segunda-feira, novembro 30, 2015

Meninx' é histeria de gênero - LUIZ FELIPE PONDÉ

Folha de SP - 30/11
Em alguns momentos, devemos fazer silêncio sobre algumas coisas. Existem palavras que, com o tempo e com o uso excessivo, perdem o significado. Quer um exemplo? "Energia". Ninguém mais sério usa a palavra "energia". Só se usar como piada, tipo "a energia daqui está pesada" ou "a energia daquela mina está generosa hoje".

Outro exemplo? "Cabala". Apesar de ser uma coisa muito séria, "cabala" é uma palavra que você deve evitar até passar o momento "Cabala da Vila Madalena" –que, temo, não vá passar nunca porque abriram um Kabbalah Centre em Tel Aviv!

Outro exemplo? "Ética" ou "valores". Se você ouvir alguém falando que "é ético", corra, ele (ou ela) vai bater sua carteira. Ouviu alguém dizendo que "aprendeu a ter valores em casa"? Fuja. A figura vai te passar a perna na primeira oportunidade, justamente porque ela (ou ele) afirma "ter valores". Evite usar essas duas palavras, principalmente, em jantares inteligentes. Por que em jantares inteligentes?

Explico. Jantares inteligentes são, normalmente, frequentados por pessoas com "consciência social" e essa gente não é nunca de confiança, basta irritá-las para ver como são docinhas de dar gosto.

Ou use essas palavras (refiro-me a "ética" e "valores") na frente do espelho para não esquecer como pronunciá-las quando a "onda do bem" (que vai, muito provavelmente, acabar com todo o esforço humano desde a pré-história) tiver passado.

Evite também dizer coisas como "tenho consciência social" ou "é importante termos jovens com consciência crítica" porque se tiver alguém menos bobo (ou menos boba) ao seu lado, vai saber que você é um bobo (melhor dizer "bobx", para não excluir ninguém, e não ter que ficar repetindo palavras para provar que sou fiel à "questão de gênero").

Mas existem outros exemplos mais recentes de palavras ou expressões que você, se for uma pessoa elegante e bem-educada, deve evitar usar. E algumas dessa carregam tons mais dramáticos no seu uso. "Dramático", aqui, deve ser compreendido como sinônimo de "violento".

Quer um exemplo? "Questão de gênero", que acabei de usar acima. Se você ouvir alguém usando muito esses termos (para dizer que homem e mulher são apenas construções sociais), cuidado, "elx" gosta de poder. E o usará com violência contra você, se assim for necessário para ele ou ela.

"Questão de gênero" se transformou numa das maiores chaves de patrulha e violência institucional no mundo dos agentes culturais. E é um passe garantido para conseguir verba e espaço institucional. Quem diz muito "questão gênero" é, muito provavelmente, gente de temperamento autoritário. Faça um teste: olhe o mundo à sua volta. Tente questionar a "questão de gênero" para ver o que te acontece.

E por quê? Porque a palavra "gênero" hoje, seja na universidade, seja na mídia, seja nas produções culturais, seja nos currículos escolares (logo, logo "menino" e "menina" serão expressões consideradas "opressivas" e trocadas por "meninx", o máximo do ridículo) reúne duas características muito poderosas: grana para pesquisa e realização de projetos e, portanto, como decorrência, aumento, cada vez mais, de espaço institucional.

Mas antes de terminar, um reparo fundamental! Que esse povo babaca que gosta de bater em mulher e em gay não pense que, ao criticar os abusos de poder do "povo de gênero", eu esteja me colocando ao lado deles. Quem bate em mulher é homem frouxo.

Mas por que tanta histeria coletiva com esse tema de gênero? Simples: pura e simples histeria, no sentido freudiano. Você não sabe o que é isso? Pergunte a um psicanalista.

O "barato" na histeria é a repressão sexual. A teoria de gênero é a mais nova forma de repressão sexual instalada na cultura, um neopuritanismo. Não é à toa que repete como um mantra que o homem e a mulher não existem. O sintoma histérico é justamente a negação do "destino do sexo".

Mas, infelizmente, não vai adiantar falar disso para os psicanalistas porque muitos sucumbiram ao sintoma e "perderam o ouvido", afogados na histeria que se fez laço social e no seu sintoma, a política histérica.

Afaste-se dele, presidente - VINICIUS MOTA

Folha de SP - 30/11
O sistema político brasileiro caminha para a ruptura, embora nada indique que ela implicará quebra ou relativização do regime democrático. Depois da explosão, o mais provável é que uma nova maioria se erga dos destroços.

A inércia, o marketing e a contingência produziram um grave descompasso entre a tipologia do governo eleito e a dos remédios exigidos para tocar os assuntos públicos. O Brasil reconduziu um projeto intervencionista e paternalista de centro-esquerda, quando a realidade já requeria uma guinada no sentido oposto.

O acaso também fez coincidir no tempo a afirmação das instituições de controle do abuso de poder. Policiais, procuradores e juízes extraem provas criminais a mancheias com a escavação de camadas geológicas sedimentadas no conúbio entre políticos e empresários, exacerbado pela lógica do nacional-desenvolvimentismo.

O resultado dessa confluência de fatores é que o governo eleito por estreita maioria em outubro de 2014, além de ver-se compelido a contrariar suas promessas e convicções, também agrega ao seu redor os políticos que, um a um, vão caindo na teia de inquéritos e condenações criminais.

Ruíram as sucessivas tentativas de remendar o que nasceu torto. A breve "regência" de Lula da Silva, a sua intrusão mais direta no governo, foi enterrada na semana passada, com as prisões do amigo pecuarista e do líder
no Senado e com uma nova fragilização da justificativa do filho do ex-presidente para o recebimento de R$ 2,5 milhões de um lobista.

Lula, como está claro há vários meses, ocupa-se apenas com salvar a própria pele, o que a esta altura seria uma façanha improvável. Vai levando para a cova e o presídio quem se abraçou a ele.

A presidente Dilma ainda pode escolher o seu destino. O ocaso de braços com o padrinho ou a separação definitiva enquanto ainda há um fio de esperança.

domingo, novembro 29, 2015

AS DIÁRIAS DE STÉDILE - Você sustenta o vagabundo!

               
               Você sustenta o vagabundo!

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SENADORA FÁTIMA BEZERRA PT-RN: ESCAFEDEU?

Aos meus amados e adorados petistas, uma pergunta. Onde andava a Senadora Fátima Bezerra PT-RN na votação da prisão de Delcídio Amaral?
Talvez haja uma pequena explicação para o satanás fugir da cruz. 
Lembrem-se, Delcídio queria livrar a cara dele e do André Esteves, dono do BTG PACTUAL. Olhem aí abaixo. Será que é o que estou pensando?



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segunda-feira, novembro 23, 2015

Wake up call - LUIZ FELIPE PONDÉ

FOLHA DE SP - 23/11

Wake up call (despertar) é aquilo que você pede num hotel quando precisa acordar cedo. Tomo uma liberdade poética aqui para dizer que o terrorismo islamita é o Wake up call da Europa. O mundo pós-Segunda Guerra Mundial acabou. Sinto pela França que é um país muito amado.

O islamismo político (mais uma vez, porque desde a idade média o islamismo político, seja árabe, seja turco-otomano, "atormenta" o sono dos europeus) pôs um ponto final no mundo que a Europa conheceu desde o fim da Segunda Guerra, principalmente a Europa que ganhou uma grana preta dos Estados Unidos para não ser engolida pela então União Soviética, umas das formas históricas do atávico império Russo. Stálin era um czar, como Putin é hoje. E, se Obama, o fraco, enfrentar Putin, aposto no Putin.

Enquanto nós amamos uma alimentação balanceada com suco, os islamitas amam a morte. Como se enfrenta gente que ama a morte?

A Europa era, até dia 13 de novembro de 2015, um parque temático em que seus personagens viviam uma vida de Cinderelas sociais, anjinhos políticos e riquinhos. Alimentados pelo delírio de "um mundo perfeito", não perceberam que esse mundo era apenas um momento passageiro numa história que caminha para lugar nenhum, sem nenhum sentido, a não ser nosso esforço de sofrer menos, quando dá.

O despertar implicará uma dramática redução dos direitos individuais. O combate ao terrorismo fere, necessariamente, os direitos civis. E isso é algo que os terroristas contam. A saber, a incapacidade europeia de responder de modo assertivo, porque isso implicaria um mergulho profundo em formas de controle social estranho à natureza da democracia. Se a população islâmica da Europa for pressionada, sua integração, que já é ruim, ficará pior. Então, ela se transformará num celeiro ainda maior de jihadistas com passaporte europeu. A Europa vira a Cisjordânia.

Por exemplo, como combater o terrorismo em solo europeu e não ampliar a pressão sobre escolas religiosas islâmicas que ensinam formas radicais de islamismo político? E se esses "professores e alunos" forem tão franceses quanto Joana D'Arc? Como marcar uma distância razoável entre tais procedimentos legítimos e métodos implícitos de discriminação étnico-religiosa? Ajudaria se a própria população islâmica europeia começasse a denunciar seus "patrícios" radicais? Talvez uma política de "disque denúncia" discreta ajudasse aos muçulmanos europeus a entregar potenciais terroristas às autoridades? Ou, talvez, mais fácil, aumentar a pressão e associar a ela uma retórica "humanista" melosa?

Terão que encontrar um equilíbrio entre esses valores políticos de liberdade individual que marcam o mundo ocidental e os excessos de crendices políticas num "mundo melhor" construído a base de muito blá-blá-blá regado a queijos e vinhos, intelectuais-gurus e a grana dos "capitalistas selvagens".

O parque temático europeu de felicidade e direitos é uma conquista da violência europeia de séculos, que hoje todo "bonitinho" quer negar ao silêncio, dizendo que "não é sua". O mundo não é um embate ao redor das luzes, o mundo é um embate ao redor da manutenção das trevas o mais longe possível. E os europeus acreditaram que as trevas que habitam o mundo seriam mantidas à distância graças a discursos melosos e a compras na Ikea. Deveriam ler mais Joseph Conrad (1857-1924), escritor polonês-britânico do século 19, e menos Edward Said (1935-2003), intelectual "palestino" chique que vivia no Ocidente ouvindo ópera.

O terrorismo islamita vai mudar a geopolítica europeia e seu cotidiano. Infelizmente, a Europa se transformou num continente marcado pela negação de uma ideia muito antiga: que a guerra é parte da diplomacia.

E, aqui entre nós, como pequeno exemplo desse delírio de falsos riquinhos que somos, sonhamos com um Brasil que deveria ser a França (coitada...) e mergulhamos na histeria de gênero e na política das bicicletas, enquanto falta quimioterapia no SUS. O Brasil é mesmo um país ridículo.

A guerra é um horror. Mas, como dizia Napoleão, "preparem-se para a guerra porque a paz será terrível".

As lições dos italianos - NELSON PAES LEME

O GLOBO - 23/11

A aliança do populismo bolivariano com o fisiologismo do chamado ‘baixo clero’ legislativo tomou de assalto o Estado brasileiro

Dois cientistas políticos italianos da virada do século retrasado para o século passado são leituras importantes para se compreender o que está sucedendo no Brasil de hoje. São eles Gaetano Mosca e Vilfredo Pareto, introdutores da chamada “teoria das elites”. Gaetano Mosca, em seu clássico “Elementi di Scienza Política”, de 1896, estabelece os princípios elementares do conceito de elite, vindo do arcaísmo à modernidade, passando pela Antiguidade. Tal como seu compatriota florentino e renascentista Niccolò Macchiavelli, Mosca divide a sociedade em governantes e governados. Em todos esses momentos históricos, fica patente que a elite é o estamento social que domina a um só tempo o governo (a política) e as forças produtivas, ou seja, a economia. Já Vilfredo Pareto, sociólogo e economista, contemporâneo de Mosca, publicou dois trabalhos decisivos para a compreensão do tema, mais ou menos à mesma época: “Manual de economia política” (1906) e “Tratado de sociologia geral” (1916). Em ambos, trata da interação entre as diversas categorias de elites, dando ênfase às elites políticas e econômicas.

Por que esses pensadores italianos são importantes para o Brasil de hoje? Pelo simples fato de que as elites aqui, historicamente, engendraram um Estado gigantesco e inadministrável, onipresente e absorvente da economia e da política a um só tempo, gerando um presidencialismo de cooptação e favores. E agora veem-se reféns desse aprisionamento desconcertante nas mãos de uma burocracia partidária incompetente e corrupta que se apropriou desse Estado patrimonialista e paquidérmico. A aliança do populismo bolivariano com o fisiologismo do chamado “baixo clero” legislativo tomou de assalto o Estado brasileiro em todos os seus segmentos de forma metastática. E a sociedade não dispõe de meios democráticos imediatos para sustar a sangria hemorrágica das instituições que se debatem nesse caos. Nossas elites falharam e hoje fazem uma autocrítica tardia pelas ruas pintadas de verde e amarelo. Resultado: o Poder Executivo não governa, o Poder Legislativo não legisla e o Poder Judiciário se atém a um arcabouço jurídico e processual arcaico, gongórico e lento, gerando a permanência da impunidade e a reincidência de crimes sucessivos contra o Erário. A mesma Itália de Machiavelli, Pareto e Mosca, nos lega a Mani Pulite e o juiz Moro, tentando abrir uma senda nessa silva oscura de outro italiano ilustre, o magistral Dante Alighieri, em seu ciclo infernal.

Vale a transcrição na íntegra do resumo e introdução do trabalho acadêmico transcendente do Direito Penal, de autoria do juiz Sérgio Fernando Moro, para se compreender o que virá ainda por aí: “Traça breves considerações sobre a operação Mani Pulite, na Itália, uma das mais impressionantes cruzadas judiciárias contra a corrupção política e administrativa. Discute as causas que precipitaram a queda do sistema de corrupção italiano e possibilitaram a referida operação — entre elas os crescentes custos, aliados a uma conjuntura econômica difícil —, bem como a estratégia adotada para o seu desenvolvimento. Destaca a relevância da democracia para a eficácia da ação judicial no combate à corrupção e suas causas estruturais e observa que se encontram presentes várias condições institucionais necessárias para a realização de ação semelhante no Brasil, onde a eficácia do sistema judicial contra os crimes de ‘colarinho branco’, principalmente o de corrupção, é no mínimo duvidosa. Tal fato não escapa à percepção popular, constituindo um dos motivadores das propostas de reforma do Judiciário. A denominada ‘operação mani pulite’ (mãos limpas) constitui um momento extraordinário na história contemporânea do Judiciário. Iniciou-se em meados de fevereiro de 1992, com a prisão de Mario Chiesa, que ocupava o cargo de diretor de instituição filantrópica de Milão (Pio Alberto Trivulzio). Dois anos após, 2.993 mandados de prisão haviam sido expedidos; 6.059 pessoas estavam sob investigação, incluindo 872 empresários, 1.978 administradores locais e 438 parlamentares, dos quais quatro haviam sido primeiros-ministros. A ação judiciária revelou que a vida política e administrativa de Milão, e da própria Itália, estava mergulhada na corrupção, com o pagamento de propina para concessão de todo contrato público, o que levou à utilização da expressão Tangentopoli ou Bribesville (o equivalente a 'cidade da propina’) para designar a situação. A operação Mani Pulite ainda redesenhou o quadro político na Itália. Partidos que haviam dominado a vida política no pós-guerra, como o Socialista (PSI) e o da Democracia Cristã (DC), foram levados ao colapso, obtendo, na eleição de 1994, somente 2,2% e 11,1% dos votos, respectivamente. Talvez não se encontre paralelo de ação judiciária com efeitos tão incisivos na vida institucional de um país. Por certo, tem ela os seus críticos, especialmente após dez anos. Dez suspeitos cometeram suicídio. Silvio Berlusconi, magnata da mídia e um dos investigados, hoje (à época) ocupa (ocupou) o cargo de primeiro-ministro da Itália.Não obstante, por seus sucessos e fracassos, e especialmente pela magnitude de seus efeitos, constitui objeto de estudo obrigatório para se compreender a corrupção nas democracias contemporâneas e as possibilidades e limites da ação judiciária em relação a ela” . Tema para a profunda reflexão das nossas elites. Com a palavra, o Supremo Tribunal Federal do Brasil.

Nelson Paes Leme é cientista político

Ainda é tempo - PAULO GUEDES

O GLOBO - 23/11

O arrefecimento da batalha política pelo impeachment desloca os choques do Congresso para um novo front em que o governo recupera a iniciativa das manobras. Bem-sucedido em seu primeiro movimento, acaba de desarmar a pauta-bomba que ameaçava literalmente explodir suas finanças. Tenta agora aprovar a revisão de sua meta fiscal de um superávit primário previsto de R$ 55,3 bilhões para um déficit a ser autorizado de R$ 119,9 bilhões em 2015. Isso evitaria na forma, se não no mérito, seu desenquadramento à Lei de Responsabilidade Fiscal. Quer também aprovar a Lei de Diretrizes Orçamentárias para 2016, embutindo estimativas de mais R$ 24,05 bilhões em arrecadação com a volta da CPMF, em busca de um superávit primário de R$ 43,8 bilhões, o equivalente a 0,7% do PIB. Apenas por simplificação, vamos nos referir a essa trilha em curso como o "Plano Levy". A presidente escaparia da "collorização" de seu mandato, cedendo à Velha Política na reforma ministerial, mas seguiria rumo à "sarneyzação" em meio ao indigesto "feijão com arroz" na economia.

Bem melhor do que o Plano Levy, com ações isoladas em busca do equilíbrio orçamentário para 2016, seria um programa que sinalizasse uma verdadeira mudança de regime fiscal. Foi em busca dessa previsibilidade para horizontes mais longos que Armínio Fraga sugeriu ao governo um plano gradualista de ajuste fiscal que garantisse um superávit primário crescente, de 1%, 2% e 3% do PIB para o próximo triênio. A reversão de expectativas hoje desfavoráveis tornaria possível derrubar mais rapidamente a inflação e com menores sacrifícios em perdas de produção e empregos.

A persistência da inflação, o aprofundamento da recessão e o agravamento do desemprego tornam cada vez mais improvável a eficácia de um plano gradualista, mesmo que consistente como o "Plano Armínio" Resta a Dilma, como única rota de escape à "sarneyzação" de seu mandato, encaminhar ao Congresso um programa emergencial de controle de gastos públicos para seus três próximos anos de governo, atravessando "Uma ponte para o futuro" enquanto é tempo. Afinal, pela primeira vez desde a redemocratização, os social-democratas atacam frontalmente em documento político o problema estrutural do excesso de gastos públicos.


Filme queimado - NATUZA NERY - COLUNA PAINEL

FOLHA DE SP - 23/11

Após Sete Brasil, BNDES cai em descrédito junto a empresários


Empresários de peso andam dizendo que não compram um carro usado do presidente do BNDES, Luciano Coutinho, após o banco se recusar a conceder financiamento de longo prazo para bancar a Sete Brasil, responsável pela cadeia do pré-sal. Instituições financeiras alegam que entraram no negócio porque o banco de fomento se comprometera a reembolsá-las. O setor privado diz que Coutinho perdeu o controle da burocracia interna e não deu aval às prometidas operações de crédito.

Desconfiança 
Empresários alegam que ajustes foram feitos para melhorar os contratos, mas nem assim o acordo saiu. O descrédito em relação ao banco federal pode atrapalhar futuros planos do governo de usar o BNDES para girar a economia.

Velho eu 
Dilma Rousseff está de volta com o estilo “micromanagement”. Em reuniões recentes, passou horas cobrando de sua equipe o detalhe do detalhe. Esse traço não era visto de forma tão frequente desde o ano passado.

Pito 
As famigeradas broncas também se avolumaram há algumas semanas, período coincidente com a perda de potência do impeachment. Em tempos de crise, Dilma costuma manter mais a calma do que em momentos de aparente tranquilidade.

Não dá 
Ministros do Supremo não têm demonstrado nenhuma inclinação para aceitar um pedido de afastamento do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Avisam que só um caso flagrante provocaria algo assim.

Parada estratégica 
O Ministério Público Federal só formulará ação nesse sentido quando tiver certeza de vitória. Com o tabuleiro no tribunal por ora imóvel, a única chance de provocar a saída de Cunha seria pelas mãos de seus próprios pares.

Quem foi 
Incomodado com informações publicadas nos jornais do fim de semana de que foi abandonado por seu partido, o peemedebista procurou o vice Michel Temer neste domingo para pedir explicações. Ouviu do correligionário justamente o contrário.

Touché 
“Quero ver se quem está plantando isso vai colocar a cara. Não ganhei a eleição apenas com o PMDB, mas com os votos da Casa, de um bloco de deputados”, dispara o presidente da Câmara.

Boca fechada 
Pegou mal no PT a declaração do titular da Secom, Edinho Silva, de que sua legenda errou na Lava Jato. Petistas aconselham o ministro a se concentrar nas questões de governo, não de partido.

Prazo de validade 
As críticas de correligionários mostram que Edinho começa a enfrentar desgastes internos. Antes figurinha carimbada nas reuniões no Palácio da Alvorada, ele não tem frequentado muitos dos encontros da cúpula do governo.

Trauma 
Uma das maiores paranoias do ex-presidente Lula é ver São Bernardo do Campo virar Detroit. “Ninguém precisa pagar para ele defender benefícios às montadoras de automóveis”, diz um aliado em defesa do petista.

Castelo de areia 
Advogados que atuam na Lava Jato querem levantar a tese de ilegalidade da operação nos Tribunais Superiores, onde consideram haver mais apelo.

Economia 
A reforma nas regras de pensão por morte já mostra mudanças nos números. De janeiro a setembro, o gasto com o benefício recuou 2%. Como o crescimento vegetativo da despesa é de 3% ao ano, a queda foi ainda maior.

Predestinados 
Em reunião recente, o ministro José Eduardo Cardozo (Justiça) brincava com os nomes de policiais ligados à pasta. “Temos o inspetor Furtado, da Polícia Rodoviária Federal, e o delegado Coca, da PF. Vou promover o encontro deles aqui”.

Plataforma eleitoral 
A senador Marta Suplicy (PMDB-SP) presidirá uma audiência pública da Comissão de Assuntos Econômicos do Senado para discutir o projeto que aumenta o limite de empresas no Simples. A sessão acontecerá na Assembléia Legislativa de São Paulo, lugar conveniente para quem tem ambições de comandar a prefeitura da capital.


TIROTEIO

O Eduardo Cunha está fazendo escola no Congresso: agora o PSDB diz que não era sócio dele, apenas o beneficiário final.

DO SENADOR LINDBERG (PT-RJ), sobre a tática dos tucanos de se afastar do presidente da Câmara, mas sem abandoná-lo de vez de olho no impeachment.


CONTRAPONTO

Sem legenda

No auge da crise política, Dilma Rousseff fez uma reunião com congressistas aliados. Em dado momento, o senador Marcelo Crivella (PRB-RJ) apresenta uma estratégia para atrair mais apoio à aprovação de projetos do chamado ajuste fiscal.
—Se cada um de nós puder trazer mais um parlamentar, será ótimo —, disse ele, antes de completar o raciocínio com a expressão que se tornou “meme” nacional:
—Aí dobramos a meta —, afirmou, imitando Dilma.
Todos os presentes riram, exceto a presidente da República, que ficou olhando para o senador do Rio com cara de interrogação.

A nau dos insensatos - RICARDO NOBLAT

O GLOBO - 23/12

Há insensatos em toda parte. Entregues às maiores tolices, não aceitam ser chamados de insensatos. É o caso, por exemplo, da presidente Dilma; e também do seu mestre, o ex-presidente Lula.

Os dois escolheram ser reféns de Eduardo Cunha, presidente da Câmara dos Deputados, senhor da abertura do processo de impeachment que eles tanto receiam. E por isso o apoiam na contra mão do bom senso.

Na semana passada, como principal orador do 3º Congresso da Juventude do PT, em Brasília, Lula pediu a uma plateia barulhenta, e movida pelos arroubos próprios da idade, que não permitisse a ninguém chamar petista de ladrão.

Ora, por que ele não aproveitou o momento para refletir sobre os motivos que empurram o PT para o seu crepúsculo?

Como omitir que orientou o governo e o partido a ajudarem Eduardo a escapar da cassação que ameaça seu mandato?

Como fingir que não viu a faixa estendida no local do congresso saudando os “guerreiros do povo brasileiro”, petistas de raiz condenados pelo mensalão e sujeitos a condenação pela Lava-Jato?

Mas não: em sua lição aos moços, Lula preferiu distorcer a realidade.

“Quero saber se o dinheiro do PSDB foi buscado numa sacristia”, disse a propósito da roubalheira na Petrobras. “Então nosso companheiro Vaccari, que é um companheiro inteligente, pegava dinheiro de propina e o PSDB ia lá ao cofre e pegava dinheiro limpo?”.

Subentenda-se: todos se valem de dinheiro sujo. E como é assim, mais tolerância com o PT, por favor!

A permanência de Eduardo na Câmara contribui para acelerar a degeneração da política.

A falta de coragem do governo para enfrentar o impeachment agrava o impasse que paralisa o país.

Fora, pois, com Eduardo, enterrado em um mar de lama até o pescoço! Se para retaliar ele acolher o impeachment, que o governo o enfrente no voto, para ficar ou sair.

O que não dá mais é contabilizar como perdidos este e o próximo ano, e conceder que 2017 também possa se perder.

Naturalmente, a insensatez não pauta apenas o comportamento do primeiro escalão da República.

Quer insensatez maior do que um governador anunciar um ambicioso plano de reorganização do ensino no seu Estado sem discuti-lo antes, à exaustão, com os interessados?

Foi o que fez Geraldo Alckmin. Quis mexer com um milhão de alunos, com suas famílias e com milhares de professores da maneira mais autoritária possível.

A resposta foi rápida: em sinal de protesto, estudantes e movimentos sociais ocuparam 93 escolas em 25 cidades. E prometem ocupar outras no início desta semana.

A essa altura, o plano foi pelo ralo. Perdeu, Alckmin!

Não foi o único a perder. O prefeito Eduardo Paes, do Rio, perdeu ao insistir com a candidatura à sua sucessão de Pedro Paulo Teixeira, amigo e parceiro há 18 anos.

Insensato é o homem que bate em mulher. Ou que se refere ao ato de bater em mulher como “briga de casal”.

Néscio é quem vota em homem que bate em mulher. Ou em padrinho de homem que bate em mulher.

Pedro Paulo espancou sua ex-mulher duas vezes. Numa delas, arrancou-lhe um dente com um murro. E ameaçou tirar-lhe a filha de 10 anos, que já o vira bater na mãe em uma noite de Natal.

Objeto do desejo obsessivo de Paes, a candidatura de Pedro Paulo está morta e cheira mal. Só resta ser enterrada, quer Paes concorde com isso ou não.

A insensatez costuma cobrar um preço alto.

COLUNA DE CLAUDIO HUMBERTO

BLOQUEIO DE BENS PELO TCU PODE ATINGIR DILMA
Os bens dos integrantes do conselho de administração da Petrobras, na época da compra da refinaria americana de Pasadena, poderão ter os bens bloqueados, como já aconteceu aos membros da diretoria executiva da Petrobras, caso os ministros do Tribunal de Contas da União decidam responsabilizá-los pelo negócio considerado lesivo. Entre os conselheiros, está Dilma Rousseff, que o presidia na ocasião.

TUDO COMBINADO
O envolvimento dos colegiados foi combinado: o conselho referendou a operação de Pasadena já no dia seguinte ao fechamento do negócio.

BATOM NA CUECA
Essa pressa do conselho de administração de referendar a compra de Pasadena representa uma espécie de “batom na cueca” de Dilma.

VAI SER UMA BATALHA
Um ministro do TCU admitiu em off a possibilidade de a presidente Dilma ter seus bens bloqueados, mas admite: “Vai ser uma batalha”.

R$3 BI NOS BOLSOS
A compra superfaturada de Pasadena, incluindo as propinas, lesou o País em US$ 796 milhões (ou R$ 3 bilhões), segundo estima o TCU.

DILMA QUASE DEMITIU O COMANDANTE DO EXÉRCITO
Certamente à procura de crises, como se achasse pouco a atual, Dilma quase demitiu o comandante do Exército, general Eduardo Villas Bôas, por ele divergir de eventual emprego de tropas contra manifestações pelo impeachment, dia 15 passado. Tudo foi superado a tempo, até com a mediação do ministro Aldo Rebelo (Defesa), cuja assessoria nega o caso. Mas os gritos de Madame ainda ecoam no Planalto.

PUNIÇÃO ‘AMENA’
Dilma anda com o general Villas Bôas entalado: ela achou “amena” a punição ao general rebelde Antônio Mourão, crítico do seu governo.

MAIS UM
Por autorizar um tributo ao coronel Brilhante Ustra, suposto torturador, o general Mourão foi destituído do III Exército para virar um burocrata.

OS ‘INTOCÁVEIS’
Dilma também não gostou quando Villas Boas cumpriu a lei e cassou medalhas militares de mensaleiros tipo Genoino e João Paulo Cunha.

VOLUME MORTO
Paulinho da Força (Solidariedade-SP) acha que os tucanos desistiram do impeachment. “Fizeram acordo para aliviar com Dilma e apertar Lula, acreditando que Dilma está morta. PSDB pulou do barco.”

VISIONÁRIOS?
Apesar da crise econômica e com taxa de desemprego quase o dobro do início do ano, estrangeiros de Estados Unidos e Reino Unido foram os que mais receberam autorizações de trabalho no Brasil em 2015.

BOCA LIVRE ADIADA
Convidada para jantar dom Dilma, quarta (18), a bancada do PDT no Congresso passou vexame. Primeiro, a anfitriã não se encontrava no Palácio Alvorada, local da boca livre, e depois ainda receberam ordem para voltar ao Congresso para a sessão de votação em curso.

ELES ESCAPARAM
Os senadores Cristovam Buarque e Antônio Reguffe, do DF, são os únicos da bancada do PDT que não passaram vergonha com o jantar frustrado com Dilma. Não foram porque divergem do apoio ao governo.

QUE OPOSIÇÃO?
Os tucanos paulistas não pouparam críticas ao líder da bancada na Câmara, Carlos Sampaio (SP). Ele é acusado de ser o responsável pela fraca atuação da oposição neste ano, dando fôlego à Dilma.

ESCOLHA DE SOFIA
Deputados petistas no Conselho de Ética da Câmara preferem esvaziar as reuniões a votar a favor de Eduardo Cunha no processo por quebra de decoro. O ex-presidente Lula defende que votem a favor de Cunha.

DINHEIRO AÍ
O governo liberou cargos e emendas para deputados do PSD da Bahia, Sergipe e São Paulo. Os cariocas, donos da maior bancada do partido com 6 deputados, não foram contemplados e andam insatisfeitos.

BANCADA INFIEL
Dilma teria motivo de sobra para celebrar a manutenção do veto ao reajuste do Judiciário, mas ficou insatisfeita. Mesmo com a reforma ministerial, o governo venceu por apenas 6 votos.

PERGUNTA NA JUSTIÇA
Qual tragédia vai demorar mais tempo para ser limpa: a lama em Mariana ou a “lama” na Petrobras?


sábado, novembro 21, 2015

Brasil 2016 - ALMIR PAZZIANOTO PINTO

O Estado de S. Paulo - 21/11

“Afirmo que o governo Lula é o mais corrupto de nossa história nacional”

Roberto Mangabeira Unger


Aproxima-se o fim do ano e a pergunta paira no ar: o que nos espera em 2016? Dois marcantes acontecimentos podem ser considerados certos: os Jogos Olímpicos em agosto e as eleições municipais em outubro. Tudo o mais é imprevisível, nebuloso, assustador.

O mais ousado futurologista – sinônimo adequado à expressão cientista político – talvez não se sinta encorajado a profetizar, no encapelado oceano de interrogações em que flutua à deriva o Brasil, como serão os 12 meses que se aproximam. As informações disponíveis revelam País em crise, sem rumos, sem governo, sem oposição, sem dinheiro, imerso em gigantesca onda de corrupção, com a economia em colapso, o mercado de trabalho em pânico, descrente de instituições governamentais. Consultando passadas edições de jornais e de revistas de circulação nacional, chegaremos à constatação de que qualquer hipótese positiva referente a 2016 será temerária, sem base real de sustentação.

Vejamos a Olimpíada.

Teme-se fracasso igual ao da Copa de 2014, quando a seleção naufragou diante da Alemanha e da Holanda de maneira constrangedora. O atletismo, como sempre, vive à míngua de recursos. Depende do esforço heroico de pequeno grupo de atletas, que competem em condições de inferioridade com americanos, chineses, alemães, russos, jamaicanos, cubanos, de países cujos planejamento e estrutura lhes permitem alcançar marcas excepcionais. Sobrevivemos graças ao talento natural e à dedicação de desportistas como Ademar Ferreira da Silva, João do Pulo, Robson Caetano, Fabiana Murer, Maurren Maggi.

Quanto às eleições municipais, o panorama é desolador.

A falta de renovação nos impõe acompanhar disputas entre nomes desgastados, como Marta Suplicy. Prestes a atingir 71 anos, abandonou o PT, ao qual se filiou em 1981 e pelo qual foi candidata a governador do Estado, prefeita da capital, senadora da República e ministra do Turismo, para disputar, pelo PMDB, o regresso à chefia do Executivo municipal. Terá como adversário o desacreditado Fernando Haddad, de quem era, até há poucos dias, fiel companheira de legenda. O PSDB é pobre em dirigentes com trânsito fácil nas camadas populares, com as quais não consegue se comunicar. Andrea Matarazzo integra medíocre Câmara Municipal, sem brilho nem destaque. João Dória Júnior, bem-sucedido empresário do setor de comunicações e eventos, mas sem currículo político, dificilmente conseguirá legenda. Celso Russomanno, conhecido por ser homem de múltiplos partidos, disputou como favorito em 2012, mas se esvaziou na reta final e foi derrotado.

As disputas por prefeituras e Câmaras Municipais, em 5.570 municípios, serão travadas em cenário de crise. O lulopetismo debilitou o sistema econômico, causou fantástica taxa de desemprego, fechou indústrias, atrofiou a iniciativa privada, arruinou a União, Estados, o Distrito Federal e municípios.

Lula foi protagonista do maior calote político de todos os tempos. Tomou posse como presidente da República em janeiro de 2003. Em 2005, dois dos ministros mais íntimos, José Dirceu, da Casa Civil, e Antônio Palocci, da Fazenda, já sofriam pesadas acusações de corrupção. Em 13 anos de governo o PT aviltou o Legislativo, infiltrou-se no Judiciário, aparelhou estatais e sociedades de economia mista. Os escândalos apurados nos processos do mensalão, da Lava Jato, da Operação Zelotes, para ficar apenas nos mais divulgados, espraiaram-se pelo território nacional, de tal sorte que são raras as administrações municipais e estaduais acima de suspeitas.

A fundação do Partido dos Trabalhadores, em fevereiro de 1980, dias antes da malograda greve de abril no ABC, prometia algo inédito na esfera político-partidária, diferente da radicalização das esquerdas, do peleguismo petebista, do insaciável apetite peemedebista, do reacionarismo arenista. Anunciava-se proposta nova para o País, cansado do autoritarismo, à espera da democracia. Afirmava-se que com o PT no poder a desigualdade de renda seria reduzida; o mercado de trabalho, robustecido; a inflação, contida; os salários reais, elevados. Lula assumia o compromisso de ser ético na vida pública, de renovar a legislação trabalhista, sanear a estrutura sindical corrompida pelo peleguismo, de promover a reforma do Estado. A realidade mostrou-se outra. A moralidade transformou-se em virtude escassa nas esferas públicas e as promessas de mudanças foram esquecidas. O que hoje se vê são ex-ministros, deputados, senadores, sindicalistas, empresários condenados ou réus de ações criminais.

Em discurso no Palácio do Planalto em 29 de outubro de 2004, na apresentação do Programa Nacional de Microcrédito Produtivo, o presidente Lula disse, em determinado momento: “Eu tinha um advogado chamado Almir Pazzianotto Pinto, que depois foi ministro do Trabalho, e eu vivia discutindo com ele o seguinte: olhe, eu não quero advogado para dizer o que eu tenho que fazer. Eu quero advogado para me livrar depois que eu fizer”. Até então as infrações atingiam a lei de greve, cujo rigor exigia ações ousadas, como as que se verificaram em 1978, 79 e 80. A mesma prática jamais traria bons resultados quando adotadas por presidente da República.

À debilidade de Lula e do PT não se contrapõe, todavia, oposição consistente. O PMDB flutua, com rara desfaçatez, de dentro para fora e de fora para dentro do governo. O PSDB, fundado em 1988 por dissidentes do PMDB que recusavam a liderança de Orestes Quércia, sofreu quatro contundentes derrotas para o PT. Hoje procede como pugilista sonado a caminho do ringue, vencido antes de se iniciar o combate.

*ADVOGADO.

Esqueça a sexta-feira 13 - GUILHERME FIUZA

O GLOBO - 21/11

A presidente, que foi guerrilheira e declarou horror à censura, acaba de aprovar lei apunhalando liberdade de expressão


O massacre de Paris levou a Europa ao estado de guerra, e o mundo ao estado de alerta. Mas o Brasil só pode se indignar com um dos mais graves atentados terroristas da história da humanidade se lamentar primeiro a ruptura da barragem em Minas Gerais. Esse incrível dilema parece coisa do demônio, porque, como dizia Hélio Pellegrino, o demônio é burro. Só ele poderia, em meio ao sangue e à dor, sacar a calculadora.

O ser humano se choca e se revolta com o que quiser. O ser desumano decide o que deve chocar e revoltar os outros. Ele é imune ao sentimento. Perplexidade, medo e morte não atrapalham seus cálculos politicamente corretos. Sua bondade e seu altruísmo estão à venda na feira por 1,99. E acabam de produzir uma façanha: o país voltou a ter uma Lei de Imprensa igualzinha à da ditadura militar. Sancionada pelo governo da esquerda bondosa (1,99).

A presidente da República, que foi guerrilheira e declarou seu horror à censura, acaba de aprovar uma lei apunhalando a liberdade de expressão. Não deve ter ligado o nome à pessoa. A nova Lei do Direito de Resposta impõe aos veículos de comunicação prazos e ritos sumários para defender-se dos supostos ofendidos — uma mordaça, dado o risco de jornais e TVs terem que passar a veicular editoriais dos picaretas do petrolão, por exemplo. Este é, e sempre foi, o plano dos petistas amigos do povo em defesa da verdade: falar sozinhos.

É uma lei inconstitucional, e o Supremo Tribunal Federal terá que se manifestar sobre isso. Claro que a independência do Supremo vem sendo operada pelo governo popular segundo a mesmíssima tática progressista — onde progresso é você assinar embaixo do que eu disser. A democracia brasileira está, portanto, numa encruzilhada — e só Carolina não viu.

Carolina e os convertidos, que não são necessariamente comprados. Fora as entidades e cabeças de aluguel, existe a catequização sem recibo. Estudantes de escolas públicas e privadas do país inteiro enfrentam provas — vestibular inclusive — onde a resposta certa é aquela em que o governo do PT é virtuoso e os antecessores são perversos. O nome disso é lavagem cerebral, e os resultados estão aí: em qualquer cidade brasileira há estudantes sofrendo bullying ideológico da maioria catequizada. Essa é a verdadeira tropa de choque (ou exército chinês) dos companheiros que afundaram o Brasil sem perder a ternura.

Pense duas vezes, portanto, antes de se horrorizar com a carnificina da sexta-feira 13 em Paris. Sempre haverá alguém ao seu lado, ou na sua tela, para denunciar o seu elitismo. E para te perguntar por que você não se choca com a violência em Beirute. E para te ensinar que os próprios europeus são os culpados de tudo. Não adianta discutir — como já foi dito, o demônio é burro. Mas se você achar que isso é cerceamento da liberdade, não conte para ninguém: é mesmo. Trata-se da censura cultural, uma prima dissimulada da censura estatal (a da Lei de Imprensa).

A censura cultural se alimenta desses dilemas estúpidos — sempre buscando um jeito de colar no inimigo o selo de “conservador”, palavra mágica. No Brasil, quem é contra a indústria de boquinhas estatais do PT é conservador — e os que conservam as boquinhas são progressistas. Quem era contra o monopólio estatal da telefonia era conservador (neoliberal, elitista etc.). O monopólio foi quebrado, gerou um salto histórico de inclusão social, mas o sindicalismo petista que tentou conservar esse monopólio é que é progressista. Conservadores são os que acabaram com a conservação.

Jornalistas que criticam as malandragens fisiológicas da esquerda são conservadores — e para realçar o maniqueísmo, claro, vale inventar. O perfil de Carlos Alberto Sardenberg na Wikipédia, por exemplo, foi reescrito com algumas barbaridades por um computador progressista do Palácio do Planalto. O perfil do signatário deste artigo também foi enriquecido com algumas monstruosidades. Depois de retiradas, surgiu ali um editorial sobre “polêmicas” com o PT (que continua lá). Cita um vice-presidente do partido que acusou este signatário de maldizer os pobres e sua presença nos shoppings e aeroportos. Naturalmente, é o partido dele quem ameaça a presença dos pobres nos shoppings e nos aeroportos, com a pior crise econômica das últimas décadas — e com seu tesoureiro preso por desviar dinheiro do povo. Mas esses detalhes conservadores não estão no verbete.

Como se vê, a verdade tem dono. Se você não quer problema com a patrulha, leia a cartilha direito. E, se possível, diga que os 130 mortos pelo Estado Islâmico em Paris não são nada perto da matança nas periferias brasileiras (use à vontade a calculadora do demônio). Pronto, você está dentro. Aí, pode falar de tudo. Lula, por exemplo, disse a Roberto D’Ávila que passou cinco anos sem dar entrevista para não interferir no governo. Procede. Esse que você ouviu falando pelos cotovelos devia ser o palestrante da Odebrecht.

Guilherme Fiuza é jornalista

Vigarice extrema - PLÁCIDO FERNANDES VIEIRA

CORREIO BRAZILIENSE - 21/11

É assustador ler pseudoesquerdistas defendendo o Estado Islâmico depois de, com lágrimas de crocodilo, chorarem a morte de cada um dos inocentes covardemente assassinados por terroristas na França. Sinto náuseas diante dos argumentos tortuosos para justificar o injustificável. Como defender fanáticos que pregam o extermínio do outro apenas porque o outro é homossexual, católico ou, simplesmente, não aceita ser subjugado?

Por trás da lógica insana desses intelectuais de butique está o suposto ódio ao capitalismo. Digo suposto e de butique porque a maior parte dos que conheço adora consumir o suprassumo de tudo o que condena: as megaproduções de Hollywood, seriados americanos, tecnologia de ponta, roupas de grife, carrões, bons vinhos, queijos... Mas, da boca pra fora, essa gente TORTURA o bom senso, a lógica e, sem querer querendo, sempre dá um jeito de insinuar que as vítimas da barbárie jihadista são as verdadeiras culpadas de terem sido mortas.

Sim, é verdade: a história mostra que o Ocidente perpetrou atrocidades contra os colonizados. A Igreja Católica, idem. Vejam o que fizemos contra os negros. Devemos reparações históricas muito além das cotas que facilitam o ingresso em universidades e no serviço público. Cadê o ensino oficial de qualidade capaz de colocá-los em pé de igualdade com a elite endinheirada? Os donos do poder no Brasil de hoje não querem saber de educação decente. Nem para negros nem para ninguém. Afinal, o conhecimento emancipa, liberta, faz pensar. A ignorância, não. E eles preferem manter o país no atraso. Na política do vote em mim que eu te dou isso e aquilo. O populismo mais rastaquera.

Apesar de tudo, a Europa evoluiu. O Brasil evoluiu. Todos, eu acreditava até havia pouco, evoluímos. Afinal, até a China, com seu socialismo de mercado, deu passos adiante. Mas o Estado Islâmico nos joga de volta às trevas medievais. Daqui a pouco, haverá cretinos defendendo o direito de mulheres queimarem padres em fogueiras, negros escravizarem e chicotearem brancos, índios expulsarem os caras-pálidas do Brasil...

Afinal, se não foi você que sujou a água dos fanáticos do EI, deve ter sido seu pai, seu avô, seu tataravô e ponto. Bum! É o raciocínio tosco de quem não leu ou leu e não entendeu a fábula "O lobo e o cordeiro", de Esopo. É isso. Fico estupefato quando vejo na internet mulheres e até amigos curtindo o que esses cretinos postam em defesa dos terroristas. Em defesa dos terroristas, diga-se, e contra a humanidade. Como diria Nelson Rodrigues, o mundo anda para trás nesses dias tenebrosos. Os cretinos fundamentais, pelo menos por enquanto, venceram.

Rombo fiscal pré-autorizado - EDITORIAL CORREIO BRAZILIENSE

CORREIO BRAZILIENSE - 21/11

Não basta ao contribuinte brasileiro aguentar carga tributária que corresponde a mais de um terço de tudo que é produzido no país, ou seja, 34,5% do Produto Interno Bruto (PIB). Ele tem ainda que assistir, impotente, à má administração dessa dinheirama que o setor público, principalmente a União, retira da sociedade todos os anos.

Todos se lembram da saia justa que passou o Congresso Nacional nas últimas semanas de 2014, para aprovar, em regime de urgência, uma esdrúxula alteração na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) para aquele ano, de modo a permitir que a presidente Dilma Rousseff não sofresse as punições da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), pois tinha gastado no ano eleitoral muito mais do que cabia na arrecadação de impostos.

Ela tinha começado 2014 com o compromisso de fechar o balanço fiscal com superavit primário, isto é, de gastar um pouco menos do que as receitas. Assim, poderia abater uma parte da dívida pública e manter saudáveis as contas do governo, como vinha acontecendo nos anos anteriores.

Mesmo no governo Dilma, os resultados fiscais vinham mantendo sequência responsável, pelo menos no começo. Em 2011, por exemplo, o superavit foi de R$ 128,7 bilhões, equivalentes a 3,1% do PIB daquele ano. Nos dois anos seguintes, os saldos foram menores, mas, ainda assim, positivos: 2,3% do PIB, em 2012, e 1,9% em 2013.

O descontrole total se deu foi mesmo ante o calendário eleitoral de 2014. Afinal, não é fácil despencar de um superavit de R$ 91,3 bilhões (gerado em 2013) para um deficit de R$ 32,5 bilhões, equivalentes a 0,6% do PIB. É preciso gastar R$ 123,8 bilhões além do arrecadado, em apenas um ano.

Pior: descobriu-se mais tarde que a situação era muito pior. Muitas despesas com os benefícios de programas sociais foram irregularmente postergadas, obrigando os bancos do próprio governo a adiantarem os pagamentos. São as famosas pedaladas fiscais, que somaram nada menos do que R$ 57 bilhões e que levaram o Tribunal de Contas da União (TCU) a rejeitar a prestação de contas da presidente.

Depois de tudo isso e ante a queda da arrecadação provocada pela recessão da economia, era de se esperar que a nova equipe econômica tivesse apoio político para fazer o que o senso comum aconselha: conter os gastos do governo dentro de um severo ajuste fiscal. Muitos no país tiveram a ilusão de que isso seria feito. Durou pouco.

O governo fez três revisões das metas fiscais ao longo do ano, antes de a Comissão Mista de Orçamento (CMO) do Congresso aprovar, na semana passada, uma nova e preocupante meta para 2015: deficit fiscal de R$ 119,9 bilhões, incluindo os R$ 57 bilhões das pedaladas. Ou seja, o rombo de 2014 foi quase integralmente mantido em 2015.

Com isso, não vai haver a saia justa de dezembro de 2014 no Congresso, pois a presidente já está autorizada a fechar o ano no vermelho. Mas o contribuinte precisa saber que essa é uma conta que se transfere para 2016 - afinal, ela precisa ser paga, se não integralmente, pelo menos em parte. Como não se espera bom desempenho da economia (e da arrecadação) no ano que vem, a contaminação do próximo Orçamento é praticamente certa. O Brasil corre, então, o risco de chegar, em 2016, à inédita marca de três anos seguidos de défices fiscais, um convite ao rebaixamento do país à condição de lugar perigoso no mercado internacional.

A defesa sem escrúpulos de Cunha - EDITORIAL O GLOBO

O GLOBO - 21/11

Manobras para retardar os trabalhos do Conselho de Ética ultrapassam tudo o que já se viu no Congresso, nos últimos tempos, em desfaçatez e desrespeito


O Congresso já assistiu a muitas manobras e chicanas de parlamentares na tentativa de escapar de punições. As mais comuns eram a fuga pela porta dos fundos da renúncia, para o retorno nas eleições seguintes, por meio de votos ordenhados, geralmente, pelo assistencialismo. A Lei da Ficha Limpa revogou de vez a malandragem.

Mas o arsenal à disposição desse tipo de esquiva continua farto, principalmente se for manipulado por um presidente da Câmara e se ele se chamar Eduardo Cunha (PMDB-RJ), conhecido pela ousadia e falta de medidas.

O que o deputado tem feito para retardar ao máximo a tramitação de processo contra ele no Conselho de Ética da Casa ultrapassa tudo o que se viu neste campo no Congresso, nos últimos tempos, em desfaçatez e em desrespeito ao próprio Legislativo e à inteligência alheia.

Indicado por “colaborações premiadas” de acusados na Operação Lava-Jato de ser beneficiário de propinas pagas pela Petrobras no esquema do petrolão, Cunha afastou as denúncias — normal —, mas passou a usar poderes do presidente da Casa para se defender.

Confirmada a existência de contas na Suíça não declaradas à Receita, do deputado, mulher e filha, Cunha foi formalmente acusado no Conselho de Ética. Pois garantira à CPI da Petrobras, instalada sob sua inspiração para barganhar apoio do governo Dilma e PT — vê-se hoje claramente —, que jamais tivera contas no exterior. Perjúrio, portanto. Logo, quebra de decoro.

Já com o nome encaminhado ao Supremo pela Procuradoria-Geral da República, o deputado não desiste. Depois de uma explicação nada crível do deputado para as contas suíças, Cunha e aliados ultrapassaram todos os limites, quinta-feira, para evitar que o Conselho ouvisse a leitura do relatório do deputado Fausto Pinato (PRB-SP). O plano é empurrar qualquer decisão do Conselho para 2016. Nisso, vale tudo. Eduardo Cunha chegou a abrir uma sessão no plenário da Casa mais cedo que o normal, para impedir os trabalhos no Conselho de Ética (segundo o regimento, comissões param de funcionar enquanto há sessões plenárias).

Até um ministro do Supremo, Marco Aurélio Mello, defendeu a renúncia de Eduardo Cunha. Mas a trincheira cavada por ele é eclética. O PT, já há algum tempo protetor do presidente da Câmara para que ele não despache algum processo de impeachment contra Dilma, participou das manobras de quinta-feira para sabotar o Conselho de Ética. Também o PSDB, no passado, e por motivo oposto ao do PT — quer o início da tramitação do impeachment —, fingiu nada haver contra Eduardo Cunha.

É imprevisível o desfecho desse circo de barganhas. Só não se discute que o deputado não tem condições de continuar a presidir a Casa, e que tudo isso prejudica a imagem da política e da própria democracia representativa. Não precisava ser assim.

COLUNA DE CLAUDIO HUMBERTO

DEPOIMENTO COMPROMETE DILMA COM PASADENA
Caiu como uma bomba, no Tribunal de Contas da União, o depoimento que compromete a presidente Dilma com a compra superfaturada da refinaria americana de Pasadena, que provocou prejuízos de US$ 800 milhões (ou R$ 3 bilhões) ao Brasil. O conselho de administração da Petrobras, presidido por Dilma, analisou e aprovou o negócio um dia após ser fechado, segundo contou Aghostilde Mônaco de Carvalho, funcionário da Petrobras, que depôs sob acordo de delação premiada.

PRESIDENTE NO COMANDO
A pressa na aprovação da compra de Pasadena pelo conselho de administração coloca Dilma como um dos responsáveis pelo negócio.

ESPANTO NO TCU
O depoimento de Aghostilde foi lido pelo ministro Vital do Rêgo, relator da tomada de Contas Especial na Petrobras. Causou estupefação.

ELA SABE QUE É GRAVE
Dilma tem tanto medo do assunto que, no início do escândalo, ela até divulgou nota culpando “parecer falho” de Nestor Cerveró pelo negócio.

DELAÇÃO PREMIADA
Aghostilde assessorava Nestor Cerveró, na diretoria Internacional da Petrobras, e prestou depoimento ao Ministério Público Federal.

BANCADA LEAL A DILMA NÃO IMPEDE O IMPEACHMENT
O Palácio do Planalto colocou na ponta do lápis a votação que manteve o veto ao reajuste dos servidores do Judiciário, contou os deputados governistas incondicionais, do tipo que vota favorável ao governo independente de emendas e cargos, e o resultado foi desesperador: só 132 são leais à presidente Dilma. Isso significa que o governo precisa negociar cada votação, aumentando o desgaste com os aliados.

NO SUFOCO
No caso do Judiciário, o veto de Dilma foi mantido por 6 votos: foram 132 votos a favor da manutenção do veto, 251 contra.

SINAL VERMELHO
O governo não pensa em outra coisa. Para impedir o impeachment, Dilma precisaria de ao menos 172 votos contrários.

NÃO PASSA NADA
O governo não tem condição de aprovar nenhuma PEC (308 votos). No caso da Desvinculação das Receitas da União, já recorreu à oposição.

GOSTO DE PIZZA
No plano para enterrar todas as CPIs, a Câmara deve estendê-las até 17 de dezembro. Eduardo Cunha pretende levá-las até o último dia das atividades do Congresso, apenas para dar aparente satisfação.

COMBATE AO CONTRABANDO
Efraim Filho (DEM-PB) colhe assinaturas para a Frente Parlamentar de Combate ao Contrabando. Ele já garantiu apoio de 220 parlamentares e de 70 entidades de setores. Na quinta, haverá audiência na Câmara.

ABRAÇO DE AFOGADOS
Deputados acham que é obra do líder do PSDB, Carlos Sampaio (SP), a decisão de não condenar os golpistas acampados no Congresso. Sampaio é aquele que levou o PSDB a se abraçar a Eduardo Cunha.

FOME ZERO
O deputado Henrique Fontana (PT-RS) lamentava a demora de 40 minutos para que o restaurante do plenário da Câmara liberasse o almoço. Faminto, saiu às pressas e não esperou “tanto tempo”.

BROXA NA MÃO
O Ministério das Cidades adiou para março o repasse aos municípios de recursos para melhorar a mobilidade urbana. Sem dinheiro, os prefeitos não querem nem ouvir falar em Dilma.

AÍ TEM COISA
O deputado Danilo Fortes (PSB-CE) estranha a pressa do governo em limpar a pauta do Congresso, o que não fez durante o ano inteiro. “O governo está com pressa para votar as pedaladas”, desconfia.

PERO NO MUCHO
O senador José Pimentel (PT-CE) celebra a decisão do PMDB, que adiou o rompimento com o governo. “O PMDB é governo. Temos uma articulação muito integrada”, afirma.

CRISE AMIGA
O deputado Bruno Araújo (PSDB-PE) define a crise econômica como maior aliada de Dilma no Congresso. “A maioria dos parlamentares vota medidas fiscais por causa da crise”, pondera.

PENSANDO BEM…
…se tantas autoridades enroladas em escândalos se safarem, a “Lava Jato” merecerá ser rebatizada de “Lavou, tá Novo”.

sexta-feira, novembro 20, 2015

Petróleo em excesso inunda o mercado - EDITORIAL O ESTADÃO

ESTADÃO - 20/11

É o pior dos mundos para as empresas e os países produtores de petróleo. A produção do óleo bruto supera a demanda, os estoques se acumulam e os preços desabam. Foi o que mostraram os relatórios mensais da Agência Internacional de Energia (IEA, na sigla em inglês) e da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) e as análises semanais do American Petroleum Institute (API) e da Administração de Informação de Energia dos Estados Unidos.

De mais de US$ 100 o barril em meados do ano passado, os preços caíram para a faixa dos US$ 40/45. Na quarta-feira, a cotação para dezembro do tipo West Texas Intermediate (WTI), negociado na Nymex, era de US$ 40,75 o barril, e a do tipo Brent negociado para janeiro em Londres (ICE), de US$ 44,14.

Grandes produtores como Arábia Saudita e Rússia continuam operando a todo vapor, enquanto países que dependem dos preços do petróleo para não quebrar, como a Venezuela, ou para manter investimentos, como o México, buscam outras fontes de recursos.

Os estoques de 3 bilhões de barris oferecem aos mercados globais “um grau de conforto”, segundo a IEA. Projeções correntes indicam inverno ameno na Europa e nos Estados Unidos, grandes consumidores.

Isso significa demanda menor em 2016, estimada em 95,8 milhões de barris por dia (b/d), apenas 1,2 milhão de b/d acima da deste ano, de 94,6 milhões de b/d, que superou em 1,8 milhão de b/d a de 2014. Segundo a Opep, entre janeiro e setembro, a demanda cresceu 1,6 milhão de b/d e a oferta, 2,5 milhão de b/d. Os estoques nos países da OCDE aumentaram 205 milhões e nos demais produtores, 80 milhões de barris. A Administração de Informação de Energia estimou em 4,2 milhões de barris o crescimento semanal dos estoques norte-americanos, que chegaram a 487 milhões de barris.

Além da superoferta de petróleo, alguns grandes consumidores, como a China, reduziram o ritmo da atividade econômica e acumulam estoques. Também a Índia, cujo crescimento econômico é rápido, passou a estocar mais óleo.

No Brasil, a queda dos preços da commodity no mercado global não tem sido aproveitada pelos consumidores por causa da recessão, da desvalorização do real e da recomposição dos preços da Petrobrás, cujo represamento gerou enormes prejuízos para a estatal. Além disso, ampliou-se no País o uso do etanol, que só nos últimos dias perdia competitividade em relação à gasolina.

Mais tempo descendo a ladeira - JOSÉ PAULO KUPFER

O GLOBO - 20/11

Depois do IBC-Br do terceiro trimestre, ampliou-se a convicção de que a contração da economia, ainda que em ritmo mais lento, vai atravessar todo o ano de 2016

Está prevista para daqui a dez dias a divulgação pelo IBGE da variação do PIB no terceiro trimestre do ano. Depois do resultado do Índice de Atividade Econômica (IBC-Br) de setembro, anunciado pelo Banco Central nesta quarta-feira, restaram ainda menos dúvidas de que a economia continuou a mergulhar no terreno recessivo entre julho e setembro. Se, no começo do ano, predominava a expectativa de que o fundo do poço do atual ciclo de contração econômica fosse alcançado neste trimestre, essa possibilidade já foi adiada para 2017 ou, na melhor das hipóteses, para fins de 2016.

Consolidou-se a convicção de que a variação do PIB, em 2015, não será inferior a uma queda em torno de 3,5%, a mais acentuada desde o mergulho de 4,3% em 1990, ano do Plano Collor e do confisco das poupanças. Cresceu também a convicção de que 2016 não será, como alguns esperavam não faz tanto tempo, um ano de recuperação, e a recessão o atravessará ao longo dos trimestres. A julgar pelas projeções atuais, ampliou-se, isso sim, a possibilidade de que o nível de contração econômica, no próximo ano, se assemelhe ao previsto para este ano.

Há razões para acreditar que a deterioração dos indicadores econômicos ainda tem espaço para prosseguir e que a economia descerá a ladeira por mais tempo. Sob a ótica da demanda, a principal fonte de alimentação dessa perspectiva negativa tem agora origem no mercado de trabalho, que tende a consolidar uma combinação adversa de aumento da oferta de mão de obra com redução no volume de vagas existentes. Essa situação provoca contração da massa salarial pelo recuo de seus dois elementos — o nível de remuneração e o número de ocupados — e afeta, diretamente, o consumo das famílias, já pressionado pela inflação, que lhe subtrai poder de compra, e a inadimplência.

Não por coincidência, a Pesquisa Mensal de Emprego (PME) de outubro, publicada ontem pelo IBGE, mostrou avanço na taxa de desemprego, que chegou a 7,9% da população ativa, quase o dobro da registrada há um ano. Também não por coincidência, o levantamento mostrou que a massa salarial real encolheu 1,5% sobre setembro e mais de 10% em relação a outubro do ano passado. Para complicar mais um pouco, a demanda perdeu o impulso do crédito, que também entrou em fase de retração.

Isso ocorreu pela dupla ação da redução, do lado dos tomadores, da procura por financiamento e da oferta, do lado dos emprestadores, pelo aumento do risco de calote. A anemia da demanda não só puxa o PIB diretamente para baixo como contribui para a retração do investimento, empurrando a economia ainda mais na linha descendente.

Não é difícil entender por que o investimento empreende uma longa marcha à ré. Fator crítico de impulsão da economia, o investimento se movimenta em função de pelo menos três variáveis: expectativas de absorção de produtos ou serviços pelo mercado; recursos próprios existentes/financiamento a custos aceitáveis; e taxas de retorno compatíveis. Nenhum desses três elementos está presente, no momento, na maior parte dos segmentos da economia. Para entender o potencial de retração dos investimentos, além disso, é preciso considerar tanto os estoques elevados, que derrubam qualquer intenção de ampliar a oferta, quanto os custos de produção ainda altos e os baixos índices de confiança.

Até em razão do aprofundamento da retração da economia, a descida da ladeira tende a se dar em ritmo cada vez mais lento. Em base trimestral, as projeções mais atualizadas apontam nessa direção. Do pico do recuo de 1,9% do PIB do segundo trimestre em comparação com o do primeiro trimestre deste ano, as estimativas apontam queda de 1% no terceiro e quarto trimestres de 2015 e retração de 0,5%, 0,1% ou 0,2% e estabilidade, ao longo de 2016. Não significa que o poço ficará mais raso, mas a sensação térmica será de frio um pouco menos intenso.

José Paulo Kupfer é jornalista

O desemprego avança - CELSO MING

ESTADÃO - 20/11

A população desocupada aumentou 67,5% (771 mil pessoas) ante outubro de 2014, a maior variação anual desde 2002

A maioria dos analistas econômicos estava certa quando previu para este fim de ano forte aceleração do desemprego.

Em setembro, era de 7,6%; em outubro foi para 7,9%. (Veja o gráfico.) A alta de 0,3 ponto porcentual pode parecer pequena para quem não tem familiaridade com essas estatísticas, mas é o contrário disso. No comunicado, o IBGE observa que a população desocupada aumentou 67,5% (771 mil pessoas) ante outubro de 2014, a maior variação anual desde 2002.

O desemprego aumenta não só quando as empresas e as famílias (no caso dos empregados domésticos) dispensam pessoal. Aumenta, também, quando mais gente, que antes preferia ficar em casa flanando ou em atividades não remuneradas, procura trabalho. É a faixa da População Economicamente Ativa (PEA).

Índice de desocupação


Até o início do ano, havia queda nesse segmento porque os tempos eram outros, havia quem sustentasse a família toda e as bondades do governo (especialmente o Programa Bolsa Família) permitiam o luxo de não ter de trabalhar para fora. Depois de meses de alta, as estatísticas de outubro apontaram queda de 0,7% na PEA, em relação aos níveis de setembro. Ou seja, apesar da vida mais dura, ainda havia cerca de 170 mil pessoas aptas a trabalhar que preferiam não procurar emprego. Não fosse isso, a desocupação seria ainda maior.

O principal fator de desemprego em outubro foi a dispensa de pessoal pelas empresas (redução do nível de ocupação): de 1,0% (ou 230 mil pessoas) em relação a setembro; e 3,5% (825 mil pessoas) em relação a outubro de 2014.

A renda do trabalhador em outubro mostra queda de 0,6% em relação a setembro e de 7,0%, em relação a outubro de 2014. Esses números já estão descontados da inflação. É mais um indicador de que a população brasileira está ficando mais pobre. Isso significa que boa parte do ajuste da economia está sendo feita pelo desemprego.

Esse aumento da população desocupada acontece com duas agravantes. Está espalhado por toda a economia e não, como tantas vezes, concentrado em dois ou três setores, o que mostra que as distorções do sistema são abrangentes. A segunda agravante é a de que, em outubro, já deveria ter aumentado a oferta de emprego, especialmente de temporários, para dar conta da produção, logística e vendas por ocasião das festas de fim de ano. É um indício de que a falta de trabalho deve se aprofundar depois da virada do ano.

Outro indicador que reforça essa tendência é o comportamento da inflação. Saiu também ontem a evolução do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15). É o mesmo levantamento de preços feito pelo IPCA, com a diferença de que abrange o período de 30 dias terminado no dia 15 de cada mês, e não no dia 30. No caso, terminou dia 15 de novembro.

Esse índice mostra que a inflação do período saltou de 0,66% em outubro para 0,85% em novembro. No período de 12 meses terminados em 15 de novembro, a inflação já é de dois dígitos. Foi para 10,28%, a maior desde novembro de 2003. (Veja, ainda, o Confira.) É a inflação ralando salário.

CONFIRA:

Evolução do IPCA-15

Acompanhe aqui a evolução do IPCA-15 nos últimos sete meses.

Inflação do etanol

A maior surpresa da hora entre os itens da cesta de consumo é a disparada dos preços do etanol, muito antes de começar a entressafra da cana-de-açúcar no Sudeste, principal região produtora. De setembro para cá, os preços do etanol saltaram 12,5%. E o fim da safra está previsto apenas para o fim deste mês e começo de dezembro. A alta do etanol arrasta, também, os preços da gasolina porque a mistura tem de conter pelo menos 27% de álcool anidro.

Hashtag me amem - TATI BERNARDI

Folha de São Paulo - 20/11

Dediquei uns bons minutos pensando em que tipo de homenagem eu faria a Paris nas redes sociais. Por sorte, lembrei que estou há maravilhosos dez dias sem Facebook. Me restava o Instagram. Fiquei em dúvida entre a foto "cores da bandeira francesa na torre Eiffel" e o vídeo "homem que levou o próprio piano para a rua e tocou 'Imagine'". Comecei a me achar um tanto ridícula, um tanto "fazendo o que todos estão fazendo sem nem entender direito o motivo, mas fazendo, porque não fazer, em algum lugar de nossas mentes malucas e viciadas, fica parecendo que somos alienados cruéis" e decidi, uma vez que já estava preparada para me propagandear em forma de pixels e filtros, postar algo nada a ver, algo de minha rotina comezinha, algo fofo apesar deste ano estranho, uma foto da minha cachorra, Chiquinha, com seu novo brinquedo: uma granada de borracha ecológica que não solta pedacinhos e ainda combate tártaros, higienizando os dentes. Ops, me liguei a tempo, seria o fim da minha carreira. Não publiquei nada.

Por que, em tempos de redes sociais, queremos o dia inteiro nos posicionar sobre tudo? Por que brasileiros que viajaram a Paris uma única vez há mais de dez anos e voltaram de lá reclamando do quanto foram maltratados em restaurantes e lojas de repente dedicam um sábado inteiro a comunicar (em inglês?) como amam aquele lugar mais do que tudo e se sentem pessoalmente afetados e choram e pedem #prayforParis? Peraí, rezar não, acabaram de lançar uma hashtag mais moderna e esperta e usada pelos meus amigos mais hypados, que faz justamente uma crítica ao lance de rezar por Paris. Vou trocar.

Daí essas mesmas pessoas, em sua ânsia de pertencimento militante da bondade, em sua urgência de se colocarem como protagonistas vitimadas de qualquer desordem mundial, acreditam que acabaram deixando de lado uma questão ainda mais lamentável, uma vez que é nacional, chamada cidade de Mariana, lugar que possivelmente nunca se deram muita conta de que existia. E então nós, vou me incluir porque também faço isso, escravos das redes sociais e da necessidade de sermos amados e considerados "do lado certo", postamos um pot-pourri com as duas bandeiras dizendo que "uma desgraça não pode anular a outra" e nos sentimos apaziguados até que... Faltou falar das escolas públicas fechadas! Pelo amor de Deus como eu faço pra provar que dou conta de ser muito bem informada e muito boa pessoa em espaços tão pequenos e curtos e rápidos?

Mas não demoraram a chegar ilustrações que resumiam 234 catástrofes, fossem causadas por humanos ou pela natureza, fossem de hoje ou um resumo do trimestre, em um único desenho. A frase "fazer o bem sem olhar a quem" traduzia o espírito. Já podíamos nos posicionar a favor da benevolência universal e interestelar sem deixar nadinha de fora! Já poderíamos chorar, enfim, pelo menininho sírio morto sem parecer que estávamos ignorando chacinas em bairros próximos. Até o pesar hoje em dia precisa ser otimizado, se você ficar triste por uma coisa só, será acusado de desumano!

Engajamento não tem fim, bateria do celular, sim. E o pior é que vai ter leitor dando um jeito de entender que estou desmerecendo a gravidade do atentado em Paris, do acidente em Mariana e, principalmente, a importância da espécie humana como um todo. E eu vou querer convencer o universo que sou legal (e vou lembrar que por essa razão me deletei do Facebook e respirar aliviada) e nunca mais sairemos da internet, onde morreremos explicando, em vão, que merecemos ser amados.

O Supremo e a greve - ALMIR PAZZIANOTTO PINTO

CORREIO BRAZILIENSE - 20/11

A Constituição se impõe pela voz do Supremo Tribunal Federal (STF). A ele cabe, precipuamente, diz o art. 102, a guarda da Lei Fundamental. Julgamento da Alta Corte tem o poder de anular lei ou revogar decisão de qualquer outro tribunal, pois Legislativo e Judiciário se encontram sob controle direto da constitucionalidade das respectivas leis e sentenças.

Prolixa e confusa, a Constituição de 1988 tem passado por constantes reformas, mediante emendas cujo número ultrapassou a 80. Por seu lado, a ausência de regulamentação de dispositivos enigmáticos exige do STF que invada terreno reservado ao Legislativo, por meio de decisões dotadas de marcante conteúdo normativo.

A apatia do Poder Executivo, a quem a Lei Fundamental atribui competência única para tomar a iniciativa de lei específica, que disponha sobre regime jurídico de servidor público, foi recompensada pelo STF, no caso da greve de servidor público. Entende a Suprema Corte que, à falta da lei específica, exigida pelo art. 37, VII, aplica-se à greve na administração pública a Lei 7.783/89, dirigida a paralisações promovidas por operários, comerciários, bancários, motoristas, radialistas, aeronautas. Afinal, para que submeter ao Legislativo projeto polêmico de lei, destinada a fixar os termos e limites a paralisações na Previdência Social, Judiciário, Polícia Federal, saúde, educação, após o STF equiparar servidores públicos a assalariados?

Convenhamos, todavia, que, entre ambos, as diferenças são radicais. Empregado é a pessoa física que presta serviços de natureza não eventual a empregador, sob a dependência deste e mediante salário (CLT, art. 3º). A expressão servidor público corresponde ao titular de cargo público criado por lei, com denominação própria, em número certo, pago pelos cofres de entidade estatal, submetido a regime jurídico inconfundível com a legislação celetista. Lei específica, ordena o art. 37, VII, do Estatuto Básico da Nação. Jamais lei ordinária destinada a regular a greve na órbita da vida privada. Estamos, portanto, diante de jurisprudência inconstitucional, originária do órgão cuja finalidade é zelar pela guarda da Constituição.


Não bastasse a agressão feita ao Estado democrático de direito, outra violência em breve poderá ocorrer. Em julgamento de greve de servidores públicos da Fundação de Apoio à Escola Técnica (Faeteec), entidade pública do Rio de Janeiro, abrindo divergência ao voto do ministro Dias Toffoli, para quem, mesmo não sendo abusiva, é indevido o pagamento dos dias de paralisação, o ministro Edson Fachin entendeu de maneira oposta. Para S. Exª, "a adesão de servidor a movimento grevista não pode significar opção economicamente intolerante ao próprio grevista e ao núcleo familiar". Em linguagem direta, significa dizer façam greve; os dias parados eu garanto.

Estive com os trabalhadores em grandes greves das décadas de 1960, 1970 e 1980. Presenciei a criação de fundos de solidariedade em São Bernardo do Campo. Travavam-se disputas por salários, nunca pelo ressarcimento de dias não trabalhados. A greve, segundo a Lei 7.783/89, "suspende o contrato de trabalho". De acordo com a doutrina, com a suspensão, são indevidas obrigações ligadas ao desenvolvimento contínuo da prestação do trabalho. A prevalecer o insólito argumento do ministro Fachin, o equilíbrio de forças, indispensável à legitimidade do movimento grevista, estará quebrado. Apenas o empregador, seja empresa privada, seja órgão público, ver-se-á prejudicado porque, em qualquer hipótese, a paralisação, breve ou longa, será remunerada pela empresa ou pelo contribuinte.

A Assembleia Nacional Constituinte cometeu a imprudência de assegurar o direito de greve no interior do serviço público, cujas atividades, sustentadas pelo povo, são essenciais por natureza e definição.Teve o cuidado, entretanto, de exigir regulamentação mediante lei complementar, posteriormente substituída por lei específica (EC 19/98), modalidade inexistente no processo legislativo (CF, art. 59). De qualquer modo, está lá: "O direito de greve (na administração pública) será exercido nos termos e nos limites de lei específica". O Supremo agrediu a Norma Fundamental ao determinar a incidência da Lei 7.783 ao serviço público. Não cometa, agora, a insânia de ordenar pagamento dos dias parados.


Uma perversa combinação - EDITORIAL CORREIO BRAZILIENSE

CORREIO BRAZILIENSE - 20/11

A combinação não podia ser mais perversa. Em alta, inflação e desemprego afetam o dia a dia das pessoas, frustram expectativas, enterram sonhos e tornam a vida mais dura, mais difícil, principalmente para os mais pobres (a maioria em nosso país). Ontem, o brasileiro ficou sabendo que ficou ainda mais pesada a conta que lhe é empurrada pela crise, da qual ele é a vítima, não o culpado.

Não vieram de pessimistas de plantão, mas do respeitado Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) as duas notícias que ninguém gostaria de dar, embora delas suspeitassem os mais acostumados a acompanhar os dados econômicos oficiais. A primeira confirmou o que todos estão sentindo ao fazer suas compras e, mais ainda, ao encher o tanque de seus carros: a inflação acaba de ultrapassar a marca de dois dígitos, ao acumular, em 12 meses, alta de 10,28%.

Foi o que apurou o IBGE, ao calcular o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA)-15. Trata-se de uma prévia da inflação do mês, baseada em pesquisa de preços colhidos entre os dias 15 do mês anterior e do mês atual. O IPCA-15 de novembro mostrou aceleração, fechando em 0,85%, ante 0,66% em outubro. Mais da metade das 11 regiões metropolitanas pesquisadas para essa prévia já enfrentam inflação acima de 10%. Cinco delas estão abaixo da média apurada, entre elas, Belo Horizonte, com 8,84%, Brasília, com 9,35%; e Recife, com 9,43%.

Pior do que ter mais do que dobrado a meta do ano de 4,5%, a inflação de dois dígitos é um perigo para a economia, pois tende a estimular uma corrida pela remarcação de preços pelos agentes econômicos, que temem não conseguir repor os estoques com o capital empregado na mercadoria que está nas gôndolas e prateleiras. Foi essa uma das lições duramente aprendidas por boa parte dos brasileiros das gerações que vivenciaram a luta contra o dragão da hiperinflação.

É mal que, na maioria dos casos, também tem a característica de desmentir os que pretendem usar o falso álibi das crises externas. Neste ano, por exemplo, enquanto os preços do petróleo despencam no mundo, os da gasolina e do etanol disparam no Brasil. É resultado do congelamento equivocado do valor do litro da gasolina na bomba do posto da esquina, como forma de não desagradar ao eleitor. Agora, não há como evitar o reajuste acelerado dos combustíveis, que foram os maiores vilões da inflação em novembro. A gasolina subiu 6% nas refinarias em outubro, levando consigo os preços do etanol.

A segunda notícia ruim foi o desemprego, que tinha ficado estável em setembro e, agora, voltou a subir em outubro, chegando a 7,9%, conforme a Pesquisa Mensal de Emprego (PME), realizada nas principais regiões metropolitanas do país. Segundo o IBGE, a fila do desemprego aumentou 67,5% em outubro em relação a setembro, a maior variação da série histórica, iniciada em março de 2002. Esse percentual corresponde a 771 mil pessoas a mais buscando vaga no mercado de trabalho.

Nem o comércio está empregando como normalmente faz nos meses anteriores ao Natal, num sintoma claro da falta de confiança do empresário na economia. É isso que governo e Congresso precisam levar em conta para acelerar a superação dos imbróglios políticos, premissa para a retomada de investimentos e empregos.

Amarga colheita - MÍRIAM LEITÃO

O GLOBO - 20/11

A inflação chegou a 10% pelo IPCA-15 e está espalhada pelos preços. O indicador de atividade do Banco Central registrou que a recessão este ano está em 3,3%. O Congresso aprovou a nova meta fiscal de 2015, e com isso ficou consolidado que houve uma diferença de R$ 200 bilhões entre o programado no início do ano e o que vai acontecer. O quadro econômico é desalentador.

Todos esses dados saíram durante a semana. O índice de inflação foi de 0,85% neste mês de novembro até o dia 15, pelo que o IBGE disse ontem. No acumulado de 12 meses, chegou a 10,28%. É a primeira vez que o IPCA passa a barreira de dois dígitos desde novembro de 2003. Dois grupos foram grandes responsáveis pelo resultado: alimentação e bebidas, com 1,05%, e transportes, com 1,45%. Segundo o professor Luiz Roberto Cunha, da PUC-Rio, o IPCA do mês cheio ficará próximo de 1%, mantendo a taxa em 12 meses acima dos 10%. Caso o governo eleve a Cide, a taxa chegará a 11% no fechamento do ano. O índice de difusão chegou a 71,8%, mostrando que a alta de preços está espalhada na economia.

O ano está chegando ao último mês com fatos piores do que as projeções. Ninguém imaginava no começo do ano uma inflação em dois dígitos, a pior recessão desde o primeiro ano do governo Collor, e um déficit primário de R$ 120 bilhões. A primeira meta proposta pelo governo era de superávit de R$ 68 bi.

A grande questão é como chegamos num desempenho tão ruim. Não foi um ano externo difícil, ainda que o cenário internacional sempre reserve surpresas desagradáveis. Os Estados Unidos cresceram e a grande dúvida que atravessou o ano foi quando os juros subiriam. A Europa que está agora sob a angústia espalhada pelo terrorismo teve um ano de recuperação leve. A China desacelerou, derrubando preços. As cotações de petróleo caíram fortemente causando nos países da OCDE pressão baixista na inflação.

Aqui no Brasil, os preços deram um salto de quatro pontos percentuais e o grande fator de aceleração da inflação foi exatamente o grupo energia. No crescimento, a América Latina está com baixo desempenho, mas o Brasil despencou mais do que a média. O rombo nas contas públicas já era esperado, mas ele foi pior do que qualquer projeção porque está incluído nele o pagamento das pedaladas do ano passado.

Outro dado negativo que saiu ontem foi o desemprego medido pela Pesquisa Mensal de Emprego, índice que deixará de existir no ano que vem por ser restrito a seis regiões metropolitanas. Apesar de o número ser menor do que o apurado pela PNAD Contínua, de acordo com a PME o desemprego subiu de 4,7% em outubro do ano passado para 7,9% em outubro deste ano.

O desastre de 2015 foi preparado nos anos anteriores. Na inflação, o governo cometeu um dos piores erros que é reprimir os preços sobre os quais tem controle. Isso faz com que a trajetória dos preços livres seja uma, e a dos administrados, outra, ainda que os dois grupos estejam com números bem acima do teto da meta. A dos preços livres saiu de pouco mais de 6% no começo do ano passado para ficar em torno de 8% em 12 meses. A dos preços ditados pelo governo estavam em torno de 2% e foram para 18%.

No final do ano, o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, terá que escrever uma carta ao país explicando por que a inflação ficou acima do teto da meta. Isso faz parte do regime de metas de inflação. E neste caso, a verdade é que o mais preocupante nem é o estouro da meta, mas a subida para dois dígitos. Em 2002, o ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga teve que escrever esta carta. Nos anos de 2003 e 2004, o ex-presidente Henrique Meirelles também teve. Naquele tempo, foi necessário superar a alta de preços provocada pelo temor de que se Lula fosse eleito ele mudaria a política econômica. Em 2011, o Banco Central comemorou o fato de a taxa ter ficado em 6,5%. Não houve estouro do teto, portanto. Agora, não haverá como escapar desse comunicado oficial do BC de que não cumpriu o que a meta estabelecia.

A inflação e a recessão foram construídas com os erros anteriores; parte do rombo fiscal vem das pedaladas. O que o país colhe de más notícias foi plantado no primeiro mandato do governo Dilma.

Pasadena não passará - FERNANDO GABEIRA

ESTADÃO - 20/11

Passa, passa, Pasadena. Não passou. A refinaria no Texas que deu prejuízo de US$ 700 milhões reaparece agora com novo nome: Ruivinha.

Ninguém faria um negócio desses, tão prejudicial ao lado brasileiro, se não gastasse alguns milhões de dólares com propina. Agora, está comprovado que houve corrupção. Há até uma lista preliminar de quem e quanto recebeu para aprovar a compra de uma refinaria enferrujada, docemente tratada pelos próprios compradores como a Ruivinha.

A Operação Lava Jato tem elementos para pedir a anulação da compra e o dinheiro de volta. Acontece que Pasadena está no Texas. Foi uma transação realizada na esfera da legislação americana. Necessariamente, a Justiça dos EUA terá de analisar todos os dados enviados pelas autoridades brasileiras e, eventualmente, pedir outros.

Existe uma questão cultural e política no caminho. Os americanos não conseguirão ver a compra de Pasadena só como uma conspiração criminosa de quadros intermediários da empresa que comprou. A tendência natural será verticalizar a investigação. Quem eram os responsáveis pela Petrobrás, como deixaram que isso acontecesse?

Não só nos EUA, como em outros países, os dirigentes máximos são responsáveis, mesmo quando alegam que não sabiam de nada. Numa empresa privada, se uma direção fizesse um negócio tão desastroso, renunciaria imediatamente e responderia aos processos legais fora do cargo. O caso de Pasadena, se internacionalizado, como na verdade tem de ser, vai pôr em choque a tolerância brasileira com os dirigentes que alegam não saber de nada.

A própria Petrobrás deveria pedir a anulação da compra de Pasadena. No entanto, isso é feito pela Lava Jato. A empresa assim mesmo, parcialmente, só reconhece que Pasadena foi um mau negócio. Ainda não caiu a ficha de que foi uma ação criminosa, que envolve também os vendedores belgas. Por isso é bom internacionalizar Pasadena. A Justiça americana poderá cuidar do vendedor belga, mais fora de alcance da brasileira.

Uma pena a Petrobrás ainda não ter percebido seu papel. É uma questão político-cultural. A própria Dilma diz que não sabia de nada porque teria sido enganada por um relatório. Esse impulso de jogar para baixo toda a culpa já aparecia no mensalão, quando Lula se disse traído.

Duas grandes empresas brasileiras vivem um inferno astral. Petrobrás e Vale: o maior escândalo de corrupção no País, o maior desastre ambiental de uma associada.

No caso do mar de lama lançado no Rio Doce, com mortes e destruição pelo caminho, os dados técnicos e científicos ainda não foram divulgados. Mas já se sabe que os mecanismos de contenção, filtragem e escoamento nas barragens mineiras já não são usados em alguns países do mundo. Há métodos mais modernos, possivelmente mais caros. Isso questiona toda uma política de investimento, no meu entender, de forma semelhante ao que ocorre no setor público.

O Brasil ainda não universalizou o saneamento básico porque são obras que não aparecem, não rendem votos.

Nas empresas privadas, como na Vale e na própria Samarco, existem políticas ambientais, mas também uma preocupação com a margem de lucro. A sustentabilidade nem sempre responde rápido ao quesito lucro.

Muitas pessoas veem o princípio de precaução – um dos temas que a ecologia política levantou – como um exagero de ambientalistas apocalípticos. Em termos econômicos, a precaução revela a sua importância no longo prazo: quanto custa um desastre ambiental? Quanta custa a renovação dos equipamentos?

Uma semana nas margens do Rio Doce, pontuada por um atentado terrorista em Paris, me entristece. No entanto, fica cada vez mais claro que é o mundo que temos e é preciso encará-lo. Não há como escapar.

As coisas só pioram na economia e o País se limita a contemplar o próprio declínio. Não há uma resposta política. O Congresso é um pântano. Só haverá um pouco de esperança no ar se discutirmos um caminho para depois desse desastre. O PT propõe apenas entrar no cheque especial e continuar entupindo o País com carros e eletrodomésticos.

Além dos passos políticos e econômicos, será preciso considerar algo que ainda não foi acrescentado à corrente descrição da crise. Não é só econômica, política e ética. Vivemos também numa crise ambiental. No cotidiano, documento problemas agudos de falta d’água, cachoeiras reduzidas a fios, rios secando e, agora, o Doce levando este golpe lamacento. Há uma seca prolongada em grandes regiões do País, queimadas aparecem em vários lugares, algumas em áreas teoricamente protegidas.

Políticos convencionais tendem a subestimar a importância que as pessoas dão hoje à crise ambiental. Não é preciso percorrer os lugares atingidos pela lama. As cidades ameaçadas por barragens vivem em tensão.

A oposição, homens e mulheres que foram eleitos e ganham para isso, deveriam estar propondo alguma coisa para superar essa crise, que tem muitas cabeças. Se eles não têm ideia do que propor, pelo menos poderiam sair perguntando, sentir os anseios de renovação e deduzir algo deles.

Muito se falou de pauta-bomba nesse Congresso. Essa etapa está quase passando. Eles inauguraram a pauta-míssil: repatriar dinheiro suspeito e uma patética lei sobre a imprensa.

Neste momento da História do País, apesar de morto politicamente, o governo, que tem seus tentáculos na Justiça, agora pode brandir uma espada sobre a cabeça dos jornalistas. Começam dizendo que você não viu o que está acontecendo porque sofre de miopia ideológica. Em seguida, tomam precauções para que os juízes de linha justa os liberem: agora, preparam o caminho para punir quem divulga a verdade que os ofende.

É o tipo de lei que, mantida com esse texto, acaba sendo um convite a desobedecer. Lembro-me de que escrevi uma apresentação da edição brasileira do Desobedeça, de Henry David Thoreau. Voltarei ao livro em busca de inspiração.

Lula e seu velho bode - NELSON MOTTA

O GLOBO - 20/11
Rádios, jornais, televisões, revistas e sites ‘de esquerda’ nunca fizeram sucesso popular nem conquistaram um mínimo de influência

“Tudo é tudo, e nada é nada” (Tim Maia)

Sempre se dizendo criticado, perseguido e difamado pela mídia, Lula saiu do governo com o PIB crescendo 7,5% e com a aprovação de mais de 80% dos brasileiros, apesar do escândalo do mensalão. Então, que poder teve essa mídia de formar opinião contra ele? Ninguém ligava para o que eles diziam?

Mas, com inflação alta, recessão cruel e escândalos em série, a mesma mídia é acusada de ampliar a crise e de sabotar o governo, de tentar derrubar a presidente eleita, de estimular o ódio. Os 8% que ainda aprovam Dilma devem ser os que os meios de comunicação não conseguiram enganar com suas lorotas... rsrs.

Sim, é verdade que foi nos governos petistas, ou apesar deles, que a Polícia Federal e o Ministério Público cresceram em eficiência e independência, realizando operações que desvendaram o mensalão e o petrolão — com a ajuda dessa mesma mídia, que deu pistas, publicidade e profundidade às investigações. Como disse o juiz Sérgio Moro, a operação Mãos Limpas na Itália só foi bem-sucedida porque teve na imprensa uma aliada fundamental, mantendo a pressão nas investigações e o público atento e indignado.

A besta-fera, o leviatã, a hidra de mil cabeças, o sonho de consumo dos totalitários de esquerda e de direita, a imprensa livre é uma das mais árduas e valiosas conquistas das últimas gerações de brasileiros. E um dos bodes expiatórios favoritos dos governos petistas que, mesmo com a concorrência acirrada de vários grupos de comunicação e da absoluta liberdade de associação, querem “democratizar” a mídia brasileira.

Culpar e castigar o sucesso de audiência e credibilidade é a vingança de todas as tentativas de rádios, jornais, televisões, revistas e sites “de esquerda” que, mesmo com fartas verbas públicas, nunca fizeram sucesso popular nem conquistaram um mínimo de influência, não porque o público seja “de direita” ou burro, mas por falta de qualidade e verdade, de talento, cultura e humor. O “Pasquim” foi a última exceção.

Hoje, na democracia brasileira, qualquer um é livre para usar a mídia que quiser para dizer o que quiser. O mais difícil é encontrar quem ouça.

O ministro da Fazenda com que sonha Lula - ROGÉRIO FURQUIM WERNECK

ESTADÃO - 20/11
Sonhos são sonhos. Não têm de ter respaldo na realidade. Lula quer Joaquim Levy fora do governo. Mas o novo ministro da Fazenda com que sonha não tem contrapartida no mundo real. A figura que Lula vislumbra em seus devaneios é um ser híbrido, que tem a cabeça de Nelson Barbosa e a reputação de Henrique Meirelles.
Lula vem arguindo que o “prazo de validade” de Joaquim Levy venceu. Que, fixado na ideia de ajuste fiscal, o ministro acabou aferrado a um discurso de desesperança, impossível de vender. Embora o ajuste fiscal ainda esteja por ser feito, Lula acha que é hora de ter à frente do Ministério da Fazenda alguém que se disponha a adotar políticas de estímulo à demanda, que permitam ao governo vender esperança e alardear que já é possível vislumbrar a retomada da economia.
O ex-presidente está convencido de que Meirelles é o nome perfeito para desempenhar esse papel. Mas Dilma resiste. A presidente nunca se deu bem com Meirelles. Oito anos de penosa convivência dos dois, quando ambos ocupavam posições destacadas no governo Lula, só reforçaram essa falta de empatia.
Por ser isso tão notório, Dilma tem consciência de que ceder a mais essa investida do ex-presidente seria a confirmação definitiva de que já não há mais limites para a intervenção de Lula em seu governo. Um passo desajuizado para uma presidente que luta desesperadamente para se manter no cargo.
Ademais, Dilma não parece estar convencida de que a guinada de política econômica preconizada por Lula seja acertada. Na posição delicada em que a presidente se encontra, seu cálculo político já não se confunde com a de seu mentor. E, mesmo que estivesse convencida, ainda teria boas razões para se perguntar se Meirelles estaria de fato disposto a levar adiante o que Lula tem em mente.
Que Henrique Meirelles não confia em Dilma Rousseff parece mais do que claro. Se confiasse, não teria exigido carta branca para nomear toda a equipe econômica, como vem sendo noticiado. Entre seus muitos entreveros com Dilma Rousseff, ao longo dos dois governos Lula, Meirelles certamente não terá se esquecido de abril de 2008, quando, na esteira de uma conspirata desenvolvimentista orquestrada pela Fazenda e pela Casa Civil, quase foi ejetado do Banco Central.
Acabou salvo pelo gongo, em 30 de abril daquele ano, quando se soube que a agência Standard & Poor’s havia elevado a classificação de risco do país a grau de investimento. Com Lula eufórico com o “momento mágico” em que Brasil havia sido “declarado um país sério”, a conspiração teve de ser abortada, e Meirelles ganhou longa sobrevida no cargo. Atravessou todo o período em que a política econômica passou a ser conduzida sob a bandeira da nova matriz. E chegou incólume ao final do segundo mandato de Lula.
Não estivessem na difícil situação em que se meteram, Lula e Dilma estariam plenamente de acordo quanto ao perfil do ministro que gostariam de ver na Fazenda. E prefeririam Barbosa a Meirelles. Mas tanto Dilma como Lula bem sabem que, a esta altura, a nomeação de Nelson Barbosa para a Fazenda pode ser a gota d’água.
O que Lula contempla, agora, é a possibilidade de que alguém com a reputação de Meirelles se disponha a fazer boa parte do que Barbosa faria na Fazenda. Mas estará Meirelles disposto a desempenhar esse papel?
Em face das dificuldades de convencer Meirelles a se juntar a um governo quase desenganado, para conduzir uma política econômica em que não acredita, Lula já não sabe o que mais lhe prometer. Em coluna no “Valor” de 11/11, Cristiano Romero mencionou que emissários de Lula chegaram até a acenar com a ideia de Meirelles vir a ter no governo Dilma a trajetória que FH teve no governo Itamar, sugerindo que seu sucesso como ministro da Fazenda poderia lhe levar à Presidência da República.
Por maiores que sejam suas ambições políticas e por mais envaidecido que possa ter ficado com o vaticínio de um final de carreira tão triunfal, é difícil que Meirelles se deixe seduzir por tal miragem. Mas impossível não é. A natureza humana é uma inesgotável caixa de surpresas.