sábado, agosto 06, 2011

WALCYR CARRASCO - Trabalhar em casa


Trabalhar em casa
WALCYR CARRASCO
Revista Veja - SP

Sempre me considerei privilegiado. Há anos trabalho em casa. Escrevo minhas crônicas, novelas e meus livros de pijama. Muitas vezes sem fazer a barba e de cabelos espetados, porque sou do tipo que odeia um pente. Levanto para tomar cafezinho, fofoco no telefone e depois varo a madrugada para recuperar o tempo perdido. Adoro. É muito mais confortável do que quando tinha emprego formal, onde era obrigado a comparecer todos os dias, cumprir horários e aguentar chefes mal-humorados. Sinto falta, sim, de fazer amigos no dia a dia. É mais solitário, mas sou louco pelo meu cantinho. Sou capaz de ficar dois, três dias sem pôr o pé na rua. Agora, com os filmes saindo em DVD tão depressa e com tantas lojas virtuais, saio cada vez menos.

Meu modo de vida está se tornando normal para muita gente. Não só nos empregos “artísticos”. Minha sobrinha Andrea trabalha numa grande empresa multinacional, de ponta em seu setor. Tem um cargo executivo e a opção de trabalhar em casa quando quer. Cercada de computadores de última geração e internet wi-fi, Andrea administra sua área de casa. Discute as linhas de ação constantemente com o big boss do setor, que passa a maior parte do tempo nos Estados Unidos, mas também convive com seu filho pequeno e administra a vida doméstica. Faz questão de ir à sede regularmente, por opção.

Recentemente, vi um lançamento imobiliário que vendia o apartamento com o escritório acoplado, com entrada independente! Ou seja, as construtoras estão antenadas na tendência. Já conheci terapeutas que transformaram um cômodo do apartamento em consultório. O pai de um amigo meu fechou sua agência de turismo em Alphaville, sólida, para montar seu escritório no mezanino da sala. Está felicíssimo. Não tem mais a estrutura de antes. Não perdeu renda e diverte-se mais. Como vou com frequência ao Rio de Janeiro, procurei um personal trainer por lá. Tomaz montou uma miniacademia na sala de seu apartamento! Tem todos os aparelhos básicos. E aproveita para ficar com a filha bebê nos intervalos.

— Foi a melhor coisa que fiz! — alegra-se.

Trabalhar em casa torna a vida mais confortável. Não é preciso pegar trânsito nem perder horas na ida e na volta do serviço. Gasta-se menos com refeições, roupas... O tempo rende mais. Há uma desvantagem, é claro. Os resultados não são medidos por horas, mas por tarefas. No meu caso, por exemplo, tenho de escrever a crônica, depois o capítulo... e assim vai. É preciso ter muita disciplina, porque não há ninguém cobrando. Muitas vezes, torna-se necessário dedicar-se mais tempo do que num expediente comum. Mas o que é melhor? Trabalhar descalço e de moletom ou de paletó e gravata?

Uma amiga manteve um escritório comercial de representações em casa durante mais de dez anos. Fazia tudo pelo telefone e pela internet. Seu telefone fixo conectava-se diretamente com o celular. Certa vez fomos à praia juntos. Estávamos deitados na areia, tomando sol como lagartos. Tocou o celular. E ela, de biquíni, agiu como se estivesse em um escritório tradicional. Negociou, discutiu, fez novas ligações, levantou preços. E vendeu! Depois de despachar alguns caminhões de produtos químicos, suspirou fundo, passou mais bronzeador e voltou a tomar sol. Eu, pasmo:

— Como você consegue?

— É só ter tudo bem organizado! — declarou.

Eu já estaria morando feliz em alguma pequena cidade do interior, onde conhecesse os vizinhos, fizesse tudo a pé e pudesse passear em rios e cachoeiras. Só não me mudei ainda por causa da violência presente no interior paulista. Atualmente, talvez só isso impeça um êxodo para as pequenas cidades. Trabalhar em casa é o futuro de muita gente.

Carlos Apolinário: "Vivemos uma ditadura gay"


Carlos Apolinário: "Vivemos uma ditadura gay"


Vereador do DEM fala sobre a aprovação do projeto do Dia do 

Orgulho Heterossexual pela Câmara Municipal de São Paulo

REVISTA VEJA - SP

undefined Foto 2-Cansei!: vereador diz que vai encerrar sua vida política

Após causar polêmica ao propor o Dia do Orgulho Heterossexual, o vereador Carlos Apolinário (DEM) volta ao palco da controvérsia com a aprovação do projeto pela Câmara Municipal de São Paulo, na última terça (2). A nova data, agora, só depende da sanção do prefeito Gilberto Kassab.

Em entrevista, Apolinário conta o que pensa sobre as reações contrárias à sua ideia.

VEJINHA.COM — Com a aprovação do Dia do Orgulho Heterossexual pela Câmara Municipal, o senhor está mais confiante na sanção do prefeito Gilberto Kassab?
Carlos Apolinário —
 Não faço uma avaliação da situação ou tento descobrir o que o prefeito irá ou não decidir. Eu poderia ligar para ele e tentar convencê-lo, mas não quero constrangê-lo. Essa é uma decisão que deve vir da consciência do prefeito. Principalmente depois da aprovação na Câmara, os gays intensificaram a campanha contra mim e o meu projeto. Poderia também organizar uma campanha na internet, tenho um enorme cadastro de pessoas que pensam como eu. Mas não quero contribuir para esse clima.

VEJINHA.COM — Acredita que o projeto pode ser vetado por conta das manifestações contrárias?
Carlos Apolinário —
 Acho que os gays e outras pessoas contrárias não entenderam o conceito do meu projeto. Eles estão agindo como se o Dia do Orgulho Heterossexual fosse proibir a homossexualidade, como se eu fosse contra outras opções sexuais. Não é nada disso! A ideia é criar um dia em que as pessoas reflitam sobre os privilégios para os homossexuais. Usar o dinheiro público para entregar camisinha e outras coisas durante a Parada Gay, por exemplo, é um excesso para mim. Ser gay é uma escolha, mas tem sido tratado como um privilégio e, se você vai contra isso, é atacado. Vivemos uma ditadura gay. Eu já recebi ameaças no meu gabinete e hoje [quinta] minha página na internet (http://www.carlosapolinario.com.br/) foi hackeada. Dá a impressão de que os gays não aceitam uma opinião contrária a deles.

VEJINHA.COM — Sancionar o projeto do Dia do Orgulho Heterossexual atrapalharia o trabalho de Gilberto Kassab na prefeitura de São Paulo?
Carlos Apolinário —
 Quando a Dilma suspendeu o “kit gay” das escolas, foi taxada de homofóbica e duramente criticada. Tudo para os gays é uma chantagem. Ou você faz do jeito que eles querem ou eles não votam mais em você, retiram o apoio eleitoral, enquanto deveriam ver a política como um todo. Eu, por exemplo, tenho outros projetos, mas todo mundo só me pergunta sobre esse do orgulho hétero. Não acredito que apoiar o projeto vai complicar a vida do prefeito porque os gays não elegem ninguém. Eles são bem ativos, mas não tão numerosos.

VEJINHA.COM — A instituição do Dia do Orgulho Hétero é uma estratégia eleitoral?
Carlos Apolinário —
 Não, porque não serei mais candidato a vereador. Estou fora! Cansei dessa vida política. Além disso, o projeto existe faz tempo, já passei com ele por três períodos eleitorais e isso não me ajudou ou atrapalhou. O projeto visa a reflexão quanto aos excessos e um respeito mútuo entre as diferentes opções sexuais. É até para os próprios gays pensarem que devemos respeitar as opções e opiniões de todos, mesmo dos héteros. Não sou Deus nem juiz da vida de ninguém. Se duas pessoas do mesmo sexo querem morar juntas, o problema é delas. Só não acho certo tratar o tempo todo os homossexuais como se fossem vítimas.

FERNANDA TORRES - Londinium


Londinium
FERNANDA TORRES
Revista Veja _ RIO

Passei uma semana em Londres. Na última vez em que estive lá, multiplicava-se o preço em libras por sete para saber quanto as coisas custavam em reais. Agora, pasmo, o caro é sobreviver aqui no Rio.

O verão londrino é tão frio quanto o outono/inverno carioca. Isso faz pensar na falta de sol que aquela ilha deve enfrentar de outubro a maio todos os anos. Saí de casa com pena de perder os dias frescos, mas bastaram algumas horas de espera no vergonhoso terminal do Aeroporto do Galeão para ser tomada pelo desejo incontrolável de ir embora.

Depois de deixar a polícia, o turista desavisado dispõe apenas de uma lanchonete encardida e um diminuto free shop para resolver as emergências. Não há farmácia e, detalhe impressionante, não há nem uma banca de jornal nos portões de embarque.

Qualquer rodoviária tem jornaleiro, será que a porta de saída do Rio de Janeiro é um negócio tão arriscado que não vale a pena montar nem uma desgraça de uma tenda de revistas no corredor de tapumes do Tom Jobim?

Deixei a prova do desmantelo fluminense para trás e cruzei o Atlântico.

Londinium é reconhecida como um centro de comércio e prosperidade desde os tempos do historiador romano Tacitus, 900 anos atrás. Durante séculos, aprimoraram-se, ali, as regras da convivência e o limite da liberdade pessoal.

Meu filho menor, em um movimento digno de uma tartaruga ninja, puxou a alavanca vermelha de emergência ao lado do assento do metrô. O alarme disparou dentro do túnel e continuou zumbindo até chegarmos à próxima estação. Ninguém brigou, não houve cara feia. O vagão riu com sobriedade e voltou para a sua rotina de sempre. Isso em plena era de ameaças terroristas. Um senhor me aconselhou a informar o funcionário da estação sobre o ocorrido, o que fiz prontamente.

Não houve bronca, mas também não senti bom-mocismo em ninguém. É através do pragmatismo cortês que o inglês espera que o resto da humanidade aprenda as regras de sua civilidade.

Um taxista leva quatro anos para tirar a carteira e dirige com a propriedade de quem possui curso superior. De 100 inscritos, apenas um ganha o direito de conduzir nas centenárias ruas. Sabem de cor as mais de 10 000 vielas e avenidas da capital e servem de guia quando preciso.

Com um distanciamento caloroso, eles devotam a mesma atenção aos bêbados, às senhoras idosas, aos bebês barulhentos e aos compatriotas cientes da etiqueta.

Tenho um casal de amigos que se mudou para Richmond, um subúrbio belíssimo distante trinta minutos de metrô do centro de Londres.

Conversando sobre a estranheza dos hábitos em além-mar, meu amigo observou que o inglês come pouco, virando o garfo para baixo para equilibrar uma porção reduzida de alimento sobre a curva enviesada do talher.

Mãe de suas duas filhas, minha amiga sentiu o disparate entre a nossa cultura e a deles na intimidade das festas infantis. Segundo ela, não se contratam decoradores nem animadores profissionais. Os adultos vêm comidos, não se bate palma no Parabéns e o bolo é cortado e colocado em uma bolsa que as crianças levam para comer em casa.

Eu gosto de bater palmas e acho que engolir o bolo sozinha não tem a mesma graça. Além disso, ficaria frustrada de não empurrar um caminhão de comida goela abaixo com o garfo devidamente virado para cima, mas o Brasil está desenvolvendo uma escravidão consumista para a qual deveríamos ficar atentos. A indústria das celebrações infantis é um exemplo enervante dessa tendência emergente.

“No Brasil, eu era madame, aqui, sou classe média”, disse minha amiga. “É muito bom ser classe média, é uma vida mais simples, libertadora de certa forma.”

A Inglaterra, apesar da rainha, do Parlamento, da libra, do luxo e do Rolls-Royce, é um país de classe média. A rua é um bem comum usufruído por todos e os parques são jardins dignos da realeza ocupados por plebeus educados.

Defendo a tese de que o inglês tem pena de quem não é inglês. O Homo sapiens sapiens é inglês. Os outros podem até ser chamados de Homo, alguns poucos de sapiens, mas só o bretão ostenta essa definição elevada à segunda potência.

MANOEL CARLOS - Outros tempos


Outros tempos
MANOEL CARLOS
Revista Veja - RIO

Nunca me interessei por adquirir antiguidades. Nem por colecionar qualquer coisa, como selos, moedas, caixas de fósforos, cinzeiros de hotéis, adesivos e cachimbos, para citar apenas alguns itens. Também nunca fui de frequentar clubes, ainda que seja sócio de alguns. Meu pai, em compensação, almoçava no clube, passava no clube para ver os amigos, prestigiava a programação cultural e esportiva. Esse clube, na época, era o Piratininga, no centro de São Paulo, onde também se praticava um cartea­do famoso na cidade. Ah, e frequentava o Jockey Club, atividade esportiva que nunca contou com a minha presença.
Meu pai não jogava. Pelo menos era o que ele dizia, sacando uma das frases preferidas de homens bem-comportados:
— O pior dos vícios é o jogo, pois, jogando, acaba-se por fumar, beber e… mentir!
E meu pai se dizia não contaminado pelo que ele denominava de os quatro flagelos da humanidade. E um tio rebatia, com cara maliciosa, o que parecia o resumo do seu comportamento:
— Não tenho vícios pequenos.
Até hoje penso se meu pai dizia a verdade ou se ocultava de nós, crianças e adolescentes, seu interesse pelo pano verde e pelos cavalinhos, para não nos transmitir o seu exemplo. E penso também em que possíveis vícios tio Alécio transitava, se não jogava, não fumava, não bebia e não mentia. Seriam drogas pesadas? Não, tenho certeza que não. Elas não estavam na moda e nem eram consumidas — até os anos 50 — por pessoas da classe média. Então, a frase devia ser apenas… uma frase, provavelmente para ser engraçado ou para colocar nas pessoas a curiosidade e o interesse.
Quanto a mim, jamais me interessei por nenhum tipo de jogo. Nem mesmo o futebol, paixão nacional, à exceção dos jogos da seleção e do Flamengo. Mas nem sempre foi assim.
Nos anos 60, na TV Excelsior (SP), fizemos um programa chamado Ultragol do Pelé, apresentado pelo nosso craque maior, até hoje insubstituível. Durante esse período, apogeu do jogador, já tendo participado de duas Copas (58 e 62), ele já era chamado de rei. E eu, então, um dos seus milhares de súditos, torci pelo Santos Futebol Clube. Nem era bem pelo Santos, para ser sincero, mas pelo Pelé, como quase todo mundo naquele período. Fui muitas vezes ao Pacaembu, vibrar com o jogo sincronizado e de alto nível do time da Vila Belmiro, e dei aos meus filhos, na época com 7 e 8 anos, camisas e bolas autografadas pelo rei.
O Ultragol era um programa simples: Pelé contava histórias do futebol e recebia jogadores e artistas, chegando mesmo a fazer dupla com alguns cantores. Para as entrevistas, o comando passava ao Pedro Luiz, um narrador esportivo como nunca vi igual no Brasil. Depois, para encerrar, Pelé autografava uma bola oficial, chutando-a para a plateia. Era de quem conseguisse pegar, em meio àquela algazarra, que por milagre nunca produziu um acidente. Fazíamos o programa no estúdio principal da Excelsior — que era o grande auditório do Teatro Cultura Artística, no centro de São Paulo, com mais de 1 000 lugares.
Quase sempre, depois do programa, saíamos para jantar num dos restaurantes da Praça Roosevelt e adjacências, como o Gigetto e a Baiuca. E, nesses fins de noite, sempre cercado de admiradores, Pelé nos contava outras histórias. Formá-vamos um grupo unidíssimo, formado, entre outros, por Álvaro de Moya, Jô Soares, Roberto Palmari, Cyro Del Nero, Jayme Barcelos, Orfeu Gregori e Flávio Rangel. Era uma época de ouro, com a TV Excelsior brilhando nem tanto em audiência — mas em espírito, em preocupação cultural. Uma emissora diferenciada, única, comandada com inteligência pelo Moya. E, para que vocês tenham uma ideia mais clara do que era o espírito da TV Excelsior, basta dizer que foi lá, naquele mesmo palco de onde Pelé chutava a bola para a plateia, que apresentamos entrevistas longas — ao vivo — com Ionesco, Simone de Beauvoir e Jean-Paul Sartre. Só craques. Como o Pelé.
Bons tempos!

Outros tempos!

AUGUSTO NUNES - Só no Brasil


Só no Brasil
AUGUSTO NUNES
VEJA ONLINE

A troca de Nelson Jobim por Celso Amorim informa que Luiz Inácio Lula da Silva continua no comando, mas agora conjuga os verbos nomear e demitir com diferentes identidades. Quando nomeia, é Lula. Na hora de demitir, disfarça-se de Dilma Rousseff. Antonio Palocci, Alfredo Nascimento e Nelson Jobim culpam a afilhada pela perda do emprego que ganharam do padrinho. Alguém precisa contar-lhes que a ascensão e a queda foram determinadas pela mesma pessoa.

Em 1° de janeiro, quando fingiu entregar o cargo, a versão carnavalesca de Hugo Chávez festejou, simultaneamente, a proclamação da República Bipresidencialista do Brasil, o começo do terceiro mandato e a invenção do presidente com codinome. Lula é o chefe supremo, que tudo decide. Dilma é a gerente, que executa qualquer serviço. Nas páginas dos jornais e na imaginação da oposição oficial, todo fim de crise anuncia o início do novo governo. No mundo real, faz oito anos e meio que está no poder a metamorfose ambulante.

Há menos de uma semana, Lula enxergava em Jobim um gênio da raça. “Não tem um brasileiro que possa fazer o trabalho com a competência que ele está fazendo”, garantiu em 31 de julho. “Ele conduz o Ministério da Defesa com muita grandeza, está fazendo um trabalho excepcional”. Nesta quinta-feira, depois de autorizar Dilma Rousseff a mexer no time, explicou que “até o Pelé, se estiver jogando mal, o técnico tira, pô”. Jobim saiu de campo por ter constatado que Ideli Salvatti é fraquinha e Gleisi Hoffmann nem conhece Brasília.

Os dois gols convenceram o dono do clube de que o craque insubstuível da semana anterior poderia ser substituído por qualquer palerma diplomado em sabujice e imune a surtos de sinceridade. E então nomeou Celso Amorim.

RUTH DE AQUINO - Uma epidemia que mata 100 por dia

Uma epidemia que mata 100 por dia
RUTH DE AQUINO
REVISTA ÉPOCA

Época
RUTH DE AQUINO é colunista de ÉPOCA
raquino@edglobo.com.br
A causa não é fome, guerra, vírus ou bactéria. Uma vida se perde a cada 15 minutos em acidentes de trânsito no Brasil. Olhe seu relógio e pense: “100 brasileiros morrem a cada 24 horas em ferragens, no asfalto e na calçada”. Por ano, são 36 mil – no cálculo mais conservador. Esses são os mortos. Sem contar os amputados e paraplégicos. Motoristas, passageiros, pedestres, ciclistas, motociclistas. Eu sei, você sabe. E quem dirige carros potentes, alcoolizado e a 150 quilômetros por hora também sabe.
Desastres recentes, no Estado de São Paulo, envolveram gente de muita grana e na idade mais perigosa segundo as estatísticas da violência sobre rodas: entre 20 e 30 anos.
A nutricionista Gabriella Guerrero Pereira, de 28 anos, perdeu o controle do Land Rover blindado e atropelou na calçada o administrador Vítor Gurman, de 24, na Rua Natingui, na Vila Madalena, bairro com bares e restaurantes lotados à noite. Gabriella deu entrevista, chorou, disse que assumiu a direção do carro “robusto mas instável” porque o namorado estava bêbado. “A rua é muito estreita para a proporção do carro. O acidente aconteceu”, disse ela. Gabriella não fez exame de bafômetro “porque o PM não pediu”. O PM desmentiu. Disse que ela se recusou. Vítor morreu dias depois do atropelamento.
O engenheiro Marcelo Malvio Alvez de Lima, de 36 anos, dirigia um Porsche na Rua Tabapuã, no bairro Itaim Bibi. Num cruzamento, chocou-se com o Tucson da advogada Carolina Menezes Cintra Santos, de 28 anos. Carolina tinha cometido um erro: ela passava o sinal vermelho lentamente, quando foi atingida pelo Porsche de Marcelo. O engenheiro foi acusado de estar a 150 quilômetros por hora, numa rua que permite velocidade máxima de 60 quilômetros por hora. Ele nega. “Não sou bandido”, disse, em entrevista. Tinha bebido, segundo ele, “não mais do que duas taças de vinho”. Não gostou de ficar conhecido como o “dono do Porsche”. Sobre o desastre, afirmou: “Aconteceu um acidente, ela faleceu, com certeza isso estava nos planos de Deus”. Marcelo pagou R$ 300 mil de fiança. Carolina morreu no instante da colisão.
O administrador João Luís Raiza Filho, de 30 anos, perdeu o controle de seu Chevrolet Camaro, subiu no canteiro de uma praça em São Bernardo do Campo, bateu em árvores e derrubou um muro. Como estava nu da cintura para baixo, um PM precisou emprestar a ele uma cueca para sair do carro. No banco ao lado do motorista, havia uma garrafa vazia de uísque. Raiza Filho já foi personagem de “Nossa Antena”. Em outubro de 2007, o playboy, então com 27 anos, destruiu sua Ferrari na véspera do GP de Fórmula 1 em São Paulo. Bateu sob um viaduto. Deu cabeçada na boca de um cinegrafista. Teve de pagar R$ 3 mil pela agressão. Há quatro anos, esta coluna dizia o seguinte: “Numa sociedade em que nossos atos têm consequência, esse rapaz seria condenado a prestar serviços à comunidade. Se seu castigo for apenas trocar uma Ferrari por um Mercedes, nada mudará em sua vida”. E não mudou mesmo. Errei na marca do novo carro.
Olhe seu relógio e pense: uma vida se perde a cada 15 minutos em acidentes de trânsito no Brasil
Raiza Filho não matou ninguém ainda. Mas é evidente que ele e milhões de motoristas são um perigo real para si e para a sociedade. Pilotam estimulados por álcool, deprimidos por drogas ou excitados pela sensação de onipotência. Ainda há os que simplesmente não sabem dirigir e não poderiam ter carteira de habilitação. Temos ao volante um exército de homicidas e suicidas em potencial. O trânsito brasileiro mata 2,5 vezes mais que nos Estados Unidos e 3,7 vezes mais que na Europa, segundo um estudo divulgado em dezembro de 2009.
“Não é possível que haja no Brasil muitos problemas mais graves do que 100 mortos em acidentes a cada dia.” A declaração é do diretor-geral de trânsito na Espanha, Pere Navarro Olivella, de 59 anos. A Espanha reduziu em 57% as mortes nas estradas. Não basta educar, é preciso vigiar e punir. As campanhas devem ser duras, segundo ele: “Ridicularizar infratores reincidentes, mostrar deficientes e crianças acidentadas na TV”. Acidente de trânsito “não é maldição divina e deve ser combatido como doença grave”, disse Olivella. Chega de culpar o destino e Deus.

TUTTY VASQUES - Um ego por outro


Um ego por outro
TUTTY VASQUES
O ESTADÃO - 06/08/11

Tamanho não é documento! Vinte e tantos centímetros mais baixo que seu antecessor no Ministério da Defesa, Celso Amorim não fica nada a dever a Nelson Jobim em matéria de ego imensurável. Nesse aspecto, aliás, o ex-chanceler dará decerto continuidade à obra do ex-ministro que não cabe em si.

Jobim e Amorim são de uma cepa de ministros movidos a vaidade do cargo. Eles podiam estar roubando, mas se dão por satisfeitos com os holofotes, as primeiras páginas, a bajulação, a solenidade, a liturgia, enfim, do posto. O Márcio Thomaz Bastos - lembra dele? -, ex-ministro da Justiça de Lula, também jogava nesse time.

É gente que estudou, sabe falar, não chegou lá pelo sistema de cotas dos partidos. Entrou nessa roubada atraída pela luz do poder, precisa deste palco para se exibir intelectualmente.

Sabe Deus como foram os últimos meses na vida de Celso Amorim longe da cena pública! A julgar pela festa que a família fez ao saber que ele estava voltando para o governo, foram tempos difíceis para todos que dividiram a casa com o ego espaçoso do ex-chanceler. Imagina o sufoco dos parentes de Nelson Jobim agora que ele não tem nada pra fazer em Brasília!


Toda prosa

"FRAQUINHA É A GISELE BÜNDCHEN! EU ESTOU NO PESO CERTO!"

Ideli Salvatti, desdenhando Nelson Jobim


A propósito...

Que fim levou aquele ministro mais fraquinho que a Ideli Salvatti, o cara de bigode que a substituiu no Ministério da Pesca?


Fredisque-Denúncia

A exemplo do que aconteceu com o Disque-Dentuço, movimento da Raça Rubro-Negra que botou Ronaldinho Gaúcho na linha, a torcida organizada do Fluminense lançou o Fredisque-Denúncia, serviço aberto à deduragem de quem encontrar o centroavante tricolor nas noites cariocas. O jogador está, por ora, se sentindo perseguido, mas isso passa!

Forcinha

Se a ideia era botar fotos obscenas na internet, os três rapazes presos no Rio em pose de calça arriada diante de uma cabine da PM devem à polícia uma tremenda força na divulgação da palhaçada. Saiu até na televisão!

Pindaíba danada

Bo, o cão d"água português das filhas de Obama, espera que sua ração não entre nos cortes do governo. A sogra do presidente também não quer sobrar nas viagens internacionais da família. Enfim, está rolando um certo climão na Casa Branca!

Um para o outro

Foi comovente o reencontro de Adriano com a bola nos treinos do Corinthians. A pobrezinha não se emocionava tanto desde a despedida de Ronaldo Fenômeno.

Não pegou

Sempre à frente de seu tempo, o Rio é a primeira capital do Brasil a descumprir descaradamente a lei que veta o uso de celular em bancos. Em São Paulo, a proibição ainda depende de sanção do prefeito Gilberto Kassab.

MERVAL PEREIRA - Mudança de rumo?


Mudança de rumo?
MERVAL PEREIRA
O Globo - 06/08/11

Em termos de um governo petista, a nomeação de Celso Amorim foi uma demonstração da importância que a presidente Dilma dá ao Ministério da Defesa, mas esse seu gesto não foi suficiente para agradar aos militares, que entenderam a nomeação como uma espécie de desafio da esquerda. A nomeação teve o condão de esclarecer também o que realmente a presidente pensa sobre o trabalho de Amorim à frente do Ministério das Relações Exteriores.

A percepção generalizada era que a não permanência de Celso Amorim no Itamaraty, apesar de seu desejo e da tentativa de Lula de mantê-lo, significava uma discordância de Dilma com os rumos de nossa política externa.

A declaração da presidente contra o apedrejamento de mulheres no Irã e a favor dos direitos humanos foi compreendida como mais um passo no rumo contrário ao que se defendia na gestão anterior.

Pois hoje se sabe exatamente o que Dilma pensa de Amorim, que assume o Ministério da Defesa "porque ele já deu mostras de ser um brasileiro muito dedicado ao Brasil.".

Esse "brasileiro dedicado" terá questões delicadas para comandar, como as negociações políticas sobre a Comissão da Verdade, e o temor dos militares é que Amorim tenha uma visão esquerdista.

Jobim era visto pelos militares como o garantidor dos limites dessa comissão, que não promoveria a retaliação política nem colocaria a lei de anistia em xeque, mas apenas levantaria aspectos históricos dos embates nos tempos da ditadura.

Terá também de convencer os militares de que não os colocará em aventuras esquerdistas a nível regional, e que a imagem política internacional do Brasil, principalmente devido ao apoio dado ao programa nuclear do Irã, não trará prejuízos ao nosso programa nuclear.

O receio dos militares é que os organismos fiscalizadores internacionais, como a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), fiquem mais rigorosos com os projetos nucleares brasileiros com a indicação de Amorim para a Defesa.

Certas posições, defendidas pelo ex-ministro Nelson Jobim por se tratarem de questões de Estado, na boca de Celso Amorim podem ganhar novas conotações políticas. A posição brasileira de não assinar o protocolo adicional do TNP é uma delas. O governo brasileiro considera, com razão, as salvaguardas existentes suficientes para estabelecer se o urânio está ou não sendo usado para fins pacíficos.

Temos também dois regimes de salvaguardas, um com a Argentina e outro com a AIEA, e o país, além de ter assinado o TNP, incluiu na Constituição de 1988 a proibição de fabricação e uso de armas nucleares.

No governo Lula, houve um desentendimento entre as autoridades brasileiras e as da AIEA, que acabou contornado, em relação à inspeção da usina de Resende, com a tentativa dos inspetores de ver as centrífugas que processam o urânio por um método especial, tratado como segredo militar.

Houve também um quase incidente diplomático por causa de uma tese de doutorado de um aluno do Instituto Militar de Engenharia do Exército (IME), o físico Dalton Ellery Girão Barroso, que destrinchou com cálculos e equações informações consideradas sigilosas sobre uma ogiva nuclear americana.

A agência internacional sugeriu que esse estudo indicava que o país estaria fazendo pesquisas que levariam à bomba atômica, além de revelar segredos que poderiam ser usados por terroristas. O Ministério da Defesa teve que entrar no circuito diplomático para impedir que o livro fosse censurado.

Mas o novo ministro da Defesa tem seus trunfos, entre eles o perfil nacionalista, que para muitos marcou sua atuação no Itamaraty, e não o esquerdismo. É sabido, por exemplo, que há setores do governo que avaliam como um erro estratégico a assinatura pelo Brasil do Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares (TNP), em 1997, no primeiro governo de Fernando Henrique.

O que na ocasião foi considerado pelo Itamaraty um gesto de preservação de nossa liderança regional, ao não permitir que a desconfiança dos argentinos sobre nossas intenções nucleares gerasse um ambiente de tensão política, na gestão Lula-Amorim era entendido como uma capitulação diante do poder hegemônico dos EUA.

Embora a tese oficial da diplomacia brasileira seja que é preciso desarmar a todos, é pensamento comum entre as autoridades que, se alguns países podem ter bomba atômica, como Paquistão e Israel, outros deveriam ser acolhidos no clube nuclear. Ou que o verdadeiro problema do Oriente Médio é que Israel tem a bomba atômica, o que justificaria a decisão do Irã de também ir atrás do desenvolvimento de armas nucleares como fator de dissuasão.

Anos atrás, o então secretário de Política, Estratégia e Relações Internacionais do Ministério da Defesa, general-de-Exército José Benedito de Barros Moreira, defendeu em um programa de TV que o Brasil desenvolva a tecnologia necessária para a fabricação da bomba atômica: "Nós temos de ter no Brasil a possibilidade futura de, se o Estado assim entender, desenvolver artefato nuclear. Não podemos ficar alheios à realidade do mundo." O general não foi desautorizado.

Recentemente, outro tema voltou a acender uma luz de advertência em Washington: o ministro da Defesa Nelson Jobim apresentou aos Estados Unidos a discordância do governo brasileiro a qualquer interferência da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) no Atlântico Sul.

O governo brasileiro teme que os EUA possam promover ações multilaterais através da Otan, prescindindo da autorização do Conselho de Segurança da ONU. Por trás dessa posição brasileira está a intenção de proteger as reservas de petróleo brasileiras, especialmente as localizadas no pré-sal.

Como os EUA não ratificaram a Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar, de 1982, o governo brasileiro considera que, teoricamente, a Casa Branca não é obrigada a respeitar a plataforma continental de 350 milhas náuticas de distância e os 4.000 quilômetros quadrados de fundos marinhos do Brasil.

Como se vê, os assuntos da área de Defesa são de alta sensibilidade política, o que qualificaria o ministro Celso Amorim para a tarefa, do ponto de vista de um governo petista mais à esquerda.

Sua escolha por Dilma (ou Lula) seria uma indicação de que a presidente estaria se reaproximando do grupo político de que fazia parte no governo anterior, que levou o segundo governo Lula mais para a esquerda.

ANCELMO GÓIS - O livro de Lula

O livro de Lula
ANCELMO GOIS
O GLOBO - 06/08/11
O escritor e coleguinha Fernando Morais vai escrever um livro sobre os oito anos de Lula no governo. Num encontro, na semana passada, o ex-presidente garantiu ao autor de “Olga” e “Chatô” acesso à toda papelada governamental.

Dilma diz não a Lula 
Do ministro Gilberto Carvalho em longa entrevista à revista “Época” que chega hoje às bancas: — Presenciei vários “nãos” de Dilma para o Lula. Dilma não é “lulodependente”. Lula queria, por exemplo, que ela mantivesse Henrique Meirelles no Banco Central. Dilma disse que não era o caso... É. Pode ser.

Rio+20 fora do Porto
A Rio+20, megaconferência da ONU para o desenvolvimento sustentável, em junho de 2012, não deve mais ser no Porto do Rio, mas no Riocentro, que já será vistoriado hoje pelo chanceler Antônio Patriota.

Aliás...
Não é o primeiro revés do projeto Porto Maravilha. Semana passada, a Escola de Magistratura deixou a Zona Portuária, onde ficou só cinco meses, e voltou para a Centro.

Outros...
Além disso, como se sabe, o COI desistiu de ocupar o prédio da antiga revista “O Cruzeiro”, na Rua do Livramento. Em maio, a Xerox deixou a Avenida Rodrigues Alves e foi para Botafogo. Em setembro, será a vez de a Cedae sair da Saúde e ir para a Cidade Nova.

Clube dos 70
Ney Matogrosso, nosso grande cantor, abriu sua casa, no Leblon, no Rio, ontem, para comemorar com um pequeno grupo de amigos seus 70 anos de vida. O querido Ney nem aparenta a idade que tem.

Rio de cinema

Passou discretamente pelo Rio, mês passado, o cineasta mexicano Alejandro Iñarritú, de “Biutiful”, “Babel” e “Amores brutos”. Veio, exclusivamente, para dirigir um comercial com a Conspiração Filmes.

Bueiros do Rio

O juiz Mauro Pereira Martins, da 4a- Vara Empresarial do Rio, homologou termo de compromisso entre Ministério Público e CEG, em que a concessionária promete fazer obras em sua rede de gás até julho de 2012. Se a CEG não cumprir, terá de arcar com multa de R$ 100 mil — mesmo valor a ser pago em caso de nova explosão de bueiro com vítima.

Voz da África
Mia Couto, o escritor moçambicano, chega ao Rio segunda. Vem abrir o projeto “Estação Pensamento & Arte”, na Biblioteca Municipal de Botafogo, e falar de seu novo livro, “E se Obama fosse africano?”.

Aliás...
A prefeitura planeja transformar a biblioteca numa espécie de Casa do Saber popular.

Cantar de coração 
Roberto Dinamite, presidente reeleito do Vasco, vai fechar o Citibank Hall, na Barra, no Rio, dia 23, para um show em prol do clube só com cantores vascaínos. A direção será do também vascaíno Luiz Cláudio Ramos. Entre as atrações, Paulinho da Viola, Erasmo Carlos, Martinho da Vila, Fernanda Abreu, Marcelo Camelo, Luiz Melodia, Roberto Leal, Nelson Sargento, Sérgio Loroza e Teresa Cristina.

A vida como ela é 

Acredite. A loja de roupas Objetiva, em Madureira, Zona Norte do Rio, exibe no provador o seguinte aviso: “É proibido fazer necessidades na cabine.” A gerência diz que era comum “encontrar o que não devia” ali.

ILIMAR FRANCO - Medo da crise

Medo da crise
ILIMAR FRANCO
O GLOBO - 06/08/11

 A presidente Dilma pediu aos presidentes da Câmara, Marco Maia (PT-RS), e do Senado, José Sarney (PMDB-AP), que não coloquem em votação a PEC 300, a Emenda 29 nem o reajuste salarial do Judiciário. Argumentou que, pelo impacto fiscal, isso seria extremamente negativo em meio à crise econômica internacional. Dilma também pediu pressa na votação de medidas para enfrentar a crise e sustentou que ela ainda não atingiu o pico. Sinal amarelo

A ministra Maria do Rosário
(Direitos Humanos) ligou ontem para o novo ministro da Defesa, Celso Amorim, e marcou uma reunião, na semana que vem, para discutir a criação da Comissão da Verdade. Ela também ligou para a oposição. Reafirmou o diálogo e garantiu que não haverá retrocesso. O x-ministro Nelson Jobim tinha sido fiador de um acordo com o PSDB e o DEM, não só no mérito, para a criação da Comissão da Verdade,
mas também para que a tramitação fosse em regime de urgência urgentíssima. Com Amorim, as negociações recomeçam do zero. "O Amorim é ideológico. Ele vai ter que conquistar nossa confiança", afirmou o líder do DEM, deputado ACM Neto (BA).

"Eu não queria sair. Mas fui falando aqui e ali. Vocês conhecem o meu jeito” — Nelson Jobim, exministro da Defesa, numa conversa com amigos

DISCÍPULO. O presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), contou anteontem, em encontro com a presidente Dilma, a propósito do caso do ex-ministro Nelson Jobim, que Ulysses Guimarães (foto), num período de sua vida, tomava lítio e andou fazendo declarações disparatadas. Sarney recitou algumas delas. Dilma ouviu e, depois, lascou: “Só me falta ele (Jobim) vir com a desculpa de que está tomando lítio.”

Detalhes
 O ex-ministro Nelson Jobim tentou consertar o estrago. Na noite de quartafeira, por volta de 23h, ele ligou para as ministras Ideli
Salvatti (Relações Institucionais) e Gleisi Hoffmann (Casa Civil). Jobim disse que não disse o que disse.

Off
 O ministro José Eduardo Cardozo (Justiça), ao se encontrar com Jobim, na manhã de quinta-feira, em Tabatinga (AM), perguntou:
“Você falou em off?”. No jornalismo, quando um homem público fala em “off” é para não ser identificado.

Ufa! Desta vez é em São Paulo
 O presidente municipal do PT do Rio, Alberes Lima, brincou anteontem, em jantar com o PMDB, quando foi oficializada a aliança para a reeleição do prefeito Eduardo Paes: “Pelo menos desta vez o PT nacional não vai poder dizer que o problema é o Rio. Desta vez o
imbróglio está em São Paulo”. Lá, são cinco os précandidatos e pode haver prévias para definir o nome. O presidente nacional do PT, Rui Falcão, estava presente.

Confusão

 A intenção de Benedita da Silva de disputar a prefeitura de São Gonçalo já provoca confusão. O PT tem dois précandidatos lá: o vereador Miguel Moraes e o deputado estadual Gilberto Palmares. Seu patrono é o senador Lindbergh Farias.

Amarrada
 Adversários da senadora Marta Suplicy (PT- SP) apontam a recente crise com o PR, que deixou o bloco do PT no Senado, como mais um revés para sua candidatura à prefeitura de São Paulo. Seu suplente é Antonio Rodrigues, do PR.

OS PARTIDOS de oposição ao prefeito do Rio, Eduardo Paes (PMDB), estão empenhados, ao lado da direção do PPS, em convencer o deputado federal Stepan Nercessian a disputar a prefeitura.
 O PRESIDENTE da Vale, Murilo Ferreira, deve assumir a copresidência brasileira do Fórum Empresarial Brasil-Canadá, que será criado segunda-feira.
● A COMISSÃO de Legislação Participativa da Câmara completa dez anos dia 10. Sua maior contribuição foi aprovar lei que informatizou o processo judicial, sugerida pela Associação dos Juízes Federais.

ZUENIR VENTURA - O direito à preguiça


O direito à preguiça 
ZUENIR VENTURA
O GLOBO - 06/08/11

Desde o início, ela jamais gozou de boa reputação, e a culpa foi do Criador, que deu o exemplo. Se em vez de trabalhar seis dias e descansar apenas um tivesse feito o inverso, a preguiça seria hoje uma virtude e não um pecado tão estigmatizado pela religião e pela economia. No entanto, esse nosso
mundo apressado, de ritmo vertiginoso e estressante está precisando mais de ócio do que de negócio. Ainda mais que, além do descanso, foram banidos da nossa vida pelo celular o silêncio, a meditação e o devaneio. O homem moderno não se suporta mais. Ele tem sempre que estar ocupado, falando com alguém — na rua, nos restaurantes, na cama e, quando deixam, no cinema e no teatro. Até no banheiro, que era o único lugar onde ele ia sozinho, vai agora acompanhado do inseparável "telemóvel", como é chamado com mais propriedade em Portugal.

Pensando nisso é que Adauto Novaes organizou mais um de seus inteligentes ciclos temáticos, "Elogio à preguiça" (do próximo dia 11 a 27 de outubro, no Rio, BH, SP e Brasília). Uma síntese das conferências foi publicada num livro-catálogo, reunindo os cerca de 20 autores — sociólogos, filósofos, professores, críticos — que fazem uma erudita e agradável viagem pelo tema, vindo da reflexão filosófica até os boêmios e malandros cantados pelo cancioneiro popular. É uma apologia, mas não irrestrita. Como diz um deles, "um idiota preguiçoso permanece idiota". Mas não é deste que se trata, e sim dos que usam o ócio com inteligência, como fonte de lazer, criação e prazer lúdico, a exemplo dos gregos antigos que, em vez de ralar, privilegiavam os jogos e o culto do corpo. Ou como Rousseau, que dizia: "Nada fazer é a mais forte das paixões."

A preguiça é exaltada também politicamente por valores positivos como a atitude de resistência à exploração do trabalho excessivo e como oposição ao progresso técnico a qualquer custo, o que, para alguns, é "o começo do fim da humanidade". Em suma, o trabalho é uma necessidade produtiva que beneficia o capital, mas que sem moderação faz mal à saúde e cansa. Fiquei com preguiça de ler todos os ensaios, como devia, mas os que li me foram suficientes para recomendar o livro e o ciclo, fazendo minhas as palavras do grande preguiçoso Rubem Braga: "A gente não tem que fazer tudo o que a gente tem que fazer."

Antes, para desdizer o que se disse, alegava- se distorção. "Minhas palavras foram distorcidas." Agora, quando alguém se arrepende do texto, usa o contexto. "Tiraram do contexto", dizem o político que fez uma declaração inconveniente ou a cantora que afirmou: "É possível ter prazer anal." Neste caso, não vou discutir o texto porque não entendo do assunto, mas defendo o contexto.

GOSTOSA

EDITORIAL - O ESTADO DE SÃO PAULO - Uma escolha infeliz

Uma escolha infeliz
EDITORIAL
O ESTADÃO - 06/08/11
Nelson Jobim fez por merecer a decisão da presidente Dilma Rousseff de exigir que se demitisse do Ministério da Defesa, para não obrigá-la a demiti-lo. Na pasta desde 2007, foi mantido a pedido de seu admirador Luiz Inácio Lula da Silva. Dilma atendeu ao pedido, mas confinou o apadrinhado ao seu cantão, sem ser chamado para opinar sobre questões políticas e jurídicas alheias à sua área, como Lula fazia a três por quatro, nutrindo as ambições políticas do ministro. Foi além, o ex-presidente, em suas mesuras ao seu protegido, ao manobrar para que chegasse ao comando do PMDB a fim de que o partido o indicasse para vice de Dilma.

Dado esse retrospecto, não será difícil de imaginar o ressentimento de Jobim com a perda de prestígio no Planalto, certamente agravado pelos cortes no orçamento militar que atingiram duramente os projetos de reequipamento das Três Forças e pelas diferenças entre ele e a presidente sobre a questão dos guerrilheiros desaparecidos no Araguaia, entre outros motivos para frustração. A frustração foi o que decerto o levou a dar vazão ao que o seu temperamento tem de mais criticável - a pesporrência que leva à insopitável incontinência verbal a que ele se entregou com frequência ao longo da carreira política, sempre se retratando em seguida. Desta vez a retratação pública não evitou o que parece ser o fim dessa carreira.

Jobim já tinha sido no mínimo indelicado com a presidente da República, à qual devia obediência e respeito, ao insinuar que "os idiotas" se aboletaram no governo e ao tornar público que na última eleição votara no amigo tucano José Serra. Tudo isso ela ouviu em silêncio. O que definitivamente não poderia admitir, sob pena de desmoralização, foi a entrevista do ministro à revista Piauí. Menos pelas grosserias com que se referiu às colegas Ideli Salvatti e Gleisi Hoffman, do que pela versão que deu a uma conversa com a presidente sobre a nomeação do petista José Genoino para assessorá-lo na Defesa. Perguntado sobre a utilidade do ex-deputado na função, ele respondeu: "Quem sabe se ele pode ou não ser útil sou eu".

Feita a coisa certa, ato contínuo a presidente fez o seu contrário. Na ânsia de encerrar rapidamente mais este episódio infeliz do seu breve governo, escolheu o ex-ministro das Relações Exteriores Celso Amorim para o lugar de Jobim, sem dedicar algum tempo à avaliação dos problemas que poderá criar para o seu governo na pasta da Defesa. Se tivesse feito isso poderia ver o que salta à vista de todo estudioso da era Lula, ou seja, que nem as Forças Armadas mereciam isso depois de ser comandadas pelo primeiro civil que se fizera respeitar por elas nem o País merecia isso depois de Jobim ter sido o primeiro na pasta a consolidar os instrumentos legais, políticos e administrativos que asseguram a subordinação da esfera militar ao poder civil. Julguem-se como se queiram todas as demais atitudes de Jobim, nisso ele foi exemplar.

Eis que é sucedido pelo homem errado no lugar errado. Primeiro, Dilma errou por entregar a Defesa a quem passou os últimos oito anos - com o entusiasmado aval de Lula - impondo um viés ideológico bolivariano à diplomacia brasileira, com a agravante de ter sido um fracasso total. O apoio ao Irã de Ahmadinejad, a identificação com a Cuba dos irmãos Castro e a confraternização com a Venezuela de Hugo Chávez configuraram uma política que "contrariou princípios e valores" das Forças Armadas, na avaliação de oficiais-generais da ativa ouvidos por este jornal sob a condição de anonimato.

Em segundo lugar, Dilma errou por nomear um egresso do Itamaraty para cuidar dos assuntos militares, aparentemente alheia à verdade elementar de que a função do soldado começa quando se esgota a do negociador. A guerra pode ser a continuação da política por outros meios, mas há um abismo entre a mentalidade de um general e a de um diplomata. As duas áreas cruciais do Estado devem se articular nas circunstâncias necessárias. Mas as culturas profissionais inerentes a uma e a outra são distintas, quando não, distantes. Essa questão de fundo continuaria a existir fosse o escolhido de Dilma um ex-chanceler que tivesse se pautado pelo interesse nacional como o interpretam os militares. Com um ideólogo, então, é brincar com fogo.

JORGE BASTOS MORENO - NHENHENHÉM - Pré-sal

Pré-sal
JORGE BASTOS MORENO - NHENHENHÉM
O GLOBO - 06/08/11

 Talvez o Gabrielli não saiba, mas seu projeto de vincular sua saída da Pebrobras, em dezembro, à sua candidatura ao governo da Bahia, em 2014, não deu certo. São muitas as nuanças que levam Jaques Wagner a não poder garantir sua sucessão a Gabrielli, sem contar a imponderabilidade do enorme tempo que ainda falta para as eleições. A única coisa certa nessa história toda é que Graça Foster romperá 2011 no cargo de Gabrielli.

Cantada
 No banheiro do aeroporto de Bogotá, Cabral vira-se para Lula: — Se a Dilma não tivesse escolhido o competente Celso Amorim, eu ia sugerir o nome do Dornelles. Toda vez que vaga um ministério, Dornelles se treme todo: “O Cabral tenta me fazer ministro a todo custo.”
Pânico foi quando Ideli saiu da Pesca.

Crise anunciada

 Militar e diplomata nunca se entenderam. Não foi a briga com o então comandante do Exército, general Albuquerque, que derrubou Viegas do cargo. Foi a luta de classes. Escaldado, Amorim usou esse argumento quando foi convidado pela Dilma a tomar posse com ela. Para Amorim aceitar agora, sem titubear, de duas, três. Ou os militares mudaram ou foram os diplomatas. Ou, o que é mais provável, Amorim não suportou seis meses de ostracismo.

Fábula infantil
 Antes de Jobim chegar ao Palácio, o pânico era geral: se ele desafiara a autoridade da Dilma em entrevista, imagine na hora da demissão. Alívio geral quando Bibi (Gabriel Rousseff) saiu de baixo da mesa da vovó cantando “Marcha, soldado/Cabeça de papel/ Se não marchar direito,/ vai preso pro quartel”. Jobim piou!

Jobim, um homem correto até para trair
 Sou, certamente, um dos poucos que entendem Nelson Jobim. A imagem de arrogante não passa de um biombo para esconder um homem modesto e tímido. Tímido e corajoso. Convidado para integrar o Ministério de FH, o gaúcho de Santa Maria tratou logo de marcar posições: na primeira viagem ao Xingu, desnudou-se para mergulhar nas águas habitadas por candirus, aqueles peixinhos salientes que costumam entrar no corpo humano pelos orifícios, e saiu-se intacto. Foi o suficiente para achar que tinha o corpo totalmente fechado, capaz de resistir a qualquer entrevista sua. Mas não tinha e caiu. Caiu por ser sincero. Na primeira crise, senti-me o japonês da descarga, mas às avessas. Acredito ter desarmado a bomba da demissão quando contei à presidente o que Ulysses Guimarães pensava do Jobim, responsável pelo início da sua derrocada. Ulysses, já na planície política, tenta disputar com Ibsen Pinheiro a presidência da Câmara. Ganharia, se não surgissem mais candidatos. Mas surgiu. Jobim entra no seu gabinete e diz: “Se o senhor insistir em ser candidato, eu me lanço para eleger o Ibsen.” Ulysses desistiu, mas deixou esta máxima: — O Jobim me apunhalou pela frente. Dilma ouviu meu relato calada e muda permaneceu.

Saudades de Montoro
 No encontro de governadores do Brasil e da Colômbia, organizado por Lula, Geraldo Alckmin começa o discurso: “Prezados colegas governadores do Brasil e daqui do México”.

Companhia
 Terça, agora, Lula vai se reunir com todos os deputados e senadores da base aliada do Rio, no Laranjeiras, inclusive com “aquele”.

Política de emprego 
 Eu não vou entregar o nome do governador gozador que brincou com seus colegas e com Lula na viagem: — Como é impossível existir algum gestor que não tenha sido indiciado por causa de um poste ou banco de jardim, qualquer ministro da Dilma pode cair à primeira denúncia ou insinuação da mídia. Só ficarão os que têm ministérios como primeiro emprego. Faz sentido, Ancelmo?

Fina estampa
 Com seu corpo de deusa e o rosto mais lindo do mundo, a atriz Carolina Dieckmann, na próxima novela, deverá enlouquecer o país muito mais do que o Jobim enlouqueceu a Dilma.

Cachos

 É tanto ministro caindo que a ministra Helena não tem mais tempo de se preparar para anunciar as demissões. Por isso, comprou uma peruca que já vem com os cabelos cacheados.

Obrigado, Fernando
 Durante turbulência num voo da ponte, Fernando de Barros e Silva, um dos maiores colunistas do país, conseguiu acalmar os passageiros gritando: “Avião com a Mariana Ximenes não cai!” Sábado passado, na mesma ponte, para não cair no mar, piloto arremeteu. Mariana e eu, em pânico, provamos que nem todos os colunistas erram ou mentem, como eu.

MÍRIAM LEITÃO - Letras e cenários


Letras e cenários
MIRIAM LEITÃO
O GLOBO - 06/08/11


Quando Nouriel Roubini, que previu a crise de 2008, disse que haveria uma segunda queda e que a recessão seria em forma de W, a maioria dos analistas sustentou que seria em forma de V. Hoje, letras e cenários estão ainda misturados, e a incerteza aumentou esta semana. Como o Brasil pode lidar com a crise? O governo decidiu ampliar gastos para subsidiar a indústria.

O diagnóstico do governo brasileiro é que o mundo continua em crise e não se sabe quando sairá completamente dela. Isso é correto. O governo acha também que a indústria precisa ser defendida para sobreviver e, num segundo momento, ela deve ser empurrada para um novo padrão inovador e atualizado de produção. Foi o que me explicou o ministro Fernando Pimentel. O problema é que as ferramentas usadas pelo governo para induzir essa transição lembram muito as que foram usadas no passado. Na época, elas transferiram renda para alguns setores, elevaram a taxa de inflação, tornaram as empresas dependentes do governo.

O ministro Pimentel me disse que na equipe atual todos pensam de forma muito parecida. De fato, Pimentel, Guido Mantega e Aloizio Mercadante são economistas da mesma corrente de pensamento. Eles acreditam em medidas de defesa do mercado interno, conselhos com empresários e governo discutindo regimes especiais para setores, dinheiro entregue na mão de exportadores e renúncias fiscais em favor das montadoras de automóveis. A presidente Dilma também acredita.

Portanto, o que o governo fez esta semana foi assumir a política na qual ele se sente realmente à vontade, ao invés de sustentar teses de austeridade fiscal, aperto monetário, metas de inflação, câmbio flutuante, que herdou do partido adversário. Se divergência houve entre os ministros, foi apenas de intensidade das medidas, não de direção. O agravamento da crise vai dar a eles a sensação de que estão certos, como em 2009, quando Mantega abriu os cofres. No agudo da crise, foi a forma de evitar que a recessão fosse maior, mas o governo não interrompeu os estímulos como devia, superaqueceu a economia, elevou a inflação, que está, como mostrou o dado de ontem, em 6,8%.

Pimentel disse que decretos decidirão os regimes especiais para setores específicos e quem vai controlar essas concessões tributárias será um conselho formado por 14 empresários e 14 ministros de Estado, o CNDI. Lembra até no nome o velho CDI. O ministro diz que serão exigidas contrapartidas para os setores beneficiados.

"A medida faz sentido. É um salto em direção à inovação. No caso do setor automobilístico, por exemplo, vamos cobrar das empresas que ingressarem nesse novo regime tributário planos de inovação e projetos concretos de internalização de engenharia de produção, porque não queremos ser apenas montadores. Existe uma pesquisa, por exemplo, na Bahia, de fibra de sisal. Essa fibra mais resistente e econômica pode reduzir em 15% o custo dos estofamentos", explicou o ministro.

O setor automobilístico ficará sem pagar IPI até 2016. Não para repassar isso ao consumidor, é para aumentar o ganho das empresas. O argumento do governo para defender a medida é que 28% dos carros emplacados no Brasil este ano são estrangeiros. De fato, mas importados pelas próprias montadoras.

A melhor medida da política industrial, de longe, é a de desoneração da folha de alguns setores que empregam mais. A contribuição patronal para a Previdência, que hoje é 20% sobre a folha salarial, será de 1,5% sobre o faturamento da empresa.

"Essa é a medida mais importante, mais estrutural. Não se podia fazer tudo de uma hora para a outra, e por isso escolhemos os setores intensivos em trabalho. Vamos monitorar este ano e até o fim do ano que vem o que vai acontecer com eles, através de uma comissão tripartite: governo, empresários e trabalhadores. Este ano, não entra nenhum setor novo. Em 2012, podemos começar a estudar outros setores, e, se der certo, em três ou quatro anos migrar de uma forma de cobrança para outra. Haverá um subsídio, mas esse custo é temporário, porque pode estimular o emprego e aumentar a arrecadação."

O ministro tem razão. Essa medida é boa, os setores foram bem escolhidos, a forma cautelosa de fazer é o mais acertado, porque se fosse feito tudo bruscamente o risco de desequilibrar a Previdência seria grande.

Uma medida difícil de engolir é o Reintegra. O governo vai transferir para exportador de manufaturados R$ 4 bilhões. Pimentel garantiu que o Reintegra foi discutido com o Itamaraty e está dentro das normas da Organização Mundial de Comércio (OMC).

Lembrei a ele que o Brasil entrou na OMC contra um programa da Argentina, igualzinho a este, chamado Reintegro. Parece um "Bolsa exportador" e que beneficia só setores menos competitivos.

Há defensores da política industrial que preferiam que a estratégia fosse fortalecer os setores mais dinâmicos em vez de proteger os perdedores. Pimentel acredita que esta é a forma de fazer as empresas investirem em P & D, as letras de Pesquisa e Desenvolvimento, que levarão o País ao século 21. As letras são estas.

A dúvida é se elas serão encontradas através das medidas anunciadas.

GUILHERME FIUZA - A CPI da faxina

A CPI da faxina
GUILHERME FIUZA
O GLOBO - 06/08/11
Nada vai mudar o DNA da privatização partidária do poder

A presidente Dilma declarou que o combate à corrupção não será pautado pela mídia. Fez eco ao ex-presidente Lula, que dissera pouco antes que a imprensa prefere as notícias ruins. De fato, se não fosse essa impertinência da imprensa, as notícias sobre o governo seriam muito melhores: o Ministério dos Transportes seria um mar de rosas, a consultoria de Palocci seria problema dele, e até Erenice Guerra estaria despachando normalmente com seus parentes e amigos no Palácio.

Bem que a presidente tem feito a sua parte para não deixar a imprensa contaminar o país com notícias ruins. Depois das primeiras manchetes sobre o escândalo do Dnit, Dilma elogiou publicamente o então ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento. Fizera exatamente o mesmo com Palocci (e com Erenice, quando ainda era candidata). Mas a mídia continuou espalhando sujeira a respeito desses personagens, e a presidente teve que empunhar a vassoura e o pano de chão.

A tarefa de limpar manchetes não é fácil. No caso Palocci, foi testada uma química interessante: entregar um ministério importante a uma ministra desimportante. Deu certo - a Casa Civil sumiu do noticiário. Depois da habitual espuma feminista, Gleisi Hoffmann só reapareceu nas páginas graças ao ministro Nelson Jobim, que, já não sabendo mais o que fazer para ser demitido, declarou que ela "não conhece nada de Brasília". Fora isso, limpeza total.

A faxina no noticiário sobre os Transportes se revelou um pouco mais complicada. O detergente das demissões em série produziu lá o seu brilho, mas a sujeira teimava em reaparecer. Numa das passagens mais aflitivas, quando foi nomeado o novo coordenador-geral de Operações Rodoviárias do Dnit, a imprensa lambuzou tudo outra vez.

O GLOBO revelou que o escolhido para a limpeza era acusado de favorecimento a empreiteiras, representadas por sua própria esposa. O escândalo do escândalo foi para as manchetes com o nome de "Casal Dnit", mostrando que Lula tem toda razão: a mídia negativista não poupa nem a vida conjugal dos companheiros.

Apesar dessa impertinência, Dilma pode ficar tranquila: a imprensa não vai mesmo pautar o combate à corrupção - pelo menos enquanto jornalistas não tiverem poder de polícia. O máximo que a mídia pode fazer é passar adiante as "notícias ruins" que saem das tripas do governo popular. Mas nem o mais implacável bombardeio de manchetes será capaz de desfazer o método petista de ocupação do Estado, pelo menos não retroativamente. Nem tampouco mudar o DNA da privatização partidária do poder.

Essa seria a verdadeira faxina. O resto é maquiagem para distrair a opinião pública.

E ela se distrai facilmente. A novela da CPI do Dnit é a melhor prova. Mais do que investigar a corrupção, essa CPI poria na berlinda o mito da grande gestora que virou presidente. Como supervisora de todos os projetos do governo, mãe do PAC e outros apelidos, Dilma conviveu com a montagem da farra orçamentária do Dnit, e seus aditivos intermináveis. Ralos de dinheiro público se abriram sob seus pés, configurando, no mínimo, um desastre administrativo. E o Brasil continua achando que elegeu uma gerente.

O problema é que a mídia tem outras notícias ruins para dar. As bolsas despencam ao redor do mundo, o ministro da Defesa resolve despencar também, e lá se vai a CPI do Dnit para o pé de página. Aí o povo esquece, os senadores murcham e a casa fica um brinco.

Enquanto algumas meias dúzias de despachantes do PR são postas na rua, motivando brados ufanistas contra 500 anos de corrupção (a generalização é a maior amiga do corrupto), o governo segue tranquilo em seu desgoverno. A dispensa de projetos executivos para as obras viárias, por exemplo, que facilitou o escândalo do Dnit, é aprovada por Dilma para "acelerar" as obras da Copa do Mundo. E a arquibancada assiste.

Assim vão sendo montados os desastres administrativos, que alimentarão as manchetes "negativistas" do futuro.

E o que faz o governo Dilma, além de abastecer esse noticiário que depois terá de varrer? Faz coisas como a recém-anunciada "política industrial", um moderno instrumento de três décadas atrás, que consiste em derramar bilhões de reais em isenções fiscais para alguns setores eleitos para "puxar a nossa economia". O ministro da Fazenda ainda declara: "O mercado deve ser usufruído pela indústria brasileira."

À parte as considerações sobre o nacionalismo importado do século passado, uma coisa é certa: no caixa dois ou no caixa um, aí está um governo generoso com o chapéu do contribuinte.

Mas não tem problema. O povo está animado com a moralização. Manchetes novas vão soterrando as antigas, delitos vão sendo corrigidos pela faxina do esquecimento. Flagrado há dois anos em nepotismo explícito no Senado, José Sarney comenta as denúncias envolvendo o irmão do líder do governo, Romero Jucá: "Parente no governo sempre cria problema."

O Brasil merece.

GOSTOSA

RUY CASTRO - Em busca de David

Em busca de David
RUY CASTRO 
FOLHA DE SP - 06/08/11

RIO DE JANEIRO - Trabalho com biografias há mais de 20 anos e acumulei alguma experiência sobre o assunto. Descobri que biografar alguém significa, a partir de certo ponto, abdicar da própria vida e se mudar para a vida do biografado. E isso pode durar dois, três, cinco anos. Foi o tempo que dediquei, respectivamente, a Nelson Rodrigues, Garrincha e Carmen Miranda.
É o melhor trabalho do mundo ou o mais angustiante, dependendo das oscilações do biografado. Pode ser também as duas coisas ao mesmo tempo porque, durante a longa apuração das informações, o biógrafo convive simultaneamente com todas as fases do biografado, as boas e as ruins. Mas, por mais que sofra ou se apaixone por seu personagem, o biógrafo não pode se esquecer que é, primeiro, um técnico, obrigado à objetividade.
Como fazer, no entanto, se o biografado for avô do biógrafo e, do resultado final da apuração, resultar não apenas uma biografia, mas uma informação -uma resposta- que iluminará um mistério tanto na vida do biografado quanto na do biógrafo e de sua família?
É a tarefa a que se dispôs um jovem americano, Andrew Zingg. Ele é neto do fotógrafo David Drew Zingg (1923-2000), que, em 1964, saiu para comprar cigarros em Nova York, tomou um avião para o Rio (que já conhecia), largou casa, mulher, três filhos (12, 8 e 6 anos), um belo contrato na revista "Look", e não voltou nem deu explicações. A família nunca mais o viu.
Andrew tem andado por Rio e São Paulo à cata de pistas do avô, que ele, claro, não conheceu. Já falou com dezenas de amigos brasileiros de Zingg, entre os quais eu. Contei-lhe de como David e eu nos demos por 30 anos, e disse a Andrew que, se houver uma resposta para o mistério, alguém, em algum momento ou lugar, aqui ou nos EUA, mesmo que leve anos, e até sem querer, acabará lhe dizendo. A biografia faz isto.

FERNANDO DE BARROS E SILVA - "We Are the World"

"We Are the World"
FERNANDO DE BARROS E SILVA 
FOLHA DE SP - 06/08/11

SÃO PAULO - "Bolsas desabam e cresce medo de recessão mundial"; "Dilma tira Jobim da Defesa e põe o ex-chanceler Amorim". Eram esses os destaques da Primeira Página da Folha ontem, um dia cheio de notícias. Mas nada rivalizava com a foto da criança somali desnutrida.
O olhar aflito, de dor e pânico; a boca escancarada, em desespero; os cabelos ralos, os sulcos no rosto e a pele enrugada, como se o corpo tivesse 90 anos; os pés retorcidos, as mãos e a cabeça desproporcionais, a deformidade do conjunto -tudo choca naquela figura que definha a caminho da morte.
Estima-se que 29 mil crianças com menos de cinco anos morreram de fome na Somália nos últimos três meses (média de 10 mil por mês). Haveria, segundo a ONU, 640 mil crianças desnutridas no país.
As estatísticas dão a dimensão da tragédia, ao mesmo tempo em que a desumanizam. Seriam 10 milhões de pessoas passando fome, literalmente e em graus variados, em função da pior seca em décadas na região onde estão Etiópia, Quênia, Djibuti e Somália, o mais atingido.
No Brasil, Somália virou apelido de alguns jogadores de futebol, pretos e esguios. Na África, é um lugar tão miserável e caótico que está fora do ranking de IDH da ONU -no qual a Etiópia ocupa o 157º lugar, num total de 169 nações.
No final dos anos 1960, durante a Guerra da Biafra, na Nigéria, a TV flagrou pela primeira vez imagens de mortes em massa provocadas pela fome. Mas foi nos anos 1980, com a crise na Etiópia, que a nata do mundo artístico se mobilizou e quis dar dimensão global à tragédia -época do "We Are the World".
E hoje? A Somália é um território sem governo central há 20 anos, controlado por milícias e grupos islâmicos extremistas, devastado pela miséria e pela anomia social. Um lugar em que Bolsas, recessão, ministros, governo e notícias de jornal não significam nada. Mas o que significa para nós a imagem da criança agonizante? Nós somos o mundo, mas a Somália está fora dele.

KÁTIA ABREU - Arco Norte, o Eldorado da logística

Arco Norte, o Eldorado da logística
KÁTIA ABREU 
FOLHA DE SP - 06/08/11

Implementados, os projetos do Arco Norte podem baixar em mais de 13% o preço do frete da saca de soja


QUALQUER QUE seja a nossa visão do Estado, quer sejamos mais liberais ou mais intervencionistas, todos concordamos em que nas sociedades modernas cabe ao Estado a responsabilidade pelas políticas macroeconômicas, que assegurem a estabilidade dos preços e o maior nível de emprego possível.
Mas, além disso, em economias não ainda suficientemente maduras, como a brasileira, cabe ao governo um papel indelegável de planejamento setorial, com o propósito de orientar o investimento público e articular o investimento privado, de modo que o crescimento das atividades produtivas não seja interrompido ou prejudicado pela oferta inadequada de infraestrutura ou de recursos humanos e institucionais.
O Brasil hoje é um caso exemplar de sucesso econômico, obtido devido à manutenção de políticas econômicas racionais por sucessivos governos.
Porque tivemos a sabedoria de escolher a continuidade -e não a ruptura-, estamos progressivamente nos tornando uma economia mais forte e socialmente mais justa.
Mas o crescimento econômico está cobrando algumas contas atrasadas.
O Estado ainda não foi capaz de criar uma capacidade mínima de planejamento que proporcione uma visão de longo prazo e que nos poupe dos estrangulamentos que hoje limitam a continuidade do crescimento.
Também não foi capaz de desenvolver competências gerenciais e executivas que dessem à maioria das agências do governo um mínimo de capacidade.
Apesar de fundamentais para vários setores da atividade produtiva, faço essas reflexões para chamar a atenção para uma grave distorção que afeta a nossa produção de grãos.
As regiões agrícolas localizadas acima do paralelo 15 (regiões Norte e Nordeste, metade norte da região Centro-Oeste e norte do Estado de Minas Gerais) que, em 2001, respondiam por apenas 32% da produção nacional de milho e de soja, hoje colhem 52% do total do país.
Nesse período, a produção nacional desses grãos cresceu 65%.
Mas os sistemas de escoamento, além de precários, comprovam a fragilidade do planejamento governamental, com os portos do Sul e do Sudeste embarcando cerca de 84% do total movimentado dos dois grãos; os portos do que chamamos Arco Norte -de Porto Velho a São Luis- escoam apenas 16% da produção nacional.
A morosidade inexplicável na licitação do porto de Itaqui, em São Luiz (MA), de Outeiro, no sistema de Belém (PA), do licenciamento da ampliação do porto de Santarém e dos investimentos públicos em Porto Velho impedem o pleno uso da capacidade portuária desses locais.
Da mesma forma, não há explicação para a falta de investimento nos grandes sistemas fluviais dos rios Madeira, Teles Pires/Tapajós e Tocantins, que poderiam ser transformados em grandes hidrovias.
Todo esse complexo permitiria o escoamento adicional de 10 milhões de toneladas (algo em torno de 23% do total embarcado no país) pelos portos dessa região, baixando os custos de produção e descongestionando os portos do Sul e do Sudeste do país.
É fundamental destacar que se trata de uma alternativa capaz de operar a custos moderados que podem ser, em sua maior parte, compartilhados com a iniciativa privada por meio das PPPs (Parcerias Público-Privadas).
Os projetos do Arco Norte são uma nova alternativa de logística de grande capacidade. Implementados, podem reduzir o preço do frete da saca de soja em mais de 13%.
E isso não é pouca coisa, uma vez que, no Brasil, os custos com logística podem comprometer cerca de 21% da renda do produtor -ante 5,3% nos Estados Unidos e 5,8% na Argentina.
Investimentos na logística do Arco Norte aumentarão a nossa tão comprometida competitividade nos mercados mundiais, em especial diante dos da Ásia. E, quando falamos em competitividade, não estamos privilegiando um setor. Estamos falando de mais renda, de mais empregos, de alimentos mais baratos e de desenvolvimento para o Brasil. Simples assim.

MAÍLSON DA NÓBREGA - O Brasil de ontem e a Grécia de hoje


O Brasil de ontem e a Grécia de hoje
MAÍLSON DA NÓBREGA
O Estado de S.Paulo - 06/08/11

A crise da dívida soberana da Grécia tem inspirado comparações com a da América Latina dos anos 1980. Eu mesmo tenho feito isso em entrevistas e artigos. O ex-ministro Sergio Amaral, negociador numa das fases da nossa saga, fez uma análise precisa do caso brasileiro (Da crise financeira à fiscal e política, 27/7, A2). Há também quem tente escrever (ou reescrever) a História descuidadamente, incorrendo em erros e conclusões despidas de sentido.

Vivi de perto o nascimento da crise da dívida externa da América Latina e muitos de seus momentos mais difíceis, particularmente os do Brasil. Acompanhei de longe o nosso último episódio, o da adesão ao Plano Brady, quando o ministro da Fazenda era Fernando Henrique Cardoso (1994).

Integrei a delegação brasileira à reunião anual do Fundo Monetário Internacional (FMI) em Toronto, em setembro de 1982, quando se discutiu a criação de um programa nos moldes adotados nos dias atuais em favor da Grécia, de Portugal e da Irlanda. Os mercados estavam nervosos com o risco de contágio, para outros países, dos efeitos da moratória mexicana, declarada dias antes. A ideia fracassou e o pânico se instalou, dando início à crise. A parada súbita do crédito gerou uma crise de liquidez, que se julgava passageira. Não se pensava que desaguasse em crise de solvência.

As negociações iniciaram-se dias depois, começando pelo México. O FMI tornou-se o centro dos entendimentos, que envolviam também bancos e países credores. O Fundo criou uma robusta linha de assistência financeira. Para o Brasil os bancos reestruturaram as amortizações de 1983, concederam novos créditos e mantiveram linhas de comércio e depósitos nas agências de bancos brasileiros no exterior. O Clube de Paris renegociou os créditos dos países ricos.

Acontece que o crédito voluntário não se restabeleceu. A estagnação econômica da América Latina continuou. Era preciso promover o crescimento. Daí o programa idealizado pelo então secretário do Tesouro americano, James Baker (o Plano Baker), lançado na reunião anual do FMI em Seul, em setembro de 1985. Estive presente ao anúncio.

O Plano Baker não funcionou e se falou cada vez mais em debt overhang: o problema era o excesso da dívida. Em fevereiro de 1987 o Brasil declarou a moratória unilateral, com a qual nada ganhamos e muito perdemos. Os bancos aceleraram as suas provisões. O mercado secundário, no qual se negociavam créditos com desconto, ampliou-se, prenunciando a solução via rebate na dívida. Era preciso, todavia, ganhar tempo, inclusive para que as respectivas perdas não redundassem em crise bancária, que também nos afetaria.

O novo ministro da Fazenda, Luiz Carlos Bresser-Pereira, retomou corajosamente as negociações da dívida em abril e intuiu que a solução passava pelo rebate e pela securitização. Em setembro propôs a troca da dívida por novos títulos, com desconto de 50%, mas as condições não estavam dadas. O plano não tinha como prosperar. Eu era o seu secretário-geral.

Em 1988, como ministro da Fazenda, busquei normalizar as relações com a comunidade financeira internacional, para restabelecer a imagem e o crédito do País. Completamos nove meses de difíceis negociações com o FMI e os bancos, a cargo de uma valorosa equipe comandada por Sérgio Amaral e da qual participava Antonio de Pádua Seixas, o experiente diretor da Área Externa do Banco Central.

Em junho anunciamos o acordo de reestruturação de US$ 80 bilhões, o maior até então. Fizemos o que a maioria já havia concluído. O acordo foi o primeiro a incluir um desconto com os exit bonds. Os bancos podiam optar pela troca de seu crédito por um título com juros abaixo do mercado. Seguiu-se a negociação com o Clube de Paris. A moratória foi suspensa em reunião do Conselho de Segurança Nacional.

Com o acordo, passou-se a recomprar a dívida com desconto, o que beneficiou empresas como a Vale e a Petrobrás e tornou viáveis operações interessantes de comércio exterior. A imagem do País foi restabelecida.

Em setembro chefiei a delegação brasileira à reunião anual do FMI em Berlim, na qual defendi, em discurso, a criação de um plano para resolver de vez a crise, o qual deveria incluir o desconto. As condições convergiam para sua concretização.

Em março de 1989, o secretário do Tesouro americano Nicholas Brady lançou o Plano Brady, que previa o desconto e garantias para o pagamento do restante do principal e, por certo período, dos juros. O México foi o primeiro a beneficiar-se, seguido de outros países.

Nossas crises econômicas e políticas nos fizeram suspender os pagamentos da dívida, agora de forma negociada. Adiaram nossa adesão ao Plano Brady, que viria apenas em 1994, após negociações conduzidas por Pedro Malan e André Lara Resende. Do acordo constava um cardápio de opções, incluindo o desconto de pelo menos 35%. Esse cardápio não era parte da proposta Bresser-Pereira.

A caminhada da Grécia foi mais rápida, seja porque sua insolvência logo ficou clara, seja porque o país, parte da zona do euro, se beneficiou de apoio institucional, político e financeiro inexistente na crise da América Latina.

O longo caminho rumo à solução para a crise da nossa dívida externa, em seus diferentes estágios, dificilmente poderia ter sido distinto. O País não tinha como impor os seus termos. Com exceção do erro da moratória e de outros não tão danosos, buscou-se sempre obter o melhor.

Não é verdade, como se disse, que as equipes brasileiras que participaram do esforço de negociação tenham sujeitado o Brasil a condições humilhantes de monitoramento. Tampouco sucumbiram a lobbies de qualquer natureza. Nenhum país obteve condições melhores do que as nossas. Quanto ao FMI, os acordos com países europeus são, em sua essência, iguais aos que celebramos naqueles difíceis anos.

JAPA GOSTOSA

SONIA RACY - DIRETO DA FONTE

Queda de braço
SONIA RACY
O ESTADÃO - 06/08/11

Cinco sindicatos estaduais da Polícia Federal se unem para voltar a defender a extinção dos inquéritos policiais - investigação que só existe no Brasil.

Preparam série de seminários, com o FBI e a PF da Argentina, para que eles apresentem seus modelos de apuração.

A proposta atinge em cheio a função dos delegados. Porque propõe, entre outras, que a investigação seja conduzida diretamente pelo Ministério Público Federal.

A briga é longa e polêmica.

De A a Z

Foi forte a reação dos militares contra Celso Amorim, considerado hoje um homem de esquerda sentado na cadeira de ministro da Defesa.

Entretanto, segundo fonte bem informada, estão se esquecendo de que o ex-chanceler de Lula foi presidente da Embrafilme. Por indicação do general Rubem Ludwig, ministro da Educação e Cultura do governo João Figueiredo.

Quem sabe ele não retoma seus antigos princípios?

Carona

Foi no Legacy reservado a Michel Temer que Nelson Jobim voltou da Amazônia para Brasília, anteontem.

O vice-presidente continuou viagem no avião, que o levou até São Paulo.

Das cadeiras

Caso não consiga registrar o PSD, corre no Joelma que Kassab teria um plano B: filiar-se no PV, partido de seu pré-candidato a prefeito, Eduardo Jorge.

Na roda

Para alegria do mercado imobiliário, Alckmin bateu o martelo: a licitação para venda de edifício do Estado na rua Iguatemi sai em novembro.

Valor estimado? R$ 70 milhões.

Ó, Tricolor

Luís Fabiano fica mais uma semana em repouso. Para completar o processo de cicatrização. Depois, volta aos exercícios de fortalecimento.

Estreia? Meados de setembro.

Interrompida

Amy Winehouse planejava comemorar seu aniversário de 28 anos, em setembro, em Barbados. Foi o que contou Salaam Remi, produtor de seu inacabado terceiro disco, à Rolling Stone. E mais: há sobras de Back to Black prontas para serem lançadas.


Tô fora

Corre pelo mercado que o Casino teria contratado José Dirceu para trabalhar na confusão acionária no Pão de Açúcar.

Indagado ontem se isso seria verdade, ele foi direto: "Não".
Senhores, façam seu jogo

O mercado de ações brasileiro ontem mais parecia roleta-russa.

A ponto de um banqueiro sugerir a um cliente: "Entre a bolsa e um cassino, é mais fácil você ganhar dinheiro no... cassino".

Poderosa

Alice Braga estreia como produtora. O longa, Grand Tour, será um road movie entre Brasil e Uruguai, com roteiro e direção de Felipe Braga.

Poderosa 2

Em tempo: a atriz está no Canadá filmando com Matt Damon, Jodie Foster e Wagner Moura.

Entra e sai

Empresário brasileiro alugou o iate Christina, da família Onassis, por 300 mil por uma semana. Mas não pôde encher o barco na festa de seu aniversário, em Saint-Tropez. A capitania limitou a 120 o número de pessoas a bordo da embarcação ancorada.

O jeito foi fazer rodízio.

Na frente


Porto Alegre é polo mais que importante para o Santander. Na área cultural, por exemplo, foram montadas na cidade 34 exposições em dez anos, segundo conta Fernando Egydio Martins. A próxima? Uma mostra, em setembro, de Eugênio Dittborn - o homenageado da 8ª Bienal do Mercosul.

Profissionais de saúde de Botsuana, Quênia e Tanzânia vêm a São Paulo amanhã. Para conhecer o trabalho que algumas empresas fazem de prevenção às DST e à Aids, com o apoio da Secretaria Estadual da Saúde.

Até o início da tarde de ontem, Nelson Jobim seguia firme e forte como ministro da Defesa... no site da Presidência da República.