quinta-feira, setembro 23, 2010

EDITORIAL - O ESTADO DE SÃO PAULO

O desmanche da democracia

EDITORIAL
O Estado de S. Paulo - 23/09/2010
 
 A escalada de ataques furiosos do presidente Lula contra a imprensa - três em cinco dias - é mais do que uma tentativa de desqualificar a sequência de revelações das maracutaias da família e respectivas corriolas da ex-ministra da Casa Civil Erenice Guerra. É claro que o que move o inventor da sua candidata à sucessão, Dilma Rousseff, é o medo de que a sequência de denúncias - todas elas com foros de verdade, tanto que já provocaram quatro demissões na Pasta, entre elas a da própria Erenice - impeça, na 25.ª hora, a eleição de Dilma no primeiro turno. Isso contará como uma derrota para o seu mentor e poderá redefinir os termos da disputa entre a petista e o tucano José Serra.
Mas as investidas de Lula não são um raio em céu azul. Desde o escândalo do mensalão, em 2005, ele invariavelmente acusa a imprensa de difundir calúnias e infâmias contra ele e a patota toda vez que estampa evidências contundentes de corrupção e baixarias eleitorais no seu governo. A diferença é que, agora, o destampatório representa mais uma etapa da marcha para a desfiguração da instituição sob a sua guarda, com a consequente erosão das bases da ordem democrática. A apropriação deslavada dos recursos de poder do Executivo federal para fins eleitorais, a imersão total de Lula na campanha de sua afilhada e a demonização feroz dos críticos e adversários chegaram a níveis alarmantes.
A candidatura oposicionista relutou em arrostar o presidente em pessoa por seus desmandos, na crença de que isso representaria um suicídio eleitoral - como se, ao poupá-lo, o confronto com Dilma se tornaria menos íngreme. Isso, adensando a atmosfera de impunidade política ao seu redor, apenas animou Lula a fazer mais do mesmo, dando o exemplo para os seguidores. As invectivas contra a imprensa, por exemplo, foram a senha para o PT e os seus confederados, como a CUT, a UNE e o MST, promoverem hoje em São Paulo um "ato contra o golpismo midiático". É como classificam, cinicamente, a divulgação dos casos de negociatas, cobrança e recebimento de propinas no núcleo central do governo.
Sobre isso, nenhuma palavra - a não ser o termo "inventar", usado por Lula no seu mais recente bote contra a liberdade de imprensa que, com o habitual cinismo, ele diz considerar "sagrada". O lulismo promove a execração da mídia porque ela se recusa a tornar-se afônica e, nessa medida, talvez faça diferença nas urnas de 3 de outubro, dada a gravidade dos escândalos expostos. Sintoma da hegemonia do peleguismo nas relações entre o poder e as entidades de representação classista, o lugar escolhido para o esperado pogrom verbal da imprensa foi o Sindicato dos Jornalistas. O seu presidente, José Camargo, se faz de inocente ao dizer que apenas cedeu espaço "para um debate sobre a cobertura dos grandes veículos".
Mas a tal ponto avançou o rolo compressor do liberticídio que diversos setores da sociedade resolveram se unir para dizer "alto lá". Intelectuais, juristas, profissionais liberais, artistas, empresários e líderes comunitários - todos eles figuras de projeção - lançaram ontem em São Paulo um "manifesto em defesa da democracia", que poderá ser o embrião de um movimento da cidadania contra o desmanche da democracia brasileira comandado por um presidente da República que acha que é tudo - até a opinião pública - e que tudo pode.
Um movimento dessa natureza não será correia de transmissão de um partido nem estará atado ao ciclo eleitoral. Trata-se de reconstruir os limites do poder presidencial, escandalosamente transgredidos nos últimos anos, e os controles sobre as ações dos agentes públicos. "É intolerável", afirma o manifesto, "assistir ao uso de órgãos do Estado como extensão de um partido político, máquina de violação de sigilos e de agressão a direitos individuais." "É inconcebível que uma das mais importantes democracias do mundo seja assombrada por uma forma de autoritarismo hipócrita, que, na certeza da impunidade, já não se preocupa mais nem mesmo em fingir honestidade." O texto evoca valores políticos que, do alto de sua popularidade, Lula lança ao lixo, como se, dispensado de responder por seus atos, governasse num vácuo ético.

EU VOTO EM DILMA: DELÚBIO SOARES

QUEM VOTA EM DILMA!

DELÚBIO SOARES


PIADA DE SALÃO
EU VOTO EM DILMA
UM VOTO NÃO CONTABILIZADO

MERVAL PEREIRA

Tempos petistas 
Merval Pereira 

O Globo - 23/09/2010

“Por ironia do destino, os militares estão organizando um evento para defender a liberdade de imprensa no mesmo dia em que os sindicatos e os movimentos sociais organizam uma manifestação para atacar a liberdade de imprensa. Os tempos mudaram”. O comentário de Paulo Uebel, diretorexecutivo do Instituto Milennium, é sintomático dos tempos que estamos vivendo.

O Clube Militar está realizando no Rio um painel intitulado “A democracia ameaçada: restrições à liberdade de expressão”, hoje à tarde, do qual participarei com Reinaldo Azevedo, da “Veja”, e o diretor de assuntos legais da Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert), Rodolfo Machado Moura.

Na outra ponta, está programada também para hoje em São Paulo uma manifestação contra a chamada “grande imprensa”, com o apoio do PT, da CUT, da UNE e várias organizações não governamentais, e os que se autointitulam “blogueiros independentes”, todos, sem exceção, financiados pelo dinheiro público.

Um fato inédito em uma democracia, só registrado na antiga União Soviética — quando os sindicatos tomavam a si a tarefa de controlar seus associados para que atuassem de acordo com as diretrizes governamentais —, é que o Sindicato dos Jornalistas Profissionais de São Paulo está apoiando o movimento.

Antônio Felício, secretário sindical nacional do PT e secretário de Relações Internacionais da CUT, em artigo publicado no blog do Partido dos Trabalhadores, explicita o que seria essa conspiração, no mais puro chavismo, ou ao estilo do que o governo dos Kirchner está fazendo na Argentina.

Segundo ele, “a verdadeira ditadura do pensamento único” está sendo implantada no país pelas “oito famílias que dominam mais de 80% da mídia impressa, falada e televisionada, e seus satélites”.

As ações teriam sido deliberadas “na malfadada reunião do Instituto Millenium, em São Paulo, no mês de março deste ano”. E quais seriam as evidências dessa conspiração da “grande imprensa”? As diversas reportagens publicadas recentemente denunciando tráfico de influência, corrupção e o aparelhamento do Estado com a utilização de órgãos estatais para fins políticos, como a quebra de sigilo fiscal de pessoas ligadas ao PSDB e ao próprio candidato da oposição à Presidência, José Serra, ou simplesmente para empregos de parentes e amigos em órgãos públicos.

A mais recente denúncia sobre tráfico de influência alcançou o ministro da Comunicação Social, Franklin Martins. A estatal Empresa Brasil de Comunicação (EBC), cujo Conselho de Administração ele preside, contratou por R$ 6,2 milhões uma empresa onde seu filho trabalha como representante comercial.

Também ontem se descobriu que uma filha do presidente dos Correios havia sido contratada pelo Gabinete Civil, uma prática nepotista de contratações cruzadas, já que foi Erenice Guerra quem indicou o presidente dos Correios.

São essas denúncias, que já provocaram a demissão de uma ministra de Estado e meia dúzia de dirigentes estatais, que os sindicalistas consideram exemplares da manipulação do noticiário com o objetivo de levar a eleição para o segundo turno.

Esse ambiente de tensão política está sendo alimentado pelo próprio presidente Lula, que vem desfilando de palanque em palanque, dedicado a eleger sua candidata no primeiro turno e a tentar jogar o eleitorado petista contra os meios de comunicação, que estariam unidos em uma conspiração contra seu projeto político.

A sua atuação na campanha eleitoral, que não leva em conta a ética pública nem respeita a chamada “liturgia do cargo”, está sendo denunciada por um documento que foi lido ontem pelo jurista Hélio Bicudo, um fundador do PT, assinado por personalidades como o cardeal arcebispo emérito de São Paulo Dom Paulo Evaristo Arns, o expresidente do Supremo Tribunal Federal Carlos Velloso e intelectuais como Ferreira Gullar.

O manifesto fala nos riscos do autoritarismo e critica a ação de grupos que atuam contra a imprensa: “É aviltante que o governo estimule e financie a ação de grupos que pedem abertamente restrições à liberdade de imprensa, propondo mecanismos autoritários de submissão de jornalistas e de empresas de comunicação às determinações de um partido político e de seus interesses”.

A preocupação generalizada é com a escalada personalista do presidente Lula, que transforma em inimigos todos os que discordam de seu governo. “É constrangedor também que ele não tenha a compostura de separar o homem de Estado do homem de partido, pondo-se a aviltar os seus adversários políticos com linguagem inaceitável, incompatível com o decoro do cargo, numa manifestação escancarada de abuso de poder político e de uso da máquina oficial em favor de uma candidatura. Ele não vê no “outro” um adversário que deve ser vencido segundo regras da democracia, mas um inimigo que tem de ser eliminado”.

O documento lembra as diversas ocasiões nesta campanha eleitoral em que o presidente da República escarneceu da Justiça Eleitoral, e seu propósito de eleger uma maioria para poder controlar o Senado: “É um insulto à República que o Poder Legislativo seja tratado como mera extensão do Executivo, explicitando o intento de encabrestar o Senado. É um escárnio que o mesmo presidente lamente publicamente o fato de ter de se submeter às decisões do Poder Judiciário”.

O documento finaliza afirmando que é dever dos democratas, para “brecar essa marcha para o autoritarismo”, combater uma “visão regressiva do processo político, que supõe que o poder conquistado nas urnas ou a popularidade de um líder lhe conferem licença para rasgar a Constituição e as leis”.

ILIMAR FRANCO

PT x mídia 
Ilimar Franco 

O Globo - 23/09/2010

Nem todos no PT avalizam a postura do presidente Lula de fomentar um embate com a mídia. Esses petistas dizem que é preciso pensar na construção de um clima pós-eleitoral e que a hora é de “distensionar”.

O presidente do PT, José Eduardo Dutra, discorda disso: “A imprensa tem direito de falar o que quiser, e o presidente tem direito de rebater.

A Constituição prevê liberdade de imprensa e também a liberdade de expressão”.

Cabral tenta turbinar Picciani

O governador Sérgio Cabral (PMDB) vai reunir hoje no Rio os 92 prefeitos que apoiam sua reeleição. Vai pedir que eles se engajem na campanha do petista Lindberg Farias e que redobrem os esforços para eleger Jorge Picciani (PMDB).

Depois de boicotar Lindberg, o PMDB quer que Picciani fique com seu segundo voto. Para Cabral, o adversário de Picciani é o senador Marcelo Crivella (PRB).

Apesar do pouco tempo na TV, Crivella tem o apoio do presidente Lula. Na avaliação do PT, a candidatura do cantor gospel Waguinho (PTdoB) está absorvendo parcela do segundo voto de Crivella, impedindo que vá para outros candidatos.

“A última vez que eu vim acho que eu falei com o Collor. Depois falei com aquele senhor de Juiz de Fora. Qual o nome dele?” — Silvio Santos, antes de ser recebido pelo presidente Lula, referindo-se a Itamar Franco

DESCOBRIDOR DOS SETE MARES. A campanha para a reeleição do senador Edison Lobão (PMDB-MA) está faturando em cima do pré-sal. Divulga que foi na sua gestão no Ministério de Minas e Energia que esse petróleo começou a ser explorado. “Com o petróleo do fundo do mar, nosso país vai ficar ainda mais forte, independente e respeitado em todo o mundo”, diz cartaz da campanha espalhado pelo estado e reproduzido na foto acima.

Os indecisos

Algumas pesquisas detectaram um movimento de crescimento de Marina Silva (PV). Ela não está tirando votos nem de Dilma Rousseff (PT) nem de José Serra (PSDB). Está ganhando pontos com a definição a seu favor dos indecisos.

Do bem

A campanha presidencial tucana resolveu copiar a campanha do senador Marcelo Crivella (PRB-RJ), cujo slogan é “Crivella é do bem”. Um dos jingles, usados pelo PSDB na reta final, tem como estribilho: “Serra é do bem, Serra é do bem”.

Reviravolta no Paraná

O trabalhista Osmar Dias assumiu a liderança na disputa pelo governo do Paraná. O tucano Beto Richa está impedindo, na Justiça Eleitoral, que sejam divulgadas as mais recentes pesquisas do Ibope, do Datafolha e do Vox Populi. Ontem, o senador Álvaro Dias (PSDB-PR) anunciou seu voto: “Em respeito à memória de meus pais, e tendo um irmão na disputa, meu voto para governador será para o Osmar”.

Projeção de bancada de federais do Rio

O PMDB e o PT disputam quem vai eleger mais deputados federais no Rio, conforme projeção do Diap (Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar). As previsões são: PMDB, de seis a oito deputados federais; PT, de cinco a oito; e, PR, de quatro a sete.

Os demais partidos: PP, três a quatro; PSDB e DEM, de dois a quatro cada um; PDT e PSC, de dois a três cada; PV e PSB, de um a três cada; PCdoB e PSOL, de um a dois cada; e PHS, PTB, PTC e PRB, até um cada.

O PRESIDENTE do PSDB mineiro, Nárcio Rodrigues, diz: “O PT vai punir mais da metade de seus prefeitos, se for condenar quem apoia a reeleição do governador Antonio Anastasia”.

A AMIGA DO HOMEM. O jingle da campanha da senadora Ideli Salvatti (PT-SC), que disputa para governadora, diz: “Vote na amiga do homem, na amiga da mulher”, referindo-se a Lula e Dilma Rousseff.

O DIRETOR-GERAL da Binacional Alcântara Cyclone Space, Roberto Amaral, recebeu a Medalha de Makarov da Agência Nacional Espacial da Ucrânia, por serviços relevantes para a área espacial.

O CHEFE DA QUADRILHA

DORA KRAMER

Ato insensato 
Dora Kramer 

O Estado de S.Paulo - 23/09/2010

O PT quer constranger os veículos de comunicação. É nítida a intenção de fazer com que a imprensa pegue mais "leve" em relação aos fatos novos de cada dia sobre corrupção, nepotismo, empreguismo e o uso partidário do espaço público no governo Luiz Inácio da Silva.
O presidente fala alto e fala grosso na tentativa de levar jornais, revistas e emissoras a acharem "melhor" deixar esses assuntos para depois da eleição a fim de não serem acusados de favorecer candidaturas de oposição.
Como se fosse aceitável suspender os fatos para não atrapalhar os atos de interesse oficial.
A ofensiva é tão agressiva que leva a pensar se não se trata de medida preventiva contra algo que seja do conhecimento do presidente e os demais brasileiros ainda ignoram.


De outro modo não se pode explicar com argumentos minimamente razoáveis a fúria e o desassombro que tomam conta de Lula e companhia.

Zangado poderia estar José Serra, cuja candidatura é dada como morta e enterrada todos os dias nos meios de comunicação, nunca o presidente Lula, cujo plano de eleger Dilma Rousseff se materializa com pleno êxito.

A imprensa, no caso de Serra, lida com informações transmitidas pelas pesquisas e estas mostram uma dianteira mais do que significativa de Dilma. É o que registram os jornais, as rádios e as televisões: se as eleições fossem hoje, ela estaria eleita em primeiro turno.

Da mesma forma acompanham o desenrolar dos demais acontecimentos: quebras de sigilo fiscal, confecção de dossiês, violação da legalidade por parte do governo em geral e do presidente em particular e mais recentemente a descoberta da central de negócios montada na Casa Civil sob a gerência de Erenice Guerra, a segunda na hierarquia durante a gestão de Dilma e sua substituta depois da saída para a campanha eleitoral.

Disso temos as seguintes consequências: dois inquéritos na Polícia Federal, sindicância na Receita Federal, dois indiciamentos na PF por causa das quebras de sigilo, demissão do primeiro (Luiz Lanzetta) encarregado da comunicação no comitê de Dilma Rousseff, sete multas da Justiça Federal ao presidente da República e cinco demissões de funcionários em função do escândalo Erenice.

Pois diante de tantas informações concretas, Lula afirma e dá fé pública que a imprensa "mente" e "inventa". Ora, se mesmo vitorioso o presidente acha que é preciso valer-se de sua popularidade para ele sim maquiar a realidade é porque vê razões para isso.

Ou teme o que ainda poderia vir por aí e por isso tenta desqualificar a imprensa ou não tem tanta certeza de que o resultado das urnas seja esse mesmo que indicam as pesquisas e por isso se arrisca a um fim de mandato melancólico jogando seu prestígio num lance de pura, e injustificável, histeria.

Até agora o presidente não condenou. Lícito, portanto, presumir que avalize a decisão do PT de organizar um ato público contra a imprensa. Na verdade, convocado sob inspiração presidencial.

O ato seria apenas uma manifestação normal de um grupo que defende determinada posição, não fosse pelo envolvimento do governo na questão. Sendo, é caso de abuso de poder, improbidade e ataque à Constituição.

De acordo com que argumentam os organizadores da manifestação, é preciso reagir "à tentativa da velha mídia de forçar um segundo turno".

Alto lá, a eleição ainda não aconteceu. Como, forçar? Segundo a lei o processo eleitoral em colégios de mais de 200 mil habitantes é composto de dois turnos e o primeiro ainda não aconteceu. Se for necessário ocorrer o segundo, onde está a ilegalidade, o golpismo?

Se alguém está querendo forçar alguém é o governo que usa a sua força - monumental, no presidencialismo imperial brasileiro - para sufocar o contraditório.

Volver. Se Lula olhar bem a lista de signatários do manifesto em defesa da democracia - Hélio Bicudo, d. Paulo Evaristo Arns, Ferreira Gullar, Paulo Brossard -, notará que há 30 anos era gente que sustentava o início de sua trajetória.

MÔNICA BERGAMO

TREMENDÃO INTIMISTA
MÔNICA BERGAMO
FOLHA DE SÃO PAULO - 23/09/10
 
O músico Erasmo Carlos estreou anteontem uma minitemporada de quatro shows no Baretto, no hotel Fasano. As apresentações, até amanhã, são baseadas na mais recente turnê do cantor, "Rock'n'Roll", com uma roupagem mais intimista. O repertório tem músicas feitas desde a época da Jovem Guarda até hoje, como "Negro Gato", "Sou uma Criança, Não Entendo Nada", "Mesmo que Seja Eu", "Mulher", "Minha Superstar", "Gatinha Manhosa" e "Festa de Arromba".

LOTAÇÃO ESGOTADA

Artistas e produtores não conseguem teatro para apresentar suas peças em São Paulo. A quantidade de espetáculos em cartaz é tão grande que as casas estão com agenda lotada até o fim do ano. A atriz Glória Menezes é uma das principais vítimas do bom momento: ela terá que suspender a temporada paulistana da peça "Ensina-me a Viver" em outubro. Terminou o prazo em que a atriz poderia ficar no Tuca, em Perdizes, e não há espaços disponíveis que possam abrigar o espetáculo. 

GIRO RÁPIDO 
Glória fará até sessão dupla nos dois primeiros sábados de outubro (dias 2 e 9) para atender ao público que já comprou ingresso. Para não ficar parada, programou turnê para o Norte e o Nordeste até conseguir lugar em São Paulo. A volta está prevista para janeiro, no teatro do shopping Eldorado.

CANJA DE GALINHA 
Cauã Reymond, que passou por uma cirurgia no quadril, anteontem, no hospital Sírio-Libanês, em SP, terá que fazer sessões diárias de fisioterapia e usar muleta por alguns dias. O ator teve alta ontem e já voltou para sua casa, no Rio. 

MEU CORAÇÃO 
Dois anos depois de surpreender o meio médico anunciando que estava saindo do hospital Sírio-Libanês, o urologista Miguel Srougi volta ao antigo endereço. 

"Houve um apelo do coração. Sempre fui muito amigo dos médicos do Sírio. Conheço todos os enfermeiros, seguranças, ascensoristas. Toda vez que venho aqui é uma festa. Isso faz bem para o coração, para o espírito."
PORTAS FECHADAS 
Domingo, dia 26, será o último dia de funcionamento do restaurante AK Delicatessen, em Higienópolis.
A chef Andrea Kaufmann quer se dedicar exclusivamente a sua nova casa, que abre entre dezembro e janeiro, na rua Fradique Coutinho, na Vila Madalena. 

TUDO OU NADA 
O Santos deixou claro para o técnico Dorival Jr. que, caso ele não abrisse mão da multa de R$ 2 milhões que teria que receber em caso de demissão, seria então suspenso por tempo indeterminado -o que o impediria de procurar um novo emprego.

NO BOLSO 
Os dirigentes do Santos ficaram enfurecidos com Dorival não apenas porque foram os últimos a saber que Neymar continuaria fora de campo. O que os irritou foi a "falta de compreensão" do técnico do "prejuízo financeiro" que causava. O clube tem direito a 30% de tudo o que a imagem do craque gerar em publicidade e licenciamento de produtos, por exemplo. "Como o Santos conseguiria vender a imagem de um jogador humilhado?", diz um integrante do Peixe. 

CAIXA VERDE 
E o presidente do Palmeiras, Luiz Gonzaga Belluzzo, passava por momentos de intensa pressão no Palmeiras antes de ser internado anteontem com problemas no coração. A situação financeira do clube não é boa e há jogadores que estão há dois meses sem receber. Belluzzo negociava com bancos o alongamento de dívidas e a captação de um novo empréstimo de R$ 30 milhões para colocar o caixa em dia. 

PÁGINAS DE UM FILME 
O cineasta Fernando Meirelles vai lançar em outubro um livro sobre os bastidores do filme "Ensaio sobre a Cegueira", produzido a partir do blog que o diretor fez durante as filmagens. Sairá pela Editora Master Books, da apresentadora Eliana. 

PRATO CHEIO 
A 29ª edição da Bienal de São Paulo abriu para convidados anteontem no parque Ibirapuera. Entre os presentes, Heitor Martins, presidente da Fundação Bienal, Milú Villela, presidente do MAM, os empresários Abilio Diniz, do Pão de Açúcar, e Kees Kruythoff, da Unilever, além do colecionador Kim Esteve. A exposição ficará aberta para o público entre 25 de setembro e 12 de dezembro.

CURTO-CIRCUITO 

Jacqueline Terpins inaugura hoje a mostra "Plana, Entretanto, Copacabana, Centopeia", às 10h, em seu estúdio no Pacaembu.
A Mostra de Arranjos Florais do shopping Iguatemi começa hoje, às 11h. 
A Dior promove venda especial com descontos de até 80%, em prol da Aliança de Misericórdia e Lo Tedhal.
A sorveteria Mil Frutas do shopping Cidade Jardim irá destinar toda a renda das vendas de hoje, Dia do Sorvete, para o Instituto Ayrton Senna.
A FGV Projetos realiza hoje, no Rio, mesa redonda sobre esporte com Wilfried Lemke, assessor do secretário-geral da ONU para a área, Pedro Trengrouse e Vera Cintia Alvarez. 

com DIÓGENES CAMPANHA, LEANDRO NOMURA e LÍGIA MESQUITA

SERRA PRESIDENTE

ANCELMO GÓIS

Tem culpa eu? 
Ancelmo Góis 
O Globo - 23/09/2010

Dos jornais nas últimas 48 horas: “Lula ataca a imprensa e diz: nós somos a opinião pública”, “Ahmadinejad ataca mídia ocidental” e “Jornal mexicano pede orientações a traficantes sobre como publicar reportagens”.

Calma, gente!

Tolerância religiosaO Laboratório de Análises Econômicas, Históricas, Sociais e Estatísticas das Relações Raciais (Laeser) do Rio fez um detalhado estudo nas propostas dos candidatos a presidente e concluiu: Dilma, Serra e Marina não abordaram a questão da tolerância religiosa.

O professor Marcelo Paixão, da UFRJ, que coordenou a pesquisa, desconfia que a ausência deve-se ao peso do eleitorado evangélico, onde costuma ocorrer intolerância contra religiões de matriz africana.

Mas...
Paixão, entretanto, adverte: — É claro que não se deve generalizar. Afinal, há amplas legiões de evangélicos que são tolerantes religiosos.

Também...A questão de cotas para negros em universidades públicas fica longe dos programas dos três principais candidatos: — Parece que os candidatos quiseram mesmo fugir da polêmica — conclui Paixão

Mundo maluco INa era FH apenas 28,36% dos empregados da Petrobras eram concursados. No governo do operário Lula, o número caiu ainda mais, para 20,45%.

Aumentaram os terceirizados.

A conta é do consultor Adriano Pires.

Mundo maluco IIO Clube Militar promove hoje um seminário “Democracia & Liberdade de Expressão”.

No mesmo dia, em São Paulo, alguns sindicatos realizam um ato contra a imprensa.

Na ditadura, era o contrário.

Knorr liberado
O Conar arquivou ontem uma denúncia da Associação Pró-Teste contra o anúncio do caldo Knorr.

A entidade alegava que o comercial, estrelado pelo chef Alex Atala, seria enganoso por afirmar que o caldo é natural, quando há componentes sintéticos na sua fórmula.

Só que...
O conselho acolheu, por maioria, as razões da Unilever, que se defendeu com o argumento de que mesmo sintetizados os componentes têm origem natural.

Deixa pra láO cantor cubano Pablo Milanês ia gravar o “Programa do Jô” na última terça.

Desistiu ainda no estúdio, alegando demora para começar a entrevista.

Vida sem amor
O MP do Rio lança amanhã seu quinto Censo da População Infanto-Juvenil Acolhida no Rio.

Dos 2.600 crianças e adolescentes que vivem em abrigos, 889 não recebem qualquer tipo de visita. Nem de parentes.

Meu Deus!

Milícia é o alvo
A Polícia Civil desencadeia no Rio uma nova operação contra a milícia.

Cerca de 500 milicianos já foram presos de 2006 para cá.

A vida continua
Para prestigiar o Rio, a CBF tenta marcar eventos no Intercontinental, que foi tomado mês passado de assalto por bandidos da Rocinha.

O problema é que, apesar de tudo, os salões do hotel estão sempre cheios.

Chá e torradas
Mestre Delegado, o baluarte da Mangueira, foi convidado por Marcos Vilaça para tomar chá hoje na ABL, durante o seminário “Brasil, brasis”.

Choque de ArteDirigentes da Associação de Moradores de Laranjeiras, que organiza o circuito Arte em Laranjeiras, conversam hoje com o secretário Alexander Costa para tentar liberar o evento.

Dia 17, o primeiro do circuito, funcionários do Choque de Ordem impediram a feira de artes.

Torpedo rubro-negro
Em dez dias, o serviço de torpedo via celular do Flamengo bateu 115 mil assinantes.

Aliás, só para não perder a chance: reage, Mengão!

JOSÉ SIMÃO

Ueba! Neymar derruba Dilma!

JOSÉ SIMÃO
FOLHA DE SÃO PAULO - 23/09/10
E o encontro do Silvio Santos com o Lula? O que o Seu Silvio foi fazer lá? Cobrar o carnê do Baú!

BUEMBA! BUEMBA! Macaco Simão Urgente! O Esculhambador-Geral da República! Ereções 2010! E o encontro do Silvio Santos com o Lula? O que o Seu Silvio foi fazer lá? Cobrar o carnê do Baú: "Presidente Lula, o senhor está com o carnê em dia? RIGOROSAMENTE EM DIA?" Então vamos jogar o Roda Roda Jequiti: candidata com cinco letras. E o Lula: D-I-U-M-A! DIUMA! Rarará!
E a bombástica manchete do Sensacionalista: "Serra contrata Neymar pra derrubar Dilma". Isso. Neymar derruba Dilma. O Neymar derruba até técnico!
E saiu no Twitter: "Se o Neymar for pro "Big Brother" e for eliminado, quem sai é o Bial". "O Neymar comprou um iPhone 4. Em três minutos o Steve Jobs foi demitido". Rarará.
E só o Neymar pra derrubar a Dilma. Porque o Serra tá com menos pontos que o Palmeiras. Rarará! E por causa do Neymar, o Santos já tem novo técnico: A SUPERNANNY! E o Santos mudou de nome para Neymar Futebol Clube!
E a Erenice Guerra Canhão? A Erenice parece o seu Beiçola da "Grande Família". A Ex-Renice vai acabar vendendo pastel na Globo! Rarará!
Indecisos e Indecentes! Principalmente os indecentes. Votem em mim pra presidente. Pelo PGN, o Partido da Genitália Nacional! Vou criar o Vale Motel! Uma amiga pediu pra criar o Vale Motel: pros pobres pararem de transar no muro da casa dela. Rarará! E vou lutar pela liberação do PUM NOTURNO! Todo brasileiro terá direito a soltar pum embaixo das cobertas! Rarará!
E a Galera Medonha! A Turma da Tarja Preta! Adorei aquele candidato que apareceu na televisão: CARECA FICHA LIMPA! E tem o Irton Marx, separatista, quer separar o Rio Grande do Sul do resto do Brasil: "Para separar do Brasil e criar a República dos Pampas, vote em Irton Marx". O Rio Grande do Sul vai se separar do Brasil? Então contar piada de gaúcho vai causar um conflito internacional. Rarará!
E aí apareceu um que falou só isso, nada mais: "Eu acredito no presidente Lula". E eu acredito em gnomo, duende, sereia, curupira e bicho-papão. E no Paraná tem um candidato pai de santo: CHIK JEITOSO! Eu acho que ele devia fazer um trabalho pra animar o carnaval de Curitiba! Rarará!
A situação tá ficando psicodélica. Ainda bem que nóis sofre, mas nóis goza. Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!
Chega de Hipocrisia! Sexo de noite e sexo de dia!

SENADOR JOSÉ AGRIPINO

RENATA LO PRETE - PAINEL DA FOLHA

Sem efeito colateral 
Renata Lo Prete 

Folha de S.Paulo - 23/09/2010

Além de detectar o estreitamento da vantagem de Dilma Rousseff sobre a soma das intenções de voto atribuídas aos adversários, a nova pesquisa Datafolha contraria a previsão, muito repetida por petistas, de que a rejeição de José Serra explodiria na esteira da utilização eleitoral do "Erenicegate".
O tucano, que levou as denúncias de tráfico de influência e pagamento de propina na Casa Civil à propaganda de rádio e televisão, manteve inalterada sua taxa, de 31% -a mais alta entre os candidatos à Presidência. Já Dilma oscilou de 22% para 24%. E Marina Silva (PV) recuou de 18% para 17%.

Quem te viu De um aliado de primeira hora de Dilma, comentando o destempero da candidata diante de reportagem da Folha sobre sua atuação no governo gaúcho: "Ela teve uma recaída. Parecia até ela mesma".
É o salário Antes da divulgação do Datafolha, tucanos creditavam sinais de alguma melhora na performance de Serra no Nordeste à promessa do salário mínimo de R$ 600. Ele oscilou de 18% para 20% na região.

Silêncio total Cinco dias depois de ter sido acusado de receber propina de R$ 200 mil quando funcionário da Casa Civil, Vinicius Castro ainda não veio a público, pessoalmente ou por meio de advogado, para contestar a informação publicada.

Cadê? Stevam Knezevic, que deixou a Casa Civil alvejado por denúncias de tráfico de influência, deveria ter se apresentado à Anac, seu órgão de origem, na segunda-feira. Até ontem, contudo, não havia comparecido.

Caixa postal Em meio à disputa pelas 1.500 franquias dos Correios cujos contratos vencem em novembro, parlamentares governistas foram procurados por franqueados, que ameaçam greve em repúdio às condições impostas no edital. O recado chegou ao governo, que quer evitar um "apagão postal".

Freio Setores do PT e do governo reagiram com algum receio à convocação para o "Ato contra o golpismo da mídia" previsto para hoje em SP. Apesar de reservadamente endossarem as críticas do movimento, temem dano à campanha de Dilma.

Debandada Oficialmente coligado aos tucanos, o PMDB-SP redige um manifesto de apoio a Dilma subscrito pelas bancadas de vereadores paulistanos, da Assembleia Legislativa e da Câmara. Somente a deputada estadual Vanessa Damo, que tem como base eleitoral Mauá, reduto petista, não deve assinar o documento.

Herança A ala de Michel Temer, vice na chapa de Dilma, ganhou musculatura com o afastamento, por motivo de saúde, de Orestes Quércia, fiador do acordo com o PSDB paulista. Hoje, os peemedebistas calculam que 40 dos 69 prefeitos filiados ao partido são dilmistas.

Linha vermelha Aloizio Mercadante faz suspense sobre a utilização de imagens da pane no metrô em sua propaganda na TV. No Twitter, reprova os investimentos em manutenção.

Assim não No entorno de Lula, sobram críticas ao tom do programa de Mercadante, que teria desperdiçado tempo explicando ausência em votação do Senado.

Visitas à Folha Alberto Goldman (PSDB), governador de São Paulo, visitou anteontem a Folha, a convite do jornal, onde foi recebido em almoço. Estava com Bruno Caetano, secretário de Comunicação, e Wagner Tronolone, assessor de imprensa.

Roberto Klabin, presidente da fundação SOS Mata Atlântica, visitou ontem a Folha, a convite do jornal, onde foi recebido em almoço. Estava com Mario Cesar Mantovani, diretor de Políticas Públicas, e Ana Ligia Scachetti, diretora de Comunicação.

tiroteio

"Propostas muito boas! No desespero, só falta o Serra prometer que vai mandar baixar o preço dos pedágios em São Paulo."
DO DEPUTADO PAULO TEIXEIRA (PT-SP), sobre o compromisso, assumido pelo candidato tucano, de elevar o salário mínimo para R$ 600 e criar uma espécie de 13º para os beneficiários do Bolsa Família.

contraponto

Fé no bisturi


Na entrada do Palácio do Planalto, onde esteve para conversar com Lula, Silvio Santos foi abordado por uma senhora que trazia uma corrente no pescoço, símbolo, segundo ela, da igreja evangélica à qual pertence. Brincando, o dono do SBT comentou que também é fiel a uma igreja:
-A de Nossa Senhora da Plástica... Para ficar nessa igreja você tem que dar o dízimo. Entra na segunda-feira e sai com cara de sábado!



EUGÊNIO BUCCI

Por um pingo de serenidade

Eugênio Bucci
O Estado de S. Paulo - 23/09/2010
 
 Por iniciativa pessoal do presidente da República, a imprensa vai se convertendo em ré nesta campanha eleitoral. Nos palanques, ele vem investindo agressivamente contra ela. Diz que vai derrotá-la nas eleições. Lula grita, gesticula, fala com muita virulência. Por que será?
É difícil de entender. Ele sairá consagrado de seus dois mandatos. A aprovação popular que o eleva às alturas é um feito sem precedentes. O clima no País é de otimismo. Os indicadores econômicos, em sua maioria, atestam expansão, crescimento, solidez. Sua candidata ao Planalto lidera as pesquisas com imensa folga. Por que, então, todo esse ressentimento?
Uma ministra da Casa Civil acaba de sair da Pasta porque reportagens revelaram irregularidades graves em torno dela. As notícias que a derrubaram eram mentirosas? Se não eram, por que a demissão (dela e de outros)? Agora: se a demissão procede, por que tanta raiva?

É compreensível, isto sim, que as autoridades guardem mágoas do noticiário. Quem já exerceu cargo público, ainda que de projeção modesta, sabe que a leitura diária dos jornais é uma roleta-russa macabra: de repente, vem lá uma bordoada envolvendo o nome do sujeito em maracutaias das quais ele jamais ouvira falar. Dar de cara com esse tipo de aleivosia é das piores experiências que existem (para quem tem vergonha na cara, vale lembrar). Além de despreparo técnico, que leva as reportagens a confundirem deselegância com ilicitude, assim como confundem mandado com mandato, há também o despreparo humano, emocional, o desrespeito aos semelhantes, o preconceito mais deslavado. Tudo isso é lamentável. Mas tudo isso se refere à dor da pessoa física. O estadista, por dever de ofício, não pode permitir que sua dor pessoal conduza suas atitudes como chefe de Estado. Simplesmente não pode.
Lula sabe disso. Ele sabe disso muito mais do que todos nós. E, também por isso, é difícil aceitar e entender a brutalidade dos seus ataques aos jornalistas. Mas, se nos esforçarmos, podemos encontrar uma linha de explicação.
Ela começa pela necessidade de blindar a candidatura de Dilma Rousseff contra reportagens que possam minar o voto de confiança que ela vem recebendo nas pesquisas. Para isso, Lula caracteriza a imprensa como "partidos de oposição". Ele iguala o discurso jornalístico ao discurso da oposição e, na sequência, conclama os eleitores a "derrotar alguns jornais e revistas que se comportam como partidos políticos". Eis a fórmula da blindagem necessária. Portanto, o movimento teatral de Lula é estritamente racional, calculado. E faz sentido.
O lastro eleitoral de Dilma vem de Lula. Se o mesmo Lula amaldiçoa os que a criticam, desqualificando-os um a um, pode, além de lastreá-la, vaciná-la contra as críticas. Esse é o sentido eleitoral do discurso do presidente. A logística é bem simples. Primeiro, ele afirma que certos "jornais e revistas" não são imprensa, mas "partidos de oposição". Assim, joga-os no descrédito. Se são partidários, merecem a mesma confiança que os partidos da oposição (embora o governo demita autoridades cujas condutas foram reveladas suspeitas por esses mesmos jornais e revistas, ou seja, na prática, o governo lhes dá crédito, mas no discurso tenta desmoralizá-las). Em seguida, Lula cuida de se afirmar democrata: "A liberdade de imprensa é uma coisa sagrada." Portanto, ninguém pode acusá-lo de autoritário. Imediatamente, porém, estabelece condições para a liberdade. "A liberdade de imprensa não significa que você possa inventar coisas o dia inteiro." (...) "Significa que você tem a liberdade de informar corretamente a opinião pública, para fazer críticas políticas, e não o que a gente assiste de vez em quando."
Claro: o raciocínio tem problemas sérios. Lula cumpre o seu objetivo eleitoral, sem dúvida. Mas a que preço? Ao preço de promover o engano e a discórdia.
O engano. Lula faz crer que liberdade existe apenas para os que informam "corretamente". Não é bem assim. A liberdade de imprensa inclui a liberdade de que veículos impressos - que não são radiodifusão e, portanto, não dependem de concessão pública - assumam uma linha editorial abertamente partidária. Qualquer órgão impresso (ou na internet) pode, se quiser, fazer oposição sistemática. A liberdade não foi conquistada apenas para os que "informam corretamente", mas também para os que, na opinião desse ou daquele presidente da República, não informam tão corretamente assim. Se um jornal quiser assumir uma postura militante, de cabo eleitoral histérico, e, mais, se quiser não declarar que faz as vezes de cabo eleitoral, o problema é desse jornal, que se arrisca a perder credibilidade. O problema é dele, só dele, não é do governo.
A discórdia. Alguém poderá acreditar que cabe ao Estado definir o que é "informação correta" e, com base nessa crença, poderá pedir a perseguição estatal de órgãos de imprensa. Seria tenebroso. Não cabe ao Executivo, ao Legislativo ou ao Judiciário definir o que é "informação correta". Isso é prerrogativa do cidadão e da sociedade. Que setores da sociedade protestem contra esse ou aquele jornal faz parte da vida democrática. Às vezes, é bom. Pode ser profilático. Agora, que o governo emule, patrocine ou encoraje esses movimentos é no mínimo temerário.
Enfim, é possível entender o tom furibundo do maior eleitor de Dilma. É possível, também, criticá-lo. A pessoa do presidente tem direito de se irritar com o noticiário. Tem até o direito de processar jornalistas. Mas o chefe de Estado não deveria semear o ódio, conclamando o povo a "derrotar" órgãos de imprensa. Não que isso ameace a ordem democrática. Não exageremos. Temos ampla liberdade de expressão no Brasil. Mesmo assim, vale anotar: essas declarações presidenciais, ainda que explicáveis, são inaceitáveis.

GOSTOSA

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO

Gestão de universidade é alvo de disputa judicial em Minas Gerais 
 Maria Cristina Frias 

Folha de S.Paulo - 23/09/2010

A Fundac-BH (Fundação Cultural de Belo Horizonte) apresentou anteontem recurso no Tribunal de Justiça de Minas Gerais contra sentença que anula a venda do UniBH (Centro Universitário de Belo Horizonte), antes mantido por ela, para o Grupo Gaec S.A. - Ânima Educação.
A decisão que desfez o negócio, avaliado em cerca de R$ 60 milhões, é resultado de ação do Sindicato dos Professores do Estado.
A dívida da fundação, segundo a entidade, corresponde a 10% do seu patrimônio e deve ser sanada com a venda de imóveis e não dos alunos e da marca.
O diretor-executivo da Fundac, Francisco José Fogaça, afirma, no entanto, que a dívida chegava a R$ 120 milhões e o patrimônio da fundação era de R$ 200 milhões.
"Tentamos, mas não conseguimos vender imóveis com valores tão altos em meio à crise econômica", diz Fogaça. Os prédios à venda são avaliados em R$ 15 milhões cada um, segundo ele.
A transferência foi acompanhada pelo Ministério Público e teve auditoria da KPMG, informa João Batista Antunes, advogado do Grupo Gaec, que também irá recorrer. "Havia dois caminhos, a extinção da universidade ou a transferência", diz.
Segundo o Ministério Público, não havia impedimento legal para a transação, que também foi auditada pela BDO Trevisan. A fundação já havia atrasado quatro meses os pagamentos e tinha deficit mensal de R$ 1 milhão.
Para o sindicato, porém, o órgão atuou de forma "suspeita". "Nem o conselheiro da fundação sabia do negócio", diz Cristiano Kangussu, advogado da entidade.

TUBOS NO MAR

"A conclusão da capitalização da Petrobras deve acelerar a assinatura de projetos parados que aguardam o resultado", diz Antonio Marques, sócio da Sandech.
De olho nessa retomada, a empresa, que atua na área de consultoria de engenharia e gestão com foco no segmento de óleo e gás, fechou contrato com a inglesa SPM (Special Piping Materials), de tubos e conexões usados em refinarias e plataformas.
Os produtos da SPM serão usados nas plataformas da Petrobras P-58 e P-62, na unidade de remoção de sulfato.
Essa é a terceira representação que a Sandech fecha nos últimos meses.
O portfólio da empresa já conta com a suíça Trasfor, fabricante de transformadores de grande porte feitos sob medida, e a polonesa TP-elbud, de painéis de baixa tensão para sistemas elétricos, ambos utilizados no segmento de óleo e gás.
"O nosso objetivo é buscar empresas que possam atender a grande demanda de construção de navios, plataformas e unidades de perfuração no país. É preciso atender as empresas de forma mais rápida e satisfatória", diz Marques.

Turismo... O volume de vendas de pacotes de viagens no Brasil deve subir 30% na próxima temporada de verão, segundo a Braztoa (associação das operadoras). Os voos fretados puxarão boa parte do crescimento, segundo a entidade.

...aqui... A Visual Turismo estima vender 20% mais bilhetes aéreos do que em 2009. A Marsans deve ter incremento de 30% na oferta de fretados, e a CVC terá 180 voos fretados semanalmente na alta temporada, aumento de 12,5%.

...e lá fora As vendas para o exterior também devem subir em 20%, segundo a associação. Somente a CVC elevará em 25% a oferta de pacotes turísticos nacionais e internacionais no período.

Força... A geração de energia nos estádios da Copa de 2014 poderia ser gerada a partir de gás natural ou fontes alternativas, diz a consultoria Andrade & Canellas.

...nos estádios A expectativa é que projetos energéticos para os jogos movimentem cerca de R$ 2,6 bilhões.

Pegada A ABTCP (associação de empresas de celulose e papel) e a consultoria Fábrica Éthica Brasil realizam o primeiro inventário de carbono do setor. O resultado final será divulgado no mês que vem.

RH Paul Terry, vice-presidente do Global Novations, consultoria norte-americana de recursos humanos, participa hoje de seminário em SP.

Latino-americanos responderão por 4% dos gastos com turismo em 2020

Em 2020, os viajantes latino-americanos serão responsáveis por 4% dos gastos mundiais com turismo, segundo estudo que será divulgado hoje pela Amadeus, empresa de tecnologia especializada no setor.
Haverá cerca de 43 milhões de latino-americanos em viagem pelo mundo daqui a dez anos, segundo as previsões. O crescimento é de 16 milhões de turistas na comparação com o número estimado para 2010.
A América Latina deverá receber 56 milhões de visitantes em 2020, o que representa um aumento de 20 milhões de pessoas se comparado à estimativa para todo o ano de 2010.
O aquecimento do mercado de turismo virá principalmente de Ásia e América Latina, segundo Marcus Peixoto, vice-presidente da Amadeus para a América do Sul. "Os principais viajantes serão asiáticos", diz.
Índia e China enviarão, respectivamente, 7 milhões e 46 milhões de turistas ao mundo, crescimento de 5,6% e 7% ante o volume esperado para este ano.

TERRITÓRIO EXECUTIVO

O grupo Michael Page, especializado em recrutamento de altos e médios executivos, abre neste mês uma operação no Chile.
No ano que vem, inaugura escritório na Colômbia.
A América Latina representa 12% de seu faturamento mundial. Principal mercado do grupo na região, o Brasil também terá mais unidades. Serão abertos mais três escritórios no país até 2011, segundo Patrick Hollard, diretor da operação na América Latina.
Os próximos endereços são Recife, São José dos Campos e Porto Alegre.
O Brasil é a operação que mais cresce, nos 28 países onde a Michael Page está presente. "Estamos em avanço mais rápido que a operação na China", afirma.

MÍRIAM LEITÃO

Câmbio errado 
Miriam Leitão 

O Globo - 23/09/2010

A taxa de câmbio está errada no Brasil, o real está supervalorizado. Quem diz isso é o economista José Alfredo Lamy, da Cenário Investimentos. Reverter a situação é muito difícil. O dólar está caindo em relação à maioria das moedas do mundo. Um dos motivos é o anúncio do Federal Reserve, que vai despejar mais dólares na economia para tentar tirá-la da estagnação.

Lamy acha que o câmbio está errado e prescreve um caminho difícil: — É preciso cortar gasto público, trazer os juros para baixo e, assim, derrubar naturalmente o excesso de valorização da moeda brasileira.

Não tem outro caminho — diz o economista.

Hoje, o Brasil está neste desconforto: a moeda se valorizando, e isso reduz competitividade das exportações, aumenta as importações e o déficit em transações correntes é cada vez maior. O desconforto vem da dificuldade de se saber como evitar a valorização sem medidas que interfiram no sistema de câmbio flutuante.

O Ministério da Fazenda tem falado que tomará “medidas”, o Banco Central acha que o aumento do déficit externo vai naturalmente provocar a desvalorização da moeda brasileira, porque ele é um sistema que se corrige automaticamente.

Mas hoje, há vários fatores agindo na mesma direção: a da queda do dólar, aqui, e no resto do mundo.

Países exportadores de commodities estão com uma pressão adicional, porque as compras da China estão elevando os preços desses produtos e ajudam a valorizar as moedas desses países. Segundo a Ativa Corretora, em 23 de março de 2009, a relação do dólar australiano com o dólar americano estava 1,42 para 1; agora, está em 1,05. O gráfico abaixo, feito pela Tendências, mostra a valorização de algumas moedas em 12 meses. No Brasil, há ainda a pressão da entrada de dólares pela capitalização da Petrobras, mas Lamy acha que isso é temporário e não é o mais relevante. Para ele, o importante é o que se passa na economia internacional.

— Neste momento, o mundo vive a expectativa da expansão monetária adicional nos Estados Unidos, que vai acontecer em novembro.

O FED deu um recado claro de que a inflação (1,30%) está abaixo do que é o mandato (meta), ou seja, eles querem inflacionar a economia. Para isso, vão comprar títulos do Tesouro para aumentar o afrouxamento monetário. Em momentos assim, há busca por ativos de risco e o Brasil ainda é emergente, é ativo de risco — diz Lamy.

Ele acha que, enquanto o Brasil for bem visto como é agora, enquanto continuar a busca por ativos de risco, o país conseguirá financiar tranquilamente seu déficit em conta corrente, mas alerta que o desequilíbrio é crescente.

Para Lamy, o Brasil vive hoje a situação inversa da de 2002.

— Naquela época, o país tinha arrumado o lado fiscal, feito uma série de reformas, estava com a política monetária correta e câmbio flutuante, tinha tudo para ser bem avaliado, mas pelas incertezas políticas, a moeda ficou superdesvalorizada. Hoje, está muito bem avaliado, mas há uma série de sinais de que a situação fiscal está se deteriorando e a política monetária não é mais tão autônoma quanto já foi. Em economia, as coisas demoram a fazer efeito. Essas distorções podem acabar complicando a situação, quando o quadro internacional mudar.

O economista alerta que há uma enorme incerteza no mundo com o rescaldo da crise. Europa ainda não resolveu seu problema fiscal, a expansão monetária adicional dos Estados Unidos não levará à retomada da economia.

— O mundo está muito ruim, os parâmetros pioraram e, por isso, o Brasil tem sido considerado bom, relativamente aos outros, na área fiscal, mas não é bom para o Brasil a situação difícil do mundo — disse.

Por tudo isso, o economista não acredita que as compras de dólar do Fundo Soberano vão resolver o problema.

— Não vejo muito sentido nessas compras do Fundo Soberano, já que o Banco Central tem comprado naturalmente dólares. Se o Ministério da Fazenda quisesse ajudar, deveria cortar gastos e diminuir a absorção doméstica, permitindo a queda dos juros. Porque é uma contradição: o país está muito bem, mas tem uma taxa de juros de quase 11% — conclui.

O CHEFE DA QUADRILHA

CELSO MING

Afrouxar ou não afrouxar 
Celso Ming 

O Estado de S.Paulo - 23/09/2010

A necessidade de despejar mais recursos públicos nos Estados Unidos para reativar a economia não está sendo encarada apenas como providência que, em última análise, vai melhorar o desempenho do setor produtivo global. Começa a ser avaliada como ameaça à estabilidade cambial no resto do mundo.

No momento, a ficha da economia americana é um tanto desoladora. O PIB deste ano não deve crescer mais do que 2,5%; o desemprego é recorde, 9,6% da força de trabalho; os juros básicos rastejam quase nada acima de zero por cento ao ano e tão cedo não subirão; o rombo orçamentário será de US$ 1,5 trilhão no exercício fiscal que termina dia 30; a dívida líquida passa de US$ 8,9 trilhões e deverá saltar para US$ 11,1 trilhões em 2011.

As críticas à administração econômica do presidente Obama se multiplicam. Em apenas três meses, dois dos mais importantes assessores econômicos da Casa Branca, Christina Romero e Larry Summers, saíram do governo. O último comunicado do Fed (banco central) foi lancinante. Reconheceu que o setor produtivo não reage, que o risco de deflação aumenta e que os efeitos ruins sobre o emprego são preocupantes.

Para enfrentar esse quadro, o Fed avisou que pode aprovar novo plano de afrouxamento quantitativo. Trata-se de emitir moeda para recomprar títulos do Tesouro dos Estados Unidos, com o objetivo de criar condições para a retomada do crédito e do consumo.

Há meses essa proposta passeia pela mesa do presidente do Fed, Ben Bernanke. E uma das poucas razões que o levam a contar até 100 antes de tomar essa decisão são as dúvidas sobre sua eficácia. Até agora, o Fed enfiou para dentro de seu balanço US$ 1,7 trilhão em títulos privados e outros US$ 300 bilhões com recompra de títulos do Tesouro americano. O Congresso aprovou também US$ 150 bilhões em cortes de impostos mais os US$ 700 bilhões do Programa de Alívio para Ativos Problemáticos (Tarp). A título de resultados, vê-se que o pânico foi debelado, mas foi só. Não há sinal de retomada de contratações de pessoal.

A mais provável razão desse insucesso é a de que o despejo desses recursos não teve como objetivo investimentos em infraestrutura, como recomendava Keynes. Foi dinheiro usado no socorro aos bancos, na recompra de títulos de crédito desacreditados do setor privado e, em alguma medida, na criação de mercado para títulos do Tesouro dos Estados Unidos.

Embora alguns analistas insistam em que será preciso aumentar as despesas públicas para garantir a retomada, o Congresso tenderá a rejeitar essa ideia, dado o tamanho do rombo fiscal americano.

Assim, resta a máquina monetária. Os mercados reagiram com ceticismo à manifestação do Fed porque não se trata de botar em marcha projetos de investimento em infraestrutura, mas de novas rodadas do chamado afrouxamento quantitativo, cujo principal efeito será a desvalorização do dólar não só diante das outras moedas, como também de outros ativos (ouro, commodities, imóveis). Em dois dias, o simples anúncio do Fed provocou alta de 2,3% no euro e de 0,9% no ouro.

O que se pergunta agora é se providências dessa natureza não acionarão políticas de defesa cambial ao redor do mundo, que, na prática, neutralizarão os efeitos desejados pelo Fed.

SONIA RACY - DIRETO DA FONTE

Alerta 
Sonia Racy 

O Estado de S.Paulo - 23/09/2010

Miguel Reale Jr. se uniu aos juristas que assinaram o Manifesto em Defesa da Democracia e se colocaram contra o ato insuflado pelo PT, programado para hoje, atingindo a mídia. "Nunca vi nada tão organizado contra os meios de comunicação na história da nossa República. A liberdade de imprensa, quando usada para denunciar corrupção, está sendo encarada como golpismo", afirmou o jurista à coluna. "Isso é típico de regimes totalitários. Não se pode ameaçar os jornais ou as pessoas. Estão criando um clima de insegurança muito perigoso".

Obedientes
Decisão partidária: Marta e Netinho foram a Brasília gravar, juntos, o apoio de Lula e de Dilma para a campanha política.

Susto
Há alguns dias uma notícia deixou Ricardo Lewandowski, do TSE, de cabelo em pé. Importado da China, um carregamento de softwares para abastecer as novas urnas eletrônicas brasileiras ficou retido em Miami. Os americanos levaram dias para liberar o material. Que já chegou.

Gangorra
No encontro anteontem com artistas, em SP, Serra defendeu a limitação de ingressos de meia-entrada nos espetáculos. Foi aplaudido, mas comprou briga com os estudantes.

Pena de urubu
Antes da abertura da Bienal, anteontem, ambientalistas protestaram contra o confinamento de três urubus na instalação de Nuno Ramos. Heitor Martins avisava: "Temos todas as licenças do Ibama".

Canja
Livio Tragtenberg, músico experimental enjaulado na Bienal, convidou e Eduardo Suplicy cantou: Triste Partida e... Blowing in the Wind.

Peixada
Grupos de discussão entre santistas apoiaram a demissão de Dorival Jr. O acusam de ter agido como Neymar, de 18 anos: com arrogância.

Jardineiro fiel
William, do Corinthians, passa a ser embaixador do meio ambiente do clube: projeto prevê plantar 100 árvores por jogo e mais 100 a cada gol marcado.

Anjo da guarda
Quem viu, constatou. É a eficiente Mary Morrison o braço direito - e o esquerdo também - de Bill Clinton na sua complicada agenda diária.