sexta-feira, agosto 12, 2011

BARBARA GANCIA - Não adianta chamar a Supernanny

Não adianta chamar a Supernanny
BARBARA GANCIA 
FOLHA DE SP - 12/08/11

Já imaginou se houvesse redes como Facebook e Twitter a serviço dos "hooligans" dos anos 80?


NÃO DEVE SER coincidência os substantivos "bully" e "hooligan" terem adquirido tamanha popularidade na língua inglesa.
Neste ano, a Inglaterra está experimentando um verão particularmente agradável com temperaturas que convidam a ficar fora de casa até mais tarde.
O grito "o Egito é aqui" vai encontrando eco em tudo que é esquina de poeira batida ou esburacada do mundo. Tem sido ouvido de Salamanca a Punta Arenas e a gente vai aplaudindo e sabendo que os benefícios das mudanças que começam a ser colocadas em prática (nesta semana) em Damasco um dia chegarão ao Capão Redondo.
As três pessoas mortas na Inglaterra tentando defender o seu comércio da ação de vândalos nos dão uma pista, porém, de que os distúrbios ocorridos em Londres nos últimos dias têm quase nada das boas intenções do suicídio de um estudante como Jan Palach, o jovem tcheco que se imolou em praça pública em agosto de 1968 para protestar contra a invasão soviética. Mártires, sabe-se, raras vezes carregam no bolso "headphones" da Bose que foram saqueados de lojas.
Eu me pergunto o que teria ocorrido se existissem à disposição dos "hooligans" do futebol inglês dos anos 80 redes sociais como Twitter e Facebook. Em vez de 39 mortos na tragédia de Heysel, na Bélgica, no jogo entre Juventus e Liverpool pela Copa dos Campeões, quantos mais poderiam ter sido emboscados?
No próximo domingo, celebramos o Dia dos Pais e, por algum motivo, talvez por ser o primeiro que irei passar sem o meu, lembrei-me daquele discurso fortíssimo do presidente Obama, em que ele conclamava os negros norte-americanos a assumir a paternidade dos filhos tidos fora do casamento. Talvez a gente consiga começar a entender o problema por aí.
Há um paternalismo enraizado na Grã-Bretanha. Estado, rei, Exército, igreja: tudo é instituição e obediência cega a leis e tradições. O sistema de castas que dividia o Parlamento entre lordes e plebeus servia para reforçar o padrão. Bem, isso veio abaixo.
Hoje, as regras são mais frouxas: o colégio interno que formava a elite inglesa, do tipo de Eton, em que imperava a disciplina, virou coisa de Harry Potter e até a família inglesa agora deu para ser regida pelo afeto. O pai? Ora, ele foi ver se o Mr. Bean está na esquina.
Como pode o homem vestir as calças dentro de casa se, especialmente nos países mais avançados, houve uma androginização de papéis?
Para combater a tal "Melancolia" que Lars von Trier afirma ser o mal do nosso tempo, existem algumas formuletas básicas. O sexo é uma delas, o consumo é outra, manter-se em movimento constante é mais uma. Só que o efeito dessas atividades se extingue com a rapidez da pedra de crack, e o tédio volta na forma de desespero. Negócio então é sair quebrando tudo.
Nós aqui, os sem-saneamento básico, temos dificuldade em entender por que alguém queima o quarteirão em vez de curtir sua "pale ale" no pub em pleno verãozão londrino.
Ora, o indivíduo que não foi exigido na sua formação dificilmente terá conseguido construir o seu desejo. Ele está condenado à insatisfação. Daí a sair pilhando e ateando fogo em nome de um time de futebol, ou por outro motivo irrelevante, é um clique. E nem adianta chamar a Supernanny para resolver a parada, que essa oportunidade se foi. Vamos torcer para o outono chegar logo.

JOSÉ SIMÃO - Uau! Tá no ar "Obama Esperança"!

Uau! Tá no ar "Obama Esperança"!
JOSÉ SIMÃO
FOLHA DE SP - 12/08/11 

Plantão da Copa! Contagem regressiva para a Copa de 2014: faltam três anos, 12 estádios e uma seleção!


Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! E sabe o que um inglês perguntou pro outro? É FOG OU FOGO? Rarará! Bem infame!
E o Cabral vai instalar uma UPP em Londres! E a sensacional manchete do site Piauí Herald: "EUA lançam programa 'Obama Esperança'". Apresentado por Brad Pitt e Angelina Jolie. O jingle será entoado por Madonna, Britney Spears e Justin Bieber. No final, Brad Pitt pedirá a palavra: "Aceitamos Visa, Amex, Mastercard, Diners, Vale-Transporte, Ticket Refeição e cupons de desconto da Fnac". Rarará! E, conforme a crise aumenta, a placa no portão da Casa Branca cresce: "Alugo quartos para estudantes, solteiros, republicanos, mexicanos e CORINTIANOS". Rarará! A crise tá braba mesmo: alugar quarto pra corintiano.
E o Mantega? O Mantega detesta ser chamado de Mantêga! É Mântega. Então o próximo ministro será o MARGÁRINA! Ministro Margárina! E depois o RÍCOTA! Rarará!
E adorei a charge do Duke: "Lembra o filho da vizinha? Virou bandido". "De qual ministério?" Rarará! E, se corrupção desse caroço, o Brasil seria uma jaca! E a seleção? Ops, a selecinha? Seleção sem vícios: não bebe, não fuma e não joga! E está lançada a campanha "Salve a Seleção! Contrate um Técnico Uruguaio". O Mano não é humano!
E como o Mano quer ser técnico se ele não sabe o que fazer com o Ganso?! Uma hora bota o Ganso pra dentro. Depois deixa o Ganso de fora! E tão dizendo que o Brasil só está pegando seleções feras. Então agora o Brasil precisa de um adversário à altura: os pigmeus de Botswana! Rarará! A segunda divisão dos pigmeus de Botsuana.
E coração de torcedor brasileiro não bate, apanha! E o site Os Primitivos está dando o Plantão da Copa! Atenção! Plantão da Copa! Tum-tum-tum! Contagem regressiva para a Copa de 2014: faltam três anos, 12 estádios e uma seleção! É mole? É mole, mas sobe!
Eu tenho a seleção ideal! Os maiores craques das peladas brasileiras: Cara de Kombi, Short na Testa, Cidinho Cu de Apito, Frango do Carrefour, Geladeira de Pobre, Bebê Monstro, Bosta de Urso. No ataque: Nem Cu de Frango, Zóio e Três Peidim. No banco: Paçoca e Comi o Paçoca! Rarará! Com essa seleção a gente derruba até a Muralha da China. Nóis sofre, mas nóis goza.
Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

MERVAL PEREIRA - Mistura perigosa


Mistura perigosa 
MERVAL PEREIRA
O GLOBO - 12/08/11

Necessidade de conter gastos públicos, por um lado, e a reivindicação generalizada por liberação de verbas e aumentos salariais no serviço público, um paradoxo que desafia o governo e o coloca à mercê de seus próprios aliados. Diante do quadro preocupante da crise econômica internacional, o governo trabalha para não aprovar medidas como a PEC 300, que estabelece um piso salarial nacional para policiais militares e bombeiros, mas políticos da base aliada apoiam a reivindicação.

Da mesma forma, uma aliança informal entre vários partidos da base aliada decidiu boicotar as votações de interesse do governo até que sejam liberadas verbas já aprovadas.

E, culminando esse clima de insubordinação reinante em Brasília, a Polícia Federal, irritada com as restrições que a própria presidente fez à sua atuação na operação que prendeu 36 pessoas no Ministério do Turismo, um feudo que era do PT e foi transferido para o PMDB, ameaça entrar em greve contra o contingenciamento das verbas que, segundo uma nota divulgada por sua associação nacional de delegados, está impedindo a eficácia de suas ações.

"A Polícia Federal já está sofrendo com a agenda econômica do governo, não pode ser pautada também pela sua agenda política", disse o presidente da Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal (ADPF), Bolivar Steinmetz.

Esse ambiente já classificado de "clima de boicote", está propiciando à oposição uma situação favorável ao recolhimento de assinaturas para uma CPI da Corrupção, que analisaria todos os escândalos acontecidos nesse começo de governo.

Houve um momento do governo Lula em que parecia que o governo havia perdido o controle sobre a Polícia Federal, que estaria agindo autonomamente e a serviço de interesses de grupos políticos variados.

Custou muito ao então Ministro da Justiça Marcio Thomaz Bastos controlar a Polícia Federal, e especificamente quanto ao uso das algemas, que hoje está sendo novamente criticado por setores do governo, a muito custo Thomaz Bastos soltou uma norma para evitar esse tipo de exposição de pessoas presas que não ofereçam resistência ou perigo de fuga.

O uso de algemas, avaliado como exorbitante por alguns, é uma característica da polícia dos Estados Unidos, e temos por aqui setores da Polícia Federal que consideram pedagógico o seu uso em crimes do colarinho branco.

Mas o problema do governo Dilma é que não existe ninguém com a experiência, o conhecimento e a capacidade de influência de Marcio Thomaz Bastos para controlar a Polícia Federal, se ela eventualmente voltar a ficar dividia em grupos e a atuar de acordo com interesses políticos.

O atual ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, não tem essa experiência toda, e não foi por acaso que ele, depois de receber críticas pela atuação da Polícia Federal por parte da própria presidente Dilma, do vice-presidente Michel Temer e de políticos importantes do PT e do PMDB, saiu em defesa dos métodos adotados, para acalmar o quadro de crise na Polícia Federal.

Se o governo perder o controle da Polícia Federal, pode voltar aquela época em que todo mundo grampeava todo mundo, em que todo político ou empresário utilizava a Polícia Federal para seus próprios interesses.

A presidente Dilma não tem razão para se preocupar com os índices de popularidade registrados na mais recente pesquisa do Ibope, pois aparentemente não houve uma queda, mas uma volta a níveis médios que vêm sendo registrados desde que tomou posse.

A comparação com março, quando ela atingiu um índice maior de apoio, não é válida tecnicamente, aquele parece que foi um ponto fora da curva.

Sua situação, portanto, está estável, não é preocupante desse ponto de vista. É claro que se ela atingiu um ponto mais alto em março, e agora voltou para média, é sinal de que não conseguiu sustentar uma avaliação positiva mais alta, mas nada grave em termos de aceitação popular.

Ela tem que ficar preocupada é com o governo, que está muito desestruturado. Principalmente, tem que se preocupar com os aliados no Congresso, que estão muito inquietos diante dos últimos acontecimentos, inconformados com a ação saneadora do governo e, sobretudo, com as últimas ações da Polícia Federal num ministério controlado pelo PMDB que anteriormente era do PT.

O noticiário sobre corrupção no governo, especialmente se é sustentado por fatos concretos, é claro que influencia a percepção da opinião pública sobre o governo, assim como essa percepção negativa pode ser contrabalançada com as medidas que o governo venha a tomar.

No caso atual, até o momento o saldo tem sido positivo para a presidente Dilma, embora as coisas estejam ficando meio nubladas por atitudes ambíguas quando as denúncias atingiram ao mesmo tempo o PMDB e o PT.

A sensação de que a situação está descontrolada pode afetar o governo. Se todo o dia aparecem acusações novas, denúncias em vários ministérios, o que passa para a opinião pública é que o governo é uma bagunça, está dominado por ladrões. Que não sabe escolher as pessoas que trabalham nele.

Mesmo a ação direta contra a corrupção pode ficar neutralizada pela percepção de que o governo perdeu o controle da situação. E o "fogo amigo" atinge vários partidos da base aliada, revelando a verdadeira natureza do que aparenta ser uma coalizão governamental ampla: um saco de gatos onde ninguém se entende.

ANCELMO GÓIS - CENA CARIOCA


CENA CARIOCA 
ANCELMO GOIS
O GLOBO - 12/08/11

O sucesso da operação Lei Seca é tão grande que criou uma indústria em torno. O Hotel Mar Palace, em Copacabana, bairro com muitos bares, resolveu dar desconto de 25% para os bebuns. É que, em julho, pelo menos 34 hóspedes disseram que pernoitariam ali para fugir das blitze.

FINAL FELIZ 
O deputado Jair Bolsonaro denunciou à Polícia Federal e ao Itamaraty, dia 25 de julho, o sequestro de seu filho  de 13 anos, fruto de um relacionamento que durou dez com Ana Cristina Siqueira Vale Mendes. Segundo Bolsonaro, o menino foi levado pela mãe para a Noruega sem sua autorização.

SEGUE... 
A mãe, ainda segundo Bolsonaro, ligou da Noruega, onde mora com um namorado, avisando que havia levado o filho, e que ele não voltaria. Então, sumiu por cinco dias. Mas, depois de uma intrincada negociação, Ana Cristina devolveu o garoto para o pai.

O ALIENISTA 
O ganhador do Prêmio Senador José Ermírio de Moraes de 2011 da Academia Brasileira de Letras é um livro sobre O alienista, de Machado de Assis.
Trata-se de O altar & o trono — Dinâmica do poder em O Alienista (Ateliê/Editora da Unicamp), de Ivan Teixeira.

RÁDIO CIMENTO 
O que se diz nos canteiros de obras é que a PDG, de Gilberto Sayão, pode engolir a Cyrela, também gigante. A conferir.

CHAPA BRANCA 
De Gilberto Carvalho, secretário-geral da Presidência, quarta, na posse da nova diretoria da UNE, na Câmara:
— Ai do governo que queira domesticar a UNE...

SEGUE... 
De Chico Alencar, o deputado do PSOL, depois:
— E ai da direção da UNE que se deixe domesticar! Envelhecerá precocemente.
É o caso.

LIBERDADE E LUTA 
Em menos três meses, desabaram dois ex-integrantes da antiga Libelu, grupo trotskista muito ativo nos anos 1970.
O primeiro foi Palocci, e o outro é Mário Moyses, ex-presidente da Embratur, que foi preso.

REI EM JERUSALÉM 
Roberto Carlos, que cantará em Jerusalém dia 7 de setembro, será recebido por Shimon Peres, o grande político israelense.

SÃO PAULO NA LAPA 
Helton Altman, grande empresário da noite paulista e produtor, entrou na sociedade do Semente, o bar da Lapa, ao lado de Aline Brufato e Yamandu Costa.

MALHAÇÃO
Flávia da Justa, ex-diretora da Oi, dirige agora o marketing da rede de academias Bodytech.

FORÇA, GIANECCHINI 
Frase fofa postada ontem no Facebook por um fã de Reynaldo Gianecchini, que enfrenta um linfoma:
— Força aí, Gianecchini! Gato tem sete vidas!

MARIA CRISTINA FERNANDES - Eike Batista para líder do governo


Eike Batista para líder do governo
MARIA CRISTINA FERNANDES
VALOR ECONÔMICO - 12/08/11
"Quis sinalizar para o mercado que o mundo real está pegando fogo". O empresário Eike Batista explicava à repórter Marina Falcão, do Valor, as razões por que, face a perdas bilionárias dos papéis de suas empresas na bolsa, resolvera dar um aumento salarial de 8,5% a seus funcionários.

O empresário enxerga uma janela de oportunidades para o Brasil em mais essa leva de inquietações nas finanças mundiais. Acha ridículo o risco da dívida de um país que imprime a moeda mundial - "Não vai faltar tinta nem papel" - e diz que vai sobrar no mundo a mão-de-obra qualificada de que falta ao Brasil.

Eventuais percalços parecem embutidos no preço. O empresário já foi vítima da mesma Polícia Federal que agora acossa pemedebistas e petistas.

As empresas de Eike, cujos papeis caíram na bolsa, ainda são o que o mercado chama de pré-operacionais - ativos que, por estarem em fase de maturação, não geram os dividendos que se buscam em momentos de crise.

O mundo real está pegando fogo e ninguém viu

Aos sete meses de vida, o governo Dilma Rousseff também está em maturação. A turbulência envolvendo o quarto ministério do governo só deixa entrever a gritaria de quem quer realizar de imediato. E esconde a janela de oportunidades aberta a quem estiver aliado ao seu projeto de poder.

O apelo oficial não poderia ser outro senão o de cautela para que o Congresso barre projetos de impacto fiscal como a PEC 300, que aumenta salários de policiais. Dilma não pode descumprir a lei que manda aumentar o salário mínimo em mais de 13% em 2012 sob o risco de ver as centrais sindicais, já em litígio com o governo, declararem guerra de uma vez por todas. Daí a sua determinação em segurar um funcionalismo que teve ganhos expressivos no governo anterior.

O outro lado do discurso oficial, encoberto pelo medo das algemas, é que as autoridades econômicas se declaram convencidas da possibilidade aberta ao Brasil pela crise para a inversão na curva dos juros, em elevação desde a posse de Dilma.

Some-se a isso a determinação de maior controle sobre o mercado, traduzido pela medida provisória que lança mão do IOF contra o capital especulativo e amplia a regulação dos derivativos, a política industrial e o incentivo fiscal para micro e pequenas empresas de onde se avalia que venha parte expressiva dos emergentes da classe média.

Este governo, que tem ainda um Orçamento bilionário para obras da Copa do Mundo e da Olimpíada - com centenas de milhares de fornecedores para todos os tipos, gostos e candidatos - será posto em xeque por um punhado de apaniguados? A ameaça de CPI só prospera se os aliados se convencerem da improvável possibilidade de um governo nas cordas lhe oferecer vantagens comparativas maiores.

Os brasileiros da nova classe média, nomeclatura oficial que ignora as favelas de esgoto a céu aberto cheias de famílias com renda mensal de mais de R$ 1 mil, diriam que o momento está a tirar dos aliados políticos deste governo aneis - de bijuteria - e a deixar os dedos, além de intactos, capazes de agarrar as muitas oportunidades à sua frente.

Está claro que se a investida contra a corrupção seguir desembestada justiçando a ferro e fogo a imoralidade pública, mandato eletivo algum - a começar da Presidência da República - estará a salvo.

Na semana passada, a Controladoria Geral da União divulgou um recorde à la Caged. De janeiro a julho foram expulsos 328 servidores públicos federais por envolvimento em irregularidades. É um número recorde se comparado com o mesmo período de qualquer outro ano a partir de 2003.

Os motivos das expulsões, pela ordem de ocorrência, foram valimento do cargo para obtenção de vantagens, improbidade administrativa e recebimento de propina. No mesmo período, a Polícia Federal prendeu 392 corruptores, entre empresários, intermediários e laranjas, por desvio de verba pública, aliciamento de servidores e favorecimento em licitação.

A menor leniência de Dilma com a corrupção é uma estratégia medida e pesada. Tanto serve à depuração de uma aliança política que chega a extraordinários 400 deputados quanto à formatação de uma base de apoio numa sociedade em que, ao contrário dos Estados Unidos em crise, as novas gerações têm mais anos de escolaridade que seus pais e avós.

É fato que, se até o encantador de multidões Luiz Inácio Lula da Silva chegou a temer pelo seu mandato no auge do mensalão, Dilma não há de desprezar o risco de atear fogo às próprias vestes se a estratégia de afirmação da identidade de seu governo não for bem conduzida.

Os juros podem baixar e o país virar um canteiro de obras, mas o que sua base aliada tem de mais imediato pela frente são as eleições municipais. A disputa é o mundo real da política de meio de mandato. É por meio dela que deputados e senadores renovam as perspectivas de sua carreira. A votação de projetos de interesse do governo não deveria ser excludente em relação à missão de acompanhar a movimentação partidária de alianças e acordos com vistas à disputa de 2012. Não será a liberação das emendas parlamentares, essenciais aos projetos políticos em disputa no próximo ano, que vai comprometer o esforço fiscal do governo.

PMDB e PT estão metidos numa disputa encarniçada pela montagem desses palanques municipais. Lula mandou recentemente o recado de que os aliados terão que se entender se quiserem tê-lo no palanque. Mas é a nova ocupante do Planalto a quem, além de tomar gosto pela coisa, cabe incumbir suas lideranças de desmontar os conflitos mais potencialmente destrutivos desta disputa.

O mensalão nasceu na montagem da primeira campanha municipal da era Lula. Dilma tem todas as condições para evitar que crises semelhantes se avolumem. Mas tanto as lideranças da base de governo, que desprezam as oportunidades abertas pela conjuntura do Brasil na crise, quanto os gabinetes do Palácio do Planalto, que ignora as vicissitudes do calendário eleitoral, precisam dar ouvidos a Eike Batista quando ele diz que o mundo real está pegando fogo.

ILIMAR FRANCO - A rebelião


A rebelião 
ILIMAR FRANCO
O GLOBO - 12/08/11

A ministra Ideli Salvatti (Relações Institucionais) pediu às ministras Miriam Belchior (Planejamento) e Gleisi Hoffmann (Casa Civil) um cronograma, até terça-feira, de liberação das emendas parlamentares de 2011. A avaliação é que, se em 15 dias parte dessas emendas não for empenhada, a situação vai ficar crítica. A base aliada também reclama que ainda não saíram nomeações de segundo escalão, como para a Sudene, a Chesf e a Codevasf.

Com as barbas de molho

Os governadores, sobretudo os dos estados mais pobres, vivem momentos de tensão com a evolução da crise internacional. Eles esperam o pior e acreditam num aprofundamento da instabilidade. No que se refere às finanças estaduais, estão preocupados com
desonerações concedidas pelo governo Dilma para estimular o consumo interno. Isso levará a uma redução da arrecadação do IPI e do ICMS, e também dos repasses do Fundo de Participação dos Estados. Eles temem ainda que, quando a crise bater no país, o contingenciamento de R$ 50 bi do Orçamento da União vire corte, afetando recursos para estados e municípios.

"Vamos entrar no Cade. Estamos sofrendo concorrência desleal” — Marcus Pestana, deputado federal (PSDB-MG), sobre a obstrução dos governistas

ISONOMIA. Do senador Roberto Requião (PMDB-PR), foto à esquerda, para o senador Blairo Maggi (PR-MT), à direita, depois das prisões efetuadas pela Polícia Federal no Ministério do Turismo: “Você ainda quer tratamento igual ou não mais?” Com o afastamento do PR do Ministério dos Transportes, Maggi vinha cobrando do governo o mesmo tratamento para todos os aliados atingidos por denúncias de corrupção, principalmente o PMDB.

Na pressão

O líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE), retirou seu apoio ao pedido de urgência para a votação do projeto dos royalties do petróleo. “O senador Lindbergh me alertou que a gente não fechou posição na bancada”, explicou o líder.

Derrubar o veto
O presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), está sendo pressionado por 20 governadores a colocar em votação, até 15 de setembro, o veto do ex-presidente Lula à emenda Ibsen Pinheiro, sobre a partilha dos royalties do petróleo.

Quem tem emenda tem medo

A rebelião da base aliada na Câmara, segundo avaliação dominante no Palácio do Planalto, está relacionada à insegurança criada pela operação da Polícia Federal no Ministério do Turismo. Os deputados, por orientação dos sucessivos ministros da pasta, apresentam muitas emendas para inflar o seu Orçamento. A Operação Voucher investigou apenas uma emenda, a da deputada Fátima Pelaes (PMDB-AP).

Cena
Diante de policiais e bombeiros, Anthony Garotinho (PRRJ) pressionava pela votação da PEC 300 quando o presidenteda Câmara, Marco Maia (PTRS), irritou-se: “Por que você não deu um salário maior para eles quando era governador?”

A opção
O ex-senador Albano Franco (SE) está sendo saído do PSDB. Os tucanos vão entregar o partido para o grupo do exgovernador João Alves (DEM), que será candidato a prefeito de Aracaju. Alves foi denunciado na Operação Navalha.

 O SENADOR Pedro Simon (PMDB-RS) criticou a obstrução às votações liderada pelo PMDB da Câmara: “Para a opinião pública, a presidente é a heroína que está querendo moralizar, enquanto os partidos não estão deixando.”
 INTERPRETAÇÃO do governo Dilma da pesquisa Ibope/CNI: “Os números são bons. O Ibope se alinhou ao Datafolha. Não há nenhuma comoção.”
● O SENADO retoma o debate do Código Florestal semana que vem. Na terça-feira, três comissões vão ouvir o relator da Câmara, Aldo Rebelo (PCdoB-SP).

ROBERT B. REICH - Standard &Poor"s não tem o direito de rebaixar os EUA


Standard &Poor"s não tem o direito de rebaixar os EUA
ROBERT B. REICH
O ESTADÃO - 12/08/11
Se a agência tivesse feito seu trabalho para evitar a crise, o déficit orçamentário seria bem menor e a dívida do país não pareceria tão ameaçadora

O rebaixamento feito pela Standard & Poor"s da dívida dos Estados Unidos não poderia ocorrer num momento pior. E, como resultado, os custos de tomadas de empréstimo pelo governo crescerão em todos os níveis, os juros sobre hipotecas com taxas variáveis de juros vão aumentar , assim como os empréstimos para compra de carro, os juros sobre o cartão de crédito e qualquer outro centavo que você tomar emprestado.

Por que a S&P adotou essa medida? Não foi porque os Estados Unidos deixaram de pagar seus credores no prazo. Como você deve ter visto, evitamos um calote. Também não foi porque poderemos deixar de pagar nossas contas do fim de 2012, caso os republicanos do Tea Party novamente fizerem o país de refém quando seus votos forem necessários para elevar o teto da dívida.

Esta é uma preocupação legítima e poderia ser uma razão para rebaixar a nota, mas não foi este o raciocínio da agência de classificação. A Standard & Poor"s decidiu rebaixar a nota porque não acredita que estamos num caminho de reduzir o endividamento do país que ela considera satisfatório - e não vamos fazer isso da maneira que ela prefere.

Esta foi a alegação da agência: "O rebaixamento reflete nossa opinião de que o plano de consolidação fiscal que o Congresso e o governo aprovaram recentemente não bastará para estabilizar a dinâmica da dívida de médio prazo do governo". A agência também responsabiliza o que considera um enfraquecimento da "eficácia, estabilidade e previsibilidade" das instituições políticas e dos responsáveis pelo governo.

Desculpe perguntar, mas quem deu à S&P autoridade para dizer quanto e como o país deve reduzir a sua dívida? Se pagamos nossas contas, nossa nota de crédito é boa. Caso contrário, a nota é ruim. Quando, como e o montante que deixamos de pagar, ou mais exatamente a relação entre a dívida e o Produto Interno Bruto (PIB) não interessa à S&P.

A intromissão da agência na política dos Estados Unidos é irônica porque grande parte do nosso endividamento hoje está ligada ao fato de a própria S&P (junto com outras duas grandes agências, a Fitch e a Moody"s) não ter cumprido seu dever antes do colapso financeiro. Até as vésperas da crise de 2008, a S&P deu um triplo A a alguns dos mais arriscados pacotes de títulos lastreados por hipotecas e obrigações de dívida respaldadas por colaterais, em Wall Street.

Tivesse a agência feito o seu trabalho e advertido os investidores do grande risco que Wall Street estava assumindo, as bolhas imobiliária e de endividamento não teriam inflado tanto - e suas explosões não teriam derrubado a economia como ocorreu.

Você, eu e outros contribuintes, não precisaríamos socorrer Wall Street; milhões de americanos estariam trabalhando em vez de depender do seguro-desemprego; o governo não precisaria ter implementado programas de estímulo maciços, para injetar recursos na economia e salvar milhões de empregados; e o Tesouro contabilizaria uma arrecadação fiscal muito maior, com impostos pagos por indivíduos e empresas em situação muito melhor que hoje.

Em outras palavras: tivesse a S&P feito o seu trabalho na última década, o déficit orçamentário seria bem menor e a dívida futura do país não pareceria tão ameaçadora. E agora ela também não está fazendo o trabalho que lhe compete. E de novo pagaremos um alto preço por sua negligência.

TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO

EDITORIAL - O ESTADO DE SÃO PAULO - No limiar do descontrole


No limiar do descontrole
EDITORIAL 
 O ESTADO DE SÃO PAULO - 12/08/11
A sucessão de escândalos de corrupção no governo federal parece estar levando a presidente Dilma Rousseff ao limiar do descontrole. Segundo o noticiário de ontem, ao tomar conhecimento da prisão, pela Polícia Federal (PF), dos envolvidos na Operação Voucher, que apura irregularidades no Ministério do Turismo, Dilma demonstrou "grande irritação". De acordo com fontes palacianas, classificou de "acinte" o fato de os detidos terem sido algemados, reclamou "furiosa" por estar sendo a toda hora surpreendida por operações da PF que lhe criam problemas políticos e cobrou satisfações do ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, a quem a PF é subordinada.

É fácil entender que a chefe de governo perca a paciência ao se dar conta das proporções em que o aparelho estatal que herdou está contaminado pelo fisiologismo que seu antecessor institucionalizou. É igualmente compreensível sua aflição diante da grave ameaça que a denúncia e a repressão dos arrastões nos ministérios representam para a estabilidade da base de sustentação de seu governo. Afinal, hoje está mais do que evidente que o que manteve em pé essa construção, meticulosamente edificada ao longo de oito anos, foi a tolerância com os gambás introduzidos nos galinheiros.

Mas a ênfase com que a presidente passou a manifestar sua contrariedade com esses espetáculos pode dar margem à interpretação de que está tomando as dores dos denunciados, em vez de manter a atitude de isenção e respeito ao funcionamento das instituições que sua alta investidura exige. À chefe do governo não cabe "enquadrar" a PF, como têm sugerido, ou mesmo exigido, colaboradores e aliados. A polícia existe para investigar delitos e reprimir a ação de criminosos, colocando-os à disposição da Justiça. E deve agir de acordo com normas de procedimento que, se infringidas, sujeitam os responsáveis pelas infringências, por sua vez, a investigação, julgamento e, se for o caso, punições cabíveis. Não cabe, portanto, a altas autoridades palacianas, classificar de "exageradas" ou "atabalhoadas" as ações da PF que lhes criam problemas políticos. Nem ao líder do governo na Câmara, Cândido Vaccarezza, declarar que "houve abuso de poder do Judiciário e do Ministério Público".

Até agora a presidente Dilma Rousseff vinha se comportando publicamente com exemplar sobriedade diante das repetidas denúncias de corrupção, apoiando a necessária "faxina" nos setores da administração comprometidos com a bandalheira. E essa atitude tem sido respaldada pela opinião pública, como demonstram as pesquisas. Mas a sua reação diante do mais recente capítulo de uma sucessão de escândalos como nunca se viu antes na história deste país, parece revelar que se está tornando irresistível a pressão daqueles que, tanto no governo como na base aliada, não admitem senão a maneira lulopetista de governar.

Pressionada por todos os lados e preocupada, principalmente, com o tensionamento das relações entre governo e PT, de um lado, e PMDB, do outro, Dilma recorreu a quem entende do assunto para se aconselhar. Em reunião com Lula em São Paulo, na terça-feira, foi orientada a "repactuar" a aliança com o maior partido da base aliada, cujos interesses estão sendo afetados pelos escândalos nos Ministérios da Agricultura e do Turismo. Resta saber o que Lula entende por "repactuar".

Depois da porteira arrombada, parece impossível conter a catadupa de denúncias na mídia e as ações policiais contra o arrastão na administração pública, em especial na federal. É uma simples questão de se colher o que foi plantado durante oito anos. Trata-se, é claro, de uma lavoura que não foi inventada por Lula e pelo PT, que na verdade criaram fama denunciando pragas. O lulopetismo apenas aperfeiçoou métodos de semeadura e colheita. E o PMDB é o segundo maior beneficiário de toda essa criatividade. Na hora em que esses benefícios se transformam em constrangimento, "repactuar" a aliança parece significar a promessa do impossível ao parceiro: acabar com as denúncias e com as operações policiais e com a repercussão de tudo isso na mídia.

Dá para entender, portanto, a irritação da presidente. E lamentar que ela esteja dirigida na direção errada.

WASHINGTON NOVAES - Na mesa do Planalto, questões inquietantes


Na mesa do Planalto, questões inquietantes
WASHINGTON NOVAES
O Estado de S.Paulo - 12/08/11

Começa a aglomerar-se sobre a mesa da Presidência da República um complexo de problemas e equações econômicas, políticas e estratégicas - em muitos casos, contraditórias entre elas - de dificílima solução. E que lançam muitas perguntas sobre o futuro próximo e até de prazo maior.

O primeiro ponto parece estar na dificuldade de manter a aliança político-partidária que tem assegurado a permanência do esquema de poder do partido majoritário e o "aparelhamento" que o acompanha. Desde a campanha presidencial de 2002 - quando entendeu a ameaça que representava para sua candidatura a insatisfação dos setores e instituições internos e externos descontentes com as propostas de política econômica - a coalizão partidária liderada pelo PT definiu uma estratégia de política econômica da qual viria a ser o garantidor o ex-ministro Antônio Palocci. No quadro institucional interno, consolidou-se uma aliança multipartidária, com a repartição dos cargos de mais alto nível. E tudo isso permitiu levar adiante o barco durante oito anos.

Mas agora surgem muitos complicadores. O primeiro é a necessidade de "expurgar" o governo de aliados - ou até mesmo de membros exponenciais do partido dominante, como Palocci - por causa das acusações de improbidade. Como fazer isso sem romper alianças? Tem-se recorrido muito à mediação do ex-presidente - mas aí se esbarra em outra questão: como manter a imagem de uma presidente com pensamento, voz e ação próprios, ainda mais no quadro político brasileiro, em que a regra costuma ser a ruptura entre o eleito (em busca de autonomia e imagem próprias) e aquele que o escolheu para lhe suceder? Nesse quadro de difícil equilíbrio, como manter a maioria no Legislativo e assegurar a predominância política?

Tudo isso ocorre numa conjuntura político-econômica internacional que complica todo o panorama. As questões colocadas pela crise financeira global configuram outra equação inquietante. Reduzem-se impostos para assegurar a manutenção dos mercados interno e externo a vários setores (automobilístico, têxtil, calçados, móveis, etc.). E imediatamente saltam sobre a mesa muitas perguntas: vai-se continuar estimulando o transporte individual, em detrimento do coletivo, com todos os problemas e contradições que isso implica? E ainda sabendo que de janeiro a julho já foram vendidos 2,017 milhões de veículos e que 457,3 mil deles foram importados? Vai-se estimular mais poluição do ar (e mais problemas de saúde), mais adensamento do trânsito nas grandes cidades, mais necessidade de investimentos em infraestruturas viárias? Vai-se abrir mão de parcela importante da arrecadação de impostos no momento em que setores vitais como saúde, educação e ciência vivem à míngua? Vão-se dar mais argumentos a países, principalmente europeus, que veem nessas políticas subsídios a exportações brasileiras (de produtos industrializados e commodities agrícolas), vedados por convênios internacionais? Vai-se dar corda aos já presentes defensores de "cortes na Previdência" - sem cortar onde é preciso, e sim nos proventos de aposentados do setor privado? E que se fará com a política de juros, que, por manter a mais alta taxa real no mundo, transforma o País em refúgio de aplicações financeiras especulativas externas, com consequências complicadas no câmbio, na inflação, em tudo?

Mais ainda: e tudo se fará sem mexer realmente em nós fundamentais do comércio internacional, sem criar na proporção indispensável estímulos para a inovação, já que só 4,2% das empresas que inovam conseguem apoio público (Glauco Arbix e João Alberto Negri, Folha de S.Paulo, 4/8)? E sem benefícios diretos para o consumidor interno, pois mesmo com as isenções de impostos adotadas os preços por aqui não serão atingidos. E até montadoras de outros países se preparam para se virem beneficiar das novas condições internas.

Talvez, entretanto, o mais grave seja perceber que nesta hora grave não se percebem movimentos em direção a estratégias consentâneas com a conjuntura mundial. Já não há como fazer de conta que a crise não tem nada que ver com o "descolamento" entre os mercados financeiros e a realidade concreta. Pouco a pouco, muitos analistas vão chegando à questão central: como manter equilíbrio, se a movimentação nos mercados financeiros chega a US$ 600 trilhões e o produto mundial está em torno de US$ 62 bilhões, um décimo daquele valor? Que garantias reais podem ter os papéis? Que fazer quando, em determinado momento, o equilíbrio aparente se rompe - como foi o caso de hipotecas de imóveis nos Estados Unidos, com suposto valor de mercado muitas vezes acima das garantias reais - e começa a arrastar para o despenhadeiro papel atrás de papel, país atrás de país?

Nesta hora, um país como o Brasil, com a relativa abundância de fatores concretos - território, recursos hídricos, biodiversidade, possibilidade de matriz energética renovável e "limpa" -, detém enorme vantagem comparativa, que, cedo ou tarde, pesará fortemente no quadro mundial. Mas neste mesmo momento se vê que o próprio Ministério de Minas e Energia tem de intervir para anular decisão da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) de reduzir a meta de produção de energia renovável no País (Folha de S.Paulo, 4/8). Era um órgão da própria cúpula caminhando contra o bom senso.

Tão grave quanto é tomar conhecimento de que o desmatamento na Amazônia continua a crescer e não ficará, neste novo período, em números menores que o dos 12 meses anteriores - e isso significa aumento das emissões brasileiras de gases que prejudicam o clima, pois desmatamento, queimadas e mudanças no uso do solo significam quase 60% das nossas emissões totais (e estamos entre os cinco maiores emissores do planeta).

O quadro sobre a mesa presidencial é muito inquietante. Resta ver que desdobramentos terá.

SONIA RACY - DIRETO DA FONTE


Hora do adeus
SONIA RACY
O ESTADÃO - 12/08/11

Analice Pereira, número um do Ibama em São Paulo, foi exonerada do cargo segunda-feira. Colegas contam que ela sequer chegou a se despedir. Depois de oito anos na casa, a irmã de Silvinho Pereira, do PT, pediu para sair. Ela é acusada de irregularidades pelo Ministério Público Federal.

Parte dos servidores organiza, hoje, festa para comemorar a saída da ex-chefe.

Hora 2

Murilo Reple Penteado Rocha assume o cargo.

Chinese way

Membro do alto escalão da Comunidade Econômica Europeia relatou, a um banqueiro brasileiro, premonitória conversa em 2008 com integrante do governo chinês. O oriental perguntou por que os europeus não se preocupavam com suas crianças. O belga estranhou, e o chinês completou: "Vocês estão deixando uma dívida enorme para elas administrarem!".

Tinha razão. A crise do Lehman Brothers foi bancária, e os governos evitaram uma ruptura naquele instante.

Agora ela voltou, sua natureza é de dívida pública, e a "caixa de ferramentas" está vazia.

Na carne

Dentre as medidas tomadas por países da CE esta semana, a que mais chamou a atenção foi o corte feito pela Espanha. Eliminou compras de 2,5 bilhões de euros em medicamentos distribuídos pela rede pública. Algo como 30% do adquirido anualmente.

Novos tempos

Carla Bruni, que tem um pé em terra brasilis, deve ter reparado. O risco país da França está encostando no do Brasil.

Tempos 2

A Umes fez ontem passeata na Av. Paulista. Não, não foi contra a corrupção, mas contra a... taxa de juros.

Tour de force

Tunga, Waltercio Caldas e Tomie Ohtake aceitaram gravar depoimento sobre o papel da Bienal em suas vidas, conta Heitor Martins. Quem for ao jantar de arrecadação, pagando R$ 5 mil para tanto, assistirá ao vídeo. Mais precisamente, dia 20 de setembro, no Pavilhão do Ibirapuera.


Caro? Diferentemente do ano passado, o importante evento internacional não terá, nesta edição, apoio do governo Dilma.

Force 2

Contará com recursos do governo do Estado? Segundo Andrea Matarazzo, a Secretaria Estadual de Cultura está estudando.

A Prefeitura já contribui.

Workaholic

Prince, que se apresentará no festival carioca Back2Black em fins de agosto, ocupará suíte presidencial do Copacabana Palace.

Mas o que chamou a atenção mesmo foi um pedido do cantor: dois pianos de cauda, que dividirão o quarto com ele durante os três dias de hospedagem.

Coruja

Flávio Goldman - um dos quatro filhos artistas de Deuzeni e Alberto - se apresenta, durante o fim de semana, no Teatro Décio de Almeida Prado.

A mãe do músico o classifica como "um mix de Chico, Caetano, Almir Sater, Milton Nascimento e Egberto Gismonti".

No tom

Foi cancelado o cancelamento.

Julio Medaglia, o maestro, volta à Radio Cultura em novo programa a partir do dia 29. Moldado para o público que enfrenta o trânsito da cidade.

Na frente

Aristides Junqueira, Gilmar Mendes, Marcílio Marques Moreira, Paul Singer e Renato Janine Ribeiro autografam o livro Cultura das Transgressões no Brasil - Cenários do Amanhã. Dia 18, no MAM. Publicação do iFHC e ETCO.

Ricardo Marino, do Itaú, recebe hoje, em Buenos Aires, o prêmio "Referência da Humanidade".

Políticos e artistas se reúnem hoje para apoiar peça, que estreia em outubro, sobre Valéria Polizzi e o HIV. No Rubaiyat da Alameda Santos.

Shoko Suzuki, Kenichi Kaneko e Cecilia Braun abrem mostra de arte no Centro Britânico. Em prol da Casa de Apoio da Granja Viana. Hoje.

O Best Photo 2011, prêmio de fotografia do Banco Espírito Santo, acontece dia 20. Na Estação Pinacoteca.

Dr. Régis de Oliveira lança Homossexualidade: uma Visão Mitológica, Religiosa, Filosófica e Jurídica. Na Cultura do Conjunto Nacional, quarta-feira.

Constatado: a CNBC - braço especializado no mercado de ações da TV americana NBC - não conseguiu dar uma dentro desde o início da nova crise.

IGNÁCIO DE LOYOLA BRANDÃO - Olho dez vezes antes de pisar na faixa


Olho dez vezes antes de pisar na faixa
IGNÁCIO DE LOYOLA BRANDÃO
O Estado de S.Paulo - 12/08/11

Agora, a lei manda punir quem desrespeita o pedestre. Como vão fazer? Contratar um funcionário para ficar vigiando cada faixa? Quantas faixas têm na cidade? Quando tem. Nos bairros ditos classe média e ricos, elas existem. Algumas bem apagadas, mas se vê que é uma zebra deitada no chão, conforme um amigo caipira me disse. Se tem coisa que marronzinho sabe fazer é ficar à espreita, bloco na mão. Orientar o trânsito, nem pensar. Bloco na mão e tome o lápis. Vão ter orgasmos junto às faixas para pedestres.

O marronzinho chega:

- O senhor está em cima da faixa.

- Não estou não.

- Claro, estou vendo o pneu sobre o branco.

- Brequei. Mas entre apertar o pedal e o carro responder, andei alguns centímetros. E olhe bem, o pneu não está nem dois centímetros sobre a faixa.

- Vamos conferir.

O multador tira do bolso uma trena especial, criada pelo instituto de pesos e medidas, para verificar o quanto pneu invadiu a faixa. Mede, e sorri.

- O senhor está sobre a faixa. Veja aqui, 3, 03 centímetros, Ou seja 0,3 centímetros além do permitido.

Apanha o bloco, anota a infração. O sujeito vai receber depois em sua casa. Não se sabe se há possibilidade de recorrer. A trena de medir pneu sobre a faixa possui uma câmera, como um celular, desenvolvida especialmente para o departamento de trânsito. Ela é implacável, como os radares da cidade e das estradas. Não dirijo, mas viajo muito, indo ao interior para palestras, ou percorrendo a cidade em táxis, caronas e etcs. e nunca vi tanto radar na vida. Somos seguidos o tempo inteiro, filmados, grampeados, microfilmados, vigiados. Aliás, nunca vi ninguém ganhar ao recorrer a uma multa de trânsito.

Bem, o assunto são os direitos dos pedestres. Parece-me, ouvi dizer, não garanto, neste caso sou como um vereador deputado ou ministro, eles também nunca garantem nada. Como o Mercadante que é o pior, diz e desdiz na mesma hora. Jamais confie num Mercadante. Fujo ao assunto. Ouvi dizer que para essa questão de invadir ou não a faixa, serão contratados como consultores juízes de futebol, de vôlei e de tênis. Eles têm o olhar agudo para saber se a bola ultrapassou a linha, bateu sobre ela ou saiu milímetros fora. Assim, tais juízes poderão ganhar um extra, conferindo se o pneu está ou não sobre a faixa.

Neste caso, o melhor será não tirar o carro do lugar, até que o "juiz de linha" chegue. Sabemos que coisas oficiais demoram. Chamado, o juiz de linha tanto pode vir dentro de numa hora, ou seis, ou demorar um dia, talvez dois, no caso de estarem apitando jogos fora da cidade. Vai ser um congestionamento só. Imagino o Carlos Tramontina anunciando na SPTV: "Os congestionamentos hoje, por causa dos pneus sobre as faixas, chegaram a mil quilômetros".

Nesse meio tempo, o departamento de trânsito (sei, sei, chama-se CET) vai abrir uma escolinha para formar juízes de linha. Logo haverá um tribunal de pequenas e grandes causas. As grandes para julgar se ônibus, jamantas, caminhões estão sobre a faixa. Logo haverá faculdades e quando há faculdades, serão abertos cursinhos, com Enem e tudo. Assim chegaremos ao infinito. No fundo, minha gente, essa questão pedestre-motorista só pode ser resolvida com uma medida: educação. Para o pedestre e para o motorista. Só que sou um pessimista. Mas educação esse povo jamais terá com o governo e o ensino que aí estão. Multas sobre as faixas? Ora, se nem os carrões que estão matando pessoas sofrem sanções. Quanto a mim, pedestre, vou continuar olhando dez vezes antes de atrasar a faixa, não sou bobo, não!

A maratona do Paladar. Envergando um dólmã de chef fui falar na maratona, que o Paladar promoveu no hotel Hyatt, e adorei percorrer salas e salas, corredores, ver panelas, garrafas de vinho, chefs graduados. A primeira pessoa com quem dei de cara foi Janaina Rueda do Dona Onça, onde como habitualmente um perfumado picadinho à antiga. Ao lado de companheiros não especializados, Luis Fernando Verissimo, Fernando Gabeira e Humberto Werneck, nos divertimos e falamos sobre o que nos deu na cabeça em matéria de comer. Acho que o público gostou, nossas salas estiveram lotadas. E, vejam só, ontem, recebi em casa uma caixa de ovos caipiras, amarelos, densos, que eu disse serem tão difíceis hoje, Maria Luisa Santarini Moreira Porto trouxe pessoalmente. Junto um velho volume dos Contos de Fadas editados nos anos 40 pela Vecchi que fizeram minha cabeça na infância; e ainda fazem.

MIRANDA SÁ - TURISMO NO BRASIL É O “GRAND TOUR” DA CORRUPÇÃO


TURISMO NO BRASIL É O “GRAND TOUR” DA CORRUPÇÃO
MIRANDA SÁ (E-mail: mirandasa@uol.com.br)


Antes dos finalmente, achei interessante ver o conceito de turismo no mundo e sua distorção no Brasil, onde se criou um ministério específico para dar empregos e para facilitar a roubalheira dos profissionais da corrupção.

Dizem que é complicado definir o turismo, mas é puro esnobismo, porque turismo nada mais é do que viajar buscando paisagens estranhas, conhecendo coisas novas e contatando pessoas de costumes diferentes. A História registra que surgiu na Inglaterra colonialista o ciclo de viagens pelo império vitoriano, onde o sol nunca se punha.

Jovens ingleses ricos saiam pelo mundo designando isto de “Grand Tour”, ficando conhecidos como “touristes”, termo mais tarde consagrado na literatura por Stendhal nas suas “Mèmoires d’un Touriste”.

No Brasil o turismo não teve esta semelhança. Começou com a vinda dos degredados, a migração forçada dos negros e com os indígenas perseguidos em fuga do litoral. Deve ter sido penoso, pois a concepção de turismo que nos foi transmitida não é lazer, ou aventura, mas fuga, saque ou busca predatória.

Nos tempos atuais, do Ministério do Turismo, os turistas perambulam e se locupletam na administração pública. Ganham cargos por apadrinhamento espúrio e praticam fraudes, como se viu agora rastreadas desde o governo do “ex” Lula da Silva, marcado pela tatuagem comprometedora das máfias,

Na Era Lula levou-se ao apogeu a infame tradição patrimonialista da mescla dos interesses privados com o tesouro nacional. De lá para cá, assiste-se que não é apenas num órgão governamental que avaliza práticas fraudulentas, como no Turismo, onde um dos seus chefes, o secretário-geral do Turismo, Frederico Silva Costa, orientava empresários a montarem firmas de fachada para assinar convênios lesivos ao Erário.

O Turismo ficou visível recentemente, com prisões de ocupantes de segundo e terceiro escalões, inclusive o número 2 desta secretaria de Estado. Na Operação Voucher, da Polícia Federal e Ministério Público, ficaram escancaradas rotinas contrárias às leis e à Justiça.

Lá, se desvendou também que os tentáculos da corrupção e da astúcia alcançavam vários organismos do aparelho estatal, inclusive o Tribunal de Contas da União, através do filho de um ministro, contratado para antecipar informações sobre processos que tramitavam na Corte.

Uma das gravações feitas pela PF registra como esse escritório de advocacia agia para defender a quadrilha. Um sócio de Tiago Cedraz, o filho do ministro, diz a um interlocutor que “Quanto ao tribunal, sabemos tudo o que se passa”.

O capítulo que transcorremos não pontual. Percorre uma esteira de malfeitos na Casa Civil, Transportes, Agricultura, no interior e nas ramificações desses órgãos administrativos.

Incrível, não é? Mas o pior é que desacatando a opinião pública que condena as deformações, desvios, favorecimentos, propinas e traficâncias, é a própria presidente da República e os ministros “da casa”, saírem em defesa dos executores das contravenções, delitos e crimes praticados contra o Erário.

Os ocupantes do poder chegaram ao extremo restringir à Polícia Federal as investigações do itinerário dos escândalos, desautorizando-as e condenando-as.

Defensores do PT-governo seguem o roteiro oficial de inocentar as quadrilhas que atuam nos serviços públicos. Além do comprometido “ex” Lula, o ministro da Justiça se mostrou aborrecido e descontente com a ação de “sua” polícia. Ambos consideraram a devassa inexplicável, as detenções precipitadas e o uso de algemas condenável.

As figuras secundárias, sabujos ministeriais, também se pronunciaram contra a Operação Voucher, por cumplicidade, como fazem no Congresso os 300 picaretas, enquanto os “ideólogos da bandidagem” fazem eco à condenação da varredura dos corruptos.

Argumentam que uma Operação Mãos Limpas no Brasil ameaçaria a governabilidade fazendo em pedaços o arrimo da Presidência, sem ver que isto já ocorre, com a descaracterização dos valores morais pela ambição e a manutenção do poder pelo poder.

MÔNICA BERGAMO - JOGO EMPATADO


JOGO EMPATADO
MÔNICA BERGAMO
FOLHA DE SP - 12/08/11

O governo está endurecendo nas negociações com a Fifa para a realização da Copa de 2014. A entidade tem feito pedidos considerados "absurdos" pela equipe da presidente Dilma Rousseff, que não está disposta a atendê-los. Um dos últimos: os cartolas querem que a União se responsabilize por qualquer dano sofrido pela federação, seus dirigentes, convidados e instalações durante o evento. Um acidente, por exemplo, teria que ser indenizado pelo governo, que depois cobraria a conta dos terceiros responsáveis pelo incidente.

PÉ NO CHÃO
"O céu é o limite para eles", diz assessor direto de Dilma. "Mas nós consideramos que, se a Copa será boa para o Brasil, será boa também para a Fifa. Tem que ser um jogo de 'ganha-ganha', e não algo em que só eles levem a melhor." Dilma estaria decidida a não deixar que a Fifa imponha aqui condições exageradas, como teria feito à África do Sul. A queda de braço tem sido "constante", nas palavras do mesmo assessor.

O GATO SUMIU
E Ricardo Teixeira, presidente da CBF, continua em baixa no Planalto. A assessoria da entidade não foi encontrada para comentar as negociações com o governo nem o distanciamento do cartola do núcleo de poder.

EU VOLTEI
O senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP) circula de novo como pré-candidato a prefeito de SP. Voltou a falar sobre a possibilidade com mais de um interlocutor. Como José Serra resiste à candidatura, ele seria novamente opção para o tucanato.

FUMAÇA
Mais do que uma disputa partidária, o governo aponta sinais de questões corporativas da própria Polícia Federal na Operação Voucher, que prendeu 36 pessoas ligadas ao Ministério do Turismo. Ainda que admitindo que as irregularidades existam, integrantes do governo acham que os policiais estariam esticando a corda para mostrar a insatisfação com seus salários.

PERGUNTAS
O promotor Airton Grazzioli, curador de fundações de São Paulo, enviou um ofício à família Nemirovsky questionando oficialmente a escolha do ex-ministro José Dirceu como patrono da coleção que leva o nome da família e que é um dos mais importantes acervos modernistas do país. Grazzioli também indicou o nome de Marcelo Araújo, diretor da Pinacoteca do Estado, para presidir a Fundação Nemirovsky no lugar do advogado Arnoldo Wald, que renunciou recentemente ao cargo.

RESPOSTAS
A indicação de Marcelo Araújo é um sinal de que o promotor Airton Grazzioli pretende aproximar a Fundação Nemirovsky do governo de São Paulo.

E que não aceita a ideia de que as obras deixem a Estação Pinacoteca para um museu, como quer José Dirceu.

INIMIGOS ÍNTIMOS
A RedeTV! vai ter que pagar indenização de R$ 150 mil por danos morais ao motorista Marcelo Alves de Melo. Há oito anos, ele foi convidado para participar do programa de João Kléber e teve que responder a uma declaração de sua ex-mulher de que usava calcinha para fazer sexo. A emissora não quis se pronunciar.

DIA DO FICO
O presidente do Santos, Luis Alvaro de Oliveira Ribeiro, não descarta disputar a reeleição, no final do ano. "Se eu sentir que nosso projeto está em risco, posso concorrer." Caso não dispute, deverá apoiar seu vice, Odílio Rodrigues Filho.

TORCIDA DE MESTRE
O cineasta italiano Bernardo Bertolucci assistiu ao filme brasileiro "Meu País", de André Ristum, em sua casa, em Roma. Bertolucci disse que gostou muito e que torce por Ristum, seu assistente em "Beleza Roubada".

OLHA O PASSARINHO
A exposição "USAnatomy" foi inaugurada anteontem no MuBE, nos Jardins. A mostra exibe retratos de celebridades internacionais feitos pelo fotógrafo americano Steven Klein. A modelo Barbara Berger, os empresários Chico Lowndes e Victor Collor de Mello e o estilista Fause Haten circularam pelo museu.

PARAÍBA À MESA
A chef Ana Luiza Trajano fez jantar com pratos da Paraíba no restaurante Brasil a Gosto. Entre os presentes, sua mãe, a empresária Luiza Terajano, o político Cássio Cunha Lima e a banqueteira Neka Menna Barreto.

CURTO-CIRCUITO

James Akel e Regina Volpato fazem hoje, às 15h30, palestra sobre os papéis do homem e da mulher na TV e do pai e trabalhador na família, na Prodam.

A TV Senado exibe "Terra em Transe" no domingo, dentro da programação de homenagens a Glauber Rocha, proposta por Lídice da Mata (PSB-BA). 14 anos.

com DIÓGENES CAMPANHA, LÍGIA MESQUITA e THAIS BILENKY

GAROTAS EM TREINAMENTO


MARCIA PELTIER - Percepção distorcida


Percepção distorcida 
MARCIA PELTIER
JORNAL DO COMMÉRCIO - 12/08/11

Pesquisa feita pelo Data Popular em julho, com três mil pessoas em 251 cidades de 26 estados, revelou que os brasileiros enxergam o seu padrão de vida de maneira diferente da faixa de renda real a qual pertencem. Enquanto, por exemplo, 36,9% se consideram de classe média, esse grupo abrange, na realidade, 53,9% da população.

Não se acham ricos

Mais de 1/3 da alta renda se acha de baixa renda e mais da metade dos abonados se vê como de classe média. Entre a baixa renda, quase 20% se consideram pertencentes à classe média ou mesmo à elite do país. Vale ressaltar que é classe A quem possui renda per capita acima de R$ 2.886 mensais e renda domiciliar acima de R$ 14 mil.

Classe antenada

Para a esmagadora maioria dos novos integrantes da classe média, suas vidas seriam de brasileiros de baixa renda. Aliás, três de cada 10 que entraram para a nova classe C são nordestinos. Para pertencer à classe C a renda mensal por pessoa, segundo o instituto, é de R$ 323 a R$ 1.388 e a renda familiar, de R$ 2.295. Nessa faixa, 24% têm TV a cabo.

Holofote

Ainda não é Hollywood, mas Nuno Leal Maia vai ganhar uma estrela na calçada da fama do Cine Roxy, um dos mais antigos e tradicionais cinemas de rua de Santos, ao lado de nomes como Pelé, Bete Mendes e Ney Latorraca. Nuno, que é santista, será homenageado pelo 9º festival de curtas local, de 13 a 17 de setembro. O ator atualmente se divide entre o Rio e sua terra natal, onde tem negócios imobiliários.

Dilma e o exército

A presidente Dilma Rousseff voltará ao Rio no próximo sábado, dia 20. Ela participará da cerimônia de entrega de espadins aos cadetes da Academia Militar das Agulhas Negras, em Resende.

‘Green card’ de chamariz

Flávio Augusto, presidente do Ometz Group, holding que inclui a escola Wise UP, lança em outubro mais um modelo de franquia do curso de inglês. Na busca de atingir a ambiciosa meta de 30 unidades na Flórida em um ano e 200 em todo o país até 2014, o empresário oferece um atrativo curioso. Atrelado à franquia Wise Up USA está o visto EB-5, que dá direito a residir no país. Flávio pretende, com isso, atrair investidos do Brasil, Argentina, Colômbia e Chile dispostos a desembolsar US$ 500 mil no negócio.

Falou demais

Um promotor paulista foi condenado pelo STJ a pagar indenização de R$ 50 mil por dano moral a um cidadão, quantia que será dividida entre ele, a Rede TV! e a Fazenda do Estado de São Paulo. É que ele deu entrevista para a emissora, em 2009, sobre um processo que corria sob sigilo de justiça.

Na fronteira

Porta-voz do governo Lula, o gaúcho e diplomata de carreira Marcelo Baumbach foi nomeado embaixador do Brasil no Suriname.

De mão em mão

Frei Paulo Roberto Gomes, da paróquia de São Sebastião dos Frades Capuchinhos, vai promover, sábado, dia 20, às 18h, um abraço de fiéis no quarteirão que envolve a igreja da Tijuca. O ato faz parte das comemorações dos 80 anos do templo. Enquanto rezam o terço, os devotos vão poder tocar um relicário de São Sebastião, originário da igreja do Morro do Castelo, que contém fragmentos de ossos do santo.

O Spanta é um espanto

Os integrantes do simpático e animado bloco Spanta Neném estão em festa. É que um dos seus fundadores e presidente, Diogo Castelão, recebe na segunda-feira, às 18h30, na Câmara Municipal, a Medalha Pedro Ernesto. As atividades da associação carnavalesca vão muito além da folia momesca: o Spanta mantém oficinas musicais de flauta, violão, cavaquinho e percussão para jovens do Dona Marta, ensino de idiomas, informática e grupo de leitura. Através da roda de samba Morro da Alegria, o bloco conseguiu revitalizar o comércio e promover melhorias na quadra da Mocidade Unida do Santa Marta. E isso em apenas dois anos de existência do seu braço social, o Spantinha.

Livre Acesso

Artistas brasileiros da computação gráfica com trabalhos reconhecidos no exterior estarão presentes na primeira edição do CG Nacional, de 19 a 21, em Niterói. Entre os palestrantes estarão Alan Camilo, animador em 3D que trabalhou no game The Lord of the Rings: Aragorn's Quest; e Alex Oliver, modelador de esculturas digitais com passagem pela Blizzard Entertainment, a maior desenvolvedora de games do mundo.

A Abrasce, Associação Brasileira de Shopping Centers, em parceria com a empresa de segurança em tecnologia Astech realiza encontro, segunda e terça-feira, no hotel Sofitel. Em pauta, segurança especializada para a Copa de 2014 em lugares públicos.

Adhemar Oliveira, responsável pelos cinemas Unibanco Arteplex, Espaço Unibanco e Circuito Espaço de Cinema, inaugura nesta sexta-feira o multiplex CinEspaço Boulevard, incluindo uma sala 3D dolby digital, no Boulevard São Gonçalo Shopping.

No restaurante Vizta, no Marina Palace, a chef Maria Victoria oferece o tradicional cozido português para o Dia dos Pais, entre muitas outras opções. No Alameda, em Botafogo, o menu do chef Patrick Bolle para a data inclui carpaccio de salmão maturado e camponata com fundo de alcachofras, e espetinho de camarão e queijo coalho com risotinho de goiaba e cachaça.

No Atlantis, no Sofitel, os pais serão homenageados com um sea food brunch assinado pelo chef Roland Villard. Os convidados ainda poderão curtir um happy hour no bar Horse’s Neck, com direito a partidas do Brasileirão, comidinhas de estádio e chope liberado das 16h às 18h.

Com Marcia Bahia, Cristiane Rodrigues, Marcia Arbache e Gabriela Brito

NELSON MOTTA - Antes Tarso do que nunca


Antes Tarso do que nunca
NELSON MOTTA

 O Estado de S.Paulo - 12/08/11

"Os partidos de esquerda que mantiverem a velha tradição de luta interna pelo controle dos aparelhos de poder, sem um projeto ousado e inovador, ficarão como os socialistas gregos, espanhóis e portugueses: sem fazer as suas reformas, serão reformados pelo mercado..."

É incrível, mas foi o Tarso Genro que disse isso! E o que fizeram os progressistas gregos, espanhóis e portugueses? Inflaram os gastos públicos com pessoal, empregaram seus companheiros no governo e nas estatais, ampliaram os direitos sociais mas não os deveres fiscais dos cidadãos, se endividaram temerariamente, aumentaram as cargas trabalhistas e diminuíram a competitividade de seus produtos, epa!, parece até que estamos falando do jeitão lulopetista de governar. Seria uma autocrítica tardia? Antes Tarso do que nunca.

E o que não fizeram os companheiros europeus? As reformas tributárias, previdenciárias, políticas e econômicas que deviam fazer. E foram atropelados pelos fatos, pelos números e pelas leis implacáveis do mercado, aquelas que não mudam por decreto nem por "vontade política".

Nem bem refeito do choque com a surpreendente advertência de Tarso, levo um susto com o que leio nos jornais:

"É natural que os partidos indiquem os ministros e o seu entorno, mas o resto deve ser da burocracia, com servidores concursados."

Quem disse isso foi José Dirceu, aparelhador-mor do Estado, articulador das alianças com partidos podres e políticos fisiológicos que rapinam os cofres públicos, que agora defende a meritocracia e não mais a "ocupação estratégica dos espaços políticos" para a realização do grande plano de poder petista. Duro vai ser tirar a companheirada do bem-bom e dar esses 25 mil cargos aos funcionários mais competentes.

Para nossa ainda maior surpresa, o PT desistiu publicamente da sua bandeira histórica do "controle social da mídia". E para encerrar a sucessão de assombros, as palavras abalizadas de Sarney, o nepotista-mor: "Parentes no governo só criam problemas".

Não sei não, mas se eles continuarem com essas ideias amalucadas, corremos o risco de acabar caindo numa democracia.

JOÃO MELLÃO NETO - Tranque também o seu!


Tranque também o seu!
JOÃO MELLÃO NETO
O ESTADÃO - 12/08/11
Em russo, espanhol e inglês - para que todos pudessem compreender - havia, no aeroporto de Havana, a seguinte mensagem: "Cuba é uma nação livre, soberana e independente. O governo é democrático, revolucionário e comunista. Aqui não há fome, exploração ou injustiça social. Não admitimos prostituição, drogas ou qualquer outra forma de depravação inerente ao capitalismo. Numa sociedade em que todos são iguais, não ocorrem furtos, roubos ou corrupção".

Isso me foi contado por entusiasmados colegas de faculdade na década de 1970. No mundo universitário, então, o marxismo imperava. Pobre de quem não compartilhasse o seu credo: era discriminado e banido do convívio acadêmico. Perguntava-me eu: por que motivo aqueles que pregam a inclusão social são os primeiros a tentar excluir?

Quem exercia o poder no Brasil eram os militares e seus simpatizantes. E a nós, estudantes e mestres, restava defender ideias opostas. Para tanto o marxismo vinha muito a calhar. Até mesmo eu, na época, me considerava um socialista light. Sempre que afirmava isso, logo aparecia alguém para me desmentir: "Você não passa de um liberal". Mais de duas décadas e meia após a redemocratização do País, a antiga polarização acabou. O pessoal da faculdade tinha razão: eu sempre fui mesmo um liberal. O problema é que não me dava conta disso.

Agora, à luz da História, a gente percebe que nada daquilo fazia sentido. Nem os militares brasileiros se comportaram como radicais de direita, nem os irmãos Castro, em Cuba, dirigem um governo de esquerda. De um lado e de outro, as ditaduras não são mais do que isto: ditaduras.

Acredito que aquela mensagem no aeroporto de Havana - se de fato existiu - tenha sido retirada. Tudo o que lá estava afirmado aconteceu ao contrário. Aos olhos dos europeus e norte-americanos, o regime cubano é fascinante somente para os intelectuais e para os governantes populistas da América Latina.

Por falar em governos populistas, durante os oito anos do nosso, apenas foram reproduzidas as fórmulas adotadas pelos governos militares. Nacionalismo, desenvolvimentismo, crescimento econômico, política externa "independente", nada disso é novidade. Algumas formulações políticas e econômicas, aliás, remontam aos tempos de Getúlio Vargas, são da década de 1930.

Nos lugares onde foi implantado, o socialismo falhou. Depois da queda do Muro de Berlim, então, nem sequer a visão marxista da sociedade sobreviveu.

Os rebeldes de minha época de estudante são, atualmente, mais adultos. Acreditam ter amadurecido. Dizem-se "pós-modernos" e "politicamente corretos". São os frequentadores mais assíduos dos "jantares inteligentes", tão bem caracterizados pelo filósofo Luiz Felipe Pondé. Vale a pena ler os seus livros. Como arguto observador e crítico de costumes, ele vai além: "Toda essa gente afirma ser dotada de "consciência social", defende a "sustentabilidade" (neologismo) e critica as grandes empresas e a sociedade por tudo de mal que existe no mundo". Pondera ainda o filósofo: "Todos se veem como heróis que estão salvando o mundo". E de que modo isso é possível? Cada um deve fazer a sua parte. Mas como fazê-lo? Simples. Sentem-se todos moralmente absolvidos por "reciclar o lixo e andar de bicicleta".

A culpa, como sempre, é atribuída aos outros. Perversa é a sociedade, não nós... Somos inocentes porque estamos denunciando e criticando tudo isso.

Por falar em licença moral, muita coisa estranha vem ocorrendo em Brasília. Como me ensinava Odon Pereira, o meu primeiro professor no jornalismo: "Absurdo não existe. O que chamamos de absurdo é uma ordem das coisas que desconhecemos". Tradução: não obstante a complexidade de um nó, se uma corda tem uma ponta, procure, porque vai achar a outra.

Acontece o seguinte: como foi bem percebido quando ocorreu o escândalo do mensalão (2005), não há por que redimir os petistas. Deus só perdoa os arrependidos. E o pessoal do Partido dos Trabalhadores não se arrepende de nada.

Os nossos bravos sindicalistas e intelectuais - nos quais o sangue socialista ainda ferve nas veias - se dispõem a tudo, desde que, ao final, prevaleça a "causa justa". Vale roubar, matar ou até morrer, se for necessário. Eles não ficam com a consciência pesada? Não. Acreditam piamente que moralidade "é coisa de pequeno burguês".

O nosso "ex-presidente proletário" ganhou fama, nos meios políticos, de transigente e negociador. Faz qualquer coisa para manter o poder. Para lograr tal intento e eleger a sua sucessora ele cedeu diversos órgãos governamentais ao comando dos demais partidos. E, pelo que se vê agora, o negócio foi feito de porteira fechada, ou seja, cada um cuida de si.

Dotação de verbas, alocação de recursos e nomeações para cargos de comando, tudo isso se deu por critérios exclusivamente político-partidários. Todo mundo sabe o resultado disso: incompetência e corrupção.

À medida que vão estourando os escândalos, a atual presidente se vê obrigada a agir. O seu mandato ainda se está iniciando e ela não pode macular a sua imagem com uma reputação de fraqueza, miopia e complacência. Isso compromete até mesmo a viabilidade do retorno de seu antecessor.

Enquanto isso, o que se ouve lá pelos lados do Planalto Central é que, dia desses, um indivíduo estacionou o seu veículo bem em frente da rampa de certo palácio. A o sentinela se aproximou: "O senhor não pode parar aí! É por aqui que passam as autoridades!".

"Não se preocupe, seu guarda. Eu tranquei o carro!".

RENATA LO PRETE - PAINEL DA FOLHA


Cardozo na berlinda
RENATA LO PRETE
FOLHA DE SP - 12/08/11

Embora José Eduardo Cardozo tenha dito e repetido aos caciques peemedebistas que foi pego de surpresa pela Operação Voucher, há, entre os ressabiados governistas, quem descreva relatos segundo os quais o ministro da Justiça dispunha, desde a antevéspera, de informações sobre o "pega geral" promovido pela PF no Ministério do Turismo. Com base nessa hipótese, os céticos duvidam um tanto da sinceridade da bronca pública que o petista, pressionado por Dilma Rousseff, deu na corporação.
Os questionamentos a Cardozo não partem apenas do PMDB, mas também de seus desafetos no PT.


Da vez Para defensores de Cardozo, o ministro seria alvo de um duplo ataque especulativo: da PF insatisfeita e de aliados ávidos por envolver o PT na "faxina" de Dilma. "Não queriam um petista? Agora encontraram", ironiza um correligionário.

Tenho dito Em seu discurso de posse, Cardozo prometeu uma PF "sem espetacularização de ações".

Clipping Num dos grampos da PF, o secretário-executivo Frederico Costa reclama com um interlocutor dos ataques sofridos pelo ministro Pedro Novais, em particular nas revistas. "Cães e Gatos está batendo no ministro! Pesca e Cia., Casa e Jardim, Focinhos, aquela de cachorro. Nossa, vou falar... até palavras cruzadas do Picolé".

Em outra 1 Causou espécie entre aliados o alheamento do Planalto em relação à reunião que atraiu 17 governadores e vices na terça a Brasília. Em pauta, assuntos delicados para a União, como o veto dos royalties. Os presidentes da Câmara, Marco Maia (PT-RS), e do Senado, José Sarney (PMDB-AP), participaram da conversa.

Em outra 2 Veteranos dizem jamais ter visto encontro de tal gênero e porte sem representante do governo. Estranham que o palácio não tenha se mobilizado nem a posteriori, para obter relatos do que se discutiu ali.

Dois tempos Menos de 24 horas depois de o PMDB ter defendido que não aceitará votar a DRU antes da emenda 29, o líder Henrique Alves (PMDB-RN) afirmou ontem: "Não há vinculação entre as duas votações".

Ele não Após intervenção de José Serra, o PSDB-SP abortou a contratação do sociólogo Alberto Carlos de Almeida, a quem encomendara pesquisa qualitativa para traçar o perfil dos candidatos com mais viabilidade do partido nas eleições de 2012.

A conferir Pré-candidatos à Prefeitura de SP, Netinho de Paula e Gabriel Chalita trataram ontem de tema de interesse mútuo: a despolarização da eleição, enquanto Lula tenta atrair PC do B e PMDB para o projeto Fernando Haddad (PT). Combinaram que falarão de aliança apenas em cenário de eventual segundo turno.

Travessia A Defesa Civil acertou ontem com o Instituto de Terras de São Paulo o envio de embarcações para transportar moradores das comunidades quilombolas de Pilões e Maria Rosa, ilhadas em decorrência das enchentes que castigaram a região do Vale do Ribeira.

Revisão em série Depois da cogitada mudança de nome do aeroporto Luiz Eduardo Magalhães, em Salvador, novo embate opõe ACM Neto (DEM) e aliados de Jaques Wagner (PT). O petista Paulo Rangel quer aproveitar o restauro de quadro instalado na Assembleia para substituir personagens nele retratados, como Antonio Carlos Magalhães.
com LETÍCIA SANDER e FÁBIO ZAMBELI

tiroteio

"Como a ficha criminal dos governistas não para de crescer, a negociação do Mercadante com os piratas da internet faz todo o sentido."
DO DEPUTADO ESTADUAL CAUÊ MACRIS (PSDB-SP), sobre artigo publicado ontem na Folha no qual o ministro da Ciência e Tecnologia defende o estabelecimento de uma ponte entre o governo federal e os hackers.

contraponto

Trabalho voluntário


Uma vez divulgado que Frederico Silva da Costa, secretário-executivo do Ministério do Turismo preso na Operação Voucher, será defendido por Antonio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, o famoso criminalista virou alvo de brincadeira dos amigos:
-Você neste caso? Como assim? Isso não está mais para juizado de pequenas causas?
O convênio sob investigação da PF é de R$ 4 milhões, valor modesto se comparado às cifras envolvidas na maioria das causas de Kakay.

PAULO R. HADDAD - Como blindar a economia brasileira


Como blindar a economia brasileira
PAULO R. HADDAD
O ESTADÃO - 12/08/11

Há uma taxa mínima de crescimento da economia brasileira que é indispensável para que sejam atingidos três objetivos simultânea e complementarmente. O primeiro é manter um ritmo adequado do nível de emprego capaz de absorver quase 2 milhões de brasileiros que entram anualmente nos diferentes mercados de trabalho. O segundo objetivo é gerar um excedente econômico que permita financiar as necessidades crescentes das políticas sociais compensatórias, visando a atenuar os índices de pobreza e de miséria, assim como atenuar eventuais tensões sociais e políticas em nosso país. Finalmente, essa taxa tem a função de manter acesa a chama do "espírito animal" dos nossos empreendedores efetivos ou potenciais, além de uma expectativa recorrente de confiança no nosso progresso econômico e social.

Não é tão difícil obter consenso entre lideranças políticas e comunitárias sobre uma agenda de reformas estruturais e institucionais que poderiam dar sustentabilidade a essa taxa mínima de crescimento, mantidas as condições de relativa estabilidade monetária e de consistência macroeconômica de nossa economia. Mas, entre o processo de negociação político-institucional dessa agenda e a sua implementação, prevê-se um longo período de maturação. Como já dizia Keynes em 1923, em momentos de turbulências financeiras pouco adianta sugerir soluções que somente são eficazes no longo prazo.

Partindo, pois, dos pressupostos de que essa taxa mínima de garantia se situa entre 4% e 5% e que a crise econômico-financeira mundial deverá persistir sem solução por um longo período plurianual, como será possível evitar que uma eventual desaceleração da economia brasileira comprometa a realização dos três objetivos mencionados?

Por um lado, a política monetária deverá continuar restritiva para trazer a taxa de inflação para o centro da meta pelo menos em 2012. Por outro lado, há poucas saídas que venham da política fiscal anticíclica, num contexto em que a carga tributária se encontra no seu limite do possível econômico e político; a despesa pública, enrijecida por razões constitucionais e comprometimentos com políticas sociais compensatórias; e a gestão da dívida pública, com restrições à redução do superávit primário, sob pena de perda de credibilidade diante dos credores internos e externos. O que fazer, então?

Uma estratégia factível no curto prazo se refere à aceleração da execução de um conjunto único e magnificente de grandes projetos de investimentos em implantação ou em fase final de decisão para serem operacionalizados em diferentes setores e regiões do País. Somente no segmento de minérios e seus concentrados, o Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram) destaca investimentos no valor total de US$ 64 bilhões, sem contar os projetos da cadeia produtiva do setor petrolífero, em que os investimentos do pré-sal atingem os três dígitos de bilhões de dólares. A esse conjunto se somam os grandes investimentos dos setores do agronegócio e da bioenergia com projetos em andamento.

São grandes projetos de investimento que se orientam pelo comportamento dos mercados no médio e no longo prazos, em que novos patamares de demanda foram alavancados de forma sustentada pela China e por outros países emergentes, como megaconsumidores de produtos intensivos direta e indiretamente de recursos naturais, onde esses investimentos se posicionam competitivamente em nível global, independentemente das turbulências financeiras de curto prazo. A sua implementação tem como fator limitante os riscos jurisdicionais e a lentidão das burocracias governamentais que prevalecem atualmente no País. Cabe, pois, ao governo, coordenar-se internamente e negociar com as organizações que controlam esses projetos os mecanismos e instrumentos que possam acelerar e tornar irreversíveis o seu processo de implantação. A não ser que o governo continue acreditando que a atual crise econômica mundial não será longa, profunda e portadora de incertezas.

PROFESSOR DO IBMEC/MG. FOI MINISTRO DO PLANEJAMENTO E DA FAZENDA DO GOVERNO ITAMAR FRANCO

MÍRIAM LEITÃO - Perdas e ganhos


Perdas e ganhos
MÍRIAM LEITÃO
O GLOBO - 12/08/11
O economista Luiz Fernando Figueiredo, ex-diretor do Banco Central, fez uma lista de 40 bancos americanos e europeus que perderam 40% do valor nas bolsas em três meses. O curioso desse desabamento é que a crise de 2008 era claramente bancária, e esta é das dívidas dos governos somada a uma onda de pessimismo sobre o crescimento mundial. Todo o mercado está revendo as projeções de PIB.

- Há muito banco com alavancagem de 20 vezes na Europa e há o medo do contágio pelo risco soberano, diz Figueiredo, que hoje é sócio da Mauá Investimentos.

Risco soberano é como o mercado define a probabilidade de calote na dívida dos países. Como uma parte grande dos empréstimos desses bancos foi concedida aos governos dos quais se tem medo, os bancos é que passam a ser vítimas da desconfiança. E é, como tenho dito aqui, uma crise que fica rodando em torno de si mesma: os governos se endividaram para salvar os bancos; os bancos emprestaram aos governos; agora se teme que eles não consigam pagar o que devem aos bancos; por isso as ações dessas instituições são as que mais sofrem nos mercados dos Estados Unidos e da Europa. Volta-se assim ao ponto inicial da crise que começou em 2008.

Ontem foi outro dia de volatilidade, mas que acabou terminando em alta aqui no Brasil, nos Estados Unidos e na Europa. Houve momentos de sobe e desce na Europa, que mostram o nervosismo. Qualquer novo dado ou declaração pode mudar radicalmente a tendência das ações ou o valor das moedas.

- Já vi cair um ponto percentual em bolsa europeia em um minuto. Hoje (ontem), bastaram declarações do ministro das Finanças da Itália, a atuação do Banco Central Europeu, e um dado de pedido de auxílio-desemprego um pouco melhor do que o esperado nos Estados Unidos para mudar completamente a tendência - disse Álvaro Bandeira, da Ativa Corretora.

Figueiredo acha que é difícil separar se há uma mudança de expectativas ou se o mundo está ficando pior mesmo. O que não há dúvida é que os países vão crescer este ano bem menos do que se projetava inicialmente:

- Houve uma surpresa enorme em termos de crescimento no mundo. O primeiro trimestre nos Estados Unidos foi revisto de 1,9% para 0,4%.

Figueiredo também acha que a situação europeia é pior do que a americana e pensa que é até saudável o debate da dívida, porque pela primeira vez os Estados Unidos encaram o fato de que não podem continuar ampliando a dívida indefinidamente sem um ajuste de médio e longo prazo nas despesas. Já a Europa não é caso de baixo crescimento, mas de recessão e dificuldade de se financiar.

Os Estados Unidos provaram nos últimos dias que dificuldade de financiamento é algo que eles continuarão desconhecendo. Quando o governo vende títulos do Tesouro, como fez na quarta-feira, a demanda que aparece é três vezes maior. Em momentos de maior pânico o mercado corre em manada para os títulos do Tesouro americano. Isso é diferente em países como a Itália, Espanha ou até a França, que precisam fazer demonstrações mais claras de que vão ajustar suas contas para continuar vendendo papéis ao mercado. Figueiredo acha que há muita confusão entre os investidores:

- Uma coisa é falar que um país tem problema de desempenho fiscal. Outra é dizer que pode quebrar. O mercado deu uma misturada nisso quando chegou o caso da Itália e da França, que é diferente dos países periféricos da Europa.

E quanto ao Brasil? Na visão do ex-diretor do BC, o país tem hoje mais armas do que tinha em 2008

- O Brasil tem hoje o dobro de reservas do que tinha em 2008; e tem entre R$ 200 bilhões a R$ 300 bilhões a mais de compulsório para liberar. As empresas estão com mais dinheiro em caixa. O governo também está levando mais a sério a crise. Não se fala em marolinha. Nas últimas dez entrevistas que a presidente Dilma deu, em cinco ela falou da crise. Temos mais experiência, estamos mais focados, a capacidade de resposta é maior. É preciso manter um fiscal firme para que se possa reduzir juros. No ano que vem será muito difícil cumprir os 3% de superávit primário, diz.

Ele acha que a situação é difícil, mas não desesperadora. E que num cenário de menor crescimento do mundo, há também menos pressão inflacionária, e neste caso há possibilidade de redução da Selic.

Essa é uma semana de idas e vindas e em ambiente assim é preciso ter cabeça fria. Tudo o que as bolsas americanas haviam caído na quarta-feira subiu na quinta. Já a bolsa brasileira chega na sexta-feira com um balanço positivo de 0,74%. Ou seja, já se recuperou da forte queda na segunda-feira. O presidente Barack Obama disse que a crise da dívida europeia está se aproximando das costas americanas. É um pouco mais complexo. Os Estados Unidos foram vítimas de si mesmos e não de um contágio da crise europeia. Ele sabe, tanto que de novo culpou os políticos pelo "fiasco" da elevação do teto da dívida, tema que consumiu muito tempo e levou ao rebaixamento da classificação americana.

O Brasil nesta situação precisa ficar atento como está e consciente. Se houver qualquer aprovação de medida que implique em aumento forte de gastos, o país entra em zona de turbulência. É bom lembrar que, em 2010, para ganhar a eleição, o governo fez manobras contábeis, diminuiu a meta fiscal e ainda assim não a cumpriu, de tão fortes que foram os aumentos de gasto, apesar de ter sido um ano de aumento grande da arrecadação. Isso alimentou ainda mais a inflação, já impactada pelo preço das commodities. O Brasil gastou munição em ano bom.