sábado, agosto 18, 2012

Amores clandestinos - IVAN MARTINS

REVISTA ÉPOCA

Por que homens e mulheres lidam com isso de forma tão diferente

Tenho uma amiga que virou a outra. Eu a encontrei no fim de semana, depois de um longo tempo, e ela imediatamente começou a falar sobre o que a afligia: faz um ano, está saindo com um homem casado, que a faz “sofrer como o diabo”. “Estou cansada de acordar chorando”, ela me disse, logo de cara.

Os contornos do caso são clássicos. Os dois fizeram faculdade juntos e se encontraram no trabalho, 10 anos depois. Ela estava carente e resolveu ceder às cantadas dele, apesar da aliança no dedo. “Queria uma transa gostosa, uma aventura”, me disse. Acabou não sendo assim. As saídas foram se repetindo, ela se percebeu apaixonada e o sujeito, que antes a cobria de atenções, agora só aparece “quando quer”. “Não tenho a menor ilusão de que ele vá largar a mulher”, ela me disse. “Nem tenho coragem de mandá-lo embora.”

Antes que alguém pergunte, eu não vou julgar nenhum dos dois. O que a amiga e o sujeito fazem é da conta deles. Gente casada, de acordo com o costume vigente, não deveria estar mantendo casos, mas acontece o tempo todo. Gente solteira, em tese, não deveria estar saindo com pessoas casadas, mas isso existe aos montes. Não é culpa dele ou dela, especificamente. Ninguém tampouco é inocente. Todos são adultos com poder de escolha, embora movidos pelo desejo. O desejo mantém as pessoas vivas, mas tem suas exigências. Solto, pode causar um bem íntimo enorme, ou um dano público extraordinário. Se o amante da amiga for descoberto, a vida dele viraria um inferno. Se a mulher enganada vier saber, vai sofrer terrivelmente. E há os filhos... A punição social para quem viola as normas de conduta pode ser pesada.

Minha amiga, porém, não parece preocupada com as consequências do caso, mas com a sua continuidade. Ela gostaria que o sujeito estivesse com ela no domingo de manhã. Como não é possível recuperar o arrebatamento e a atenção do início da relação - afinal, mesmo os amores clandestinos arrefecem - ela quer ao menos a companhia constante do sujeito. Gostaria de conversar, brigar, ver televisão, ir ao cinema na noite de sexta, transar na manhã de sábado. Quer fazer coisas de marido e mulher, de namorada. Deseja algum status público. O problema é que o rapaz já tem mulher. Não pode, e provavelmente não quer ter outra. Ele está deixando claro que deseja uma amante. A minha amiga vai ter de entender.

Posso estar cercado de machos insensíveis ou hipócritas, mas duvido. Também não me parece que os homens tenham menos necessidade de afeto do que as mulheres. Um sujeito casado que se dá ao trabalho de arrumar amante fixa é faminto de amor, não indiferente a ele. Um homem solteiro que corre o risco de sair com uma mulher casada, quando há no mundo tantas mulheres disponíveis, é um romântico, ainda que não saiba. Logo, me parece que a diferença não está na afetividade. Se ela fosse homem seria mais fácil. Homens ficam mais confortáveis na posição de “outro”. Casados ou solteiros, desfrutam a clandestinidade e respeitam as suas limitações sem queixas. Nunca - eu repito, nunca - ouvi um sujeito reclamando da impossibilidade de encontrar a amante na noite de sexta-feira. Ou do sofrimento de acordar sozinho no domingo. Para os homens, cada coisa é uma coisa. Se a mulher é casada, se encontram quando é possível. Se ele é o casado, vale a mesma cautela. Com emoção, com taquicardia, mas sem drama.

Quando o assunto é amantes, o que distingue os homens em geral das mulheres em geral é que elas parecem ver a situação como transitória. Elas acreditam que o homem está amante, encubando um futuro marido ou namorado. Os homens, enquanto isso, parecem ver na amante uma forma pronta, satisfatória tal como ela é. Casado ou solteiro, o sujeito que tem uma amante parece tranquilo com a situação.

A mulher também começa feliz, como a minha amiga, mas logo se inquieta. Fica apaixonada ou, de forma mais mesquinha, sente-se preterida ou humilhada com a situação. No fim, pressiona por mudanças. Se for casada, é capaz de cobrar que o sujeito proponha algo mais sério, mesmo que seja para dizer não, alarmadíssima. Essa diferença de expectativas não impede que relações clandestinas se estendam por anos, mas cria, no interior delas, dois tipos de pessoas: homens satisfeitos e mulheres tristes, ou ressentidas.

Talvez as mulheres nessa situação devessem aprender alguma coisa com os homens. Eles relaxam e desfrutam. Vivem o momento que se apresenta. Não é um jeito ruim de lidar com situações precárias, furtivas e provavelmente transitórias. Gostosas, ademais. Não podemos perder de vista que essas relações começam invariavelmente por causa de sexo. Se elas continuassem e terminassem assim, como sexo, qual seria o problema?

A grande pergunta, claro, é por que gente adulta se mete em situações com as quais não consegue lidar - e por que não caem fora quando se percebem incomodadas ou infelizes.

Eu não sei, e acho difícil que alguém consiga entender sem conversar longamente com os envolvidos. Cada caso é um caso, cada casal é um casal, embora coletivamente o final seja previsível: posto contra a parede, o homem casado choraminga e volta para o seio da família. Ou a mulher casada que, mesmo sem ser pressionada, decide que é hora de acabar com a aventura que pode destruir seu casamento. Há exceções a essa regra, (todo mundo conhece pelo menos uma), mas eu duvido que as estatísticas sejam animadores para as mulheres que pretendem converter o amante de hoje em marido de amanhã. Em geral, garotas, ele não está interessado.

O padrão suicida das greves - RUTH DE AQUINO

REVISTA ÉPOCA


Somos reféns de chantagistas. Se o governo aceitasse o que os grevistas querem, iria à falência



“A Polícia Federal está com concurso na rua, salário inicial de R$ 7.700 para agentes e escrivães, funções de nível superior. Você acha que esses salários são exorbitantes em relação às atividades que esses profissionais desempenham?”

Recebi esse e-mail de um leitor da coluna, incomodado com minha crítica suave às greves dos servidores públicos federais. Greves que considerei irresponsáveis por infernizar a vida de inocentes que ganham bem menos. Como o piso dos jornalistas – profissão que também exige diploma universitário e pode incluir riscos de vida – varia entre pouco mais de R$ 1.000 e pouco mais de R$ 2.000, respondi que os servidores parados estão descolados da realidade do país.

Será difícil para grevistas com estabilidade e salários em torno de R$ 10.000 ganhar apoio, ainda mais pelo desrespeito à população. Por que os 300 mil funcionários parados não vão para Brasília e fazem um protesto gigante na Praça dos Três Poderes? Talvez porque o ar esteja seco demais na Capital. Dá preguiça. Exige planejamento.

O motivo principal é que protestos democráticos não causam o prejuízo emocional e financeiro de bloqueios em estradas, aeroportos, portos, hospitais e universidades.

O leitor desta coluna tem a resposta para o impasse – ele convida todos a fazer parte da casta dos servidores: “Os salários do funcionalismo são um pouco mais altos para reter no serviço público funcionários compromissados, que desempenham atividades essenciais ao funcionamento do país, como se pode inferir dos transtornos que temos observado nos últimos dias. Se tais salários são invejáveis, os cidadãos que os invejam podem também participar dos concursos, basta vontade de estudar por meses, até anos”. Podemos deduzir que só os servidores estudam com afinco – e que nosso trabalho não é essencial.

Provavelmente, a maioria dos leitores achará mesmo “exorbitantes” os salários iniciais da Polícia Federal. E mais exorbitante ainda o aumento exigido: eles querem R$ 12.000. De piso. Esse bando de baderneiros de uniforme e boné vem distribuindo bombons e pizzas nos aeroportos para famílias, assalariados, crianças e idosos. Reféns enfileirados por horas, impotentes diante de uma operação-padrão de chantagem.

– Vocês deveriam distribuir nariz de palhaço, não bombons! –, disse um passageiro aos policiais federais no aeroporto Juscelino Kubitschek, em Brasília.

Há 643.404 civis trabalhando para o Poder Executivo, ou seja, para Dilma. O piso dos auditores da Receita Federal, entre 2003 e 2010, deu um salto mortal (para nós, não para eles): foi de R$ 5.000 para R$ 13.600, um aumento 55% acima da inflação. É exorbitante. Mas eles não estão satisfeitos.

Lula alimentou, em seus mandatos, a megalomania das centrais sindicais, que estão se achando. Dilma demorou a reagir, o sentimento de onipotência se alastrou entre os servidores, mas agora a presidente precisa do apoio do país e da Justiça para não ceder aos grevistas.

Se as exigências fossem aceitas, o impacto nas contas públicas seria de R$ 92 bilhões. Não dá. Não existe. Ponto. Lula demorou a apoiar Dilma, mas elogiou a atitude da presidente na quarta-feira: “O dinheiro é curto”.

Os grevistas acusam “a mídia desinformada” de jogar a população contra os servidores parados há meses. Os grevistas produzem as manchetes e se ressentem delas.

Há, sim, categorias com salários defasados. Elas erram e perdem a força ao se unir a coleguinhas bem remunerados e ensaiar um rolo compressor. Os reajustes pedidos variam de 20% a 70%. Que país pode hoje conceder esses níveis de aumento?

Eles não têm o direito de parar o país, parar você, me parar, parar os carros e caminhões, parar o estudo de nossos filhos, parar a assistência médica a nossos parentes, parar a importação de remédios. Isso não se chama greve, mas abuso de poder. O governo deveria regulamentar as fronteiras da greve no serviço público, de uma vez por todas.Cito outro e-mail que recebi, de Virginia Paranhos Jardim, servidora do Ministério Público Federal de Goiás: “Não se pode juntar toda a categoria de servidor federal num só bolo. Tanto o Ministério Público Federal como o Judiciário Federal estão sem qualquer reajuste há mais de seis anos. Enquanto isso, assistimos à inflação corroendo nosso poder aquisitivo todos os dias”. Virginia me pediu que não divulgasse seu salário. Entendo sua revolta. Mas quem está colocando tudo em “um só bolo” são os 300 mil grevistas de mais de 30 categorias. Eles apostam na orquestração do caos.

Os sindicatos oportunistas estão incomodados com o “autoritarismo de Dilma”. Dilma responde que está mais preocupada com quem não tem direito a estabilidade e nem consegue emprego. Estou com Dilma. Os grevistas incomodados que se mudem... para a Zona do Euro!

Um bom programa - GERSON TOLLR

O GLOBO - 18/08


O Programa de Investimentos em Logística anunciado esta semana pelo governo federal trouxe três importantes quebras de paradigma para o setor ferroviário.
Mesmo considerando todos os percalços, atrasos e denúncias que haverá em sua trajetória, é importante levar em conta que:

1. Pela primeira vez desde Juscelino Kubitschek, introdutor da indústria automobilística, um programa de investimentos em transporte do governo Federal - com ou sem participação privada - anuncia mais recursos para ferrovias do que para rodovias.

Mais do dobro na verdade: R$ 91 bilhões para as ferrovias e R$ 42 bilhões para as rodovias, com juros, prazo de carência e de amortização mais favoráveis para as primeiras. Traduz uma opção clara do governo em favor da ferrovia e contra tudo o que representa a exacerbação do transporte automotivo: engarrafamentos, poluição, acidentes e Custo Brasil ;

2. Também pela primeira vez um programa de investimento contempla a reativação e retificação de ferrovias já existentes, algumas centenárias, como Recife-Salvador, da qual metade está hoje desativada; Salvador-Belo Horizonte, única ligação Norte-Sul em funcionamento, inaugurada em 1950; Rio de Janeiro-Campos-Vitória, também desativada pela metade .
Essas linhas, todas de bitola métrica, traçado obsoleto e péssimas condições de tráfego, deixadas de lado por décadas a fio, serão remodeladas, sinalizadas e alargadas para bitola de 1,60 metro. É fato inédito nos programas do governo, até hoje interessados apenas em inaugurar ferrovias novas.

3. O terceiro paradigma está em um dos três objetivos do Programa: "quebra do monopólio na oferta de serviços ferroviários". Qualquer operador devidamente habilitado, seja um cliente da ferrovia, uma empresa de transporte independente ou mesmo um concessionário já estabelecido, poderá comprar faixa horária em qualquer das 12 linhas incluídas no programa e ali colocar seus trens com sua carga e seus maquinistas, mais ou menos como qualquer empresa de transporte rodoviário pode operar, pagando o pedágio, em qualquer rodovia.

O Brasil passou toda a segunda metade do século XX sem cuidar das suas ferrovias, que envelheceram e perderam para o transporte rodoviário e aeroviário boa parte do seu mercado. O concessionamento do final dos anos 90 permitiu o surgimento de organizações empresariais eficientes e modernas, que melhoraram muito o desempenho das ferrovias existentes, mas não foram capazes nem de construir ferrovias novas nem de atualizar milhares de km de linhas antigas sob sua gestão.

O transporte de passageiros acabou, a carga geral passou toda para o caminhão e os concessionários se concentraram - como seria de esperar - nos nichos mais lucrativos, representados pelo transporte de minério, soja e outros granéis de exportação. Com isso, dois terços da malha ferroviária brasileira, já diminuta para o tamanho do território, ficaram subutilizados. É o que o novo programa pretende modificar, abrindo a exploração das ferrovias a novos e múltiplos concessionários. Que venham todos.

Trocas no ar - ANCELMO GOIS

O GLOBO - 18/08

Mudanças na cúpula da Azul por causa dessa fusão com a Trip. Pedro Janot deixa a presidência-executiva. O cargo será de David Neeleman, principal acionista da voadora.
José Mário Caprioli, que presidia a Trip, será o novo vice-operacional.

Carinhoso

O novo pacote de apoio à cultura da Petrobras contempla a volta do velho Projeto Pixiguinha, que promove excursões de artistas pelo país.
Criado em 1977 pela Funarte, foi interrompido em 1997. Retomado no primeiro governo Lula, acabou desativado novamente.

Cinema sustentável...
Aliás, tem cineasta achando que a Petrobras resolveu incentivar o... desmatamento. É que, no edital de cinema, pede, no artigo 4.2.1, onze cópias do roteiro em papel. Como um roteiro tem, em média, cem páginas, seriam 1.100 folhas por inscrição.
“Agora imagina se forem umas mil inscrições’,’ diz um cineasta.

De fato...
Em dias de tablets, pendrives e HDs externos... por que matar tanta árvore?

Fátima volta ao ‘JN’
Fátima Bernardes volta hoje ao “Jornal Nacional’,’ da TV Globo.
É que, no horário, estará no “Mesão dos Artistas’,’ recebendo ligações de quem quer doar mais de R$ 50 para o “Criança Esperança’!

Cinderela na cadeia
Ajuíza Alessandra Moreira, da 40? Vara Criminal do Rio, manteve a prisão preventiva de 16 garotas de programa e seis homens que davam o golpe “boa noite, Cinderela’ em turistas estrangeiros, em Copacabana.
Segundo ela, o crime “macula a imagem do país no exterior’ e há risco de o grupo voltar a praticá-lo.

OS SOBREVIVENTES DO BUMBA
A Secretaria estadual de Obras deve entregar no fim do mês (vamos torcer, vamos cobrar) este conjunto habitacional de 180 apartamentos, no Bairro Viçoso Jardim, em Niterói, perto do Morro do Bumba, cenário onde morreram mais de 50 pessoas na tragédia das chuvas de abril de 2010. O condomínio, de nove blocos de 20 apartamentos cada, terá praça e áreas de lazer. Vai abrigar os moradores que perderam suas casas no deslizamento. As obras custaram R$ 19,7 milhões em recursos federais e estaduais. O Bumba também recebeu obras de contenção, impermeabilização e drenagem, para evitar infiltrações, mas não será mais habitado. Hoje, virou local de pasto. Melhor assim •

Produção de emprego

A conta é do consultor Adriano Pires. Do último ano de FH (2002) ao último de Lula (2010), o número de servidores concursados da Petrobras cresceu 75%, eode terceirizados, 175%.
Enquanto isso, a produção de petróleo da estatal só cresceu 45%.

Aliás...
Para Adriano, estes números são mais uma prova de que a Petrobras tem sido usada para fins políticos.

Dama da internet
Diretor de um dos maiores sucessos do cinema brasileiro, “A dama do lotação’^ Neville D'Almeida está escrevendo o livro “A dama da internet’ a quatro mãos com o empresário da noite Ricardo Amaral.

Segue...
Trata-se da história de uma mulher que usa um perfil falso na internet para trair o marido e, ao longo da trama, marca encontros de saliência com os amantes pelo computador.

Terra de Ho Chi Minh
O livro “Perdas e ganhos’,’ de Lya Luft, acaba de ser lançado no Vietnã (veja como ficou a capa lá).
A venda foi feita pela agência Riff.

Gol contra
O Botafogo foge de seus credores trabalhistas como político foge de CPI.
O TRT-RJ determinou que o clube salde R$ 15 milhões que deixou de pagar entre 2009 e 2010. Mas o Bota, cuja dívida trabalhista é de uns R$ 80 milhões, ignorou a ordem.

Calma, alvinegros...

Aliás, a lua de mel da torcida do Botafogo com a diretoria do clube, embalada pela contratação do craque holandês Seedorf, chegou ao fim.
Hoje, às 14h, um grupo de alvinegros vestidos de luto vai promover um velório simbólico dos cartolas na sede de General Severiano. Às 15h, o cortejo fúnebre seguirá para o Cemitério São João Batista, ali perto.

Partido dos artistas
A disputa pela simpatia dos artistas continua forte entre os candidatos a prefeito do Rio.
A atriz Rosamaria Murtinho reuniu em sua casa um grupo da área que apoia o tucano Otávio Leite.

Coisa nossa
Jennifer Lopez, a linda atriz e cantora americana, foi fotografada para a capa da revista “Instyle” dos EUA, com brincos do designer brasileiro Jack Vartanian.
A joia, composta por ágata preta e diamantes negros, custa R$ 19.500.

No mais
O processo do mensalão está repleto do termo... “aviado’! É que o meio jurídico, digamos, mais letrado adora usar esta expressão em suas petições.
Significa “pronto, preparado ou concluído’! Ah, bom!

A estratégia descarada - LEONARDO CAVALCANTI

CORREIO BRAZILIENSE - 18/08

Parte dos parlamentares se apoia no recesso branco para tentar atrasar a tramitação do projeto que prevê o fim dos 14º e 15º salários e, assim, receber o benefício daqui a seis meses. É mais uma contradição da regalia: os camaradas não fazem o trabalho legislativo e ainda querem tirar mais dinheiro do contribuinte



Não leve a mal, mas as próximas linhas estão cheias de adjetivos. Apenas dessa forma é possível revelar a estratégia descarada de deputados federais para embolsar pela última vez os salários extras. A partir de manobras, os parlamentares atrasam a tramitação do projeto sobre o fim do 14º e 15º. Agarram-se ao privilégio como podem, desesperados a continuar embolsando o nosso dinheiro. A tática dos espertalhões é conseguir adiar a aprovação do texto até o início do próximo ano e, assim, conseguir ganhar R$ 26,7 mil em dezembro e outros R$ 26,7 mil no início de fevereiro de 2013. Serão mais de R$ 50 mil em menos de três meses.

A derrubada dos salários extras é inevitável, afinal, é impossível encontrar algum cidadão disposto a pagar do próprio bolso as vantagens dos parlamentares. Trata-se de justiça, pois. Se todos recebem no máximo 13 contracheques por ano, qual a razão para políticos ganharem 15 rendimentos? É o descaramento de quem não tem respeito pelo contribuinte. Assim, os aproveitadores do dinheiro alheio sabem que a mamata — desculpe o termo, mas é inevitável — vai acabar. E, por isso, tentam segurar o benefício pela última vez. Só mais uma.

A regalia dos deputados e senadores foi estabelecida em 1995. A intenção do autor da nefasta ideia — nesses casos, é impossível apontar um único culpado — era restituir aos parlamentares os gastos com a mudança de mobiliário e de parentes dos estados de origem para Brasília. Pela lógica torta, a regalia deveria ser paga no início do mandato e no fim dos quatro anos, mesmo assim se o nobre político fosse defenestrado pelas urnas. Caso reeleito, não faria sentido receber os valores, afinal, já estava instalado na capital da República.

Pois o que era para ser pago apenas duas vezes em quatro anos passou a ser anual. E pior, acabou se multiplicando pelas assembleias municipais e estaduais. Na política brasileira, todos querem tirar uma casquinha. Nos últimos seis meses, este Correio, a partir de reportagens de fôlego, capitaneou uma campanha jornalística contra os salários extras. Tudo começou em fevereiro, quando os repórteres deste jornal conseguiram revelar o absurdo dos rendimentos recebidos pelos deputados distritais. Ali, o absurdo foi cortado, apesar de protestos.

Imposto
A batalha no Senado foi um tanto mais complicada. O texto apresentado pela hoje ministra-chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, prevendo o fim dos 14º e 15º salários, demorou um ano e três meses para ser aprovado. E só o foi depois de constrangimentos, como os provocados por reportagens — também deste jornal — sobre a não declaração dos rendimentos extras à Receita Federal. Na Câmara desde maio, o projeto, até agora, não ganhou a atenção devida de parlamentares — alguns, como o líder do PT, Jilmar Tatto, fogem do tema. E, assim, chegamos à estratégia descarada dos deputados em embolsar pela última vez os rendimentos extras.

Os deputados da Comissão de Finanças e Tributação prometem votar o texto na próxima quarta-feira. Caso aprovado, segue para a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) e, depois, para o plenário. Resta saber quanto tempo os políticos tentarão segurar o projeto. E, assim, receber o dinheiro do contribuinte em mais duas ocasiões. Para atrasar os prazos, o Congresso está em recesso branco — a esculhambação da esculhambação — por conta das eleições. É mais uma das contradições do vergonhoso privilégio.

Como os deputados querem receber mais de 13 salários se não trabalham e usam o tempo em que deveriam estar no Congresso para fazer campanhas nos estados de origem? Assim, os parlamentares se apoiam no recesso branco para deixar de votar um projeto que acaba com a mordomia salarial. Ao mesmo tempo em que não fazem o trabalho legislativo, querem continuar com o direito de receber daqui a seis meses mais R$ 53,6 mil.

Avisei que a coluna estava cheia de adjetivos. Era inevitável.

Governo rachado - ILIMAR FRANCO

O GLOBO - 18/08

Os ministros do PT estão possessos com a postura da presidente Dilma. O motivo é a greve do funcionalismo. Como muitos têm militância sindical, gostariam que o Executivo adotasse uma posição mais flexível. Também estão incomodados com a centralização das negociações nas mãos da ministra Miriam Belchior (Planejamento), a quem acusam de ser intransigente.

O efeito Lula
Parlamentares com larga experiência eleitoral avaliam que é prematura qualquer avaliação das candidaturas do PT nas capitais. Argumentam que a força petista só será conhecida quando começar a campanha na TV e o presidente Lula aparecer no vídeo pedindo votos para os seus eleitos. Sustentam que não se deve subestimar seu carisma. Lembram que sua força já foi testada em 2010, quando ele garantiu maioria para o governo Dilma no Senado, derrotando vários ícones da oposição. Mais do que uma eventual candidatura presidencial em 2014, os ataques da oposição ao ex-presidente têm como objetivo minar sua influência nas eleições de outubro.

“Precisamos regulamentar como se dão as greves do setor público. Temos que enfrentar essa discussão”

Brizola Neto
Ministro do Trabalho

Quem faz oposição?
Ministros se divertem com o anúncio do PSDB de apoio à presidente Dilma. Um deles comentou: "Estamos sem oposição’! O outro emendou: "Como assim, sem oposição? E o Dudu?” referindo-se ao governador Eduardo Campos.

Isolamento
A presidente Dilma quer distância de manifestações em suas viagens país afora.
Pediu aos assessores blindagem total. Para isso, foi criada uma força-tarefa informal no Planalto. O general José Elito (Segurança Institucional) está indo aos locais dois dias antes de Dilma para se certificar da segurança e impedir qualquer aproximação.

Os tucanos e a presidente

O presidente do PSDB, deputado Sérgio Guerra (PE), explica os elogios à presidente Dilma, por causa do programa de concessões: "A presidente está executando o nosso programa. E ela veio do brizolismo, estatizante e nacionalista’!

Carteiraço
O candidato do PT a prefeito de Niterói, Rodrigo Neves, tentou ser esperto mas se deu mal. Fez uma visita à presidente da Petrobras, Graça Foster, como deputado estadual, dia 6. Tirou fotos do encontro e publicou no seu site da campanha. Ao saber do ocorrido, Graça ficou uma fera. Mandou o jurídico da Petrobras avisar a Neves que ele teria 24 horas para tirar o material do ar.

Apoio de peso
Candidato à prefeitura do Rio, o deputado Otavio Leite (PSDB) acredita que vai deslanchar com a propaganda na TV. Ele exibirá na telinha os apoios de Fernando Henrique, José Serra,
Geraldo Alckmin e Aécio Neves. Agora vai.

Izabella Teixeira comemora
O Ibama recebeu título de Excelência Geoespacial para o Gerenciamento do Meio Ambiente concedido pela Geospatial Media and Communications. O prêmio se deve ao monitoramento ambiental da Amazônia.

a presidente dilma vai reativar o "Conselhão” dia 30 no Salão Leste do Planalto. Ele foi rebatizado: "Conselho do Desenvolvimento Sustentável’!

Comprando roupas - SÉRGIO TELLES


O Estado de S.Paulo - 18/08



Desde quando se conheceram, meu amigo e sua futura mulher concordaram que não se deixariam levar pela propaganda e ignorariam datas como o dia dos namorados, Dia das Mães, Dia dos Pais. Isso não significava que não gostassem de dar e receber presentes. Eram pródigos em gestos de carinho e demonstrações de amor entre eles e com os amigos, mas obedeciam a um ritmo próprio, íntimo, específico de cada relacionamento, apartados das grandes e obrigatórias efusões impostas pelo mercado.

Esse acordo funcionou até a época em que os filhos foram para a escola. Por que os coleguinhas davam presentes do Dia das Mães e dos Pais e eles não? - perguntavam perplexas as crianças, sem entender tal anomalia. Meu amigo e a mulher repensaram a questão e concluíram que não deviam ser radicais em suas convicções. Eram grandes as pressões do consumo e seus filhos não deveriam ser penalizados pelas escolhas ideológicas que fizeram. Não era um grande problema, em nada abalava seus princípios mais prezados e passaram a comemorar o dia dos pais, das mães e outras efemérides marcadas pelo calendário escolar dos filhos.

Isso ocorrera tempos atrás. Relembrava tudo isso agora, enquanto tomávamos café no shopping, onde nos encontramos por acaso. Estava ali com a mulher para comprar as roupas que ela lhe daria de presente no dia dos pais. O problema é que ultimamente lhe tem sido difícil comprar roupas. Ficava pouco à vontade com os vendedores e vendedoras. Eles logo perguntavam seu nome e passavam a lhe tratar como se fossem velhos conhecidos, amigos de infância. Ficava irritado com aquela atitude artificial e forçada. Se imaginavam que daquela forma ficaria relaxado e abriria com maior facilidade os cordões de sua bolsa, estavam completamente enganados. O efeito que lhe produzia era o oposto. Fazia-o sentir-se bobo, um otário sendo enrolado por espertalhões. O pior é que não adiantava ir para outra loja, pois todas usavam essa mesma técnica, o que o fazia pensar que ela devia ser muito eficaz com a maioria.

Se ele se sentia desconfortável na loja de roupas por esse motivo, acreditava que por razões diversas esse sentimento era compartilhado com muitos outros, homens e mulheres. Percebia que alguns compravam a primeira coisa que lhes caía nas mãos e saíam correndo da loja. Outros passavam horas escolhendo peças, numa interminável indecisão que enlouquecia - benfeito! - os vendedores. E tinha ainda aqueles que compravam compulsivamente suas roupas em grandes quantidades, deixando-as nos armários, sem nunca usá-las.

Meu amigo tinha elaborado uma teoria sobre o assunto. Como vivemos sob a tirania da beleza, todos se veem obrigados a ter o corpo em ordem. As cirurgias estéticas consertam as evidências da pouca generosidade com que a natureza nos tratou, bem como eliminam as marcas do envelhecimento. A televisão e as revistas mostram figuras jovens e belas a venderem produtos, cuja compra supostamente nos deixaria tão jovens e belos quanto elas. Uma ficção na qual somos levados a acreditar e que se mantém até a ocasião em que vamos comprar uma roupa.

Nesse momento, cada um é obrigado a confrontar a ilusão de um corpo ideal, alimentada pela propaganda, com a realidade concreta de seu próprio físico. Fica então patente o descompasso, que pode ser grande, entre a aparência que gostaríamos de ter e aquela que temos de fato, a distância entre o ideal e o real. A anoréxica, que se recusa a comer para não engordar, dando com isso mostra da impossibilidade de reconhecer a realidade de seu corpo perigosamente à beira da inanição, leva ao extremo essa dificuldade que, com maior ou menor intensidade, é bastante disseminada. Assim, a pessoa vê determinada peça na vitrine da loja e se dispõe a comprá-la a partir da imagem corporal que tem de si mesmo. Ao provar a roupa, se defronta com a concretude de sua compleição, que poderá ou não ser compatível com a vestimenta escolhida.

Sua mulher, que até então ouvia calada a conversa, disse que nesse instante o papel do vendedor ou vendedora é fundamental. Ele pode reforçar a negação da realidade, dizendo ao comprador aquilo que ele quer ouvir, ou seja, de que a roupa lhe cai muito bem, que ficou ótima em seu corpo. Ou pode dizer a verdade, ajudando-o a encontrar algo mais condizente com as características de seu físico. O problema é que os vendedores não são confiáveis, não estão prioritariamente preocupados com a adequação da roupa ao físico do comprador. Eles querem vender e ganhar a comissão. Talvez aí residisse o diferencial entre uma loja que conquista fregueses fiéis e outra que os perde - a instrução que dão a seus vendedores para empurrar de qualquer jeito a mercadoria ou a ajudar o comprador a encontrar uma peça adequada à sua realidade, mesmo que isso aborte a desejada venda.

Disse-lhes que concordava inteiramente com suas opiniões. Desde que estávamos discorrendo sobre a conduta dos compradores de roupas, perguntei-lhes se não havíamos esquecido um tipo oposto aos que até então examinávamos. Referia-me às pessoas "sem noção", as vítimas da moda, aquelas que indiscriminadamente acreditam nas criações mais bizarras dos figurinistas e saem pelas ruas sem atentarem para o ridículo com o qual se cobrem.

Meu amigo respondeu que não era um caso muito diferente dos que havíamos discutido. Nele seria apenas mais grave o grau de negação do próprio corpo ou a fragilidade psicológica que levava tais pessoas a se curvarem sem crítica frente à imposição dos vendedores.

A conversa já se espichara demais e eu ainda ia comprar minhas roupas. Despedi-me dos dois e, alertado pela conversa, saí preocupado, pensando como iria encarar a disparidade entre a secreta exigência apolínea de um corpo ideal e a dura realidade que o espelho e a numeração das roupas me obrigariam a aceitar.

Atualidade de Proust - SILVIANO SANTIAGO


O ESTADÃO - 18/08


Em coluna anterior, mostramos o modo como inesperado viés na leitura de Em Busca do Tempo Perdido, de Marcel Proust, veio a constituir uma apreciação alternativa da obra-prima da literatura francesa. Centrada na discussão sobre tempo e memória, a leitura canônica do romance foi sendo relegada ao segundo plano pela leitura alternativa, segundo plano que coubera a ela no passado. Ao destacar os manuscritos do romance, cuja redação foi atropelada pelas atrocidades da 1.ª Grande Guerra, responsáveis por sua vez pelo inchaço descrito pela metáfora do "tumor maligno", a leitura atual de Proust os prioriza para livrá-los da pecha de lastimáveis e sórdidos. Lembremos a máxima antiga: "Nada do que é humano me é estranho".

Bafejado pelas recentes pesquisas na área da literatura gay ou queer, o antigo leitor de Em Busca do Tempo Perdido foi convidado a avaliar - com interesse crítico semelhante ao dispensado ao primeiro volume da obra, publicado antes da 1.ª Grande Guerra - a perspectiva aberta. O filme O Tempo Redescoberto, de Raoul Ruiz, exibe a imagem da leitura alternativa. A tela se abre para o espectador por tomada panorâmica em que, sobre a mesa, repousam manuscritos compostos à maneira de ininteligível colcha de retalhos. Acamado e à beira da morte, Proust dita à fiel Celeste algumas linhas, que logo serão corrigidas por ele. Como o crítico Feuillerat na década de 1930, Ruiz filma o romance pelo seu lado de dentro. Ao contrário de Feuillerat, concede primazia aos personagens que vivem o erotismo à flor da pele, como o barão de Charlus (John Malkovich) e Albertine (Chiara Mastroianni).

Dentro dos estudos de gênero (gender, em inglês) que abordam a temática lésbica, há acentuado interesse pela literatura escrita por, entre outras, Gertrude Stein e Virginia Woolf. O volume Sodoma e Gomorra, de Proust, era uma pedra no meio do caminho. Em crítica literária, a visibilidade lésbica negligenciara um aspecto importante da história das relações entre mulheres: a representação do homoerotismo feminino nos textos de autores masculinos. Para sanar a "negligência" na bibliografia crítica, a professora Elisabeth Ladenson (Columbia University) escreve Proust’s Lesbianism, ensaio que passou batido entre nós. No entanto, sua tradução ao francês traz prefácio de Antoine Compagnon, aclamado especialista em Proust e emérito professor no Collège de France. Previne Compagnon: o ensaio não deixará de perturbar (troubler) os proustianos franceses. Em seguida, afiança que também os convencerá da acuidade e da qualidade crítica da leitura de Ladenson.

As cidades emblemáticas de Sodoma e de Gomorra são objeto da curiosidade de Marcel, narrador de Em Busca do Tempo Perdido. A dissimetria entre elas - e não sua simetria bíblica - parte dum ponto comum: o voyeurismo do narrador. Ao mesmo tempo em que ele representa a homossexualidade masculina (Sodoma) como se em "salão transparente" (a expressão descreve o bordel de Maineville, frequentado por Charlus e Morel) e a dá como "segredo conhecido de todos", ergue barreira concreta (a cortina que baixa) e textual que cerceia a representação da homossexualidade feminina (Gomorra). A senhorita Vinteuil e sua amiga acreditam que "serem vistas acrescenta perversidade ao prazer" e, por isso, interditam o voyeurismo do narrador. Amam-se em segredo. Marcel sofre pela proibição, que lhe causa angústia. Não pode ver o casal amar, não pode descrever "a palpitação específica do prazer feminino", entrevista por ele apenas na "dança de seios contra seios" de Albertine e Andrée.

Segundo Ladenson, a dissimetria entre Sodoma e Gomorra se afiança pelo segredo a ocultar - ou não - o prazer sexual entre semelhantes. No texto de Proust, a cidade das mulheres "é a versão única de uma sexualidade capaz de guardar o controle de sua própria representação". Ao interditar o olhar de Marcel, a lésbica escapa ao modelo fálico. No entanto, o falocentrismo domina a cidade dos homens, cujo vocabulário não toca o lesbianismo proustiano. Domina ainda a inversão: busca-se um homem-homem, depara-se com um homem-mulher. Domina também as representações pornográficas (v. os filmes do canal GNT à meia-noite) do lesbianismo. Nestas, o prazer entre mulheres se representa para a lascívia masculina. A modelagem das cenas é direcionada pelo desejo fálico.

No romance Em Busca do Tempo Perdido, o lesbianismo é, segundo Ladenson, pedra de toque a avaliar a verdade do desejo do semelhante pelo semelhante. Não há inversões, não há modelagens fálicas e, assim sendo, a cidade das mulheres é "modelo único do desejo recíproco". Pela narrativa não-falocêntrica de Gomorra, vaga "o impossível fantasma do desejo recíproco". Esclarece a ensaísta: "começaremos a compreender o lugar da feminilidade e, portanto, da sexualidade em geral, se considerarmos os personagens lésbicos como estão descritos na obra de Proust". Por outro lado, acrescenta ela, o modo como o lesbianismo é representado nos textos dos demais autores masculinos só serve para nos dizer como se constroem, na cultura atual do Ocidente, os "estereótipos" de masculinidade e de feminilidade.

A mulher não é, pois, definida por uma "falta" (lack), como acreditava Freud. É antes dotada de "plenitude autossuficiente". Na economia sexual de Em Busca do Tempo Perdido, o sodomita, por ter sido representado em transparência e pela figura da inversão, acaba por afundar-se e se reconhecer na dramatização heterossexual do desejo e do amor. Por estar fora do ponto de visão de Marcel (narrador do romance, insista-se), o lesbianismo representa, na qualidade de "ponto cego epistemológico", a verdade da homossexualidade. O romance Em Busca do Tempo Perdido modela-se por uma "sensibilidade erótica fundada numa estética da mesmice (sameness), cujo modelo único é o do desejo recíproco".

Cantoras que cantavam - RUY CASTRO


FOLHA DE SP - 18/08


RIO DE JANEIRO - Clara Nunes, que teria feito 70 anos nesta semana, morreu em 1983, aos 39. Muito jovem. Assim como ela, Dolores Duran morreu em 1959, aos 29; Sylvia Telles, em 1966, aos 32; Maysa, em 1977, aos 40; Elis Regina, em 1982, aos 37; e Nara Leão, em 1997, aos 42. Qual música popular perdeu, tão cedo, tantas cantoras importantes?

Exceto Dolores e Maysa, que também compunham (e deixaram clássicos), elas eram exclusivamente intérpretes -cantoras para quem os compositores escreviam e com quem contavam para lançar suas canções. Sylvia Telles, por exemplo, dedicou sua carreira a cantar Jobim. Elis Regina foi decisiva para impulsionar Edu Lobo, Gilberto Gil, Milton Nascimento, João Bosco e Aldir Blanc. Nara fez por Chico Buarque, Paulinho da Viola e Sidney Miller o que já tinha feito por Cartola, Nelson Cavaquinho e Zé Kéti. E ninguém tirou da zona fantasma tantos sambistas quanto Clara.

Todas eram de um tempo em que os compositores compunham e os cantores cantavam. Uma canção lançada por elas era adotada por outros cantores, replicada por grupos instrumentais, tornava-se um "standard", e a música popular inteira se enriquecia. Quando os compositores começaram a cantar, os cantores a compor e os conjuntos de guitarra a criar seu próprio material (intransferível para os cantores), esta cadeia vital se quebrou.

Ao morrer, Clara Nunes deixou órfãos os compositores que descobria nas escolas de samba -autores de joias como "Ê Baiana", "Conto de Areia", "Ilu Ayê"- e que, sem ela para cantá-los, parecem ter perdido a motivação para compor.

Só estive com Clara uma vez, em 1978, no camarim de um programa que eu escrevia para a TV Globo, "Brasil Pandeiro". Em silêncio, concentrada para a gravação que faria dali a minutos, era como se já pudéssemos ouvi-la. Como se sua música a antecedesse.

Os benefícios do consenso - KÁTIA ABREU

FOLHA DE SP - 18/08


No Brasil, temos vivido uma continuidade que alimenta uma ampla zona de consenso na sociedade


Sociedades muito divididas por visões ideológicas conflitantes paralisam seus governos e impedem que façam as escolhas necessárias. O exemplo que vem logo à mente é o dos Estados Unidos, onde graves problemas da economia e do Estado deixam de ser enfrentados porque as instituições políticas vivem um estado de impasse permanente.

Uma experiência oposta vem sendo vivida, às vezes sofridamente, pelo Brasil após a Constituição de 1988.

Repito o que ouvi do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso: "O Brasil que temos hoje, e do qual temos justo orgulho, é o resultado de uma sequência virtuosa de eventos na política e na economia, que começa pela nova Constituição, passa pela abertura da economia, promovida no governo Collor, segue pela derrota da inflação e a reforma do Estado realizadas no meu governo, e avança com as políticas sociais de inclusão do governo Lula".

Concordo com o ex-presidente. Essa tem sido a nossa vantagem. Muito diferente do que ocorre na maior parte de nosso continente, onde ou se tem a obsessão da continuidade, que suprime a alternância enriquecedora, ou então a alternância conflituosa, que se esgota em destruir ou desqualificar o que passou. No Brasil, temos vivido, apesar das retóricas diferenciadas, uma continuidade substantiva que alimenta, por sua vez, uma ampla zona de consenso na sociedade.

O anúncio nesta semana do grande programa de concessões ao setor privado de rodovias e ferrovias, aos quais se seguirão novas concessões ou parcerias em portos, em hidrovias e em aeroportos, acrescenta um novo elo virtuoso nessa sequência de fatos.

Ao ser aplaudida pela quase unanimidade da opinião pública, dos partidos políticos e da imprensa, a ação do governo é uma demonstração de que, apesar de sermos uma sociedade diversificada e plural, somos capazes de concordar no fundamental e de sermos racionais. No mundo moderno, os governos não podem funcionar se lhes falta essa dose de acordo social.

O programa de concessões de infraestrutura é fruto de uma visão integrada dos diversos sistemas logísticos e cobre as necessidades essenciais da nossa produção econômica, unindo praticamente todas as regiões do país, similar às iniciativas pioneiras do governo Juscelino Kubitschek.

As áreas de produção do interior do Brasil serão ligadas por ferrovia a todo o sistema portuário, do Sul ao Nordeste e ao Norte, criando amplo leque de opções que vão reduzir os custos de transportar e embarcar mercadorias.

Além disso, uma rede de rodovias modernas servirá para integrar mais ainda todo o território nacional, encurtando distâncias, favorecendo os contatos e ampliando mercados.

Do ponto de vista dos produtores rurais brasileiros, esse programa é um divisor de águas.

Até aqui, o produtor abriu novas fronteiras, produzindo antes que chegasse a logística e pagando sozinho o preço da sua coragem. Os produtores vão ganhar em competitividade e, com eles, a economia brasileira.

Ao escolher o caminho da concessão à iniciativa privada, a presidente Dilma mostrou que seu objetivo é resolver problemas. A capacidade fiscal do Estado brasileiro e de quase todos os Estados modernos está ficando cada vez mais reduzida.

Não se pode mais aumentar impostos e não se pode, igualmente, negligenciar os deveres sociais do Estado com a educação, a saúde e o combate à pobreza.

Persistir na ficção de que o governo pode fazer tudo o que é necessário é escolher o atraso e a pobreza e depois a inflação e a ruína do próprio Estado. A Europa está bem aí para nos lembrar.

A sociedade brasileira precisa persistir nesse caminho. Os governos são sempre muito pressionados para servir aos interesses de corporações, grupos ou minorias. A história de sua resistência em favor do interesse de todos nem sempre fica visível à opinião pública.

No Brasil, os governantes são sempre deixados em grande solidão quando se empenham em modernizar o Estado e em romper com os privilégios. Que desta vez isso não se repita, é o meu desejo.

Enquanto houver demandas - WALTER CENEVIVA

FOLHA DE SP - 18/08


O Judiciário é um Poder constitucional, integrado à estrutura de governo. Ele administra a Justiça


USO "DEMANDAS", no título, com o sentido de processos nascidos de uma pretensão resistida e, por esse motivo, submetidos ao Judiciário para a definição da Justiça oficial. Aplica-se a todos os ramos da ciência jurídica, tendo no direito processual o caminho de acesso do dar razão a quem a tenha. A definição, no processo judicial, é compatível com a busca do resultado justo.

Enquanto houver demandas, com intervenção do Poder Judiciário, as regras do direito serão indispensáveis. Indispensabilidade até para avalizar acordos em acertos livres ou encaminhados entre a parte reclamante e a resistente -quando o juiz ponderar a respeito dos prós e contras. É aí que um ou mais juízes são convocados para decidir, na composição entre o público e o privado.

Há muitos anos, numa posse no Tribunal de Justiça de São Paulo, um dos oradores disse que a política nunca entra na avaliação do magistrado. Confesso que me surpreendi com o despropósito do pronunciamento. Basta pensar que o Judiciário é um Poder constitucional, integrado à estrutura de governo. Ele administra a Justiça. Atua no espaço entre os outros Poderes e o povo. Nesse universo, o sistema democrático tem, na magistratura, um de seus elementos políticos essenciais. É a regra sacrificada, por exemplo, quando esquecido o calote dos precatórios e dos pagamentos pelo Poder Executivo, retardados com o abono do Judiciário. Ainda uma vez sacrificada, como se leu do noticiário, para saldos milionários atribuídos a juízes vinculados aos próprios tribunais pagadores, até por presidentes seus, em detrimento de colegas menos favorecidos. É um lado ruim da política.

Concurso de ingresso, caminhada na carreira, escolhas de sedes para o trabalho de magistrados, promoções, fiscalização disciplinar e eventuais punições são exemplos de típico caráter político tanto quanto nos dois outros componentes da divisão tripartida do setor público. Caráter que, portanto, não é só do Legislativo e do Executivo. Bastaria lembrar as interferências na nomeação e nas promoções para detectar a política na vida do juiz.

Não vejo mal na satisfação do impulso normal nas interferências políticas no dia a dia da carreira judicial. Quando, porém, os fatos se apartam do realizar o direito, na exacerbação da autovantagem ou na troca de favores, ainda que sem significado econômico-financeiro, o Poder Judiciário pratica a política ofensiva de seus fundamentos. Sacrifica a administração pública e mata a justiça o ato do juiz quando, por interesse pessoal, por receio de desagradar o poderoso, na busca da vantagem material, aparta-se do fazer justiça, sua meta essencial. O poder de decidir demandas é estreitamente vinculado ao dever de bem satisfazer o impulso ético, que há de presidir os caminhos da magistratura na tarefa clássica de dar a cada um o que é seu.

Este momento é importantíssimo na história da nação brasileira. O superlativo é satisfatório para o mergulho, de corpo e alma, no realizar a justiça. Por incrível que possa parecer, nada expressará mais claramente esse mergulho do que a tomada de consciência da missão que distingue o Judiciário dos outros Poderes: a verdadeira justiça, na política irretorquível e preponderante do justo.

Enquadramentos - HÉLIO SCHWARTSMAN


FOLHA DE SP - 18/08


SÃO PAULO - Se há um achado da neurociência relevante para a política é o de que metáforas têm existência concreta no cérebro e influenciam os nossos pensamentos.

Como explica o linguista George Lakoff, neurônios que disparam com frequência juntos formam uma conexão entre si que se fortalece à medida que é mais utilizada. A metáfora nada mais é do que essa conexão reforçada. Se eu me refiro sempre a um certo grupo armado como "terrorista", acabo ligando as duas ideias -e o sentimento de medo associado ao termo "terror". De modo sutil e fora do radar da consciência, tudo o que se refira a essa facção será por mim experimentado de modo negativo.

Se, porém, eu designar o mesmo grupo como "combatentes da liberdade", mobilizo ideias e sentimentos positivos. Os estragos que as ações provocam são os mesmos, mas a forma como vemos seus autores muda.

Nesse contexto, faz sentido que o PT se esforce para evitar o uso da palavra "mensalão", associada aos aspectos mais escandalosos do caso. Para o partido, é importante trocar o "framing" (enquadramento), descrevendo os fatos como crimes eleitorais, menos graves e que já estariam prescritos. Receio, porém, que essa seja uma batalha perdida. O termo "mensalão" já está consolidado, sendo usado até por militantes petistas.

De modo análogo, o ministro Ricardo Lewandowski levanta um ponto interessante quando diz que, a votação fatiada, por núcleos, já implica aceitar o "framing" da acusação.

A batalha por enquadramentos e metáforas não se limita à política. Ela se estende para todas as esferas da vida e pode valer bilhões. Foi o que se viu após o 11 de Setembro. Se entendemos o ataque às torres gêmeas como um só evento, os seguradores teriam de pagar US$ 3,55 bilhões. Se o interpretamos como duas ocorrências distintas, o valor passava a US$ 7,1 bilhões. A disputa terminou em acordo (US$ 4,55 bilhões), mas serve para ilustrar o poder dos "framings".

Os trens em dois trilhos - MIRIAM LEITÃO


O GLOBO - 18/08


Se o governo Dilma tiver êxito e forem construídos 10 mil quilômetros de ferrovias, o Brasil voltará a ter os 38 mil quilômetros de malha que tinha em 1958. Nesse caso, o governo poderá parafrasear o lema mítico do país e dizer que em cinco anos refez o que foi desfeito em 50 anos. O modelo tem a virtude de alavancar ferrovias e o risco de testar o que nunca houve no mundo.
A estatização de toda a intermediação entre as concessionárias e seus clientes, através da empresa pública Valec, não existe em outro país do mundo, segundo a Associação Nacional dos Transportadores Ferroviários (ANTF).
Há outro fruto da mesma jabuticabeira: o Brasil vai conviver com dois marcos regulatórios nos trens. Na malha privatizada no governo Fernando Henrique, a concessão termina em 2027 e os bens terão que reverter à União ou ter a concessão renovada. Por enquanto, estão sob regras diferentes das que vão vigorar no novo modelo.
É evidente o atraso do Brasil na área ferroviária. A privatização dos anos 1990 permitiu investimentos e modernização, mas a malha não foi ampliada. Por isso, o movimento do governo Dilma é uma excelente notícia.
- Queremos isso há duas décadas. O investimento privado este ano no setor será de R$ 5 bi, e o nosso dia a dia, eu lhe diria, sinceramente, é um inferno - disse Rodrigo Vilaça, presidente da ANTF.
Empresários e especialistas no setor estão com várias dúvidas sobre o novo modelo. A decisão de dar à Valec a função de comprar toda a oferta de transporte da nova malha ferroviária produz sentimentos mistos. Eles admitem que o modelo viabiliza os projetos porque elimina o principal risco do construtor de estradas de ferro. O prejuízo dos primeiros anos será estatizado. O que eles temem é mais um ente estatal num ambiente que já tem Estado demais.
- O setor de transportes tem que lidar com três agências reguladoras, diversas estatais em transporte, dois ministérios e uma secretaria com status de ministério. E ainda o Ministério do Transporte. Agora, a Valec terá novos poderes e será criada a Empresa de Planejamento Logístico. No setor ferroviário temos que lidar com nove agentes públicos para tratar dos ativos e passivos da antiga rede ferroviária. Na Transnordestina, temos 21 intervenientes - disse Vilaça.
O engenheiro João Guilherme Araújo, do Instituto Ilos de Logística e Supply Chain, teme também o estatismo do modelo.
- A presidente falou de encurtamento econômico, temos que ter o encurtamento burocrático. O setor privado quer simplicidade, rapidez, menos atores governamentais - afirmou.
Ele conta que gostou imensamente de ouvir a palavra logística usada na cerimônia e de a nova empresa ter "logística" no nome:
- O Brasil precisa de visão integrada e explorar os vários modais. A cabotagem, por exemplo, é pouco usada para quem tem uma costa grande e a população concentrada no litoral.
João Guilherme Araújo acha que os valores precisam ser bem dimensionados. O número R$ 133 bilhões parece muito, mas é pequeno para o tamanho das necessidades brasileiras:
- Em cinco anos serão em torno de R$ 80 bi, isso dá R$ 16 bi por ano, o que é 0,4% do PIB. Em 1975, o Brasil investiu 1,8% do PIB só em transporte.
O professor Pedro Cavalcanti Ferreira, da FGV, estudioso de infraestrutura, tem a mesma visão:
- Comparado com o que o Brasil investiu em infraestrutura nos anos 70, e até nos anos 80, que foram de crise, é muito pouco.
O passo é na direção certa. Dos países grandes, o Brasil é o que tem a menor rede ferroviária.

Pedra no caminho - SONIA RACY


O ESTADÃO - 18/08

Apreensão entre os peso-pesados nacionais que querem investir em rodovias e trens, aproveitando oportunidade aberta por Dilma esta semana.
Acham que a Estruturadora Brasileira de Projetos, contratada para modular o processo, não dará conta do recado. Por quê? Trata-se da mesma empresa que gerenciou a primeira leva de concessões de aeroportos, cujas regras e os resultados foram questionados.

Caminho 2
Exemplo de “defeito”? O governo vai permitir cobrança de pedágio depois de 10% da obra pronta. Muito pouco, segundo um investidor brasileiro. “Só isso não vai barrar os aventureiros”, atesta conhecido empresário.

Noves fora
Há quem acredite que o ministro Wagner Bittencourt – da Aviação Civil – não fica muito tempo no governo.

Money, money
Benjamin Steinbruch, da CSN, é só elogios à ação da presidente de dar à iniciativa privada a possibilidade de entrar firme na infraestrutura.
Entretanto, atrela o sucesso do projeto ao custo do dinheiro e ao BNDES. “Pelo fato de o repasse dos recursos ser terceirizado,há de se agilizar e desburocratizar este processo.”

Santa gula
Erick Jacquin vai servir miojo em seu La Brasserie. Calma! O badalado chef gostou tanto da receita de macarrão instantâneo caramelizado com laranja e foie gras–que criou para o livro Meu Miojo, Receitas e Histórias –, que resolveu servi-la.
A obra reúne 14 versões do prato. Tudo para comemorar o dia do miojo, no próximo sábado.

Dedo de moça
Em tempos de guerra no STF, a iguaria mais elogiada no jantar de despedida de Eliana Calmon do CNJ, quarta-feira, foi uma entrada de queijo italiano e geleia... de pimenta.
Presente boa parte da cúpula do Judiciário.

Arte do barulho
Brian Eno, ex-Roxy Music e produtor do U2, é também artista plástico. Em outubro, a convite de Marcello Dantas, fará intervenção nos Arcos da Lapa – no encerramento da OiR, mostra de arte pública no Rio.

Muuuuu
E vem aí um rally... da agropecuária. Ideia de André Pessôa, da Agroconsult, e Maurício Nogueira, da Bigma, a aventura começa na quarta-feira e vai durar 45 dias.
Composta de cinco equipes técnicas em veículos 4x4 Mitsubishi, vai acelerar por 40 mil quilômetros e visitar 3 mil criadores de gado.

Fantasmas
Alexandre Raposo, da Rede Record, acredita que, se o governo resolver mesmo atender as teles, leiloando sinal analógico a elas, as televisões vão quebrar. “Não existirá mais TV aberta”, desabafou ontem.
Sobre os rumores de que a Record estaria querendo comprara Rede TV? “Isso não existe”.

Bailão
A balada sertaneja chega à rua Augusta. Marcus Buaiz se associou a Anderson Ricardo, empresário de Luan Santana, para abrir uma casa noturna.
Investimento de R$ 8 milhões.

Reforma tricolor
Tem gente ameaçando entrar com pedido de tombamento do estádio do Morumbi junto ao Conpresp – o que atrasaria as obras, previstas para terminar no primeiro trimestre de 2014.
A conferir.

Voando alto
O Ibama sedia curioso curso hoje, em Belo Horizonte – que ensina a treinar falcões, usados para afastar outras aves do entorno de aeroportos e evitar desastres durante pousos e decolagens.
Águias, gaviões e algumas espécies de coruja também estarão à disposição dos participantes.

Esquentando
Circula entre advogados uma carta do presidente licenciado da OAB, Luiz Flávio Borges D’Urso, contestando duramente declarações de Alberto Toron.
E explicando por que o candidato à presidência da entidade passou para a oposição: o advogado teria exigido continuar como diretor do Conselho Federal, no que não foi atendido.

Ver pra crer
Está para ser votado na Câmara dos Deputados projeto de lei que obriga os cinemas a... higienizar os óculos usados em sessões 3D.
Tudo por causa de recentes surtos de conjuntivite pelo País, registrados após exibições de filmes que dependem do acessório.

Armário aberto
Gloria Coelho vai escancarar seu baú. Em momento de desapego, a estilista colocará à venda o acervo de seus desfiles: nada mais nada menos que 1.100 peças de 36 coleções, desenhadas ao longo dos últimos 18 anos. O evento acontece no showroom da marca, em Pinheiros, da próxima quinta-feira até dia 31. Um prato cheio para as magrelas, já que grande parte da numeração é 36/38. A mãe de Pedro Lourenço contou à coluna por que resolveu virar esta página. Na frente

A Fazenda Boa Vista inaugura seu primeiro campo de polo – com jogo amistoso seguido de festa. Dia 25.

O espetáculo Riverdance fica em cartaz até amanhã. No Via Funchal.

Jan Milan, do Sallvattore, recebe em torno de Andrea Matarazzo. Terça.

Beto Pandiani fala sobre aventuras náuticas. Segunda, na Livraria da Vila do shopping Cidade Jardim.

Vale tudo. Floriano Pesaro criou em seu comitê, na av. 9 de julho, um drive-thru para... distribuir material. Tem funcionado. Até ontem, mais de 350 carros haviam passado por lá.

Por que se desfazer de um acervo após 18 anos? 
Quando fazemos uma exposição, é impossível mostrar todas as roupas. Realizamos uma curadoria e escolhemos uma peça de cada ideia da coleção, que representa bem seu conceito. Inicialmente, pensamos em doar as demais para um museu de moda no Brasil, mas descobrimos que não existe tal instituição. Aí, decidi fazer a venda para grupos que se identificam com meu trabalho. Na casa dos clientes, as peças serão muito bem cuidadas. Além disso, elas não cabiam mais lá
na empresa (risos).

Que peças poderão ser encontradas lá?
Fizemos, recentemente, uma exposição no Museu da Casa Brasileira e temos peças que são verdadeiras obras de arte, trabalhos manuais, um verdadeiro laboratório de informações para o futuro da moda no Brasil.

São as mais caras?
Tem uma, cara, que ficou um mês entre a máquina e as mãos de bordadeiras. As mais baratas, como sempre, são as camisetas. Os preços variam de R$200 a R$7 mil.

Sem cartas marcadas - EDITORIAL FOLHA DE SP

FOLHA DE SP - 18/08


Divergências quanto aos procedimentos revelam certa descoordenação, mas também convicções genuínas entre os ministros do STF


Diversas questões de ordem e divergências de procedimento contribuem para cercar de um clima de imprevisibilidade o julgamento do mensalão.
Não bastasse a grande complexidade do assunto a ser decidido pelo Supremo Tribunal Federal, também foi posto em causa, nos debates de quinta-feira, o próprio ritual de votação a ser observado pelos ministros a partir da próxima semana.
A lógica seguida pelo relator do caso, Joaquim Barbosa, impunha o chamado "fatiamento" de seu voto. Acompanhando a exposição dos fatos pelo Ministério Público, cada item, ou, por assim dizer, cada "nó" específico na densa teia do esquema, foi desentranhado -resultando daí, já num primeiro momento, a decisão condenatória de Barbosa contra João Paulo Cunha e o grupo de Marcos Valério.
O revisor, Ricardo Lewandowski, insurgiu-se contra a metodologia. Argumentou que seu voto tinha linha de argumentação distinta.
Na discussão que se seguiu, a que não faltaram os conhecidos componentes de suscetibilidade pessoal que marcam a corte, concordou-se com o princípio, aliás indubitável, de que cada ministro votará conforme melhor lhe parecer. Depois, Lewandowski concordou em fragmentar seu voto.
Para citar apenas uma dúvida que daí decorre, torna-se incerta a situação do ministro Cezar Peluso, que se aposenta em 3 de setembro. Dará seu voto só nos itens decididos até esse prazo?
Parece ter faltado um mínimo de concertação prévia, por iniciativa do presidente do Supremo, ministro Carlos Ayres Britto, quanto aos métodos a serem adotados.
Tudo se passaria melhor, de qualquer modo, não fosse a alta carga de eletricidade que se acumula no ambiente, ameaçando explodir em altercações pessoais a todo momento. Os rompantes passionais não fazem bem ao Supremo Tribunal Federal, por certo, nem ao espírito de serenidade que se espera de suas decisões.
Por outro lado, contribuem paradoxalmente para enfraquecer certa convicção simplista, segundo a qual todo o julgamento não passa de um jogo de cartas marcadas.
Se a veemência dos ministros assume formas exageradas, isso sem dúvida não depõe contra a sinceridade de suas avaliações nem contra a seriedade com que encaram a decisão que irão tomar.
Lamente-se, ainda assim, que o peso de tão firmes convicções venha agravar desavenças e contribuir para incertezas quanto ao desenrolar das próximas sessões.
Um esforço maior de coordenação antes de iniciado o julgamento evitaria que debates como o relativo ao "fatiamento" dos votos, por exemplo, produzissem tanto calor e tão pouca luz -para não mencionar os flancos abertos à multiplicação de questões de ordem.

Quebra-cabeça - MERVAL PEREIRA


O GLOBO - 18/08

A estratégia do relator do mensalão, ministro Joaquim Barbosa, ficou clara a partir da decisão de manter a mesma estrutura de votação de quando do acolhimento da denúncia. Vai montar, peça por peça, um quebra-cabeça.

Ele pretende permanecer no centro dos debates até o fim do julgamento, mantendo a atenção de seus pares e também (ou sobretudo) da opinião pública para cada um dos elos da cadeia de corrupção que detectou no esquema montado a partir da chefia da Casa Civil da primeira presidência de Lula. Por isso, como fez da primeira vez, deixará para o final seu veredicto sobre o crime de quadrilha, onde aparece o ex-ministro José Dirceu como chefe do esquema.

Espera assim o relator demonstrar que os fatos se sobrepõem e estão concatenados, numa operação orquestrada de cima. Dentro desse raciocínio, tem sentido o relator ter começado seu voto pelo item "desvio do dinheiro público", pois, se aceita pela maioria do Supremo sua tese de que houve dinheiro público para os financiamentos ilegais, estará provado que o mensalão não foi apenas o uso de caixa dois como quer a defesa.

Teria sido por essa razão que o ministro Ricardo Lewandowski tentou mudar a metodologia de votação, pondo-se mais uma vez como contraponto do relator. A primeira sessão de votação começou na quinta-feira com uma hora de atraso justamente porque, nos bastidores, a maioria tentou que o revisor Lewandowski aceitasse a divisão por itens do processo, o que ele não queria, provavelmente por intuir que a maneira de encaminhar a votação leva a uma compreensão dos fatos mais próxima da acusação do procurador-geral da República.

Lewandowski, ao contrário, queria quebrar a ligação entre si dos fatos ocorridos, tanto que anunciou que seu voto seria nominal e por ordem alfabética dos réus. Ora, relacionar os réus não pelos crimes cometidos, mas pela primeira letra de seus nomes, esterilizaria completamente o julgamento.

O "espírito público" de Lewandowski, que registrei ontem, parece ter sido estimulado pelo isolamento em que se viu após tentar diante das câmeras de TV mudar procedimento que já havia sido acatado pela maioria de seus pares antes de a sessão começar. Superada a definição do procedimento de votação fatiada, de um modo tumultuado que seria dispensável para a boa imagem do Supremo, a ser mantido o calendário atual, o julgamento do mensalão entrará pelo mês de outubro.

Dessa maneira, o ministro Cezar Peluso só terá tempo de se pronunciar no máximo em um dos oito itens do voto do relator, justamente o que teve início na semana passada, o do desvio de dinheiro público.

Nesta segunda-feira Lewandowski dará seu voto sobre o caso do ex-presidente petista da Câmara João Paulo Cunha e suas ligações com o lobista Marcos Valério e seus sócios nas empresas de propaganda. Supondo-se que levará também uma sessão para dar sua posição, só na quarta-feira teremos a votação dos demais ministros. Se cada um levar entre uma e duas horas para dar seu voto, serão necessárias duas sessões para que os 11 ministros votem. Esse item sobre o desvio de dinheiro público tem mais três partes (o contrato do Banco do Brasil; o caso Visanet; o Ministério do Esporte, Correios e Eletronorte), que devem ser tratadas em outra sessão por Barbosa.

Peluso é o sétimo a votar. Provavelmente terá condições de votar na segunda parte desse item e, se o prazo estiver muito apertado, poderá sempre pedir para antecipar seu voto, mas só quanto a esse item. Não poderá antecipar todo o seu voto, pois estaria se pronunciando antes do relator em muitos casos, o que é vedado pelo regimento interno.

Os próximos itens da pauta abordarão os diversos temas pela ordem definida pelo relator - lavagem de dinheiro e gestão fraudulenta do Banco Rural -, sendo que José Dirceu só aparecerá no julgamento em meados de setembro, respondendo por corrupção ativa em relação aos integrantes dos quatro partidos aliados do governo envolvidos no caso (PL, hoje PR; PMDB; PP; e PTB). O último item do julgamento será a formação de quadrilha praticada pelo que foi definido pelo procurador-geral da República de "núcleo político", composto por Dirceu, José Genoíno e Delúbio Soares.

Muito antes disso, porém, já saberemos em que direção vai a maioria do plenário do Supremo.

Dilma desacelera - FERNANDO RODRIGUES


FOLHA DE SP - 18/08


BRASÍLIA - A popularidade da presidente Dilma Rousseff é altíssima, não importa a métrica usada. Mas nos grandes centros urbanos algu ma coisa está acontecendo.
O Ibope tem aferido a aprovação de Dilma nas cidades nas quais faz pesquisas de intenção de voto para prefeito. Nas capitais mais relevantes do país, a presidente registra uma curva descendente.
Tome-se a cidade de São Paulo e seus 8,6 milhões de eleitores. Numa pesquisa realizada nos dias 5 a 7 de maio, a administração Dilma teve expressivos 65% de "ótimo" e "bom" entre os paulistanos. No final de julho, essa taxa caiu para 57%. Ontem, no último levantamento do Ibope sobre a eleição de prefeito na capital paulista, a popularidade dilmista marcou 55%.
O primeiro aspecto a ser notado é que 55% é uma taxa de aprovação para lá de confortável. Ainda assim, não deixa de chamar a atenção a queda de dez pontos percentuais em menos de quatro meses.
No mesmo período, a taxa de aprovação do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, ficou estagnada na capital: oscilou de 42% para 41%. O tucano está bem atrás da petista, embora sua popularidade não tenha sofrido erosão.
As pesquisas do Ibope não apontam as razões pelas quais Dilma teria perdido pontos na cidade de São Paulo ou em outras grandes capitais -o movimento foi generalizado. O desaquecimento da economia pode ser um fator a considerar.
Também é necessário levar em conta as greves generalizadas no serviço público federal. A classe média sente o baque ao ser mal atendida nos aeroportos ou na hora de tirar passaporte. Esse é um setor do eleitorado que cada vez mais se apaixonava pela presidente.
Há indícios de aquecimento da economia perto do final do ano. As greves uma hora acabam. Mas o momento atual é de viés de baixa para Dilma nas capitais do país.

A privatização da Dilma é outra - GUILHERME FIUZA

O GLOBO - 18/08


O PSDB publicou anúncio parabenizando Dilma Rousseff pela privatização de rodovias e ferrovias. O PSDB se sentiu esperto com essa manobra: de tanto perder eleições, aceitou que a privatização é um estigma - e tenta colá-lo no governo popular, fingindo que o congratula. Seria uma forma de oposição muito sagaz, se o partido fosse um grêmio estudantil.

Os tucanos perderam o bonde da história. Não souberam mostrar à opinião pública a verdadeira privatização feita pelo PT - muito mais sofisticada e profunda do que essa anunciada agora. Nunca antes na história deste país o poder público tinha sido tão bem reprogramado para a alimentação privada. O julgamento do mensalão é a melhor prova disso. Em vez de ter que se esconder da população e torcer para ser esquecido, um mensaleiro como João Paulo Cunha - condenado no voto do ministro Joaquim Barbosa por lavagem de dinheiro, peculato e corrupção passiva - é candidato a prefeito. Tamanha desinibição mostra que a privatização do PT deu certo.

Talvez Cunha fique pelo caminho, mas isso não fará diferença. O ex-ministro Luiz Gushiken, por exemplo, com todas as evidências de que estava no centro do valerioduto, sequer é réu no processo. Até José Dirceu, o primeiro a cair em desgraça, viveu muito bem, obrigado, esses anos, fazendo lobby nacional e internacional com o crachá do governo popular. Não há dúvida, o esquema parasitário funcionou.

E a opinião pública brasileira é cúmplice da operação. Como acaba de declarar com muita propriedade o ministro Gilberto Carvalho, guardião dos gabinetes de Lula e Dilma, depois do escândalo veio a reeleição do primeiro e a eleição da segunda - porque o povo entendeu e "apoiou o processo". A chance de inocência do eleitorado era justamente não ter entendido "o processo". Mas Carvalho tem razão. O povo compreendeu bem que o maior escândalo da República foi engendrado pela cúpula do PT, e assinou embaixo. Em duas vias.

Essa chancela valeu ouro para a revolução da boquinha. Se o Brasil tivesse avisado, em 2006, que não topa esse tipo de coisa, jamais teria aparecido uma Erenice Guerra chefiando a Casa Civil, cheia de parentes e amigos fazendo bons negócios com contratos públicos. Antonio Palocci também não teria privatizado o software da Fazenda, tornando-se um grande consultor privado no quintal do poder. Fernando Pimentel, que usou a mesma tecnologia, nem precisou largar o cabide - está aí até hoje como um monumento à união civil entre o poder governamental e o bolso dos companheiros.

Cúmplice dessa festa, a opinião pública reputa Dilma Rousseff como uma "gerente durona" - provavelmente a única do planeta que mantém um amigo escondido no cargo de ministro do Desenvolvimento. A gerente durona, a quem Dirceu passou o bastão quando derrubado pelo mensalão, montou um governo em que sete ministros caíram de podres no primeiro ano. Quase todos estavam praticando exatamente o esquema consagrado no mensalão: contratos públicos inventados para abastecer os partidos e ONGs companheiras .

O PSDB não vê que essa é a grande privatização de Dilma.

Ou então vê, mas se cala, porque também vê quase 80% dos contribuintes sangrando felizes, dando aprovação recorde a tal gerência. Pusilânime, o PSDB quer virar sócio do mal-entendido, tratando dissimuladamente a privatização de estradas e trilhos como um ônus para o PT. Pérolas da covardia ideológica.

Se os brasileiros tivessem dito um não rotundo ao esquema do mensalão, também não haveria a orgia Delta-Cachoeira. São escândalos da mesma idade, mas o segundo não teve o seu Roberto Jefferson - e prosseguiu à sombra de um governo cujo principal programa de obras acabou à mercê de um empresário picareta, mancomunado com um bicheiro. Foi assim que o Dnit (esse mesmo que cuida das rodovias e ferrovias) virou feudo de Carlinhos Cachoeira. Das duas, uma: ou o bicheiro foi estatizado, ou aí estava mais uma etapa dessa privatização subterrânea que o Brasil consagrou. Os neoliberais têm muito que aprender sobre redução (subtração) do Estado.

A doutrina Lula/Dilma de ocupação do poder como meio de vida é um sucesso, e faz escola pelos quatro cantos do país. Basta ser amigo do governo popular, portanto defensor dos pobres, e correr para o abraço (aos cofres públicos). Não tem erro. A toda hora, de onde menos se espera, sai um candidato ao benefício do Bolsa Estado.

Até na arena do mensalão a moda pega. Todos se lembram de Nelson Jobim, como ministro do Supremo Tribunal Federal, defendendo José Dirceu com unhas e dentes e depois virando ministro da Defesa de Lula. Pois ninguém se surpreenda se o atual presidente do Supremo virar em breve candidato a senador pelo PT.

Eis aí uma boa ideia para os espertos do PSDB: armar os candidatos do partido com bandeiras vermelhas e estrelinhas.
Talvez nem precisem mais falar mal das privatizações.

Infraestrutura = oportunidade - ANTONIO CORRÊA DE LACERDA


O Estado de S.Paulo - 18/08


Finalmente se avança em direção a enxergar a infraestrutura como uma oportunidade para o desenvolvimento do País, no mais das vezes apontada só como gargalo para o crescimento, o que é de fato, mas não só. Especialmente num contexto internacional que combina crise nos países avançados e um sobreinvestimento na China, as carências de infraestrutura no Brasil se apresentam como enormes oportunidades. Como há muito por fazer por aqui, isso representa uma alternativa de investimentos, tanto de origem local quanto estrangeira.

O quadro de juros internacionais baixos, até mesmo negativos, também favorece uma realocação de portfólio pelos gestores de fundos de investimentos, que precisam diversificar suas inversões para proporcionar aos seus cotistas atingir as metas atuariais. O mesmo fenômeno também ocorre localmente. A redução de juros tem acelerado a busca por financiamento de projetos.

Tem havido maior desembolso de investimentos em infraestrutura no Brasil, mas eles têm-se mantido em apenas 2% do PIB, na média do último decênio. É um montante significativamente abaixo do observado em outros países em desenvolvimento, como Índia, 5,6%; Colômbia, 5,8%; Chile, 6,2%; e China, 7,3%.

Recém-anunciado pelo governo federal, o Programa de Investimentos em Logística (PIL) prevê concessões em rodovias e ferrovias, numa primeira etapa, num montante de R$ 79,5 bilhões nos próximos cinco anos. Em seguida haverá outras rodadas a serem anuncias em complemento, nas áreas de portos, aeroportos e energia. Para a coordenação do processo, está sendo criada a Empresa de Planejamento e Logística (EPL), resgatando antiga experiência brasileira com o Grupo Executivo de Integração da Política de Transportes (Geipot), que teve papel relevante em outros tempos e sob outras condições e cuja experiência pode ser aproveitada, com a necessária adaptação às circunstâncias atuais.

O PIL representa importantes progressos. O primeiro avanço é sair da falsa dicotomia Estado versus mercado. É preciso aprender com erros do passado e evoluir numa direção mais pragmática. Ao mesmo tempo que não se pode cair no "canto da sereia" de que o mercado resolve tudo - o que já se mostrou equivocado -, tampouco um estatismo exacerbado representa solução, pois não há recursos financeiros e humanos públicos suficientes para atender ao enorme desafio de transformações que se apresenta para o País.

É possível delegar tarefas públicas ao setor privado, mas desde que o Estado não renuncie ao seu papel precípuo de coordenação, definição de regras e acompanhamento e fiscalização das operações, implicando consequências.

O custo mais elevado para a sociedade é a não prestação de serviços públicos, inexistência ou má qualidade de infraestrutura. Mas isso não pode ser justificativa para a prática de pedágios e tarifas elevadas, como se observa em muitos casos. Temos de viabilizar uma prestação eficiente de serviços com tarifas e remuneração dos investidores de forma justa.

O segundo ponto importante é uma visão integrada de infraestrutura e logística, algo imprescindível especialmente num país de dimensões continentais e topografia complexa como o nosso.

Como tudo o que envolve anúncios de pompa de iniciativas governamentais, o desafio é implementar efetivamente as ações. Infelizmente, em muitos casos, as boas intenções não se traduzem em medidas efetivas, e o assunto acaba esquecido em meio à sobreposição de programas e à burocracia estatal.

A necessidade nos imporá o senso de urgência e a consciência de que as iniciativas não se encerram no anúncio, da mesma forma que não prescindem da definição de prazos, recursos, responsabilidades e medições de desempenho.

Não temos mais tempo a perder. Parafraseando um ilustre ex-ministro, há muitos temas importantes, mas que só se tornam prioridade para o governo quando urgentes. Trata-se do caso em questão.

Lenha na fogueira - VERA MAGALHÃES - PAINEL


FOLHA DE SP - 18/08


No auge do julgamento do mensalão, a autobiografia que o ex-deputado federal pelo PT Antonio Carlos Biscaia lança em 3 de setembro será um novo revés para o partido. Biscaia, que presidia a CCJ em 2005, diz ter sofrido pressão de José Dirceu para paralisar o processo de cassação contra ele na comissão. Narra a influência de Roberto Jefferson no início do governo Lula e afirma que Ricardo Berzoini (SP), que presidia o PT, negociou o dossiê dos "aloprados" contra o PSDB em 2006.

O cara O ex-deputado diz no livro que, em fevereiro de 2003, pediu a Dirceu que não nomeasse um aliado de Jefferson para a Delegacia Regional do Trabalho do Rio. "Não. A indicação é do Jefferson", teria respondido o então titular da Casa Civil, que prometeu investigar os nomes levados pelo petebista.

Digital No caso dos aloprados, Biscaia, que presidia a CPI dos Sanguessugas, diz que Berzoini lhe pediu para receber Jorge Lorenzetti, chefe de inteligência da campanha de Lula, que teria dito que a família Vedoin, denunciada por pagar propina na venda de ambulâncias para o governo, estaria vendendo um dossiê contra José Serra.

Outro lado A assessoria de Dirceu diz que ele não se lembra da conversa, mas que acordos políticos são normais em governos de coalizão. Berzoini não foi localizado para comentar o livro.

Não cola Ministros do Supremo Tribunal Federal reagiram à surpresa de Ricardo Lewandowski com a decisão de Joaquim Barbosa de fatiar seu voto no julgamento. Um colega afirma que o revisor "trabalhou pela crise'' e "posou de vítima'' ao insinuar que decisões foram impostas.

Climão Aliado do revisor em questões polêmicas, Marco Aurélio Mello também é alvo de críticas de colegas, que o condenam por ter questionado publicamente o saber jurídico de Cezar Peluso em direito criminal. "Eu já vi gente comentar elogio que recebe, mas não criticar elogio aos outros'', diz um ministro.

Quórum Ante a confusão sobre procedimentos, assessores do STF dizem que ministros que votarem pela absolvição de réus não podem votar sobre a extensão da pena em caso de condenação.

Corpo e alma O ministro Fernando Pimentel (Desenvolvimento) foi liberado por Dilma Rousseff a tirar férias em setembro para se dedicar à candidatura de Patrus Ananias (PT) em Belo Horizonte. Ele já tirou alguns dias em julho para montar a campanha.

Causa própria Petistas afirmam que Dilma pediu que o ministro mergulhe na disputa na capital mineira, que tomou como prioridade, mas para Pimentel o interesse passa pela costura de sua candidatura ao governo de Minas Gerais em 2014.

Round Em rota de colisão com o PT, o governador Eduardo Campos (PE) disputa com o colega petista Jaques Wagner, da Bahia, qual será o aeroporto que centralizará conexões ("hub") no Nordeste na próxima etapa do pacote de concessões.

Café... Ao defender, em entrevista à Folha, primárias para escolha do candidato em 2014, o governador Geraldo Alckmin estimula debate que lhe favorece. O PSDB paulista tem 87 mil filiados com cadastro ativo e recém-atualizado, o maior colégio eleitoral do partido.

... com leite Ainda que a maior aposta seja que Alckmin quer mesmo disputar a reeleição, aliados do governador entendem que sua sinalização de que não descarta a Presidência evidencia a Aécio Neves que sua postulação ao Planalto precisará de amplo respaldo da base paulista para ser referendada.

com FÁBIO ZAMBELI e ANDRÉIA SADI

tiroteio

"Tá explicado por que o Serra errou o nome do Brasil em entrevista e agora diz que o trânsito da cidade não piorou: ele vive nas nuvens."

DO PRESIDENTE DO PT-SP, ANTONIO DONATO, coordenador da campanha de Fernando Haddad, sobre José Serra usar helicóptero durante a campanha.

contraponto

Apita o juiz

Após exaustiva sessão de discussão de preliminares ao voto de Joaquim Barbosa, na quarta-feira, o ministro Marco Aurélio Mello deixava o plenário do SFT quando cruzou com Ricardo Lewandowski. O revisor chamou o colega e disse que queria conversar com ele.

Foram interrompidos por uma jornalista que perguntou se Mello estava ansioso para ir logo embora e assistir ao jogo do Flamengo, seu time do coração.

-Pois é! É hoje, 21h50! -, disse o ministro, apressado.

Surpreso, Lewandowski se desculpou pelo atraso:

-Ah é? Tentei ser o mais breve possível na leitura!