quarta-feira, setembro 26, 2012

Estuda que melhora - ANCELMO GOIS

O GLOBO - 26/09

Pesquisa feita pela Fundação Getulio Vargas em parceria com o Senai mostra que um jovem com ensino médio completo tem salário 15% maior quando conclui também um curso técnico.
Aliás, os brasileiros da classe C são os que mais procuram por esse tipo de educação profissionalizante.

Em tempo...

A Pnad, divulgada semana passada, reforça tese da importância de o estudante permanecer na escola, qualificando-se para o mercado de trabalho.

Dilma vota Obama

Dilma se encontrou com Obama numa sala na ONU, antes dos dois discursarem na abertura da Assembleia Geral.
A brasileira perguntou sobre as eleições e Obama demonstrou otimismo. Se fosse cidadã americana, Dilma votaria nele.

No mais

A decisão da Comissão da Verdade de investigar empresários que financiaram os órgãos de repressão é pólvora pura.
Em “Ditadura escancarada” Elio Gaspari conta um encontro organizado por Gastão Vidigal com 15 representantes de bancos para recolher grana para a Operação Bandeirante, com direito a uma exposição de Delfim Netto mostrando que as “Forças Armadas não tinham equipamento nem verbas para enfrentar a subversão”

Segue...

Elio diz ainda que na Fiesp “convidavam-se empresários para reuniões em cujo término se passava o quepe. A Ford e a Volkswagen forneciam carros, a Ultragás emprestava caminhões e a Supergel abastecia a carceragem da Rua Tutoia com refeições congeladas.”

LAPARQUINHO

Veja que legal! Até o fim do ano começarão a ser instalados na Lapa estes brinquedos coloridões das fotos. Criados por João Bird, designer da Fundição Progresso, e aprovados pela prefeitura do Rio, os equipamentos foram idealizados para tentar combater o sendentarismo na infância e ocupar a área embaixo dos Arcos da Lapa, com a criançada da região. É tudo tão bonitinho que já ganhou até um apelido: é o Laparquinho. Não é fofo?

Mais do mesmo

A LeYa vai lançar em outubro uma nova edição do livro “Gonzaguinha e Gonzagão” de Regina Echeverria.
A obra serviu de base para “Gonzaga: de pai para filho” filme de Breno Silveira.

Feliz da vida

Ângela Ro Ro prepara o seu novo CD e DVD, “Feliz da vida”O álbum terá 80% de canções inéditas e a participação de, entre outros, Diogo Nogueira, Sandra de Sá e Maria Bethânia.

O bar de Nacib

Vesúvio, o bar de Ilhéus que inspirou o boteco de “Gabriela, cravo e canela” de Jorge Amado, vai virar livro.
Nos anos 1940, ele mudou de nome, mas voltou a ser “Vesúvio” quando o livro saiu, em 1958. A Araújo Assessoria pode captar R$ 343.001,37 pela Lei Rouanet.

Rabbit, 30 anos

Lembra do Rabbit, vibrador que ficou famoso por causa do seriado americano “Sex and the city”? Está completando 30 anos e ganhou... uma versão especial: o Black Labei Jack Rabbit Anniversary Edition.
Mas, cá entre nós, “Black Labei Jack...” é o cacete.

iPadre

Padre Jorjão, o fofo que comanda a Igreja Nossa Senhora da Paz, em Ipanema, está cada vez mais tecnológico.
Na missa das 17h de domingo passado, ele recorreu ao iPad para ler a homília.

Serafina no Rio

O Serafina, um restaurante italiano bastante badalado em Nova York e que é muito frequentado por brasileiros, está à procura de um ponto para abrir por aqui.
A turma, para ser mais preciso, busca um lugar no Rio.

Mão grande

Acredite. Sexta à noite, uma ambulância estacionou na Rua Conde de Bonfim, na Tijuca, para remover um paciente.
Os enfermeiros e o motorista foram até o apartamento. Na volta, um gatuno havia roubado o rádio e o GPS da ambulância.

Calma, gente!

A reforma do banheiro do Shopping Via Parque, na Barra, que instalou espelhos no corredor, tem desagradado a alguns clientes.
É que... tem gente levando 15 minutos fazendo xixi, só para ficar espiando, digamos, o Davi de Michelangelo.

Arte sacra

O colégio Santo Inácio finalizou a restauração de três estátuas do Conjunto Escultório do Calvário, levado para lá em 1922, quando houve o desmonte do Morro do Castelo. As imagens, do fim do século XVII, representam Jesus crucificado, Nossa Senhora das Dores e São João Evangelista. Ficavam no altar-mor da Igreja dos Jesuítas.

A primeira vez de Catarina - MARTHA MEDEIROS

ZERO HORA - 26/09


Não li o badalado Cinquenta Tons de Cinza, que está fazendo vir à tona fantasias eróticas pouco ortodoxas do público feminino, mas para não dizer que estou totalmente fora do mundo, venho acompanhando outra questão envolvendo sexo que traz componentes que parecem ficção, mas consta que a história é verdadeira. Um cineasta australiano, Justin Sisely, está pré-produzindo um documentário chamado Virgens Wanted. Pretende realizar uma espécie de reality show com jovens virgens, cuja pureza está sendo leiloada na internet a fim de que, depois de submetidos à sua primeira relação sexual, possam ter suas transformações físicas e emocionais avaliadas por nós, espectadores. A conferir.

Catarina, uma jovem brasileira de 20 anos, bonita e entediada com sua vida de estudante de Educação Física, inscreveu-se e foi aceita. O lance por ela já alcançou US$ 100 mil, mas as apostas continuam abertas, vão até o dia 15 de outubro. Segundo ela, é a chance de ganhar um belo dinheiro, participar de um filme e sair da rotina. E os riscos são nulos, segundo os idealizadores. O candidato que der o lance mais alto terá que apresentar exames médicos, ficha policial e está proibido de se inspirar em Christian Grey: nada de fetiches, acessórios, nem mesmo beijo na boca. Farão um provável papai e mamãe – mas ele receberá certificado de consumação ao fim do intercurso, como o mundo dos negócios exige.

Falando em mamãe, a dela está dando todo o apoio. Que sorte, a dessa menina.

É isso aí, Catarina, divirta-se. Prostituta por um dia, celebridade por três meses (mais do que a Luiza do Canadá) e grana para se sustentar uns bons anos sem precisar voltar para a faculdade. Li sobre você: gosta de filosofia, dos livros de Dostoievski e Albert Camus, escuta jazz e música clássica, adora Edith Piaf. Vamos torcer para que seu pretendente mantenha esse nível, ainda que isso pouco importe, claro. Você não está procurando um namorado, e sim um patrocinador. Se, apesar de sua beleza, juventude e consistente formação cultural, é a virgindade que você tem como produto de troca nesse grande Baú da Felicidade que se tornou o planeta, realize a permuta e deixe para amar depois. Se é que amar não é uma grande besteira. Deve ser. Ando tão desatualizada.

Teu corpo te pertence, Catarina. E você pertence a esse mundo, é fruto dessa sociedade, não há nada fora do lugar, nenhum motivo para choque, é a vida como ela é hoje, roteirizada para oferecer ao público um show quente, com muita luz projetada sobre os protagonistas e sem sentimentalismos, que isso entrou em desuso junto com a inocência. Está tudo certo. Tudo normal. Se é que essa história de normal não virou outra grande besteira.

Bravo tatu-bola - RUY CASTRO

FOLHA DE SP - 26/09


RIO DE JANEIRO - Amijubi, Zuzeco e Fuleco. Qual desses nomes você mais deplora, despreza ou detesta? São os inventados e propostos pela Fifa para designar o tatu-bola, que ela elegeu como mascote da Copa de 2014 no Brasil. A Fifa os pôs em votação pela internet e espera que, até 25 de novembro, um deles seja sacramentado pelo povo brasileiro.

Sacramento esse que nenhuma diferença fará para a Fifa. Qualquer nome lhe servirá, desde que artificial -fora do dicionário-, à prova de prévio domínio alheio e que ela possa registrar internacionalmente como propriedade industrial. O que já fez com os três nomes. Seja qual for o escolhido, nosso bravo tatu-bola -um abundante e legítimo espécime brasileiro, também existente apenas em certos países vizinhos e de forma esparsa- contribuirá com centenas de milhões de dólares para as burras da entidade.

Escolhido o nome, o planeta será inundado de Amijubis, Zuzecos ou Fulecos em outdoors, posters, bonecos, chaveiros, adesivos, brinquedos, gibis, desenhos, comerciais, anúncios em cinemas e toda quinquilharia eletrônica que se imagine. Sempre que esse nome for escrito, lido ou pronunciado, ouvir-se-á o apito do "copyright" e uma moeda pingará na conta da Fifa.

A ninguém espantou até agora que a Fifa terá se tornado proprietária de uma palavra que, artificial ou não, pertence à língua portuguesa. E nem surpreende que, tão ciosa de seus direitos, ela só tenha se esquecido de consultar o principal interessado: o tatu-bola. Quem pode garantir que ele gostará de ver seu bom nome ligado a uma daquelas execráveis alcunhas?

Seria divertido ver a Sociedade Protetora dos Animais, o Partido Verde e outras instituições de defesa do ambiente, como representantes autorizados do tatu-bola, acionando a Fifa por injúria, abuso da imagem e exploração indevida.

Carnaval de primavera - DIANA CORSO

ZERO HORA - 26/09


Os historiadores não se cansam de lembrar que a dita tradição gaúcha, o gaudério de bota, bombacha, lenço no pescoço, sorvendo sua cuia de chimarrão, não passa de uma brincadeira cultural. Longe da verdade histórica, o bravo guerreiro, tão celebrado a cada setembro, é a fantasia glamourizada de um peão que nunca existiu.

Homens e mulheres vivem nos CTGs, no Acampamento Farroupilha e nos desfiles, uma espécie de Carnaval de primavera. Fantasiados de gaúcho e prenda, fazem danças típicas, acrobacias equestres e festejam por vários dias o mútuo reconhecimento.

Depois falamos da longa duração e da entrega popular aos orgiásticos e ostensivos carnavais baiano ou carioca, como se os prolongados festejos sulistas nos ocupassem menos. De qualquer modo, durante esta época, os nativos sentem-se felizes e tranquilos, assim fardados e comportando-se conforme os clichês da personagem. Umas poucas insígnias resolvem as inquietudes de que tanto padecemos.

Fora da festa, a vida é mais hostil: os papéis viril e feminino não cessam de ser questionados, a sabedoria dos pais não vale um vintém e, diferentemente do patrão do CTG, ninguém ousa dizer aos mais jovens o que vestir, cantar e pensar. No baile à fantasia tradicionalista, basta envergar o traje regulamentar, e todas essas incertezas são banidas, gaúcho corretamente fardado é macho, prenda com saia de armação e flor no cabelo é mulher. As dúvidas do século 21 são resolvidas com o imaginário do 19, e estamos conversados.

“Não há como ser original, se não for com base em uma tradição”, escreveu o psicanalista Winnicott, aludindo ao fato de que partimos de uma base, que nos alicerça, justamente para transcendê-la. Nesse sentido, é sempre bom lembrar que, apesar do aspecto tranquilizante da festa regional, nossa cultura só mostrará sua riqueza enquanto for tributária do maior acervo de referências que pudermos adquirir.

Jorge Luis Borges, que muitas histórias de homens do campo escreveu, já dizia que “nossa tradição é toda a cultura ocidental”, “nosso patrimônio é o universo” e que “não podemos aferrar-nos ao argentino para ser argentinos: porque o ser argentino é uma fatalidade e nesse caso o seremos de qualquer modo”.

Ele propunha, como contraponto, que “se nos abandonamos a esse sonho voluntário que se chama criação artística, seremos argentinos e seremos, também, bons e toleráveis escritores”. O mesmo vale para nós, gaúchos. Só para lembrar que nosso movimento tradicionalista organiza uma boa festa popular, mas a arte e a cultura das quais nosso povo pode se orgulhar são muito maiores do que isso.

A cooperação financeira dos partidos - JOAQUIM FALCÃO

FOLHA DE SÃO PAULO - 26/09


Não é natural, como alguns sugerem sobre o julgamento do mensalão, partidos diferentes se ajudarem com dinheiro. Se é assim, os eleitores têm de saber


Se o eleitor soubesse que o PT pagaria as contas dos outros partidos, como por exemplo PTB e PP, isso alteraria o voto dos eleitores?

Se o eleitor soubesse que existia uma cooperação financeira entre partidos que se apresentaram distintos, com propostas diferentes, e que concorreram entre si, isso afetaria o seu voto? Essa seria uma informação relevante? Essa pergunta é indispensável para entender o mensalão e suas consequências.

Uns dizem e com razão que alianças políticas são naturais. Sejam antes ou durante a campanha. Ou mesmo no meio do governo. Fazem parte da democracia. Nada de novo. Nem mesmo a distribuição de ministérios. É prática comum, sobretudo em democracias parlamentaristas. Inevitável no presidencialismo de coalizão que temos.

Outros, no entanto, fazem duas ressalvas. Primeiro, aliança ou cooperação política é distinta de cooperação financeira. Aquela é aceitável. Esta não.

Segundo, se a cooperação financeira foi para pagar dívidas de campanha, não de meio de governo, a cooperação já estava estabelecida antes da campanha. Donde deveria ter sido pública. Feita a céu aberto. No debate dos palanques e da TV.

Por que? Por razão simples. Essas alianças influenciam o voto do eleitor. Conhecê-las é, sim, informação relevante. Elas não devem ser ocultadas. O deputado é representante, e o eleitor o representado. O representado, o eleitor, precisa saber quem está pagando seu representante, o deputado.

Mas não existe nenhuma lei que obrigue os partidos a revelar esta cooperação financeira, defendem-se os réus. Pode até ser. Mas existe a presunção de boa fé, fruto da cultura democrática, que os deputados de um partido não são financiados por outro partido.

A moralidade exigida pela constituição não se instala depois das eleições, mas no correr do próprio processo eleitoral. Como o Supremo já decidiu no caso da Lei da Ficha Limpa.

O ministro Ayres Britto considera que o Estado democrático de Direito é o maior de todos os princípios constitucionais. Estrutura e orienta outros princípios e regras da constituição. A democracia exige um eleitor cada dia mais e melhor informado. Daí o horário eleitoral, os debates e o principio da publicidade da administração pública.

Caso confirmado o conjunto articulado de crimes e ilícitos através de cooperação financeira oculta, o dano maior não terá sido ao caixa do Banco do Brasil, do Congresso, do fisco ou do Visanet. Terá sido ao Estado democrático de Direito.

Um cheiro de 1974 em 2014 - FERNANDO RODRIGUES

FOLHA DE SP - 26/09


BRASÍLIA - O Brasil viveu seu milagre econômico no início dos anos 70. O PIB cresceu 14% em 1973. No ano seguinte, a taxa foi de 8,2%. Ainda assim, 1974 está marcado nos livros de história como a época em que os brasileiros começaram a emitir sinais de insatisfação em direção aos generais no comando do país.

O MDB, oposição consentida, obteve vitórias importantes para vagas no Congresso em 1974. Era difícil de entender. A economia crescia num ritmo chinês, como se diz agora. Havia emprego farto e sensação de bem-estar. Mas, em meio à essa bonança, abriu-se uma fissura na ditadura.

Há similaridades entre 1974 e o atual momento, guardadas todas as devidas proporções -sobretudo o fato de o Brasil, hoje, viver em democracia.

Assim como em 1974, agora os eleitores começam a emitir mensagens diferentes em alguns centros urbanos. São Paulo é o caso mais saliente. Mas há também Recife, Belém e outras cidades grandes nas quais nomes tradicionais da política estão fracassando.

Pode-se argumentar, com certa dose de razão, que em todas as eleições ocorrem esses pontos fora da curva. É verdade. Mas aí entra São Paulo, a maior cidade do país e com uma história de exceções "dentro da normalidade".

Quando se olha o voto paulistano em retrospecto, nunca, no atual período de eleições diretas, o vencedor pertenceu a um grupo minoritário na política -caso do atual líder nas pesquisas, Celso Russomanno, do minúsculo PRB. Até a mais catastrófica administração recente, de Celso Pitta, havia saído de den-tro do establishment.

Ou seja, a fadiga de material que pune tucanos e petistas, mesmo com a economia nos eixos, pode tomar corpo e se alastrar pelo país em 2014. Isso vai acontecer? Impossível prever. Mas que há placas tectônicas se movendo na política brasileira, não resta a menor dúvida.

O preço do almoço - HÉLIO SCHWARTSMAN


FOLHA DE SP - 26/09



SÃO PAULO - "There's no Such Thing as a Free Lunch". Numa tradução livre, "almoço grátis é algo que não existe". A frase, popularizada por Milton Friedman, que a utilizou como título de livro de 1975, revela a ideia central da economia de que tudo tem um preço, ainda que ele não esteja evidente.
O princípio não está restrito à economia e vale para outras esferas, como direitos e dinâmicas sociais, aí incluída a liberdade de expressão. Como mostrou o "Tec", ela vem sendo objeto de debates, devido à conjunção dos incidentes provocados por sátiras ao islamismo e casos variados de autocensura na rede social.
Evidentemente, não existem direitos absolutos. Se afirmássemos algum deles em grau superlativo, estaríamos negando todos os demais, o que nos tornaria um povo de direito único. Ainda assim, há que reconhecer que a liberdade de expressão só faz sentido se for assegurada de forma robusta. Dou a palavra ao linguista e ativista político Noam Chomsky: "Se você é a favor da liberdade de expressão, isso significa que você é a favor da liberdade de exprimir precisamente as opiniões que você despreza". De fato, se o mecanismo devesse limitar-se ao que a maioria está disposta a ouvir, nem seria necessário inscrevê-lo como garantia fundamental nas Constituições.
E nós o fazemos, não por capricho dos primeiros ideólogos da democracia, mas porque ele regula um elemento essencial para o funcionamento da sociedade, que é a circulação de informações. Sem a livre troca de ideias, a democracia não funciona. Nem a ciência, a inovação, o desenvolvimento tecnológico e, por conseguinte, o avanço econômico. Isso para não mencionar as artes.
Exageros, bobagens e ofensas são o preço que precisamos pagar para ter uma sociedade aberta. O que há de novo aqui é que, em tempos de internet, tantos os benefícios quanto os ônus da liberdade de expressão ganham escala exponencial.

No princípio era Portugal - JOSÉ LUÍS FIORI


Valor Econômico - 26/09



O sistema mundial em que vivemos - interestatal e capitalista - surgiu na Europa, e só na Europa, entre 1150 e 1450, de um longo conflito sistêmico entre "feudos" e "centros imperiais" de poder, que conseguiram transformar suas "economias naturais" em economias capitalistas mais poderosas do que a dos seus rivais. Nesse período, a Península Ibérica cumpriu um papel decisivo na formação do próprio sistema e no início da sua expansão para fora da Europa. Os reinos de Castela, Leon e Aragão, que se transformaram no núcleo político do Império Habsburgo, que dominou a Europa, durante o século XVI, sob a batuta de Carlos V e Felipe II. Mas antes dos espanhóis, foi o reino de Portugal que se estruturou primeiro, como Estado nacional, e foi ele também que liderou o primeiro século da expansão mundial da Europa, depois da sua conquista de Ceuta, em 1415.

Portugal nasceu de um pequeno "feudo" - situado entre os rios Minho e Douro - que se rebelou contra Leon e Castela em 1143, e depois travou uma guerra expansionista de mais de dois séculos em duas frentes: contra os muçulmanos, ao sul, e contra os espanhóis, ao leste. Foi nesse período de guerra quase contínua com os "mouros" e os "castelhanos" que se formou o Estado português, depois da "reconquista" de Lisboa, em 1147, e da expulsão definitiva dos árabes, do Algarve, em 1249; e depois da assinatura do Tratado de Paz, de 1432, referendando a separação e o reconhecimento mútuo entre Portugal e Castela, algumas décadas após a Revolução de Avis, de 1385. Mas foi só no século seguinte à expulsão muçulmana de 1249 que Portugal criou as estruturas legais, tributárias e administrativas do seu Estado moderno.

O mesmo Estado que seguiu se expandindo durante mais um século e meio depois da paz com os castelhanos até construir o primeiro grande império marítimo da história moderna. O impulso inicial dessa expansão "para fora" não parece ter tido um objetivo nem um sucesso mercantil imediato, e só promoveu a ocupação e a colonização dos territórios conquistados depois de 1450 na Ilha da Madeira. Além disso, o empreendimento português contou com ajuda externa, mas se financiou sobretudo por meio da capacidade tributária do novo Estado, e da riqueza de suas Ordens Militares religiosas - em particular, os Templários - que forjaram em conjunto uma verdadeira máquina de guerra, conquista e tributação.

Península Ibérica cumpriu um papel decisivo na formação do sistema interestatal capitalista na Europa

Na altura de 1147, a economia portuguesa era local, e o seu comércio era feito em espécie. Mas depois de 1249, houve um aumento constante da circulação nacional de mercadorias, a partir da reforma monetária e do tabelamento de preços, promovido por D. Afonso III, na década de 1250. Em 1293, D. Diniz criou a primeira Bolsa de Mercadorias do país, com um sistema de seguros para os navios e cargas portuguesas, e durante toda a segunda metade do século XIII foram criadas mais de 40 feiras comerciais, responsáveis pela ativação de um incipiente mercado nacional.

Até o século XVI, o Estado português foi o maior proprietário de terras do país, e atuou como uma espécie de "banco de financiamento" das atividades econômicas públicas e privadas. Foi só em 1500 que o governo português conseguiu criar o seu sistema de títulos da dívida pública consolidada, e só foi depois de 1540 que esta espécie primitiva de "capitalismo de Estado" foi cedendo lugar ao desenvolvimento de um capitalismo privado de grandes companhias mercantis. Entretanto, esse processo foi interrompido em 1580, pela incorporação de Portugal pelo império espanhol de Felipe II e, depois, pela submissão comercial definitiva de Portugal, à Holanda e à Inglaterra, a partir de 1640.

Esta história pioneira de Portugal deixou algumas lições sobre a formação do sistema interestatal e do próprio capitalismo:

1) O primeiro Estado nacional europeu já nasceu dentro de um sistema de poderes competitivos;

2) Suas fronteiras territoriais, sua unidade política e sua identidade nacional foram construídas por duas guerras que duraram mais de 200 anos;

3) Essas guerras "nacionais" se prolongaram imediatamente, num movimento de expansão "para fora", na direção da África, Ásia e América, que durou ainda mais um século e meio;

4) Essas guerras e conquistas não tiveram inicialmente um objetivo prioritariamente mercantil, mas assim mesmo, no longo prazo, tiveram um papel decisivo na criação e expansão de uma economia de mercado e de um capitalismo nacional incipiente;

5) Nesse período, essa economia nacional de forte cunho estatal não alcançou a se "privatizar", nem chegou a criar um sistema nacional de bancos e crédito capaz de mobilizar o capital financeiro português, o segredo do sucesso posterior da Holanda e da Inglaterra;

6) Por fim, se pode dizer que Portugal teve um papel decisivo no "big-bang" do "sistema interestatal capitalista", que está vivendo uma nova explosão expansionista neste início do século XXI.

José Luis Fiori, professor titular de economia política internacional da UFRJ, é autor do livro "O Poder Global", da Editora Boitempo, e coordenador do grupo de pesquisa do CNPQ/UFRJ "O Poder Global e a Geopolítica do Capitalismo".

Lula - ANTONIO DELFIM NETTO

FOLHA DE SP - 26/09

Desde a Constituição de 1988, as instituições vêm se fortalecendo e o poder incumbente tem, com maior ou menor disposição, obedecido aos objetivos nela implícitos: primeiro, a construção de uma República onde todos, inclusive ele, são sujeitos à mesma lei sob o controle do Supremo Tribunal Federal; segundo, a construção de uma sociedade democrática com eleições livres e à prova de fraudes; terceiro, a construção de uma sociedade em que a igualdade de oportunidades deve ser crescente, por meio de um acesso universal e não oneroso de todo cidadão à educação e à saúde, independentemente de sua origem, cor, credo ou renda.
Vivemos um momento em que se acirram as legítimas disputas para estabelecer a distribuição do poder entre as várias organizações partidárias e que é propício aos excessos verbais, às promessas irresponsáveis e à agressão selvagem.
Afrouxam-se e liquefazem-se os compromissos com a moralidade pública, revelados no universo da "mídia". Esta também, legitimamente, assume o partido que melhor reflete sua "visão do mundo".
A situação é, agora, mais crítica porque a campanha eleitoral se processa ao mesmo tempo em que o Supremo Tribunal Federal julga um intrincado processo que envolve o PT e, em breve, vai fazê-lo em outro, da mesma natureza, que envolve o PSDB.
O que alguma mídia parece ignorar é que o uso abusivo do seu poder é corrosivo e ameaçador à necessária e fundamental liberdade de opinião assegurada no artigo 220 da Constituição, onde se afirma que "a manifestação do pensamento, a criação, a expressão e a informação, sob qualquer forma, processo ou veículo, não sofrerão qualquer restrição, observado o disposto nesta Constituição".
Primeiro, porque o parágrafo 5º do mesmo dispositivo previne que "os meios de comunicação social não podem, direta ou indiretamente, ser objeto de monopólio ou oligopólio". E, segundo, porque no art. 224 a Constituição fecha o ciclo: "Para os efeitos do disposto nesse capítulo, o Congresso Nacional instituirá, como seu órgão auxiliar, o Conselho de Comunicação Social, na forma da lei". Dois dispositivos suficientemente vagos que podem acabar criando problemas muito delicados no futuro.
Um exemplo daquele abuso é a procura maliciosa de alguns deles de, no calor da disputa eleitoral, tentar destruir, com aleivosias genéricas, a imagem do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ignorando o grande avanço social e econômico por ele produzido com a inserção social, o fortalecimento das instituições, a redução das desigualdades e a superação dos constrangimentos externos que sempre prejudicaram o nosso desenvolvimento.

É o fim do mundo - MARCELO COELHO

FOLHA DE SP - 26/09


Afraninho é um garoto fora de série. Aos nove anos, já leu as principais obras de José de Alencar (1829-77), de Raul Pompeia (1863-95) e de Nélida Piñon. As tias do interior dizem que ele é um crânio.

Como toda criança de sua idade, Afraninho também passa muitas horas no computador. Só que, em vez de perder tempo com bobagens, ele costuma acessar sites de alto conteúdo cultural.

Ultimamente ele tem se dedicado muito a acompanhar, pelo site do Supremo Tribunal Federal, o julgamento do mensalão. Mas quando os ministros dão uma folga, Afraninho volta ao seu sítio preferido. (Ele prefere dizer “sítio” em vez de “site”.)

É a página da Academia Brasileira de Letras (www.academia.org.br). Lá, Afraninho pode acompanhar o que de melhor se faz na literatura brasileira, ademais de manter-se ao corrente das atividades de seus acadêmicos preferidos.

Soube, por exemplo, que “atendendo a convite da Fiat feito à Academia Brasileira de Letras, o Acadêmico Carlos Nejar esteve presente, dias 13 e 14 do corrente, à Exposição de Caravaggio, no Museu de Arte de São Paulo”.

Nervosos, céleres, os pequenos dedos de Afraninho movimentam o mouse (ratinho? Camundongo? Camondongo, como preferem alguns?).

Outra notícia. O Acadêmico Evanildo Bechara comemora, com palestra, os quatro anos do Acordo Ortográfico. Já a presidente da ABL, Ana Maria Machado, informa que proferiu aula magna, em francês, na Universidade Blaise Pascal de Clermont-Ferrand.

Os alunos da Faculdade de Editoração e Ciências do Livro ouviram, assim, uma palestra na qual a autora “evocou sua trajetória em contato constante com os livros”.

Afraninho ia redigir um bilhete de congratulações quando algo chamou sua atenção no site da ABL.

Começava a ser transmitida, ao vivo, conferência do professor Jorge Coli, dentro do ciclo Mutações, organizado por Adauto Novaes.

Afraninho já tinha acompanhado outras transmissões do gênero, versando sobre Valéry ou sobre a morte das utopias.

O tema escolhido por Jorge Coli não deixava de ser alvissareiro: “O Sexo Não é Mais o Que Era”. Bom motivo para Afraninho acompanhar as considerações do renomado crítico. “Se o sexo ainda fosse o que eu penso que é, seria sem dúvida pouco recomendável que, na minha idade, eu seguisse a conferência.”

O título, todavia, iludiu o ajuizado garoto. Os comentários de Jorge Coli vinham acompanhados de imagens de elevado teor erótico.

Afraninho ficou de cabelo em pé, coisa que não lhe acontecia desde a última palestra de Marilena Chaui.

Uma das primeiras imagens era o célebre quadro de Courbet (1819-1877), que retrata, em close e de modo praticamente frontal, uma especificidade da anatomia feminina que nosso protagonista, bastante arguto para a idade, não tardou em reconhecer.

Seu cérebro, entretanto, estava despreparado e imaturo para a devida apreciação do que Jorge Coli exibia sem pudor.

A obra, cá entre nós, não é tudo o que dizem. Sua fama, para além da ousadia temática, reside no título que lhe foi dado por Courbet, o qual não passa de um trocadilho: “A Origem do Mundo”.

Confuso, Afraninho indagava-se se aquela pintura não seria outro quadro célebre, o “Isto Não é Um Cachimbo”, de Magritte. Suas dúvidas não puderam ser dissipadas.

Depois de outra imagem pesada, agora de Jeff Koons, e depois de Jorge Coli pronunciar uma palavra mágica, verdadeiro abracadabra para todo intuito de censura (a palavra “boceta”), algum funcionário da Academia Brasileira de Letras resolveu interromper a transmissão. A presidente da ABL, de volta de Clermont-Ferrand, subscreve a atitude saneadora.

Afraninho agora navega em outros sites da internet. Faz sucesso entre as crianças, por exemplo, o “Mundo Canibal”. Aparece ali um desenho animado humorístico. Um velho desdentado se decepciona ao saber que a loira a quem pagou por uma felação era transexual. Amputa-lhe o pênis; o sangue espirra na tela do computador.

Surpreendi meu filho de oito anos às gargalhadas com isso. Naturalmente, proibi o acesso ao site. Quanto ao site da ABL, tampouco o recomendaria a crianças de sua idade, por outros motivos.

De certo modo, a censura é bem-vinda. Para cada fictício Afraninho que se desencaminhou com a “A Origem do Mundo”, haverá dez ou vinte marmanjos sabendo agora que, no site da ABL, coisas interessantes também podem acontecer. Ou podiam.

A crise embutida num indulto a mensaleiros - EDITORIAL O GLOBO

O GLOBO - 26/09


Vencida parte do julgamento do mensalão, não é mesmo exagero afirmar que o Supremo Tribunal Federal tem feito História. Poucas vezes, em mais de 120 anos de República, houve um caso judicial com tantos e tão poderosos interesses políticos em jogo.

Há a referência recente do ex-presidente da República Fernando Collor, julgado por corrupção pelo STF e inocentado. Mas ele já havia sido destituído do cargo, num — também memorável — processo de impeachment aprovado no Congresso.

No mensalão, sentam-se no banco dos réus políticos de partidos no poder, alguns com mandatos no Congresso: João Paulo Cunha (PT-SP), Valdemar Costa Neto (PR-SP) e Pedro Henry (PP-MT), já com algumas condenações no julgamento. Há, ainda, no “núcleo político” da “organização criminosa”, duas estrelas graduadas do PT — José Dirceu e José Genoíno — e o tesoureiro do partido durante a operação de desvio de dinheiro público para o valerioduto, já comprovado pelo STF, Delúbio Soares.

O julgamento, portanto, envolve a espinha dorsal do poder político, a ponto de estimular o ex-presidente Lula a cometer a temeridade de, numa conversa indevida com o ministro do STF Gilmar Mendes, tentar convencê-lo a propor a postergação do julgamento para depois das eleições. Mendes se sentiu pressionado e até chantageado, denunciou a operação e o início do julgamento se tornou irreversível. Não fazia mesmo sentido adiá-lo.

Mas não parecem cessar articulações para ajudar réus mensaleiros. A mais recente, detectada pelo Ministério Público, envolveria um indulto, prerrogativa do presidente da República, a mensaleiros que sejam obrigados a cumprir pena em reclusão.

Este perdão é concedido na época de Natal e segue requisitos estabelecidos em decreto pelo presidente da República — pena mínima, tempo de prisão, bom comportamento, por exemplo. Nada impediria o Planalto de calibrar o decreto deste ano para libertar mensaleiros condenados.

Agem como aprendizes de feiticeiros aqueles que porventura engendram a manobra, pois colocarão o Executivo em rota de colisão com o Judiciário. Será uma ingerência indevida do Executivo na Justiça. Na prática, num golpe de esperteza, o Planalto terá revisto veredictos de juízes da mais alta Corte do país. Há cheiro de crise institucional no ardil.

Promotores e procuradores já alertaram o Ministério da Justiça. Como cabe a ele enviar os decretos anuais de indulto à Casa Civil, deve o ministério, como pedido pelo MP, excluir do perdão os condenados por corrupção, lavagem de dinheiro e delitos contra o sistema financeiro, os crimes enquadrados no processo do mensalão. A reivindicação é sensata e precisa ser aceita pelo Executivo.

DELÚBIO E SUA PIADA DE SALÃO


Peculiaridades não significam novidades - ROSÂNGELA BITTAR


Valor Econômico - 26/09


Peculiar é característico, ímpar, singular, e tantos outros adjetivos que o dicionário Houaiss nos oferece e podem qualificar a definição do que se passa no julgamento do mensalão pelo Supremo Tribunal Federal. O gigantismo do caso é peculiar, os estudos de jurisprudência que tem exigido também é, o entrelaçamento dos fatos, a imbricação dos crimes, dos acontecimentos, dos réus, das pessoas circunstantes. Qualquer dos personagens sobre quem se coloca um foco, vê-se que suas relações são inacreditavelmente variadas e amplas.

São 38 réus, muitas imputações, 600 testemunhas. O ineditismo, porém, está na intensa visibilidade, na exposição da técnica argumentativa do Ministério Público, dos advogados e dos ministros do Supremo, na jurisprudência peculiar que, embora exista desde sempre, nunca foi tão vista e ouvida como agora. Os fatos foram peculiaríssimos, exigindo um equacionamento também peculiar. Há filigranas, conexões, particularidades que exigem um equacionamento especial. Sem que isso signifique mudança. Os juízes estão dando tratos à bola nesse desempenho.

Avaliações de técnicos que acompanham o trabalho ali realizado desautorizam o reconhecimento de inovações. O que há de novo, admite-se, é a superexposição dos juízes, o conhecimento que toda a sociedade vai tendo, em tempo real, do julgamento, as teorias discutidas em praça pública - até (era imaginável?) em academias de ginástica cujos aparelhos de TV estão sintonizados na emissora da Justiça.

Entre as críticas que o tribunal registra, e que vêm até de advogados que não atuam na defesa dos réus, portanto descomprometidos, estão as de ter o STF surpreendido, por exemplo, com as teses do domínio do fato, do ato de ofício, da inversão do ônus da prova, para escolher três das campeãs de audiência.

Diz-se, no Supremo, que o novo é o contexto, o conhecimento que só chegou agora, com a transmissão ao vivo, a Internet, o tempo real, de todos os meios que não existiam há 20 anos. E a metodologia, tendo em vista a peculiaridade do processo. Uma metodologia em que se vai do particular para o geral, estabelecendo-se a conexão até a compreensão final. Fato por fato, protagonista por protagonista, peça por peça.

Nesse raciocínio indutivo, chega-se ao geral e às conclusões sobre o que houve. Não é uma inovação, defendem, é uma metodologia cuja novidade está apenas no fato de que todos estão vendo o processo andar e nunca antes haviam acompanhado um tão de perto quanto este.

Qual o ofício de um deputado? É o que, didaticamente, se perguntam os especialistas no julgamento para rebater a tese de que o Supremo inovou na caracterização do ato de ofício. É a opinião, a palavra, o voto. Atos que se praticam por ação e por omissão. Portanto, explica-se considerar a omissão.

À crítica à flexibilização da presunção da inocência, de que o STF foi alvo porque, em um dos votos, o ministro Luiz Fux argumentou que cabe ao réu provar seu álibi, responde-se que, se não provar, por exemplo, com recibos, que o dinheiro foi destinado a um pagamento específico alegado, cada um pode dizer ao juiz o que quiser e ficar tudo por isso mesmo. Mas também não é novo.

Outra jurisprudência da lista de inovações contestadas no plano técnico é a do domínio do fato como razão para imputar responsabilidade. Sem o grande protagonista os fatos aconteceriam daquela forma? Esta é a pergunta que pode sustentar o raciocínio e que já esteve nos meandros do encadeamento de votos. Sem determinada figura, tudo seria igual?

Foi o domínio do fato que absolveu, por exemplo, a ré do mensalão Geiza Dias. Ela sabia de tudo? Não. Do que sabia, tinha condições de questionar os patrões sendo uma servidora da iniciativa privada sem estabilidade no emprego? Não.

Não faz parte do rol de perplexidade com o peculiar, mas de um conjunto de exigências com que se pressiona o tribunal, a cobrança de fidelidade do juiz ao governo que o nomeou. São frequentes as contas de quantos ministros, nomeados por qual presidente, votaram desta ou daquela maneira.

A quem o ministro do Supremo deve fidelidade? Quando o processo envolve políticos e partidos, a cobrança se acirra.

Tome-se o exemplo de um juiz, conhecido como Carlinhos na sua região, estimado, respeitado e querido no Nordeste dos pequenos Sergipe e Alagoas, que foi lá buscado por alguém que o identificou, indicou, pinçou e nomeou para o Supremo Tribunal Federal. Passou pelo crivo dos três poderes. Qual o limite do seu compromisso com a circunstância pela qual chegou lá?

O ministro Carlos Ayres Britto, presidente do Supremo Tribunal Federal, personagem descrito acima, já teve oportunidade de se confrontar com essa questão e sobre ela refletir em mais de uma oportunidade em que se viu diante de um julgamento desafinado do desejo dos que o elevaram à função. Ayres Britto já expressou mais de uma vez à sua audiência que, do ponto de vista rigorosamente jurídico, o juiz tem que fazer a distinção. Enquanto juiz, é um agente. Então não pode se deixar tomar por uma virtude, um tipo de virtude que tem obrigação de ter, e tem, enquanto gente, que é a gratidão. Enquanto agente não pode ser grato, não vai pagar a nomeação com o exercício da função.

Na argumentação que o ministro apresenta em conversas e palestras, diz que tem fidelidade, mas no plano objetivo, não no subjetivo. Sua fidelidade é à Constituição. Essa exige, como condição de sua nomeação, reputação ilibada e notável saber jurídico. Assim, sua obrigação é transformar esses pré-requisitos em desempenho: permanecer com a boa reputação e manter o saber jurídico refinado, com estudos. Se o juiz observar essa divisão, estará em uma faixa de atuação segura. Enquanto vai guardando no seu coração, de gente, a gratidão ao descobridor.

Dilma e a ética pública - MERVAL PEREIRA


O GLOBO - 26/09


A manobra da presidente Dilma para esvaziar a Comissão de Ética Pública, que acabou gerando a demissão de seu presidente, o ex-ministro do Supremo Tribunal Federal Sepúlveda Pertence, mostra bem sua maneira de agir quando desagradada.

Depois de quase três meses sem se reunir, pois só contava com dois dos sete conselheiros, sem o quorum mínimo, portanto, de quatro membros para a realização de sessões, a comissão entrou em uma crise quando a presidente decidiu, afinal, preencher suas vagas. O não preenchimento das vagas passou uma mensagem clara do Palácio do Planalto: a comissão passara a ser um estorvo para o governo, que não tinha interesse em pô-la em funcionamento. Só depois que a imprensa chamou a atenção para a extinção branca da comissão, a presidente viu-se na obrigação de preencher as vagas no número mínimo para recolocá-la em condições de funcionamento.

Cinco mandatos se encerraram nos meses de junho e julho, e poderia haver reconduções para novos mandatos em dois casos, os dos conselheiros Marília Muricy e Fábio Coutinho. Nos outros três, a presidente da República teria, necessariamente, que nomear brasileiros sem passagem anterior pela CEP, pois já estavam em seu segundo mandato, como sempre foi praxe na comissão. Pois ela nomeou três novos conselheiros e não reconduziu os dois únicos que poderiam permanecer, justamente aqueles que haviam sido indicados por Pertence.

Mas não foi isso que os fez cair em desgraça junto ao Palácio do Planalto, e sim suas atuações em dois episódios envolvendo ministros do governo Dilma. Ambos atuaram na análise de denúncias contra o então ministro do Trabalho, Carlos Lupi, recomendando sua demissão após denúncia de que seu partido, o PDT, cobrava comissões de ONGs que tinham convênios com o Ministério do Trabalho.

A presidente Dilma, que parecia estar em meio a uma operação de faxina em seu Ministério para livrá-lo de corruptos, não gostou da orientação da comissão, pois seu plano era fazer a substituição sem romper politicamente com o PDT. Na ocasião, ela se disse desagradada por ter sabido através dos jornalistas da recomendação da comissão.

Não custa lembrar que o mesmo Lupi já tivera um enfrentamento com a mesma comissão - o que não é de estranhar - no governo Lula, quando o ex-ministro Marcílio Marques Moreira a chefiava. A comissão exigiu que Lupi deixasse a presidência do PDT enquanto exercesse o cargo de ministro do Trabalho, e ele durante meses resistiu à recomendação. Ao final de uma crise política tensa, a comissão exigiu a demissão de Lupi, obrigando-o a abrir mão da presidência formal do partido.

Os dois conselheiros que não foram reconduzidos aos seus cargos haviam também tomado parte da decisão de cobrar mais explicações sobre as palestras do ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel, sendo que Fábio Coutinho fora o relator do caso. Muito ligado à presidente, Pimentel ficou em situação constrangedora no ministério, o que irritou a presidente, que não pretendia abrir mão de sua colaboração.

A "punição" sofrida pelos dois conselheiros demonstra que o Planalto, sob a gestão de Dilma, não admite ser confrontado por uma Comissão de Ética Pública que se considere independente.

Para não fugir ao hábito de difamar os adversários, ou os que passa a considerar como adversários, o Palácio do Planalto deixou "vazar" informações de que os motivos de desagrado de Sepúlveda Pertence seriam outros, bem menos nobres.

O ex-ministro do Supremo estaria desgostoso porque seu filho fora preterido, tanto por Lula quanto por Dilma, na escolha para ministro do Tribunal Superior Eleitoral. A posição republicana de Sepúlveda passaria a ter, nessa versão palaciana, motivação vulgar: reivindicação nepotista não atendida. O ex-ministro do STF portou-se de maneira elegante ao pedir demissão, sem explicitar as razões mais profundas que o levaram a sair, dizendo apenas que o fazia em solidariedade aos conselheiros não reconduzidos. Mas Sepúlveda admitiu que a tarefa de "impor limites éticos" ao governo é necessária, mas difícil.

A posição da presidente Dilma, ao contrário, acende uma luz amarela em relação à sua disposição de abrir o governo ao contraditório, na busca de um aprimoramento ético. Justamente o contrário daquela imagem de "faxineira ética" do início do governo.

A revolução de Santos - JULIA SWEIG

FOLHA DE SP - 26/09


Em apenas dois anos, o presidente da Colômbia redirecionou a política externa da América do Sul


Que diferença um presidente pode fazer! Em apenas dois anos, o presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos, redirecionou a política externa para a América do Sul.

Forjou um modus vivendi com sua maior parceira comercial, a Venezuela, e uma trégua de retórica política com seu presidente, Hugo Chávez. Arrumou a bagunça criada por seu predecessor com o Equador, de Rafael Correa, e moderou a deferência de "melhor amiga" da Colômbia em relação aos EUA.

Forjou níveis inusitados de cooperação comercial, humanitária, de investimentos e de segurança com o Brasil. E, o mais positivo e inovador, deixou a ideologia de lado, substituindo-a pelo pragmatismo que procura resolver problemas.

Com índices de crescimento e classificações de investimento respeitáveis e com um muito cobiçado acordo comercial com os EUA, Santos está agindo para encerrar o conflito com o grupo armado mais antigo da América Latina, as Farc.

A desigualdade e a pobreza, a concentração das melhores terras nas mãos de financistas de cartéis e paramilitares, 3 milhões de colombianos deslocados dentro do país e a influência descarada dos paramilitares sobre o Congresso: esses problemas vão continuar presentes mesmo com a desmobilização e integração bem-sucedidas dos 8.500 soldados ainda restantes das Farc.

Santos agora considera que tirar as Farc do campo de batalha e do tráfico de drogas é um passo essencial para construir a vontade política necessária para fazer frente a essas divisões que ainda restam.

O presidente já pediu e aceitou ajuda de diversos atores externos. A Noruega tem um histórico de atuação nessa área -pense no processo entre Israel e a OLP- e vai sediar e pagar as negociações em outubro.

Notavelmente, o mesmo Chávez que o governo Uribe alegou ter dado refúgio às Farc e a seus negócios comerciais agora deixou claro ao grupo que é chegada a hora de aproveitar a oportunidade criada por Santos e sua "realpolitik".

É o mesmo Santos que, como ministro da Defesa de Uribe, impulsionou a decapitação do alto comando das Farc.

E há Cuba, país que ainda consegue guardar um segredo. Desde fevereiro de 2012, Havana sediou as discussões iniciais que prepararam o terreno para as negociações do próximo mês em Oslo e Havana.

Raúl Castro vem conservando perfil relativamente baixo na política externa, paixão do irmão Fidel.

Mas, usando o capital considerável de Cuba entre a esquerda latino-americana -armada e democrática-, Raúl posicionou Cuba como intermediária e "avalista" séria de negociações que possuem o potencial para encerrar o último conflito armado do século 20 na região.

Barack Obama vem aplaudindo o processo e guardando silêncio quanto ao papel de Cuba, dando espaço de manobra a Santos.

Num segundo mandato, ele poderia começar por pedir a seus amigos na América Latina -Santos, Dilma- que ajudem Washington e seu aliado acidental no processo de paz, Cuba, a estabelecer também eles uma negociação.

Noves fora - SONIA RACY


O ESTADÃO - 26/09


O governo Alckmin desistiu: não vai mais arcar com R$ 70 milhões para o aluguel de 20 mil lugares em arquibancadas provisórias do estádio do Corinthians – a serem utilizadas durante a Copa de 2014.

Em parceria com o clube, conforme confirma Luis Paulo Rosenberg, procura um patrocínio privado. “São Paulo já vai ter de arcar com a recepção de 32 chefes de estado, segurança, transporte, alojamento e festas”, justifica o diretor do clube.

Noves fora 2
O time também está negociando os “naming rights” do estádio com dois interessados. Valor? R$ 400 milhões. “Escolheremos até o fim do ano.”

Noves fora 3
Ja a Odebrecht, construtora da arena, está apreensiva. Se o BNDES não aprovar o financiamento de R$ 400 milhões em algumas semanas, a obra pode… parar.

Pelo que se apurou, os recursos, também de R$ 400 milhões, captados via empréstimos-ponte – com intuito de esperar o ok do banco – estão quase acabando.

O que “pega” na transação? A alta exigência de garantias

Via Varejo
Henry Kravis, chefão da KKR, chega ao Brasil semana que vem. Vai se reunir com Michael e Raphael Klein.

Leve e solta
Durante visita à exposição Esplendores do Vaticano, apoiada pelo MinC, anteontem,Marta Suplicy abriu o sorriso quando leu na parede da Oca a resposta de Michelangelo ao papa Julio II sobre quando a Capela Sistina ficaria pronta: “Quando eu conseguir”.

“Essa é boa para entrada de ministério”, disparou.

Presa
Não estar full time em São Paulo atrapalha a subida de Haddad nas pesquisas? “Não. Com ou sem ministério, estou fazendo o que disse que faria: carreatas, comícios e televisão”, diz Marta.

Direto de NY
Dilma pode ter saído na capa da Forbes, mas isso não aumentou o interesse da mídia internacional por seu discurso na ONU, ontem.

Estavam todos concentrados na fala de Mitt Romney no Clinton Global Initiative.

Direto de NY 2
Celso Kamura não acompanhou Dilma na viagem. Pintou e cortou o cabelo da presidente no sábado, antes do embarque.

Imbróglio à vista
A Câmara está finalizando relatório sobre mineração em terras indígenas na região Norte – assunto que tramita há mais de 15 anos no Congresso Nacional.

Mas já tem ambientalista alegando que a questão só está indo adiante porque pegará carona na mudança de cursos d’água prevista no projeto de Belo Monte.

In portuguese
E a Marvel Comics planeja lançar seus quadrinhos no Brasil, em formato digital, no começo do ano que vem.

Com direito até a edições que podem ser encadernadas.

Umbigo
Longe do poder, Carla Bruni ainda mantém alguns hábitos dos tempos de Palácio do Eliseu. A ex-primeira-dama retorna aos palcos, dia 29, em show para homenagear Charles Aznavour.

Exigiu rigorosíssimo sistema de segurança – que inclui escolta e vários policiais.

Clima pesado
Estresse no último capítulo da negociação de Ganso com o São Paulo, na madrugada de quinta para sexta. Roberto Moreno, da DIS, se “estranhou” com Luciano Moita, advogado do Santos.

Ofereceu a ele uma bolsa na faculdade de direito do ex-presidente do Santos, Marcelo Teixeira.

Na frente
Maria Fernanda Cândido e Selton Mello comandam a palestra A Criação de um Filme. Hoje, na Casa do Saber do Itaim.

Fran Parente lança a loja virtual Phonephotoprint, na Galeria Ouro Fino. Amanhã.

Ricardo Viveiros lança o livro Saudade. Dia 6, na Livraria da Vila do Shopping JK.

Tatiana Loureiro abre loja no Pátio Higienópolis. Hoje.

João Doria receberá, da Sociedade Brasileira dos Amigos da Universidade Hebraica de Jerusalém, o prêmio Scopus. Pela aproximação entre Brasil e Israel.

Thiago Lobo pilota reunião em torno de Serra. Hoje, no Círculo Militar.

E a Democracia Corintiana vai ganhar a Europa. É o livro Compagni di Stadio – l’Avventura Corintiana, que está sendo editado na Itália em comemoração aos 30 anos do movimento de Sócrates, Casagrande e cia.

GOSTOSAS


PEDALA, RONIQUITO - MÔNICA BERGAMO


FOLHA DE SP - 26/09

Daniel Rocha vai ao teatro para "desencarnar"de Rony, seu personagem em "Avenida Brasil" (Globo). Ele será o par romântico de Julia Faria na peça "Amigos, Amigos, Amores à Parte", escrita por Anna Carolina Nogueira e Junior de Paula. Prevista para o primeiro semestre de 2013, a comédia romântica será antecedida por dois curtas-metragens a serem divulgados na internet, com cenas relacionadas às da trama no palco.

EM NOME DE DEUS

A campanha de Celso Russomanno (PRB-SP) se prepara para acionar, na Justiça, padres católicos que peçam aos fiéis que não votem no candidato pelas ligações de seu partido com a Igreja Universal. Apesar do encontro dele com o arcebispo dom Odilo Scherer, no sábado, há relatos de que religiosos continuam a pregar nessa direção.

FORA DE ORDEM
"Não podemos controlar todos os padres", diz Rafael Alberto, secretário de comunicação da arquidiocese, ao receber relato da coluna de que religiosos, no fim de semana, fizeram pregação contra Russomanno em igrejas da zona sul. "A orientação de dom Odilo não é essa. Pelo contrário. Os nossos padres não podem fazer campanha eleitoral de jeito nenhum."

TUDO GRAVADO
A conversa entre Russomanno e dom Odilo foi mais tensa do que transpareceu. Logo no começo, o arcebispo perguntou se o candidato queria gravar a conversa. Diante da negativa, dom Odilo colocou um gravador sobre a mesa e avisou que ele, sim, registraria tudo. E ainda chamou outros religiosos para testemunharem o diálogo.

QUESTÃO DE HÁBITO
"Dom Odilo sempre grava audiências importantes", diz o secretário Rafael Alberto.

FORA DO AR
E Campos Machado, coordenador da campanha de Russomanno, diz que "convenceu" Marcos Pereira, pastor licenciado da Universal e presidente do PRB, a retirar da internet artigo em que atacava a Igreja Católica. O documento motivou a crítica de dom Odilo à "manipulação política da religião".

NO CÉU
Ainda Russomanno: ele não vai mais caminhar nas ruas. A ideia é evitar perguntas incômodas de eleitores que seriam "infiltrados" por campanhas adversárias.

A ordem agora é só fazer carreatas, com o candidato "a dois metros de altura" e inacessível aos "provocadores", diz Campos Machado.

ADEUS, ACRÓPOLE
A fachada neoclássica da antiga Daslu, na Vila Olímpia, começou a ser demolida. O prédio de colunas gregas dará lugar a um empreendimento de 28 mil m² no padrão arquitetônico contemporâneo dos vizinhos WTorre Plaza e shopping JK. Além de escritórios, está previsto um teatro de 1.200 lugares.

PONTE AÉREA
O Festival do Rio vai aportar em SP pela primeira vez. Em seu 14º ano, a mostra de cinema carioca fez parceria com o Sesc para exibir alguns de seus filmes no circuito paulista, entre 5 e 14 de outubro. Estão na lista títulos da retrospectiva "John Carpenter - O Medo É Só o Começo" e documentários como "Ai Weiwei: Sem Perdão", "Roman Polanski: Memórias" e "Woody Allen".

ATÉ MACACO
A biografia de Max Factor (1877-1938) "O Homem que Mudou as Faces do Mundo" (Ed. Matrix) será lançada no fim de semana no Brasil. Inventor do gloss e dos cílios postiços, ele foi responsável pelo visual de estrelas como Rodolfo Valentino e virou lenda no cinema. Criou, por exemplo, uma base capaz de ocultar a cicatriz na face direita do futuro galã. "Mr. Factor faz um macaco ter boa aparência", diz trecho do hino de Hollywood.

O RONALDO DO GOLFE
Cristian Barcelos, que aprendeu a jogar golfe em campo público e foi o primeiro negro a ser campeão brasileiro, foi convidado a disputar o Aberto de Golfe do Brasil, em outubro, em Cotia. Com 17 anos, será o único menor do torneio.

GIL NA REDE
Gilberto Gil disponibiliza hoje a primeira faixa do seu novo disco, "Concerto de Cordas e Máquinas de Ritmo", no serviço de streaming Rdio (www.rdio.com.br). O álbum chega às lojas na próxima semana e sairá também em DVD, Blu-ray e vinil.

SAMPA ENQUADRADA
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso esteve no lançamento de "São Paulo", livro com fotos tiradas no iPhone por Andrea Matarazzo, com curadoria de Charles Cosac, da Cosac Naify. A empresária Veronica Serra e seu filho Antonio Bourgeois foram à Livraria Cultura do Conjunto Nacional.

DIAS DE DANÇA
A atriz Laura Neiva e o apresentador Felipe Solari foram à festa em que a Geo Eventos apresentou projetos para 2013, como o musical "Dancing Days". A modelo Fernanda Motta e o cantor Latino também passaram pela Casa Fasano, anteontem, em São Paulo.

CURTO-CIRCUITO

O festival É Tudo Verdade aceita até o dia 10 de dezembro inscrições para documentários brasileiros e internacionais.

Silvia Aquino, do conselho da Jornada Mundial da Juventude, promove jantar beneficente hoje no Palácio dos Bandeirantes.

Selton Mello e Maria Fernanda Cândido dão palestra sobre a criação de um filme. Hoje, na Casa do Saber, a partir das 20h.

Fernanda Kujawski mostra coleção de verão da FK Collection, no Itaim Bibi, a partir das 13h.

Rezar? - ROBERTO DaMATTA


O Estado de S.Paulo - 26/09


Rezamos todos ou a reza, como reza o hábito, é um atributo (ou um privilégio) dos que acreditam em alguma coisa? Acreditar é um verbo poderoso. Talvez o mais poderoso de todos, porque ele afirma algo que é ou não é, dependendo do ponto de vista. Eu acredito em Deus!, diz Francisco; Eu não!, responde José. Acredito que o mundo vai acabar em dezembro deste ano e que o mensalão é obra das elites reacionárias, de uma imprensa corrompida e de um Supremo Tribunal Federal golpista, dizem os defensores de Lula.

O pragmatismo inocente afirma que "gosto não se discute", mas se aplicarmos isso ao verbo crer, o mundo se abre a uma torrente de loucuras. De fato, aprendemos que o verbo acreditar também tem limites. Não há como acreditar em Papai Noel ou que a morte não exista fora dos simbolismos culturais e religiosos. Crer é um direito e um ato de fé.

Há quem acredite em X, Y e Z - e há quem não acredite em X, Y e Z. Então X, Y e Z têm um lado oculto (ou tenebroso) que a suposta luminosidade do crer não alcança. O não crer obriga o crente a ver o todo. O crer, por seu turno, leva o cético a ver o lado que lhe falta e que ele imaginava não existir.

* * * *

Esta pobre meditação é o resultado de um fato concreto e do meu mal-estar relativo ao mundo político brasileiro.

Primeiro, o fato.

Morre uma professora dedicada. Eu não a conheci, mas pelas mensagens que recebo, relembro como é dura a reconciliação com a presença concreta da morte para seus entes queridos. Eis que, no meio das mensagens, um padre solidário com a perda espera não constranger os seus colegas ateus com suas preces. Poucas vezes me deparei com um exemplo de tamanha delicadeza e sensibilidade. Que os ateus me desculpem, eu não rezo para ofendê-los, diz o padre.

Como um conforto ao sacerdote, eu desejo sugerir que todos rezam. Uns acreditando, outros sem acreditar. Mas, perguntaria um crente: como rezar sem um Deus? Ora, responderia o ateu, e como rezar para divindade se o rezar é um ato pelo qual se aceita o mundo tal como ele é? Na sua bondade e maldade, nas suas trevas e luzes? Mais do que reconhecer, suplicar ou tentar estabelecer um contrato com as divindades, a prece é, já dizia Mauss, o ato religioso mínimo para entrar em contato com o sobrenatural que nos cerca e aterroriza, sejamos crentes ou ateus.

Rezar é reconhecer nossa finitude, fraqueza, carência, angústia e solidão. É admitir que vivemos numa totalidade que não podemos conhecer completamente. É um ato que pertence ao que Gregory Bateson chamou de "uma ecologia da mente". Pois, quando rezamos, suspendemos o aqui e agora dominados pelo eu para irmos de encontro ao todo. Rezar é admitir que há no mundo seres e situações estranhas, acima (ou abaixo) dos elos entre meios e fins. Há quem use um canhão para matar um passarinho e quem tente enfrentar gorilas com poesia. O mundo não é claro como querem os materialistas, mas também não é absolutamente escuro como desejam os crentes.

* * * *

Eu ando rezando às claras e às escuras. Vejo no Brasil que julga o mensalão um dado novo e alarmante para os poderosos de todos os matizes e de todas as estirpes.

Este é um julgamento que pela primeira vez na nossa História vai traçar limites não apenas para quem cometeu ilegalidades no poder, mas nos contextos ou situações engendradas por quem o ocupou e, sobretudo, por quem se deixou ocupar pelo poder.

Meu mal-estar com relação ao Brasil tem a ver com a força de quem tem certas crenças. E para quem tem certas crenças, os fins justificam os meios. Ser poderoso é, no Brasil, bradar pela ausência de limites. Será mesmo possível punir um poderoso no Brasil? É possível aceitar o erro de um petista, mesmo sendo petista? Pode-se admitir que os petistas, como a maioria dos seres humanos, são também ambiciosos e podem errar, como foi o caso do mensalão e, pior que isso, o aliar-se em São Paulo ao sr. Maluf?

Pode-se ser de esquerda deixando de lado o chamamento milenarista que promete um mundo perfeito quando perpetuamente governado por um messias? Seria possível ter no Brasil uma administração pública na qual oposição e situação aceitem os seus erros e tenham consciência dos seus limites?

Será que hoje não estamos num tempo em que a ética tem sido comida pelo político e pela "política da coalizão", que foi a alma do fato em causa? Politizar negativamente é impedir a visão do todo como sendo feito de parcelas diferenciadas. Se você, leitor, concorda comigo, reze. Se não concorda, reze por mim.

Tecido social - ANTONIO PRATA


FOLHA DE SP - 26/09

"Você quer produzir e não te deixam! Fui obrigado a pagar propina pro fiscal! É foda! Esse país é foda!"

REINALDO BOUCINHAS, 67, é engenheiro e está indignado com "essa corja do PT que dominou o país". Ano passado, Reinaldo teve a carta cassada por excesso de pontos. Foi ao despachante e por R$ 1.100 em três vezes sem juros, comprou uma habilitação limpinha, sem fazer o curso de reciclagem ou passar por suspensão. "Cê queria o que? Que eu ficasse um ano sem dirigir?! Eu trabalho, queridão, sou pai de família!" No vidro traseiro de seu carro, sr. Boucinhas tem um adesivo: uma mão sem o mindinho, sob o símbolo de proibido.

Luciana Boucinhas, 33, é atriz, dramaturga e acabou de aprovar na Lei Rouanet um monólogo de sua autoria. "Istmo Holístico" arrecadará R$ 300 mil de isenção fiscal, dos quais Luciana embolsará 30, apresentando notas falsas de "despesas com transporte", arrumadas por seu namorado, empresário. "Nesse país, com arte de vanguarda, não dá pra viver de bilheteria, cara! Tô me financiando, cara! Tô financiando a arte, entendeu, cara?!"

Rafael Galhardi, 42, é empresário e tem uma fábrica de embalagens biodegradáveis. A fábrica está numa área estritamente residencial. "Pra você ver como é esse país! Você quer produzir e não te deixam! Quer dizer... Fui obrigado a pagar propina pro fiscal liberar a fábrica! É foda! Esse país é foda!"

Hélio Pereira, 55, fiscal da prefeitura e católico praticante. Confessa-se todo ano. Teme as chamas do inferno. "Mas você quer o quê? Que eu viva com o salário de funcionário público?! Eu sou só uma gota no oceano!" O padre da igreja que Hélio frequenta, felizmente, tem lhe acalmado. Com alguns pais-nossos, ave-marias e boas ações, ele jura, Hélio entrará no reino dos céus.

Padre Osvaldo, 48, vê seu rebanho diminuir a cada ano, levado pela Igreja Internacional da Assembleia Divina, duas ruas abaixo. "Gente ignorante, gente corrupta, que só quer saber do dízimo!" Semana passada, padre Osvaldo recebeu uma boa notícia. Um de seus paroquianos, fiscal da prefeitura, conseguirá cassar o alvará do templo, expulsando os infiéis para outro bairro.

Pastor Sandro, 31, é membro da Igreja Internacional da Assembleia Divina e está preocupado com esse lance do alvará. "A Igreja Católica deita e rola e ninguém faz nada, mas é o evangélico mexer um dedo que cai todo mundo em cima!" Por isso, pastor Sandro está agindo na surdina. Já falou com o Elias e o Sem Noção, seus amigos de infância, no Morro do Querosene, pra darem um susto no padre Osvaldo. "Só um susto. Vamos ver se ele recua."

Sem Noção, 31, foi morto pela PM no último sábado com um tiro na nuca, numa quebrada do Querosene. Deixou uma moto, dez pedras de crack, cinco filhos e três viúvas.

Major Augusto, 55, acaba de dar cinquentinha para que o Pedrão, do almoxarifado, libere pelo menos um.32 lá das apreensões, pra ele poder cravar um "resistência à prisão" na execução do noia. "Ó que paisinho?! Agora cê precisa de desculpa pra matar bandido!"

Antonio P., 35, é escritor e deu R$ 50 pro major Augusto, em 1999, quando foi parado numa blitz com sua namorada, Margarida, e estava com o IPVA vencido.

Margarida: tinha olhos azuis como bolas de gude e falava em viver na Itália. Que fim terá levado?

Ainda que tardia - MIRIAM LEITÃO

O GLOBO - 26/09


Enfim. É a primeira coisa que se pode dizer sobre a decisão da Justiça de que na certidão de óbito de Vladimir Herzog deixe de constar a mentirosa informação de suicídio. O Brasil começou a mudar. Lenta e tardiamente. Já há réus em crimes de morte de presos políticos, o STF tomou uma decisão que altera a interpretação que impedia processo contra responsáveis por casos de desaparecidos.

Na semana passada, a segunda turma do STF deferiu parcialmente o pedido do governo argentino de extraditar Claudio Vallejos, acusado de tortura, homicídio, sequestro e desaparecimento forçado de pessoas durante a ditadura militar argentina. Ele era militar e atuava num terrível centro de tortura, a Escola de Mecânica da Armada Argentina (ESMA). O deferimento só foi parcial porque ele responde a processos no Brasil.

A defesa alegou que o crime prescreveu. O ministro Gilmar Mendes, autor do voto seguido por unanimidade, citou jurisprudência do STF de que "nos delitos de sequestro, quando os corpos não forem encontrados, em que pese o crime ter sido cometido há décadas, na verdade se está diante de um delito de caráter permanente, com relação ao qual não há como assentar-se a prescrição". O Ministério Público tem trabalhado com essa tese: do crime permanente para os casos como os do deputado Rubens Paiva e de mais de uma centena de brasileiros cujos corpos jamais apareceram.

Não é o caso de Vladimir Herzog. Convocado, o jornalista compareceu ao II Exército para prestar depoimento. Horas depois, estava morto. O corpo dele foi entregue à família para o enterro, mas na certidão de óbito foi registrado o que foi dito na nota do II Exército.

Foram necessários 36 anos, 10 meses e 30 dias para que o Estado brasileiro conseguisse emitir através do Judiciário a ordem de que a mentira seja removida dos documentos oficiais. Nesse tempo, já houve sete mudanças na Presidência da República. O último general saiu do Palácio há 27 anos, seis meses e 11 dias. E só agora a versão dos torturadores está sendo varrida da história.

Mesmo para um país que tem dificuldade de olhar seu passado, entendê-lo, aprender com ele para pavimentar o futuro, essa espera foi longa demais. O que constrangeu o poder civil e democrático por tanto tempo? Inexplicável.

Recentemente, a Justiça Federal de Marabá, no Pará, aceitou a denúncia contra o coronel Lício Maciel, no caso da morte de Divino Ferreira de Souza. A juíza Nair Pimenta de Castro abriu ação contra ele por ter assumido esse e outros crimes na fase final da luta contra a guerrilha, quando, segundo o MPF, houve a "adoção sistemática de medidas ilegais e violentas, promovendo-se o sequestro e a execução sumária dos militantes". A denúncia contra o major Sebastião Curió, ajuizada antes, tinha sido recusada, mas a decisão foi alterada, e ele também virou réu em mortes ocorridas na mesma época, durante a ditadura.

A Comissão da Verdade não tem atribuição judicial. Sua função é buscar as informações, tomar depoimentos, fazer sugestões ao governo de como encaminhar o problema. Mas sua existência, ainda que com depoimentos tomados de forma reservada, tem ajudado a movimentar o país na busca dos pontos perdidos dessa dolorosa história. O Ministério Público tem apresentado denúncias em todas as regiões do país para esclarecer o entendimento sobre os princípios da justiça de transição; que trata dos crimes de um período de exceção.

Tudo isso aconteceu há muito tempo. Alguns desses crimes foram cometidos quando a maioria dos brasileiros nem era nascida. É mais um motivo para que o Estado brasileiro se apresse.

Crise na Comissão de Ética - EDITORIAL O ESTADÃO


O Estado de S.Paulo - 26/09


A presidente Dilma Rousseff fez o que podia fazer, mas não devia, e recebeu o troco em má hora. Ela podia não renovar os mandatos de dois dos sete membros da Comissão de Ética Pública, que expiraram nos últimos dois meses. Afinal, o órgão integra a Presidência da República, subordinado, portanto, ao chefe do governo. Mas não devia fazê-lo, por dois motivos. Primeiro, porque, desde a sua criação, em 1999, para zelar pela boa conduta dos membros do Executivo federal, nenhum dos presidentes que precederam a atual, Fernando Henrique e Lula da Silva, deixou de reconduzir para um segundo período de três anos os integrantes da comissão cujos nomes lhes haviam sido indicados pelo titular do colegiado.

Em segundo lugar, porque os substituídos, Marília Muricy e Fabio de Sousa Coutinho, desagradaram à presidente não por desídia ou leniência no exercício das suas funções, mas, ao contrário, por terem sido rigorosos na exigência de retidão no comportamento de ministros de Estado - contribuindo, a seu modo, para a faxina ética que Dilma se viu induzida a conduzir, fazendo disparar os seus índices de popularidade.

Deu no que deu. Bem na hora em que o julgamento do mensalão no STF fincou a questão da moralidade política no centro das atenções nacionais, a renúncia do presidente da Comissão de Ética, o jurista e ex-ministro do STF Sepúlveda Pertence, colocou Dilma no lado errado da narrativa sobre o imperativo da lisura em todos os escalões do poder nacional.

Depois de dar posse aos três novos membros do organismo, Pertence entregou o cargo que deveria ocupar até dezembro de 2013, lamentou abertamente a "mudança radical" criada pelo afastamento de Marília e Coutinho e assinalou ser às vezes "mal compreendida" a finalidade da comissão de "estabelecer uma cultura de ética" no Executivo. Para a presidente, não é o melhor momento para que expressões do gênero, ainda por cima ditas por quem as disse e por que, ingressem no noticiário. Mas ela só tem a culpar a si própria por esse constrangimento. Dilma tinha ficado agastada com a comissão, da primeira vez, em fins de 2011, quando, por iniciativa de Marília, o colegiado recomendou a demissão do ministro do Trabalho, Carlos Lupi, do PDT, alvo de uma batelada de denúncias de irregularidades nos convênios da pasta com ONGs de fachada.

Desejando manter Lupi no governo, para não se atritar com o patrono Lula, que o indicara para a função, a presidente rejeitou a recomendação, alegando que o relatório de Marília se baseava apenas em denúncias de jornal. Pior ainda, para o seu senso de autoridade à flor da pele, foi ter tomado conhecimento pela imprensa do ato da comissão. A gota d'água foi a declaração de Marília de que a presidente deveria "respeitar as regras do jogo democrático". Contra Coutinho, o outro conselheiro substituído, a zanga de Dilma veio do fato de ter ele proposto aos seus pares, em junho último, que aprovassem uma "advertência" ao ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel, amigo de longa data da presidente.

O ministro ficou sob a mira da comissão quando se divulgou que, entre 2009 e 2010, havia prestado nebulosos e regiamente pagos serviços de consultoria à Federação das Indústrias de Minas Gerais - fonte de possível conflito de interesse com o cargo que viria a assumir. A comissão preferiu pedir a Pimentel que esclarecesse se o seu contrato com a entidade ainda estava em vigor quando se tornou ministro. Anteontem, o presidente interino do colegiado, Américo Lacombe, pediu novas diligências sobre viagem de Pimentel à Europa em avião fretado pelo empresário João Dória Jr. O inquérito não tem prazo para acabar. Dilma, é verdade, escolheu nomes insuspeitos de afinidades políticas com o governo para as vagas abertas na comissão. O que não autoriza, salvo fatos novos em contrário, que se fale em seu aparelhamento.

Mas ela não terá como dissipar a impressão de que foi mesquinha ao se vingar dos conselheiros que a irritaram, deixando no ar, além disso, a suspeita de que pretenda neutralizar o órgão que zela pelo padrão ético do Planalto.

Ueba! Voto no Caixão Furado! - JOSÉ SIMÃO

FOLHA DE SP - 26/09


Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República!

Manchete do Piauí Herald: "Lula acusa forças conservadoras pela barriga do Ronaldo". Rarará!

E ontem eu conheci um eleitor do Levy Fidelix, cem rejeitores do Serra e 90 do Haddad. Agora a eleição se divide em eleitores e rejeitores. "Eu sou rejeitor do Haddad." "E você?". "Ah, eu sou rejeitor do Serra."

E uma coisa que me deixa cismado: já imaginou o estado daquelas poltronas velhas do Supremo? Os tiozinhos ficam sentados ali o dia inteiro de capa preta e suando sem parar. Cheiro de mofo com cê-cê!

Pena pros mensaleiros: lavar as cadeiras do Supremo! Pena do Zé Dirceu: lavar a cadeira do Joaquim Barbosa! Aliás, o Joaquim Barbosa parece piloto de F-1. Tá sempre semideitado. Pena pro Valdemar Costa Neto: cheirar a cadeira do Lewandowski! Rarará!

E a Piada Pronta: "Jacinto Lamas acusado 40 vezes de crime de corrupção passiva - número de saques no Banco Rural". Deve tá dando graças a deus que só foi 40 vezes! Se tivesse sacado cem vezes, pegava cem condenações!

E Lamas só pode ir no Banco Rural mesmo, coerente. E eu acho que ele dava plantão na porta giratória! A porta girava, ele entrava e sacava de novo!

Ereções 2012! E o Haddad tá com cara de galã indiano. Devia ser prefeito de Bollywood! E o Serra tá com cara de vampiro com cólica!

E o Giannazi, do PSOL, parece o João Kléber. Só que não usa Gucci! Ou então o Silvio Brito, que cantava aquela musica "Pare o Mundo que Eu Quero Descer". Rarará!

E quem faz os textos do Eymael é o Pedro Bial? E o Russomanno tucanou o estupro. Agora só fala: assalto sexual! E não adianta os tucanos ficarem com cara de virgens incas! Rarará!

Olha esta: "PSDB lidera o ranking dos candidatos fichas-sujas". É o que eu sempre digo: não tem virgem na zona! É mole? É mole, mas sobe!

"Avenida Brasil"! O Lúcio se disfarça de bandido pra passar despercebido no aeroporto, troca uma mala por outra na frente da Polícia Federal fazendo campana e a Família Real do Divino chega ao aeroporto em dez minutos. O mais mirabolante: arruma uma vaga! Rarará!

E quem leva Real pros Estados Unidos? A Nina, a sem pen drive! Rarará! Nóis sofre, mas nóis goza!

Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

Púlpitos vazios? - VERA MAGALHÃES - PAINEL


FOLHA DE SP - 26/09


O debate da TV Gazeta pode ter sido o último com os três principais candidatos à Prefeitura de São Paulo. José Serra (PSDB) ainda não se comprometeu a ir ao encontro da Record, controlada pela Igreja Universal, na próxima segunda-feira. Por sua vez, o PRB avalia a conveniência de o líder das pesquisas comparecer ao confronto na Globo, dia 4. A própria emissora pode cancelar o debate caso a Justiça decida que Levy Fidélix (PRTB) e Carlos Gianazzi (PSOL) têm de participar.

Papelzinho Representantes dos partidos se reuniram ontem na Record e assinaram as regras para o debate. A assessoria do tucano foi a única a não participar.

Cativa A emissora exigiu 75 dos 200 lugares para acomodar seus convidados no auditório. A mediadora será a jornalista Ana Paula Padrão.

Sessão Coruja Sob protestos dos candidatos, o debate começará às 23h15. A Record promete iniciar a transmissão com a audiência entre 7 e 8 pontos, que seria a maior dos embates até aqui.

Barulho Vereadores do bloco de Gilberto Kassab pressionam o QG de Serra a retirar de seu plano de governo o item que prevê ampliação do Cidade Limpa, vitrine do prefeito, para a poluição sonora. Não querem encrenca com templos religiosos, bares e restaurantes.

Bilhete azul Haddad manterá a estratégia de desconstruir as propostas de Russomanno. Sobre a que prevê tarifa maior para quem andar mais de ônibus, o petista dirá que patrões que subsidiam passagens poderão demitir funcionários que morem longe do emprego.

Infiéis A Justiça de Uberaba proibiu aparições de Aécio Neves e Antonio Anastasia na propaganda de Antonio Lerin (PSB). Os tucanos estrelam inserções de TV e placas do deputado socialista, embora o PSDB tenha candidato próprio na cidade.

Para a torcida Apesar de evitar se manifestar sobre o mensalão, Teori Zavascki agradou senadores da Comissão de Constituição e Justiça ao dizer que entende que a perda de mandato de condenados pelo STF não é automática. Casos como o do deputado João Paulo Cunha (PT-SP) teriam que passar pelo crivo da Câmara.

Melhor não Zavascki ouviu de senadores governistas que, se seu nome fosse à votação no plenário ontem, corria o risco de ser rejeitado. Líderes avisaram ao Planalto que o quórum de 58 senadores era incerto e a oposição faria da tribuna um palanque sobre o mensalão.

Em cima... Alguns ministros do STF que estranharam a declaração de Zavascki de que é a corte quem decide se ele estará apto a julgar o mensalão afirmam que sua participação se daria na fase dos embargos, mas não na dosimetria das penas.

...do lance Outros dizem que será a primeira vez que o plenário decidirá essa questão. E lembram que, quando Luiz Fux entrou na corte, desempatou o Ficha Limpa.

Visitas à Folha Giovanni Guido Cerri, secretário da Saúde do Estado de São Paulo, visitou ontem a Folha, a convite do jornal, onde foi recebido em almoço. Estava com José Otávio Costa Auler Jr., vice-diretor no exercício da diretoria da Faculdade de Medicina da USP, Flávio Fava de Moraes, diretor da Fundação da Faculdade de Medicina, e Vanderlei França, assessor de comunicação.

Bernardo Paz, presidente do Conselho de Administração do Instituto Inhotim, visitou ontem a Folha. Estava com Roseni Sena, diretora executiva, e Ronald Sclavi, diretor de comunicação.

com FÁBIO ZAMBELI e ANDRÉIA SADI

tiroteio

"Docemente constrangido, ele não falou sobre o mensalão para participar do julgamento. Mesmo que apenas na fase de embargos."
DO SENADOR ROBERTO REQUIÃO (PMDB-PR), sobre as respostas do futuro ministro Teori Zavascki na sabatina de ontem para ocupar cadeira no STF.

contraponto

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Conhecido por ser um ferrenho defensor da língua portuguesa e adversário dos estrangeirismos, o ministro do Esporte, Aldo Rebelo, esteve em Londres neste ano por três vezes por causa das Olimpíadas.

Numa das visitas à capital inglesa, foi abordado por uma repórter do diário londrino "Daily Telegraph", que perguntou se ele tinha intérprete. Aldo retrucou:

-E a senhorita fala português?

Diante da negativa da repórter, o ministro completou, sempre no idioma pátrio:

-Então é a senhorita que vai precisar de intérprete...