sexta-feira, junho 14, 2013

Todo cuidado é pouco - ANCELMO GOIS

O GLOBO - 14/06

A visita de Dilma hoje ao Rio sofreu mudanças na agenda por causa destas manifestações contra o aumento dos ônibus.

Deus castiga
Até agora não pingou um centavo de dinheiro federal, estadual e municipal para ajudar a Jornada Mundial da Juventude.

O gato de Recarey
A Vara de Execuções Penais do Rio decretou a prisão de Chico Recarey por furto de energia elétrica.
Ele foi, no passado, importante empresário da noite carioca.

Obra de arte
Dilma, ao chegar, quarta, ao salão onde haveria a cerimônia do programa Minha Casa Melhor, viu uma pessoa sentada num canapé desenhado por Oscar Niemeyer.
Dirigiu-se diretamente a ela e disse: “Este não é lugar de sentar, isso é uma obra de arte”.

Aliás...
Aliás, a nova turma do Instituto Rio Branco, cuja formatura ocorre na segunda, escolheu como patrono Oscar Niemeyer.

Morar bem
O que se diz na Rádio Imobiliária é que o querido empresário Antônio Carlos Almeida Braga acaba de vender por uns R$ 40 milhões sua cobertura na Avenida Vieira Souto, em Ipanema, no Rio.O comprador foi o empreiteiro Ricardo Galvão, da Queiroz Galvão.

Carminha 2016
Do diretor-geral do Comitê Local Rio 2016, Sidney Levy, ontem num evento:

— Meu sonho é que a Olimpíada mobilize o Brasil assim como a Carminha, de “Avenida Brasil”.

Uns de volta
A Natasha Produções e Filmes, da empresária Paula Lavigne, trocará de nome. Vai se chamar Uns Produções, nome da empresa que ela e o ex-marido, Caetano Veloso, fundaram quando se conheceram há 28 anos.
Paula não chegou a um acordo com a ex-sócia, Conceição Lopes. As duas se separaram em 2005 e disputavam o nome na Justiça.

Francês nos trópicos
Dilma e o presidente da França, François Hollande, combinaram ontem pelo telefone que ele virá ao Brasil em dezembro para inaugurar uma ponte entre o Amapá e a Guiana Francesa.

Hollande viria em julho, mas Dilma estará em Montevidéu para a reunião do Mercosul.

Totós no ar
Parece que a Polícia Federal esqueceu que usaria seus cães farejadores na Copa das Confederações.
É que dispensou licitação e, alegando urgência, contratou a empresa Mídia Logística para fazer o transporte aéreo dos totós durante a competição. Vai pagar R$ 41.961,70.

Pega o Feliciano!
A festa junina da Fundição Progresso, na Lapa, amanhã, vai ter uma cadeia especial. A brincadeira vai ser prender... Marco Feliciano.

Um ator vai se fantasiar de Feliciano, e o público tentará levá-lo para a cadeia.

O dia de Ulisses
O Bloomsday, dia em que o mundo homenageia o livro “Ulisses”, de James Joyce, vai ser festejado no Rio, segunda, na Letra Freudiana, em Ipanema.

Bernardina da Silveira Pinheiro, especialista no romance, vai apresentar um texto sobre “O estilo versátil do mundo feminino em Joyce”, e os atores Xuxa Lopes, Cristina Mayrink e Roberto Lobo vão ler trechos da obra.

Rio azul
O Dia Mundial dos Smurfs, aqueles personagens azuis, será comemorado pela primeira vez no Pão de Açúcar.

O morro carioca vai ficar cheio de smurfs dia 25. Os primeiros dois mil visitantes não vão pagar ingresso.

No mais
De um parceiro da coluna sobre a crise na revista “Playboy”:

— A revista deixou de cumprir uma de suas finalidades: ser levada ao banheiro para que adolescentes... você sabe. Hoje, eles levam o celular, notebook etc.

GOSTOSA


Folhetim - FERNANDA TORRES

FOLHA DE SP - 14/06

Por que não retratamos o Congresso à maneira dos americanos, seja para enaltecê-lo ou dissecá-lo?


É voz corrente que o melhor da dramaturgia americana se encontra, hoje, na televisão. O custo estratosférico da sétima arte eliminou o risco do "grand écran". Com raras exceções, os filmes seguem uma receita previsível de explosões, risos, tiros e romance, capaz de atrair o gosto médio do espectador.

O legado de diretores autorais como Scorsese, Cassavetes, Coppola, Kubrick e Polanski, quem diria, vingou como produto não no cinema independente, mas nos seriados de TV.

O fim do celuloide destruiu a fronteira que separava o vídeo do cinema. Vingou o vídeo. O detalhe técnico influenciou o processo criativo. O cinema privilegiou o artifício dos efeitos especiais, enquanto a TV se livrou da inferioridade artística, abandonando a herança da radionovela, erguendo a quarta parede e tirando as câmeras da boca de cena.

Um piloto para televisão tem um custo muito menor que o de um longa. Apostam-se menos fichas na roleta e, em caso de acerto, os dividendos se perpetuam ao longo de infinitas temporadas.

A balança comercial favorável libertou a autoria. "Breaking Bad", "Família Soprano" e "House of Cards" são obras que, apesar de experimentais, virulentas e amorais, obtiveram êxito de audiência.

O longa "A Hora Mais Escura", de Kathryn Bigelow, baseia-se nos fatos reais que levaram à captura de Osama bin Laden, mas a paranoia novelesca de "Homeland" traduz melhor a realidade da América. Claire Danes, a agente bipolar, encarna o parafuso persecutório da segurança pública, enquanto o herói de guerra, após sofrer uma lavagem cerebral do jihad, descobre Deus em Alá. É um enfoque bem mais instigante do que o caça ao tesouro de Bigelow.

"House of Cards" se inspira em Shakespeare para traçar o perfil do Congresso americano. Kevin Spacey faz apartes para a câmera com a elegância de Ricardo 3º. A relação entre os políticos e a imprensa, as ONGs e as campanhas eleitorais, a ganância da distribuição de cargos, a manipulação da opinião pública, tudo é revelado com franqueza educativa.

Impossível assistir a "House of Cards" sem se perguntar o porquê de a política ser um tema tão bissexto na dramaturgia nacional. As pesquisas de opinião afirmam que o brasileiro rejeita o mote, mas será que a aversão não se deve, justamente, à falta de obras relevantes sobre o assunto?

Por que não retratamos o Congresso à maneira dos americanos, seja para enaltecê-lo ou dissecá-lo? As ditaduras recorrentes e a instabilidade democrática não ajudaram, mas o que nos impede agora?

O Estado tutela a produção cultural do Brasil. As TVs são concessões públicas dependentes da boa relação com o Planalto. Seja lá o partido que ocupe o trono, é preciso desenvolver um bom diálogo para ver seu direito de transmissão assegurado. E o cinema, assim como o teatro, se sustenta graças à renúncia fiscal.

José Padilha promete, no último plano de "Tropa de Elite 2", chegar a Brasília na sequência da série. O êxito da franquia brinda com esse tipo de liberdade. Mas o tema mereceria o horário nobre da TV, com longos meses para desenvolver a saga de cada facção, cada secretária, cada adjunto de ministro e cada ministro.

Os americanos atingiram um grau de maturidade cívica que lhes permite falar do exercício do poder sem se comprometer com esse ou aquele partido. Aqui, parece impossível tocar no assunto sem ofender as partes. Ainda preservamos a herança pessoal, coronelista.

"House of Cards" é uma aula prática sobre o poder ministrada por um democrata. A série consegue o feito de revirar o bom partido do avesso, sem privilegiar os republicanos. Não há ingenuidade ideológica, divisão entre esquerda e direita, bem e mal. A política segue a sua própria agenda moral, mais próxima de Maquiavel do que de Marx ou Adam Smith.

No dia em que a política brasileira virar matéria de ficção, a democracia terá dado um passo importante por aqui.

Caso aconteça o milagre, o PMDB será o partido mais indicado para protagonizar um folhetim dessa natureza. O PMDB exerce a arte da política por excelência, ocupando todos os cargos estratégicos e participando de todas as decisões importantes, independentemente do rei.

O PMDB é o genérico, o fundamento, o caráter puro da política brasileira. Daria um novelão.

Fora do ar - NELSON MOTTA

O GLOBO - 14/06

Depois de cinco anos de atividade, a audiência média da TV Brasil em São Paulo correspondea 600 domicílios. Está praticamente fora do ar e uma montanha de dinheiro foi pelos ares


Sonho de Zé Dirceu e criação de Franklin Martins, abençoada e bancada por Lula (“Vai ser uma BBC”, bravateou), depois de cinco anos de atividade não se pode comentar a qualidade da programação da TV Brasil, porque ninguém a vê. Em abril a audiência média semanal em São Paulo foi de 0,1%, que corresponde a cerca de 600 domicilios. A sua maior audiência na primeira semana foi… o horário eleitoral gratuito: 3 mil residências.

Em um catastrófico exemplo de falta de planejamento, montaram estúdios, contrataram muita gente, compraram programas no Brasil e no exterior, produziram telejornais e programas de entrevistas, mas esqueceram o principal, o básico, o fundamental: som e imagem. A da TV Brasil é tão ruim, tão borrada e indefinida, que ninguém a veria mesmo com a melhor programação do mundo.

Nesse sentido, a TV Brasil se parece com o Brasil dos planos grandiosos. De que adianta investir na agricultura e na indústria sem estradas, ferrovias e hidrovias para o escoamento da produção? Para que serve produzir um bom programa de televisão se ele vai ser visto como um borrão sonoro? Na era digital, com a oferta massiva de canais, uma boa imagem é o minimo para ir ao jogo. E a da TV Brasil é péssima.

Nossos produtos podem ser bons, mas a infraestrutura é ruim, a legislação, a burocracia e as práticas são borradas e indefinidas. Temos estádios novos e moderníssimos, mas sem acessos, como o Engenhão. Arenas maravilhosas vão melhorar o futebol jogado aqui? Ou só vai ficar mais caro, e seguiremos muito atrás das ligas europeias ? E como o futebol vai melhorar se a CBF, as federações e os clubes continuam movidos a politicagem e negócios duvidosos?

Os idealistas, sim, eles existem, imaginavam uma TV pública com uma boa programação cultural, para informar e divertir, com um jornalismo ético e imparcial, como uma opção às emissoras privadas, sem baixar o nivel, como a BBC. Outros a ambicionavam como uma rede de televisão a serviço do partido no poder. Cinco anos depois, nem uma coisa nem outra: a TV Brasil está praticamente fora do ar e uma montanha de dinheiro foi pelos ares.

Poderosas cidades-Fifa - TOSTÃO

FOLHA DE SP - 14/06

Mano Menezes, no programa Bola da Vez, da ESPN Brasil, mostrou, mais uma vez, que é o treinador brasileiro que melhor fala de detalhes técnicos e táticos e que possui mais argumentos para defender suas ideias. Muitos o acham professoral e chato. Melhor assim do que escutar a maioria dos técnicos, que não diz nada e/ou não tem nada para dizer.

Mano disse que Fred é o melhor centroavante do Brasil, com o que concordo, mas queria um ataque com mais mobilidade, com Neymar mais perto do gol, pois é um excepcional artilheiro. Com um centroavante fixo, Neymar teria de ser um meia de ligação pelo centro, o que ele não é, ou atuar pela esquerda, longe do gol e com a obrigação de marcar o lateral.

O ideal é ter um atacante que seja artilheiro, que se movimente muito e abra espaços para os meias penetrarem, que atue também de pivô e que possua velocidade para receber a bola nas costas dos zagueiros. Há vários atacantes no mundo com essas características. Em vez de pedir mais bolas para Fred finalizar, deveríamos pedir mais participação no jogo coletivo, o que o tornaria ainda melhor.

Mano criticou as partidas na América do Sul, excessivamente corridas, brigadas e com vários jogadores que correm demais com a bola.

A principal razão da queda do Fluminense na Libertadores foi que o time brigou muito e jogou pouco. Bastou o Flu virar contra o Goiás para torcida e imprensa exaltarem o time guerreiro.

Como a seleção tem oito titulares que atuam fora (Neymar será o nono), fica muito mais fácil jogar de uma maneira diferente da dos times brasileiros. Era o caminho com Mano. Felipão, em alguns aspectos, faz o mesmo.

Não dá mais para jogar com marcação individual, enormes espaços entre os setores, sem pressionar quem está com a bola, com excesso de chutões e de cruzamentos para a área e com um volante plantado à frente ou entre os zagueiros, para sobrar um defensor. Não faz sentido, já que os adversários têm apenas um atacante fixo.

As poderosas cidades-Fifa já tomam conta das áreas de dois quilômetros quadrados de raio em volta dos estádios. Paralisaram até a UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais). Mais que isso, mesmo sendo só um ensaio para o Mundial, as cidades-Fifa prejudicam milhares de pessoas que querem estudar e trabalhar. Imagine na Copa.

É impressionante que, a um ano da Copa, já aconteçam milhares de eventos, festas, com tantas pessoas querendo faturar ou arrumar uma boquinha com o poder.

Ueba! Dilma acorda "romântega"! - JOSÉ SIMÃO

FOLHA DE SP - 14/06

E adorei o Andrea Matarazzo -: "Esses manifestantes são quase assassinos". Quase assassino não existe!


Buemba! Buemba! Macaco Simão urgente! O esculhambador-geral da República! Oba! Hoje vou pra Paulista protestar contra os protestos!

E o chargista Zé da Silva disse que "se rolar manifestação contra o Hulk como titular da seleção, me chama". Me chama também. O Hulk parece touro de rodeio!

E como foi o Dia dos Namorados da Dilma? Um leitor me disse que ela acordou romântega! A Dilma não é romântica, é romântega! "Hoje eu acordei roMââânteeega, aqui, agora!" Rarará!

E no Dia dos Namorados, o roqueiro Serguei postou no Twitter: "estou tendo um relacionamento sério com a mão direita". Passou o dia com a Maricota, na esquerda e na canhota. Rarará!

E tô adorando a família da novela das nove: a filha não é filha da mãe e o neto é filho do avô. Pra detonar essa balela de família Doriana. "Amor à Vida" detona a família Doriana!

E depois da Fátima, do Huck e do "BBB", eu também quero ser dirigido pelo Boninho! Tá na moda ser dirigido pelo Boninho!

O Boninho devia organizar os protestos na Paulista. Organizar melhor o que queimar e o que não queimar! O Boninho devia dirigir o Palmeiras! Rarará!

E o Eike vai acabar entrando pro Bolsa Família. Bolsa Famíliax. E adorei o Andrea Matarazzo: "Esses manifestantes são quase assassinos". Quase assassino não existe! Ou matou ou não matou!

E a diferença entre a terminologia petista e a terminologia tucana pra dizer a mesma coisa. Haddad: "Essa manifestação violenta fere o Estado Democrático de Direito". Alckmin: "Baderneiros!". Rarará!

Aliás, tem um baderneiro fretando um busão por R$ 3,19 pra quebrar tudo em Brasília! Rarará!

E o Alckmin, o Haddad e o Temer estão em Paris promovendo São Paulo para ser sede da Expo 2020! Mas com esses nomes? Alckmin, Haddad e Temer? O povo vai pensar que eles estão promovendo o Líbano! Rarará!

É mole? É mole, mas sobe!

Os Predestinados! Acabei de receber o livro "Vamos Aprender Juntos Matemática", por Roberta Taboada! Aliás, tabuada não precisa aprender mais porque já tem um aplicativo no celular!

E operador do mercado agrícola da Socopa Corretora: Silvio Alface Neto! Rarará!

Nóis sofre, mas nóis goza!

Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

Tome tenência, dona elite! - BARBARA GANCIA

FOLHA DE SP - 14/06

Bem, já é um alento que não estejamos no meio de mais um confronto entre a polícia e facções criminosas. Ou não?


De tempos em tempos sou tomada por um espasmo de consciência que me faz querer botar ordem no balaio.

Um desses momentos ocorreu na última quarta enquanto comentava na BandNews FM as manifestações contra as tarifas de ônibus da avenida Paulista.

"Preso político no país, por acaso há?", perguntei, tal e qual um Yoda de saias. "Estamos vivendo em um regime de exceção?" Não, né? "Será que tem cabimento destruir propriedade privada?" e outras considerações assaz palpáveis, não sem antes descer a lenha nos subsídios para empresas de transporte, nossas amigas queridas, que sempre trabalham para manter margens baixíssimas e dar de si o máximo em matéria de qualidade.

Já esperava um retorno de ouvintes aplaudindo minha compostura ("Puxa, por uma vez essa dona não vai fazer um comentário atravessado!") Ou, no máximo, que alguém destoasse do meu discurso dizendo que mesmo R$ 0,20 de aumento acabam pesando no bolso do trabalhador. Até aí, tudo bem.

Somos bovídeos não afeitos à baderna, bater panela é coisa de argentino, imolar-se em praça pública e servir de estopim para revolução não é conosco.

Meu dever, naquele momento, era tentar aliviar o drama do ouvinte que tentava chegar em casa vindo de um congestionamento master para tentar usufruir do Dia dos Namorados sem maiores traumas. Nessa hora, não seria boa ideia incentivar o potencial de Nero do paulistano.

Sentadinha diante do microfone, ao lado da minha colega de infortúnio, a apresentadora do "Alta Frequência", Neli Pereira (infortúnio dela, evidentemente, porque o que essa mulher deve ter aprontado em outra encarnação para hoje ter de passar três horas corridas trancada em uma cabine de rádio comigo, só o lodo mais profundo do inferno deve conhecer), eu continuava: "Na maior parte das vezes o transporte não é pago pelo empregador? E em que lugar do mundo, na Alemanha Oriental de Erich Honecker, na Israel sonhada por Ben Gurion ou mesmo em país escandinavo alguém já viu ônibus de graça?"

No meio de uma dessas minhas jactâncias soporíferas, comecei a notar mensagens de descontentamento pipocando na tela do monitor que exibe os e-mails dos ouvintes. Guardei alguns trechos: "Não concordo com a senhora. São Paulo é um inferno social de injustiça e é isso que está causando a onda de destruição"; "O governo não escuta a população, não há diálogo"; "Desculpe-me, dona jornalista, mas não existe democracia"; "Quantos protestos pacíficos foram feitos que não serviram para nada?".

Sei não. Há pesquisadores sociais que concluem que os manifestantes sentem prazer, que encaram a atividade até como entretenimento. Outros dizem que a onda de consumo que está se esgotando gera uma rebordosa cuja angústia acaba dando nisso.

E tem outra corrente ainda que diz que há uma consciência, nascida de redes sociais e que ela é apartidária e que surgiu por conta dos grupos estudantis terem sido contaminados por politicagem.

Hmmm. Seria lindo pensar que não somos mais cordeiros, que começamos a sair na rua para dizer "Basta!" e que se foi o tempo em que o sistema financeiro e o poder podiam deitar e rolar.

Problema é que nosso "Occupy a Paulista" tem tudo para ser dominado por grupos que estão de olho na eleição. Mesmo assim, já é um passo avante que não estejamos no meio de mais um confronto entre a polícia e facções criminosas, certo biscoito?

Os estudantes entre o molotov e a utopia - MARIA CRISTINA FERNANDES

Valor Econômico - 14/06

As cenas de uma manifestação juvenil com ônibus queimados, catracas quebradas e engarrafamentos são assistidas, do sofá de casa, por uma franca maioria de brasileiros que hoje é favorável à redução da maioridade penal. Só pode dar em encrenca.

É provável que os 92,6% de brasileiros favoráveis a jovens deliquentes na cadeia (pesquisa CNT/mda) refiram-se a crimes a mão armada, mas a demanda por endurecimento penal reflete uma sociedade menos afeita a contestações da ordem.

Os manifestantes saíram à rua em várias capitais. Como em algumas conseguiram reverter o aumento de tarifa, acham que podem ter sucesso nas demais. O policial que, apedrejado, não disparou contra os manifestantes, parecia sugerir que a audiência não seria atraída por jovens idealistas. Nas transmissões ao vivo ontem já parecia haver dúvidas sobre quem detinha o monopólio da violência.

Parece exagerada a comparação do movimento do passe livre com os acampamentos Wall Street ou com as rebeliões da praça Tahir. A conjuntura nacional é turbulenta mas não se pode dizer que o Brasil viva uma crise econômica ou política.

Também não há paralelo com a mais recente manifestação juvenil da vizinhança, no Chile, onde as universidades, maciçamente privadas, endividaram famílias por várias gerações sem emprego capaz de quitar o crédito escolar. As diferenças não autorizam a conclusão de que são vândalos os de cá e ativistas os de lá.

Assemelham-se todos pela dispensa da mediação de imprensa, sindicatos ou organizações estudantis. É pelas redes sociais que forjam identidade. Se o passe livre tem sido bem sucedido é porque gera, entre seus participantes, a sensação de que pertencem a algum lugar.

E que lugar é esse?

Dos jovens brasileiros entre 18 e 30 anos, 23 milhões (55%) pertencem à classe C, com renda mensal entre R$ 219 e R$ 1.019.

De cada R$ 100 que recebem, destinam R$ 70 para ajudar nas despesas de casa.

As pesquisas os situam como uma geração que tem o dobro da escolaridade dos pais, acessam notícias pela internet, são formadores de opinião na família e adotam posturas menos conservadoras em temas morais que seus pais.

Duas pesquisas, uma com amostra geral (CNT/mda) e outra com jovens da classe C (Datapopular), mostram o confronto. Enquanto entre os brasileiros, em geral, o casamento gay é aprovado por 37%, entre jovens emergentes chega a 49%.

Entre 2002 e 2010 os universitários da classe C saltaram de 6 milhões para 9 milhões. Serão 11 milhões em 2014. São o público alvo do 1,6 milhão de bolsas que o Prouni já distribui desde 2005.

Nas universidades federais, os jovens oriundos de famílias com renda até cinco salários mínimos, ocupam 67% das vagas.

Não parece haver dúvidas de que é uma geração que usufrui de mais oportunidades que seus pais, mas há crescentes dificuldades no cotidiano para usufruí-las. De tão lotado, o metrô de São Paulo, por exemplo, transporta, por quilômetro quadrado, quatro vezes mais passageiros que o de Nova York.

Os jovens têm celulares e laptop. Empregados, alcançam um plano de saúde, mas frequentemente o atendimento concorre em precariedade com o dos hospitais públicos.

Mais da metade dos universitários do país usa transporte público. Pouco mais de 18% vão de bicicleta, a pé ou de carona e 21% usam carro.

Estão entre os cerca de 25% dos passageiros de transporte público em todo o país que usufruem de descontos. Pedem tarifa zero e, pelos depoimentos que se colhem nas suas manifestações, esperavam, de uma administração petista, melhor acolhimento de suas reivindicações.

Pegaram no contrapé o prefeito Fernando Haddad (PT), que fez da melhoria do transporte público o carro chefe de sua campanha eleitoral.

Haddad segurou por seis meses o reajuste da tarifa que já estava congelada por dois anos quando assumiu. Atendeu ao apelo antiinflacionário da presidente da República e a seus próprios temores em estrear na cadeira sob protestos populares.

Anunciou 150 novos corredores de ônibus e montou uma engenharia financeira para viabilizar o bilhete único mensal mas falhou em descasar seu lançamento do reajuste de tarifa.

Argumenta que reajustou abaixo da inflação, mas a moçada do passe livre quer justar contas com o passado. Retroage ao lançamento do Real para sustentar que a tarifa subiu mais que os demais preços da economia nesses quase 20 anos.

As manifestações antecipam os embates que a partir de agora serão cada vez mais frequentes entre o Palácio do Planalto e a federação. Com a pressão sobre a política fiscal como instrumento antiinflacionário, pouca margem de manobra tende a ser aberta para governadores e prefeitos.

Em meio à avalanche de desonerações destinadas a alavancar a economia, Haddad pediu para que a Cide sobre a gasolina, hoje zerada, voltasse a ser cobrada com o objetivo de constituir um fundo de financiamento ao transporte público. Brasília fez ouvido de mercador à proposta.

Numa de suas melhores peças de campanha durante o horário eleitoral gratuito, Haddad dizia que o governo Lula havia melhorado a vida das pessoas da porta de casa para dentro. E que ele se dispunha a trabalhar por melhorias da porta para fora.

O que se assistiu ontem no Teatro Municipal e em outros cantos do país foi uma cobrança contundente dessa promessa. Pelo que anuncia a conjuntura econômica, é só o começo. Cooptados, os movimentos sociais tradicionais perderam a capacidade de organizar a reação para preservar os ganhos e mobilizar novos avanços.

Os manifestantes de ontem agem noutra frequência. Além da violência, as críticas mais frequentes ao movimento que se colhem nas redes sociais é que ali não está representada a base da pirâmide social, a dos brasileiros que vão comer menos para continuarem a se deslocar. Para muitos jovens que seguem até o final dos cursos universitários sustentados pelos pais, o protesto pode ter virado um programa de fim de tarde. Mas se há algo a louvar nesses eventos marcados por excessos de todos os lados é que as manifestações parecem resgatar o coletivo para que a moçada pode ter interesses que vão além do seu umbigo.

ADEUS, NATASHA - MÔNICA BERGAMO

FOLHA DE SP - 14/06

Paula Lavigne, ex-mulher de Caetano Veloso, perdeu o direito de usar o nome Natasha, que batiza a empresa que cuida de seus negócios e da carreira do cantor. Sua ex-sócia, Conceição Lopes, cobra na Justiça R$ 2,7 milhões alegando que a empresária descumpriu ordem judicial de se abster de usar a marca.

EXECUÇÃO
Conceição alega que fundou a Natasha há 21 anos com o nome da filha. Depois, virou sócia de Lavigne. Quando se separaram, a empresária de Caetano quis manter a marca. E começou a disputa judicial, que terminou há um mês, no Superior Tribunal de Justiça.

CALCULADORA
O advogado de Conceição, Hélio Barros, entrou anteontem com petição na 3ª Vara Empresarial do Rio dizendo que Lavigne descumpre a decisão da Justiça há 553 dias, desde dezembro de 2011, data da sentença de primeiro grau. Como a multa era de R$ 5.000 diários, cobra os R$ 2,7 milhões. Até ontem, Lavigne usava o selo no Facebook e no site de Caetano.

ESCAPOU
A advogada de Lavigne, Simone Kamenetz, diz que o valor "é um absurdo". "Você começa a paralisar a marca quando [o processo] tramita em julgado. Elas negociam os passivos. Não foi desobediência. Se escapou em um Facebook... A Paula não tem mais interesse nessa marca."

LUPA
Relatório elaborado a partir de uma pesquisa feita com entidades de defesa dos direitos humanos, como o Instituto Vladimir Herzog e a Anistia Internacional, faz críticas à CNV (Comissão Nacional da Verdade). Entre elas, obstáculos à participação de movimentos sociais nos trabalhos e pouca transparência nas investigações. O documento será divulgado hoje pelo Iser (Instituto de Estudos da Religião), no Rio.

LUPA 2
Outra reclamação é a de que o balanço de atividades já publicado pelo colegiado tem "informações precárias". Entre os pontos positivos, estão "o esforço da comissão em analisar o material disponível e coletar depoimentos" e resultados práticos como a correção do atestado de óbito do jornalista Vladimir Herzog.

ALICERCE
Rosa Cardoso, coordenadora da CNV, diz que o primeiro ano foi de "construção e organização" do grupo. Segundo ela, o colegiado pôs textos sobre os trabalhos no site e atende a pedidos de informações. Ela afirma que pedirá aos membros rapidez na publicação das conclusões e que irá propor debates com as comissões criadas no país.

MÃO PESADA
Nove pessoas com 60 anos ou mais são internadas por semana em hospitais públicos no Estado de São Paulo por agressões físicas, aponta levantamento da secretaria estadual de Saúde. Em 2012, 126 idosos foram atendidos por esse motivo.

MÃO PESADA 2
O Centro de Referência do Idoso da zona norte, vinculado à Secretaria da Saúde, deverá criar neste ano um núcleo de atendimento de violência a pessoas dessa faixa etária. No local, os pacientes receberão apoios médico e psicológico.

FAXINA NA IMAGEM
Ricardo Frota, ex-diretor de marketing dos canais Fox e com passagens por Record e Globo, foi convidado a ser consultor de imagem e comunicação da RedeTV!. Em reunião no canal, pediu garantias de que se evitem polêmicas e que os salários dos funcionários sejam pagos em dia. Ainda não aceitou a proposta.

FAXINA NA IMAGEM 2
E a RedeTV! não desistiu de ter Vildomar Batista como novo superintendente artístico, no lugar de Mônica Pimentel. A dificuldade é o contrato do diretor na Record, ainda em vigor.

NOITE CARIOCA
O Theatro Municipal do Rio recebeu anteontem a 24ª edição do Prêmio da Música Brasileira. As atrizes Fernanda Montenegro e Elke Maravilha e os cantores Alcione, Cauby Peixoto, Zélia Duncan, Adriana Calcanhotto, Maria Gadú, Tulipa Ruiz, Céu e Nelson Sargento participaram da festa, idealizada por José Maurício Machline.

CURTO-CIRCUITO
O 6º Festival da Mantiqueira reúne escritores de hoje a domingo em São Francisco Xavier.

O professor José Joaquim do Amaral Ferreira toma posse hoje como governador do distrito 4420 do Rotary Internacional.

O cantor Thiaguinho e o pai, João Barbosa, gravam hoje o comercial da Tele Sena de Dia dos Pais.

Dom Odilo Scherer celebra missa na Igreja de São Vito, no Brás, às 19h de amanhã, dia do santo.

A Fundação Conrado Wessel entrega o Prêmio FCW de Arte, Ciência, Cultura e Medicina, na segunda, na Sala São Paulo.

Caindo em desgraça - MONICA B. DE BOLLE

O ESTADO DE S. PAULO - 14/06

Como dilapidar uma herança. Assim se inicia o editorial da última edição do semanário britânico The Economist. Narra a triste história de um país latino-americano que, há vinte anos, fez uma dolorosa arrumação da casa. Um profundo ajuste macroeconômico possibilitou que, alguns anos mais tarde, usufruísse da extraordinária bonança externa, finda em 2011. A herança dilapidada assim, sem mais nem menos, lembra a história de Gosta, "cidadão digno", "um dos mais estimados de Itaguaí", que herdara de D. João V vultosa quantia. Uma renda que bastaria para viver "até o fim do mundo". Gosta não soube administrar sua sorte. Gastou toda a herança em investimentos duvidosos e acabou internado na Casa Verde pelo Alienista de Machado de Assis.

Não se sabe se a herança que o Brasil recebeu de Fernando Henrique Cardoso, cultivada pelo ex-presidente Lula no seu primeiro mandato, daria para viver "até o fim do mundo". Mas, decerto, se tivesse sido preservada com mais diligência pelo Lula do segundo mandato e, sobretudo, por sua sucessora, o País não estaria hoje "atolado no lamaçal", como disse a matéria da revista britânica. Tampouco se defrontaria com uma reavaliação negativa da agência de risco Standard & Poor"s, que elevou o Brasil ao nirvana do grau de investimento cm 2008, rebaixou os E UA em 2011 e acaba de dar um tom otimista à recuperação do país de Obama.

Enquanto chafurda no lodo de medidas que desarticularam as contas públicas brasileiras, motivo para que até os interlocutores mais próximos da presidente a critiquem duramente, o real se enfraquece. Há muito não se discutia o impacto de desvalorizações do câmbio, provenientes de problemas externos e internos, sobre a inflação. Afinal, faz pouco tempo, a moeda brasileira ganhava força e era, inclusive, vista como uma possível candidata, num futuro distante, ao nobre posto de moeda de reserva internacional, ao lado do iua-ne dos chineses. Não mais.

O câmbio e a inflação sempre foram os eternos sintomas de nossos desequilíbrios. Deixaram de sê-lo por um breve período - de 2008 a meados de 2011. Durante esse tempo, vivemos uma situação inédita no País: fomos capazes de reduzir os juros em resposta a um cenário externo adverso. No passado não era assim. Antes de 2008, sempre que enfrentávamos um forte contra-vento internacional, éramos forçados a elevar os juros para impedir que a desvalorização da moeda ocasionada pela saída de recursos do País prejudicasse demais a estabilidade de preços.

Dito de outro modo, país sólido é aquele que pode usar apolítica monetária - e, em certas circunstâncias, também a política fiscal - para evitar que um choque externo tenha fortes repercussões sobre a atividade, sem se preocupar com os estragos inflacionários do câmbio. Ou seja, país sólido é aquele que pode reduzir os juros quando enfrenta esse tipo de problema. Não é à toa que o Brasil é incansavelmente comparado ao México e ao Chile. Tanto um quanto outro têm sofrido com o fortalecimento global do dólar. Mas o México reduziu os juros em abril e manteve a taxa em maio, enquanto o Chile tem deixado os juros estáveis, porém acumula um espaço considerável para diminuí-los. A inflação por lá é de apenas 1% - dois pontos porcentuais abaixo da meta de inflação.

Se país sólido é aquele que pode reduzir os juros quando sua moeda se enfraquece, porque tem um quadro fiscal que ajuda a ancorar os efeitos inflacionários da desvalorização, o que é o Brasil de Dilma e de Guido Mantega. De certo não é o país do déficit nominal nulo, que a presidente julga ser "rudimentar". É o país da infraestrutura que não sai do papel, das contas externas que se deterioram, do fiscal em estado de degradação, do crescimento que não deslancha. E, também, da inflação que não cede, do real que se desvaloriza, mesmo com a remoção dos controles de capital, e da bolsa que cai.

Talvez tudo isso force nossas autoridades a mudar de rumo. Talvez não. Afinal, diz o ditado: "Desgraça pouca é bobagem".

FLÁVIA OLIVEIRA - NEGÓCIOS & CIA

O GLOBO - 14/06

RIO PLANEJA FÁBRICA DE CARROS ELÉTRICOS
Projeto da Renault-Nissan será em parceria com governo do estado, prefeitura, BR, Light e Ampla
Uma aliança entre Renault-Nissan, governo do estado, Rio Negócios (da prefeitura), Petrobras Distribuidora (BR), Light e Ampla promete implantar na capital fluminense a primeira fábrica de carros elétricos do Rio. Terça que vem, os parceiros assinam com o governador Sérgio Cabral o memorando de entendimentos que vai viabilizar o projeto. Carlos Ghosn, CEO do grupo Renault-Nissan, vem ao Brasil para firmar o acordo. O investimento da montadora é estimado entre R$ 400 milhões e R$ 500 milhões, informa Julio Bueno, secretário estadual de Desenvolvimento Econômico. Nos últimos três meses, um grupo de trabalho com técnicos das empresas, do estado e da prefeitura se reuniu quatro vezes para pôr de pé o projeto. A próxima tarefa é achar na cidade do Rio, provavelmente na Zona Oeste, o terreno para abrigar a unidade. A intenção do grupo é multiplicar a frota de carros elétricos no estado. Mas o plano depende de incentivos e regulamentação do governo federal, que será chamado a participar. "Há um grande esforço também para criar condições de abastecimento dos automóveis. Daí a participação das distribuidoras de energia e da BR", diz Bueno.

R$ 2,6 BILHÕES
É o investimento da Nissan na fábrica em Resende (RJ), anunciada no ano passado. A montadora planeja, de início, produzir 200 mil veículos por ano. Serão gerados dois mil empregos diretos.

Imagina 1
A Fifa aperta o cerco às ações de marketing inspiradas na Copa das Confederações e na Copa 2014. Anteontem, um dos escritórios de advocacia que representam a federação notificou extrajudicialmente o restaurante Zacks, por uso indevido de marca no festival Burgers das Confederações.

Imagina 2
A ação, com sanduíches em homenagem aos países que participam da competição, foi cancelada no mesmo dia. Os produtos, que seriam vendidos de 12 a 30 de junho, já saíram do cardápio.

Imagina 3
É extensa a lista de palavras, expressões e imagens registradas pela Fifa no INPI. Copa das Confederações, Copa do Mundo, Brasil 2014 e Mundial 2014 estão entre os nomes exclusivos.

O Zacks foi notificado por marketing de emboscada por associação. A promoção fazia referência ao evento, o que é proibido pela Lei 12.663/2012, a Lei da Copa.

Inflação
O aumento das passagens de ônibus no Rio só vai bater no IPCA de junho, que sai mês que vem. Mas já ganhou da inflação. Desde o início de 2011, a tarifa básica subiu 22,9%, de R$ 2,40 para os atuais R$ 2,95. Pelos dados do IBGE, de janeiro de 2011 a maio deste ano (último resultado disponível), o IPCA-Brasil subiu 15,97%;e o IPCA-Rio, 17,24%.

Salário
A desoneração da folha de pagamentos no setor de hotelaria salvou o emprego de cinco mil trabalhadores, em pouco mais de um ano. "Foi o que 45 resorts do país não dispensaram dispensar na baixa estação. A renda do trabalhador cresceu, em média, 2,5%", diz Alexandre Sampaio, da Federação de Hospedagem.

Tarifa
Já o valor das diárias, segundo pesquisas do governo, não caiu. Sampaio diz que as tarifas têm a ver com fatores que encarecem os serviços, como a falta de sistema para compensar a sazonalidade. O assunto será debatido hoje em reunião com o MTur.

CHEIROSO
A Nivea estreia, quarta-feira, campanha da linha de desodorantes masculina em TV. Será estrelada, pela primeira vez, por Bruno Rezende,o Bruninho, levantadorda seleção brasileira de vôlei. O comercial, para o produto Dry Impact, é criação da Giovanni+ Draftfcb, efoi dirigido por Sebastian Borensztein, da Zeppelin Filmes.

É O FRIO
AJWT repaginou o Frio, ícone da publicidade nacional, na campanha do Festival de Inverno Pernambucanas.
O personagem nasceu em 1962. Cinco anos depois, HeitorCarillo compôs o inesquecível jingle “Quem bate? É o frio!”. O comercial fica no arde hoje até dia 25.

ELAS DECIDEM
As mulheres inspiraram a campanha que a seguradora Ca pem isa estreia hoje, na TV. A Element MKT usou o humor para lembrar situações cotidianas em que a decisão feminina prevalece. Os atores Rodrigo Candelot e Inês Viegas estrelam.

PALPITE
A Geneal estreia ação no Facebook amanhã. Vai receber palpites para os jogos do Brasil na Copa das Confederações; e premiar torcedores com uma ecobag e 20 cachorros-quentes. É criação da 55 Brasil. A rede espera vender 10% mais.

EXPANSAO
A Granfino, de alimentos, investe R$ 4 milhões para dobrar a área de logística, que passará a ocupar oito mil metros quadrados. Até 2018, a marca lançará cerca de dez produtos por ano. Em julho, chega a pipoca de micro-ondas, em cinco sabores. O grupo prevê faturar 10% a mais este ano.

POR FAVOR
A Chiclets transformou em produtos os “emotiguns”, carinhas que ilustram as embalagens da marca. Foi pedido dos clientes. A ação começa com seis modelos de fones de ouvido. A venda, via Facebook, mistura dinheiro e tarefas nas redes sociais. Cada fone custa R$ 351, mas o preço pode cair 90%, se o internauta cumprir 55 favores, como postar fotos.

Canadá
A gaúcha Basso embarcou para o Canadá 2.400 garrafas do vinho Monte Paschoal Frisante. Venceu licitação da LCBO, que cuida da venda de álcool em Ontário. Em cinco anos, 5% das receitas da vinícola virão de fora.

EUA
A Abicab, de chocolates e doces, registrou US$1,4 milhão em contratos após missão nos EUA, em parceria com Apex-Brasil. Cinco fabricantes participaram.

Livre Mercado
O Dia dos Namorados rendeu alta de 15% no movimento dos hotéis Panda (Botafogo) e Corinto (Vila Isabel) sobre 2012. A ocupação foi a maiorem cinco anos.

OApreciatti, restaurante e del li, espera elevarem 30% as receitas com a abertura no BarraShopping.

Sylvia Wachsner (SNA) fala sobre agronegócio e sustentabil idade, hoje, na ExpoSustentat, no Rio.

A Cetip criou aplicativo para iOS e Android. Tem simulador de taxa DI.

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO

FOLHA DE SP - 14/06

Construção pesada se recupera em abril e maio
Após um início de ano com resultados fracos, o setor de construção pesada deu sinais de recuperação, segundo dados do Sinicesp (Sindicato da Indústria da Construção Pesada de São Paulo).

No primeiro trimestre de 2013, as vendas de asfalto --indicador do nível econômico do segmento-- estiveram em patamar inferior aos registrados em 2012 e em 2011.

Em abril, no entanto, a comercialização chegou a 203,7 mil toneladas do produto --3.000 a menos que em 2012 e 27,8 mil a mais que em 2011.

No mês passado, houve praticamente um empate com as vendas do mesmo período de 2012.

"As licitações do governo aumentaram. Desde março, o setor opera em nível melhor que o esperado", afirma Helcio Farias, da entidade.

"Houve crescimento tanto na produção como na venda. O asfalto é um produto que se fabrica em um dia para vender logo em seguida, pois não é fácil de estocar."

O sindicato prevê que os números negativos de janeiro, fevereiro e março serão compensados pelos dos próximos meses, o que fará com que a construção pesada feche o ano com crescimento ante 2012.

A retração na comercialização de asfalto nos três primeiros meses do ano foi decorrente do excesso de chuvas no período --superior ao que se esperava--, ainda de acordo com o sindicato.

Setor de bebidas pede que a tributação não suba em outubro
O ministro Guido Mantega (Fazenda) se reuniu ontem com representantes do setor de bebidas em seu gabinete, em Brasília.

Estavam no encontro, o presidente da Ambev, João de Castro Neves, e o presidente da Coca-Cola do Brasil, Xienar Zarazúa, entre outros. O objetivo foi discutir a conjuntura econômica.

Os executivos apresentaram números que mostraram queda no volume total de vendas no primeiro trimestre na comparação com o primeiro trimestre de 2012.

Os dados relativos à produção em abril e maio também seguem desfavoráveis na indústria como um todo, segundo executivos. Uma fábrica da Heineken foi fechada.

"Há menos dinheiro disponível. A queda é tanto em cervejas quanto em refrigerantes, e é semelhante em todo o segmento", disse um dos presentes, depois da reunião.

Um outro executivo contou que não foram pedir redução da carga tributária.

"No nosso setor, se não aumentarem impostos em outubro, como o governo sinalizou, já ajudam", afirmou.

Os resultados da Ambev no primeiro trimestre deste ano ante o mesmo período de 2012 indicaram alta de 9,4% do custo de produto e crescimento de 0,8% da receita líquida. O ministério, em conjunto com as empresas, aprofundará os estudos sobre o setor.

PESO NO BOLSO DAS EMPRESAS
Com o real mais fraco, as brasileiras despencaram no ranking das cidades com maior custo de vida do mundo, segundo pesquisa da consultoria especializa em expatriação ECA International.

A análise foi feita com base nos preços de comidas, bebidas, serviços, eletrônicos e refeições fora de casa.

O Rio de Janeiro, que costuma aparecer no primeiro lugar no Brasil, estava na 32ª posição global no ano passado. Agora, ocupa o 52º lugar.

São Paulo passou de 37º para 65º, e Brasília, de 47º para 77º. Caracas continua como o local mais caro das Américas, mas também caiu no ranking mundial: do 12º lugar para o 33º.

No sentido contrário, aparece Buenos Aires, que, com sua inflação, subiu 12 posições e está agora em 64º. Dois anos atrás, a cidade era a 130ª mais cara.

O topo do ranking é atualmente ocupado por Oslo (Noruega) e Luanda (Angola).

MAQUINÁRIO ENCOMENDADO
A empresa Mili, do setor de higiene e limpeza, investirá R$ 50 milhões para aumentar sua capacidade de produção de fraldas.

Com a ampliação, a companhia espera que o segmento gere uma receita entre R$ 250 milhões e R$ 400 milhões. No ano passado, o faturamento com o produto foi de R$ 180 milhões.

"Queremos que aumente cerca de 50%, já que, para este ano, a previsão é de R$ 250 milhões em receita bruta", diz Vanderlei Micheletto, sócio da Mili.

Os equipamentos para expandir a linha de fraldas, de origem italiana, já foram encomendados, mas devem chegar ao país apenas em meados de 2014.

A previsão é que entrem em operação em 2015, após serem instalados na planta de Curitiba --a companhia tem outras duas fábricas, uma em Maceió e outra em Três Barras (SC).

Focada nas classes C e D, a companhia distribui a maior parte de sua produção em cidades pequenas do interior do país.

Há um ano e meio, ela começou também a expandir seu segmento de papéis, para o qual destinou um aporte de R$ 200 milhões.

R$ 841 milhões
foi o faturamento total da empresa no ano passado

18,45%
foi o crescimento da companhia na comparação com 2011

R$ 1 bilhão
é quanto a Mili espera faturar neste ano

19%
é quanto a empresa precisa crescer para atingir a meta

1.500
é o número total de funcionários

3
são as companhias que podem ser consideradas as principais concorrentes: Kimberly-Clark, Santher e CMPC

Primeiros passos A usina de beneficiamento do Projeto Ferro Carajás S11D, da Vale, começa a sair do papel no sudeste do Pará. A mineradora concluiu na semana passada o transporte de um dos módulos que vão compor a usina, com altura equivalente a um prédio de seis andares.

Voo distante A companhia aérea Etihad Airways, dos Emirados Árabes, recebeu autorização para operar no Brasil com o transporte de cargas e passageiros. O aval foi publicado ontem pela Anac (Agência Nacional de Aviação Civil). A rota São Paulo-Abu Dhabi já foi inaugurada.

HOTELARIA CARIOCA
A Incortel, que construiu no país cinco hotéis da rede hoteleira Best Western, vai erguer uma unidade na zona sul do Rio de Janeiro ainda neste ano.

A previsão de investimento é de R$ 110 milhões, segundo a empresa.

A unidade terá cerca de 150 quartos e será a primeira de uma série da rede chamada de "fashion", por levar o nome de renomados estilistas internacionais, de acordo com Cecilia Zon Rody, sócia da incorporadora.

O empreendimento será feito com recursos de investidores. "Nenhum financiamento será usado no projeto", afirma Rody.

A empresa prepara também para o segundo semestre, a chegada da bandeira americana à capital paulista.

O contrato entre as duas empresas, que começou em 2012 e tem duração de cinco anos, prevê a construção de 25 hotéis, além dos cinco que já foram concluídos em 2012.

Mais uma tentativa - CELSO MING

O Estado de S.Paulo - 14/06

No início da noite de quarta-feira, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, anunciou a remoção de mais um obstáculo à entrada de dólares no País. Além disso, esforçou-se por tentar convencer os brasileiros de que a inflação está sob controle e que tudo na economia segue dentro dos conformes.

Após a retirada do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) de 1% nas operações com derivativos (câmbio futuro), que começou a valer ontem, o dólar teve ligeira queda, de 0,46%. Fechou a R$ 2,142.

A medida foi adotada uma semana depois de ser zerado o IOF de 6% sobre entradas de dólares destinadas a aplicações em renda fixa, indicando que o governo está preocupado com a deterioração das contas externas e com a forte tendência de alta do dólar no câmbio interno (desvalorização do real).

Até há algumas semanas, o governo também estava preocupado com o câmbio fora do lugar, mas, ao contrário de agora, temia a enxurrada de moeda estrangeira. Essa pressão cambial fora objeto das queixas da presidente Dilma, quando denunciou o tal "tsunami monetário", e das reclamações do ministro Mantega, quanto aos efeitos causados no Brasil por aquilo que entendia como "guerra cambial" travada pelos grandes bancos centrais. O governo age agora no sentido de retirar os controles ao afluxo dos capitais que ele mesmo impôs.

A rigor, não há nenhuma reviravolta na ação dos grandes bancos centrais. Há apenas uma declaração de Ben Bernanke, presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos), de que considera a hipótese de suspender as operações de compra de títulos no mercado americano, na proporção de US$ 85 bilhões por mês. Não há prazo para o início do novo jogo, nem indícios do ritmo em que seria feito.

Bastou essa declaração para que voltasse a turbulência ao mercado financeiro internacional. O Brasil está sofrendo mais do que os outros países emergentes porque a novidade pegou a economia numa situação ruim: baixo crescimento, inflação crescente, desempenho insatisfatório das contas públicas e rombos preocupantes nas contas externas.

Será a suspensão progressiva dos controles de capitais suficiente para impedir a revoada atual e atrair dólares ao Brasil? Provavelmente, não - porque o maior problema são os desequilíbrios internos que, infelizmente, persistem.

Ainda na quarta-feira, o ministro Mantega e o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, desdobraram-se para tentar convencer os brasileiros de que "tudo está sob controle".

Não é bem assim. O próprio Banco Central vem advertindo que as contas públicas estão se expandindo demais e que a inflação está espalhada e renitente. Não vai ser apenas porque o Banco Central recomeçou a puxar pelos juros que a inflação será reconduzida à meta, especialmente quando o governo continua gastando demais, continua criando renda e consumo acima da oferta.

Há apenas oito dias, uma das mais importantes agências de classificação de risco, a Standard & Poor's (S&P), avisou que se prepara para rebaixar a qualidade da dívida do Brasil, porque o crescimento econômico é ruim e o desempenho das finanças públicas não é lá essas coisas.

É improvável que a simples promessa do ministro Mantega de que o governo vai observar um superávit primário (sobra de arrecadação) de 2,3% do PIB, em vez dos R$ 155,9 bilhões a que antes estava comprometido, consiga convencer os agentes econômicos de que o governo deixou de ser um gastador e se converteu à responsabilidade fiscal.

Também na quarta-feira, a presidente Dilma fez o contrário: baixou um pacote de crédito subsidiado, no total de R$ 18,7 bilhões em dinheiro do contribuinte, destinado à compra de móveis e de aparelhos domésticos.

A economia brasileira está desequilibrada não apenas em relação à perspectiva de redução da oferta de dólares no mundo. Está descontrolada porque se mostra incapaz de cumprir os objetivos a que o próprio governo se propôs: crescer entre 4,0% e 4,5% ao ano; garantir um investimento de 24% do PIB; impedir um desemprego superior a 6%; reconduzir a inflação à meta; obter relativo equilíbrio nas contas externas e recuperar a indústria, prostrada pela baixa competitividade.

Tecnologia da informação que destrói empregos - CLAUDIO CONZ

BRASIL ECONÔMICO - 14/06

O mundo mudou e cada vez se transforma mais rápido. Com o advento das novas tecnologias, têm surgido novas formas de negócio, que nos deixam perplexos com a relação entre os valores de bens concretos e o valor da informação. Chegamos a um estágio do capitalismo que a volatilidade das ações empreendedoras e a rapidez com a qual elas acontecem, se concretizam e se valorizam impressiona. Isso tem um lado positivo, mas, ao mesmo tempo, também pode gerar muitos danos à sociedade.

Li um artigo de jornal há alguns dias sobre o novo livro do Jaron Lanier e alguns dados me impressionaram. O autor citava que o principal jornal de Boston, chamado Boston Globe, emprega 470 pessoas. Seu dono é o New York Times, que o adquiriu em 1991 por US$ 1,1 bilhão. Algumas propostas estão sendo estudadas pelo Times e os palpites dos analistas apontam que o jornal aceitaria ofertas de até.... Us$ 80 milhões. O Yahoo comprou o tumblr, plataforma de microblogs, com 178 funcionários pelos mesmos US$ 1,1 bilhão.

Fazendo uma outra comparação, quando a Kodak era líder da indústria da fotografia, tinha mais de 140 mil funcionários e valia $ 28 bi. No ano passado, o Instagram foi vendido para o Facebook por $ 1 bi e tinha apenas 13 empregados.

Vi que agora você arregalou seus olhos e se perguntou o que está acontecendo com os modelos de negócio tradicionais. Vemos a classe média e os empregos ameaçados por um novo tipo de empresa, as startups.

Startup é uma empresa com um histórico operacional limitado, ou seja, poucos funcionários. Elas envolvem inovação e geralmente oferecem risco no negócio justamente por estarem implantando ideias novas, que não se sabe se vão "pegar"ou não.

Mas, quando pegam, pegam pra valer. São empreendimentos com baixos custos iniciais e altamente escaláveis pois possuem uma expectativa de crescimento muito grande quando dão certo. Alguns exemplos de startups são Google, Facebook, Peixe Urbano, Instagram, tumblr, e por aí vai.

O valor destas empresas em bilhões de dólares reflete as escolhas feitas pelas pessoas. Afinal, a ideia inovadora precisa passar a fazer parte da nossa vida. Isso valoriza a startup. Há controvérsias com relação a muito dinheiro nas mãos de poucos. Afinal, quanto vale a informação?

Vemos neste modelo um poder devastador de destruir a classe média e o emprego estável, numa economia que concentra poder de maneira sem precedentes nas mãos de poucos. Estes novos negócios, que geram dinheiro para uma minoria, podem colaborar para um hiperdesemprego.

A pergunta é: será que não é a hora de pararmos para avaliar este cenário futuro, em que a economia da informação dispensa as pessoas? Como representante do varejo, coloco esta questão para avaliarmos. Afinal de contas, a perda do emprego e a diminuição da renda nos afeta diretamente. Ao mesmo tempo, a falta de lojas físicas com pessoas trabalhando, que é uma tendência fortemente relacionada a estes novos tipos de negócio que envolvem a internet, também afeta a construção. Até que ponto lojas virtuais, startups e novos tipos de negócio tornam os negócios tradicionais desnecessários e até os prejudicam?

O que eu quero realmente para a nossa sociedade nesta era da informação é uma economia da informação não destrutiva, mas sim democrática e com oportunidades para todos.

A nova classe média e o governo - LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS

FOLHA DE SP - 14/06

PIB de hoje será a taxa de desemprego em outubro de 2014; além disso, muito eleitor estará endividado


As indicações de perda de popularidade da presidenta da República, claramente presentes na última pesquisa do Datafolha, colocaram a questão da inflação no topo da agenda dos principais analistas políticos no Brasil.

Para quem acompanha essa questão com uma visão mais ampla, não houve nenhuma surpresa com os resultados da pesquisa.

A disparada da inflação, a partir da metade do ano passado, atingiu em cheio a chamada nova classe média, elemento novo na composição da sociedade brasileira nos últimos anos. Pela primeira vez desde a eleição de Dilma Rousseff, a situação de bem-estar e de confiança desse grupo foi substituída por incertezas em relação ao futuro.

As posições políticas desses brasileiros --que representam hoje pelo menos 30% da sociedade-- refletem majoritariamente a situação econômica do presente, ou seja, a situação de seu bolso.

Essa é uma característica das democracias de massa modernas, como bem resume a famosa frase dita no calor das eleições americanas de 1992: "É a economia, estúpido".

O mesmo vem acontecendo no Brasil de hoje. Colocado, pelo efeito dos aumentos de preços recentes, diante de uma redução expressiva de sua renda real e da volta de certa insegurança em relação ao futuro em razão disso, um grande número de entrevistados pelo Datafolha decidiu mandar um recado ao governo.

A inflação implícita das vendas no varejo --que é estimada mensalmente pelo IBGE-- está rodando, desde setembro do ano passado, acima de 7% ao ano.

Nos primeiros meses deste ano, o número chegou a 10% ao ano. Ou seja, o aumento dos preços dos bens de consumo vem se dando a uma velocidade superior à da variação nominal dos salários e reduzindo a renda real dos cidadãos. O mesmo fenômeno ocorre com os serviços, outro item importante do consumo dos brasileiros.

Com o consumidor, principalmente da nova classe média, endividado, esse comportamento da inflação acabou criando uma armadilha conhecida.

Como o ajuste nos gastos mensais não é feito imediatamente, a primeira reação das famílias, em situação de renda real em queda, é apelar para o cheque especial ou o cartão de crédito. Não por outra razão, o Banco Central registrou em abril deste ano o nível histórico mais elevado do uso do cheque especial.

Pagando taxas elevadíssimas de juros (mais de 10% ao mês no cheque especial), mais adiante o cidadão consumidor vai ter que reduzir o seu consumo, comprando um volume menor de mercadorias e cortando alguns serviços ou mudando a qualidade dos produtos consumidos.

Esse é um fenômeno que será mais claramente percebido nos próximos meses, mesmo que o aumento dos preços a cada mês reduza a intensidade atual.

Ou seja, o estrago no humor do principal eleitor do governo vai piorar antes de melhorar. Até porque o aumento de juros que será usado para reduzir a inflação também terá um efeito negativo sobre o sentimento do consumidor.

As reações do Palácio do Planalto a essa alteração de humor de parte importante da sociedade, que até agora tinha mantido apoio quase incondicional à presidente, mostram que não entenderam a alma deste grupo social.

Embora tal grupo seja uma criação do governo do PT, ao longo do primeiro mandato de Lula, esta é primeira vez em que será testada sua fidelidade em condições econômicas menos favoráveis. E a situação do consumo será crucial.

Os comentários e as justificativas de vários ministros e autoridades da área econômica mostram também um entendimento medíocre sobre uma economia de mercado como a brasileira.

Dou um exemplo disso ao leitor da Folha. Pouco antes da pesquisa Datafolha, o ministro Guido Mantega disse em público que o povo não se interessa pelo tamanho do PIB, mas pelo nível do desemprego.

Ele teria razão se o crescimento do PIB não fosse a força motriz de uma situação de desemprego, algum tempo à frente. E, na situação atual da economia, se nada correto for feito, o PIB de hoje será a taxa de desemprego em outubro do próximo ano.

Erros velhos na economia - MIRIAM LEITÃO

O GLOBO - 14/06

Os últimos 30 meses foram marcados por erros antigos sendo novamente cometidos na economia brasileira. Juros caíram com inflação acima da meta; empresas escolhidas receberam crédito subsidiado; reajustes de preços foram adiados a pedido da Fazenda. Estatísticas de gastos públicos receberam maquiagem; o real foi desvalorizado para proteger a indústria e os efeitos sobre a inflação foram minimizados.

lista é longa e não termina aqui. O incentivo ao consumo foi colocado em primeiro plano, como se fosse suficiente para estimular investimentos. Bancos públicos sofreram pressão para conceder crédito, se expondo a riscos com aportes bilionários do Tesouro. A crise internacional foi subestimada, marcos regulatórios foram alterados a toque de caixa, medidas econômicas passaram a ser anunciadas em cadeia nacional de televisão, como uma benesse do governo à população.
Muitos economistas emitiram alertas sobre esses equívocos. O PIB baixo, a inflação novamente elevada, a ameaça de rebaixamento da nota do país e, principalmente, a queda da popularidade da presidente aumentaram a sensibilidade do governo às críticas. O Banco Central deu meia-volta na política monetária e voltou a subir os juros, de forma unânime, endurecendo o discurso. Começou a reverter a situação, mas o custo foi alto: as expectativas para o IPCA fugiram do centro da meta de 4,5% para um período de 24 meses à frente.

Na política fiscal, tudo é ainda ambíguo. No mesmo dia em que volta a falar de austeridade, o governo anuncia uma nova emissão de dívida para injetar dinheiro na Caixa e estimular o consumo. A despesa do governo com juros caiu de 5,69% do PIB, em agosto de 2011, para 4,81%, em abril deste ano, por causa da redução da Selic. Mas, ainda assim, o déficit nominal subiu, de 2% para 2,92%, no mesmo período.

As declarações do ministro Guido Mantega são um flanco aberto na credibilidade da política econômica. Disse na quarta-feira que a inflação está caindo de forma consistente, mas, na verdade, está em alta no acumulado de 12 meses e, em junho, deve estourar o teto da meta pela décima vez no governo Dilma. Ainda é possível mudar o rumo, mas é inevitável a constatação de que muito tempo foi perdido.

O causador da confusão no câmbio
O gráfico mostra o causador da confusão no mercado de câmbio mundial nas últimas semanas: os títulos do Tesouro americano com vencimento em 10 anos. Vejam como os juros subiram a partir de maio. Estavam abaixo de 1,6% e agora estão em 2,2%. O que mais chama atenção é que antes de o BC americano intensificar o despejo de dólares na economia, esses papéis rendiam mais de 3%, chegando próximo de 4%. Isso quer dizer que, quando tudo voltar ao normal por lá, a tendência de alta dos juros é enorme. Um mau sinal para outros tipos de ativos espalhados pelo mundo, como bolsa de países emergentes, commodities e moedas.

Protestos x endividamento
Desde o penúltimo reajuste das tarifas de ônibus em São Paulo, em janeiro de 2011, o brasileiro ficou mais endividado e com menor renda disponível. O endividamento subiu de 39% para 43% da renda acumulada em 12 meses, enquanto o gasto com pagamento de dívidas subiu de 19,9% para 21,6% da renda mensal. Soma-se a isso a alta forte da inflação no período, de 16%, acumulada de janeiro de 2011 a maio de 2013, com grande peso de custos fixos como alimentação e alguns tipos de serviços, e o bolso do brasileiro ficou mais sensível ao reajuste das tarifas.

INDICADOR DO PIB. O PIB mensal calculado pelo Itaú Unibanco subiu 0,8% em abril na comparação com o mês anterior. A prévia de maio, no entanto, mostra um cenário diferente: queda de 0,7%.

Acordes e ruídos entre governo e mercado - CLAUDIA SAFATLE

VALOR ECONÔMICO - 14/06

Distante do nervosismo dos mercados nas últimas semanas - onde dois dos principais preços da economia, câmbio e juros, estão em altíssima volatilidade - o ambiente no Palácio do Planalto é de relativa tranquilidade. Analistas, gestores e operadores, sob adrenalina, fazem suas apostas, desvalorizam ou apreciam o real, sobem as taxas de juros curtas, longas, e tentam compreender os sinais emitidos pelo governo. Perdem, ganham.

Nos preços estão as mensagens dos agentes de confiança ou desconfiança no país, na política econômica, no governo. São turbulências que nem sempre chegam às proximidades do andar presidencial. É comum ouvir de interlocutores da presidente Dilma Rousseff que o governo não é refém da agenda do mercado.

Nos últimos dias as inquietações que alcançaram o gabinete de Dilma foram focadas na necessidade de o governo dar um sinal forte e crível de que a política fiscal não está descontrolada e de que há uma meta clara de superávit primário a cumprir, como ocorre desde 1998. Fontes oficiais, depois de reuniões da presidente com seu ministro da Fazenda, Guido Mantega, chegaram a anunciar que poderia haver medidas fiscais nesta semana.

O motivo para a urgência de um posicionamento da presidente sobre a política fiscal foi a decisão da agência de rating Standard & Poor"s de mudar a sinalização do Brasil de "estável" para "negativa". Embora isso ainda não signifique que Dilma está enterrando o "grau de investimento" que o ex-presidente Lula conquistou em 2008, a mudança é a antessala de um eventual corte no rating do país. As razões da agência foram o baixo crescimento econômico, a alta inflação e os frouxos compromissos com o rigor nas contas públicas.

A partir daí o governo resolveu informar os rumos da política fiscal. Mantega assumiu compromisso com a meta de superávit primário de 2,3% do PIB este ano. Foi um avanço. Até então nem meta havia. Ele terá que esclarecer onde vai cortar- ou que receita adicional vai buscar - para cumprir a meta que requer um esforço fiscal adicional de cerca de 0,4% a 0,5% do PIB. O anúncio das providências, ao que tudo indica, foi adiado para melhor avaliação, mas não descartado. E não seria coerente divulgar cortes de gastos na semana em que Dilma aprovou R$ 18 bilhões para os mutuários do Minha Casa, Minha Vida comprarem eletrodomésticos com financiamentos baratos.

Em pronunciamento esta semana, ela também assegurou: "A situação real em que o Brasil vive é de inflação sob controle, contas públicas sob controle (...) não há a menor hipótese que o meu governo não tenha uma política de controle e combate à inflação. Não há a menor hipótese". A fala da presidente e a meta de Mantega foram consideradas por assessores uma resposta firme aos temores do mercado, que chegou a contar com aumentos de 0,50 ponto percentual dos juros nas próximas quatro reuniões do Copom. Assim a Selic voltaria a dois dígitos, 10% ao ano, às vésperas da campanha eleitoral.

Governos erram e acertam. No afã de fazer uma política fiscal anticíclica - expansionista para dar impulso ao crescimento - abriu-se, no Tesouro, um duto interminável de endividamento em títulos como solução para todas as demandas. Politizou-se a taxa de juros, um instrumento eficaz de combate à inflação, criando a noção de que a Selic só poderia se mover para baixo. Permitiu-se que o BC caísse em descrédito, tornando mais custosa para o BC a missão de controlar a inflação. Fez-se uma desvalorização forçada do real no ano passado, em nome da indústria, que ajudou a pressionar os preços, já em ascensão por um choque nos alimentos. Esses são alguns exemplos de equívocos.

Fragilidades já existiam quando o governo começou. O aumento do salário real sem correspondência no aumento da produtividade, a agregação de milhões de consumidores sem a necessária expansão da oferta, a acelerada expansão do crédito para alavancar o consumo, que produziu elevado endividamento das famílias e maior inadimplência. Tudo levando a um crescimento insustentável de 7,5% em 2010, que teria que ser corrigido em 2011.

Houve acertos. Medidas prudenciais do início de governo esvaziaram bolhas que se formavam. Conteve-se a expansão do crédito e foram introduzidas restrições ao fluxo de capitais que enxugaram os ingressos de dólares de curto prazo. O balanço de pagamentos tem um déficit em conta corrente mais elevado do que no passado recente, de 3% do PIB, mas não é financiado por capitais voláteis. Numa virada importante da política de investimentos, o governo retomou os projetos de concessão e, estica e puxa, vai se chegando a um modelo com retornos mais atrativos para o setor privado.

Nesse momento, o Federal Reserve (banco central americano) prepara a redução dos estímulos monetários que desde 2008 injetaram cerca de US$ 3,4 trilhões no mundo. Menos liquidez e o esperado aumento dos juros pelo Fed estão produzindo um brutal deslocamento de capitais do resto do planeta para a economia americana. O dólar se valoriza e a taxa de câmbio, aqui, muda de patamar. Difícil dizer se vai parar em R$ 2,30, R$ 2,50 e se será uma depreciação real. É um presente para a parte do país que exporta e um corte do salário real que cresceu acima das possibilidades.

O mundo está em profunda mudança. A China desacelera, acabou o "boom" das commodities e os benefícios dos bons termos de troca. Alguém já deve ter dito que não cabe ao governo marcar sua política a mercado, mas é um desperdício não aproveitar as informações que ele traz para melhor proceder a esse novo ajuste. Ben Bernanke, presidente do Fed, pode acalmar os mercados em relação ao aumento dos juros na entrevista que concederá na próxima semana. Se fizer isso, Dilma pode ganhar tempo para ajeitar a casa.

O mundo merece um debate sobre a espionagem - RASHEED ABOU-ALSAMH

O GLOBO - 14/06

Arevelação de documentos do programa ultrassecreto de espionagem eletrônica e telefônica do governo americano na semana passada, pelo jornal britânico “The Guardian”, caiu como uma bomba não porque ninguém sabia que estávamos sendo espionados, mas por causa das quantidades enormes de dados que estavam sendo colhidas.

Lembro que houve um debate público depois dos ataques de 11 de setembro nos EUA — ataques que impulsionaram as agências de espionagem americanas a redobrar seus esforços de interceptar comunicações entre terroristas antes que um novo ataque acontecesse.

Isso aconteceu depois que veio à tona que a Agência Central de Inteligência (CIA) havia rastreado o movimentos de vários dos sequestradores dos aviões do 11 de setembro por meses antes dos atentados, mas que suas informações nunca tinham sido repassadas para o FBI e outras agências de inteligência doméstica.

Diante desse fracasso de inteligência, o governo construiu um vasto aparato de segurança doméstico e internacional ainda maior do que já tinha, especialmente com a criação do Departamento de Segurança Doméstica. O presidente George W. Bush também autorizou secretamente em 2002 a Agência de Segurança Nacional (NSA) a monitorar as chamadas telefônicas e mensagens eletrônicas de americanos sem autorização judicial prévia, que foi uma mudança radical no propósito da agência, que até aquele ano era para a espionagem internacional, e não doméstica.

A revelação desse novo rumo da espionagem doméstica americana pela imprensa americana em 2005 levou a um acirrado debate público nos EUA em 2005-06. Bush insistiu que essa espionagem era necessária depois de 11 de setembro, e por causa das ameaças inéditas que os EUA enfrentavam na sua guerra contra o terror, vindas da Al-Qaeda. Em janeiro de 2007, Bush foi forçado a abandonar esse método, e devolveu a supervisão desses esforços de espionagem para a corte de Vigilância e Inteligência Externa (Fisa), que voltou a ter que estudar cada pedido de espionagem eletrônica que envolvia cidadãos americanos antes de dar ou não a sua aprovação.

Infelizmente, em 2008, o Congresso americano aprovou uma nova lei que relaxou os requisitos da Fisa. Em 2009, no início do primeiro mandato do presidente Barack Obama, oficias do Departamento de Justiça admitiram a coleta de comunicações domésticas além do necessário e além da autorização dada pela Fisa, mas que isso não tinha sido intencional e que o “erro” já tinha sido retificado.

Aparentemente não. Pelos documentos vazados por Edward Snowden, o funcionário terceirizado da NSA que mandou os documentos para Glenn Greenwald, do “Guardian”, o programa de espionagem doméstico cresceu exponencialmente desde 2008.

Um dos documentos aponta a existência de um programa de espionagem chamada PRISM, que dá acesso irrestrito para as agências de espionagem às correspondências eletrônicas e uso da internet de milhões de americanos através de acesso direto aos servidores de todas as maiores empresas de internet americanas, incluindo Google, Microsoft, Yahoo e Skype. E, naturalmente, ninguém acreditou nas negativas, ou de falta de conhecimento, dessas empresas, que desde 2007 estão dando acesso aos seus servidores.

Defensores do governo americano alegaram que a NSA coletava somente os números de telefones discados, e não gravava as conversas. Mas, mesmo assim, esse tipo de método pode dizer muitas coisas sobre a vida de uma pessoa. Se um alvo liga para seu médico e depois para uma série de parentes e amigos próximos, dá para inferir que a pessoa esteja doente com alguma coisa grave. O que mais inquieta são as acusações de Snowden de que a NSA está acumulando quantidades imensas de dados sobre americanos e estrangeiros, para talvez usar essas informações no futuro. Isso nunca foi aceito pelo público americano. Com certeza eles aceitaram mais espionagem nas suas vidas depois de 11 de setembro, mas nunca deram seu aval ao governo para coletar e armazenar por tempo indeterminado essa montanha gigantesca de dados e informações privadas. O governo americano diz que só armazena dados de ligações telefônicas feitas por americanos por cinco anos. Cinco anos é tempo de mais.

É por isso que um debate franco e vigoroso tem que se instalar nos EUA sobre esses programas de espionagem, para decidir de uma vez por todas quais são os limites dessa espionagem, quem vai monitorar as agências de espionagem, e como o público americano pode ser informado do jeito com que seus dados estão sendo usados, armazenados — e por quanto tempo, sem danificar o sigilo das operações. Estrangeiros espionados pelos americanos são também merecedores de umas explicações e deveriam gozar de limites similares ao povo americano, na maneira e no tempo que seus dados são usados e armazenados.

Vazamentos de programas secretos do EUA têm vindo de funcionarios de baixo escalão, como Snowden e Bradley Manning, que vazou milhares de telegramas do governo americano para Julian Assange, do Wikileaks. Teria sido melhor se um grupo de congressistas ou senadores americanos, democratas e republicanos, tivesse começado esse debate publico.

Alguns senadores, como Ron Wyden e Mark Udall, têm pressionado o governo a divulgar quais são os princípios legais atrás desses programas de espionagem, mas com pouco sucesso. Outros políticos, como a senadora Dianne Feinstein e o deputado Mike Rogers, disseram que o programa que vigia as chamadas telefônicas tem ajudado a capturar terroristas como aqueles envolvidos no ataque terrorista em Mumbai em 2008, e os que planejavam botar bombas no metrô de Nova York em 2009. Mas Udall ressalvou: “Não estou convencido de que essa é inteligência singularmente valiosa e que não poderíamos ter produzido (as informações) de outras maneiras.” Eu tendo a concordar.