quarta-feira, maio 08, 2013

Causa e efeito - MARTHA MEDEIROS

ZERO HORA - 08/05

Ao assistir à peça Arte, que esteve recentemente em cartaz em Porto Alegre, no festival Palco Giratório Sesc, tive a mesma sensação de quando assisti a Deus da Carnificina, não por acaso obras da mesma autora, a fantástica Yasmina Reza. É incrível a capacidade que ela tem de criar situações que nos desconstroem.

Sem piedade, ela evidencia o quanto somos todos patéticos. Fazemos um dramalhão por pequenas coisas, expomos carências infantis e perdemos a compostura por nada. Somos experts em desproporção entre causa e efeito.

Será que um dia conseguiremos equalizar nossas reações, dar a elas uma medida exata? Acho improvável. Vida também é teatro. Por mais humildes que sejamos ao reconhecer nossos exageros diante de alguns acontecimentos, dificilmente conseguimos nos conter. Defendemos nossas opiniões com todas as ferramentas de que dispomos: palavra, voz, gestos, paixão, raiva. E dá-lhe atrapalhação. Agimos de forma farsesca acreditando estar sendo espontâneos.

Fazemos piada de assuntos graves e, por outro lado, levamos a sério as maiores bobagens. Amamos alguém e o atacamos. Desprezamos alguém e o tratamos com mesuras. Somos vigorosamente contra ou a favor, como se de nossas posições dependesse nossa vida. E chegam a ser inocentes nossas tentativas de compreender a nós mesmos, aos outros e ao mundo. Eu, particularmente, gosto muito dessa busca, mas sem perder a consciência de que, onde quer que eu chegue, ainda estarei a milhões de anos-luz da compreensão absoluta.

De certa forma, ainda bem. O que viria depois da compreensão absoluta?

Claro que as coisas podem ser mais simples, mas nunca serão exatas. Não há como ter controle sobre algo em constante movimento: a própria vida. É tão grande o número de influências, ideias, sensações e circunstâncias que nos impactam diariamente, que nunca teremos uma verdade pronta e empacotada para lidar com elas – e muito menos uma estabilidade emocional condizente com a experiência. Sempre estaremos falando num tom mais alto, tentando assim nos defender contra o susto que é ser confrontado diariamente com nossa vulnerabilidade.

O que admiro nesses dois textos de Yasmina Reza, Arte e Deus da Carnificina, é que ela mostra claramente o delírio de se levar a ferro e fogo situações banais, a absurda insistência em querermos causar boa impressão e a inutilidade de nos comportarmos como se estivéssemos diante de um tribunal.

Sendo assim, o que nos resta? Rir. No que diz respeito às nossas relações pessoais, a vida segue sendo mais cômica do que trágica.

Peles negras - ANCELMO GOIS

O GLOBO - 08/05

A primeira clínica gratuita do país especializada em peles negras acaba de ser aberta na Santa Casa, no Rio.

É que os negros, diz a chefe do serviço, Katleen Conceição, que, aliás, é negra, apresentam maiores problemas com manchas na pele.

‘That’s all I want!’
Eduardo Paes passou a tarde de segunda-feira com o casal Clinton e a filha dele, Chelsea, em Nova York.

O prefeito perguntou a Bill sobre a candidatura de Hillary a presidente em 2016.O ex-presidente foi rápido:

— É tudo o que eu quero.

Sete vezes doutor
Lula, semana que vem, recebe simultaneamente sete títulos de doutor honoris causa de universidades argentinas.

Cultura lenta
Passado mais de um mês do anúncio de sua escolha, até hoje Ângelo Oswaldo não assumiu o Iphan.

O plenário do Senado também até hoje não apreciou a recondução de Manoel Rangel à Ancine.

Em tempo...
No caso de Rangel, no dia 22 termina seu mandato atual. Se até lá o Senado não o aprovar, a Ancine ficará sem presidente e com apenas dois diretores.

No mais
Se Dilma decidisse ouvir cada um dos seus 39 ministros, por apenas dez minutos, gastaria 6h30m.

Aliás...
O coleguinha Jorge Bastos Moreno mandou um recado para sua amiga presidente. Sugeriu que não criasse o 40º ministério para evitar que algum gaiato maledicente faça a piada de Ali Babá. Com todo o respeito.

Mama África
Nas contas do Itamaraty, a importante vitória de Roberto Azevêdo para comandar a OMC foi constrúda nas duas viagens de Dilma Rousseff à África.

Ela conversou com mais de 30 chefes de Estado africanos.

Acalma o leão
Dilma, além de fechar o apoio dos Bric, também falou com François Hollande e mandou recado tranquilizador a Obama, tido como eleitor do mexicano.

Mas...
A eleição faz crescer o prestígio de Antonio Patriota com Dilma.

Contudo, na véspera, o Planalto não gostou de ver o chanceler, sem combinar com ninguém, falando na contratação de seis mil médicos cubanos.

Produto com defeito
O STJ decidiu, ontem, contra o torcedor atleticano que queria ser indenizado pela CBF, com base na lei de defesa do consumidor.

É que ele se dizia lesado por ter ido ao Maracanã assistir à derrota do seu time, por erro de arbitragem, contra o Botafogo, em 2007.

Sai o tomate, entra o pão
Veja o preço do pão — aquele igual ao que Jesus Cristo distribuiu para acabar com a fome dos famintos — no Talho Capixaba, no Leblon.
O francês custa R$ 14,40. É o preço do quilo da carne.

Até do Vietnã
Há peregrinos vindos de todos os cantos do planeta para a Jornada Mundial da Juventude.

Já estão inscritos 17 grupos do Paquistão, 13 da Índia, 12 da Malásia, oito da China, sete de Hong Kong e sete do Vietnã Cada grupo tem até 50 pessoas.

Furto de carro
Uma mulher moradora da Barra da Tijuca, de classe média, bonita e sempre bem vestida, voltou a atacar no bairro.
Ela vai a lava-jatos, passa-se como a dona de um veículo, dá gorjeta e vai embora levando o carro. Há inquéritos contra ela na 16ª DP (Barra da Tijuca) e na 127ª (Búzios).

Filarmônica de NY
A Orquestra Sinfônica Brasileira costura acordo com a notável Filarmônica de Nova York, fundada em 1842.
O intercâmbio seria não só entre artistas. Mas também entre gestores.

Cuecas da discórdia

Um ambulante resolveu vender cuecas coloridas em frente ao prédio 218 da Rua das Laranjeiras, no Rio.
Só que a calçada é muito estreita. Para impedir, depois de ter feito várias reclamações, a síndica pôs uns vasos com palmeiras na calçada. Um morador do prédio em frente foi lá e quebrou as plantas.
O barraco acabou com queixa na 9ª DP (Catete).

O invicto açacu - RUY CASTRO

FOLHA DE SP - 08/05

RIO DE JANEIRO - Visto de um terraço no quinto andar, o quadro está se desenhando há anos: as amendoeiras subindo imperturbadas, tomando a rua na largura e na altura, cobrindo as janelas dos andares médios e competindo com as coberturas dos edifícios. O Leblon se orgulha do verde de suas ruas internas, mas o exagero parecia beirar a imprudência --não era possível que árvores tão altas pudessem se equilibrar sobre raízes que já não têm para onde se expandir sob a calçada.

Na manhã de segunda-feira, os ventos de 100 km/h que atingiram o Rio submeteram minhas enormes vizinhas a uma dança de filme de terror, com trilha sonora de folhas farfalhando, silvos, uivos e demais clichês do gênero. Tentei calcular o ângulo a que uma delas cairia sobre meu prédio se chegasse a se partir e concluí que, desta vez, estava a salvo --mas não poderia garantir o mesmo numa próxima ventania.

Minha rua foi poupada, mas os ventos derrubaram mais de cem árvores pela cidade e mataram uma pessoa. O Rio já teve chuvas e ventos mais fortes e com menos prejuízos. Segundo me garantem, a culpa cabe a uma nova política inadequada de poda, limitada agora aos galhos mais baixos e permitindo que as árvores cheguem a quase 20 metros, quando o bom-senso aconselha a que não passem de 12.

Enquanto isso, há poucas semanas, um centenário açacu em Copacabana, querido pelos moradores e tombado como uma das "árvores notáveis do Rio", esteve prestes a ser posto abaixo sob a argumentação oficial de que ameaçava cair. A árvore foi parcialmente mutilada, mas o movimento de seus amigos --para os quais o que havia era um espúrio interesse imobiliário-- a salvou.

Pois, na segunda-feira, o açacu foi castigado pelos mesmos ventos que derrubaram árvores mais jovens e orgulhosas. E, mesmo ferido, continua lá, inabalável, invicto.

Entre a cruz... - SONIA RACY

O ESTADÃO - 08/05

Como vice-governador, Guilherme Afif, segundo apurou a coluna no Bandeirantes, conta hoje com staff de 25 pessoas - entre elas um ajudante de ordens e 10 soldados para cuidar de sua segurança pessoal. E tem direito a usar essa estrutura, somada ao salário de R$ 19,6 mil.

Além de dois carros oficiais: um para ele, outro para sua mulher, Silvia.

...e a Esplanada
Acontece que Afif pretende optar por receber o salário maior, o de ministro, de R$ 26,7 mil, como ocorre em outros casos de dupla função. E aí começa o problema: constitucionalmente, o vice não pode abrir mão de seu salário ou benesses do Estado.

O que fazer? O novo ministro busca saída jurídica.

Estratégia
Para discutir a candidatura de Aécio, almoçaram juntos, semana passada, além do senador tucano, FHG, Tasso Jereissati e Andrea Matarazzo.

O papo foi loooongo.

Na mosca
Coincidentemente, na Fiesp ontem (onde a candidatura de Roberto Azevêdò à OMC foi lançada e registrada em primeira mão por esta coluna), estavam seis embaixadores aposentados, como Rubens Barbosa e Clodoaldo Hugueney.

A notícia, segundo Roberto Giarmetti, foi comemorada cum euforia.

Estrela Dalva
Roberto Podval ingressou, em nome dos ex-dirigentes da Cruzeiro do Sul DTVM (pertencente ao Banco Cruzeiro do Sul), com pedido para instaurar inquérito na PF contra o banco Morgan Stanley.

O criminalista pede apuração de suposta prática de crime de apropriação indébita.

A torcida resolveu ajudar o Vasco a ficar quite com a Receita Federal. Vascaínos vêm emitindo guias de recolhimento e pagando dívidas -sem intermediação do clube. A primeira, de R$ 6.400, já está em menos de R$ 2.500.

Exemplo
A torcida resolveu ajudar o Vasco a ficar quite com a Receita Federal. Vascaínos vêm emitindo guias de recolhimento e pagando dívidas – sem intermediação do clube. Aprimeira, de R$ 6.400, jáestá em menos de R$ 2.500.
Se a moda pega...

Cena urbana
Monica Bellucci conversava com os dois filhos no shopping Leblon, dia desses. Começou em italiano, passou pelo francês, português e inglês. Os transeuntes? Não entendiam nadica de nada.

Faraó Cabral
Ponto a favor de Mohamed Morsi. O presidente do Egito, em suapassagempelo Brasil – hoje e amanhã –, assina acordo entre a Biblioteca Nacional e a de... Alexandria. Para trocar livros e experiência em conservação e planejamento arquitetônico. 

Também é gente 
E Paul McCartney chegou ontem, no fim da tarde, ao hotel Txai, em Itacaré, na Bahia. Fica até amanhã à noite.

Augustão
A Rua Augusta vai passar por transformações durante a Virada Cultural. O projeto LAB – do Instituto Escola São Paulo, de Isabella Prata – pretende implantar um “parque vertical” em escala, em três quarteirões do lado dos Jardins (entre as alamedas Tietê e Jaú) e também no Baixo Augusta.

Augustão 2
Além do “jardinzão” nos prédios, o projeto contempla intervenções sonoras no dia 19. E o instituto já está em articulação com empresários da rua para abrir novas frentes criativas na região.

NA FRENTE
Murilo Portugal comemora. AAEF-Brasil, associação que atua na área de educação financeira (da qual é presidente) fechou sua primeira parceria – com a Serasa.

Antonia Leite Barbosa lança Agendinha Carioca – Guia de Sobrevivência para Pais Descolados. Hoje, na Trousseau do shopping Iguatemi. Anacapri lança coleção por Calu Fontes. Amanhã, no Serafina Restaurante.

Mariannita Luzzati abre mostra. Hoje, na galeria Amparo Sessenta.

A Firmacasa arma brunch especial para abertura de exposição de Zanini de Zanine. Amanhã.

Os DJs Ed MacFarlane e Jack Savidge, do Friendly Fires, desembarcam em Sampa amanhã. Vêm se apresentar na festa Vogue Eyewear, no Jockey Club.

Adriana Banfi abre expo de esculturas. Hoje, na Mônica Filgueiras Galeria.

Dúvida cruel: Roberto Azevêdo vai morar na mansão onde vive hoje com sua mulher – Maria Nazareth, embaixadora do Brasil na ONU – em Genebra? Ou aceitará a casa ofertada pela OMC?

O agudo e a crônica - ANTONIO PRATA

FOLHA DE SP - 08/05

No mundo ideal, o cronista funcionaria como o paciente de Lacan: tocaria a sua vida até que surgisse uma ideia


Ontem, zapeando, dei com um documentário sobre Lacan, o lacônico psicanalista francês. Dizia o programa que o terapeuta não marcava hora para as consultas: se às três da manhã um paciente despertasse de sonhos intranquilos sentindo-se metamorfoseado num monstruoso inseto, poderia telefonar-lhe, cruzar Paris de pantufas e aparecer para um rápido divã. Rápido é maneira de dizer, pois Lacan tampouco pré-determinava a duração das sessões. O insone talvez ficasse escarafunchando suas caraminholas até que os róseos dedos da aurora viessem tamborilar sobre o negrume de seu inconsciente, ou talvez fosse mandado de volta para casa cinco minutos depois de chegar, caso verbalizasse algo prenhe de significado, como, digamos: "Sonhei que estava na Carvalho Pinto, em cima de um obelisco, fumando um charuto bem glande... Eu disse glande?!".

Sei pouco sobre psicanálise, menos ainda a respeito de Lacan, mas esta ideia de que as angústias e aflições deveriam ser servidas quentes, não levadas para alguma geladeira da consciência e de lá tiradas somente às terças e quintas, 15h45, ou às quartas e sextas, às 16h30, já murchas ou decantadas pelo refrigério da razão, remeteu-me a um outro assunto, que me é caro: a crônica.

Num mundo ideal, o cronista funcionaria como o paciente de Lacan. Ficaria por aí, tocando sua vida, indo ao banco, almoçando no quilo, olhando vitrines atrás de um presente de Dia das Mães, até que surgisse uma ideia. Imediatamente, ele encontraria uma praça, se acomodaria num banco --se possível fosse, até alugaria um quartinho de hotel--, tiraria o laptop da mochila e escreveria seu texto, com todos os ingredientes colhidos na hora.

Um romancista não precisa levar o laptop na mochila. Suas ideias podem amadurecer antes de ir para o papel. Ele está contando uma longa história, é bom que tenha algumas pistas de para onde está indo. Já o cronista, quanto mais cego ao iniciar seu passeio, maiores as chances de conhecer lugares novos no caminho.

Outro dia, num jantar, meu amigo Humberto Werneck contou-me de um comentário de Manuel Bandeira a respeito de Rubem Braga: "Braga é sempre bom; quando não tem assunto, então, é ótimo". Claro, pois nesses textos em que o tema não está dado, é como se acompanhássemos o escritor, de pantufas, no meio da noite, atravessando sua Paris interior, matutando sobre suas angústias, seus alumbramentos. É como se o víssemos deitar-se no divã, ouvíssemos seu relato, suas queixas, suas hipóteses, até que, num ato falho, numa gaguejada, numa repetição ou silêncio mais longo, o assunto se materializasse --não no papel, mas na cabeça do analista, isto é, do leitor.

É o caso, por exemplo, de um dos textos mais bonitos de Braga, um dos textos mais bonitos que eu já li: "Sizenando, a vida é triste". O que parece uma reflexão dispersa na cozinha, umas voltas em torno de um radinho de pilha, revela-se um comentário arrasador sobre o amor e a solidão. Não é o caso, por exemplo, deste texto: às vezes, um charuto é apenas um charuto, uma crônica é apenas uma crônica --nem todo mundo pode ser Rubem Braga, nem todo mundo consegue ser tão glande.

Eu disse glande?!

Direita & esquerda - - ROBERTO DAMATTA

O GLOBO - 08/05

Hoje vou começar com espinhos — com uma dualidade que define o nosso mundo. Qual é o ponto central da oposição entre esquerda e direita — esse dualismo que levou tanta gente (de um lado e do outro) para a prisão, para a tortura, para o exílio, o abandono, a rejeição e a morte? Qual é o rumo desses lados?

Penso que a pior resposta cairia na decisão de ancora-los num fundamentalismo: numa oposição com conteúdo definitivo. Uma sendo correta e a outra errada já que sabemos que direita e esquerda admitem segmentações infinitas, pois toda esquerda tem uma esquerda mais a esquerda; do mesmo modo que toda direita também tem a sua direita extremadamente direitista. No plano religioso somos ainda dominados pelo sagrado (situado à "direita" do Pai); mas no plano político ninguém — pelo menos no Brasil — é de "direita". Como ninguém é rico ou poderoso.

Deus e o Diabo seriam os avatares dessa dualidade? Mas as dualidades não tendem a sumir quando delas nos aproximamos? Ademais, não seriam os dualismos, como sugere um antigo texto de Lévi-Strauss, modos de encobrir hierarquias porque um equilíbrio perfeito jamais existe, e a dualidade mistifica com perfeição as múltiplas diferenças entre grupos e pessoas, juntando tudo de um lado ou do outro ?

O ministro presidente do STF, Joaquim Barbosa — depois de fazer um diagnóstico impecável de nossa hierarquia e do nosso personalismo que realizam a indexação de pessoas, tirando-as da universalidade da lei; essas dimensões centrais do meu trabalho de interpretação do Brasil — disse que os principais jornais do país se alinhavam para a direita. Joaquim Barbosa seria meu candidato definitivo à presidência da república e estou certo que ele venceria no primeiro turno mas ao exprimir tal opinião eu acho, com devida vênia, que ele perdeu de vista o contexto sócio-político do Brasil.

Os jornais estão a "direita" porque todo o governo (e, com ele quase todo o Estado brasileiro) está englobado numa "esquerda" de receitas estatizantes que recobre o dualismo político inaugurado com a Revolução Francesa. A razão para o Estado figurar como o nosso personagem político mais importante e decisivo, revela um fato importante. A crença segundo a qual a nossa sociedade malformada, mestiça e doente (destinada, como diziam Gobineau e Agassiz, a extinção pelas enfermidades da miscigenação) teria que ser corrigida por um "poder público" centralizador, autoritário, aristocrático que varreria seus costumes primitivos, híbridos, intoleráveis e atrasados.

A "esquerda" sempre teve como central a ideia de que somente um "estado forte", poderia endireitar as taras, como dizia Azevedo Amaral, da sociedade brasileira. Essas depravações — carnaval, comida, sensualidade, dança, preguiça, musica popular... — de origem. Taras que um Estado devidamente "tomado" por pessoas bem preparadas (a honestidade não vinha ao caso porque não se tratava de uma questão de "moral", mas de "política") iria mudar por meio de decretos .

Não é por acaso que a esquerda tem sofrido de estadofilia, estadomania e estadolatria. Dai a sua alergia a tudo o que chega da sociedade e dos seus cidadãos. Coisas tenebrosas como meritocracia, lucro, ambição, mercado, competição e eficiência. Tudo o que afirma um viés não determinista do mundo.

Vivemos, graças a Procuradoria Geral da República e ao STF, um momento especial porque a "esquerda" foi posta à prova e, ato continuo, foi implacavelmente desnudada. Posta à prova definitiva do poder, ela revelou-se incapaz de honrar com os papeis sociais cabíveis na administração publica e de dizer não aos seus projetos mais autoritários. O resultado tem sido uma reação no sentido de modificação por decreto de mecanismos que buscam arrolhar a imprensa, o judiciário e o ministério público. O ideal, eis o vejo como reação, seria uma aristocratização total dos eleitos, tornando-os em seres inimputáveis. Seria isso algo de esquerda ou de direita?

Uma das forças da democracia é, como viu Tocqueville, a educação continua do seu estilo de vida. A próprio divisão de poderes demanda empatia e não antipatia entre eles. Do mesmo modo, a democracia leva a uma visão para além do econômico, do político, do religioso e do jurídico. É justamente o esforço de uma visão de conjunto que obriga as sociedades abertas a se redefinirem continuamente por meio do bom-senso que Joaquim Barbosa tem de sobra.

Ora, isso é o justo oposto de quem deseja que esquerda e direita sejam termos balizadores finais quando o que o momento demanda é que esse poderoso dualismo seja como as nossas mãos. Esses maravilhosos órgãos que nos tornam humanos e que podem ser usadas de modo diverso porque, como sabem os liberais, ambas tem um uso alternado e são importantes na nossa vida pessoal e coletiva.

Mistérios do aborto - MARCELO COELHO

FOLHA DE SP - 08/05

Pode alguém ser "alguém" antes de nascer? Seus direitos nascem antes do nascimento?


Fico um pouco incomodado quando os defensores do aborto dizem que o tema deve ser analisado "como questão de saúde pública".

Claro que é questão de saúde pública. Mas dizer isso só faz sentido quando todas as outras questões já foram resolvidas. Para quem considera o aborto um atentado à vida humana, ou seja, como algo próximo do assassinato, não adianta nada falar em saúde pública.

Se a polícia fizesse uma "blitz" nas clínicas clandestinas, e prendesse todos os "fazedores de anjinhos", também a famosa questão da "saúde pública" estaria resolvida em grande parte.

Além disso, o objetivo dos antiabortistas é convencer as gestantes de que elas não devem cometer um ato, em última análise, criminoso. Estariam livres, ademais, dos graves riscos que esse ato implica.

Falar em termos de "saúde pública" equivaleria, nessa mentalidade, a se preocupar com o mau funcionamento das armas de fogo. Podem explodir nas mãos do assassino. Cumpriria às autoridades zelar para que não ocorra esse tipo de acidente.

Claro que nenhum antiabortista leva seu raciocínio a esse extremo. Mas não tenho dúvidas de que recebe mais ou menos assim o tal discurso da "saúde pública". Para ele, o problema da saúde pública está eliminado por princípio, uma vez que a ninguém é permitido abortar.

No fundo, a tese da "saúde pública" é uma contorção lógica, uma daquelas maneiras típicas de colocar o carro na frente dos bois. Os marqueteiros políticos são excelentes nesse gênero de eufemismos.

Provavelmente, a ideia só ganhou o destaque que possui hoje em dia porque se tornou, nos debates, a resposta padrão dos candidatos que são a favor do aborto.

Do lado oposto, achei interessante um artigo recente de dom Odilo Scherer no "Estado de S. Paulo". Sua intenção, em si louvável, foi retirar da discussão qualquer aparência dogmática e religiosa.

Pelo que entendi do que escreveu o arcebispo de São Paulo, a questão independe da crença que se tenha na Bíblia ou na existência da alma. Diz respeito aos direitos humanos.

O direito à vida, inscrito na Constituição, teria de ser especialmente respeitado nesse caso --uma vez que a vítima do aborto é a mais indefesa das vítimas.

Nada melhor, do meu ponto de vista, do que eliminar da discussão o seu aspecto religioso. Mas criticar o aborto em termos de "direitos humanos" me convence.

O embrião é sem dúvida uma vida humana. Mas não consigo me convencer de que seja uma pessoa. Pode alguém ser uma pessoa antes de nascer? Pode alguém ser "alguém" antes de nascer? Seus direitos nascem antes do nascimento? Como posso dizer que sejam "seus"?

A questão é totalmente subjetiva. Envolve um "reconhecimento" de pessoa para pessoa. Não consigo "reconhecer" no embrião uma pessoa como eu. No feto, provavelmente sim, e me chocaria ver aqueles filmes em que um ser vivo com dedinhos e pezinhos se debate para não ser abortado.

A tese dos "direitos humanos" tende a um impasse quase "materialista" --termina nas profundidades do microscópio. Não vejo como prosseguir a partir daí. Mas andei lendo algo que oferece uma saída --das mais religiosas-- para quem quiser criticar o aborto.

Numa antologia de poesia cristã francesa recentemente publicada, "O Rumor dos Cortejos" (Editora Fap-Unifesp), traduzem-se versos de uma das "Cinco Grandes Odes" de Paul Claudel (1868-1955).

Ele escreve sobre o mistério da graça cristã. "Tu me chamas a Musa e meu outro nome é a Graça, a graça que se traz ao condenado", dizem os versos.

"Não há mais que este amor que existe entre mim e ti", continua Claudel. "Não me escolheste, fui eu que te escolhi antes que nasceras. Entre todos os seres que vivem sou a palavra de graça endereçada apenas a ti (...) Eis que fui a teu encontro como a misericórdia que abraça a justiça (...) Não busques confundir-me. Não tentes dar-me o meu em teu lugar. Pois é a ti que peço."

Ou seja, a graça, a salvação da alma, consiste num ato divino de amor a mim que precede o meu próprio nascimento. Naturalmente, a dificuldade de acreditar numa coisa dessas é proporcional à beleza de toda a concepção.

Antes de nascer, eu não era nada. "Era sim", responde a Graça. Não é um raciocínio que me convença a ser contra o aborto. Mas, pelo menos, me faz entender porque a religião é tão importante para quem discute do tema.

Ueba! O Zizao tá lendo! - JOSÉ SIMÃO

FOLHA DE SP - 08/05

Rogério Ceni, o goleiro horário de verão! O Ceni inventou uma nova defesa de pênalti, a de carrinho


Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Piada Pronta: "Embrapa clona vaca chamada Brasília". Só falta cruzar com o Touro Bandido. Rarará! Mamata da vaca!

E eu queria ter dois clones: um pra trabalhar e outro pra visitar a sogra. E um outro pra ser assaltado todos os dias!

E uma amiga quer que a Embrapa clone o Brad Pitt: "Já imaginou que maravilha chegar a sua casa e encontrar o Brad Pitt lavando a louça pelado?". E se a Embrapa clonar a bunda da Mulher Melancia, uma amiga compra duas: uma pra cada lado!

E hoje mais um clássico da Disney: Bambis x Galo! Com o herói do século: Rogério Ceni, o goleiro horário de verão! O Ceni inventou uma nova defesa de pênalti, a defesa de carrinho.

E o tuiteiro Sergio Paiva postou: "Mega acumulada! Quer ganhar? O Ceni adianta os números sorteados!". Rarará!

E não é só a Dilma que tá preocupada com a educação da população. O Corinthians também tá. Vocês já viram o vídeo "o Zizao tá lendo"? É sensacional.

Três corintianos sobem num carrinho de golfe de estádio e o Zizao lendo os outdoors: "Côca Côla! Guei-to-lei-de! Ca-í-xa! Cai-xa!".

E o Emerson: "Gente, o Zizao tá lendo!". Deve ser o primeiro corintiano que tá lendo! Educação no governo Dilma é tão boa que até chinês tá lendo! Rarará!

E o Ceni participou da fundação do São Paulo. Defendeu o primeiro arremesso de tijolo! Rarará!

E como perguntou um amigo meu: "O que é pior: ter um Rogério que adianta ou um Valdivia que não adianta?". Rarará! É mole? É mole, mas sobe!

Os Predestinados! É que apareceu no "Jornal Nacional" o gerente do parque eólico do Ceará: Christian LUZ! E a mãe: "Meu filho, você vai se chamar Christian Luz, vai gerar energia eólica e cuidado com o vento pra não pegar gripe". Rarará!

E tem um ginecologista em Candeias, Bahia: Ary Toledo das Dores! Sensacional! Deve ficar contando piada até passarem as dores.

E na empresa de um amigo meu, o gerente de departamento de cobranças: Daniel Massarico. Medo! Depois tem gente que ainda tem medo do ditador da Coreia do Norte. Rarará!

Nóis sofre, mas nóis goza!

Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

FLÁVIA OLIVEIRA - NEGÓCIOS & CIA

O GLOBO - 08/05

Brasil e França estudam acordo em Petróleo
A 11ª Rodada de Licitações da Agência Nacional do Petróleo (ANP), dias 14 e 15, já tem ao menos um desdobramento internacional. Trata-se de um futuro acordo de cooperação entre Brasil e França para prevenir acidentes na exploração de petróleo offshore. Assim que autoridades brasileiras anunciaram a entrada no leilão de blocos da Foz do Amazonas, no mar do Amapá, o governo francês manifestou formalmente ao Ministério das Relações Exteriores preocupação com o risco de vazamento de óleo na região. É que as correntes marítimas do estado do Norte vão na direção da Guiana Francesa, departamento da nação europeia. O país teria reservas estimadas entre 500 milhões e um bilhão de barris. Chegou a ter áreas cedidas para exploração por Shell, Tullow Oil e Total. A inclusão da Foz do Amazonas na licitação brasileira confirma a existência de petróleo na área. O Itamaraty, em nota à coluna, confirma que "o Brasil estuda propor à França projeto de acordo de cooperação para prevenção de acidentes". Quando firmado, será o 1º documento do tipo já assinado pelo país. É que toda a produção nacional de petróleo se dá em áreas sem fronteira com outros países.

DUAS DÉCADAS FAZENDO MAES
A Peri natal estreia campanha do Dia das Mães, no domingo. A maternidade aproveira para comemorar os 20 anos da marca eda abertura da primeira unidade, no bairro de Laranjeiras. Será veiculada em jornal, TV, rádio emídia social. É investimento de R$ 500 mil. A Squadro Comunicação criou; a Cara de Cão produziu.

VISITA SURPRESA
Pão de queijo sempre salva. É o mote da campanha que a Forno de Minas põe no ar hoje na TV. Éa primeira assinada pela agência WMcCann para a marca. Ofilmedefende que a iguaria é sempre boa pedida para serviras visitas inesperadas. Terá peças também para mídia impressa e pontos de venda.

No caixa
A Procuradoria-Geral do Município recuperou para o Rio R$ 36 milhões da dívida da Desenvolvimento Engenharia, de Múcio Athayde. A dívida total com o IPTU era de R$ 50 milhões. A massa falida negociou desconto com a PGM com base no PPI Carioca, espécie de Refis da prefeitura.

Meio bi
Hoje, a PGM começa a enviar cartas a 90 mil contribuintes cariocas que não pagaram R$ 545 milhões em IPTU em 2011. Eles serão inscritos na Dívida Ativa do município. Até 17 de junho, poderão negociar o pagamento via PPI. Quem pagar à vista terá até 70% de descontos nos juros.

Notinha
Cresceu 11,1% o total de notas eletrônicas emitidas pela Fazenda carioca no 1º quadrimestre de 2013. No setor de educação, o salto foi de 17,5%. De janeiro a abril, a prefeitura emitiu 37 milhões de Notas Cariocas.

Em tempo
Hoje, é o sorteio de Dia das Mães do Nota Carioca. O prêmio máximo para contribuintes cadastrados é de R$ 350 mil.

Quem vem
Marilene Ramos, do Inea, recebe Robert Summers, secretário do meio ambiente de Maryland (EUA), hoje. Farão parceria na limpeza da Baía de Guanabara. Lá, eles despoluíram Chesapeake.

Barbada
Não foi tão sofrida a vitória de Roberto Azevêdo para a presidência da OMC. Ontem cedo, a Câmara Americana de Comércio, em Washington, já tinha pronto o comunicado sobre a escolha do brasileiro. Não preparou nada sobre o mexicano Herminio Blanco.

Domésticas
O site Cálculo Exato lança aplicativo de controle de ponto de empregados domésticos. O CE - Ponto Exato também pode ser usado para calcular férias, 13º e rescisão. Aporte de R$ 120 mil Prevê quadruplicar o número de usuários da ferramenta para gestão de domésticos para 320 mil até setembro.

77 JORNALISTAS
Já estão credenciados pela ANP para a 11ª Rodada, semana que vem, no Rio. Uma emissora de TV alemã vai cobrir o leilão. Pelo menos dez empresas habilitadas à disputa inscreveram jornalistas.

CARA DE UM...
A Recreio Veículos, de concessionárias Volkswagen, apresenta novo conceito em campanha publicitária: “A Recreio éa cara do Rio. E o Rio é a cara da Recreio”. Atrás deum Fusca, o nome da rede vira o da cidade. Estreia amanhã na TV esábado em impressos. A 11:21 criou.

É chocolate
A Garoto estreia novo sabor da linha Talento, na 2ª quinzena do mês. A barra tem chocolate branco, castanha-do-pará e coco, ingrediente do Brasil. É ação para a Copa 2014, que a fabricante patrocina.

Rentável
A Hortifruti foi a rede de supermercados com o maior faturamento por metro quadrado no ranking Abras 2013. Registrou R$ 48.166, segundo pesquisa da associação e da Nielsen. Foi o 2º ano seguido na posição.

Hotelaria 1
A Hotelaria Brasil será responsável pela gestão de mais seis unidades da Best Western no país, a partir de 2014. Hoje, gerencia unidade em Macaé. É parceria com a Incortel, responsável pela expansão da rede no Brasil. O faturamento da HB deve dobrar para R$ 92 milhões.

Hotelaria 2
Cresceram 20,5% as reservas de brasileiros em hotéis do grupo Mandarin Oriental, no 1º trimestre de 2013 sobre um ano antes. O gasto diário com hospedagem saiu de US$ 597 para US$ 679. A rede tem 29 unidades no mundo.

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO

FOLHA DE SP - 08/05

Indústria de aluguel de carros cresce 9,9% em 2012
Com um faturamento de R$ 6,23 bilhões, o setor de locação de veículos teve um crescimento de 9,9% no ano passado, de acordo com dados que a Abla (Associação Brasileira das Locadoras de Automóveis) divulgará hoje.

Apesar de ser um aumento significativo, principalmente quando comparado com o 0,9% do PIB, houve queda no ritmo de crescimento. Nos anos anteriores, a elevação havia sido de 11%, em 2011, e de 16,9%, em 2010.

"Tivemos uma curva de desaceleração. É como falar da China, que vinha crescendo a 10% e caiu para 8%", afirma o presidente do conselho nacional da entidade, Paulo Gaba Jr.

O IPI para carros em patamar mais baixo é apontado como o principal responsável pela redução na expansão do segmento.

"Com essa alíquota do imposto, o valor dos carros deprecia muito rápido. Acabamos não conseguindo vender os automóveis antigos para comprar novos", diz Gaba Jr.

O impasse pode ser observado através da idade média da frota do setor, que passou de 15 meses em 2010 para 18 no ano passado.

"Não é ruim ter um IPI menor, mas precisamos de uma política de médio e longo prazo", acrescenta.

Do lado oposto, o que permite que a indústria continue crescendo mesmo em um período de resultados fracos da economia brasileira é, justamente, a crise.

"Ela é positiva para nós, pois muitas empresas passam a ver vantagem em locar um carro, no lugar de comprar", afirma Gaba Jr.

CONTRATO SOBRE RODAS
A Hertz, locadora de veículos, vai lançar um serviço para pequenas e médias empresas que gastam até R$ 100 mil anualmente com a terceirização da frota.

A fatia de mercado compreendida exclusivamente por essas empresas representa um potencial de negócios de aproximadamente R$ 153 milhões por ano, segundo análise da locadora.

"O crescimento das pequenas e médias empresas é superior ao do mercado corporativo como um todo", diz John Salagaj, diretor da Hertz.

"Queremos chegar aos 20% do segmento oferecendo taxas menores."

A concorrente Localiza, que teve receita líquida de R$ 201,6 milhões com aluguel de frota no primeiro trimestre deste ano, também observa elevação no segmento, segundo Paulo Henrique Pires, diretor da companhia.

"Em 2000, locar um carro custava 51% do salário mínimo. Hoje, a média mensal é de cerca de 13%. A terceirização da frota não é mais um produto que só as grandes empresas podem pagar."

LEI E LITERATURA
Doze advogados, entre eles o ex-ministro do Supremo Tribunal Federal Eros Grau, escreveram contos relacionados ao exercício do direito.

Acostumados ao compromisso do sigilo, aos prazos exíguos dos tribunais e à linguagem hermética, para não dar margem à dupla interpretação, os advogados têm no texto literário um desafio, afirma Pierre Moreau, organizador de "As Letras da Lei".

"A ideia era que, através dos contos, eles pudessem passar sua experiência profissional. Sem nada combinado, os textos ficaram bem diferentes", diz Moreau, que também assina um deles.

Os temas vão de guarda de crianças a crime na internet.

Entre os autores estão também Luís Francisco Carvalho Filho, Miguel Reale Júnior, José Gregori, Eduardo Muylaert e José Renato Nalini.

Eros Grau escreveu sobre um juiz que se abstém de julgar um caso que envolve uma antiga paixão sua --uma história, segundo afirma ele, totalmente fictícia.

"O que fizemos [na obra] foi literatura, mas o que está acontecendo hoje, em geral, no Brasil, é, seguramente, literatura fantástica", afirma.

O livro (ed. Casa da Palavra) será lançado em São Paulo no próximo dia 28.

ZERO DE IMPOSTO
Enquanto um iPad com tela retina de 16 GB (sem 3G) custa R$ 1.749 no Brasil, em Hong Kong --região especial da China, com autonomia econômica--, ele sai por menos de R$ 1.200.

Não é a toa que o produto é mais barato por lá. A cidade é conhecida por ser "zona livre" --não há impostos sobre o comércio.

Ainda em Hong Kong, o preço de um iPad mini (modelo que não chegou ao Brasil) com 16 GB e também sem 3G fica um pouco abaixo dos R$ 700.

Nos Estados Unidos, o produto foi lançado em outubro do ano passado por US$ 329 (aproximadamente R$ 660).

Na cidade chinesa, até mesmo as alíquotas sobre renda e os impostos cobrados das empresas são bastante baixos, o que faz a economia da região ser uma das menos restritas do mundo.

Neste ano, Hong Kong ficou em primeiro lugar no ranking de liberdade econômica elaborado pela The Heritage Foundation em parceria com o "Wall Street Journal".

De uma pontuação que varia de zero (economia fechada) a cem (livre mercado), a cidade --considerada país no levantamento devido a sua autonomia-- registrou 89,3.

O Brasil ficou no centésimo lugar, com 57,7 pontos, e foi colocado na categoria dos países cuja economia é praticamente fechada. A Argentina alcançou a 160ª posição --dentre 177 países.

PESOS-PESADOS
Os ministros Guido Mantega (Fazenda) e Fernando Pimentel (Desenvolvimento), Alexandre Tombini (presidente do Banco Central), Luciano Coutinho (presidente do BNDES) e o secretário Nelson Barbosa reúnem-se hoje com empresários na Fazenda.

Cerca de 37 executivos do Grupo de Avanço da Competitividade (GAC) vão discutir a conjuntura. Está prevista uma apresentação de Tombini. Hoje serão divulgados os índices de inflação, IPCA e IGP-DI de abril.

Entre os que confirmaram presença estão Flavio Rocha, da Riachuelo, Daniel Feffer, do grupo Susano, Robson de Andrade, da CNI, Paulo Godoy, da Abdib, e Fernando Figueiredo, da Abiquim.

SOB MEDIDA
Consumidores de lojas das Casas Bahia e do Ponto Frio podem simular como os móveis ficariam em suas casas.

Um software da Viavarejo, que administra as duas marcas, cria ambientes virtuais conforme as medidas e a decoração de cada cômodo.

O serviço gratuito está em 26 das 968 unidades da Viavarejo e é inédita para o público C, segundo a holding.

Das concorrentes, a Marabraz diz que seus vendedores já atuam como consultores, ajudando na escolha do móvel mais adequado.

Além-mar Goiás assinou ontem um termo de cooperação com o Estado de Senar, no Sudão, para firmar parcerias nas áreas de agricultura, ciência, saúde e educação, entre outros setores.

Acordo A Puma fechou parceria com a academia Runner para fornecer material esportivo. Além dos professores da academia vestirem os modelos da marca, a Puma fará testes de produtos com os alunos.

Como nos Estados Unidos? - JULIA SWEIG

FOLHA DE SP - 08/05

Nenhuma lei federal dos EUA chegará perto da lei brasileira que protege os trabalhadores domésticos


Quando os brasileiros dizem que a nova lei dos trabalhadores domésticos acabará tornando o Brasil mais parecido com os EUA, eles querem dizer que ter babás, cozinheiras e empregadas, às vezes mais de uma ao mesmo tempo, logo será luxo acessível só a pessoas muito ricas.

Nos EUA, famílias de classe média alta ou cujos membros exercem atividades remuneradas geralmente podem pagar alguém para limpar a casa uma ou duas vezes por semana e talvez lavar roupas também.

Babás nos EUA também cozinham e fazem limpeza, mas para pagar uma, que custa de US$ 3.000 a US$ 4.000 por mês ou mais, é necessário que o casal trabalhe ou que um deles tenha alta renda.

Para a classe média americana, empregadas não cabem no bolso: a própria família tem que fazer todo o trabalho de casa. Os mais privilegiados têm avós que ajudam com as crianças pequenas ou contam com creches, muitas vezes de qualidade duvidosa, para bebês --já que a licença-maternidade nos EUA pode se estender no máximo a quatro meses para funcionários do governo.

O Brasil é o país com o maior número de empregados domésticos no mundo, e os EUA, o décimo. Os números oficiais são, respectivamente, 7,2 milhões e 726 mil -- provavelmente não representam o total verdadeiro. Mas, no Brasil, mesmo agora que esses trabalhadores ingressam no mercado formal e adquirem novas habilidades e novos empregos, o país tem um longo caminho a percorrer até esse número baixar a ponto de se assemelhar ao dos EUA.

Porém o Brasil já ultrapassou os EUA num quesito muito importante. Segundo a Organização Internacional do Trabalho, assim como as leis trabalhistas da África do Sul, que nasceram num cenário pós-apartheid, a nova lei brasileira dos trabalhadores domésticos é a mais abrangente e progressista do mundo.

A maioria dos trabalhadores nos EUA --sejam eles domésticos, profissionais, de serviço e até os cada vez mais raros sindicalizados-- não tem os direitos que lhe são garantidos, pelo menos não formalmente.

Só os Estados de Nova York e Havaí aprovaram leis que protegem trabalhadores domésticos, mas não tão abrangentes quanto a do Brasil. As Assembleias de Califórnia, Illinois e Massachusetts trabalham em projetos semelhantes, mas nenhuma lei chega perto da brasileira.

O impacto socioeconômico da nova lei vai demorar um tempo. A importância mais profunda nos leva de volta a 1888 e ao legado da escravatura no Brasil. Nos EUA, Abraham Lincoln assinou a emancipação em 1863. Cem anos e uma guerra civil depois, Lyndon Johnson assinou as leis dos direitos civis e de voto.

Nos últimos 50 anos, a maioria dos americanos de ascendência africana saiu do mercado de trabalho doméstico: os rankings são dominados por latinas, filipinas, africanas e, em menor número, brasileiras.

Embora Barack Obama e sua mulher agora morem na Casa Branca, construída pelos ancestrais da própria Michelle Obama, o legado da escravatura nos EUA é palpável ainda hoje em índices desproporcionais de encarceramento, desemprego, pobreza, analfabetismo entre adultos, total de desabrigados e certas doenças. Vamos torcer para que o Brasil escolha outro caminho.

Privatizando o sofrimento - JULITA LEMGRUBER

O GLOBO - 08/05
Sob o título de "O novo filão eleitoral" O GLOBO publicou (29/4) reportagem denunciando que as chamadas comunidades terapêuticas, iniciativas da sociedade civil destinadas ao "tratamento" de dependentes de drogas, estão sendo utilizadas politicamente por parlamentares e, pior, estão em vias de receber polpudas verbas federais.

O robusto relatório do Conselho Federal de Psicologia, divulgado em 2011, que organizou inspeções em 68 desses locais, denuncia que a assistência aí ofertada, além de carecer de regulação governamental, "fundamenta-se em princípios que contrariam pressupostos que orientam as políticas públicas... e se inscrevem no campo de práticas sociais invisíveis ou subterrâneas" onde os mais fundamentais direitos são desrespeitados, onde os internos são constrangidos a participar de atividades religiosas e onde muito raramente são encontrados profissionais de saúde.

Pois bem, este quadro dramático e vergonhoso pode piorar muito se for aprovado pela Câmara de Deputados o Projeto de Lei de autoria do deputado Osmar Terra (PL 7663/10), com relatoria do deputado Givaldo Carimbão, ele mesmo mantenedor da Fazenda Vila Nova, inscrita na Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas para receber dinheiro público.

O PL 7663/10 sacramenta a internação compulsória de dependentes químicos criticada por juristas como inconstitucional e condenada por profissionais da área da saúde como uma excrescência. O relator especial da ONU sobre tortura e outros tratamentos cruéis, desumanos e degradantes sustenta que a internação forçada de dependentes químicos constitui tortura.

É absolutamente inaceitável, incompreensível e inadmissível que o governo federal endosse o PL 7663/10. A presidente Dilma Rousseff, historicamente comprometida com os direitos humanos, vítima, no passado, da abominável prática da tortura, não pode permitir que seu governo seja, no futuro, acusado de ter assistido inerte à instalação no país de tal descalabro jurídico e médico do qual serão vítimas os pobres e despossuídos.

Importante enfatizar que no Congresso Internacional sobre Drogas, realizado em Brasília entre 3 e 5 de maio últimos, reunindo mais de 700 participantes e inúmeros palestrantes internacionais, entre profissionais dos mais respeitados em suas áreas (da neurociência à psiquiatria, das ciências sociais ao direito), representantes de ONGs e ativistas de direitos humanos, foi divulgada e aprovada a "Carta de Brasília em Defesa da Razão e da Vida".

O documento, além de condenar o PL 7663/10, chama governo e população a refletir sobre os danos gravíssimos da política proibicionista na área das drogas que "infringe garantias fundamentais previstas na Constituição da República, corrompe todas as esferas da sociedade, impede a pesquisa, interdita o debate e intoxica o pensamento coletivo". Por tudo isso, está mais do que na hora de o governo e a sociedade debaterem com seriedade a questão das drogas. Está mais do que na hora de a presidente Dilma Rousseff impedir que sua biografia seja comprometida pelo apoio de seu governo ao PL 7663/10.

DOIS PARA LÁ... - MÔNICA BERGAMO

FOLHA DE SP - 08/05

Racha no JBS Friboi, um dos maiores grupos do país: a família Bertin enviou notificação a Joesley Mendonça Batista, controlador da companhia, informando que pode adotar medidas legais para questionar a operação de incorporação da Bertin pela JBS. A fusão, anunciada em 2010, fez com que os dois grupos formassem a maior empresa de carnes do mundo.

...DOIS PARA CÁ
Quase três anos depois, a família Bertin se considera prejudicada por ter hoje participação menor do que a estipulada na época em que a negociação foi efetivada.

MESA-REDONDA
Os dois grupos tentam negociar para evitar o litígio.

PODE SER
A cantora Beyoncé pode estender a sua permanência no Brasil --ela desembarca no país em setembro para abrir o Rock in Rio. Estuda a possibilidade de fazer shows também em SP, em Belo Horizonte e em Fortaleza.

EU TAMBÉM
O roqueiro americano Bruce Springsteen também pode fazer shows extras depois de participar do Rock in Rio.

SANGUE, SUOR...
Um dos líderes da Rede, novo partido de Marina Silva, o deputado Walter Feldman (PSDB-SP) calcula que o movimento precisará coletar ao menos 700 mil assinaturas para pleitear seu registro na Justiça Eleitoral com segurança. Ou seja, 200 mil a mais do que as 500 mil exigidas pela lei. "É uma margem segura, já que basta uma letra errada, uma divergência mínima com o registro do eleitor no cartório para que sua assinatura seja invalidada", diz ele.

...E LÁGRIMAS
A Rede montou um sistema de checagem das assinaturas que tem, em São Paulo, dez voluntários, diz Walter Feldman.

O último balanço mostra que até abril 263 mil pessoas apoiaram oficialmente a formação da nova legenda.

BALZAQUIANO
O sertanejo Daniel foi autorizado a captar R$ 3 milhões, via leis de incentivo, para levar a turnê "Daniel 30 Anos "" O Musical" a São Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Paraná e Goiás. Nos shows, ele será acompanhado por 16 atores/cantores, que encenarão sua trajetória artística.

PELADA FRANCESA
O ex-jogador Raí comandará uma partida de futebol para convidados durante o Festival de Cannes, que ocorre neste mês na França. A iniciativa é da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos e do Sindicato da Indústria Audiovisual do Estado de São Paulo, que fecharam uma praia na Croisette.

CHEGADAS E PARTIDAS
A apresentadora inglesa Kelly Osbourne, filha de Ozzy Osbourne, cancelou de última hora sua vinda a São Paulo, onde seria DJ, no sábado, na festa da Chilli Beans. Alegou problemas de saúde. Em seu lugar, foi escalada Jade Jagger, herdeira de Mick Jagger.

VIVA NIEMEYER
Desenhos inéditos de Oscar Niemeyer e uma réplica da escultura "Mão", assinada pelo arquiteto e instalada no Memorial da América Latina em São Paulo, integrarão a mostra "Arte & Política: Enfrentamentos, Combates e Resistências", no Rio. A exposição será inaugurada no dia 14 no Memorial Getúlio Vargas, também projetado por Niemeyer.

AS PESSOAS DA SALA DE JANTAR
Quando fez 18 anos, a chef Martha Bender vendeu o relógio Rolex que ganhou em seu baile de debutante para morar na Europa. Por lá, trabalhou em restaurantes na Itália e na Espanha. De volta ao Brasil, estagiou no Fasano.

Em 2005, abriu o bufê Banqueting e, desde então, assina o menu de algumas das festas mais chiques de SP.

HISTÓRIA REAL
A diretora Petra Costa recebeu convidados na pré-estreia do documentário "Elena" anteontem no Espaço Itaú de Cinema da rua Augusta. Lurian da Silva, filha de Lula, Paulo Okamotto, presidente do Instituto Lula, o apresentador da Record Rafael Cortez e o cineasta José Eduardo Belmonte compareceram à sessão.

CINEMA EM CASA
A TV Cultura lançou anteontem no Museu da Imagem e do Som o programa "Telefilmes Cultura 4". O secretário de Estado da Cultura de São Paulo, Marcelo Araújo, o produtor Caio Gullane, a apresentadora Marina Person e as atrizes Ana Elisa Mattos e Rita Batata estiveram no coquetel.

CURTO-CIRCUITO
A Galeria Contempo, na Vila Madalena, abre hoje para convidados a exposição "Degrau", do artista Antônio Bokel. Às 20h.

O bazar Colheita Especial vai de hoje a sábado, das 12h às 20h, na rua Maria Carolina, 282.

Pedro Lima lança seu primeiro clipe, "Up From The Skies", às 21h, no Jazz nos Fundos. O vídeo tem produção da BossaNovaFilms.

Chella Safra foi empossada como tesoureira do Congresso Judaico Mundial anteontem na Hungria.

Habemus curriculum? - JOÃO BATISTA ARAUJO E OLIVEIRA

O ESTADO DE S. PAULO - 08/05

Ainda não. Deu fumaça preta. Mas temos um ensaio: o Ministério da Educação (MEC) enviou ao Conselho Nacional de Educação (CNE) o embrião do que poderia vir a se tornar um programa de ensino.

Os países com bom desempenho em educação têm uma orientação sobre o que deve ser ensinado nas escolas. Varia o nível de especificidade e detalhe, mas é possível identificar características comuns. Prevalece uma ordenação consistente em termos do que se deve ensinar em cada etapa e série escolar, bem como a articulação entre as várias etapas e os níveis de ensino. As propostas mostram o que deve ser ensinado, não perdem tempo com justificativas, discussões teóricas, metodológicas ou pedagógicas.

Tais documentos refletem o estado da arte e as melhores práticas em educação e por isso são elaborados por pessoas que conhecem as disciplinas, sua estrutura e as implicações para o ensino. Os melhores têm foco, rigor e coerência -que são os três critérios essenciais para avaliar um documento dessa natureza. Em alguns países o processo envolve uma certa busca de consenso entre especialistas, o que por vezes gera compromissos, mas não afeta a integridade do trabalho.

Com base nesses documentos - os reais programas de ensino - é possível derivar programas de formação de professores, avaliações, produção de livros didáticos ou currículos ainda mais detalhados para redes de ensino ou escolas. O Brasil não dispõe de nada semelhante, nem está prestes ater. E tanto "programa" como "currículo" são palavras proscritas pelos ideólogos de plantão.

O que vigora no País são os Parâmetros Curriculares Nacionais, um documento que já nasceu superado em vários aspectos e não contribuiu para avançar em nenhum dos desdobramentos citados acima. Ao contrário.

Agora o CNE está diante de uma proposta de "direitos de aprendizagem", limitada aos três primeiros anos do ensino fundamental, batizada com o inadequado nome de "ciclo de alfabetização". A sociedade brasileira merece entender do que se trata, as razões por que deveria ser rejeitada essa proposta e os caminhos que o Brasil poderia seguir, se quiser avançar.


A proposta de um "ciclo de alfabetização" para as três séries iniciais do ensino fundamental é uma aberração. Se fôssemos considerar um ciclo de alfabetização, este deveria ser iniciado na educação infantil e ser concluído no final do primeiro ano do fundamental. Qualquer coisa diferente disso supõe um entendimento não ortodoxo do que seja alfabetizar. O que, aliás, acontece com as autoridades brasileiras, estranhamente apoiadas pelos Conselhos de Educação dos secretários estaduais e municipais. A hipocrisia é que os filhos e netos desses senhores estão matriculados em escolas privadas e se alfabetizam, no máximo, no primeiro ano do fundamental.


O documento do MEC define corretamente o que seja alfabetizar: ensinar o código alfabético. E considera, também corretamente, que alfabetizar não é a única tarefa da escola, tampouco suficiente para levar o aluno a compreender textos. Mas comete uma incorreção ao se valer do vago conceito de "letramento" para justificar a ideia do ciclo. O "letramento" é assim definido: "(...) termo que vem sendo utilizado para indicar a inserção dos indivíduos nesses diversos espaços sociais. Cada pessoa, ao ter que interagir em situações em que a escrita se faz presente, torna-se letrada. Não há indivíduos iletrados em uma sociedade em que a escrita está presente nas relações sociais, pois de forma autônoma ou mediada por outras pessoas todos participam dessas situações".


Duvido que alguém compreenda o que isso signifique. Consequentemente, fica prejudicada a ideia de formular um currículo (ou lista de direitos de aprendizagem) que se encerraria nesse período de três anos. Se o conceito se referir ao ensino da língua, a proposta deveria incluir pelo menos todo o ciclo do ensino fundamental - e possivelmente algo do ensino médio. Se for outra coisa, então precisamos saber do que se trata. Mas certamente não é algo que se conquista ao final do terceiro ano do fundamental. E certamente nada tem que ver com alfabetização.


Ao formular ideias sobre alfabetização e ensino da língua portuguesa durante esse ciclo da alfabetização, o documento apoia-se em teorias superadas e ideias que nunca deram certo - e que ignoram os avanços científicos tanto sobre alfabetização como sobre ensino de compreensão e sobre ensino da língua. Esse é um erro imperdoável cometido pelo MEC e pelos grupos das universidades que o ministério arrola entre os segmentos que consultou. A sociedade merece um mínimo de compromisso da Academia com o conhecimento científico.


Nos últimos anos houve um enorme avanço científico a respeito dessas questões. Nosso saber ainda é restrito, mas o que já conhecemos provocou, nos países que avançam na educação, importantes mudanças no ensino da alfabetização, da língua e na forma de ensinar, tudo o que favorece a compreensão e não se limita ao ensino da língua. Nem nos países de língua inglesa, cujo código alfabético é extremamente complexo, se adia para oito anos o "ciclo da alfabetização".


Mais uma vez, no afã de inovar, o Brasil entra na contramão, de marcha à ré e em alta velocidade. São bilhões de recursos torrados no ralo da inépcia e do açodamento. O que está por trás desse ato inconsequente é uma concepção ideológica de alfabetização e de ensino da língua. Há real ojeriza ao desafio de estabelecer programas de ensino comuns ao País e uma profunda repulsa a incorporar conhecimentos científicos e as melhores práticas para fazer a educação funcionar.


Diante disso, e da falta de debates, resta à sociedade brasileira colocar placas gigantescas na porta de entrada do Conselho Nacional de Educação: "Cuidado! Crianças!".

Data venia - VERA MAGALHÃES - PAINEL

FOLHA DE SP - 08/05

Decisão proferida em março por Joaquim Barbosa contradiz declaração recente do presidente do STF de que os embargos de declaração não podem alterar o julgamento do mensalão. Na ocasião, Barbosa negou a liberação dos bens de Duda Mendonça com a justificativa de que a absolvição do publicitário não era definitiva. Ele acatou argumento da Procuradoria-Geral da República de que poderia haver "modificação do julgado" nos embargos, tese da defesa que agora refuta.

Secessão Aécio Neves (PSDB-MG) criticou a aprovação de reforma do ICMS que opôs Estados do Sul e Sudeste ao resto do país. "É mais um assunto federativo que o governo deixa correr sem articulação. Esses temas deveriam ser tratados em conjunto'', diz o presidenciável.

Tchê Prefeitos, vice-prefeitos e deputados do PMDB serão recebidos hoje no Palácio do Jaburu por Temer para manifestar apoio a Dilma Rousseff em 2014. A presidente foi convidada para o ato, organizado por Eliseu Padilha, ex-ministro de FHC.

Let it be Em clima de reaproximação, Cid Gomes conversou três vezes anteontem com Eduardo Campos. O governador do Ceará convidou o pernambucano para assistir ao show de Paul McCartney em Fortaleza amanhã.

Mantra Ministros do PT gravaram para o programa do partido, a ser exibido amanhã. Foram instruídos a martelar a ideia de que é possível fazer mais'' em suas falas.

Zerado Eduardo Braga (PMDB-AM) e José Guimarães (PT-CE) cobraram de Eduardo Cunha (RJ) que o texto da medida provisória dos portos a ser votado hoje seja o mesmo da comissão especial. O líder do PMDB disse que o acordo não vale para o plenário.

Do contra Em conversa com Michel Temer, Ideli Salvatti (Relações Institucionais) disse que Cunha se tornou o porta-voz da oposição.

Sob pressão Embora o Bandeirantes evite criticar a nomeação de Guilherme Afif para o ministério de Dilma, é grande o desconforto no palácio. O vice-governador deve dizer antes da posse sobre se renunciará ao cargo.

Vai lá Caberá a Carlos Giannazi (PSOL) questionar o acúmulo de funções. Ele pede hoje ao Ministério Público que represente contra Afif. "O cargo de vice-governador não é decorativo", diz.

Puxadinho Recém-criada, a Secretaria da Micro e Pequena Empresa será sediada onde hoje funciona a Secretaria de Assuntos Estratégicos. A SAE, por sua vez, ficará no prédio do Ipea.

Suporte Geraldo Alckmin assina hoje decreto instituindo o Transparência Paulista, programa para auxiliar prefeituras a viabilizar a criação de portais com dados sobre execução orçamentária, nos moldes do site do governo.

Contra o relógio Por determinação legal, os municípios que não tiverem as informações disponíveis até 27 de maio ficam impedidos de receber verba de convênios. No Estado, 357 cidades já pediram ajuda para montar sites.

Low profile Em breve conversa com Dilma, o recém-eleito diretor-geral da OMC, Roberto Azevêdo, disse ser um "construtor de pontes". O governo foi comedido ao comemorar a vitória brasileira para facilitar acordo para nova rodada comercial.

Visita à Folha Oded Grajew, coordenador-geral da secretaria-executiva da Rede Nossa São Paulo, visitou ontem a Folha, onde foi recebido em almoço. Estava com Mauricio Broinizi Pereira, coordenador da secretaria-executiva, e Luanda Nera, assessora de comunicação.

com ANDRÉIA SADI e PAULO GAMA

tiroteio

"Não vivemos uma supremocracia'. A postura da corte em nada contribui para a tão necessária harmonia entre os Poderes."
DO DEPUTADO DANILO FORTES (PMDB-CE), sobre mandado de segurança que só deverá ser levado a plenário por Gilmar Mendes na semana que vem.

contraponto

Trocando as bolas
Em cerimônia no Ministério da Educação, o secretário Romeu Caputo (Educação Básica) confundiu a patente do general de divisão Fernando de Azevedo e Silva ao citá-lo entre os responsáveis pelo programa "Mais Atleta", que identifica alunos com alto rendimento esportivo.

O secretário pediu desculpas por chamá-lo de coronel, mas o ministro Aloizio Mercadante (Educação), que é filho de militar, não perdeu a oportunidade.

-- Se a reunião fosse no QG já tinha uma ordem de prisão, só por esse comentário inimigo! --brincou diante da plateia, que caiu na gargalhada.

O recado - ILIMAR FRANCO

O GLOBO - 08/05


O governo adotou discurso cor-de-rosa após a vitória do embaixador Roberto Azevêdo na OMC. Mas embaixadores brasileiros dizem que os emergentes impuseram uma derrota, que deve "marcar época", à União Europeia e aos EUA. E que teria sido "uma derrota estratégica" caso vencesse Hermínio Blanco, que negociou a adesão do México ao Nafta e é alinhado aos interesses americanos.
Os bastidores da vitória
O Brasil contava com a vitória na OMC desde a eliminação da candidata da Indonésia, Mari Pangestu. O Itamaraty calcula uma vantagem de 30 manifestações de apoio. Além dos Brics (Brasil, África do Sul, China, Rússia e Índia), são computados os apoios da maioria dos africanos, países árabes e da América Latina. A posição da União Europeia era esperada. Mas Portugal marcou pontos por ter sido aliado de primeira hora. Até mesmo a do Paraguai, por ter sido suspenso do Mercosul. Surpresa mesmo para a nossa diplomacia foi a Nicarágua "sandinista" se alinhar a um "Chicago Boys". A vitória fortaleceu o ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota.
"Esses europeus, hein?"
Dilma Rousseff
Presidente da República, ao ser informada da vitória do embaixador Roberto Azevêdo na OMC e reagindo ao fato de os países ricos da Europa terem imposto o fechamento de questão aos aliados do Brasil naquele continente
O alvo agora é a OEA
Embaixadores das Américas foram recebidos para coquetel, anteontem, pelos ministros Antonio Patriota (Itamaraty) e Maria do Rosário (Direitos Humanos). O Brasil quer eleger Paulo Vanucchi à Comissão de Direitos Humanos da OEA.
Arapuca
O ministro José Eduardo Cardozo (Justiça) é quem trata dos temas indígenas no governo. Mas a Comissão de Agricultura da Câmara convocou a ministra Gleisi Hoffmann (Casa Civil) para falar hoje sobre a criação de uma Nação Guarani. Parece estranho, mas não é. Gleisi (PT) é candidata ao governo do Paraná, e o comando da Comissão é aliado do governador Beto Richa (PSDB).
Guerra na Comissão de Orçamento
O líder do PMDB, Eduardo Cunha (RJ), quer o deputado Danilo Forte (PMDB-CE) na relatoria da LDO 2014. O do PR, Anthony Garotinho (RJ), quer a função para Aelton Freitas (MG). Por causa da queda de braço a Comissão está paralisada.
Reconstituir os fatos
Ao tomar posse da presidência da Comissão da Verdade do Rio, o advogado Wadih Damous anuncia hoje a criação do programa "Testemunhas da Verdade". A ideia é coletar testemunhos de vítimas da tortura. O primeiro depoimento será da professora Dulci Pandolfi, pesquisadora da Fundação Getúlio Vargas, dia 23. Na ditadura militar, ela foi presa e usada como cobaia para o treinamento de torturadores.
Jurisprudência
Ser vice-governador e ocupar um cargo executivo não é novidade para Afif Domingos (PSD), novo ministro das Micros e Pequenas Empresas. No governo Alckmin, ele acumulou a vice com a Secretaria de Desenvolvimento Econômico.
Um dia depois do outro
O novo ministro Afif Domingos foi um dos articuladores de protesto contra o governo Lula, em 2005, no Centro de São Paulo. No ato, contrário ao mensalão e à corrupção, Afif distribuiu narizes de palhaço para a população.
O ITAMARATY, enfim, abriu processo administrativo disciplinar, por assédio moral, contra o cônsul do Brasil em Sydney (Austrália), Américo Fontenelle.