconformado, buscou socorro. Quarta, o diretor de Arborização da Fundação Parques e Jardins, Flávio Telles, foi ao local e não chegou a uma conclusão. A lesão na palmeira, diz, pode ter sido causada por vândalos, mas talvez seja reação da própria árvore. Ou obra de pequenos roedores, micos ou pássaros — ou ainda a soma de um pouco de tudo isso. Telles prometeu cuidar da pobrezinha e repor a que foi arrancada. Vamos torcer, vamos cobrar

Memória do negro
Eduardo Paes anuncia dia 16 a criação da uma espécie de corredor cultural de celebração da memória africana, na Gamboa. Será formado pelo Centro Cultural José Bonifácio, que abriga o Centro de Documentação e Memória da Cultura Negra; pelo Instituto dos Pretos Novos, antigo cemitério de escravos; pelo Cais do Valongo e da Imperatriz (descoberto há pouco), onde os negros desembarcavam; além da Pedra do Sal, onde moram descendentes de quilombolas.

Angola da Vila
Martinho da Vila vai participar hoje, com a sua Vila Isabel, de homenagem ao 36o-aniversário da independência de Angola, em Brasília. O país africano será enredo da azul e branco em 2012.

Tributo à Patrícia
Hoje, às 11h, haverá homenagem à memória da juíza Patrícia Acioli na Faculdade de Direito da UFRJ, no Rio, organizada pelo procurador Arthur Gueiros.

Amor aos livros
Ontem, na Biblioteca Nacional, a atriz Cássia Kiss declarou seu amor aos livros:
— Já falei para o meu marido. Quando eu morrer, não quero ser enterrada com flores. Quero ser enterrada com livros.
Não é fofa?

GOSTOSA


ILIMAR FRANCO - Com chapéu alheio


Com chapéu alheio
ILIMAR FRANCO
O GLOBO - 11/11/11

Para intensificar o turismo interno, no contexto de enfrentar a crise internacional, o ministro Gastão Vieira (Turismo) prepara um pacote de desoneração tributária para o setor. Uma das medidas prevê a desoneração do ICMS do querosene de aviação. Essa não é a primeira vez que o governo federal sugere medidas na qual a renúncia fiscal será feita pelos governos estaduais.

Na TV: Dilma diz não ao PMDB
A presidente Dilma comunicou ontem ao PMDB que não vai gravar um depoimento para o programa de TV do partido, que vai ao ar dia 24. A desculpa usada foi que, como Dilma é filiada ao PT, sua aparição contraria o inciso I, do parágrafo 1º, do artigo 45 da Lei dos Partidos, o que poderia custar ao PMDB perder um programa inteiro no ano que vem, quando haverá eleições municipais. O PMDB, no programa anterior, já havia colocado no ar um depoimento do ex-presidente Lula. Os petistas não gostaram e resolveram reagir agora, impedindo a aparição da presidente Dilma. O PMDB engoliu para não correr o risco.

"Nós, da oposição, temos dúvida de que a DRU sirva para o enfrentamento da crise econômica” — ACM Neto, deputado federal (BA) e líder do DEM

AO PÉ DO OUVIDO. 

Presente em solenidade ontem no Palácio do Planalto, o deputado tucano Otávio Leite (RJ) fez questão de procurar a presidente Dilma para tratar dos royalties do petróleo. Ele chegou e foi logo dizendo: "Só há uma pessoa no Brasil, hoje, com autoridade e credibilidade para evitar uma guerra federativa. O Rio espera muito da senhora". Dilma ouviu e respondeu: "É o que todos nós queremos, uma solução".

Gambiarra
O DEM pretende entrar com um mandado de segurança no Supremo Tribunal Federal, se o governo, para ganhar tempo, apensar a proposta de prorrogação da DRU que sair da Câmara dos Deputados a uma já em andamento no Senado.

Rebeldes
Nas votações para a prorrogação da DRU por mais quatro anos, o deputado Sandro Alex (PPS-PR) ficou com o governo. Já os deputados Reguffe (PDT-DF), Jair Bolsonaro (PP-RJ) e Luiza Erundina (PSB-SP) se uniram à oposição.

Marco Aurélio enquadra o governo
Antes de recuar da votação da DRU, por causa da informação de que o ministro Marco Aurélio Mello concederia liminar à oposição, predominava a visão no Planalto de que o prazo de cinco sessões de intervalo entre o primeiro e o segundo turnos não era matéria constitucional. Um dos consultados foi o advogado-geral da União, Luís Adams. O governo sustentava que isso já havia ocorrido em outras votações.

Um dinheiro aí
O PSD vai requerer ao TSE que o partido entre no rateio do Fundo Partidário. Hoje, o partido recebe uma parcela fixa relativa a 5% do fundo. Mas quer receber também a parte que é dividida conforme os votos dos filiados à Câmara.

Aproximação
O que mais agradou ao líder do PMDB, deputado Henrique Alves (RN), no almoço com a presidente Dilma, foi ela ter reafirmado o acordo entre o PMDB e o PT para presidir a Câmara. Henrique é candidato a suceder a Marco Maia (PT-RS).

CHAMOU A ATENÇÃO. A presidente Dilma, em solenidade ontem no Planalto, fez questão de fazer um gesto de cortesia com o vice-governador de São Paulo, Guilherme Afif Domingos (PSD).

A PRESIDENTE 
Dilma marcou para dia 18 um ato no Palácio do Planalto para sancionar a lei que cria a Comissão da Verdade.

O LÍDER do PTB no Senado, Gim Argello (DF), liga para corrigir informação publicada aqui: "Não faço oposição ao governador Agnelo Queiroz".

STERGIOS SKAPERDAS - Como deixar o euro


Como deixar o euro
STERGIOS SKAPERDAS
O ESTADÃO - 11/11/11

A moratória e o retorno ao dracma oferecem a melhor oportunidade à Grécia de crescimento econômico e criação de empregos

Depois de ter sido conduzida por uma espiral descendente e cada vez mais trágica pela zona do euro e pelo próprio governo, a Grécia se vê agora diante de duas escolhas, ambas dolorosas: manter o curso, ou declarar moratória e deixar a união monetária.

Cada uma das alternativas apresenta dificuldades e incertezas, mas, no longo prazo, não há dúvida que a moratória, e o retorno ao dracma, oferecem a melhor chance de crescimento econômico e criação de empregos.

Manter o curso - algo que, apesar da mudança iminente no governo, continua a ser o plano da Grécia - significa a continuidade da austeridade e do desemprego no futuro discernível.

Os mais jovens e mais talentosos sairão do país, deixando para trás uma população mais velha, menos produtiva e-mais necessitada,que terá de enfrentar uma dívida esmagadora.

Enquanto isso, todas as decisões econômicas importantes serãotomadas em Paris, Berlim e Bruxelas.

Uma moratória declarada por iniciativa grega, em comparação, permitiria à Grécia influenciar o próprio destino.

O processo seria regido em boa medida pela legislação grega, em vez de se tornar uma questão de debates particulares entre a chanceler alemã e o presidente francês, levando assim a um fardo mais sustentável representado pelo endividamento.

Por causa dos problemas com o financiamento dos bancos gregos e dos fundos de pensão, uma moratória provavelmente significaria também o abandono do euro. Mas isso é algo positivo, pois daria aos gregos o controle sobre a própria política monetária. Trata-se de algo especialmente importante no momento, com as severas restrições ao crédito e à liquidez na Grécia, principalmente no vital setor das pequenas empresas.

Além disso, como o "novo dracma" - provável novo nome da moeda pós-euro - seria desvalorizado, tanto o turismo quanto as exportações seriam beneficiados, reduzindo ao mesmo tempo as importações. Tudo isto faria da Grécia um país mais competitivo.

Assim sendo, por que os líderes gregos decidiram se ater ao euro? Em parte, isso decorre do fato de a ideia de declarar moratória e abandonar o euro após quase uma década ser tão intimidante.

Mas, apesar de ter seus custos, o processo seria relativamente claro, especialmente se preparativos forem iniciados nos bastidores.

Para reduzir o número de dias em que os bancos teriam de permanecer fechados, a decisão de adotar o novo dracma deveria ser tomada numa sexta-feira.

Os depósitos bancários e a dívida doméstica seriam imediatamente convertidos em novos dracmas seguindo a taxa de câmbio inicial. Caberia aos tribunais gregos determinar se o endividamento público anterior a 2010 seguiria o mesmo rumo, mas não há motivo para imaginar que este seria tratado de maneira diferente da dívida doméstica.

Mas os empréstimos concedidos pela União Europeia e pelo Fundo Monetário Internacional seriam provavelmente mantidos em euros.

Isso é um problema pois, quando a Grécia deixar a união monetária,o próprio euro vai aumentar muito de valor - e, por isso, o custo dos empréstimos em dracmas também aumentaria.

Mas, como a renda da população também seria reduzida se o país permanecesse na zonadoeuro, não haveria grande diferença nos recursos reais e produtivos necessários para quitar os encargos desse endividamento.

Mas, afora essas medidas, a transição levaria tempo. Seriam necessários talvez meses até que fossem impressos dracmas suficientes para sustentar as transações domésticas e, durante esse período, os euros permaneceriam em circulação. Os bancos também precisariam de tempo para ajustar a contabilidade, seus computadores e seus procedimentos.

Ainda assim, excluídos alguns detalhes específicos ao euro, o processo de administrar a transição de uma moeda para a outra é bem compreendido: a mudança de moeda que se seguiu à partilha da Checoslováquia, por exemplo, levou várias semanas e transcorreu bem, de acordo com a maioria dos relatos.

É verdade que tal decisão impediria o acesso aos mercados internacionais de obrigações, tornando os empréstimos bilaterais solicitados a outros países a única opção da Grécia no exterior. Mas isso é menos preocupante do que pensam alguns, porque espera-se que a Grécia logo apresente um superávit primário no orçamento (um superávit no orçamento do governo, excluído o pagamento de juros sobre a dívida), algo que tornaria suficientes os empréstimos domésticos.

Inicialmente, as reservas de divisas internacionais seriam escassas, dificultando a importação de artigos essenciais. Assim sendo, no curto prazo, a Grécia teria de limitar a saída de capital estrangeiro, uma prática agressiva, mas não incomum. A dívida externa privada de bancos e outras empresas, denominada em euros, também precisaria ser sustentada por garantias do governo.

Algumas dessas medidas podem parecer desafiadoras, mas não são muito diferentes daquilo que a Grécia enfrentava antes de aderir ao euro. Seja como for, as políticas seguidas até o momento fracassaram claramente. A Grécia precisa encarar a possibilidade - e depois a realidade - de sair da zona do euro. Quanto mais rapidamente a transição ocorrer, melhor será para todos. / TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

É PROFESSOR DE ECONOMIA DA UNIVERSIDADE DA CALIFÓRNIA EM IRVINE

CELSO MING - Rachas e sub-rachas


Rachas e sub-rachas
CELSO MING 
O ESTADÃO - 11/11/11
Quando duas pessoas fazem a mesma coisa, a coisa não é a mesma, diz um ditado latino milenar.

E se são 27 ou mesmo 17 países - casos da União Europeia e da área do euro, respectivamente - então são 27 ou 17 coisas diferentes.

E são essas discrepâncias, algumas delas assustadoras, que hoje conspiram decisivamente contra a unidade pretendida.

E não é preciso ser um de seus dirigentes políticos para conferir como é difícil avançar para um mínimo de conformidade especialmente em tempo de crise, como agora.

Há dois dias, agências de notícias davam conta de que, no âmbito do bloco do euro (17 países sócios), a chancelerdaAlemanha,AngelaMerkel, e o presidente da França, Nicolas Sarkozy, já começaram exercícios, "apenasemnível intelectual", para encaminhar um racha. O núcleo duro do euro (além de Alemanha e França, Áustria, Holanda e, talvez, os países nórdicos) trataria de rumar paraumaunidade mais profunda. A mudança incluiria a área fiscal (sistema tributário, regime previdenciário, políticas de assistência, orçamentos alinhados) e certo nível de unidade política (delegação de soberania a um governo central).

Seriam fixadas regras rígidas a serem religiosamente observadas e, depois de consolidado o novo clube, as portas ficariam abertas para eventuais adesões - desde que as condições de admissão fossem comprovadas.

Não está claro ainda como essa nova ordem funcionaria nemo que seria feito para que os erros do euro não se repetissem. Tampouco os projetos estão em fase tão adiantada a ponto de se pretender por menores assim. O importante aí é levar em consideração que, na situação atual, a unidade monetária (zona do euro) é insustentável, independentemente das soluções que venham a ser dadas para os rombos maiores, como os de Grécia, Portugal, Irlanda, Itália e Espanha. E que os principais líderes do euro já examinam as saídas para a encalacrada institucional hoje prevalecente.

Quando o então primeiro-ministro da Grécia, George Papandreou, anunciou que convocaria um referendo para aprovar (ou não )o pacote de exigências feitas pelas principais autoridades do euro, Sarkozy adiantou sem nenhuma cerimônia: "A Grécia não tem opção, ou aceita as condições ou tem de sair do bloco" - o que, na prática, exigiria também deixar a União Europeia.

Por aí se vê que Sarkozy já admite rupturas no atual arranjo da Eurolândia.

Merkel, por sua vez, há meses vem pedindo profundas revisões nos tratados que regem o euro.

Há dois dias,emalocução a estudantes em Estrasburgo, Sarkozy chamou a atenção para os cada vez maiores problemas de integração causados pelas Europas a duas velocidades: uma é a velocidade da área do euro, que não tem saída a não ser aprofundar sua unidade; e outra, bem mais lenta, tem os demais 10 países-membros da União Europeia que não fazem parte da Eurolândia.

A nova dinâmica deixa o governo inglês cada vez mais incomodado.

É muita gente fazendo a mesma coisa. Não pode sair amesma coisa

MERVAL PEREIRA - Um dia especial


Um dia especial
MERVAL PEREIRA
O GLOBO - 11/11/11

Ontem foi um dia especial para o Estado do Rio, e não apenas porque estava lindo, um daqueles dias de luz, festa do sol, da canção de bossa-nova que nós cariocas gostamos de afirmar que só mesmo uma cidade como o Rio pode proporcionar. Havia razões concretas, palpáveis, para transformar o dia em especial, e não apenas vantagens intangíveis.

Muitos cariocas acordaram com uma boa notícia na manchete dos jornais - outros devem ter sabido na televisão de madrugada: Nem, o chefão do tráfico da Rocinha, havia sido preso.

Aconteceu também, por coincidência benéfica, a passeata contra a tentativa de alterar a distribuição dos royalties do petróleo, que prejudica de maneira brutal a economia do Rio justamente no momento em que o estado tenta se recuperar moral e financeiramente.

Mesmo que a mobilização para a passeata tenha sido facilitada pelos governos estadual e municipais, com a liberação do funcionalismo público e a utilização da máquina governamental a serviço do protesto, foram 150 mil pessoas, segundo a Polícia Militar, que se mexeram para chamar a atenção dos políticos de Brasília. Uma passeata "oficial" sem dúvida, mas que tinha um significado.

É inegável que havia no ar ontem uma sensação de que cada um dos habitantes deveria estar solidário, independentemente de sua tendência política, em defesa dos interesses do estado.

A tentativa de não apenas mudar a distribuição dos royalties do petróleo no novo sistema de partilha, mas, sobretudo, nos campos já licitados, é uma clara quebra de contrato que pode colocar em risco a economia do Estado do Rio.

Todo mundo pelas ruas entende que estão querendo tungar o que é nosso, mesmo os que não entendem nada de petróleo.

Na prisão de Nem, nem tudo foram flores. A notícia da prisão dos chefões do tráfico da Rocinha, destrinchada, tem aspectos que justificam o receio de que, sem uma mudança estrutural nas polícias do estado, não seja possível ter a esperança de imaginar-se um futuro com uma polícia-cidadã, não conivente com os crimes, que recupere a confiança da população.

Policiais federais que interceptaram o carro em cujo porta-malas Nem se escondia recusaram um suborno na casa do milhão de reais, mas houve uma tentativa de fazer o acordo criminoso por parte de alguns policiais civis.

Da mesma maneira que horas antes outro grupo de policiais federais havia prendido traficantes e policiais civis e militares que faziam sua escolta, em outra tentativa de fuga da Rocinha antes da retomada da maior favela da Zona Sul pelas forças de segurança do estado.

Desta vez, a operação policial para retomar o espaço público dos traficantes nas favelas do Rio teve um êxito mais completo.

Como nas ações anteriores, a polícia avisou que iria invadir a Rocinha com antecedência, para evitar um confronto com os traficantes que colocaria em risco a vida dos moradores das favelas ocupadas.

Mas ao mesmo tempo montou uma operação de inteligência, com a ajuda do Exército e da Polícia Federal, para impedir a fuga dos principais traficantes.

Teve pleno êxito, e a implantação de mais uma Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) parece que acontecerá sem maiores atropelos, com os traficantes desarticulados e, como bem definiu o secretário de Segurança José Mariano Beltrame, demonstrando toda a sua fragilidade.

Estabelecida essa marca, será preciso aprofundar a reorganização das polícias civis e militares do Estado do Rio, para que o esforço não se perca em novas formas de acordos com os traficantes.

Há indícios de que em algumas das favelas já pacificadas começa a ocorrer uma conivência criminosa entre polícia e bandidos, que preserva as aparências, mas permite que o domínio do território pouco a pouco volte a ser dos bandidos.

Seria ingenuidade achar que essas operações acabariam com o tráfico de drogas nas favelas ocupadas. Esse não poderia ser o objetivo da ação, por inviável.

Mas é inadmissível que o controle territorial volte a ser dos bandidos, apenas sem as armas expostas ao público. Tanto empenho e sacrifício não podem servir para montar uma farsa a fim de enganar a população.

Da mesma maneira, a questão dos royalties, além do seu aspecto jurídico, contém aspectos políticos relevantes.

O Estado do Rio estaria, com as perdas que a proposta de redivisão das receitas do petróleo provocaria, impedido de dar sequência à sua política de segurança pública, que é fundamental para a realização da Copa do Mundo de 2014 e das Olimpíadas em 2016, mas, sobretudo, tem que ser encarada como uma política permanente de Estado, importante não apenas para os moradores do Rio, mas também para o país.

O Estado do Rio deve perder R$91,47 bilhões até 2020 com a redistribuição de royalties e participação especial se o substitutivo for aprovado no Congresso, segundo o Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE).

Outros cálculos, que incluem perdas já dadas com a legislação do ICMS aprovada na Constituinte de 1988 - e que justificaram a criação dos royalties como compensação pela não cobrança do imposto do petróleo na sua origem - e o critério do Fundo de Participação dos Estados, que beneficia os estados menores, ampliam as perdas para R$125,6 bilhões até 2020, conforme mostrou ontem reportagem do GLOBO.

A mudança dos critérios para a distribuição dos royalties, portanto, tem uma dimensão social muito maior e pode afetar uma política de segurança pública que vem tendo êxito inegável.

Não é descabido, por isso, que o governador Sérgio Cabral lembre à presidente Dilma que ela teve aqui no estado 60% dos votos e que deve a seu povo uma retribuição à altura do apoio que recebeu.

A retribuição terá necessariamente que ser institucional, dispensando-se gestos demagógicos.

SERGIO MALTA - Integração fundamental


Integração fundamental
Sergio Malta
o globo - 11/11/11

A integração energética sul-americana vem sendo discutida e construída ao longo dos últimos 50 anos.

Na década de 1960, instituiu-se a Comissão de Integração Elétrica Regional (Cier), e, em 1973, o Tratado de Lima criou a Organização Latino-Americana de Desenvolvimento Energético.

Em 1965, estabeleceu-se a primeira interligação binacional no continente, ligando Livramento a Rivera, no Uruguai.

Após outras duas experiências de interligação entre a Ande paraguaia e a Enersul e a Copel, veio a construção da usina hidrelétrica de Itaipu, o mais importante caso de sucesso de integração elétrica do planeta.

A partir da criação, em 1991, do Mercado Comum Sul-Americano (Mercosul), a integração energética continental ganhou maior impulso e mais recentemente foi criada a Iniciativa para a Integração da Infraestrutura Regional Sul-Americana (IIRSA).

Nesse período, a integração energética passou a fazer parte da agenda prioritária do governo Dilma Rousseff para a América do Sul, e o Acordo de Complementação Energética entre os Estados do Mercosul e Estados Associados promulgado recentemente deverá dar um novo impulso a este processo, neste momento especialmente alvissareiro para o Continente.

Hoje, o crescimento econômico e social previsto na região indica uma expansão da demanda de energia em taxas elevadas em função do crescimento do PIB e, também, em função da redução das desigualdades que levarão camadas crescentes das populações destes países a usufruírem um padrão de conforto doméstico mais elevado e, portanto, mais "eletrificado".

Os recursos energéticos da região são enormes e podem garantir um crescimento da oferta de energia, seja a partir dos recursos hídricos ainda não aproveitados, seja a partir dos combustíveis fósseis abundantes.

Estima-se que a integração plena dos sistemas elétricos da região pode proporcionar um ganho de 25% na capacidade de suprimento dos países da América do Sul, que explora, atualmente, menos de 40% de seu potencial hidroelétrico.

A experiência brasileira na integração de seus sistemas energéticos, seu peso econômico e energético na região e a posição geográfica do país, com muitas fronteiras e possibilidades de intercâmbio energético nas diversas regiões brasileiras, colocam o Brasil em posição privilegiada no processo de integração que deverá ensejar benefícios econômicos, sociais e ambientais para todos os países da região.

Contudo, para avançar, precisamos superar preocupações deste processo de integração que é naturalmente produzido num contexto de desenvolvimento gradual de aceitação e maturação no qual os Estados delegam parte de seu poder soberano a entidades supranacionais, e a segurança energética de cada país passa a depender de autoridades comunitárias.

Além disso, temos que superar as restrições de capacidade de transmissão, além das dificuldades derivadas das assimetrias institucionais e regulatórias, e dos problemas políticos e de financiamento.

De qualquer forma, o processo de integração energética precisa ganhar maior velocidade, face aos desafios que a agenda de crescimento econômico e social da região apresenta.

Nesse contexto, as Comissões de Infraestrutura e de Relações Exteriores do Senado Federal e a Comissão de Minas e Energia da Câmara dos Deputados estão promovendo um amplo debate, com a participação de representações dos países da região, sobre os riscos representados pelas diferenças de marcos regulatórios, sobre os riscos políticos de governo e das populações, sobre os entraves ao financiamento de empreendimentos de integração energética, com o objetivo de contribuir para a criação de mecanismos legais e institucionais necessários à sua superação.

Trata-se de criar regras claras, justas e perenes para o pleno desenvolvimento energético do continente.

LUIZ GARCIA - Depois de Nem


Depois de Nem
LUIZ GARCIA
O GLOBO - 11/11/11

Estamos terminando uma semana de boas novidades para os mocinhos e de péssimas notícias para os bandidos. O que aconteceu de melhor foi, claro, a prisão de Antonio Bonfim Lopes, o tristemente famoso Nem.

Como ocorre com os grandes chefões do tráfico de drogas, aqui e no resto do mundo, ele é reconhecido como inimigo da sociedade por dois motivos: porque vendia drogas e porque tinha a seu serviço um número não determinado de policiais. Ou seja, corrupção em dose dupla.

O segundo problema - comum no resto do mundo, com a provável exceção da China e do Vaticano - foi lembrado no dia seguinte ao da prisão de Nem, com a detenção de três policiais civis e dois ex-PMs, no momento em que davam escolta e proteção a cinco traficantes que fugiam da Rocinha. Por esse serviço sujo, o grupo ganharia R$2 milhões. Para contraste, é bom lembrar: os agentes que capturaram Nem recusaram um suborno de R$1 milhão.

Os dois episódios são provas do que ninguém ignora: não há atividade criminosa (pelo menos no mundo em que se usa terno e gravata) mais rentável que o tráfico de drogas. Não custa lembrar - embora pouco adiante - que a guerra contra os traficantes só estará perto de ser ganha quando a sociedade civil entrar de verdade na batalha contra o consumo. Os fornecedores podem estar instalados nas favelas, mas um número considerável dos usuários mora bem longe delas.

É assim no mundo todo, talvez mais nos regimes democráticos do que nos estados totalitários. Temos de reconhecer que os sistemas políticos que prezam o respeito pela liberdade dos cidadãos - e são, por isso, melhores que os outros - têm, como acontece em todas as empresas humanas, deficiências insuperáveis. Pelo menos, por enquanto. O que é uma ressalva extremamente otimista, mas, sem otimismo, vamos reconhecer, a vida é muito chata.

Celebremos, portanto, a prisão de Nem. Enquanto esperamos que ela estimule uma operação policial na Rocinha com resultados tão positivos como os que testemunhamos no Complexo do Alemão.

MIRIAM LEITÃO - Questões nacionais


Questões nacionais
MIRIAM LEITÃO
O GLOBO - 11/11/11

Saí de casa às seis da manhã, da Gávea, e encontrei até o trabalho três barreiras de policiais fortemente armados revistando os carros. Na véspera, os helicópteros sobrevoaram a Rocinha o dia inteiro. Fui ao aeroporto de tarde evitando caminhos que poderiam ser afetados pela manifestação do Rio contra a mudança na lei de royalties. As duas notícias parecem locais mas são nacionais.

A prisão do chefe do tráfico na Rocinha e a previsão de uma Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) na favela ícone do Rio são promissoras para todos os bairros, seja onde ele se encastelava, seja os bairros do entorno, mas é também uma excelente informação para o Brasil inteiro.

Tráfico de drogas existe aqui e em qualquer lugar do mundo, mas no Rio o que se viu por muitos anos foi a consolidação da ideia de que em certas áreas o poder público não podia entrar; as pessoas, as empresas concessionárias de serviço público só poderiam circular se tivessem a ordem ou a aquiescência dos donos do pedaço. É intolerável no Estado de Direito que haja pedaços do país em que a circulação de pessoas e dos representantes dos poderes constituídos não possa ocorrer por determinação de autoridades estranhas à democrática.

Traficantes foram presos outras vezes, mas um Rio sem pedaços à parte, sem territórios estrangeiros, sem fortalezas inexpugnáveis é o sonho que só agora vai se concretizando passo a passo, apesar de todos os percalços e dores. A batalha do Rio por isso é a luta para que a democracia avance um pouco mais no país. Nesse aspecto o que pode parecer uma notícia local é uma questão nacional de enorme importância, significado e simbolismo.

A manifestação do Rio contra a mudança da lei dos royalties também parece, vista de outros estados, uma questão paroquial de um estado que não quer perder receita ou dividir uma riqueza que tem que ser de todos. Na verdade é mais complexo do que isso.

O ICMS é o mais importante dos impostos estaduais e quanto maior o estado mais relevante é essa fonte para a receita total. O Rio e o Espírito Santo, que juntos produzem quase todo o petróleo que o Brasil consome e exporta, não podem cobrar ICMS desse produto. O carro produzido em São Paulo paga imposto lá. O petróleo recolhe ICMS no estado de destino.

Essa exceção foi criada por temor de que o Rio — e em menor escala o Espirito Santo — recebesse demais dessa riqueza nacional. Em compensação ficou estabelecido que os estados produtores receberiam uma parte maior dos impostos arrecadados através de royalties e de Participação Especial. Foi um acordo feito na Constituição. Um pacto federativo. Esse ponto é sempre esquecido por quem tem defendido a mudança atualmente feita no Congresso.

É importante entender os detalhes da nova repartição aprovada pela Câmara e pelo Senado — e que teve o patrocínio do governo no início do processo. Mas mais importante é ver o cenário geral criado por esse evento: no processo, a maioria dos estados se juntou contra dois deles, e neste caso ser maioria não é ser democrático; é esmagar a minoria.

As manifestações do Rio e do Espírito Santo não têm força para alterar nada e no Rio foram em parte formadas por funcionários públicos com o benefício do ponto facultativo. Isso não diminui a força do argumento de quem está chamando a atenção para o absurdo jurídico que é alterar regras estabelecidas anteriormente, refazer o que está acordado em contratos, criar a desordem fiscal nos estados produtores.

O governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, optou pela estratégia de confiar na palavra do governante, em vez de explicar mais detidamente ao país o que isso representa. Fez mal porque ainda que o governante tenha o poder de veto, o que realmente está em jogo é a harmonia entre os estados. Os não produtores estão convencidos de que agora é que se faz justiça porque afinal o petróleo é de todo o Brasil e a riqueza precisa ser mais bem distribuída.

Ela é. O petróleo brasileiro gera recursos para a União, que os distribui aos estados na razão inversa da capacidade de arrecadação própria de cada um. Os estados não produtores têm benefícios de uma parte dos royalties e ainda a grande vantagem de poder recolher o ICMS do petróleo que é produzido no Rio e no Espírito Santo.

O que se abre com essa lei é a possibilidade da pilhagem de um estado pela maioria dos entes federados. Sempre que um estado tiver uma riqueza os outros poderão fazer o mesmo agora: usar a sua maioria para aprovar leis que revoguem o que tiver sido estabelecido ou negociado.

Eu nasci em Minas e moro no Rio. O grande produtor de minério de ferro é Minas Gerais. Mesmo após a exploração de Carajás, as terras de Drummond ainda são as que mais fornecem os minérios que têm ajudado extraordinariamente a nossa balança comercial nos últimos anos de explosão dos preços. Não por ser mineira, mas por analisar os fatos acho que Minas deve ser ouvida quando fala em aumento dos royalties, mas principalmente acho que as empresas que atuam em mineração em qualquer estado têm que ser mais cobradas na contrapartida ambiental porque a atividade tem um impacto excessivo no meio ambiente.

A questão não é bairrista. O Brasil decidiu ser uma República Federativa e Democrática. Nos dois fatos de ontem é essa escolha que está em questão. A democracia se fortalecerá com a recuperação de todas as áreas ocupadas por traficantes. A federação só será possível com harmonia entre os estados federados. O Rio não pode ser punido por ter petróleo.

MOISÉS NAÍM Adeus, Europa?


Adeus, Europa?
MOISÉS NAÍM 
FOLHA DE SP -11/11/11

Europa precisa passar por ajustes dolorosos; é impossível ganhar, a não ser que se produza mais
Começou com uma tragédia grega, continuou com um fado português, hoje estamos assistindo a um melodrama italiano e daqui a pouco a história pode terminar com uma retumbante ópera alemã.
A crise econômica europeia cresce, se diversifica e se complica. Se continuar como está indo, pode acabar com o projeto mais inovador da geopolítica mundial: a integração europeia.
O ambicioso objetivo de consolidar a Europa como uma economia integrada e um ator geopolítico influente é indispensável para os europeus e bom para o resto do mundo. A Europa não poderá defender seus interesses com eficácia, manter o padrão de vida de sua população e ser um ator relevante no mundo se voltar a se fragmentar.
Lamentavelmente, uma Europa menos integrada já deixou de ser tão inimaginável quanto era até alguns meses atrás.
Há dois cenários possíveis para o pós-crise. Um deles se chama "Mais Europa". O outro é "Menos Europa". Esse último é o que vai acontecer se não ocorrerem mudanças drásticas em três coisas: as políticas econômicas dos governos, a impunidade com que políticos oportunistas mentem para o público sobre as soluções e, o mais importante, a complacência de um público propenso a repudiar os políticos que lhe dizem a verdade.
"Menos Europa" é o que resulta de uma "solução" para a Grécia ou a Itália que em pouco tempo mostre ser insuficiente, tornando obrigatório um novo socorro financeiro. Mas o socorro não aparece a tempo, nem nos valores suficientes, e assim o crash se aprofunda, contaminando os outros países.
Obviamente, a Europa continuará a existir e a emitir sons que emulam os que faria um continente verdadeiramente unido, economicamente são e politicamente coordenado. Mas o resto do mundo ouvirá esses sons com um sorriso maroto, ciente de que são feitos por um continente que saiu de sua crise sendo menos do que era antes e muito menos do que poderia ter sido.
Esse cenário é uma desventura que precisa ser impedida. "Menos Europa" não é inevitável, e "Mais Europa" não é apenas desejável, mas possível. "Mais Europa" não significa mais Bruxelas, mais burocracia ou mais exibições vergonhosas de incompetência.
"Mais Europa" se constrói a partir de líderes que saibam explicar a seus compatriotas que seus filhos estarão condenados a viver pior, a menos que se reformem as economias e o velho continente se integre de maneira muito mais profunda.
E que a Europa precisa passar por ajustes dolorosos que incluem o reconhecimento de que é impossível ganhar mais a cada ano, a não ser que se produza mais. Ou que os sindicatos devem permitir mais competição no mercado de trabalho, os empresários, mais competição no mercado de bens e serviços, e que os lucros exuberantes de alguns bancos são distorções inaceitáveis.
Estamos em um desses momentos em que a coragem, a audácia e a visão dos líderes podem mudar a história. A oportunidade de construir "Mais Europa" está ali, para quem saiba aproveitá-la. Será que existem esses líderes na Europa? Saberemos em pouco tempo.

JANAINA CONCEIÇÃO PASCHOAL - Quem é elitista?


Quem é elitista? 
JANAINA CONCEIÇÃO PASCHOAL
FOLHA DE SP - 11/11/11

A população paga para que os estudantes da USP se tornem profissionais competentes, e não para que façam greve ou depredem patrimônio público
O episódio na USP está circundado de aspirações injustificáveis.
Os mesmos alunos que se dizem preocupados com a igualdade pleiteiam, apenas para si, o direito de fumar maconha sem que sejam importunados.
Não cabe, nesta oportunidade, discutir o mérito de o porte de maconha para uso próprio ser crime; cumpre, entretanto, refletir sobre a pretensão de receber tratamento privilegiado relativamente àquele dispensado ao jovem que se encontra fora dos muros da universidade.
Não condiz com quem se apresenta defensor da igualdade exigir regalias. Ademais, a universidade, sobretudo a pública, é local destinado ao estudo e à pesquisa, não ao uso de drogas, lícitas ou ilícitas.
Feita assembleia, que votou pela não invasão da reitoria, a decisão foi desrespeitada, sendo que, após várias prorrogações de prazo para saída pacífica, a polícia interveio para desocupar o prédio público.
Durante a infundada invasão, os jovens -alguns nem tanto- ostentaram roupas de grife e automóveis novos. Nesse interregno, seus pais não compareceram para levá-los para casa. Quando da condução à delegacia, alguns pais surgiram para apoiar a atitude dos filhos, alardeando tratar-se de presos políticos.
Aí, novamente, a pretensão de privilégios. Será político o pleito de criar um território livre? Será político o pleito de ter liberdades não conferidas aos demais pagadores de impostos, inclusive os jovens que sofrem descontos em seus salários para que o estudo dos invasores seja custeado pelo Estado?
Ao ser questionado sobre a reintegração, o ministro da Educação afirmou que a USP não é a cracolândia. Seriam as pessoas que frequentam a região da cracolândia cidadãs de segunda classe?
A maior parte dos atuais governantes lutou contra a ditadura e, ao que parece, ao terem vencido, deixaram supostos revolucionários órfãos. Frases legitimamente pronunciadas durante a conquista da liberdade findam sendo utilizadas por quem ainda procura uma causa.
A manifestação do pensamento é direito constitucional, tanto que o Supremo Tribunal Federal liberou a Marcha da Maconha. Todos estão legitimados a postular a revisão da lei; entretanto, não é democrático o encastelamento.
A população paga para que os estudantes da Universidade de São Paulo estudem e se tornem profissionais competentes, melhorando as condições do país.
O povo não paga para que tenham benefícios pessoais, nem para que depredem o patrimônio público ou façam greve. Aliás, os alunos haveriam de exigir aula, não paralisar a universidade.
Igualdade, na visão liberal, implica tratar todos de forma equânime. Sob a perspectiva social, enseja tratar com maior tolerância os menos favorecidos.
Sob esse viés, que deveria ser o adotado pelos que se apresentam como não elitistas, os alunos da USP haveriam de ser tratados com maior rigor, sendo-lhes exigidas maiores notas, maior frequência e menor tempo para término dos cursos.
O Brasil precisa, definitivamente, abandonar o dogma "para os amigos, tudo; para os inimigos, a lei". É papel do educador ensinar essa lição.

JANAINA CONCEIÇÃO PASCHOAL, advogada, é professora livre-docente de direito penal na Universidade de São Paulo. Foi presidente do Conselho Estadual de Entorpecentes de São Paulo

EDITORIAL O ESTADÃO - Com a viola no saco


Com a viola no saco
 EDITORIAL 
O ESTADÃO- 11/11/2011

Quando ainda se sentia confiante na solidez de sua posição à frente do Ministério do Trabalho, Carlos Lupi não se poupou de trovejar bravatas. Mas, como quem fala muito, segundo o dito popular, acaba dando bom dia a cavalo, o ministro acabou cometendo dois graves equívocos, um deles provavelmente fatal: o de colocar em dúvida a possibilidade de a presidente Dilma Rousseff demiti-lo, garantindo que só deixaria o cargo "abatido à bala". Já meteu a viola no saco. O outro foi o de tentar reverter a seu favor a lógica dos acontecimentos, lançando mão de um jogo de palavras demagógico e primário: "Sou osso duro de roer. Quero ver até onde vai essa onda de denuncismo". A onda que assola o País não é essa, é a da corrupção. As denúncias são apenas consequência. E a demissão de cinco ministros de Estado por elas atingidos revela que todas têm tido fundamento. Ou a presidente da República é irresponsável?

Por que o caso do ministro do Trabalho seria diferente? As suspeitas de trambiques de agentes do governo, com ONGs picaretas, começaram a pipocar ainda na administração anterior e estão no foco das denúncias recentemente veiculadas sobre a cobrança de propina, por parte de assessores do ministro Lupi, para fazer vista grossa a irregularidades. Ontem o Estado publicou o caso da ONG Oxigênio, de um amigo de Lula, com sede em São Paulo, que foi cobrada pelo próprio Ministério do Trabalho a respeito da comprovação de serviços de qualificação de operadores de telemarketing pelos quais recebeu R$ 24 milhões. E ficou comprovado que outra organização, a Associação dos Artesãos e Produtores Rudimentares do Rio (Aart), que recebeu R$ 3,75 milhões de convênio firmado em dezembro de 2009 para oferecer cursos de qualificação para o "arranjo da indústria do carnaval", não funciona em nenhum dos dois endereços que constam dos documentos oficiais. Não é à toa que a presidente determinou uma rigorosa revisão de todos os convênios firmados com organizações não governamentais.

Apesar das evidências contra ele, o trovejante Lupi permitiu-se, na última terça-feira, uma fanfarronice temerária para quem, como ele, afirma conhecer muito bem Dilma Rousseff: "Não saio do cargo. Daqui ninguém me tira. Só se for abatido à bala. E tem que ser bala de grosso calibre, porque eu sou pesado". E acrescentou que não sairia agora nem na reforma que Dilma fará em janeiro. Foi a conta. A presidente mandou a ministra-chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffman, chamar o falastrão a seu gabinete, passar-lhe um pito e exigir uma retratação pelos "excessos" verbais. Imediata e obedientemente o PDT, partido do qual Lupi é o chefão, divulgou nota oficial para esclarecer que "em nenhum momento as declarações do ministro Carlos Lupi, durante coletiva ontem na sede nacional do PDT, foram de ameaça a quem quer que seja, muito menos à presidente Dilma Rousseff, mas sim um desafio aos acusadores que se escondem por trás do anonimato".

Por recomendação do Palácio do Planalto, na quinta-feira pela manhã Lupi compareceu, menos trovejante, a uma audiência pública da Comissão de Fiscalização Financeira e Controle da Câmara dos Deputados, para prestar esclarecimentos sobre as denúncias de irregularidades envolvendo sua pasta. Depois de reiterar seu ato de penitência pelos excessos verbais, chegou a declarar: "Presidente Dilma, peço desculpas se errei. Eu te amo. Quem trabalha muito erra muito" - e procurou minimizar a importância de todas as irregularidades apontadas, chegando a garantir que seu ex-chefe de gabinete Marcelo Panella, o primeiro a ser demitido pelo próprio ministro quando a situação começou a ficar feia, sempre teve um comportamento irrepreensível: "Não há possibilidade de ele estar envolvido em qualquer coisa irregular". E saiu pela tangente quando convidado a explicar a série de "erros e equívocos" apontados nos convênios: "São mais de 500 convênios, como não vai ter isso? Mas corrupção, dentro do meu partido, não há".

Será ótimo se for verdade, porque, a se repetir o procedimento que Dilma Rousseff tem geralmente seguido em situações semelhantes, quando o ministro Lupi cair o feudo do Trabalho estará garantido nas mãos do PDT. Afinal, é preciso preservar a governabilidade.

BARBARA GANCIA - Resistência flower power


Resistência flower power
BARBARA GANCIA
FOLHA DE SP - 11/11/11 

Turminha da USP fez uma resistência modelo retrô, igualzinha ao som que ouve e o carro imitando o antigo

Falo muito com os videorre­pórteres do TV Folha quan­do saímos a campo. Deles to­dos, o Carlos é o que me empresta seus ouvidos com maior desprendimento, o garoto é um megafofo.
Outro dia chegou com o microfone de lapela danificado e eu lhe passei um belo sabão. Em vez de se fechar em copas, ele fez o contrário: foi abrindo um sorriso e alargando. Eu ainda continuava de cara feia di­zendo que não ia dar para terminar o trabalho e ele olhando para mim como se eu fosse o Gay Talese. Dá para resistir?

Desde então tenho ensinado ao Carlos todos os macetes que co­nheço. A começar por uma regra básica: ande sempre com dois mi­crofones de lapela.

Nesta semana o Carlos esteve em casa fazendo uma gravação. Quis saber o que achei sobre a invasão da USP. "Não sei se concordo com todos no Facebook, creio que os estudantes podiam ter pegado mais leve", disse-me.

Todos no Facebook acham que os estudantes agiram bem? Ué? Na minha página nem os mais liberais aprovaram a invasão. É claro, entre os amigos do Carlos e os meus deve haver uns 25 anos de diferença.
Pobre garotada da USP. De Ro­bespierre às manifestações de abril passado na praça Tahrir, no Cairo, só existiu uma única modalidade de contestação no planeta. A dos opri­midos de um lado contra os opres­sores do outro. Todo mundo sabia muito bem quem eram uns e os ou­tros, onde ficava o meio e quais os motivos que levavam Dany Le Rouge ou Lindbergh Farias à praça.

Em Zuccotti Park, o pessoal do Occupy Wall Street já nem ousa mais dizer que se está protestando. Apenas vão lá para propor uma dis­cussão sobre não se sabe bem o que contra não se sabe bem quem.
Acreditamos vagamente que me­lou e que quem está por trás da de­tonação com efeito retardado do ecossistema, da democracia e do modelo capitalista é o mercado.

Turminha da USP é vítima dupla­mente e fez uma resistência mode­lo retrô, igualzinha ao som que ou­ve, o carro imitando o antigo e a moda que consome, tudo meio "romantic sixties". "Vamos tomar ca­cetada da polícia e fumar maconha no campus". "Flower power", bebê!

Pessoal não sabe se chama aten­ção colocando uma melancia na ca­beça ou quebrando a reitoria. É uma geração encurralada por dog­mas numa época em que ninguém mais convive com o que não é "bom", "certo" ou "bem-vindo".

Representatividade é conversa pa­ra boi dormir, certo?

Então a garotada protesta e não sabe porquê. A polícia reage na ca­cetada e não sabe porque não. Mas garanto que o governador está sa­tisfeito com o resultado sabendo de tudo. Toda vez que os governos saem do centro das atenções, os go­vernantes deliram de prazer. Não é para isso que desviam do assunto com aperitivos simpáticos como a faixa de ciclistas?

Pois a mim, a garotada da USP conquistou de vez quando expôs um grupo de múmias do Egito que se disseram simpatizantes da Pri­mavera Árabe em nome de uma su­posta limpeza na política tapuia.

Não percebem as senhoras do atra­so que opinam no vídeo http://migre.me/67yyT que caso houves­se um movimento semelhante por aqui, ele seria liderado pelos inva­sores uspianos. Quanto a elas, bem, com muita sorte, estariam embar­cando fugidas e embrulhadas no que restou de suas cortinas no pri­meiro cargueiro em direção ao Ga­bão.

JOSÉ SIMÃO - Socuerro! CPI no Itaquerão!


Socuerro! CPI no Itaquerão! 
JOSÉ SIMÃO
FOLHA DE SP - 11/11/11

Buemba! Buemba! Macaco Simão urgente! O esculhambador-geral da República! E a manchete do "Piauí Herald": "Marcelo D2 é o novo reitor da USP". E o Vasco nem precisou da PM pra bater Universitário. Vasco 5 x 2 Universitário!

E o filho do traficante Matemático que se chama Tabuada?! E esta: "Cabral quer que Nem fique preso". E nem fique solto! E corre na internet o panorama internacional: "USA, Steve Jobs. Grécia: No Jobs. Itália: Blow Jobs!". E a carinha do Berlusconi.

E atenção! Adivinha o nome da construtora que vai fazer a infra do Itaquerão? CPI! CPI no Itaquerão. Rarará! E a Dilma, em vez de demitir, devia nomear mais um ministro: o ministro das Demissões! E continuo abalado com o ministro do Trabalho: "Só saio abatido a bala!". Então PDT quer dizer Pode Dar Tiro? Rarará! Abatido em granja!

E o Brasil agora tá assim: denúncia, defesa, denúncia, defesa! Eu vou denunciar a minha sogra. Eu denuncio qualquer um em troca de uma viagem prá Bahia! Rarará! Padocas em festa! A volta da Portuguesa! A Lusa voltou à tona, prá série A! Depois de cem anos. É que eles usaram a tática padaria: atacaram em massa e retrancaram em bolo!

Eu nem sabia que a Lusa ainda tinha torcedores. As camisetas com cheiro de naftalina! Os poucos torcedores da Lusa tinham que ligar pro clube: "Vai ter jogo hoje?". "Vai, se você vier". Rarará! E o Éramos6 diz que, em homenagem à Portuguesa, vai ter gata do Brasileirão com bigode. Mulher com bigode é bom porque faz cócegas! Rarará!

Eu acho que eles fizeram macumba com bacalhau preto. E vinho do Porto! E o meu São Paulo? O Leão tá sem dente. Os bambis bambearam! E o Palmeiras contratou mais um craque. Pra segurar a lanterna! Rarará! O Palmeiras já tem jogo marcado pra 2012: Palmeiras x Asa de Arapiraca. Público esperado: 78 pessoas.

Ingresso: R$ 1,50 ou passe de ônibus! E esta: "Mano fica sem testar gramado no Gabão". Então ficou com fome. Passou fome no Gabão! No Gabão Bueno! Rarará! É mole? É mole, mas sobe!

E adorei a charge do Erasmo com dois estudantes da USP: "Vai prestar o que no ano que vem?". "DEPOIMENTO". E esta: Igreja Missionária Pentecostal Fornalha de Fogo. É igreja ou churrascaria? Quando não tem culto, é pizzaria! Rarará! Nóis sofre, mas nóis goza.

FERNANDO GABEIRA - Prefeitos na Serra e ministros no Cerrado


Prefeitos na Serra e ministros no Cerrado
FERNANDO GABEIRA
O Estado de S.Paulo - 11/11/11

No ano que termina, falou-se muito em corrupção no Cerrado. Caíram ministros, bilhões de reais foram desviados dos cofres públicos. Nada mais pedagógico, para mim, do que a corrupção na Serra Fluminense. Em nosso pequeno mundo, foi possível examinar um caso com princípio, meio, fim e traços universais.

Nele o dinheiro desviado não se destinava a abstratos números de hipotéticos cursos para supostos alunos de formação profissional em turismo ou esportes. As coisas começaram com uma tragédia natural: as chuvas de verão. Mas, percorrendo escombros, hospitais e necrotérios, analisando o processo de destruição, não se pode afirmar que ela foi apenas natural. Ocupações ilegais, encostas desprotegidas, rios entulhados, obras mal feitas, incompletas , natimortas no papel - tudo isso revelava também um perverso ciclo político-cultural.

No princípio, o conforto é dado pelos grandes números abstratos. Os governos anunciam milhões. Mas os entulhos não saem do lugar, ao longo dos meses. As pontes que partiram continuam as pontes que partiram: pqp. Durante todo o ano houve protestos em Teresópolis e Nova Friburgo. As pessoas compreenderam que, apesar de o dinheiro não ter vindo na proporção prometida, ainda assim não estava sendo usado. O resultado final dessa luta foi a queda dos prefeitos das duas cidades, ambos acusados de corrupção. Diante dos desabrigados, pessoas que perderam gente da família, era difícil representar a famosa cena federal: onde estão as provas? As provas, de certa forma, estavam nos seus olhares, no abandono a que foram relegados.

Com o tempo, o próprio Ministério Público, baseando-se no clamor da população, reuniu os indícios que bastavam para a degola. Aconteceu aqui, na Serra, o que acontece no Cerrado. Quando se sentem vítimas de um processo de corrupção, onde buscar seus representantes? Na Câmara? Ela é dominado pelo governo.

Nova Friburgo e Teresópolis chegaram ao seu objetivo por caminhos diferentes. Na primeira, o movimento concentrou-se em exigir uma CPI na Câmara Municipal. E percebeu claramente que isso não bastava, era preciso uma CPI independente do prefeito sob suspeição. Na segunda, o processo foi um pouco mais longe. Os próprios vereadores, acossados pelo povo, afastaram o prefeito para investigações, já sabendo que ele não voltaria. Felizmente, a Justiça Federal completou o processo em Friburgo. As investigações na Câmara prosseguem, com o prefeito afastado.

Foi um processo memorável, mas não se pode cantar vitória. Enquanto as duas cidades lutavam para derrubar prefeitos corruptos, o outono virou inverno e o inverno, primavera. A Serra Fluminense encontra-se fragilizada diante do verão que se aproxima. As obras essenciais não foram feitas e a energia da sociedade não pôde ser canalizada para fortalecer os mecanismos de prevenção. A chuva destruiu bairros inteiros, a política, no seu sinistro curso, manteve a população ocupada em, minimamente, se defender de picaretas executivos que, por sua vez, controlam picaretas legislativos.

Uma lição do nosso pequeno território serrano que talvez valha para a imensidão do Cerrado: eleitores têm mais força de pressão sobre vereadores do que sobre deputados. No debate sobre reforma política, a experiência de Teresópolis e Friburgo deve ser levada em conta na avaliação do voto distrital.

Cobri a sessão que criou a CPI em Friburgo e a que derrubou o prefeito de Teresópolis. Havia gente na plateia e na praça. Mas não eram apenas manifestantes pressionando políticos. Eram conhecidos, chamavam-se pelo nome, quando vaiavam alguém sabiam por que vaiavam e o político sabia por que estava sendo vaiado. Tanto para os acusados como para as vítimas não estavam em jogo números abstratos, mas casos reais de gente com mortos conhecidos, escombros localizados. E gente enriquecendo a olhos vistos.

Tudo isso se passou com uma relativa distância da imprensa. É diferente do Cerrado, onde os episódios se desenrolam diante dos refletores e os atores se esmeram na dramatização. No script da Serra não houve falas do tipo "sinto-me indestrutível" ou "morro, mas não jogo a toalha". É diferente o jornalista que apenas grava ou anota declarações do interlocutor que sabe o que você fez no verão passado.

O que ressalta também na tragédia serrana é a importância não só da participação social na luta contra a corrupção, mas sua articulação com instituições que funcionam, normalmente, como o Ministério Público, ou mesmo as que só pegam no tranco, como as Câmaras Municipais. Seria uma ilusão achar que o controle social resolve sozinho. Como também é uma ilusão contar apenas com fiscais quando a sociedade é indiferente. Entre esses dois polos, a iniciativa mais desejada é do próprio governo, ampliando e sofisticando os mecanismos de fiscalização. Se dependesse das cidades da Serra, as casas já estavam reconstruídas, as encostas, protegidas e as pontes, restauradas. Se os mecanismos oficiais fossem melhores, elas teriam sido poupadas desse longo calvário.

Caso as eleições municipais fossem este ano, as cidades da Serra teriam um comportamento singular diante do quadro mais amplo. Não há muito necessidade de discutir ficha limpa, nem espaço apenas para militantes profissionais. As pessoas já sabem, pelo menos, o que não querem: gastar o ano para remover políticos corruptos e só agora começar a remover as pedras que ameaçam rolar sobre sua cabeça. O que virá depois?

Há esperanças de que o comportamento na Serra, e em todos os outros lugares que despertaram, comece, no ano que vem, a influenciar as mudanças no Cerrado. É muito cedo para prever. A eleição de 2012 pode também reduzir-se a um fenômeno de cabos eleitorais e agências de propaganda, diante de uma sociedade indiferente e enojada dos políticos.

No caso da Serra Fluminense, pensar em escala anual é uma temeridade. A cada dia, sua agonia; a cada verão, sua corrupção.

DORA KRAMER - Bacia das almas


Bacia das almas
DORA KRAMER
O Estado de S.Paulo - 11/11/11

Ainda que o PDT não tivesse recuado oficialmente da ameaça, era evidente que o partido não sairia da base aliada ao governo com demissão ou sem demissão de Carlos Lupi do Ministério do Trabalho.

O motivo é o mesmo que mantém o PR firme, a despeito do esperneio por causa da demissão da cúpula do Ministério dos Transportes. É a razão pela qual não se altera o humor do PMDB mesmo depois da queda de três correligionários ou tampouco se abalam os nervos do PC do B que, houve um momento, pareceu disposto a cair (fora) junto com Orlando Silva.

Para os partidos seria melhor que não houvesse denúncias, mas, uma vez ocorrido o desastre, tanto faz como tanto fez: a eles importa pouquíssimo quem os represente. O importante é que estejam representados, cada qual com seu quinhão da máquina pública para usar e, não raro, abusar.

E quem lhes garante a prerrogativa? Ninguém que esteja ocupando uma cadeira ministerial: é a presidente da República. Ela detém por delegação a guarda da chave de tudo o que lhes interessa. A questão é entre Dilma e os partidos.

Levada em conta essa premissa, haveria uma boa economia de tolices ditas sobre o "risco" de essa ou aquela legenda deixar a base aliada.

Defecções podem acontecer. Mas nunca no primeiro ano de governo nem a razoável distância de eleições, muito menos na ausência de algo ou alguém que represente expectativa concreta _ e de preferência segura - de poder. Enquanto a canoa ao mar for uma só, a maioria estará nela.

Até a ditadura que estava bamba desde o episódio da bomba do Riocentro, em 1981, só veio a sofrer abandono do lar por parte do PDS no último ano do governo João Figueiredo quando, então, a oposição já se articulava pela aprovação das eleições diretas e, depois, em torno da candidatura de Tancredo Neves no Colégio Eleitoral.

Por razões altas ou baixas, os políticos que estão na base não vão a lugar algum. Os fisiológicos votam com o governo sempre que têm seus anseios atendidos; os ideológicos da mesma forma permanecem fiéis por convicção; e os independentes (os há) votam a favor quando concordam e se opõem quando discordam. É isso mesmo, simples assim.

Essa dinâmica não se altera por causa de enrascadas em que eventualmente se envolvem os ministros.

Fora disso é tudo jogo de cena. Por isso mesmo é que a presidente - como qualquer outro governante na condição dela, com boa avaliação popular e oposição desfalcada de unidade de ação e pensamento - tem tudo para, se quiser mesmo, mudar os critérios de funcionamento da coalizão. Começando por ser mais exigente na escalação e na cobrança de desempenho do elenco.

Seus aliados não a confrontarão e ela, de outro lado, ganhará em confiabilidade perante a população.

Dilma amealhou um bom patrimônio até entre opositores dos governos Lula, sustentada na diferença de estilo no trato de auxiliares atingidos por denúncias. 

Mas isso é algo que não dura para sempre se não for amparado em dados da realidade. E a realidade vem mostrando a todos que Dilma Rousseff não demite ministros porque eles agem fora da regra imposta por ela. Até porque ela nunca disse quais são as regras.

Só demite quando fica impossível não demitir.

Carlos Lupi obviamente não quis confrontá-la quando disse duvidar de que a presidente o demitisse e que só sairia do ministério "à bala".

Disse o que disse, e como disse, porque se expressa grosseiramente, porque o ambiente permite que o faça, porque não pretende largar o osso e, principalmente, porque sabe que se conseguir administrar razoavelmente o escândalo, se não houver acúmulo de denúncias, ele fica mesmo.

Bom para Lupi, ótimo para uma parte do PDT - há uma banda que reage por não querer se confundir com a turma dos "esquemas". Mas, pode não ser tão bom para o governo em geral nem para a presidente em particular.

A última pesquisa Latinobarômetro/Ibope mostra que Dilma teve uma queda de 11 pontos porcentuais em sua avaliação positiva. Nada aconteceu que justificasse, a não ser talvez o aumento da percepção de que ela só age quando a reputação do ministro em questão está liquidada até na bacia das almas.

MÔNICA BERGAMO - O LEILÃO DA VILA


O LEILÃO DA VILA
MÔNICA BERGAMO
FOLHA DE SP - 11/11/11

A Vila Belmiro, estádio do Santos, está sendo oferecida, por R$ 106 milhões, em um site de leilões judiciais eletrônicos. O pregão, marcado para começar no dia 29, será operado pela empresa Lut. Os lances vão até 2 de dezembro.

HERANÇA
O leilão foi determinado para pagar uma dívida iniciada na gestão do ex-presidente do Peixe Marcelo Teixeira. Quando era mandatário do Santos, ele tomou empréstimo bancário para o clube, avalizado pela Associação Educacional Santa Cecília, de sua família. A dívida não foi paga, e a instituição agora cobra o clube. Teixeira diz que está negociando um acordo com o Santos para evitar o leilão.

PARE AGORA
Gustavo Ribeiro Xisto, advogado do Santos, confirma a possibilidade de acordo. O clube também ingressou com medida cautelar no Superior Tribunal de Justiça para impedir o pregão.

DIPLOMA
A Secretaria Estadual da Saúde programou para o dia 18 a última blitz educativa da lei antiálcool, na véspera de começar a multar os estabelecimentos que vendem bebida para menores de 18 anos. No dia 16, haverá, no Memorial da América Latina, uma formatura para os 500 agentes do Procon e da Vigilância Sanitária treinados para a fiscalização. Até agora, cerca de 10 mil pontos de venda foram visitados nas blitze educativas.

ARVOREDO
A Defensoria Pública obteve uma liminar para proibir a empresa Fibria, da Votorantim, de plantar eucaliptos em Taubaté e Redenção da Serra, em SP, até que sejam realizados estudos de impacto ambiental e audiências públicas sobre o cultivo. Afirma que a prática estaria causando a extinção de fontes de água, o assoreamento do rio Una e prejudicando o solo da região. A Fibria diz que não foi notificada e que segue "as melhores práticas de atividade florestal".

"JANIERO, FEVERIERO"
A editora de moda do "International Herald Tribune", Suzy Menkes, escreveu errado duas vezes o nome do Rio ("Rio de Janiero") em reportagem do "New York Times" sobre o mercado de luxo brasileiro, anteontem. Menkes participa do seminário Hot Luxury, em SP. Outro texto do jornal sobre moda brasileira cometeu o mesmo erro de grafia com a cidade.

ESFINGE
Biografia não autorizada de Angelina Jolie que a Novo Século lança no dia 18 diz que a atriz tinha interesse em Brad Pitt antes das filmagens de "Sr. e Sra. Smith", quando começaram o namoro. "Ela interrogou um amigo dele que comentou que, quando jovem, Pitt tinha uma reputação de 'maconheiro'. E só namorava celebridades de primeiro escalão, o que aumentou o interesse dela."

HORA DO SIM NA PISTA
O DJ Luke Hope, da Salvation, de Londres, tocará na festa de casamento do estilista Carlos Tufvesson e do arquiteto André Piva, na segunda, no MAM carioca. Os noivos decidiram manter a comemoração após a Justiça do Rio ter negado o pedido de conversão da união estável dos dois em casamento.

CAPITAL DA MODA
Diane von Furstenberg fez desfile de sua grife, anteontem, no Espaço Fashion do shopping Iguatemi, com Tayane Leão e outras modelos na passarela. Suzy Menkes, editora de moda, e Patrícia e Iara Jereissati assistiram ao show. Também no Iguatemi, o designer de sapatos Christian Louboutin autografou exemplares de seu livro.

CURTO-CIRCUITO
Lô Borges faz show do álbum "Horizonte Vertical" nos dias 17 e 18, às 21h, no Sesc Pompeia. 12 anos.

Dori Caymmi, Nelson Ayres e Renato Braz se apresentam com a Orquestra Sinfônica Jovem, no domingo, às 11h. No Auditório Ibirapuera, com entrada franca.

Marcelo Antunes e Luiz Bueno fazem festa hoje, no Jardim América, para comemorar a união do casal, formalizada em cartório.

com DIÓGENES CAMPANHA, LÍGIA MESQUITA (interina) e THAIS BILENKY