quinta-feira, outubro 29, 2009

AUGUSTO NUNES

VEJA ON-LINE

O PAC da Conversa Fiada

29 de outubro de 2009

Agora desgraçou tudo, porque agora os home tão ficando nervoso porque nós tamo inaugurando obra”, desandou o presidente Lula num palanque no Rio, espancando a língua portuguesa com especial selvageria. ”Calma, que nós ainda nem começamo a inaugurár o que nos temo para inaugurá nesse país. Tem muita coisa pra acontecêr e tem muita coisa que nós vamo fazê ainda pra frente.” Sempre à frente de uma comitiva de bom tamanho, não vinha de inauguração nenhuma, não estava a caminho de algum canteiro de obras nem aparecera no Rio para inaugurar alguma. Vinha da Procissão dos Pecadores do São Francisco, estava em território carioca para outro comício e, de lá para cá, só inaugurou pela segunda vez uma quadra usada na Mangueira.

Pelo andar da carruagem, Lula corre o risco de terminar o segundo mandato sem ter deixado pronta uma única obra física efetivamente relevante. A transposição do Rio São Francisco, as grandezas do pré-sal, as hidrelétricas do Rio Madeira, pontes, rodovias ─ tudo vai demorar. Acossado pelo tempo cada vez mais curto, o maior dos governantes culpa o Tribunal de Contas da União, o Ibama, o fiscal da esquina, o cartório, qualquer coisa. Quer inaugurar qualquer irrelevância. Até quadras de segunda mão.

Incapaz de criar, o governo não cuida direito nem do que existe, confirmou nesta quarta-feira o levantamento da Confederação Nacional dos Transportes sobre a situação das estradas do país. O estudo abrangeu quase 90 mil quilômetros de rodovias pavimentadas. Desse total, quase 70 % foram reprovados. A rede federal é a mais devastada. Segundo a CNT, a recuperação da malha rodoviária exige investimentos que somam R$ 32 bilhões. Seis vezes mais do que o governo Lula gastou em 2008. O PAC vai acabar programando outra operação tapa-buraco para 2010. E o chefe já prometeu outro PAC para 2011, com prazo de validade até 2015.

Por enquanto, só avança em bom ritmo o PAC da Conversa Fiada.

PARA....HIHIHIHI

COMO EXPLICAR SEM OFENDER


Um homem de 85 anos estava fazendo seu check-up anual. O médico

perguntou como ele estava se sentindo:

- Nunca me senti tão bem - respondeu o velho.

Minha nova esposa tem 18 anos e está grávida, esperando um filho
meu. Qual a sua opinião a respeito, doutor?

O Médico refletiu por um momento e disse:

- Deixe-me contar-lhe uma estória: eu conheço um cara que era um
caçador fanático, nunca perdeu uma estação de caça.

Mas, um dia, por engano, colocou seu guarda-chuva na mochila em
vez da arma. Quando estava na floresta, um urso repentinamente apareceu na
sua frente. Ele sacou o guarda-chuva da mochila, apontou para o urso e...

BANG.............. o urso caiu morto.

- HA! HA! HA! Isto é impossível - disse o velhinho - algum outro
caçador deve ter atirado no urso.

- Exatamente!!!

COLABORAÇÃO ENVIADA POR MARTA

GOSTOSA


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KENNETH MAXWELL

A crise das universidades

FOLHA DE SÃO PAULO - 29/10/09

AS UNIVERSIDADES privadas dos EUA foram por muito tempo a inveja do mundo, não menos por conta dos seus saudáveis patrimônios de investimento. Antigos alunos ricos e outros benfeitores doaram, ao longo dos anos, vastas somas para essas instituições. No começo de 2008, o fundo de investimentos de Harvard tinha US$ 37 bilhões em capital, e o de Yale, US$ 23 bilhões.
Outras universidades também acumularam grandes dotações ao investir pesadamente em títulos privados de alto retorno, imóveis e fundos de hedge. Os administradores dos fundos universitários lucraram consideravelmente ao longo do processo, recebendo bonificações multimilionárias. A remuneração real que recebiam superava a de qualquer reitor universitário.
Mas, em outubro de 2008, tudo mudou. O colapso financeiro em Wall Street causou sérios abalos no sigiloso mundo da gestão de investimentos universitários. A dotação de Harvard perdeu mais de 27% de seu valor, o maior declínio sofrido em 40 anos. Em Yale, as perdas foram de 24,6%. A dotação de Stanford caiu em 27%. Em Princeton, a perda foi de 23%.
Algumas universidades se saíram melhor (ou menos pior) que isso: a Universidade da Pensilvânia, o Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) e a Universidade Colúmbia, por exemplo, que haviam direcionado a maior parte dos seus investimentos para títulos do governo. Mas o quadro geral era de devastação.
Muitas dessas universidades de elite usavam a receita de seus investimentos para bancar despesas cotidianas. A expectativa de ganhos com os investimentos havia sido incorporada ao seu nível atual de despesa. No começo deste ano, Harvard tentou vender cerca de US$ 1 bilhão em ativos, mas abortou o processo diante da resposta pouco entusiástica do mercado.
Em vez disso, tomou um empréstimo de US$ 1 bilhão, encorajou a antecipação de aposentadorias, congelou salários, suspendeu projetos de expansão e impôs cortes generalizados de despesas. Mas a venda de cotas em carteiras privadas de investimento tende a agravar os prejuízos. No começo deste ano, o valor dessas transações aparentemente era de apenas 30% do valor de face das cotas em questão, e mesmo que tenha subido a 50% nas últimas semanas, ainda envolve a aceitação de substanciais prejuízos nas carteiras universitárias de investimento mais amplas.
Os alunos de Harvard, que retornaram à universidade em outubro, descobriram que não terão mais direito a desjejuns quentes. E essa é apenas uma pequena parte dos sacrifícios que essas universidades terão de fazer agora.

CLEVELAND PRATES

Neutralidade de rede


Folha de S. Paulo - 29/10/2009

É hora de priorizar o tema. Não há como fugir de uma discussão mais franca sobre o que queremos de nossa internet no futuro


NOS ÚLTIMOS anos, tenho dedicado parte do meu tempo a entender melhor o que os teóricos chamam de economia de redes e a aplicação de sua lógica à internet.
A internet é um conglomerado de redes interligadas em escala mundial que permite que seus usuários tenham acesso às mais variadas informações e a todo tipo de transferência de dados.
Essa estrutura tem suportado vasta gama de aplicativos, tais como comércio eletrônico, voz sobre IP, comunicação por e-mail, blogs, sites de relacionamento, download de músicas e vídeos etc. Não por outra razão, o nível de eficiência na economia moderna tem se elevado substancialmente.
Recentemente, ao abrir a página da Federal Communications Commission (FCC), órgão norte-americano equivalente à Anatel, fui positivamente surpreendido com uma chamada de primeira página, denominada OpenInternet.gov, na qual o atual presidente daquela agência faz um convite a toda a sociedade para participar da discussão sobre o modelo de internet a ser implementado nos próximos anos. Seu objetivo é abrir uma discussão sobre o quão neutra deve ser uma rede.
Mas, afinal, o que é neutralidade de rede e qual o seu impacto para a sociedade? De maneira geral, o princípio da neutralidade pressupõe que todos os dados que trafegam pela internet devem ter um tratamento isonômico, sem qualquer tipo de discriminação.
Sob o ponto de vista teórico, a discriminação pode ocorrer de pelo menos duas maneiras. A primeira delas é por bloqueio ou degradação deliberada da qualidade do tráfego. Exemplos desse tipo são percebidos por quem utiliza o serviço Voip (telefonia via internet), principalmente em determinados momentos do dia.
Uma segunda forma é aquela associada à hierarquização dos serviços prestados. Pelo lado do consumidor, isso acontece, por exemplo, por meio de pacotes com preços diferenciados conforme a velocidade e o volume de dados demandados. Note-se que esse tipo de discriminação não é, em princípio, um problema, pois estimula o uso mais eficiente da rede.
Já a hierarquização pelo lado da oferta dos serviços prestados é mais preocupante. Discriminar cobrando um prêmio de quem oferece serviço na rede pode equivaler a "pegar uma carona" em parte do valor agregado criado por alguma empresa.com ou inibir a oferta de novos serviços pelas pequenas empresas que não têm recursos para arcar com custos mais elevados.
Garantir a neutralidade de rede tem como potenciais resultados a manutenção da concorrência na internet (e de todos os benefícios a ela associados, principalmente o trinômio preço, qualidade e inovação) e as novas oportunidades de realização de negócios (com consequente elevação de empregos e da renda gerada).
Na mesma linha, a garantia da livre circulação de informações, além de favorecer aspectos democráticos, também tem impacto sobre as decisões dos agentes econômicos e sobre a eficiência do processo decisório de cada um.
Sob o ponto de vista teórico, há uma infindável discussão sobre o que seria de fato mais eficiente: aplicar o princípio da neutralidade como um todo ou em parte, regular ou não regular.
Já sob o ponto de vista prático, esse tema está a cada dia mais presente na agenda de vários países. O Japão, por exemplo, adota claramente uma atitude em favor da neutralidade. E os EUA, após um período em que a FCC se colocou em oposição a qualquer legislação que contemplasse garantias quanto à neutralidade de rede, hoje reconhecem que os resultados dos anos passados não foram os melhores para a sociedade norte-americana.
Qual a importância dessa discussão para o caso brasileiro? A exemplo dos americanos, entendo que é hora de priorizar o tema. Isso porque, em primeiro lugar, o que for decidido hoje terá impacto sobre o nível de investimento futuro no setor e sobre o ritmo de inovação vigente na internet.
Em segundo, nossa estrutura de rede é muita mais concentrada do que a dos Estados Unidos, o que indica que o consumidor brasileiro e os fornecedores de serviços aqui têm menos opções de escolha. Em terceiro, porque, ao comparar os preços vigentes e a qualidade dos serviços prestados pelas empresas de banda larga no Brasil e no resto do mundo, fica claro que existem ineficiências que devem ser analisadas e corrigidas.
Se o objetivo do governo é de fato tornar a economia brasileira mais eficiente, gerar mais empregos e tornar a sociedade mais democrática, não há como fugir de uma discussão mais franca sobre o que queremos de nossa internet no futuro.

PARA REFLEXÃO

Até que enfim alguém falou algo sensato neste país...
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Essa pergunta foi à vencedora em um congresso sobre vida sustentável.

“Todo mundo 'pensando' em deixar um planeta melhor para nossos filhos.... Quando é que 'pensarão' em deixar filhos melhores para o nosso planeta?”


Uma criança que aprende o respeito e a honra dentro de casa e recebe o exemplo vindo de seus pais, torna-se um adulto comprometido em todos os aspectos, inclusive em respeitar o planeta onde vive...

COLABORAÇÃO ENVIADA POR APOLO

ARI CUNHA

Alta tecnologia, alta sensibilidade

CORREIO BRAZILIENSE - 29/10/09


A cada dia a medida de tempo, distância e velocidade muda. Pelo flightstats, o internauta pode acompanhar nos Estados Unidos qualquer voo. Velocidade, altura, hora prevista de chegada. De forma mais tímida, a Infraero oferece serviço parecido. No Msccruzeiros, uma câmera mostra imagens ao vivo da vista do navio. Pelo Google Earth, é possível passear vendo ruas de diversos ângulos. Qualquer um pode acessar as câmeras espalhadas pelo mundo todo que transmitem ao vivo imagens das cidades. São várias as opções para a aplicação da tecnologia do lá e agora. Boiadeiros cavalgam com o celular na cintura. Redes Wi Fi para acesso à internet, GPS no celular. O admirável mundo novo só é o velho mundo nada admirável quando o assunto é a fome. Como aquela história do beija-flor que tenta apagar um incêndio, o professor Nagib Nassar é homenageado na UnB. Cientista, dedicou a vida a pesquisas e ao uso da tecnologia para diminuir a fome nos continentes asiático, africano e na América do Sul. (Circe Cunha)

A frase que não foi pronunciada

“Abomine o churrasco suculento.”
Esperança de uma floresta.


Lacuna
Todi Moreno é o proponente do projeto que dá trabalho ao jovem dispensado do serviço militar. A população que pretende ingressar no Exército pelo soldo, abrigo e alimentação é significativa. De olho nos recusados pelas Forças Armadas, uma rede multinacional de lanchonetes resolveu bancar a ideia.

Gás
Ricardo Pires, do Procon, quer fazer valer um desconto na venda de GLP em botijões de 13kg e 45kg. Há um resíduo que, por falta de pressão, não é consumido e devolvido às empresas. O assunto foi discutido na Câmara dos Deputados em audiência pública. A ideia é que o ressarcimento seja feito com a pesagem durante a troca do botijão.

Washington
Professor Nilvan Pereira de Vasconcelos mostra nos Estados Unidos o sucesso da gestão escolar em parceria com a comunidade. Projetos para o meio ambiente, prevenção às drogas, música, esporte e outras dezenas de experiências serão pauta em Washington. Nilvan é representante do DF no Prêmio Nacional de Referência em Gestão Escolar. Sua escola é o Centro de Ensino Fundamental N.S. de Fátima, em Planaltina.

Luz
Aos poucos o cerco vai se fechando em torno das dúvidas sobre o abastecimento de energia elétrica no país. As metas traçadas pela Aneel estão sendo investigadas. Em Brasília, CEB e Caesb chegam em lotes irregulares antes da Justiça. Eduardo Annunciato, da Fenatema, Federação dos Trabalhadores em Energia e Meio Ambiente, descreve a atual conjuntura como bomba-relógio.

Debate
Projetos que regulamentam profissões têm gerado debates no Congresso. São quase 3 mil profissões reconhecidas e apenas 60 regulamentadas no Brasil. O ministro Ives Gandra, do TST, entende que certas profissões regulamentadas podem restringir o exercício. Outras opiniões acreditam que o país ganha com profissionais qualificados.

Democratas
Sempre os terceirizados. Uma nota do DEM chama a atenção. É que o ex-governador e deputado federal Joaquim Francisco foi apagado do portal do partido. Coincidentemente o fato ocorreu depois que ele foi filiado ao PSB. Mas tudo foi esclarecido. A culpa recaiu sobre a empresa que mantém a página do partido em Pernambuco.

Escândalo
Mais de US$ 3 bilhões foram bloqueados pelo Brasil no exterior. O Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) tem tido a colaboração de autoridades da Suíça em investigações. Um acordo firmado entre os dois países promete mais agilidade em processos de investigação.

Atenção
A grosseria do governador Requião acabou servindo para chamar a atenção da população masculina. O homem também pode ter câncer de mama. A incidência é pequena mas possível.

Atitude
Dinheiro fácil. Agora o ParkShopping quer cobrar pelo estacionamento. Na Câmara Legislativa os deputados Reguffe e Milton Barbosa protestam. Querem que a Terracap verifique a posse dessa área do terreno. Já os deputados Erika Kokay e Rogério Ulisses afirmaram que a cobrança é ilegal e que o brasiliense está sendo achacado pelos shoppings.

História de Brasília

Há muito que o telefone do Correio Braziliense não funcionava tão intensamente como ontem. Centenas de pessoas ansiosas por obter convites para os bailes da Associação de Cronistas Carnavalescos. Chamavam, a todo instante, por Alvoradinha, Bizu ou Crizu, responsáveis pela coluna carnavalesca deste jornal. Tem funcionado assim como uma espécie de departamento de turismo e certames da cidade, no que respeita à organização dos festejos de Momo em Brasília. (Publicado em 12/2/1961).

GOVERNO COLOCANDO NO CU DO BRASILEIRO


VINÍCIUS TORRES FREIRE

Frente fria, tornados e IOF


Folha de S. Paulo - 29/10/2009



Ações baixam sob o peso da própria valorização, más notícias nos EUA e incertezas sobre juros nos emergentes


ALGUNS REPRESENTANTES dos povos dos mercados quiseram fazer do novo IOF o bode das quedas recentes da Bovespa, em especial a de ontem, a maior desde março. De fato, o lançamento das ações da Cetip, ontem, foi vítima do novo imposto. Mas a conversa do IOF é, pelo menos por ora, lorota.
As ações brasileiras levaram tiros vindos de diversas direções e, enfim, arriaram também sob o próprio peso de sua valorização. As estrelas da companhia, Vale e Petrobras, de maior peso na Bolsa paulista, caíram em torno de 4,5%, mais ou menos na média da baixa do Ibovespa (4,75%).
Outras grandes caíram ainda mais, como Itaú Unibanco (6,7%) e Gerdau (7,2%); a MMX, mineradora de Eike Batista, perdeu 9,3%. Mas a razia foi geral, batendo no setor de papel a outras instituições financeiras, de carnes a imóveis: caíram Klabin, JBS, Bradespar, Gafisa, Cyrela e Rossi e outras do ramo, que têm lançado novas ações copiosamente.
Entre pessoas mais ponderadas do mercado, atribuía-se a queda das empresas do setor imobiliário à superoferta e à supervalorização dos papéis dessas companhias. No caso das commodities, a "expectativa de lucro menor do que o esperado" na Vale teria derrubado os papéis da megamineradora. Além do mais, atribuiu-se ao mau resultado da ArcelorMittal, lá fora, a pancadaria sobre as ações das siderúrgicas.
Mas o motivo mais provável da liquidação de ontem na Bovespa foi a oferta vasta e variada de motivos para vender papéis que subiram demais. Como o mercado americano também tomou um caldo, havia todas as condições meteorológicas para um pequeno tornado de vendas. A ventania passou também por quase todas as Bolsas de "emergentes", em várias dos quais se começa a discutir o aumento de juros ou a redução dos estímulos anticrise, o que também não tem ajudado as ações nessas praças. Na China, o governo pretende restringir o crédito para pessoas físicas, com o objetivo, entre outros, de evitar a especulação com ações.
O mau resultado das vendas de casas novas nos EUA e a confiança ainda muito desconfiada do consumidor americano em seu futuro serviram de lembrete de como ainda vai mal das pernas a economia dita "real". Quem está ganhando dinheiro mesmo são os mesmos de sempre -os graduados dos bancos.
O lucro da Vale, no fim das contas, não foi nada mau: R$ 3 bilhões, com queda de 61% em relação ao do terceiro trimestre de 2008, trimestre que, porém, foi o ápice das matérias-primas. O lucro da empresa subiu mais de 100% em relação ao segundo trimestre do ano. Ruim?
O grande azar foi o da Cetip, que lançou ontem suas ações na Bovespa, caindo 9% na estreia. A Cetip é uma empresa responsável por registrar e compensar negócios do mercado financeiro, como os derivativos.
Pertence a um fundo de "private equity" (Advent), ao Itaú e ao Bradesco. A empresa, sim, sofreu com o vento contrário do IOF, com a realização geral de lucros e com a ressaca de IPOs. Mas os números dos últimos dias são péssima régua para avaliar o efeito do IOF sobre o mercado, trate-se de fluxo cambial, do dólar, de ações ou o que seja. A frente fria dos últimos dias criou neblina demais para enxergar e medir algo com precisão decente

CELSO MING

Quase um assalto

O ESTADO DE SÃO PAULO - 29/10/09


O governo parece ter finalmente acordado para o nível escorchante de juros cobrado pelos bancos nos cartões de crédito.

Terça-feira, o presidente Lula reclamou que os bancos se comportam quase como assaltantes nos juros do cheque especial e nos do cartão de crédito.

No cheque especial, são de 160% ao ano; e no cartão de crédito, de 240% ao ano. Apenas para comparar, o nível dos juros básicos, a Selic, que tantos analistas consideram despropositado, é de 8,75% ao ano.

Até agora, o Banco Central não se mostrou nem um pouco preocupado com o assunto. No caso dos cartões de crédito, está mais interessado em acabar com a verticalização dos serviços prestados pelas administradoras de cartões do que em acabar com esses juros aí - embora o perfil dessas empresas também tenha de ser atacado.

As administradoras dos cartões de crédito, ou seja, os bancos atrás delas, alegam que os juros têm de ser esses porque a inadimplência nesse segmento é alta demais, de 30%.

Como esta coluna já comentou em sua edição de 23 de agosto, essa é uma desculpa esfarrapada. Para uma população que ainda não chegou a 200 milhões de habitantes, há hoje mais de 552 milhões de cartões (incluídos os de crédito, os de débito e os de loja). Cartões de todas as bandeiras são empurrados para qualquer um. As administradoras assediam os candidatos a mais um cartão por telefone, por e-mail, por mala direta ou pelos gerentes das agências bancárias. Com juros tão elevados, a inadimplência tem mesmo de ser alta. Quem cai nessa vida não sai dela facilmente.

Tanto se fala em cadastro positivo, ou seja, em cobrança de juros diversificada conforme o perfil do cliente e, no entanto, os bancos relutam em adotar a novidade porque entendem que ganham mais sem esse instrumento. No cartão de crédito, a instituição de uma espécie de cadastro positivo seria ainda mais justificada.

As administradoras sabem com quem estão lidando. Detêm não só o perfil financeiro, como também o perfil de consumo do cliente. Poderiam perfeitamente trabalhar com juros diversificados, e a inadimplência talvez não fosse tão alta. Se não o fazem é, outra vez, porque entendem que ganham mais dinheiro assim.

Os cartões de crédito são um instrumento importante de racionalidade no sistema de pagamentos do País e de enorme redução de custos dos bancos.

Graças à sua disseminação, o volume de moeda manual na economia pôde baixar consideravelmente, o que beneficia o governo. E os bancos não só puderam reduzir o movimento de seus caixas e os cuidados com o transporte de numerário, como puderam gradativamente dispensar o uso do cheque, de alto custo operacional.

E, no entanto, em contraste com esse retorno tão substancial, os bancos mantêm em relação ao usuário do cartão um comportamento predatório.

O presidente Lula tem toda a razão de reclamar dos bancos. Como também tem razão de reclamar da passividade do usuário do cartão de crédito, que se sujeita a esse tratamento. Mas não pode fugir de suas responsabilidades. É o seu governo que nunca havia se importado com os quase assaltos.

Confira

Avanço na crise - Os números básicos dos cartões estão na tabela acima. Mais significativo é que, no período de 12 meses terminado em setembro, de forte crise global, a indústria dos cartões cresceu 10% em número e 19% em faturamento.

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ALEXANDRE BARROS

Quando o Estado ganha a sociedade perde

O Estado de S. Paulo - 29/10/2009


Ou o Estado é o comitê executivo da burguesia ou é o defensor dos pobres, não dá para ser os dois, dizia um amigo meu comunista. O que Marx não previu é que o Estado iria ser o defensor de si mesmo. A ditadura do proletariado foi uma potoca.

O crescimento do Estado e o foco das notícias nele nos fazem esquecer que ele não produz nada. Só tira de quem produz. A Petrobrás produz, argumentam funcionários que querem o total controle da empresa, como se não fosse propriedade de acionistas. Seus funcionários alegam que o governo quer usar a Petrobrás como se fosse uma fantástica fábrica de chocolates, na qual a boca é livre.

Um pouco de história ajuda. O Visconde de Sabugosa, por cuja boca falava Monteiro Lobato, em O Poço do Visconde, ensinou a muitas crianças brasileiras que o Estados Unidos não queriam que o Brasil tivesse petróleo. Lobato acreditava que tinha e até investiu nele.

Na década de 1950 a discussão foi se o "petróleo é nosso" ou não. Ganharam os que defendiam ser nosso. Passamos 40 e tantos anos com monopólio da Petrobrás. Só quando liberaram a exploração, a partir da década de 1990, o nosso petróleo apareceu, perfurado por empresas internacionais, quase todas associadas à Petrobrás. Ela era uma espécie de noiva poliândrica: as internacionais podiam casar com quem quisessem, desde que fosse com Maria. Isto é, podiam fazer o que quisessem em matéria de exploração, desde que a Petrobrás fosse sócia. Aí o "nosso" petróleo virou realidade. Antes era só ideologia. Foi a partir daí que a Petrobrás cresceu mesmo. Esses casamentos de porta de delegacia aumentaram o poder da Petrobrás, que segue vendendo a ideia de que é uma empresa "de todos os brasileiros".

Claro que não é. Primeiro, ela é de seus funcionários, que são muito bem remunerados (nada de errado com isso, se eles são competentes merecem ganhar bem, como ganham seus contrapartes em empresas privadas).

Segundo, é do governo, que não representa todos os brasileiros. Essa é uma artimanha da ideia da democracia majoritária. Na democracia o jogo é de soma zero: quem elege o presidente está representado, quem votou nos outros candidatos não está representado. Vá lá, concordo com Churchill que com todos os defeitos a democracia ainda é o menos ruim de todos os outros regimes, só que ele via isso através das lentes de governos parlamentaristas, que, em princípio, não eram donos de empresas, sobretudo monopolistas.

Terceiro, como o governo não produz nada, apenas arrecada o que os 594 senhores da Câmara e do Senado determinam que todos nós devemos pagar (trabalhamos, em média, de janeiro a maio só para sustentar o governo, que nos fornece péssima educação, saúde sofrível, quase nenhuma segurança e estradas que quebram nossos caminhões e aumentam os preço de tudo o que conseguimos consumir com o que ganhamos de maio a dezembro, do feijão aos televisores; os pobres que ganham até dois salários mínimos trabalham muito mais: de 1º de janeiro até 16 de agosto. Palavra do Ipea).

Como nada produz, e o faz supostamente em nosso benefício, ao Estado não importam nem o preço do que nos fornece nem a qualidade. Os exemplos recentes dão conta de que a santidade não é a virtude mais bem distribuída no Congresso Nacional. Do que se vê, lá vigora o princípio da farinha pouca, meu pirão primeiro; farinha muita, melhor, mais pirão ainda.

Por trás de tudo isso está o poder de monopólio. O Estado pode decidir tudo relativo a seus funcionários e a todos nós. Só podemos opinar de quatro em quatro anos. Nesse meio tempo o governo se empanturra e a nós fica reservado o sagrado direito de pagar mensalmente, olhando tristemente o contracheque, e em março, na hora de acertar os quebrados.

Ora, dentro desse governo, que é o maior acionista da Petrobrás, todos tentam comer o máximo nessa fantástica fábrica de chocolates. E o governo avança no dinheiro da empresa.

Os funcionários da Petrobrás conhecem muito bem a lei de ferro da oligarquia, formulada em torno de 1910 pelo cientista político alemão Robert Michels, e usam-na para preservar seu poder. Como no episódio da descoberta do pré-sal (OK, sabemos que a Petrobrás é a melhor do mundo em exploração de petróleo em águas profundas), tenta-se um arranjo em que o monopólio do Estado seja repassado à Petrobrás. Quando não puder ganhar, junte-se a eles!

Por isso aceitam reverter ao monopólio de exploração que tiveram até aos anos 90, quando ficou claro que não eram os americanos que não queriam que tivéssemos petróleo em abundância, a Petrobrás é que não tinha capacidade de produzir.

O argumento de que quando o Estado ganha a sociedade ganha está furado, mas será repetido ad nauseam pelo presidente e por seus acólitos, entre eles o ex-líder-do-PT-no-Senado-que-não-deixou-de-ser.

Não nos iludamos: nenhuma sociedade tem nada a ganhar com monopólios, privados ou estatais. Os detentores dos monopólios cuidam primeiro dos seus interesses e cobram "taxas de administração" altíssimas.

Governos tendem aos monopólios. Todos os monopólios são ótimos para quem os exerce e péssimos para quem é sujeito a eles.

Está na hora de dizer ao governo e aos políticos que quando o governo ganha a sociedade perde, porque o governo é um grande monopólio que opera em benefício de si mesmo.

A sociedade só ganha quando todos podem competir sem adicionar o monopólio do uso da violência a outros monopólios.

A Petrobrás livrou-se dos coronéis fardados, agora está cheia de coronéis paisanos. Mas, ainda assim, coronéis.

O governo cobra muito caro para dizer que todos ganham. O coronel Hugo Chávez mostra isso ao mundo há vários anos.

Alexandre Barros, cientista político (Ph.D., University of Chicago), é diretor-gerente da Early Warning: Análise de Oportunidade e Risco Político

CARLOS ALBERTO SARDENBERG

Mas hoje é mais caro

O GLOBO - 29/10/09


Não é que os países emergentes tenham o sagrado direito de poluir o quanto queiram, ou melhor, o tanto de que precisem para se tornarem ricos. Admitida a tese de que os pobres podem destruir suas florestas porque os atuais ricos fizeram isso enquanto estavam crescendo, restará um mundo inviável para todos.

Mas é evidente que situações diferentes exigem abordagens variadas.

Nos desenvolvidos, por exemplo, a infraestrutura está praticamente pronta. Estradas, aeroportos, usinas de energia e de tratamento de água, ferrovias, portos, redes de telecomunicações e, sobretudo, as cidades estão feitas. O processo de urbanização , com enorme impacto ambiental, está concluído. As pessoas têm vida melhor.

Aquecimento para o frio, ar condicionado para o verão. Tome um ônibus em Berlim, outro na Tijuca, e veja a diferença.

Neste lado do mundo, está tudo por fazer. O governo brasileiro, por exemplo, toca as obras de transposição das águas do São Francisco. Na China, a administração central definiu um projeto para levar água do Sul para o Norte do país. São 273 quilômetros de canais, que vão desalojar 330 mil pessoas.

São enormes os custos humanos, sociais e ambientais. Mas qual o custo de deixar populações inteiras sem água suficiente e com abastecimento regular e seguro? Agora, considere Phoenix, capital do Arizona, nos Estados Unidos. A água deles vem de muito longe, através de um sistema de canais que distribui em múltiplas direções. Obras semelhantes garantem a irrigação em diversos pontos da agricultura europeia, sem contar o abastecimento dos humanos.

Os três simbólicos rios da Europa — Tâmisa, Sena e Danúbio — foram gravemente poluídos durante os processos de urbanização e industrialização.

Depois, foram tratados e despoluídos, com grande orgulho.

A própria rainha da Inglaterra, há algum tempo, encarregou-se de colocar os primeiros peixes no “novo” Tâmisa. Despoluir é muito caro — e isso pôde ser feito porque o país já tinha renda para isso.

E daí? Significa que nós aqui, nos emergentes, podemos fazer a mesmíssima coisa, estragar, enriquecer, limpar? A resposta óbvia é não. Começa que a experiência histórica ajuda, ou deveria ajudar, a não cometer os mesmos erros. No caso, urbanizar e industrializar com processos limpos.

Mas daqui em diante as coisas já não são tão óbvias.

Os processos limpos são mais caros. Sim, sabemos que, no longo prazo, saem mais baratos, pois o custo de despoluir é maior. Mas isso não alivia o problema essencial dos países emergentes, que é justamente a carência — atual — de recursos financeiros. E de que adianta obter uma economia em 15 anos, se o dinheiro é escasso hoje? Os especialistas garantem que se você instalar um sistema de aquecimento solar e, assim, dispensar o chuveiro elétrico, vai fazer uma baita economia na conta de luz. Mas o aquecimento solar é caro, exige mais cuidado e manutenção no começo, especialmente nas residências fora dos grandes centros, enquanto o chuveiro custa uma ninharia. Por isso, a imensa maioria das famílias, especialmente as mais pobres, vai de chuveiro e depois tenta controlar o tempo de banho.

Coloque isso em escala macroeconômica, e é a mesma coisa. Praticamente todas as soluções ambientalmente corretas, como os prédios verdes, são mais caras, não raro muito mais caras na partida.

Eis o dilema: se todos os países emergentes e pobres forem de barato e sujo, a história não acaba bem; para convencê-los a ir de caro e limpo, é preciso arranjar o dinheiro e outras condições de financiamento.

Sem levar em conta este ponto crucial, não haverá acordos ambientais viáveis no mundo. E dinheiro é problema. A revista “Economist” encomendou uma pesquisa na qual se perguntava aos cidadãos americanos quantos dólares estariam dispostos a pagar numa taxa para o meio ambiente. Sabe quanto? Uns 80 dólares, ao ano.

E olha que eles já são ricos.

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DEMÉTRIO MAGNOLI

Yoani em Berlim

O GLOBO - 29/10/09


Você ainda não está autorizada a viajar.

— E por qual razão? — A razão, desconheço.

— Não tenho nenhuma causa legal pendente, não estou sendo processada perante um tribunal.

— No momento, você não pode viajar.

— Você sabe que esta é uma violação de meus direitos constitucionais. É como o direito à educação e à comida: o direito de poder se mover.

— No momento, você não pode viajar.

— Esta instituição que você representa um dia acabará. Meus netos não viverão nessas condições.

Este país é um grande cárcere, com uma fronteira ideológica, uma fronteira partidária. Os cidadãos aqui são julgados por cores políticas. Isso um dia acabará. Porque esta nação nada tem a ver com uma ideologia, nem com um partido. Esta nação existiu e existirá antes e depois de vocês.

O diálogo anterior, cuja íntegra está no blog Generación Y (http://www.desdecuba.com/generaciony), foi travado a 12 de outubro, entre a blogueira cubana Yoani Sánchez e uma funcionária do Escritório de Imigração de Havana.

A proibição de viajar, reiterada há mais de um ano, impediu Yoani de receber o prêmio Maria Moors Cabot, concedido pela Universidade de Colúmbia, e de comparecer aos eventos de lançamento de seu livro “De Cuba, com carinho”, publicado pela editora Contexto, que se realizam nestes dias, no BrasYoani faz um dos blogues mais acessados do mundo, que é bloqueado na restrita internet cubana. Ela não se enquadra no jogo bipolar da política de seu país. Por erguer a bandeira da liberdade de expressão, é acusada pelo regime castrista de servir a “interesses contrarrevolucionários estrangeiros”.

Por registrar que o embargo econômico americano funciona como pretexto útil para a ditadura dos Castro, é acusada pelo núcleo duro da oposição cubanoamericana de Miami de operar para o serviço de inteligência de Cuba.

A resposta encontra-se no seu livro, na forma de uma citação do compositor antifranquista espanhol Joaquín Sabina: “Siempre que lucha la KGB contra la CIA, gaña al final la policía”.

O Muro de Berlim, ícone desmoralizante do “socialismo real”, caiu há vinte anos, mas uma réplica anacrônica subsiste ao redor da ilha de Cuba, sob a forma da “fronteira partidária” denunciada por Yoani. Cuba não tem relevância econômica ou estratégica, mas possui colossal importância simbólica: o “grande cárcere” do Caribe representa, ainda hoje, a pátria ideológica da esquerda latino-americana. O episódio do lançamento do livro de Yoani no Brasil é uma aula inteira sobre o tema.

O consulado cubano de São Paulo recusouse até mesmo a protocolar um convite da editora à autora para os eventos de lançamento do livro. Eduardo Suplicy (PT-SP), desafiando a ortodoxia de seu partido, pronunciou discurso no Senado solicitando a concessão da autorização de viagem. Por iniciativa de Demóstenes Torres (DEM-GO), o Senado dirigiu à Embaixada de Cuba um convite para Yoani debater olivro em audiência pública. Fernando Henrique Cardoso somou-se ao convite, por meio de carta ao governo cubano em que solicitava pessoalmente a permissão de viagem. Mas Havana nem sequer ofereceu uma resposta aos variados apelos — que não incluíram nenhuma voz do governo brasileiro.

Cuba e Brasil são signatários do Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos da ONU, que consagra o direito de todos de sair de seu país e retornar a ele. A Constituição determina que o Brasil rege suas relações internacionais pelo princípio do respeito aos direitos humanos. Nada disso importa para Lula, que qualifica Fidel Castro como o “único mito vivo da história da humanidade”, nem para Celso Amorim, que sempre escolhe a palavra “democracia” para se referir a Honduras e a palavra “soberania” para se referir a Cuba. Nenhum dos dois emitiu uma mísera nota de apoio ao convite dirigido pelo Senado à escritora cubana.

O silêncio é amplo e sólido. Tarso Genro, o ministro do Arbítrio, deportou ilegalmente boxeadores cubanos ameaçados de perseguição, mas não moveu um dedo pelo direito legal de uma escritora independente falar ao público brasileiro. Paulo Vanucchi, chefe de um ministério que ostenta no seu nome os direitos humanos, um homem loquaz na defesa do estatuto de refugiado político do italiano Cesare Battisti, não pronunciou uma única palavra sobre o direito de viajar da cubana cujo “crime” é expressar suas opiniões. Eles não têm vergonha? Yoani não vem ao Brasil porque o regime castrista pratica um abominável intercâmbio de direitos por fidecursosrelidade ideológica. A submissão ativa ao Partido é recompensada por um emprego cobiçado no setor turístico, pela almejada licença para comprar um automóvel ou pela preciosa autorização de viagem ao exterior. A coragem de dissentir é punida pela cassação tácita, jamais justificada, dos direitos inscritos na lei.

Num país que julga seu cidadãos “por cores políticas”, ninguém é verdadeiramente cidadão. É isso que Yoani disse no Escritório de Imigração, ao evidenciar o caráter totalitário de um regime que faz a nação se identificar com uma ideologia e um partido.

Os intelectuais de esquerda brasileiros, com honrosas exceções, pensam o mesmo que a ditadura castrista sobre a opinião independente. Anos atrás, num abaixo-assinado, solicitaram a demissão de um articulista que ousara criticar as ideias do palestinoamericano Edward Said e, há pouco, fizeram um escarcéu coletivo em torno de uma palavra fora de lugar no editorial de um jornal. No caso de Yoani, porém, acompanharam o eloquente silêncio de Lula e seus ministros.

A sangrenta consolidação do stalinismo na URSS foi amparada por manifestos emanados da pena de intelectuais “humanistas” como Louis Aragon, Romain Rolland e Paul Sweezy. Nossos intelectuais de esquerda são os herdeiros legítimos deles. A régua pela qual medem direitos e liberdades é feita do mesmo maleável material ideológico que sustenta o Muro de Cuba.

DEMÉTRIO MAGNOLI é sociólogo e doutor em geografia humana pela USP.

PAINEL DA FOLHA

Direito de antena

RENATA LO PRETE

FOLHA DE SÃO PAULO - 29/10/09

Em documento a ser apresentado na 1ª Confecom (Conferência Nacional de Comunicação), em dezembro, CUT, Força, CGTB, CTB, Nova Central e UGT pressionam o Planalto e o Congresso pela criação de um ‘horário sindical gratuito’, nos moldes da cadeia nacional de rádio e TV de que se beneficiam os partidos políticos. O instrumento para atingir esse objetivo já foi providenciado: um projeto de lei que chegou à Câmara na semana passada, de autoria do deputado e ex-presidente da CUT Vicentinho (PT-SP).

As centrais reivindicam ainda um canal de TV aberto e a adoção de critérios de distribuição de publicidade alheios a números de audiência e circulação.

No ar - No projeto de Vicentinho, o número de filiados define o total de inserções de cada central. Além dos spots, elas teriam direito a programa anual de dois minutos.

Pancadão - O programa do DEM que irá ao ar hoje _aquele do qual Rodrigo Maia mandou tirar imagem de José Serra_ trará três frentes de ataque ao governo: a violência no Rio, o vazamento do Enem e a tentativa de recriar a CPMF. Sobrou ainda um tempo para bater no MST.

Perdas... - Do presidente do PSDB, Sérgio Guerra, após um dia de conversas com os ‘demos’: ‘Há 15 dias estamos nos golpeando. O foco tem de estar sobre os adversários’.

...e danos - Para um dirigente do DEM, é ‘trapalhada’ do presidente do partido, Rodrigo Maia, tentar emparedar Serra. ‘A única coisa que ele conseguiu foi se indispor com o nosso futuro candidato’.

Quer brigar? - Do deputado Onyx Lorenzoni (DEM-RS), sobre colegas petistas que divulgaram lista mostrando a contribuição da indústria de armas à sua campanha: ‘Recebi doações às claras, com recibo, dentro da lei. Eles, às escuras ou nas cuecas’.

Comitiva - Autor do substitutivo pró-Venezuela no Mercosul, Romero Jucá (PMDB-RR) estará ao lado de Lula na visita a Hugo Chávez a partir de hoje. Em Caracas, ele celebrará acordo de cooperação entre o Estado de Roraima e o governo da Venezuela.

Corra que o... - Auxiliares e aliados de Lula discutiam na festa de aniversário do presidente, na noite de terça, quem discursaria em sua homenagem. O presidente do PT, Ricardo Berzoini, e o ex-ministro Walfrido dos Mares Guia eram cotados para a missão.

...Gilmar vem aí - Foi quando chegou à festa o presidente do STF, Gilmar Mendes. A turma do discurso saiu em debandada. ‘Ele vai dizer que é campanha antecipada’, explicou um convidado.

Na mira - A CCJ do Senado fará audiência pública sobre o TCU. Serão chamados o presidente do tribunal, Ubiratan Aguiar, o ministro Paulo Bernardo (Planejamento) e o procurador-geral da República, Roberto Gurgel.

Esqueceram - A Receita até hoje não colocou a foto de Lina Vieira na galeria de ex-presidentes da principal sala de reuniões do órgão. Algoz da ministra-candidata Dilma Rousseff, Lina caiu em julho.

Imprensa - O jornalista Leão Serva assumirá na próxima terça a Direção de Redação do ‘Diário de S. Paulo’, recém-comprado pelo empresário J. Hawilla. Serva, atualmente assessor de comunicação de Gilberto Kassab, foi secretário de Redação da Folha, além de ter dirigido o ‘Jornal da Tarde’ e o ‘Lance’.

Tiroteio

Parece que Rodrigo Maia cometeu crime de lesa-pátria ao manifestar sua preferência por Aécio. Quando outros “demos’ se declararam pró-Serra ninguém reclamou.

Do deputado aecista RODRIGO DE CASTRO (PSDB-MG), sobre as reações despertadas pelas críticas quase diárias do presidente do DEM ao suposto aliado José Serra.

Contraponto

Meu nome é trabalho

Em encontro ontem com representantes da OEA, o presidente deposto de Honduras, Manuel Zelaya, explicou por que perdeu sua primeira eleição:

- Na campanha eu dizia que, no meu governo, daria ao povo trabalho, trabalho e trabalho.

Zelaya contou que as pessoas aplaudiam, mas sem nenhum entusiasmo. E o resultado foi a derrota. Um consultor americano então lhe disse: ‘É que as pessoas não gostam de trabalhar’. Diante de tal diagnóstico, ele mudou o discurso na campanha seguinte:

- Eu dizia: “No meu governo, vou trabalhar 24 horas por dia, todo segundo, todo minuto, para que vocês aproveitem a vida, tenham saúde, educação’. E fui eleito!



GOSTOSA


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JANIO DE FREITAS

O ser ou não ser

FOLHA DE SÃO PAULO - 29/10/09



A divergência de Serra e Aécio é uma competição tática em que as duas partes jogam muito das suas perspectivas



A DIVERGÊNCIA DE José Serra e Aécio Neves, ante a perplexidade preguiçosa da cúpula peessedebista, toma a forma de discordância quanto ao prazo para escolha do candidato partidário à Presidência, mas é uma competição tática em que as duas partes jogam muito das suas perspectivas.
A insistência de Serra em que a escolha do candidato peessedebista só se dê em março decorre de dois calendários conflitantes: o da legislação eleitoral e o de Aécio Neves. Deixar o governo paulista em cima do prazo legal de desincompatibilização permitirá a Serra explorar por três meses, para sua promoção eleitoral, todas as possibilidades da condição de governador. Ao passo que Aécio Neves, em fim de mandato, despede-se a 31 de dezembro do governo mineiro para cair na rua das incertezas paralisantes.
Não menos importante para Serra, e talvez até mais útil para suas presumíveis inseguranças, é o prazo maior que março lhe oferece para ponderar suas possibilidades e conveniências.
Se as pesquisas e as composições partidárias, com atenção também para as estaduais, indicarem estreitamento em seu potencial na disputa sucessória, Serra dispõe do governo paulista no presente e já tem na prateleira, para qualquer eventualidade, o mandato seguinte. Esperar mais clareza é atitude lúcida, diante da evidência de que Lula parte com métodos e voracidade irrestritos, para dominar a "disputa plebiscitária".
Tanta lucidez quanto a de Aécio Neves. É indiscutível a conveniência de sair do governo para a candidatura confirmada à Presidência e, portanto, em condições de entregar-se ao trabalho político e público sem a fragilidade de ser ainda uma interrogação. Mas, de importância também indiscutível, Aécio percebe o quanto os meses de espera, agora mesmo já longos, tendem a ser irrecuperáveis, qualquer que seja o candidato. Entrar no jogo só a seis meses da eleição é encontrar as peças potentes já comprometidas com seus lugares no tabuleiro. Tudo passa a depender muito de tufões no campo adversário e de outros fatores incontroláveis.
Os mandarins do PSDB asseguraram que a escolha do candidato e outras decisões seriam tomadas em ampla reunião do partido, ainda que não em convenção. Para não falar em democracia, seria menos retrógrado e incivilizado do que a escolha por um grupelho à volta de garrafas de vinho em um restaurante, como foi na escolha entre Serra e Alckmim. O pequeno avanço não se deu, porém. Não é da índole. E, de quebra, ao menos por enquanto, deixar correr serve paulistamente a José Serra.
Já existe algo divertido para acompanhar na disputa sucessória.

ROLF KUNTZ

Mercosul, um presentão para Chávez

O ESTADO DE SÃO PAULO - 29/10/09


O Senado brasileiro está a um passo de entregar o Mercosul a Hugo Chávez, caudilho de ambições continentais. Esse despropósito ficará muito mais fácil, politicamente, se o senador Tasso Jereissati jogar no lixo seu bem fundamentado relatório sobre a admissão da Venezuela como sócia do bloco. O senador declarou-se disposto a mudar seu parecer se o presidente venezuelano prometer, por escrito, cumprir os protocolos políticos e econômicos do Mercosul. O prefeito de Caracas, Antonio Ledesma, é opositor de Chávez, mas defendeu o ingresso de seu país, insistindo na distinção entre o Estado e o governo venezuelanos. O senador Jereissati parece ter levado a sério a argumentação do prefeito, embora tivesse rejeitado o mesmo raciocínio em seu relatório.

Como relator, ele chamou a atenção para o "processo político que vem ocorrendo na Venezuela, subordinado à personalidade e ao modus operandi do seu presidente, que trazem incertezas quanto ao cumprimento dos compromissos que a Venezuela necessariamente deverá assumir no âmbito do Mercosul". Uma declaração de Chávez bastará, agora, para eliminar aquelas incertezas?

No caso da Venezuela, insiste o autor do relatório, não basta levar em conta o Protocolo de Ushuaia, instrumento de prevenção da ruptura democrática em países do Mercosul. Não se pode ainda apontar essa ruptura, em sentido estrito, no sistema venezuelano. Mas a cada hora fica "mais evidente o processo de cerceamento das liberdades democráticas naquele país, com sucessivas mudanças jurídicas, políticas e na ordem econômica, promovidas pelo governo central".

Há uma enumeração dessas mudanças e uma descrição de como o presidente Chávez subordinou todos os Poderes à sua vontade. "Utilizando-se dos instrumentos democráticos, dos recursos do petróleo e de uma milícia própria, que já supera em números as forças armadas, o presidente conseguiu dominar os Poderes Legislativo e Judiciário e partiu então para controlar a imprensa de seu país." Vêm depois um relato das ações contra os meios de comunicação e um resumo das novas leis de controle da informação e da educação.

O relatório ainda contém, na parte dedicada à política, a descrição de um "arco de instabilidade" nos países vizinhos. Há referências ao presidente venezuelano e às suas ações de "divisão e desintegração na América do Sul" - traço "acentuado pela criação da Alba [Alternativa Bolivariana para a América Latina] e pelas atitudes confrontacionistas em relação à Colômbia e aos EUA". A denúncia do encontro de armas de origem sueca e de propriedade das forças armadas venezuelanas em poder de membros das Farc, na Colômbia, é mencionada no texto.

Estará o senador disposto a apagar todos esses argumentos? Mas o relatório vai mais fundo e é muito claro ao tratar do ponto mais importante e frequentemente esquecido no debate: o Mercosul é uma união aduaneira. Essa forma de integração é muito mais profunda e mais complexa que um acordo de livre comércio. Seus membros devem adotar uma tarifa externa comum e só podem realizar certas negociações em conjunto. No Mercosul, todos os votos têm o mesmo peso e qualquer governo pode vetar qualquer iniciativa. Na União Europeia, o debate sobre a ampliação do bloco demorou anos e a ponderação dos votos - um critério já existente - ganhou maior importância com a adesão de novos sócios. No Mercosul, seria desejável, segundo o senador, resolver a questão do peso dos votos antes de se ampliar o bloco. O argumento se torna particularmente poderoso no caso da admissão da Venezuela de Hugo Chávez, não de um abstrato Estado venezuelano.

Além do mais, o processo foi invertido. O protocolo de adesão foi submetido ao Congresso brasileiro antes da completa definição das obrigações do novo sócio. Pelo combinado até agora, o presidente venezuelano terá direito de voto logo depois de formalizado o ingresso de seu país. Mas vários detalhes, como o cronograma de implementação do livre comércio e a adesão aos acordos com terceiros países, ainda não foram acertados. No fim do relatório, o senador apresenta um projeto de resolução para disciplinar as decisões do Congresso em relação ao ingresso de países no Mercosul.

Nenhum fato novo justifica a mudança de posição do senador Jereissati. Talvez seu relatório, um trabalho de alta qualidade, seja rejeitado de qualquer maneira pela maioria governista. Mas pelo menos ele não será cúmplice do erro.

MOLHANDO A MÃO DA JUSTIÇA

DIRETO DA FONTE

Papéis trocados?

Sonia Racy

O ESTADO DE SÃO PAULO - 29/10/09

A iniciativa de Armando Monteiro, da CNI, de abrir representação em São Paulo, foi bem recebida por Serra, pelo que se pode deduzir da inauguração do escritório da Confederação, terça à noite. O governador abriu um raro sorriso ao ouvir Monteiro dizer que "a CNI, vindo a São Paulo, fica mais forte no Brasil."
Quem parecia desconfortável era Paulo Skaf, o new- político-presidente da Fiesp-PSB. Industriais presentes? Pouquíssimos, a não ser alguns presidentes de federações estaduais, como Robson Andrade, da Fiemg e próximo presidente da CNI. Acompanhando Serra estavam os secretários Guilherme Afif e Geraldo Alckmin.
Para refrescar a memória: historicamente, o foco da CNI sempre foi Brasília, com suas repercussões políticas, enquanto a Fiesp se concentrava nas econômicas.

Volta à TV
Se não aparecer nenhuma pedra no caminho, sai hoje no DOU decisão da Anvisa que libera - de novo - a propaganda de remédios antigripais. É que a gripe H1N1, a suína, já não assusta tanto. Relatório do Ministério da Saúde do último dia 19 apontou uma queda significativa no número de casos.
Quem aplaude é a Associação Brasileira de Medicamentos Isentos de Prescrição - pois é, ela existe...

Bolsa-cidade
Hoje vai ser feriado sagrado para Eduardo Suplicy. A Câmara de Santo Antonio do Pinhal, no interior paulista, vota de manhã o projeto que institui a Renda Mínima na cidade.
Todos os nove vereadores são a favor da ideia.

Duque dos Jardins
Abilio Diniz, do Grupo Pão de Açúcar, avança mais na área de gestão de postos de gasolina.

Conta-Família
Fabio Barbosa, da Febraban, recebeu bem a ideia de Patrus Ananias de abrir contas bancárias simplificadas - serão cerca de 4 milhões... - para o pessoal do Bolsa-Família, na CEF.
Sua explicação: "Bancarização é cidadania".

Um pelo outro?
Enquanto o STF recomeça o julgamento de Cesare Battisti, o
STJ passa à frente... e expulsa outro italiano.
Demetrio Calluso, julgado no Mato Grosso, teve rejeitado pedido de habeas corpus.

Bali-NY-Paris-Rio
Diane von Furstenberg faz missa em memória de Hugo Jereissati, dia 12, na St. Joseph Church, em Nova York.
E está pedindo aos amigos do mundo inteiro que mandem fotos e recordações para a montagem de um livro que fará sobre ele.

Sinatra is back
Guerra de farpas nos EUA. A razão? Definir quem será Frank Sinatra no cinema. Martin Scorsese quer Leonardo DiCaprio. A filha do Old Blue Eyes quer George Clooney e a Universal não abre mão de Johnny Depp.
Vale ressuscitar o próprio?

Verde, a união
Sadia e Camargo Corrêa juntam-se. Não, nenhuma nova fusão à vista. O que querem é mudar as rotinas em Lucas do Rio Verde, no Mato Grosso.
Lançam hoje, com o Sebrae, projeto de desenvolvimento sustentável na região.

vamos colorir
Dez artistas de diferentes nacionalidades vão "pintar o set" em hotel desativado da Av. São João, por 30 dias. A instalação-hotel faz parte do projeto internacional Red Bull House of Art.

Rumo a Bollywood
O longa Corpos Celestes, com Dalton Vigh, foi o único brasileiro selecionado para o Festival da Índia.

Natal gorducho
Enquanto a indústria reza para não fechar o ano no vermelho, o comércio prevê crescer de 6% a 8% no Natal. Previsão que Alencar Burti, da Associação Comercial, fará hoje, no Rotary Club.

NA FRENTE

Começou ontem a filmagem do primeira longa de animação brasileiro em 3D, Brasil Animado. Coprodução da Teleimage e Mariana Caltabiano.

A arte paulistana no século 20 é o tema de Luís Martins: Um Cronista da Arte em São Paulo nos Anos 1940. Organizado pela filha Ana Luísa Martins.

Christina Oiticica, Alessandro Jordão e Kiko Sobrino expõem a partir do dia 4, no Grand Palais, em Paris. Fazem parte da mostra de artistas contemporâneos da Art en Capital.

Joachim Koerper desembarca dia 6 em São Paulo. O chef comanda o Festival Del Tartufo no Chakras.

Marc Jacobs está escolhendo dez brasileiros para serem os embaixadores de sua linha masculina no Brasil.

Erasmo Carlos se apresenta, domingo, na série Grandes Encontros, da Rádio Eldorado. No Shopping Anália Franco.

Madonna achou pequena sua nova casa em Los Angeles, e quer mudar. Ela tem "apenas" 13 quartos, 14 banheiros, 9 salas com lareira e um jardim. Bom, Neverland está vazia.

PLÍNIO FRAGA

Uh! para Judas

FOLHA DE SÃO PAULO - 29/10/09


RIO DE JANEIRO - Alguma coisa está errada quando entrar para o partido é a forma mais rápida de ascensão social. Esta análise, feita por um líder sul-africano, aparece no documentário "Os Sonhos Sobrevivem ao Poder?", da cientista política libanesa Jihan El-Tahri, recentemente exibido no Festival do Rio, sobre a era do CNA (Congresso Nacional Africano) à frente da África do Sul.
Desde o fim do apartheid, o CNA governa por meio de uma ampla aliança, que inicialmente contou até com aqueles que reprimiram os negros e encarceram Nelson Mandela por 27 anos. A própria aliança com Judas, como citou Lula.
Nos 124 minutos do filme, impressiona a semelhança entre CNA e PT. Os dois partidos foram criados da costela de um líder de massas. De agremiações de esquerda ortodoxa, tornaram-se maleáveis às ideias econômicas liberais, lotearam o poder e enfrentaram graves acusações de corrupção.
Ex-correspondente no Oriente Médio, Jihan El-Tahri fez uma obra retilínea, sem grande invenção cinematográfica, mas equidistante na narrativa da disputa entre os dois representantes mais importantes da política sul-africana depois de Mandela: Thabo Mbeki e Jacob Zuma, este atual presidente. Acusado de estuprar uma mulher com Aids, Zuma é absolvido da relação sexual forçada, mas, cândido, aparece dizendo que fez sexo com a acusadora sem preservativo porque acreditava que bastava se higienizar com água após o ato.
A impressão final é que os sonhos são depauperados pela política. A imensa alegria e cantoria dos sul-africanos até nas convenções partidárias soa inocente perto do ministro que interfere por um grupo alemão em licitação de milhões de dólares em armamentos. A massa dança e urra por seu líder, sem saber que faz "uh!" para Judas.

ACAMPAMENTO DO MST

TODA MÍDIA

Despenca, desaba

NELSON DE SÁ

FOLHA DE SÃO PAULO - 29/10/09


Fim do dia no UOL, "Bolsa despenca". No Valor Online, "desaba". O jornal creditou a "pessimismo externo, commodities em baixa e alta do dólar".
A Folha Online postou que "com atraso a Bovespa começou a queimar gordura acumulada, cumprindo prognósticos de que estava cara demais". O site ouviu de um gestor da Advisor a análise de que a "realização" de lucros é mundial. Já outro, da Daycoval, saiu dizendo que "de repente os investidores estrangeiros perceberam que aquele governo que aparentemente não interferia passou a interferir".

CAI
Na manchete do G1, em vez de Bovespa, "Lucro da Vale cai 61% em relação a 2008". Imediatamente abaixo: "Mas na comparação com o trimestre anterior a receita subiu". Desde a manhã se encontravam alertas de que o "tombo deve ser relativizado". De todo modo, no meio do dia na Folha Online, a Bolsa já caía e "as perdas são puxadas por papéis da Vale, que divulga resultados hoje".


DÓLAR, O RETORNO
Antes de Bovespa e Vale, nas manchetes, destaque para a avaliação sobre a taxação do capital externo. Em suma, "Fluxo cai após imposto, mas é positivo".
O "Wall Street Journal", por outro lado, focou a reação do dólar no mundo, por causa dos "temores econômicos" que atingiram moedas de países voltados a commodities. Contribuíram a especulação de alta nos juros dos EUA, "o controle de capital no Brasil e a preocupação geral de que Bolsas e commodities foram longe demais".

PARA DIZER NÃO
O espanhol "El País" deu longa entrevista com o ministro da Defesa, Nelson Jobim, já traduzida e destacada ontem mesmo pelo portal UOL.
No título original, entre aspas, "Defesa é ter a capacidade de dizer não quando necessário". Ele negou uma "corrida armamentista" na América Latina e falou em "recuperação do tempo perdido" no Brasil. "Precisamos ter a capacidade de defender todas as nossas infraestruturas sensíveis", acrescentou.


OPORTUNIDADE
O enviado dos EUA chegou a Honduras. Não por coincidência, nas manchetes do hondurenho "El Heraldo" ao "Jornal Nacional", o governo golpista "anuncia representação contra o Brasil na Corte de Haia".
E o instituto Gallup soltou pesquisa dizendo que 73% dos hondurenhos dizem que a eleição "soluciona o golpe", como querem os golpistas.
E o republicano Otto Reich escreve na "Foreign Policy" que "Honduras é uma oportunidade", cobrando de Obama o que fez Reagan, ao invadir Granada.

EUA VS. BRASIL
BBC Brasil, a agência judaica JTA e outras noticiam que congressistas dos EUA "criticam visita de Ahmadinejadi" ao Brasil, mês que vem. O democrata Eliot Engel e o republicano Connie Mack cobram dos "nossos amigos em Brasília" que atuem com a "responsabilidade que vem com a liderança" e reconsiderem as relações com o Irã.

OBAMA & LULA
O colunista conservador do "Washington Post", Charles Krauthammer, comparou Obama ao Brasil, dizendo ser "o homem da promessa perpétua", como "a piada cruel" sobre o país do futuro. De imediato, a "Foreign Policy" postou longa defesa do país e de Lula, dizendo que ser chamado "o Brasil dos políticos devia ser um elogio".


"OBAMA ESTÁ CERTO"
Na página "mais popular" ontem no "Wall Street Journal", o colunista Thomas Frank escreveu que "Obama está certo sobre a Fox News". O jornal e o canal são de Rupert Murdoch.
Para Frank, a Fox é "habita uma realidade alternativa definida por um conflito imaginário entre nobres patriotas e liberais mal intencionados". Só reclamou que Obama devia ter usado, na crítica, "sarcasmo".
Ao fundo, ao vivo na própria Fox News, o âncora Shepard Smith reclamou da cobertura sem "equilíbrio" que o canal faz da campanha em Nova Jersey.

CIDADÃO MORTO
Blogs de mídia noticiam que a revolução mais recente, de "jornalismo cidadão", viu morrer mais um site, o Soitu.es, que até postou um corpo estendido sobre o logo