terça-feira, abril 21, 2009

GOSTOSA

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MERVAL PEREIRA

Influência política

O GLOBO - 21/04/09


Bastou que uma notícia não confirmada fosse divulgada por um blog nos Estados Unidos para que as bolsas de todo o mundo desabassem e dessem razão ao presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, que avisara no fim de semana que não é hora ainda de otimismos exagerados, como o de anunciar que “o pior já passou”. O boato que ajudou a derrubar as bolsas indica que nada menos que 16 dos 19 maiores bancos americanos não teriam passado nos testes de estresse do governo americano, que visam a aferir a real situação dos bancos. Nos últimos dias, bancos como JP Morgan, Goldman Sachs, Citigroup, e ontem o Bank of America anunciaram lucro no 1º trimestre deste ano, mas há indicações de que essa seria uma situação temporária, causada por mudanças contábeis e pelas injeções de dinheiro que o governo de Barack Obama está despejando no sistema bancário como um todo, na tentativa de evitar uma nova quebra como a do Lehman Brothers, e não precisar estatizá-lo.

Recentemente, um trabalho do antigo economista-chefe do Fundo Monetário Internacional Simon Johnson, hoje professor do MIT, publicado na Atlantic Monthly, analisa o “enorme poder político” do sistema financeiro, sobretudo nos Estados Unidos, e a dificuldade que isso impõe à solução da crise que seus próprios integrantes criaram, com o apoio implícito dos governos.

Os bancos estariam se recusando a reconhecer a exata dimensão de suas perdas, que os transformaria em empresas insolventes.

Essa recusa só aumentaria a crise, pois bancos “doentes” ou não emprestam, ou se arriscam em investimentos que podem pagar muito, mas que geralmente não valem a pena. Esse comportamento só ajudaria a piorar a crise e a situação dos próprios bancos, criando um círculo vicioso.

O jornalista Martin Wolf, considerado o mais importante analista econômico do jornal inglês “Financial Times”, analisando esse estudo de Simon Johnson, conclui que a solução da crise tem que contemplar uma reforma do sistema financeiro que, entre outros pontos, inclua a possibilidade de quebra de um banco, mesmo os que hoje são considerados “muito grandes para quebrar”.

E afirma que não haver a possibilidade de uma falência de um grande banco “não é capitalismo, mas socialismo”.

Este é um ponto interessante no momento atual, quando os papéis estão se invertendo com uma facilidade enorme e antigas crenças estão caindo por terra, embora a posição ideológica dos governos não tenha mudado.

A defesa do “Estado forte” como tese permanente, com base na necessidade de intervenção estatal momentânea que o mundo vive, é uma visão apressada de setores do governo brasileiro, vocalizada pelo próprio Lula em momentos mais entusiasmados.

Enquanto Lula defende a estatização dos bancos como solução, o presidente Barack Obama resiste à idéia, mesmo que muitos deles estejam praticamente “federalizados” nos Estados Unidos com o dinheirão que o governo vem colocando neles.

O novo governo dos Estados Unidos resiste a privatizar os bancos, o que seria uma quebra de paradigma fundamental, muito mais representativa de uma mudança do que as estatizações de bancos já ocorridas em países europeus, que têm tradição de bancos estatais.

A situação econômica é tão complicada, e sem uma saída clara, que pode vir do México, um país governado pelo conservador Calderón, uma das medidas mais drásticas já tomadas, o tabelamento do spread bancário e dos juros.

Quando o presidente Lula intervém na presidência do Banco do Brasil para forçar uma política de redução do spread bancário — a diferença entre os juros oficiais e o que um banco cobra por empréstimos —, demonstra que o governo brasileiro pode ir além nas medidas de intervenção no mercado financeiro, ainda mais se não for o primeiro.

Uma política intervencionista como essa que se antevê no México, com o governo definindo uma meta máxima para os juros, seria a mesma coisa que fixar os juros reais em 12% ao ano como fizeram os Constituintes de 1988 no Brasil.

O artigo constitucional nunca foi regulamentado e hoje estaria caduco se ainda vigorasse, pois a economia evoluiu nesses 20 anos. Com o controle da inflação e o equilíbrio fiscal, caminhamos para taxa anual que logo poderá chegar a 4% ou 5% reais.

Mas a possibilidade de tabelamento, num clima internacional que aceita toda medida heterodoxa para combater a crise, e mais um problema concreto como o da remuneração das cadernetas de poupança, está colocando o sistema financeiro brasileiro de sobreaviso.

Os bancos dependem do governo para que as regras das cadernetas sejam alteradas, para que os depósitos de renda fixa não sofram a competição da remuneração das cadernetas, que além de não pagar imposto de renda, passará a ser maior.

O interesse do governo coincide nesse caso, pois a remuneração de seus títulos tem que ser atrativa para os investidores. Ainda mais agora, que os gastos do governo já estão se mostrando incompatíveis com o equilíbrio fiscal, e o superávit primário teve que ser reduzido para fechar as contas de custeio.

A queda da arrecadação, provocada pela crise econômica e agravada pelas desonerações de impostos que o governo está fazendo, ameaça o equilíbrio das contas públicas, enquanto os seguidos aumentos reais do salário mínimo fazem com que o déficit do sistema previdenciário tenha subido no primeiro trimestre do ano.

São fatos que tendem a piorar a situação econômica neste ano em que o crescimento da economia deve ser negativo, e fazer com que entremos no ano eleitoral de 2010 em situação fragilizada.

Embora, pragmaticamente, medidas populistas possam trazer benefícios políticos imediatos para a candidatura oficial, prática que parecia ter sido superada. E nada mais popular do que tabelar juros.

INFORME JB

"O Tesouro tem seus limites", diz Múcio

Leandro Mazzini

JORNAL DO BRASIL - 21/04/09

É raro presenciar uma cena assim, e estranho por ser num momento de crise: quatro governadores sentados numa mesa de bar, vestidos de shorts e camiseta, num hotel à beira da praia, segunda-feira. Explica-se: a turma, apesar de curtir uma folga longe de casa, tratava do Fundo de Participação dos Estados. O quarteto ficou mais feliz com a confirmação de que o governo vai liberar, via BNDES, o empréstimo para cobrir a redução do repasse mensal. Aí veio outra história. "Tem governadores querendo mais", comentou para o Informe o ministro das Relações Institucionais, José Múcio (foto). "Eles ainda não estão satisfeitos. Sempre que se dão recursos, aquele que recebe diz que precisa de mais", completou. "O Tesouro tem seus limites".

Tem mais Que tal?

A proposta do governo de abrir o cofre, de R$ 4 bilhões, "não está finalizada ainda", garantiu Múcio, num papo no coffee break do 8º Fórum Empresarial de Comandatuba (BA), no Hotel Transamérica – onde os governadores batiam aquele papo.

Múcio, longe do trabalho, é uma figura. Além de conselheiro da Dilma Rousseff, deputado licenciado, cantor e violeiro, ataca de galã. Chegou de blazer ao evento e indagou de um sobrinho: "Tô muito informal?"

PT, saudações

O Planalto já tem uma listinha dos governadores mais chorões sobre os repasses: já ligaram pedindo mais dinheiro o Wellington Dias (Piauí), o Marcelo Déda (Sergipe) e Jaques Wagner (Bahia). Todos do PT.

Caixa forte

Com o cofre cheio depois da venda da Nossa Caixa para o BB, o vice-governador de São Paulo, Alberto Goldman (PSDB), esnobou a oferta. "O estado não precisa do FPE", comentou num canto.

Alto lá

A direção do PSB não gostou da ideia do deputado federal Márcio França (SP), presidente do diretório paulista, de oferecer a legenda ao presidente da Fiesp, Paulo Skaf, para concorrer ao estado. "Ele foi a Skaf por conta própria", diz um grande do partido.

O técnico

Geraldo Alckmin, secretário de Desenvolvimento de José Serra, anda animado com a previsão de ampliação de 150 mil para 200 mil alunos atendidos pela Fatec, em parceria com o MEC. "Somos a maior rede de ensino técnico do país", disse à coluna.

Epa, epa

Mas há quem diga que a Faetec, do estado do Rio, atende a mais de 300 mil alunos.

Sintonia

O cantor Ivan Lins pediu ao deputado Otávio Leite (PSDB-RJ) apoio para celeridade na chamada PEC da música – de autoria do tucano. A proposta desonera o custo da produção de fonogramas e pode baratear o produto final em até 40%.

Licença, gente

A governadora do Maranhão, Roseana Sarney, deve marcar cirurgia a partir de 19 de maio. É a data em que seu cirurgião volta do exterior. Roseana quer ficar só 15 dias de licença.

Bolsa verde

O governador do Amazonas, Eduardo Braga, acredita que só conscientização vai acabar com o desmatamento. Concede o Bolsa Floresta a quem se compromete a preservar seu ecossistema vizinho. "Já são 5.250 as bolsas", comemora.

Paparicado

Edson Bueno, da Amil, foi um dos paparicados empresários no fórum. A empresa patrocina eventos voltados para o mercado de trabalho como o 35º Congresso Estadual de Recursos Humanos, de 3 e 5 de junho, no Rio.

COISAS DA POLÍTICA

Eduardo Cunha, o PMDB pragmático

Tales Faria

JORNAL DO BRASIL - 21/04/09

Tenho a grande honra de poder dizer que trabalhei com Márcio Moreira Alves e, até, que privei de sua amizade. Não tanto quanto desejava, mas já me valeu alguma coisa. Inclusive aprendizado. Testemunhei, por exemplo, a capacidade que o colunista político tinha de aplicar adjetivos absolutamente esclarecedores sobre a atuação de algumas figuras no Congresso.

Um desses adjetivos/apelidos cunhados por Marcito recaiu sobre o então deputado Geddel Vieira Lima, que acabara de sair do baixo clero e, à custa dos mais variados tipos de, digamos, acordos, vinha se tornando uma figura fortíssima no PMDB. Geddel, um quase tucano e grande aliado de FHC, hoje é ministro da Integração Nacional de Lula. Em 2010, será um possível aliado do(a) candidato(a) a presidente pelo PT, ou do(a) candidato(a) pelo PSDB. Sabe-se lá. Daí que Márcio Moreira Alves passou a chamar o peemedebista de "Geddel, o pragmático".

Geddel foi para o Executivo, mas deixou um sucessor à altura na Câmara. Trata-se do deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Altamente, digamos, pragmático. À semelhança de Geddel, Eduardo Cunha há pouco era taxado como um fisiológico qualquer do baixo clero, mas já está trafegando pelas altas esferas do PMDB nacional e do seu estado, o Rio de Janeiro. Participa de todas as articulações de seu partido e tem um faro fenomenal para saber o lado de onde sopra o vento. Então, resolvi saber de Eduardo Cunha para onde caminha o PMDB. Fará aliança em 2010 com o PT, ou não? Respondeu:

– Bem... Eu defendo a aliança nacional com o PT.

– Na sua opinião, quem será o vice?

– O nome mais forte é o do presidente da Câmara, Michel Temer (PMDB-SP). Afasta o partido do governador tucano de São Paulo, José Serra, e o unifica nacionalmente. Mas o cálculo final sempre será em torno de quem agrega politicamente e eleitoralmente. Por exemplo: se o governador Aécio Neves (PSDB) for candidato a vice na chapa do Serra, o mineiro Hélio Costa passará a ser uma opção forte dentro do PMDB. Se tivermos que procurar alguém do Nordeste, aí acho que o maranhense Edson Lobão será quem mais agrega dentro do partido.

– E o Geddel?

– Ele não foi bem nas pesquisas lá na Bahia. Acho que o Lobão agrega mais no Nordeste.

– E o governador do Rio, Sérgio Cabral?

– O Cabral teria dificuldades de ser aprovado numa Convenção Nacional do PMDB. O partido tem muita gente que prefere a candidatura própria. Então, o candidato da aliança tem que ser alguém que vença a Convenção, como o Michel Temer. Além disso, acho que o Sérgio Cabral vai tentar a reeleição. E já terá problemas para conseguir isso.

– Como assim?

– O PMDB do Rio tem fissuras internas muito fortes. Tem o grupo do Sérgio, o grupo do ex-governador Anthony Garotinho, o grupo do presidente da Assembleia, Jorge Picciani, e tem o grupo dos independentes, que não está com ninguém. Este é o meu caso. Eu teria sérias dificuldades de apoiar o Sérgio, porque o meu eleitorado, evangélico, não está com ele. Outro problema é que o Garotinho vai deixar o partido para disputar, ele próprio, o governo do estado. Garotinho vem forte pelo interior e pela Baixada. E, na capital, o forte deverá ser o Fernando Gabeira, pelo PV e pelo PSDB.

– Mas o Sérgio Cabral deve ter o apoio do Lula, não? Como ficará o PMDB com o PT no Rio?

– Acho até que, se o prefeito de Nova Iguaçu, Lindberg Farias, não se viabilizar como candidato a governador, o PT apoiará o Sérgio. Mas não sei se isso será o suficiente. Quanto ao apoio do Lula, tenho dúvidas sobre essa história de transferência de votos.

– Mas o presidente Lula pode cobrar adesões ao Sérgio Cabral. O apoio do senhor, por exemplo.

– Olha, eu estou propenso a apoiar a Dilma, mas terei dificuldades em levar o Cabral para meu eleitorado. Não faço campanha contra, mas não posso apoiar. Você acha que a Dilma ou Lula abrirão mão do meu apoio? O presidente vai estar em campanha pela sua candidata. Ele estará mais numa situação de quem pede apoio de todo mundo do que na condição de quem cobra qualquer coisa.

Pois é. Assim pensa Eduardo Cunha, o pragmático.

PAINEL

Sujou geral

RENATA LO PRETE

FOLHA DE SÃO PAULO - 21/04/09

A ‘universalização’ do escândalo das passagens aéreas, que agora envolve também os caciques e a chamada banda ética da Câmara, provocou uma mudança de tom no discurso dos deputados. Até a semana passada, tratava-se apenas de culpar a imprensa por ‘enfraquecer a instituição’. Na quinta, reunião da Mesa Diretora referendou a prerrogativa dos parlamentares de definir os usuários dos bilhetes.
Ontem, no entanto, vários líderes partidários reconheciam pela primeira vez que qualquer medida moralizadora nessa área terá pouco efeito se não for abolido o princípio de que ‘o crédito é do deputado’. Resta saber como reagirá a maioria silenciosa.

Beijo, te ligo - O mesmo vale-tudo verificado no uso de passagens aéreas impera nas despesas de telefone dos deputados. Qualquer conta, inclusive a do número residencial, pode ser abatida. Ninguém ali precisa pensar duas vezes antes de se pendurar numa ligação com um familiar em férias no exterior.

E os outros? - Em discurso amanhã, o líder do PT, Cândido Vaccarezza (SP), vai propor ‘reforma administrativa ampla’, com manutenção da verba indenizatória em versão reduzida e mais regrada. ‘Mas reforma para os três Poderes’, adverte o deputado.

Auto-escola 1 - Correspondência do DER do Distrito Federal alertou o Senado para a grande quantidade de multas dos carros oficiais da Casa. O documento solicita que sejam indicados os nomes dos condutores dos veículos.

Auto-escola 2 - Criada (é claro) uma comissão para tratar do assunto, ela encaminhou circular aos gabinetes para dizer que de agora em diante os condutores dos carros serão instados a pagar as multas e terão os pontos na carteira de habilitação registrados em seus nomes.

Chá de sumiço - O Senado não havia recebido, até a data da exoneração de João Carlos Zoghbi, as duas últimas declarações de IR do ex-diretor de Recurso Humanos. Zoghbi, que instalou os filhos num apartamento funcional, mora numa casa no Lago Sul avaliada em R$ 2 mi. O imóvel está no nome de seu filho.

Outro lado - O servidor Florian Madruga defende a nova comissão do Senado que irá comandar. Alega que a missão do grupo é passar em revista 31 contratos de terceirização firmados pela Casa.

Santinho! - Tão logo soube que José Múcio (Relações Institucionais) namorava a próxima vaga a ser aberta no Tribunal de Contas da União, Dilma Rousseff chamou o colega para uma conversa. Seu tom em nada lembrava a simpatia da ministra-candidata.

Ninguém tasca - Dilma lembrou a Múcio que a ideia do Planalto é instalar Erenice Guerra na vaga do TCU -ainda que alguns antevejam problemas no Senado, por onde a indicação tem de passar. Número dois da Casa Civil, Erenice saiu desgastada do caso do dossiê de gastos de FHC.

Veja bem - Ricardo Berzoini demoveu Carlos Eduardo Gabas, secretário-executivo do Ministério da Previdência, do plano de se candidatar a deputado federal. O presidente do PT fez ver ao correligionário que será bom virar ministro quando José Pimentel deixar o cargo para disputar a eleição no Ceará. Berzoini, que buscará novo mandato na Câmara, corre na mesma faixa de eleitorado que Gabas.

Pilatos - O presidente do PTB-SP, Campos Machado, inaugura nesta semana os dois primeiros ‘escritórios regionais’ da sigla. Em Bauru, no sábado, receberá o chefe da Casa Civil de José Serra, Aloysio Nunes. Como Campos é próximo também de Geraldo Alckmin, o outro pré-candidato tucano ao governo, evitará qualquer menção a 2010.

Tiroteio

Hoje não há governo, mas sim agenda de campanha de Dilma Rousseff. E daqui a pouco não haverá governabilidade, dada a escalada de despesas contratadas por Lula.
Do deputado EDSON APARECIDO (PSDB-SP), relacionando a sucessão de eventos públicos com a ministra da Casa Civil e medidas como os aumentos salariais prometidos ao funcionalismo.

Contraponto

Sob tortura

Após semanas em total paralisia, o Senado tenta avançar nas votações. Dias atrás, ao ouvir a estridente campainha da Casa, Marcelo Crivella (PRB-RJ) dirigiu-se a José Sarney (PMDB-AP):
-Presidente, temos de achar um meio menos medieval do que essa campainha para convocar os senadores! Faço um apelo em nome da saúde pública.
Sarney concordou, porém com ressalva:
-Seu apelo será atendido, mas aproveito para pedir aos senadores que venham ao plenário, para que não tenhamos campainha, mas tenhamos votação...

CONTRIBUINTE NA FORCA


ARNALDO JABOR

Carta aberta aos jornalistas brasileiros

O GLOBO - 21/04/09

Prezados jornalistas,

Escrevo estas mal traçadas linhas porque não suporto mais ver vocês perdendo tempo ao criticar o Senado e a Câmara. Está na hora de alguém ( no caso, eu) mostrar como vocês são ingênuos, esquemáticos e ( por que não dizê-lo?) burros. Ficam reclamando nos jornais e TV que os parlamentares tem verbas sem fim, dezenas de assessores, notas fiscais falsas, aviões para as amantes, roubalheiras com empreiteiras e outras minúcias. Vocês jornalistas não entenderam ainda que o mundo de um deputado ou senador é diferente do mundo humano? Vocês não sabem o que é a mente de um deputado.

Nós somos escolhidos entre os mais espertos dentre os mais rombudos e boçais. A estupidez nos fornece uma estranha forma de inteligência, uma rara esperteza para golpes sujos e sacos-puxados. Nós somos fabricados entre angus e feijoadas do interior, em favores de prefeituras, em pequenos furtos municipais, em conluios perdidos nos grandes sertões. Nós somos a covardia, a mentira, a ignorância. Nós somos a torta escultura feita de palha e barro, de gorjetas, de sobras de campanha, de canjica de aniversários e água benta de batismos.

Para nós, "interesse nacional" não existe.

Querem o quê? Que pensemos no interesse de um "grande Outro" que não conhecemos? Ora, poupem-nos! Isso não existe dentro deste Congresso - só na imaginação de um ou outro parlamentar intelectual, que se sente aqui como donzela em puteiro. Estamos aqui para lucrar; se não, qual a vantagem da política? Somos uma frente natural contra o "progresso". Defendemos o atraso e a lentidão em todas as siglas, do DEM ao PT e, principalmente, no delicioso paraíso de pecados do PMDB, todos unidos contra o tal "interesse nacional".

Nós temos um tempo diferente do vosso. Sabemos que os brasileiros vivem angustiados, com sensação de urgência. Problema deles: apressadinhos comem cru. Este termo "urgência" quer nos transformar em servidores da sociedade civil. Ela é que nos serve.

Que nos interessa a pressa nacional? Nosso conceito de tempo é outro. É doce morar lentamente dentro dessas cúpulas redondas, não apenas para maracutaias tão "coisas nossas" - é um vago sentimento de poesia brasileira. Queremos saber se nosso curralzinho está satisfeito conosco. Temos o direito de viver nosso mandato com mansidão, pastoreando nossos eleitores, sentindo o frisson dos ternos novos, dos bigodes pintados, das amantes nos contracheques, das imunidades para humilhar garçons e policiais. Detestamos que nos obriguem a "governar". Não é preguiça - porque gastamos mil horas em comissões e conchavos - é por amor ao fixo, ao eterno. E preciso confessá-lo: nós temos a fantasia sexual de "sermos" a sociedade.

Será que vocês não entenderam ainda que nada nos dobrará? Que nós não combinamos bem com estas cúpulas futuristas do Niemeyer, pois só pensamos em preservar o passado? Futuro para nós é mais grana no bolso e mais "pudê", sempre. Será que vocês não sacaram ainda que nós não estamos na Câmara de Londres, nem na França ou USA? Nossa única "democracia" é um vago amor pelos amigos, uma poética queda para a camaradagem, a troca de favores, sempre com gestos risonhos, abraçando-nos pela barriga, na doce pederastia de uma sociedade secreta. Você não imaginam a delicia de serem chamados de "canalhas", o prazer de sentir-se superior a xingamentos, superior à ridícula moralidade de classe media. Nossa única moralidade é vingar-nos de inimigos, cobrar lealdade dos corruptores ativos, exigir pagamentos de propina em dia. Vocês não conhecem a ventura de chegar em casa, com os filhinhos vendo TV, com a grana quentinha no bolso - uma propina gorda de empreiteira. Vocês não sabem o que é bom...

Me dá muito prazer também, escribazinhos de jornal e tagarelas da TV, me dá grande volúpia rir de vossos rostos retorcidos, no afinco de achar o adjetivo que poderia nos desmascarar...Nada nos atinge.

Vocês são uns rancorosos...Têm inveja de nossos privilégios e imunidades, tem inveja de nosso cinismo, de nossa invulnerabilidade.

As vezes, até acho que fazemos um desafio proposital ao desejo golpista de muitos, para ver até onde os defensores de uma nova ditadura aguentarão nossa falta de vergonha. Por vezes, alguns fracotes têm uns "frissons" de responsabilidade, uns discursos mais acesos, mas tudo se dilui na molenga rotina dos quóruns, nas piadas dos saguões, nas coxas de uma secretária que passa.

O Lula já entendeu tudo...Ele é mais inteligente que vocês. Ele sacou que não adianta nos contestar. Por isso, ele nos usa gostosamente para seus fins pessoais...Grande Lula! Que bem que ele nos fez...Lula nos fez florescer como nunca antes neste país, desde Cabral...

Nós nos refazemos como rabo de lagarto; vejam o Renan, líder do PMDB, vejam Collor, Roriz, Lobões, Maluf, todos regidos pelo grande timoneiro do atraso, o eterno Sarney.

Ouso mesmo dizer que estamos até defendendo uma cultura! O país não se governa apenas por novos slogans da moda; um país são séculos de hábitos e cacoetes sagrados. Vocês sabem o que é a beleza do clientelismo? Sabe o que são séculos de formação ibérica, onde um amigo vale mais que a dura impessoalidade dos cruéis saxões? A amizade é mais importante que esta bobagem de interesse nacional! O que vocês chamam de irresponsabilidade e corrupção do Congresso é a resistência da originalidade brasileira, é a preservação generosa do imaginário nacional!

Há em nós a defesa de 400 anos de patrimonialismo!

E tem mais: tentem esculachar o Congresso...Cuidado!

Sereis chamados de "fascistas", de amigos da ditadura...

A democracia é para nós apenas um pretexto para a zorra absoluta.

Ha ha há!!! Que ironia: nós somos o símbolo da liberdade! Ha ha

ha.....!!!

Vocês me dão pena...Acham que podem nos atingir...somos eternos.

Desistam logo, idiotas...!

Cordialmente,

Fulano, Beltrano e Sicrano.

Diretor geral do Atraso, o diretor do Departamento do Baixo clero e o diretor geral de negócios escusos...

DORA KRAMER

De um passo foi ao chão


O ESTADO DE SÃO PAULO - 21/04/09

Aos 77 dias de escândalos ininterruptos no Congresso, o deputado Fernando Gabeira chegou à conclusão de que não adianta se inibir com os próprios erros nem se intimidar com a força da inércia preponderante na corporação: algo precisa ser feito antes que o Parlamento vá de vez ao chão e, na descida da ladeira, leve junto o conceito de democracia representativa.

“Essa é a pior crise que o Congresso já enfrentou, mais profunda e duradoura que todas as outras juntas, pois ocorre quando o grau de consciência das pessoas é muito maior, os instrumentos de vigilância são mais eficazes e o nível de tolerância da sociedade está próximo do zero”, diz Gabeira, que na quarta-feira fará um discurso expondo sua posição.

Insistir no mau combate, se insurgir contra a divulgação de denúncias ou tentar enganar o público com falsas soluções resulta, no máximo, na exposição da mais clássica das manifestações de privação de inteligência: a persistência no erro.

O deputado começa por si. Pioneiro na constatação pública de que a permanência de Severino Cavalcanti na presidência da Câmara era inaceitável e crítico contumaz da política à moda antiga, Fernando Gabeira confessa que demorou a entrar de peito aberto no debate porque estava debaixo de um telhado de vidro.

Assim como os colegas, ele também cedeu passagens de sua cota para familiares. “Se não estava completamente limpo, não podia entrar a briga sem expor o erro e reconhecer que compartilhava da visão de que o uso da passagem aérea é uma gestão solitária do parlamentar. Não é. Só o salário pode ser administrado como um assunto particular.”

Tão inibido quanto ele para reagir, acredita Gabeira, ficaram outros parlamentares pegos direta ou indiretamente, voluntária ou involuntariamente incorrendo em irregularidades.

O pagamento de um serviço para empresa de correligionário com verba indenizatória aqui, a contratação de empregada doméstica com dinheiro público ali, recebimento de auxílio-moradia para quem tem imóvel em Brasília acolá, tudo isso intimidou os parlamentares que não costumam frequentar o departamento de transgressões do Poder Legislativo e interditou a reação.

E por que tão ampla aceitação de facilidades?

“Porque a tradição brasileira é patrimonialista. O mundo político ainda não captou as mudanças de um tempo que andou muito rápido. Os meios eletrônicos se modernizaram, a sociedade avançou e os políticos ficaram lá atrás sem acompanhar os aperfeiçoamentos.”

Perdidos na obscuridade do anacronismo, sequer perceberam que não cabia mais acreditar que o Congresso pode funcionar só na base da correlação de forças internas, ignorando a pressão e as demandas de fora.

“Basta ver que a Câmara elegeu um corregedor (Edmar Moreira) muito mais necessitado de correção que disposto a corrigir qualquer coisa e um presidente do Conselho de Ética ( José Carlos Araújo) condescendente em relação ao decoro parlamentar.”

Completamente fora de sintonia com a opinião pública, a maioria menosprezou o efeito nefasto da rendição do Congresso ao projeto de poder do PMDB, com a eleição para o terceiro mandato de José Sarney no Senado e Michel Temer na Câmara, este um pouco menos comprometido com a obsolescência que aquele.

Juntos, acabaram provocando o choque entre a evidência do atraso interno e as exigências externas de modernização. “Havia uma expectativa de melhoria, mas, quando Sarney e Renan passam a comandar o Senado a mídia resolve, então, mostrar o que é o Congresso, que não resiste a essa exposição”, raciocina Gabeira.

E aqui o deputado dá a exata medida de como o Parlamento não é transparente nem suficientemente fiscalizado. Quando é visto com lupa, revela mazelas em série.

A questão agora é como conduzir a reação num ambiente onde não prevalece a disposição de reagir a não ser negativamente, na defensiva.

Na semana passada, Fernando Gabeira tentara atuar no âmbito interno. Entregou à Mesa as seguintes propostas: restrição do uso dos bilhetes ao parlamentar, divulgação da emissão das passagens na internet, apresentação de relatórios sobre viagens de trabalho, repasse de passagens apenas mediante justíssima, e justificada, causa.

Foi informado de que seria chamado para discutir suas sugestões. Não apenas não foi avisado como ficou sabendo pela imprensa da decisão de oficializar o uso das passagens por terceiros, se parentes ou funcionários do parlamentar.

O deputado percebeu, então, que era preciso vencer a inibição, fazer a autocrítica, lutar também no campo externo e tentar reorganizar o grupo que em outras ocasiões já conseguiu impedir vexames homéricos, como o reajuste de 90% nos salários concedido, e revogado, no fim de 2007.

Gabeira alerta, porém, que é preciso dar “um passo de cada vez”. Para não se transformar a reformulação dos costumes congressuais em algo assemelhado à proposta de reforma política: fácil de dizer, impossível de fazer.

GOSTOSA


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ESTRANHA DECISÃO

EDITORIAL

FOLHA DE SÃO PAULO - 21/04/09

Para a retomada da usina de Angra 3, governo federal deveria fazer nova licitação, e não validar processo de 1983


DEPOIS DE 23 anos de paralisação, a construção de Angra 3 será retomada nos próximos dias. A Eletronuclear prevê que em 2014 a usina poderá entrar em operação, acrescentando 1.350 MW à matriz energética nacional. Com as três plantas em funcionamento, o complexo nuclear de Angra dos Reis poderá suprir 70% da demanda energética do Estado do Rio de Janeiro.
Desde 1984, quando as obras da terceira unidade foram iniciadas -para serem interrompidas dois anos depois-, mudou a percepção sobre os benefícios e as desvantagens da utilização da energia nuclear. Poucas vozes se levantam hoje contra a retomada dessa obra.
O avanço tecnológico tornou as usinas nucleares mais seguras. Sua energia é considerada limpa, por não emitir gases responsáveis pelo efeito estufa.
A realidade mudou, mas a forma no mínimo desleixada de as autoridades lidarem com esse investimento bilionário permanece. É lamentável que o governo Lula tenha optado por não fazer novas licitações para a usina. Decidiu, em vez disso, revalidar a concorrência vencida pela construtora Andrade Gutierrez em 1983, no governo de João Baptista Figueiredo (1979-1985).
A decisão coloca sob questionamento uma das maiores obras da atual administração, que deverá consumir R$ 7,3 bilhões. Empresas concorrentes, decerto interessadas no contrato, argumentam que, desde 1983, houve um avanço tecnológico capaz de reduzir substancialmente o custo das obras em usinas nucleares. Mas isso não foi levado em conta. Em vez de refazer a licitação, a fim de no mínimo tentar baixar o custo, o Planalto manteve os contratos das obras civis e também dos equipamentos a serem adquiridos no exterior.
Em dólares, o valor pulou de US$ 1,8 bilhão para cerca de US$ 3,3 bilhões, aproximadamente. A Eletronuclear afirma que tal aumento resulta exclusivamente da variação cambial. Mas, de todo modo, não procurou reduzir o desembolso do contribuinte, mediante nova concorrência.
Ao avaliar o tema, em setembro de 2008, o plenário do TCU não impediu a revalidação dos contratos. Apontou "indícios de irregularidade grave", mas curiosamente não recomendou a paralisação do empreendimento.
Há razões de sobra para que a licitação seja refeita. A Andrade Gutierrez está entre os maiores doadores eleitorais do PT. Em 2008, o braço de telefonia do grupo, a AG Telecom, foi beneficiado pelo decreto presidencial que permitiu a fusão das empresas de telefonia Brasil Telecom e Oi/Telemar. Da fusão surgiu a gigante BrOi, da qual a construtora é uma das controladoras.
A maior parte do custo de uma usina nuclear está na sua construção, e não na operação. O prejuízo de adiar as obras para a reavaliação contratual seria pequeno diante de montantes tão elevados. Se a revisão não for feita, a história acidentada da implantação da energia nuclear no país poderá ganhar novos desdobramentos. A decisão provavelmente será contestada na Justiça.

CLÓVIS ROSSI

De astrologia, economia e cautela

FOLHA DE SÃO PAULO - 21/04/09

PORT OF SPAIN - Vinicius Torres Freire reproduziu domingo o que chamou de "coletânea de palpites de luminares da economia sobre os vaga-lumes no fim do túnel". E ressaltou: "Falta luz e sobra metáfora no fim da picada das explicações de economistas sobre o atual estado da Grande Recessão".
Poderia agregar, sem metáforas: ninguém realmente sabe o que vai acontecer nos próximos meses, o que leva a que cada luminar dê um palpite que pode ser o completo oposto do palpite do iluminado seguinte (ou anterior). Nem chega a ser uma grande novidade. Como dizia John K. Galbraith, um iluminado que virou lenda, a única função das predições econômicas "é a de fazer com que a astrologia pareça respeitável".
O pior é que nós, jornalistas, continuamos a reproduzir os palpites sem qualquer qualificação a respeito do autor. Não explicamos ao leitor que o palpiteiro xis errou nove de dez palpites (ou dez em dez), que o palpiteiro y acertou oito em dez (não conheço nenhum que tenha acertado dez em dez) ou que o palpiteiro w trabalha para um banco de investimentos que tem interesse em que o palpite dele se transforme em realidade.
Por isso, prefiro a cautela da mais recente análise do Iedi (Instituto de Estudos do Desenvolvimento Industrial) à arrogância habitual em muito economista. Diz apenas: "Todo o cuidado é pouco com interpretações pretensamente definitivas em um contexto de crise econômica, porque estas costumam alternar momentos melhores e piores. Isso é particularmente verdadeiro se a crise tem matriz global e, no plano das economias centrais, é de gravidade comparável à da grande crise de 1929".
Sobre o Brasil: "A economia brasileira vivencia um momento em que se avolumam sinais de melhora, sem que, inequivocamente, se possa falar em recuperação". Não é luz, mas não é chute.

ELIANE CANTANHÊDE

O novo caos aéreo

FOLHA DE SÃO PAULO - 21/04/09

BRASÍLIA - A nova capital da República foi fundada em 1960 e cravou uma necessária bandeira do Brasil no coração de um país voltado para seu extenso litoral e de costas para todo o resto. Políticos, funcionários, militares e trabalhadores deixavam famílias e histórias a distâncias continentais, quando não havia voos e ônibus regulares.
Brasília criou, assim, uma cultura de viagens, em especial para o Rio, antiga capital. Todos viajam muito.
O que não se sabia é o quanto o erário paga o pato, quer dizer, a conta. A indústria de passagens é a partir do Congresso, mas não só ali. Todos viajam com amigos e familiares.
Ministros-parlamentares atravessam a rua levando suas cotas de voos. Senadores-empresários alugam jatinhos com as deles. Membros e até suplentes do Conselho de Ética patrocinam viagens ao exterior para a parentada. Um deputado faz gracinha com passagens para a Galisteu e a mãe dela (que não eram obrigadas a saber a origem).
As cotas são tão fartas, flexíveis e sem controle que já se investiga até se há um câmbio negro de passagens. Elas podem estar sendo desviadas para agências de viagens e vendidas a preços módicos.
Nem o TCU escapa. Gasta R$ 720 mil por ano com passagens, média de R$ 80 mil para cada ministro. Como um deles, Raimundo Carreiro, não usou o mimo, a média é maior ainda. Não está claro para o que eles voaram tanto. Ou está?
Ao contrário do que se pensa, o TCU não é tribunal superior, como o STJ e o STM, por exemplo. É uma corte administrativa, braço do Legislativo para julgar as contas de todos os responsáveis por dinheiros, bens e valores federais. É quem vigia, ou auxilia o Congresso a vigiar, o uso do dinheiro da União.
Agora é criar o conselho de ética para o conselho de ética, comissões de sindicância para comissões de sindicância e TCU para o TCU. O céu não é o limite para o caos aéreo e ético do Congresso. Só resta fazer como Gérson Camata: chorar.

TERÇA NOS JORNAIS

Globo: Presidente da Câmara também deu passagens para parentes

 

Folha: Escândalo das passagens envolve Temer e Gabeira

 

Estadão: BNDES terá R$ 4bi para ajudar Estados

 

JB: Estados ganham socorro de R$ 4 bi

 

Correio: Nascidos para amar Brasília

 

Estado de Minas: Tiradentes: O homem e o mito

 

Jornal do Commercio: Recife inicia ação para evitar deslizamentos