sábado, janeiro 19, 2013

HOJE NO BLOG

19/01/13

A teoria das gafes - WALCYR CARRASCO

REVISTA ÉPOCA


Sou daquele tipo que não pode fazer uma fofoca, por mínima que seja. Se comento que fulana ficou igual a um mico-leão-dourado depois de tingir os cabelos, podem ter certeza: ela está atrás de mim. Se digo que alguém está idêntico a um coelho depois de recapear os dentes, descubro que estou falando com o dentista responsável pelo desastre. Gafe, para mim, não é um pequeno e indesejável acontecimento. É uma força maligna do destino. Segundo o escritor Paulo Coelho, o mundo conspira a nosso favor. Em relação a gafes, conspira contra. Outro dia entrei na banca de revistas. Lá estava, no caixa, a vendedora que me atende há anos, barriguda e sorridente. Elogiei.

– Parabéns! Está grávida!

O sorriso desabou. O vendedor ao lado caiu na risada.

– Gravidez coisa nenhuma. É banha!

Dizer o que numa situação dessas?

Como eu, muitos amigos enfrentam o carma da gafe. Júlio encontrava com frequência, no shopping, uma garota acompanhada por um senhor idoso. Dia desses, ela estava sozinha. Só para puxar papo, perguntou:

– E seu avô, como vai?

Veio a resposta gélida.

– É meu marido, o desembargador.

Não há amizade que sobreviva a um tal diálogo. Há uma teoria da gafe, sem dúvida. Seu primeiro princípio é que tudo o que a gente diz se volta contra. Mesmo elogio. Numa festa, outro amigo, Marcelo, deparou com um ator de musical, seu conhecido.

– Fui ver, mas justamente naquela noite quem fez foi seu substituto. Soube que você é muito melhor.

O rapaz ao lado dardejou:

– O substituto sou eu.

O jeito foi agarrar um salgadinho e enfiar na boca.

Se estou no teatro, por mais chata que a peça seja, jamais comento com quem estiver ao lado. A mãe do ator certamente está sentada atrás de mim, de orelhas abertas como leques para me ouvir. Tenho medo de falar até de morto em velório. Alguma coisa vai dar errada.
Sinceridade e gafes andam juntas. No aniversário de uma atriz elogiei, entusiasmado:

– Como você está bem! Fez Botox?

A reação foi pior do que se eu tivesse dito um palavrão. Há uma série de frases elogiosas que deveriam ser bem-vistas, mas costumam ser mal recebidas. Como:

– Você está ótima para sua idade!
– Fiquei tão contente por reduzirem a pena de seu sobrinho!
– O jantar está excelente. Gosto de comida salgada!

De acordo com a teoria das gafes, o espírito crítico deve ser refreado em qualquer ocasião, para evitar situações desesperadoras. Jamais diga que plásticas em excesso dão a aparência de um cachorro pequinês a qualquer pessoa. Você certamente estará diante de um cirurgião plástico. Ou que não suporta filme nacional, pois seu interlocutor provavelmente será um diretor de cinema.

Evitar gafes é aceitar a falsidade alheia. Quando era adolescente e nem pensava em trabalhar na televisão, havia algumas estrelas de novelas que admirava. Hoje, são mais novas que eu! Pelas minhas contas, algumas teriam de estar fazendo cenas de amor e paixão aos 11 anos! Quando alguma declara a idade na minha frente, permaneço em silêncio. Já perdi amigos demais por excesso de franqueza, e é preciso aprender com as lições da vida.

Mas que injustiça! Quando a gafe é contra mim, sou obrigado a sorrir e fingir que não me importo, mesmo fervendo por dentro. Minha barriga e meu peso são temas de frequentes comentários:

– Para quando é?
– É lindo, você está igualzinho a Buda!
– É uma sorte, você tem poucas rugas. A gordura estica a pele.

Gostaria de responder de forma baixa, é uma delícia ser baixo de vez em quando. Mas disfarço. A modalidade mais recente é transferência de gafe. Cada vez que convido alguém para jantar em casa, sofro com isso. Se preparo camarão, a pessoa se declara alérgica. Carne, vegetariana. Se há mais de duas pessoas, a terceira odeia frango. No passado, o convidado disfarçaria, enchendo o prato e jogando a refeição no vaso de orquídeas na primeira oportunidade. Hoje, informa que não vai comer e está acabado. Eu que me vire. A gafe seria dele, por recusar o que é servido. Transfere-se para mim, por oferecer o menu errado. Antes de convidar para jantar, é preciso pedir currículo? Pior: quando alguém avisa tranquilamente que não come isso ou aquilo, quem fica sem jeito sou eu!

Acredito na teoria das gafes. E ela está contra mim. Vivo pisando em ovos, mas sempre acabo numa situação constrangedora. Minha única esperança é que exista uma teoria de como evitar as gafes. Só preciso descobrir qual é.


Os amores difusos - IVAN MARTINS

REVISTA ÉPOCA



Não há um só jeito de amar, e nem uma única pessoa


Não é preciso ser moderno para perceber que a nossa vida comporta amores simultâneos. Podem ser paixões dilacerantes e sombrias, como nos filmes, ou pode ser algo mais suave – um sentimento de atração que, mesmo não consumado, faz da vida um lugar melhor para os envolvidos.

Todos conhecem esse tipo de sentimento.

Há gente que nós temos vontade de ver todos os dias, cuja presença nos deixa naturalmente mais alegres. Temos prazer enorme em abraçar gente assim e a conversa com elas é mais íntima, mais fácil, mais interessante. Uma alma destituída de malícia diria que isso é amizade, mas eu tenho certeza que se trata de uma forma de erotismo – sem posse, sem dor, sem pressa, mas é desejo que resiste ao tempo. Essa não é uma forma de definir o amor?

A principal qualidade dessa sensação é ser plural.

Não nos sentimos enamorados de todo mundo, mas tampouco temos esse tipo de apego por uma única pessoa. São várias. Pode ser a ex-namorada do colégio, a amiga da faculdade, a prima. Pode ser a garota da livraria ou a moça do bandejão que virou sua amiga. A lista não será grande, mas é uma pena, porque se trata de um sentimento bom. Não é gostoso ficar feliz quando toca o telefone?

Os amores difusos fazem parte da esfera de sentimentos que começa na pessoa que você escolheu e vai se expandindo num círculo para incluir outras pessoas de quem você precisa. Família, amigos, amores. Nenhum casal é uma ilha. Ao redor do compromisso que mantém duas pessoas ligadas há uma vasta teia de ligações, com diferentes graus de densidade, que vinculam o casal ao mundo. Os amores difusos são uma parte especialmente delicada dessa teia. Você não sai transando com essas pessoas, embora pudesse fazê-lo. Você não sofre por essas pessoas, embora possa ter acontecido. Essa relação navega entre o encantamento e a amizade, tem um pouco das duas, e fica a centímetros de se tornar inteiramente uma delas. Movemo-nos entre sutilezas.

O que você faz com alguém que ama difusamente é ter momentos de troca e carinho, que carregam uma ponta secreta de expectativa. Se um dia você bebe demais e diz sinceridades comovidas, ela pode rir, beijar você ou ficar brava e mandar que se comporte – mas tudo seguirá como antes. Nessa relação há espaço para ser você mesmo.

Isso nada tem a ver com relações abertas, porém.

Admitir a existência de carinho e desejo fora da sua relação amorosa é apenas uma manifestação de sanidade. Tentar viver todas essas sensações é uma besteira. Criar arranjos matrimoniais que acomodem esses múltiplos sentimentos é ainda mais fútil. A melhor solução para quem deseja correr atrás de todos os seus desejos não é um namoro ou um casamento aberto. É estar sozinho. Assim se conquista total liberdade, sem culpas ou constrangimentos.

Ando convencido que a nossa vida afetiva tem uma espécie de centro e que nele só cabe uma pessoa de cada vez. As nossas grandes aventura emocionais, a nossa verdadeira história íntima, são escritas ao redor dessa exclusividade. Pode ser uma paixão que não deu certo ou um casamento fabuloso de 20 anos, mas continua sendo uma narrativa entre duas pessoas. O resto é tumulto.

Os amores difusos pertencem a outra esfera, e por isso não colidem.

Eles são menos viscerais, mais leves, nos lembram que podemos experimentar diferentes alegrias na mesma existência. Sugerem que o grande amor romântico – esse que nos devora vivos, ou nos envolve suave como um lençol de linho – é apenas uma das experiências do afeto. Há outras, essenciais. Elas preenchem a existência com outra espécie de luz, igualmente necessária para mostrar nosso caminho.


O PT e as autocríticas - ZUENIR VENTURA

O GLOBO - 19/01


Sergio Cabral teve que engolir calado o deboche de Garotinho: ‘O Eduardo Cunha já foi meu amigo. Hoje não fala comigo e é amigo do Cabral’

Uma aragem moralizadora está soprando do Sul, vinda de dentro do próprio PT. Primeiro foi o ex-prefeito de Porto Alegre, ex-ministro das Cidades e ex-presidente do partido, Olívio Dutra. Agora é a vez do governador e ex-ministro de Lula Tarso Genro. Descontentes, ambos criticam a postura da agremiação que ajudaram a fundar por ter abandonado sua original e lendária bandeira da ética. Além de ter sido contra José Genoino assumir o mandato depois de condenado pelo STF ("Tu deverias pensar na tua biografia”), Dutra repetiu a advertência que já tinha feito a Lula sobre o preço que iria pagar "por estar cercado de maus companheiros” referindo-se à entrega de cargos a torto e a direito sob o pretexto de garantir governabilidade. Genro, por sua vez, disse essa semana ao repórter Marcelo Remígio, do GLOBO, que "estamos utilizando os métodos de partidos que criticávamos’,’ e por isso defende a adoção de "regras muito rígidas em relação a seus dirigentes, seus quadros e seus vínculos com as empresas privadas” Em suma, "o partido precisa passar por uma profunda renovação’.

Ainda que menos incisiva do que a de Dutra, a crítica do governador gaúcho deixa claro que não concorda, por exemplo, com a tentativa de José Dirceu de "estabelecer uma identidade entre seus problemas e os do partido”. Segundo ele, a agenda do PT não pode ser a da "Ação Penal 470, mas sim a da reforma política e do sistema de alianças”. O que acontecerá com esses dois líderes históricos do petismo após suas autocríticas? Embora sejam atitudes saudáveis, sabe-se que o PT não convive bem com a divergência. Quando isso acontece, ou os dissidentes deixam o partido, como foi o caso de Chico Alencar, Cristovam Buarque, Marina Silva, Plínio de Arruda Sampaio, Cesar Benjamim, Fernando Gabeira, Milton Temer, ou são expulsos, como foram em 2003 a senadora Heloísa Helena e os deputados Luciana Genro (filha de Tarso), João Fontes e João Batista Araújo, o Babá. Por ironia da história, o mesmo PT que, presidido por Genoino na época, decidiu botar para fora seus colegas por conduta radical, não pretende fazer o mesmo com os quatro recém-condena-dos pelo STF no processo do mensalão, embora o estatuto preveja a expulsão por "práticas administrativas ilícitas" e "inobservância grave da ética" Será que "corrupção ativa" não configura ilícito?

Ainda sobre más companhias. Sergio Cabral teve que engolir calado o deboche de Garotinho: "O Eduardo Cunha já foi meu amigo. Hoje não fala comigo e é amigo do Cabral.”


Junto e misturado - ANCELMO GOIS


O GLOBO - 19/01


De Arlindo Cruz, que fará show, segunda, em favor da tolerância religiosa, na Cinelândia, em evento da Globo Rio.
— Todo brasileiro mistura as religiões. A minha é o candomblé, mas também frequento igreja e cultuo santos como São Jorge. Casei com a Babi sob a bênção do budismo, igreja messiânica, candomblé.

Mallandro no Bafo
O Bafo da Onça, um dos mais tradicionais blocos do carnaval carioca, está gravando seu primeiro CD.
Terá como puxador, acredite, Sérgio Mallandro, o apresentador de TV e humorista. A direção musical será de João de Aquino.

O Maraca é nosso
O governo do Rio vai fazer o primeiro jogo-teste no Maracanã, dia 24 de abril, usando apenas 30% da capacidade do estádio. O segundo jogo, dia 8 de maio, terá 50% da capacidade.
Ambos terão entrada gratuita.

Já...
No terceiro jogo, contra a Inglaterra, dia 2 de junho, haverá venda de ingressos para os 79 mil lugares do estádio.
É a lotação máxima.

Nada mal
Pelas contas do consultor Adriano Pires, caso o governo aumente a mistura de etanol na gasolina de 20% para 25%, a Petrobras vai economizar, por mês, US$ 160 milhões, já que diminuirá a importação de gasolina.

Macumba moderna
A marchinha “Macumbeiro moderno”, de autoria de Riba e Bocão, está entre as dez finalistas do tradicional concurso, deste ano, da Fundição Progresso, no Rio.
A letra dos gaiatos diz que “traz a pessoa amada em três twitadas”, “baixa o santo por download” e “usa farofa pronta”, “pipoca de micro-ondas” e “frango de padaria”.

Parem as máquinas
Depois de uma falha do barbeiro, o senador Pedro Simon, 82 anos, raspou o bigode que tem desde que se “entende por gente”.

Casa cheia
Uma prévia da taxa de ocupação dos hotéis do Rio durante o carnaval aponta que, em média, a rede carioca estará com 80% de seus quartos ocupados. Os mais procurados são os de Ipanema e Leblon (84,41%). Os dados são da ABIH-RJ.
Aliás, faltam 21 dias para o carnaval. 

Destruído pelo crack
A Rocco lança, em abril, o livro “Começar de novo”, de Isabella Lemos de Moraes, herdeira de uma família milionária que, nos anos 1980, foi dona da Supergasbrás.
Ela conta a história do envolvimento do seu pai, João Flávio Lemos de Moraes, com o crack e a cocaína.

Dona Impunidade
Amanhã completam-se quatro anos da morte do estudante da UFRJ Victor Emanuel Muanis, então com 23 anos. Ele foi atingido, lembra?, por um tiro na cabeça, enquanto se divertia num samba, na Rua Silvio Romero, na Lapa.
Até hoje o autor do disparo não foi identificado. Uma comissão de amigos da UFRJ segue acompanhando o caso.

Caso Patrícia
Os quatro policiais acusados de matar a engenheira Patrícia Amieiro, em 2008, no Rio, não vão responder mais por ocultação de cadáver.
Os desembargadores da 8ª Câmara Criminal do Rio vão acatar a decisão do Ministério Público de mudar a denúncia de homicídio qualificado consumado para tentativa de homicídio. Na prática, as penas podem ser maiores.

Segue...
O grupo será responsabilizado ainda por fraude processual por ter alterado o local do crime.
Patrícia desapareceu quando voltava de uma festa na Urca, e seguia para casa, na Barra da Tijuca.

Ponto para o Rio
A jornalista dinamarquesa Dorrit Saeitz está no Brasil para cobrir os preparativos para a Copa de 14 e o evento. Dia destes, de folga, foi com o namorado para Ilha Grande, onde perdeu a carteira. Um policial militar, veja só, encontrou o objeto e... devolveu tudo. Tostão por tostão.
A autoridade encontrou o número do telefone de um colega dela, também jornalista, no meio dos documentos, e localizou a moça.

UMA CAPIVARA NO MEU QUINTAL
Esta capivara (Hydrochoerus hydrochaeris) provocou, quinta passada, o maior sururu num condomínio em São Conrado, no Rio, relata Cora Rónai, PhD em capivaras. Surgiu na porta de Paulo Bianco, o artista plástico e autor da foto. Depois, assustada, acabou na garagem do ator Osmar Prado. Um zelador chamou os bombeiros. Eles a levaram para o quartel. A capivara era domesticada pelos índios desde os tempos de Cabral, o descobridor. Que Deus proteja a bichinha, e a nós não desampare jamais

Ponto Final
Esta nota do Cremerj, acho, é um tiro no pé, embora diga uma verdade: o governo é o principal responsável pelo descalabro da saúde. Mas passa para a população uma impressão, errada, com certeza, que protege, de alguma forma, um médico useiro e vezeiro em faltar a plantões num serviço tão essencial para nossa população pobre. E, vale lembrar, ele nunca abriu mão de receber o salário pago com o meu, seu, nosso dinheiro. O Brasil é o país onde o problema é sempre o outro.
É pena. Com todo o respeito.

Luxo e pobreza no rock - ÁLVARO PEREIRA JÚNIOR

FOLHA DE SP - 19/01


Dois músicos praticamente da mesma geração, mas com destinos cruelmente opostos


Um trabalhava nas madrugadas como frentista, era anoréxico, tornou-se músico sem estudo formal, virou ídolo (pelo menos de outros músicos), tem horror ao mundo corporativo das gravadoras e, agora, afundado em dívidas, precisou pedir dinheiro aos fãs pela internet para pagar o aluguel atrasado.

O outro tem origem de classe média, cresceu saudável, frequentou faculdade de música, criou um selo próprio para lançar o primeiro disco, sempre fez tudo sozinho, ganhou um Oscar e hoje mora em uma mansão envidraçada nas montanhas de Los Angeles.

O primeiro é o inglês Vini Reilly, 59, líder e guitarrista da banda Durutti Column (não se sinta ignorante se não conhecer -99,9999% da humanidade estão no mesmo barco). Seus discos, sem exceção cultuados por especialistas de todo o mundo, sempre venderam muito pouco.

O segundo, quem viu a entrega do Oscar 2012 talvez se lembre, é o americano Trent Reznor, 47, líder da banda Nine Inch Nails e autor da trilha sonora de "A Rede Social", pela qual foi premiado pela Academia. Sucesso de crítica e público (pelo menos no mundo do rock alternativo), já vendeu 16 milhões de CDs.

São praticamente da mesma geração, mas tiveram destinos cruelmente opostos.

Vini é filho do pós-Guerra. Como tantos de seus contemporâneos e conterrâneos do rock, não frequentou "art school", aprendeu nas ruas o muito que sabe.

Trent, não se pode dizer que tenha sido criado a pera com leite, mas, em comparação à dureza da infância e adolescência de Reilly, é um perfeito filhinho de papai.

O som de Vini Reilly, primordialmente um guitarrista, costuma ser chamado de pós-punk. Mas essa é só uma definição cronológica. Musicalmente, ele não tem nada a ver com as outras bandas desse período. Durutti Column incorpora os violões do flamenco, alguns climas de jazz e de música ambiente. É um esforço e tanto chamá-lo de rock.

Sobre a música de Trent Reznor e seu Nine Inch Nails, não há dúvida. É rock, da vertente industrial. Violento, confessional e fortemente baseado em sintetizadores. Vi o grupo em início de carreira, nos EUA, em março de 1990. Os músicos trocavam socos entre si e tratavam a plateia a golpes de correntes e cusparadas de cerveja.

Ambos, Vini Reilly e Trent Reznor, são absurdamente talentosos. Topei com os dois, metaforicamente, no começo do ano.

Com Trent, em um perfil publicado na revista "New Yorker" de 17/12/2012. Com Vini, lendo, nos primeiros dias de 2013, o blog de música do diário inglês "Guardian".

A reportagem da "New Yorker", assinada por Alec Wilkinson, faz uma radiografia detalhada de Reznor. Mostra que ele foi o primeiro a introduzir melodia na aspereza do rock industrial. E que também foi pioneiro nesse gênero ao atuar como "frontman", face pública de uma banda. Até então, o rock industrial, de origem europeia e com forte influência marxista, rejeitava o individualismo.

O post do "Guardian" sobre Vini Reilly era tristeza pura. Relatava como um sobrinho do músico, para o tio não ser despejado, entrou no site oficial da banda pedindo doações. A mobilização foi imediata.

Em poucas horas, o sobrinho voltou a fazer contato, dizendo que já tinham arrecadado R$ 9,5 mil e não era preciso mais mandar dinheiro.

A história de Reznor é tumultuada, principalmente pelos problemas que teve com cocaína e heroína. Mas é uma história de showbizz, como tantas que se conhecem nesse meio.

Já a de Reilly é absolutamente incomum. Para começar, ele não conseguia aceitar a ideia de ter seu trabalho em lançamento comercial.

Quando um dia foi visitar a sede da gravadora Factory e viu seu primeiro álbum sendo embalado (por ninguém menos que o pessoal do Joy Division, que era do mesmo selo e dava uma força ao amigo), saiu correndo de pavor.

Também era, e é, dono de uma autocrítica incapacitante. Considera todos os seus álbuns -com exceção de "Keep Breathing", de 2006- fracassos musicais.

Reznor esbanja vigor físico. Reilly se recupera de três acidentes vasculares cerebrais nos últimos dois anos. O americano enxergou um caminho relativamente suave em meio a um gênero musical essencialmente abrasivo.

Ironicamente, o inglês, de matriz musical mais plácida, mergulhou em abismos que ele próprio criou.

Trent Reznor se vira sozinho. Torçamos por Vini Reilly.

Defeitos da lei mutante - WALTER CENEVIVA

FOLHA DE SP - 19/01


Mesmo o leitor sem contato com a interpretação da lei saberá que nosso país precisa consolidar seu sistema legal


O ministro Sérgio Luiz Kukina, recentemente nomeado pela presidente Dilma Rousseff para o STJ (Superior Tribunal de Justiça) tem sua posse marcada para 6 de fevereiro. Em entrevista, o ministro chamou atenção para deficiências de leis fundamentais no campo dos Direitos Penal, Processual Penal, Civil e Comercial. Sua avaliação chegou em momento oportuno, pois o assunto já se tornou inadiável.

Mesmo o leitor sem contato permanente com a interpretação da lei e sua aplicação saberá que nosso país precisa consolidar seu complicado sistema legal. Há instabilidade no ordenamento, com as numerosas mudanças nele introduzidas. As dificuldades em sua aplicação firme são grandes. Maiores ainda no que se refere à Constituição, a lei das leis. Quando modificada - em grande ou pequena extensão - influencia todo o sistema jurídico vigente. Exige do intérprete o cotejo com as repercussões da alteração da Carta Magna. Por isso mesmo, na composição jurídica da lei escrita, a regra constitucional deveria ter estabilidade, mas não tem.

É relativamente comum o processo chegar à etapa final de seu julgamento - tanto na área cível quanto na penal - depois de muitos anos decorridos desde seu começo até o encerramento. O tempo passado inclui até decênios, em particular quando o autor da ação é credor do poder público. A demora, nesse espaço restrito, não se deve apenas a muitas regalias que o processo brasileiro concede ao poder público, em face do contribuinte e da cidadania comuns. Quando a administração nacional, estadual ou municipal é devedora, o andamento do processo é um. Quando credora é outro. Mais rápido.

Esse aspecto injusto do tratamento processual se apresenta em normas processuais. O Código de Processo Civil brasileiro, cujo texto foi publicado em 11 de janeiro de 1973, vigorou a partir do ano seguinte, mas sofreu, em outubro do mesmo ano, dezenas de alterações. Durante 1974 várias outras leis foram adaptadas à codificação processual. Daí até o presente há umas 60 leis novas. A contagem é mesmo confusa, ante muitas mudanças feitas mais de uma vez, na mesma lei, ora de artigos isolados, ora de dezenas de novas normas vigentes, ora em parte do enunciado básico ou de seus parágrafos, daqueles que quebram até a coerência interna.

Essa confusa espécie legal também é encontrável nos alteradíssimos Códigos Penal e Processual Penal, editados em 1940 e vigorantes a partir de 1942. O primeiro caminha para 250 alterações, desde a origem. O segundo, em um só exemplo básico, sofreu mais de 40 mudanças entre 2000 e 2009. Pense o leitor que certos feitos judiciários demoram muitos anos para serem julgados. As discussões sobre a lei, com alterações do texto legal, aplicáveis ao caso concreto, vão ao infinito. Pode convir ao réu, sobretudo quanto responde solto ao processo criminal. Convém ao poder público, nas duas alternativas, ante a interferência do Executivo na elaboração legislativa.

Não tomarei mais tempo do leitor com novos exemplos. O panorama é confuso, presente tanto na lei do direito material quanto no direito processual. A confusão das normas e a instabilidade dos julgamentos só aumentam a desconfiança do povo. Que venha a revisão integral.

Economia do conhecimento - EVALDO FERREIRA VILELA


O Estado de S.Paulo - 19/01


Gerar riquezas e criar empregos vem se tornando um desafio cada vez mais angustiante para as nações, particularmente as que ainda não conseguiram incorporar a inovação tecnológica como prática de desenvolvimento. Mais e mais se intensifica a economia baseada no conhecimento, com as novas mídias, e novos e novíssimos produtos digitais incorporados ao dia a dia das pessoas, preenchendo esperanças. Tudo muito mais rápido e em quantidades nunca vistas antes. Conseguirá o Brasil incluir-se como protagonista nesta nova economia? Ou se contentará com o pipocar de uma ou outra importante inovação, como na Embraer, na Embrapa, na Petrobrás e em algumas outras, sem, contudo, criar uma mania nacional pela inovação, capaz de impulsionar a competitividade de seus produtos e serviços frente aos competidores mundiais?

Temos boas universidades e instituições de pesquisa e uma pós-graduação reconhecida pela qualidade. Com isso, somos o 12.º país produtor de conhecimento. Mas falta-nos organizar o ambiente de inovação, articular nossas fortalezas e conectá-las às ações dos governos e da sociedade, num grande plano nacional de geração de negócios competitivos, envolvendo massivamente jovens talentos capacitados em empreendedorismo. Iniciativas como o Ciência sem Fronteiras, infelizmente, não guardam conexão com movimentos de inovação e de competitividade; devem render alguns bons resultados, mas não se conectam diretamente com uma estratégia de renovação da indústria, na velocidade requerida pelos dias atuais.

Novos conhecimentos e tecnologias são igualmente gerados nos laboratórios de nossas universidades e centros de pesquisa, mas, por falta absoluta de uma política corajosa de tratar o risco dos novos negócios, não viram startups e perdemos com isso um poderoso instrumento para inovar a indústria e os serviços. No caso da agricultura, é enorme o potencial de novas empresas de base tecnológica que, se viabilizado um programa nacional dessa natureza, pode contribuir em muito para a nova agricultura tropical, mais sustentável, com novas tecnologias, sistemas de produção e modelos de negócio, livrando-nos da enorme dependência de insumos importados.

Mas como sair do discurso e fortalecer a economia com base no conhecimento? Como criar novos negócios tecnológicos em quantidade e velocidade, e conectados às demais ações? Como tratar o risco de lidar com o novo e escolher prioridades?

Uma nova ferramenta desenvolvida pelo Media Lab MIT, o Product Space, analisa a complexidade e diversidade de uma região, ou país, e fornece orientações para o desenvolvimento com base nas capacidades e potencialidades, criando condições objetivas para a previsão do desenvolvimento e a consequente definição de políticas públicas visando a fomentar a inovação. O governo de Minas tornou-se parceiro desse esforço e, com sua fundação de amparo à pesquisa, vem criando uma nova representação da economia do Estado, que permite a identificação de caminhos menos custosos e com maiores potencialidades estratégicas para o desenvolvimento, seja movendo-se para produtos próximos aos já produzidos no Estado, por meio de novas combinações de suas capacidades, ou buscando novas capacidades que permitam a criação de negócios completamente novos. É a primeira vez que se analisa um Estado subnacional à luz do Product Space, valendo-se dos big data da indústria, do comércio exterior, do emprego, da fazenda, de transporte e obras públicas e do IBGE, numa abordagem científica, sem achismos.

As informações provenientes do Product Space revelam as capacidades produtivas do Estado e indicam caminhos para aumentar a diversidade e complexidade da economia, revelando produtos de maior valor agregado e densidade tecnológica a serem adicionados. Somam-se ainda a outros estudos, conhecimentos e experiências dos gestores, para que, em conjunto e de forma transversal, sejam definidas prioridades e políticas públicas adequadas para o incentivo da inovação e a aceleração do desenvolvimento. Tudo isso só é possível a partir de um processo criterioso de capacitação técnica e de estímulo ao trabalho em equipe e colaborativo, visando à compreensão da ferramenta, suas potencialidades e, principalmente, à formação de uma rede coesa de agentes, fundamental para enfrentar a transversalidade do desafio colocado. Com isso os programas são articulados, organizados e conectados às demais iniciativas e aos planos do governo, potencializados com a coordenação das capacidades que faltam com as demandas por essas capacidades. É um passo decisivo para abandonar o antigo modelo de administração verticalizada, que preserva as "igrejinhas", com cada um procurando ser melhor, sem se preocupar com o resultado do todo, apesar do discurso muitas vezes contrário.

Surgem, assim, as redes cooperativas, alicerçadas não só na vontade, mas numa base estruturada de conhecimento sobre o território. Certamente ficarão mais evidentes os gargalos que impedem o País de avançar no processo de inovação, como os relativos aos marcos legais, que se não tratados com a devida urgência seguirão emperrando novos negócios inovadores, novas empresas de base tecnológica, assim como a mudança de patamar do desenvolvimento científico e tecnológico nacional, incluindo a transferência de tecnologia e know-how no contexto da relação público-privada.

O mundo que hoje gera riquezas e empregos em robustos ambientes de inovação prima pela ausência de preconceitos contra o novo e lida com bases científicas para a tomada de decisão. Assim, temos chances de ter fábricas, e não apenas montadoras, ter indústrias densas em conhecimento, como a farmacêutica, em vez de gastar o que não se tem com a importação de produtos e serviços de países asiáticos.

Chávez! Um Morto Muito Louco! - JOSÉ SIMÃO

FOLHA DE SP - 19/01


"Mascote da Copa é levado pelas enchentes no Rio". O Fuleco virou marreco. O Rio virou um rio!


Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Novidades! Tão dizendo que se o Chávez voltar de Cuba será a continuação daquele filme "Um Morto Muito Louco"! Rarará! Chávez: Um Morto Muito Louco! Vai pular da cama dançando o "Gangnam Style"! E gritando "Yankees de mierda"!

E eu já disse que o Chávez não tá na ilha de Cuba, tá na ilha de "Lost"! Rarará! Eu adoro esta história do Chavez. Gabriel García Márquez puro. Surrealismo mágico!

E o Congresso? O chargista Bessinha disse que o PMDB tá sofrendo de obesidade mórbida! Rarará!

E atenção! Sururu de classes! Olha a manchete do Sensacionalista: "Patrão demite doméstica por ter comprado um carro melhor que o seu". Rarará! E um amigo disse que o Bial tá parecendo poeta de biscoito chinês!

E o Big Bagaça Brasil? Prova do líder: quebra-cabeça. Quebra-cabeça não! Prova de quebra-cabeça no "BBB" é bullying! Eu queria mesmo era ver esta prova do líder: soletrar SCHWARZENEGGER. De trás pra frente! Ia dar um looping eterno! Se fosse pra soletrar BOB de trás pra frente, eles erravam! Rarará!

E esta: "Mascote da Copa é levado pelas enchentes no Rio". O Fuleco virou marreco. O Rio virou um rio! Como o slogan do Paes: "Somos Um Rio!". Errado! ÉRAMOS UM RIO! Agora viramos lago!

E os cariocas estão dizendo que na Olimpíada as provas de canoagem e remo serão disputadas na Praça das Bandeiras! E motoboy virou motoboia! Botoboy: bote com motor de popa. E aqui em São Paulo, quando chove, tem cruzeiro do Roberto Carlos no Anhangabaú!

E esta do jornal "Extra": "Musa argentina da Mangueira é transexual". A musa da Mangueira tinha mangueira! É mole? É mole, mas sobe!

O Brasil é Lúdico! Olha a placa no banheiro de um advogado: "Por favor, mantenham o piso e a bacia indenes, impolutos e imaculados. Se acontecer usar papel higiênico, deem descarga suficiente para que no vaso reste apenas e somente água pura".

E em Campina Grande, na Paraíba, tem uma linha de ônibus: Três Irmães! Adorei o "irmães". Isso é pro povo não ficar dizendo que brasileiro não sabe usar o plural! Rarará!

E eu tenho a foto de um funcionário da Walmart das Filipinas com o crachá: Cu! Quero ver botarem o nome dele na Coca Zero! Rarará!

Nóis sofre, mas nóis goza!

Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

Um conflito internacional - GILLES LAPOUGE


O Estado de S.Paulo - 19/01


Os aviões e soldados franceses continuam seu ataque aos "terroristas islâmicos" que se apoderaram, há alguns meses, da vasta metade norte do Mali. Os combates são duros e os fundamentalistas se misturam com a população dos vilarejos malineses. Na quarta-feira, essa guerra sofreu uma formidável metástase no norte distante e em outro país.

Na Argélia, na fronteira com a Líbia, na localidade de In Amenas, há uma zona de produção de gás pertencente à British Petroleum (BP). Foi lá que combatentes, sob o comando de um especialista em levantes, Mokhtar Belmokhtar, chefe de uma facção islamista ligada à Al-Qaeda que responde pelo nome inquietante de "Os que Assinam com Sangue", atacaram ao raiar do dia e tomaram como reféns empregados estrangeiros da instalação - japoneses, noruegueses, americanos, britânicos e franceses -, além de 300 empregados argelinos. Foi um grande arrastão.

A situação ficou conturbada, mas as informações eram imprecisas até ontem. Falava-se da fuga de uns 30 reféns e de um ataque lançado pelo Exército argelino contra os terroristas.

Podemos refletir sobre as repercussões desse golpe de efeito na guerra do Mali. Uma evidência é a de que o conflito, subitamente, se internacionalizou.

É bem verdade que todo o mundo sabia que esse país e sua tragédia estavam no centro de uma trama internacional que implicava uma dezena de países da África e, mais além, muitos outros Estados. Portanto, toda a comunidade internacional. No entanto, a manobra dos islamistas em In Amenas torna muito mais visível essa dimensão.

A batalha do Mali, portanto, se internacionalizou. Ela se tornou o epicentro da guerra que os fundamentalistas islâmicos travam contra o restante do mundo. E podemos imaginar que ela vai atrair, como o ímã atrai a limalha de ferro, numerosos jihadistas estacionados no Afeganistão, Paquistão, Iêmen, Somália e até mesmo na Indonésia.

Entretanto, o que vale para a nebulosa terrorista vale também para as nações ocidentais. Os aliados da França aplaudiram vigorosamente a ousadia de Paris. Infelizmente, eles não imaginaram que poderiam se juntar a essa ousadia.

A batalha do Mali era uma disputa entre os franceses e a Al-Qaeda. Ponto. Hoje, porém, a tomada de reféns pelos homens "Os que Assinam Com Sangue", a alguns milhares de quilômetros do Mali, na Argélia, demoliu essa tese sonolenta. Sobretudo porque, entre os reféns, figuram americanos, britânicos, noruegueses e japoneses.

Será que esse episódio vai abrir os olhos dos americanos, dos alemães, dos britânicos ou dos noruegueses e lhes sugerir que eles talvez tenham de se manifestar? E a Argélia? As relações entre Paris e Argel eram ruins há muito tempo. Sobretudo, os argelinos, que são muito vulneráveis ao terrorismo.

Há 20 anos, 5 mil de seus cidadãos foram covardemente massacrados pelos homens do Grupo Islâmico Armado (GIA), dos quais são herdeiros diretos os jihadistas do Mali. Até então, Argel fez de tudo para impedir que a comunidade internacional atacasse a parte norte do Mali, que é o reduto dos islamistas radicais.

No entanto, a Argélia mudou. Não faz muito tempo, o presidente francês François Hollande foi ao país e encontrou-se com seu colega argelino, Abdelaziz Bouteflika. O que teriam conversado esses dois homens? O fato é que, algum tempo depois, aviões franceses sobrevoavam o espaço aéreo argelino, o que teria sido impensável há um mês, para despejar suas bombas sobre os terroristas do Mali.

Belo desempenho diplomático de Hollande. Agora, quando "Os que Assinam com Sangue" fizeram centenas de reféns em In Amenas, o Exército argelino se recusou a negociar com os jihadistas. E atacou. / TRADUÇÃO DE CELSO PACIORNIK

Respeito às mulheres vale dinheiro - ALEXANDRE VIDAL PORTO

FOLHA DE SP - 19/01


A continuidade da expansão na Ásia exige o aumento de produtividade possibilitado pela inclusão das mulheres


A Ásia é o único continente do planeta onde há mais homens que mulheres. Na China, para cada mil homens, existem 943 mulheres. Na Índia, a situação é ainda mais crítica: de 0 a 6 anos, a proporção é de mil meninos para apenas 914 meninas.

Em grande parte, as causas desse deficit derivam de estruturas culturais que priorizam filhos homens. Na Ásia, a mortalidade infantil é mais alta entre mulheres. A preferência por um filho é tanta que, em certos países, grávidas decidem abortar ao saberem que esperam meninas.

Em nenhum outro continente a desvantagem relativa das mulheres é tão grande. São mais pobres, têm menos poder político e menor proteção legal. Em alguns lugares, não podem votar. Em outros, são trocadas por carneiros.

Embora varie de país para país, a condição das asiáticas é inferior à média global. O que já é ruim no resto do mundo na Ásia é pior.

A conscientização sobre a gravidade da questão, no entanto, parece aumentar. Alguns governos incluíram igualdade de gênero em suas políticas. Afeganistão, Japão e Coreia do Sul mantêm ministérios específicos para o tema. A causa dos direitos da mulher avança no continente, ainda que de forma lenta.

Ao mesmo tempo, as mulheres começam a sair às ruas para reclamar contra a desigualdade e exigir maior proteção. Em janeiro, houve manifestações maciças na Índia, Paquistão, Nepal e Bangladesh. Na China, ativistas com vestidos de noiva sujos de sangue protestaram publicamente contra a violência doméstica.

À ação política agrega-se uma dimensão econômica. Relatório conjunto da Organização Internacional do Trabalho e do Banco para o Desenvolvimento Asiático revela a importância da mão de obra feminina para o aumento da produtividade e do crescimento.

Estudos recentes do Banco Mundial apontam conclusões semelhantes. Cresce o consenso de que a continuidade da expansão econômica exigirá o aumento de produtividade possibilitado pela inclusão das mulheres na economia formal.

Quando se considera que apenas um terço das indianas e menos da metade das taiwanesas, por exemplo, integram o mercado de trabalho, é possível dimensionar esse desperdício humano. O "China Daily", maior jornal chinês em língua inglesa, de linha governista, publicou na semana passada matéria de capa sobre a questão.

Segundo Amartya Sen, prêmio Nobel de Economia, 100 milhões de mulheres asiáticas, que poderiam estar vivas, levando vidas produtivas, morreram desnecessariamente por causa de infanticídio, maus tratos ou aborto seletivo. Das sobreviventes, muitas têm suas possibilidades existenciais limitadas por tradições culturais e religiosas.

Quantos prêmios Nobel estarão escondidas sob uma burca? Qual a contribuição material que as mulheres asiáticas poderiam dar e não dão? Quais são os custos disso para o crescimento da região?

Essas são algumas das perguntas que as classes dirigentes da Ásia começam a se fazer. Espero que cheguem à conclusão óbvia de que o respeito aos direitos humanos, além de ser dever moral, vale dinheiro e é fator elementar no desenvolvimento econômico das nações.

Terra de ninguém - LUIZ FERNANDO JANOT

O GLOBO - 19/01


O processo descontrolado de expansão das cidades brasileiras pode ser visto como um dos principais responsáveis pela acelerada degradação dos nossos ambientes urbanos e naturais. Diante desse quadro, não há como permanecer assistindo passivamente uma vertente do mercado imobiliário — formal e informal — se instalar nas frágeis encostas de morros e margens de rios desprovidas de infraestrutura. Essa forma predatória de ocupação do solo exige dos governantes, dos políticos e das pessoas interessadas na construção de cidades mais humanas e sustentáveis uma reflexão desprovida de posicionamentos ideológicos desgastados. Há que se buscar a superação do abismo que existe entre promessa e ação através de uma perspectiva abrangente e capaz de reverter, na origem, esse quadro desolador. Caso o Rio consiga cumprir essa tarefa, em curto prazo, poderá se tornar um exemplo a ser seguido por outras cidades.

Infelizmente, a falta de uma conduta social em defesa dos interesses da cidade vem perpetuando um círculo vicioso que estimula e alimenta a degradação urbana. É assustador observar, inclusive pelo Brasil afora, o hábito de a população fazer vista grossa diante de atitudes que comprometem o espaço urbano e a qualidade de vida. Até parece que ainda vivemos os hábitos e a cultura dos tempos coloniais. Naquele tempo remoto o desprezo pela coisa pública se justificava na medida em que a população era excluída das decisões sobre a cidade. O povo pensava que a cidade não lhe pertencia.

Esse antagonismo entre o colonizador e o colonizado se instalou no inconsciente coletivo e permanece até os dias de hoje. Só que, atualmente, tal comportamento se transferiu para as relações entre o governo e a sociedade. A vacilante democracia no planejamento e gestão da cidade constitui um elemento a mais para estimular a prática de comportamentos predatórios. Qualquer indivíduo, com o mínimo bom senso, poderá perceber o quanto essa cultura discricionária compromete a vida urbana. A expressão “liberou geral” traduz, com bastante clareza, a maneira como as cidades brasileiras vêm sendo tratadas. Os comportamentos antissociais variam apenas na forma como são praticados e independem do status econômico e social de quem os pratica. Em ambos os casos, a cidade é usada como se fosse terra de ninguém.

Diante dessa constatação, não há como ficar de braços cruzados esperando que o poder público faça por nós aquilo que também nos compete fazer. Difundir um comportamento solidário em defesa da cidade e da cidadania é obrigação de qualquer pessoa civilizada. Felizmente, a imprensa vem dedicando um espaço relevante para a divulgação desses princípios e da necessidade de enfrentar com firmeza os descalabros que ocorrem no nosso dia a dia. Mas, se essas denúncias não alcançarem a repercussão desejada, não há dúvida de que, a exemplo de tentativas anteriores, não passará de mais uma página virada no noticiário cotidiano. Resta, portanto, a esperança de que a sociedade assuma, o quanto antes, um comportamento uníssono e solidário em prol da valorização da urbanidade e do combate à selvageria praticada pelos costumeiros predadores urbanos.

GOSTOSA


Sorria, você está sendo roubado - GUILHERME FIUZA


O Globo - 19/01



O "Financial Times" disse que o jeitinho brasileiro chegou ao comando da política econômica. O jornal britânico se referia à solidariedade entre os companheiros Fernando Haddad e Guido Mantega, num arranjo para que a prefeitura de São Paulo retardasse o aumento nas tarifas de ônibus, ajudando o Ministério da Fazenda a disfarçar a subida da inflação. A expressão usada pelo "Financial Times" é inadequada. Os britânicos não sabem que esse conceito quase simpático de malandragem brasileira está superado. O profissionalismo do governo popular não mais comporta diminutivos.

No Brasil progressista de hoje, os números dançam conforme a música. E a maquiagem das contas públicas já se faz a céu aberto: o império do oprimido perdeu a vergonha. No fechamento do balanço de 2012, por exemplo, os companheiros da tesouraria acharam por bem separar mais 50 bilhões de reais para gastar. Faz todo o sentido. Este ano as torneiras têm que estar bem abertas, porque ano que vem tem eleição e é preciso irrigar as contas dos aliados em todo esse Brasil grande. A execução do desfalque no orçamento foi um sucesso.

Entre outras mágicas, o governo popular engendrou uma espécie de "lavagem de dívida" para fabricar superávit. Marcos Valério ficaria encabulado. O Tesouro Nacional fez injeções de recursos em série no BNDES, que por sua vez derramou financiamentos bilionários nas principais estatais, e estas anteciparam sua distribuição de dividendos, que apareceram como crédito na conta de quem? Dele mesmo, o Tesouro Nacional - o único ente capaz de torrar dinheiro e lucrar com isso. Ao "Financial Times", seria preciso esclarecer: isso não é jeitinho, é roubo.

A "contabilidade criativa" - patente requerida pelos mesmos autores dos "recursos não contabilizados" que explicavam o mensalão - não é vista como estelionato porque o brasileiro é um amistoso, um magnânimo, deslumbrado com seu final feliz ao eleger presidente uma mulher inventada por um operário. Não fosse isso, era caso de polícia. A falsidade ideológica nas contas do governo Dilma rouba do cidadão para dar ao governo. Ao esconder dívidas e "esquentar" gastos abusivos, a Fazenda Nacional fabrica créditos inexistentes - que serão pagos pelos consumidores e contribuintes, como em toda desordem fiscal, através de impostos invisíveis. O mais conhecido deles é a inflação.

Em outras palavras: o jeitinho encontrado pelo companheiro-ministro da Fazenda para maquiar a inflação é um antídoto contra o jeitinho por ele mesmo usado para aumentar a gastança pública.

O maior escândalo não é a orgia administrativa que corrói os fundamentos da estabilidade econômica, tão dificilmente alcançada. O grande escândalo é a passividade com que o Brasil assiste a isso, numa boa. Se distrai com polêmicas sobre "pibinho" ou "pibão", repercute bravatas presidenciais sopradas por marqueteiros, e não reage ao evidente aumento do custo de vida, aos impostos mais altos do mundo que vêm acompanhados, paradoxalmente, por recordes negativos de investimento público. A bandalheira fiscal é abençoada por um silêncio continental. Nem a ditadura conseguiu esse milagre.

No auge da era da informação, o Brasil nunca foi tão ignorante. Acha que as baixas taxas de desemprego - fruto de um ciclo virtuoso propiciado pela organização macroeconômica - são obra de um governo com "sensibilidade social". Justamente o governo que está avacalhando a estabilização, estourando a meta de inflação e matando a galinha dos ovos de ouro. Esse Brasil obtuso acha que as classes C e D ascenderam ao consumo porque o que faltava, em 500 anos de história, era um governo bonzinho para inventar umas bolsas e distribuir dinheiro de graça.

Esse mal-entendido pueril gera uma blindagem política invencível. Os passageiros que assaram no Galeão e no Santos Dumont, no vergonhoso colapso simultâneo de dezembro, são incapazes de relacionar seu calvário ao caso Rosemary - a afilhada de Lula e Dilma que protagonizou o escândalo da Anac, por acaso a agência responsável pela qualidade dos aeroportos. O governo popular transforma as agências reguladoras em cabides para os companheiros e centrais de negociatas, e o contribuinte sofre com a infraestrutura depenada como se fosse uma catástrofe natural, um efeito do El Niño. Novamente, nem os generais viveram tão imunes à crítica.

Com a longevidade do PT no Planalto, o assalto ao Estado vai se sofisticando. A área econômica, que era indevassável à politicagem, hoje tem a Secretaria do Tesouro devidamente aparelhada - um militante do partido com a chave do cofre. E tome contabilidade criativa. Definitivamente, o Brasil não aprendeu nada com a lição do mensalão. Os parasitas progressistas estão aí, deitando e rolando (de tão gordos), rumo ao quarto mandato consecutivo.

Não contem para o "Financial Times", mas a conta vai chegar.

O paradoxo do PMDB - MERVAL PEREIRA

O GLOBO - 19/01


O PMDB se prepara para um dos momentos mais importantes de sua trajetória política enfrentando um paradoxo que não lhe é desconhecido. Por um desses desígnios da sorte vai presidir as duas Casas do Congresso nos anos vitais para a sucessão presidencial, mas seus indicados para o cargo, o deputado federal Henrique Alves e o senador Renan Calheiros, se têm uma aparente tranquilidade para se eleger junto a seus pares, não desfrutam junto à opinião pública de uma imagem que permita ao partido se impor como uma alternativa de poder.

O fato de terem uma imagem interna melhor que a externa provavelmente indica que o Congresso é uma instituição em choque com a opinião pública, tendo perdido já há algum tempo a característica de representar o pensamento médio brasileiro, seja pela influência financeira nos pleitos, seja pelas possibilidades que o sistema eleitoral brasileiro dá para desvirtuar o voto popular com as coligações proporcionais. Ou ainda pela distribuição não proporcional das cadeiras pelos Estados da Federação. Mas especialmente pelo corporativismo que domina a maioria dos parlamentares

O PMDB terá nos próximos dois anos a oportunidade de ter sob seu controle o Congresso Nacional, um dos Poderes da República que, no entanto, está tão desmoralizado na posição subalterna em que se colocou diante do Executivo e do Judiciário que dificilmente dá a seus representantes a possibilidade de se igualarem aos seus pares dos demais poderes.

Mesmo assim, o PMDB terá condições de barrar iniciativas do Executivo, de propor ações concretas, de não limitar sua ação ao fisiologismo, se quiser ter um peso decisivo na eleição presidencial de 2014. Essa preocupação não é só do PMDB, mas de todos os partidos aliados do governo que têm projetos políticos de mais longo prazo, como o PSB e até mesmo o recente PSD, mal nascido e já inquieto com a disputa do poder político paulista.

O PT conseguiu ficar na oposição nos dois governos de Fernando Henrique, tendo se recusado a aderir à transição chefiada por Itamar Franco, justamente por que tinha uma expectativa de poder alimentada pela ida de Lula ao segundo turno da eleição presidencial de 1989 contra Collor. A derrocada do governo, comandada pela bancada petista no Congresso e pelos movimentos sociais nas ruas, deu a sensação ao PT de que chegara a sua hora. A alternativa partidária derrotada nas urnas mostrava-se novamente à disposição dos eleitores em 1994, e poderia até mesmo ter sucesso se os planos não fossem atropelados pelo Plano Real.

A falta de expectativa de poder nesses anos petistas implodiu por dentro a oposição e resultou no PSD, um abrigo para todos que não querem ficar longe do poder. A decisão do PMDB de não disputar várias eleições presidenciais nos últimos anos explicaria porque não tem uma imagem política nacional, embora domine a política regional mantendo sua estrutura enraizada por todo o país, o que resulta de sua própria origem. Durante os anos de ditadura, só restava aos partidos disputarem o poder municipal, e à medida que foi se ampliando a possibilidade de disputar eleições, o PMDB foi deixando suas raízes pelo interior do país, o que lhe garante uma estrutura nacional invejável que o PT, depois de 10 anos de poder, e o PSDB, mesmo tendo ficado oito anos na Presidência, não conseguiram superar.

Deixando, no entanto, que questões locais se sobrepusessem às nacionais, demonstrou uma vocação política restrita, aceitando o papel de coadjuvante de PT e PSDB, partidos que têm "vocação presidencial". No momento em que assume o controle do Poder Legislativo, tem a chance de se impor como parceiro preferencial e não apenas decorativo do PT, ou de participar do jogo de poder com outros parceiros, caso seu faro apurado descubra que o vento do poder mudou de direção.

Mas o PMDB tem contra si o histórico fisiológico de suas principais lideranças que dificulta antever nas suas ações um movimento de revigoramento do Poder Legislativo, sem o que continuará sendo um ator periférico, sempre aliado do poder do momento, mas sem credenciais para exercê-lo. Continuará sendo vítima de sua própria trajetória política, sem condições de governar, mas sendo imprescindível a qualquer governo.

Mais Matemática, Português e Ciências - CLAUDIA COSTIN

O GLOBO - 19/01

Os desafios que o Brasil enfrentará para crescer com equidade ficam claros ao se observar os últimos resultados do Ideb, índice nacional que avalia a Educação. Indicam, ainda, que os municípios precisam de ações firmes para percorrer este caminho. Foi o que procuramos fazer no Rio de Janeiro. Em 2009, iniciamos o desafio de dar um salto de qualidade. Já avançamos bastante.

No Ideb 2011, passamos ao 4º lugar entre as capitais, nos Anos Iniciais (1º ao 5º anos). Nos Anos Finais (6º ao 9º anos), as escolas da Prefeitura melhoraram em 22%, refletindo uma nota mais elevada na Prova Brasil e uma redução na evasão escolar e na repetência. Vale a pena lembrar que a melhora no Brasil, nos Anos Finais, foi de 2,5%. A importância dos resultados fica evidente ao observarmos o cenário em 2009: no 5º Ano, apenas 29% das crianças tinham os conhecimentos apropriados para a série, caindo de um patamar de 33% em 2005, além de 28.000 alunos analfabetos funcionais do 4º ao 6º Anos.

Era claro que havia muito a fazer. Como as taxas de analfabetismo funcional diziam que algo estava errado, decidimos enfatizar a alfabetização. Investimos forte na formação do professor alfabetizador, produzimos nosso próprio livro de alfabetização e criamos um pacto para alfabetizar todas as crianças no 1º Ano. Não podemos aceitar que a escola privada alfabetize no 1º Ano e a pública, frente à baixa escolaridade dos pais, deixe para fazê-lo mais tarde.

Criamos o programa Escolas do Amanhã, para unidades em áreas conflagradas, com um ensino inovador de Ciências, centrado em experimentação, um método dinâmico para desfazer déficits de aprendizagem criados pela exposição à violência, além de atividades pós-escola de artes, esportes e reforço escolar. Aqui, também avançamos: um aumento de 33% no Ideb dos Anos Finais, fase em que o tráfico recruta os jovens, e uma queda da evasão de 5,1% (2008) para 3,18% (2011).

Também focamos no reforço. Para os adolescentes, um novo modelo de ensino foi criado, o Ginásio Carioca, com protagonismo juvenil, interdisciplinariedade e Educação baseada em projetos. Produzimos também cartilhas para que os pais acompanhem o dever de casa e as tarefas de férias.

Agora, novos desafios se impõem. Temos que garantir às nossas crianças pelo menos 7 horas de aula por dia, como fazem os países nas primeiras posições no ranking internacional de Educação. Criamos, então, o programa Turno Único, que colocará todas as escolas da rede municipal com 7 ou 8 horas de aula até 2030, com mais tempo de aula de Matemática, Português e Ciências e atividades de artes e esportes. Já ao fim de 2016, teremos 35% dos alunos nestas unidades. O Rio merece!

FLÁVIA OLIVEIRA - NEGÓCIOS & CIA

O GLOBO - 19/01


Bilhão.com
As vendas brutas totais da Nova Pontocom, empresa de e-commerce do Grupo Pão de Açúcar, bateram R$ 3,7 bilhões no ano passado. Foi alta de 8,1% sobre 2011.
O resultado tem a ver com novos serviços e marcas, caso do site Barateiro.com.

Aluguel
A Cushman & Wakefield fechou com a MRP International. Será responsável pela locação de lajes corporativas do Trump Towers Rio. Vai negociar espaços em duas torres de 38 andares, cada. É o maior contrato de representação da história da empresa na América Latina.

PRODUTOS DO RIO TERÃO SELO DE ORIGEM
Lácteos, café, carne bovina e cachaça estão entre as categorias a receberem classificação
O governo do Rio está desenvolvendo selos de denominação de origem para cinco categorias de produtos locais. A intenção é agregar valor às mercadorias, de modo a compensar a falta de espaço para produção agropecuária em larga escala. Como o Rio não tem território para competir com rebanhos ou lavouras de São Paulo, Minas, Centro-Oeste ou Sul do país, vale a pena certificar produtos destinados à exportação ou ao consumo de alta renda, explica Christino Áureo, secretário de Agricultura. Há cinco grupos em análise: lácteos, café, cachaça, carne bovina e alimentos ecoamigáveis. Nessa categoria entram frutas e hortaliças cultivados com baixa carga de agroquímicos, mas não orgânicos. A carne, em cortes especiais, pode interessar a churrascarias e restaurantes classe A.

Paraty
TEM SELO

Produtores do município conseguiram em 2007 o selo de Indicação de Procedência do INPI para a cachaça e a aguardente locais. É certificação federal. Agora, o estado quer lançar selo próprio.

Prejuízo 1
O prejuízo da indústria do cobre com roubos chegou a R$ 11,09 milhões em 2012. Supera em 35% as perdas do ano anterior. É o que diz pesquisa que o Sindicel lança na segunda.

Prejuízo 2
Em todo o ano passado, foram desviadas 588 toneladas do metal. Foi crescimento de 29% sobre 2011. No país, em 2012, foram registradas 71 ocorrências. Salto de 44%.

Torcida
Circula na web um abaixo-assinado de clientes pedindo que a Unimed pare de gastar dinheiro com o Fluminense.

Diversão
Shopping (57%) é o lazer favorito dos moradores do Estado do Rio. Festas (28,7%) e cinema (28,4%) vêm depois. Os dados são de pesquisa Sesc Rio/Fecomércio-RJ. No 3º tri de 2012, 13% viajaram; metade (48%) para o interior.

Cultura
A construção carioca, via Seconci-Rio, será parceira do Ministério da Cultura em ação pró-leitura. Canteiros de obras terão bibliotecas itinerantes. 

PUBLICIDADE
O 6º Wave Festival in Rio, encontro latino-americano de publicidade, põe na rua na 2ª a campanha para divulgar abertura das inscrições. Criação da Loja Comunicação, sai em impressos e internet. O evento será realizado dias 16 e 17 de abril.

BRASIL NA CAIXA
Uma ação no Facebook vai escolher três embalagens do uísque Johnnie Walker dedicadas ao Brasil. Será a 1ª homenagem da marca a um país. Até 14 de fevereiro, internautas votarão em imagens e frases de artistas e escritores brasileiros. Pedro Lobo concorre com a foto “Guanabará.

‘FOR KIDS’
A atriz Maisa Silva estrela a campanha que aYes! Idiomas estreia amanhã. O curso quer atrair o público infantil. Aporte de R$ 3,5 milhões, circula em TV, rádio, outdoor e taxidoor. A C+A criou.

CINCO SEGUNDOS
A Petrobras vai patrocinar a contagem regressiva dos jogos de futebol transmitidos pela TV Globo. Começa amanhã. Imagens da empresa serão exibidas nos cinco segundos. No intervalo das partidas e nos boletins da F1, vai ao ara campanha Nossa Energia. A F/Nazca assina.

VIDA DOMÉSTICA
A Consul põe no ar amanhã campanha institucional sobre sua linha de eletrodomésticos: de micro-ondas a geladeiras e lavadoras. No filme, homens, mulheres e até um cão se impressionam com facilidades da marca. É o mote para a assinatura: “Bem pensado”. A DM9DDB assina.

Carne argentina
A rede paulista Pobre Juan, de parrillas, abre restaurante no VillageMall na 2ª. Será o 1º no Rio. O investimento de R$ 5 milhões foi o maior da história da marca, dona de oito unidades. A meta é faturar 20% mais.

É carnaval
Já está em 95% a ocupação do Sofitel Rio nos dias de folia. Deve bater 100%. Em Búzios, o Villa Rasa Marina está 70% lotado. Metade dos hóspedes virá de São Paulo.

Livre Mercado
A Oi abriu três lojas próprias no Rio este ano: Centro (2) e Tijuca (1). Passa a ter oito na cidade.
A Concremat assinou com a BMW. Vai gerir o projeto da fábrica da montadora em SC.
A Ceplir, da Secretaria estadual de Assistência Social, estreia nova logo na 2ª. A Target criou.
A Rio Negócios errou. É por semana, não por dia, que o Rio tem 10.982 assentos e 270 voos internacionais diretos.

O setor de energia à deriva - ADRIANO PIRES


O Estado de S.Paulo - 19/01



O setor de energia está nitidamente à deriva no Brasil e a razão principal é a sua utilização para fins políticos e eleitoreiros, pondo fim a um planejamento de longo prazo. Ao adotar uma agenda populista e eleitoreira, principalmente a partir de 2008, o governo levou o País a ser importador de combustíveis, etanol e a apagões de energia elétrica.

O ano de 2008 foi marcado pelo início da crise econômica mundial, caracterizada à época pela quebra do banco Lehman Brothers. No Brasil o governo, embalado pelo anúncio da descoberta da camada pré-sal, passou a adotar medidas para que a crise causasse apenas "marolinhas" na economia. E aí começa o calvário do setor de energia.

A primeira vítima foi o setor de petróleo. Com o pré-sal, o governo ressuscitou a campanha do "Petróleo é Nosso" e com isso cancelou a realização de novos leilões, promoveu mudanças na legislação na direção de maior intervenção do Estado na Petrobrás e no setor de petróleo e congelou os preços da gasolina e do diesel. As consequências da política petropopulista foram a estagnação da produção de petróleo, o atraso na construção de novas refinarias, o aumento na importação de gasolina e diesel, pouco investimento das empresas privadas e a queda no valor de mercado da Petrobrás desde que ocorreu o processo de capitalização em 2010.

O setor elétrico também tem sido vítima dessa política intervencionista passando a privilegiar a modicidade tarifária em detrimento da segurança de abastecimento. Essa estratégia populista e eleitoreira atingiu seu clímax com a publicação da Medida Provisória (MP) 579, no ano passado. A MP, cujo objetivo principal era reduzir as tarifas, de maneira autoritária e unilateral propôs a prorrogação das concessões, oferecendo uma indenização e tarifas bem abaixo das esperadas pelo mercado. Isso provocou grande perda nos valores das empresas, levando a um extraordinário prejuízo para os acionistas minoritários. A solução foi interpretada como uma estatização velada do setor no médio prazo. A capacidade de investimento das empresas fica inteiramente prejudicada, no momento em que se pretende investir mais de R$ 200 bilhões.

Como o setor tem enfrentado interrupções no fornecimento de energia elétrica e risco de racionamento, o governo reduz as tarifas por meio de MP, numa tentativa de revogar a lei da oferta e da demanda. A redução da capacidade de investimento das empresas, provocada pela queda das tarifas, diminui a confiabilidade do sistema e a qualidade do serviço, o que certamente se refletirá no aumento da frequência de "apagões".

Segundo dados da Empresa de Pesquisa Energética (EPE) e da Energy Information Administration (EIA), no Brasil, nos últimos 5 anos, a produção de etanol de cana cresceu 29%, enquanto nos EUA o salto foi de 185% no etanol de milho. Em 2000, as usinas americanas fabricavam apenas 57% do volume das usinas brasileiras, e em 2011 a produção de etanol norte-americana representou mais que o dobro da brasileira, 230%. Qual a receita do sucesso americano? Previsibilidade. Até 2022, o governo norte-americano se comprometeu por lei a comprar 136 bilhões de litros de etanol, a um preço mínimo de US$ 1,07, reajustado anualmente.

A falta de planejamento levou ao cenário "falta tudo". Falta gasolina, o que faz com que as importações tenham atingido nível recorde e gerado vultosos prejuízos para a Petrobrás. Há a ameaça de racionamento de energia elétrica, o que, com a entrada em operação de usinas a fio d'água, deve se tornar cada vez mais comum em períodos de pluviosidade adversa. Falta etanol para que a mistura na gasolina volte para os 25%, diminuindo a emissão de CO2 na atmosfera. Isso porque o País cresceu apenas 1% em 2012. Imagine se as previsões do governo de um crescimento entre 3% e 4% se confirmassem? Enquanto o planejamento do setor de energia estiver baseado na conjuntura política e econômica, em vez de em ações claras e transparentes de longo prazo, respeitando as regras de mercado, o Brasil continuará convivendo com cenários de desabastecimento de energia.

#freegaleguinho - IGOR GIELOW

FOLHA DE SP - 19/01


BRASÍLIA - Lula bem que tentou, com sua gloriosa aparição como sinhô-velho aconselhando sinhozinho Haddad e seus amiguinhos a como aproveitar os caraminguás de sinhá Dilma naquele constrangedor momento da história de São Paulo. Mas o personagem da semana acaba sendo ele, o bode Galeguinho.

Inocente, ele curtia a sombra numa casinha largada em Natal, um quadro que faria justiça à observação naturalista de Frans Post, holandês famoso por seus quadros que tão bem mostravam nossa mansidão colonial -que campeia até hoje.

O caprino nunca suspeitara de que portentosos R$ 6 milhões fossem administrados a partir daquele humilde quartel-general, prova inconteste do gênio brasileiro, obviamente.

Mas aí a malvada imprensa apareceu, curiosa para saber por que outro sinhô, o provável futuro número dois da linha sucessória presidencial, Henrique Eduardo Alves, resolveu botar tanta grana por meio de emendas parlamentares numa empresa que pertencia a seu assessor.

O resto é história. Revelado ao mundo, Galeguinho dançou: foi amarrado a uma árvore no meio da rua, como que a apagar rastros de outrem. Ao tal assessor não sobrou destino tão cruel, mas, de todo modo, ele perdeu o emprego formal para que nada pesasse contra o chefe Alves, que, claro e à imagem de sinhô Lula, nada sabia de irregularidades.

Galeguinho é uma triste metáfora. A tentação é equivaler sua situação expiatória à da maioria do povão longe do intramuros das grandes capitais, São Paulo e Rio à frente. Bobagem: somos todos, pagadores de impostos, Galeguinhos em potencial.

Assim, resta fingir que sou um desses moderninhos que usam rede social para fazer campanha, lembrar da minha antiga musa Winona Ryder e defender a liberdade do bicho com o hashtag #freegaleguinho.

Só espero que nenhum amigo de "Henriquinho" goste e fature nas minhas costas com algumas camisetas.

Vestida com as roupas de vaqueira - LEONARDO CAVALCANTI


CORREIO BRAZILIENSE - 19/01


Nada mais simbólico do que a presidente Dilma Rousseff vestir roupas de vaqueiro na visita a São Julião (PI), a 382km da capital Teresina. No interior dos estados nordestinos, a indumentária é sagrada para quem trabalha no sertão. Confeccionada de couro a partir de um processo para lá de rudimentar, o traje tem uma cor um tanto avermelhada e serve de proteção, quase um abrigo espiritual — por mais que o gibão tenha como função prática isolar os espinhos da caatinga. É a armadura sertaneja.

Ao longo de dois anos de calmaria política, apesar de todas as quedas de ministros, Dilma conseguiu passar longe das crises. Ao contrário, parecia até mesmo se fortalecer ao demitir os subordinados na Esplanada. Tudo usando terninhos e tailleurs. Com a recessão econômica mundial invadindo o Brasil e a guerra aberta entre integrantes da equipe, Dilma sabe que precisa de armaduras mais pesadas.

Armas
Até o mais displicente sabe que a economia é o que define uma eleição. Esqueça escândalos ou mesmo uma ou outra dificuldade administrativa em áreas prioritárias como saúde e educação. O que vale é a satisfação do cidadão com o emprego garantido e a possibilidade de financiar a casa ou o carro. O mentor político de Dilma, Luiz Inácio Lula da Silva, sabia disso como ninguém. E assim o camarada conseguiu se reeleger e ainda fazer a sucessora. Com a crise atual, talvez não fosse capaz.

Em São Julião, a 2.000km de Brasília, Dilma apresentou duas novidades: topou vestir uma roupa pesada, mesmo que tenha usado apenas o gibão, e mudou o discurso econômico. Em vez de previsões otimistas — o tal do “pibão grandão” —, algo sóbrio, próximo à realidade mundial. “Asseguro que 2013 será um ano em que nós teremos aquele crescimento sério, sustentável e sistemático.”

Emprego
A partir daqui, porém, o discurso da sertaneja Dilma ganhou contornos um tanto confusos. “Queremos crescer, mas queremos crescer garantindo também que não só seja a economia que cresça. Queremos que o povo brasileiro cresça, que o emprego cresça, e, sobretudo, é um compromisso muito forte do meu governo que a educação de qualidade cresça no nosso país”, disse ela. Mas não é mais do que evidente que com a economia forte fica mais fácil administrar as outras áreas? Qual é o crescimento sério?

Dilma terá mais dois anos para explicar a frase emblemática de ontem. O que ficou mais claro foi o papel da presidente no meio político. A petista, a partir de agora, usará roupas adequadas para cada ocasião, seja nos gabinetes do Planalto, nas conversas com empresários ou no sertão nordestino a prometer acabar com a pobreza extrema. Por mais que Dilma ainda precise dos conselhos de Lula para se movimentar com os políticos, cada vez mais ela mostra desenvoltura no papel solo.

Território
De imediato, a presidente tem viagens para pelo menos três estados nordestinos. É claramente uma tentativa de manter a base conquistada por Lula e, principalmente, invadir locais como Pernambuco, do governador Eduardo Campos (PSB). Apesar de uma situação confortável até agora — com popularidade em alta —, a presidente convive com ameaças de aliados e, pior, com correligionários ferrenhos do petista. Se para o PT é bom manter Dilma e Lula na vitrine e nas pesquisas de opinião, a guerra armada entre lulistas e dilmistas cria dificuldades para o Planalto. Nada melhor do que um gibão, pois.