quarta-feira, março 30, 2011

FLÁVIO LUIZ YARSHEL

Ficha Limpa e vontade popular
FLÁVIO LUIZ YARSHEL
Folha de S. Paulo - 30/03/2011

Se o desejo da sociedade é o de moralização, então seria de se esperar que o primeiro e mais veemente repúdio aos "fichas sujas" viesse pelo voto popular

Na qualidade de juiz do Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo -TRE-SP (classe jurista), não participei dos julgamentos que, em 2010, envolveram questões ligadas à assim denominada Lei da Ficha Limpa. É que não havia ainda reassumido o exercício do cargo, depois do término do meu primeiro biênio.
Agora, de volta à função, sei que não participarei das discussões fundadas na mesma lei em 2012, porque a duração do meu segundo biênio não permitirá.
Assim, por não ter participado e por saber que não participarei de tais julgamentos, sinto-me à vontade para fazer as considerações que seguem, não como magistrado (que sou apenas circunstancialmente), mas como cidadão.
Inicialmente, confesso que me causou alguma surpresa a forma pela qual a decisão final do STF foi recebida pela sociedade, a partir do que pude extrair dos veículos de comunicação. Embora concorde com a conclusão a que chegou aquela corte, esperava ler abordagens mais críticas, devido à aparente frustração de expectativas.
Mas o que vejo de proveitoso é a oportunidade de refletir sobre a interação entre a vontade -que ora se expressa na forma de "clamor"- popular, de um lado, e as respostas dadas pelo Poder Judiciário, de outro; reflexão difícil, a começar pelo fato de que não há como tratar nenhum desses dois componentes como elementos homogêneos.
Principalmente, é muito difícil afirmar com certeza o que seja a vontade popular; o que, de resto, só é confirmado pelos fatos aqui referidos. Não há dúvida de que a sociedade anseia pela moralização da política e de que as disposições da referida lei -ainda que algumas passíveis de discussão relevante- contribuem para tanto.
A sociedade repudia cada vez mais a participação no processo eleitoral daqueles cujo comportamento não se afina com a preservação da coisa pública. Assim, a aplicação da lei, tão logo seja constitucionalmente viável, satisfaz os anseios da sociedade.
Contudo, há nisso tudo um paradoxo: o voto é, quiçá, a mais importante forma de expressão da vontade da sociedade; mais até do que a vontade expressa pelo Legislativo quando edita uma lei e seguramente mais do que aquela expressa em decisões judiciais.
Portanto, seria de se esperar que o primeiro e mais veemente repúdio aos "fichas sujas" viesse pelo voto popular. Na pureza do raciocínio, não deveria ser preciso que uma lei dissesse ao cidadão que não pode votar em um "ficha suja", porque se o desejo da sociedade é o de moralização, então ela está pronta a garantir sua vontade pelo voto, não pela aplicação de uma lei.
Dir-se-á que falta ao cidadão informação ou que ele é manipulado.
Mas a realidade mostrou que candidatos "fichas sujas", cujo passado era bem conhecido, foram eleitos com votação expressiva.
Então, a tese da ignorância é quando menos discutível, como a da manipulação. Sobre esta, há um quê de veleidade -de todos nós, seres humanos- ao dizermos que os outros são manipulados e que nós não somos. Há, enfim, uma certa presunção -de novo, de todos nós- em dizer que os outros são incapazes de discernir o certo do errado e que nós sabemos bem a diferença. Sabemos mesmo?
E, afinal de contas, se o problema é de manipulação, então a melhor solução talvez não esteja exatamente nas restrições impostas às condições de elegibilidade, mas no aperfeiçoamento dos mecanismos de controle do abuso do poder político e econômico, porque estes sim vão ao cerne do problema da formação da vontade popular, que todos nós queremos ver preservada.


FLÁVIO LUIZ YARSHELL é professor titular da Faculdade de Direito da USP e juiz do Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo.

EDITORIAL - O GLOBO

Os indícios são de desvios bilionários
EDITORIAL
O Globo - 30/03/2011

Ainda no primeiro ano da Era Lula, em 2003, a Controladoria-Geral da União (CGU) começou a sortear municípios para auditar as despesas feitas pelos prefeitos com recursos repassados pelo Executivo federal. Como mais de dois terços das 5.564 prefeituras só não fecham as portas porque recebem recursos de Brasília e dos estados, por meio dos fundos de participação, acompanhar o caminho percorrido por este dinheiro é fundamental para se medir a qualidade da administração municipal.

O resultado de uma daquelas primeiras auditorias foi alarmante: das 131 prefeituras visitadas pelos auditores da CGU, pouco mais de 90% haviam cometido irregularidades na aplicação dos recursos federais. Entre elas, algumas muito conhecidas: superfaturamento por meio de licitações viciadas e gastos com obras inexistentes. O dinheiro, claro, foi para bolsos privados.

À época, estimou-se em 30% a proporção dos repasses federais desviados. Cairiam, então, nesses desvãos municipais da corrupção R$60 bilhões por ano. Ou o suficiente para sustentar o Bolsa Família por mais de um mandato inteiro (quatro anos), dinheiro suficiente para financiar a revolução na educação básica de que o Brasil necessita de maneira visceral, e ainda sobraria para investimentos na precária infraestrutura do país.

Quase oito anos depois, o descaso continua, com destaque para os setores de Saúde e Educação, segundo afirmou ao GLOBO o ministro-chefe da Controladoria, Jorge Hage. Nas auditorias nos municípios são nestas áreas que os auditores encontram mais irregularidades.

No caso da Saúde, investigações realizadas em repasses feitos entre 2007 e 2010 encontraram um desvio de R$662,2 milhões. Porém, como apenas 2,5% das transferências no âmbito do SUS são auditadas, R$154 bilhões do contribuinte foram despejados, no período, em estados e municípios sem qualquer controle.

Na posse do governo Dilma, a ministra do Planejamento, Míriam Belchior, ergueu como bandeira "fazer mais com menos". Estes números e várias outras conhecidas evidências de má administração do dinheiro público - por má-fé e/ou incompetência - garantem ser possível atingir a meta do governo. Mas será preciso muita vontade política.

Nos últimos 15 anos, no ciclo FH-Lula, a carga tributária ficou sete pontos do PIB mais pesada, uma enormidade. Saiu de 28% do PIB para 35%, e ainda assim serviços essenciais para a sociedade continuam precários: Saúde, Educação, rodovias públicas malconservadas, aeroportos problemáticos.

Mas o quadro de servidores chegou à faixa de 1 milhão - sem considerar os inativos -, e a folha de salários, em oito anos, mais que dobrou para R$180 bilhões. Se a sociedade paga mais impostos - arca com uma das mais pesadas cargas tributárias do mundo, recorde entre as economias emergentes -; se os serviços se mantêm precários; e cresceu desmesuradamente a folha de salários dos servidores, conclui-se que há algo de muito errado na administração pública.

E se se acrescem a isto evidências de fraudes incontáveis em repasses para atividades vitais como Saúde e Educação, chega-se a um quadro de descalabro. Pois nem as dezenas de milhares de contratações de servidores serviram para reforçar os sistemas de controle do uso do dinheiro do Erário.

ROBERTO DaMATTA

A mensagem das catástrofes
ROBERTO DaMATTA

O ESTADO DE SÃO PAULO - 30/03/11

Não há consciência sem uma conversa entre a parte e o todo. Não haveria mundo sem esse elo entre os objetos e os seus lugares porque tudo tem um lugar, mesmo quando está fora de lugar - o que já é, como vemos todo ano no carnaval, um senhor lugar.

Num mundo globalizado sabemos o que ocorre em outras terras instantaneamente. Tanto objetos de consumo triviais, ou deslumbrantes, quanto guerras e tragédias nos atingem. Antigamente, víamos o mundo por meio de um jornal ou revista que eram comprados e apresentavam uma visão parcial do mundo. Uma perspectiva sem movimento que despia os acontecimentos de sua densidade. Hoje, as catástrofes entram pelas nossas salas de visita por meio dos aparelhos de ver o mundo: essas máquinas que, ao vivo e em cores, recebem a programação convocada e um monte de hóspedes não convidados. É o moinho dos sonhos realizando um papel invertido: em vez de nos fazer esquecer, ele põe na nossa frente esse real que nada tem a ver com o coelho inofensivo tirado da cartola de um mágico que suspende os limites.

Ligamos a televisão para ver isso e ela despeja (eu quase digo, vomita) no nosso colo aquilo. O programado e o gozoso são substituídos pelo inesperado e pela dor. Estávamos pensando em confirmar nosso estilo de vida assistindo a um caso amoroso, uma boa discussão entre pai e filho ou confirmar que os administradores públicos são no máximo inconfiáveis e, no mínimo, corruptos e indiferentes, mas eis que assistimos a tragédias que nos obrigam a entrar pelo tubo, roubando nossa sonolência. Saímos com um gosto amargo na boca do outro lado do mundo: num Japão desconhecido, que fala uma outra língua, tem outras formas de viver e morrer, mas que é - eis o choque complicado de traduzir - feito de gente que chora como nós e têm filhos e família como nós. Mais perturbador e, no entanto, mais costumeiro, é quando vemos a lama dos deslizamentos transbordando na nossa mesa de chá, e não nos bairros pobres, onde - ao lado de alguns prefeitos - jamais botamos os pés.

De repente, descobrimos que tudo está ligado com tudo. O global que frequentemente surge pelos prismas gelados da economia, e da política, é subitamente iluminado pela compaixão e por uma identidade insuspeita que enternece o coração. Não há mais nenhuma possibilidade de pensar a vida somente em termos de divisões e territórios soberanos como manda o dogma do nacionalismo moderno sem, ao lado disso, repensá-lo como feito de tradições e pessoas que, antes de serem indivíduos, são parte de totalidades: são pedaços de um quadro que lhes dá sentido e que somente ganha realidade com a sua presença. A força das redes não está na conexão: está na densidade e na emoção que mobilizam. Quando o mundo se globaliza, ele faz algo novo em termos das várias humanidades que ele agasalha: pois constatamos as diferenças, mas sentimos a dor que vem do fundo do planeta. Da totalidade que convencionamos chamar de "natureza", mas que de fato é nossa irmã ou mãe ou esposa, hoje uma vítima do nosso estilo vida.

Não é por acaso que, num mundo iluminado pelas fórmulas matemáticas e pela revolução tecnológica que deu a uma certa Humanidade o poder de ampliar ao infinito a sua criatividade e a sua capacidade de destruição, a presença contundente do todo - nos temporais, terremotos, maremotos e furacões - brote como a voz indesejada de Deus, ou de algum demônio. Pois Deus é, de fato, a melhor imagem deste todo que a nossa civilização, baseada no individualismo (e na parte) e com ajuda da onipotência técnica, ignorou e desdenhou. O reducionismo da vida ao "eu" (em inglês, significativamente escrito com um "I" maiúsculo) é deslocado pelos acidentes. Eles desmancham planos e destroem teorias. Eles revelam que sempre falta alguma coisa e que há sempre o imprevisto: uma ligação insuspeitada de tudo com tudo. Elo que nega brutalmente as agendas inventadas pelo individualismo. A revelação de conexões desconhecidas entre as partes deste mundo é a grande mensagem dos desastres.

As catástrofes obrigam a pensar o mundo como sendo feito de relações. E os elos implicam mais trocas e equilíbrio do que exploração, experimentação e mais-valia, em que um ganha muito e outro recebe o suficiente para se manter vivo. Se tanto, porque o modelo aplicado à natureza, revelou-se um desastre. É curioso que tenhamos chegado ao ponto de virada de um individualismo insolente, onde todos lutavam contra todos. E as coisas ficam ainda mais interessantes quando se observa que quem nos faz enxergar as nossas obrigações para com o planeta não seja nenhuma religião ou ideologia política, mas a tecnologia capitalista. É ela que paradoxalmente diz que Terra é nossa mãe, tal como ensinam os chamados "povos primitivos". Eis o capitalismo virado pelo avesso.

PS: Bem que o Obama, com seu maremoto de reparos e limpeza, poderia visitar Niterói.

SÉRGIO VALE

Questão de fé
SÉRGIO VALE
O Estado de S. Paulo - 30/03/2011

O atual governo tem sido prolífico em crenças sobre a desaceleração da economia e, consequentemente, da inflação. Talvez pela força da gravidade, o governo tem muita fé num ritmo de atividade mais fraco e até o banco central adotou o fervor religioso em relação ao IPCA. Está na mão de Deus praticamente acreditar que a inflação convirja para a meta já em 2012.

Há nessa discussão toda uma inequívoca questão de timing. Até agora o governo foi tímido nas medidas para desacelerar a economia. Ou seja, não haveria por que acreditar que deveríamos ver uma economia perdendo fôlego já neste início de ano. O PIB do primeiro trimestre deve fechar com alta de 1,2% em relação ao quarto trimestre, maior ainda do que foi no fim do ano passado.

O mercado de trabalho não dá sinais de desaceleração. É verdade que o rendimento médio real tem desacelerado na margem, mas isso é fruto da inflação crescente, situação semelhante ao que ocorreu no início de 2008. A mesma história se repete agora, mas o ponto relevante é que os salários nominais continuam a subir sem trégua.

Havia a fé também que as medidas macroprudenciais de dezembro surtiriam alguma desaceleração na economia, especialmente em automóveis, algo que não aconteceu.

Mas isso não quer dizer que não vai desacelerar. O ponto é que, como o diagnóstico do governo é errado ao colocar a culpa da inflação quase exclusivamente em commodities e negligenciar os fatores de demanda, também existe erro nos instrumentos utilizados para desacelerar a economia.

Disso vêm políticas monetária e fiscal muito acanhadas que devem levar a economia a crescer 4,5% este ano. O que não parece ser mais fé, e sim realidade, é a inflação cronicamente a 6% para a qual estamos caminhando.

ARAPUCA PARA DINHEIRO PÚBLICO

ALEXANDRE SCHWARTSMAN

À meia-noite cortarei suas unhas

ALEXANDRE SCHWARTSMAN
FOLHA DE SÃO PAULO - 30/03/11

Despesa corrente é vida: ou você proíbe o povo de nascer, de morrer, de comer, ou de adoecer, ou vai ter despesas correntes”(O Estado de S. Paulo, 9/11/2005). Com estas palavras a então ministra da Casa Civil fulminou o projeto de ajuste fiscal de longo prazo patrocinado pelos Ministros da Fazenda e do Planejamento, gestado por técnicos do IPEA, de saudosa memória.

A proposta não era particularmente agressiva (muito menos “rudimentar”). Sugeria tão-somente limitar o crescimento dos gastos públicos correntes pouco abaixo da expansão do PIB nominal. Como este saiu de R$ 2,37 trilhões em 2006 para R$ 3,67 trilhões em 2010 (ao redor de 11,5% ao ano em média), o programa propunha que os gastos correntes crescessem a uma velocidade menor, de modo a fazer com que seu valor caísse ao ritmo de 0,3% do PIB a cada ano.

Não foi o que observamos. Entre 2006 e 2010 o gasto corrente federal cresceu a um ritmo pouco superior a 12% ao ano, levando a um aumento da sua razão relativamente ao produto, de 16,2% para 16,5% do PIB. Isto pode não parecer muito à primeira vista, mas, como tenho argumentado frequentemente neste espaço, uma política econômica não pode ser analisada pelo que produziu, mas sim face ao que teria ocorrido caso políticas alternativas tivessem sido adotadas.

Imagine, portanto, o que teria ocorrido se o ajuste fiscal de longo prazo tivesse sido posto em prática, contra a opinião da ministra. Neste caso, o gasto corrente teria caído 0,3% do PIB a cada ano, atingindo 15% do PIB no ano passado.  Isto é, ao invés dos gastos correntes terem chegado a R$ 608 bilhões em 2010, teriam ficado em R$ 551 bilhões, uma diferença de R$ 56 bilhões apenas no ano passado (R$ 116 bilhões entre 2007 e 2010, medidos a preços de 2010). Ainda assim, corrigido pelo IPCA, o gasto corrente teria se expandido em torno de 4,5% ao ano, mais do que a população, sem impedir, portanto, a expansão da oferta de serviços públicos.

Caso este valor tivesse sido integralmente poupado, levando em consideração o custo observado da dívida doméstica, implicaria uma redução da dívida pública da ordem de R$ 125 bilhões (3,5% do PIB) em comparação aos valores efetivamente observados. E, é bom notar, trata-se, na verdade, de uma estimativa conservadora do ganho, pois supõe que a taxa de juros teria permanecido inalterada, mesmo em face de um ajuste fiscal de magnitude razoável. Provavelmente a taxa de juros teria sido menor, adicionando-se ao efeito de um superávit primário mais alto no sentido de reduzir a dívida.

Alternativamente, os R$ 116 bilhões poupados poderiam ter se transformado em investimento adicional. O investimento federal realizado entre 2007 e 2010, medido a preços do ano passado, acumulou R$ 140 bilhões. Assim, o investimento público poderia ter sido, em média, cerca de 80% maior que o observado, atingindo nos últimos 4 anos 1,9% do PIB contra um valor observado de somente 1% do PIB. Apenas em 2010 o investimento poderia ter atingido 1,5% do PIB acima do que o observado, o que elevaria, conservadoramente, o crescimento potencial da economia ao redor de 0,4% ao ano.

Obviamente, qualquer combinação das alternativas acima também poderia ter ocorrido, já descartando, por absoluto ceticismo, a possibilidade dos recursos poupados serem devolvidos ao setor privado sob a forma de impostos mais baixos. Em qualquer caso teríamos resultados superiores aos observados, tanto em termos de redução de dívida como do desempenho dos investimentos em infraestrutura.

Isto dito, se o controle de gastos correntes (...) é como cortar as unhas, pois se você não olhar para alguns gastos eles explodem, (...) tem que cortar as unhas sempre” (Valor Econômico, 17/3/2011), é triste que se anuncie a intenção de fazê-lo apenas quando as unhas do governo federal já fazem inveja ao próprio Zé do Caixão.

ANCELMO GÓIS

A terra treme
ANCELMO GÓIS
O GLOBO - 30/03/11

Dentro do PT, causou constrangimento a demissão de Clarice Copetti da vice-presidência da Caixa Econômica. Clarice é mulher de César Alvarez, atual secretário-executivo do Ministério das Comunicações, que durante muito tempo cuidou da agenda de Lula. 

País da Repsol e Cia.

Cinco brasileiros, inclusive uma criança de 2 anos, foram deportados do Aeroporto de Barajas, em Madri, depois de 24 horas trancados numa sala. Viajaram a turismo, segunda, com passagem de volta, dinheiro e cartões de crédito.

Fundação Ford
Nilceia Freire, ex-ministra da Secretaria das Mulheres, comandará a Fundação Ford no Brasil. Vote em mim A Petrobras, para cumprir lei federal, vai pôr um funcionário no Conselho de Administração. Já há gente em campanha. Um empregado disparou emails, dizendo que, se for eleito, doará a remuneração a entidades beneficentes, e sugeriu que outros candidatos façam igual. Se a moda pega em Brasília...

Calma, gente
Sábado, no voo 1538 da Gol (São Paulo-Rio), um passageiro, sem motivo aparente, começou a gritar com as jogadoras de vôlei Fabi e Mari, da seleção. — Cala a porra desta sua boca!!! Você está falando de mim?! Eu ouvi!!! — bradou várias vezes o homem, que estava sentado à frente delas e se levantou com os olhos fixos em Mari. As duas afirmaram que não haviam dito nada sobre ele.

Rato a bordo
Tudo bem que os ratos gostam muito de Brasília. Mas, ontem, no voo Rio- Brasília das 7h20m da Webjet, com todo mundo a bordo, descobriu-se que havia um... rato infiltrado no avião. Trocaram de aeronave.

O racismo fede
A 16a- Câmara Cível do Rio condenou a Sony a pagar R$ 300 mil mais correção (cerca de R$ 1,2 milhão no total ) ao Fundo de Defesa de Direitos Difusos numa causa do movimento negro e do advogado Humberto Adami. A sentença se refere a um caso em que Tiririca cantava num CD de 1996 que mulher negra “fede como gambá”.

Barão explica...
O deputado Tiririca (ou seria seu colega Jair Bolsonaro?) é outro que confirma a máxima do Barão de Itararé: — De onde menos se espera, daí é que não sai nada mesmo. 

Abaixo o racismo... Aliás, as declarações homofóbicas e racistas de Bolsonaro no “CQC”, na Band, segunda, serão alvo, hoje, de um ato da Comissão de Combate à Intolerância Religiosa, no Conselho Espírita do Rio, às 16h. 

A saúde no CTI

Veja como, às vezes, a saúde no Brasil parece caso de calamidade pública — e é. No Hospital do Fundão, federal, no Rio, das 25 salas de cirurgia, nem cinco estão funcionando. Cerca de 50% do prédio está fechado. É pena. 

Grazi, oxente 
A Feira de São Cristóvão, no Rio, será cenário, sábado, das filmagens do longa “Billi Pig”, de José Eduardo Belmonte, com Grazi Massafera e Selton Mello. 

Esquerda desunida 
O deputado Marcelo Freixo (PSOL) deu palestra sexta na Facha, no Rio. Quase todos os professores liberaram os alunos. — Menos... Vladimir Palmeira, do PT — diz Freixo. 

Chinês no samba

A Portela cogita falar da China no seu enredo para 2012. 

Sem previsão
José Beltrame, o secretário de Segurança do Rio, confirma que o interior terá uma UPP. “Mas não este ano”, diz. Na verdade, o projeto original da UPP prevê que nenhuma será instalada no interior até a retomada de todas as favelas com tráfico ou milícias na capital. 

Pistola do vovô 
Um casal de senhorzinhos da sociedade carioca foi festejar bodas de ouro em Nova York. Mas, no embarque, a Polícia Federal descobriu uma arma na valise dos setentões. O casal afirmou ter porte de arma e jurou que havia esquecido o trabuco na valise há tempos. Acabou viajando — sem a arma, claro.


ZONA FRANCA
 Nosso Marceu Vieira e Tuninho Galante fazem show hoje e amanhã, às 19h, no Café Pequeno, no Leblon.
 Thiago de Mello, o grande poeta, completa hoje 85 anos.
 Tânia Zagury recebeu o prêmio Mulheres de Ação, Mulheres de Valor.
 Foi criada a Associação de Docentes e Ex-alunos da Escola de Medicina e Cirurgia da UniRio.
 Mario Geller toma posse hoje como presidente do Comitê Latino Americano da Academia Americana de Alergia, Asma e Imunologia.
 Cláudio Domênico recebe hoje, na Clínica São Vicente, Índio da Costa.
 Marcelo Freixo e Tico Santa Cruz participam de debate na UniRio, hoje.
 Luciana Conde abre hoje exposição de Jorge dos Anjos na Coleção de Arte.
 A seção Rio da Aberje realiza hoje, no Oi Futuro Flamengo, debate sobre oportunidades de comunicação no Rio.

GOSTOSA

MARCELO COELHO

Branca de Neve entre os monstros
MARCELO COELHO

FOLHA DE SÃO PAULO - 30/03/11

BONECOS DE pano mutilados. O Capitão Gancho numa cadeira de rodas. A cabeça, ainda sangrando, de um leitão gigantesco. Um pai de família desacordado, exposto à curiosidade sexual da filha pequena. Uma noiva gorda, na terceira ou na quarta idade, depositando os seios nus sobre a mesa do banquete.
Essa é a linha das pinturas em grande formato da portuguesa Paula Rego, em exposição na Pinacoteca Estadual até 5 de junho. Nascida em 1935, ela vive há quase 60 anos na Inglaterra. Trata-se de sua primeira retrospectiva na América Latina.
São cenas de pesadelo; mas parecem ter sido produzidas com uma alegria esfuziante. "Pinto para dar um rosto aos meus pavores", declarou a artista. Só que a primeira impressão de quem entra nos corredores refrigerados da exposição é a de um mundo iluminado pelas cores mais vibrantes.
O amarelo-limão e a prata de uma janela aberta vêm quebrar, sem violência, um conjunto de cinza-chumbo e de azul na parede em que se encosta, pensativa, uma criada descomunal e cavalar.
Na maior parte das vezes, Paula Rego prefere usar o pastel em vez da tinta a óleo. O recurso, em obras de grandes dimensões, dá às cenas mais bizarras uma luminosidade feliz.
O vestido salpicado de violeta e rosa, brilhando como cetim, extravasa de uma poltrona de veludo cotelê, enquanto da massa crespa dos cabelos pretos da mulher (será uma menina? Será uma anã?) nasce um laço de fita rosa e prata.
Os traços da modelo são meio brutalizados, e ela segura no colo a enorme cabeça empalhada de um veado. No fundo, minúscula, uma mulher de preto se ajoelha. Nome do quadro?
"Branca de Neve Brinca Com os Troféus de Caça do Seu Pai". Outro quadro, espetacular, mostra a mesma personagem contorcida verticalmente ao longo da tela, depois de ter mordido a maçã envenenada.
Muitas passagens de histórias infantis (especialmente nas versões de Walt Disney) se pervertem ao extremo nas mãos de Paula Rego. Outras imagens não têm referência imediata: parecer vir de histórias pessoais de que não temos a chave.
Cenas de crucifixão e guerra trazem mulheres com máscaras de animal. Homens vestidos de mulher se estendem no colo de mulheres que parecem homens. Um torturador, como se fosse um transexual de bigode, surge sorridente entre equipamentos de jardinagem.
Às vezes, é o puro retrato, de corpo inteiro, de mulheres sólidas, amassadas e grossas que produz no espectador o espanto, sempre bem-vindo, do realismo na pintura, lembrando as obras de Lucien Freud, com toques de Max Ernst e dos mestres espanhóis (Velázquez, Goya, Zurbarán). Os quadros são realistas, mas como em todo grande artista, mostram uma realidade que ninguém tinha visto antes.
É naturalmente difícil interpretar o que se passa em muitas cenas. Duas coisas parecem repetir-se, entretanto. A primeira é a desproporção: pessoas muito pequenas contracenam com outras enormes. Velhinhos minúsculos são tratados por enfermeiras titânicas.
A segunda é a inversão das relações de gênero: mulheres são pintadas como se fossem homens, e homens se emasculam, a ponto de se transformarem em bonecas, ou de se tornarem objeto de operações de corte e costura.
O crescimento e a diminuição da figura humana têm uma longa história -e está presente em algumas obras da literatura infantil (e adulta) pelas quais tenho grande ojeriza: "Alice no País das Maravilhas" (a menina muda de tamanho a toda hora) e "Viagens de Gulliver".
Certamente, em Paula Rego tudo se passa como se a idade mental de um ser humano fosse traduzida em suas dimensões físicas. O velho com Alzheimer é o bebê nos berçários trágicos que ela pinta.
A sexualidade passa por processo semelhante. No quadro "A filha do policial", uma mocinha prestimosa está engraxando as botas do pai. Mas seu braço, enfiado até o fundo do calçado, é que assume o poder fálico; a menina vira homem, vira quase quadrúpede.
Crescer, mantendo-se pequena; ganhar músculos, mantendo-se mulher; virar objeto, sendo homem. Tornar-se brutal, por ter sido vítima da brutalidade. Continuar humano, sendo cavalo, cachorro, boneco. As histórias de Paula Rego são, no fundo, as de qualquer um de nós.
P.S.: Fico de férias em abril. Até a volta. 

JOSÉ SIMÃO

Ex-" BBB" brota mais que mandioca!
JOSÉ SIMÃO

FOLHA DE SÃO PAULO - 30/03/11

BUEMBA! BUEMBA! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Manchete do Sensacionalista: "Corinthians contratou Adriano porque Ficha Limpa só vale em 2012". E um leitor mandou perguntar quem demora mais pra entregar: o Gaddafi ou o China in Box? Rarará!
E esta: "Rebelde líbio diz que aprendeu a atirar jogando Playstation". E os corintianos treinam no Playstation e não aprendem a jogar! E eu não acho que o mundo vai acabar. Eu acho que o mundo TEM que acabar: "Ex-"BBB" grávida de outro ex-"BBB"". E aí nasce um ex-"BBB"zinho! Socuerro!
Os ex-"BBB"s se proliferam mais rápidos que os gremlins! Brota mais que mandioca! E olha a declaração dessa ex-"BBB": "A virgindade está na cabeça, não no ÍMÃ!". E o hímen ela bota onde? Gruda na porta da geladeira? Rarará! Ela podia abrir um negocio: "Vende-se hímens para geladeira". E a ex-"BBB" Diana: "Eu me masturbei nove vezes dentro da casa". Da vizinha!
E pior que ex-"BBB" é ex-"BBB" argentina! "Big Brother" na Argentina se chama "Gran Hermano". "Silicone estoura e leva ex-"Gran Hermano" pra mesa de cirurgia." A ex-"Gran Hermano" Florencia Tesouro tava num bar e o peito explodiu. BUM! Peito bomba! E o resto do bar aproveitou pra fazer luta no gel. Rarará! E uma amiga me disse que o peito dela pula como palhaço quando sai da caixa!
E essa direto do "Diário de Lisboa": "Cláudia Jacques e Ricardo Trêpa anunciam separação". Por falta de trepação! Rarará. E esta: "Ex-modelo Cristina Mortágua chega na Vara da Infância com seu advogado, Sylvio GUERRA!". Rarará! E eu tava assistindo a um programa evangélico quando apareceu escrito na tela: "Ex-mãe de encosto desvenda mistério em SEMITÉRIO". O pastor enterrou a língua portuguesa no semitério. Rarará!
E mais uma do Gervásio! O Gervásio aderiu ao Xô Preconceito. Olha a placa que ele botou na empresa em São Bernardo: "Se eu descobrir que algum pobre de espírito daqui contou alguma anedota de negro, vou fazer esse racista imbecil virar escravo de um pit bull faminto com raiva. Conto com todos. Assinado: Gervásio". Esse recado vai pro deputado Bolsonaro. Que vai ser processado pela Preta Gil por crime racial!
E sabe o que um colega escreveu embaixo do cartaz do Gervásio? E piada de chefe pode? PODE! Rarará. Nóis sofre, mas nóis goza
Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

NOVA PROFISSÃO

MÔNICA BERGAMO

NO FUNDO DA TERRA
MÔNICA BERGAMO
FOLHA DE SÃO PAULO - 30/03/11

A célebre ponte estaiada entre Santos e Guarujá, cuja maquete foi inaugurada pelo ex-governador José Serra (PSDB) no ano passado, pode virar um túnel. Esse projeto tinha sido descartado no governo passado, por causa dos prazos e custos da obra. Mas voltou a ser considerado. O governador Geraldo Alckmin (PSDB), de SP, deu até abril para que o novo projeto seja apresentado.

BALANÇA
Afastado da sucessão na Vale, o ministro Antonio Palocci, da Casa Civil, também recebeu ordens da presidente Dilma Rousseff para se distanciar das indicações para cargos na CEF (Caixa Econômica Federal). Ele continua recebendo os "pleitos" de grupos interessados em ocupar espaço no banco. Mas tem o cuidado de informar que tudo será encaminhado ao ministro Guido Mantega, da Fazenda, com quem o assunto deve ser tratado.

BALANÇA 2
E as mudanças na CEF podem se estender ao Funcef, o fundo de pensão dos funcionários do banco.

BALANÇA 3
A desenvoltura de Guido Mantega na sucessão da Vale está sendo registrada tanto entre parlamentares da base do governo quanto entre banqueiros e empresários paulistas. A leitura é que o titular da Fazenda, vítima de fogo amigo há algumas semanas, está fortalecido.

NO MEU NOME

O deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ) quer se defender sozinho se for processado por racismo pela cantora Preta Gil. Perguntado por ela, em um quadro do "CQC", sobre o que faria se seu filho se apaixonasse uma negra, ele respondeu que não discutiria "promiscuidade" e que os filhos "foram muito bem educados". "Pra que advogado? Quem faz minhas defesas sou eu", diz ele. "Mas se for necessário, tenho vários advogados no gabinete. Aí um deles assina para mim."

TUDO ERRADO
Bolsonaro diz que entendeu que a pergunta de Preta se referia à possibilidade de seu filho namorar um gay. "Respondi o que meu cérebro entendeu. Minha esposa é afrodescendente e meu sogro é negão."

XODÓ NA PASSARELA
As atrizes Maria Ribeiro e Nívea Stelmann levaram os filhos João e Miguel, respectivamente, para desfilar no Fashion Weekend Kids, evento de moda no shopping Iguatemi. A cantora Luciana Mello levou a filha Nina para as passarelas.

MENÇÃO HONROSA
A Royal Society, academia de ciências do Reino Unido, fez uma menção elogiosa a SP no relatório que publicou anteontem. A cidade subiu 21 lugares no ranking das que mais registram publicações científicas no mundo na última década. De acordo com o texto, o resultado "reflete o rápido crescimento da atividade científica no Brasil" e o papel da capital de um Estado de forte tradição científica. A academia registra que a Constituição paulista prevê o investimento de 1% das receitas em pesquisas.

SALTO ALTO
A Royal Society inclui o Brasil entre o grupo de novos países, liderado pela China, que emergem como novas potências científicas para rivalizar com as tradicionais, como o Japão. Países como Irã, Turquia e Tunísia também são citados como nações sem tradição que agora conseguem destaque. O Irã é o que se desenvolve mais rapidamente: de 736 publicações científicas em 1996, saltou para 13.238 em 2008.

DEBAIXO DA SAIA
A atriz Camila Morgado substituirá Christine Fernandes na nova temporada do programa "Saia Justa", do canal pago GNT.

DE (E DO) SÃO PAULO
O prefeito de SP, Gilberto Kassab, pediu que o secretário de Esportes, Walter Feldman, providencie homenagem para Rogério Ceni, que marcou seu centésimo gol no domingo. "Vou apresentar umas cinco ideias. Ele é um orgulho de SP", diz Feldman, que, assim como o prefeito, é são-paulino.

ROTEIRO DAS LETRAS
Luiz Bolognesi lançou anteontem na Cinemateca Brasileira o roteiro de "As Melhores Coisas do Mundo". Esmir Filho autografou exemplares de "Os Famosos e os Duendes da Morte", coescrito por Ismael Caneppele, no mesmo evento da Coleção Aplauso.

CURTO-CIRCUITO


Diogo Nogueira se apresenta hoje, às 22h30, no bar Passatempo. 18 anos.

Acontece hoje, as 20h, a entrega do 7º Prêmio Fiesp/ Sesi do Cinema Paulista.

Elias Awad dará palestra hoje, às 19h30, na distrital do Butantã da ACSP.

A ilustradora Fernanda Guedes lança hoje, às 19h, o livro "Amigos Imaginários", na Livraria da Vila dos Jardins.

Valéria Baraccat dará duas palestras hoje na sede da GM, em São Caetano.

com DIÓGENES CAMPANHA, LÍGIA MESQUITA e THAIS BILENKY

DORA KRAMER

Freio de arrumação
DORA KRAMER

O ESTADO DE SÃO PAULO - 30/03/11

A entrevista às páginas amarelas da revista Veja, há 15 dias, foi considerada a gota d"água que poderia entornar de vez o caldo do projeto de criação do PSD. Nela, o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, se definia ideologicamente como "de centro, com leve tendência à esquerda".
Mas isso não foi nada diante da declaração mais adiante sobre a "grande afinidade" existente entre os sócios fundadores do novo partido e "os quadros pertencentes ao PSB", socialistas por definição e candidatos a incorporar a nova legenda que já nasceria, assim, como um apêndice futuro do partido presidido por Eduardo Campos.
Funcionou como um chamado ao recuo. Políticos de projeção nacional que naquela altura já preparavam armas e bagagens para embarcar na canoa de Kassab mandaram avisar que, nessa linha de trampolim para a incongruência doutrinária, era melhor ficarem onde estavam.
Nos casos de três deles, a senadora Kátia Abreu, o governador de Santa Catarina, Raimundo Colombo, e do vice-governador de São Paulo, Guilherme Afif Domingos, isso significava ficar, embora muitíssimo a contragosto, no DEM.
O revés requereu a interferência do mentor político de Kassab, o ex-senador Jorge Bornhausen, prócer do DEM em processo de anunciada aposentadoria que, a contar pela "intervenção" dos últimos 15 dias, é mera cenografia.
De lá para cá, dois deles já retomaram o rumo do PSD: Afif Domingos e Kátia Abreu, que ontem comunicaria oficialmente sua saída ao presidente do DEM, José Agripino Maia. Ela tem data marcada para assinar a ficha: 6 de abril.
Bornhausen atuou com ajuda de Afif alertando Kassab de que o discurso precisaria mudar, sob pena de ficar isolado e ter seu projeto fracassado: nada de considerar fusões nem de falar em projetos políticos pessoais nem em criação de partido para fugir das penas por infidelidade partidária.
A ambiguidade, no entanto, vai continuar até a formalização do partido para não afastar adesões, mas sem perder de vista um dado fundamental: que adesista completo ao governo o PSD não pode ser porque, enquanto o PSDB disputa os pobres com o PT, o novo partido quer a classe média tradicional. Um mercado de votos que pelo menos até Lula não era governista.
A indefinição é proposital, para atender a um imperativo tático. Mas, segundo a concepção dos idealizadores do projeto, a estratégia não pode por isso ser prejudicada. E qual seria ela?
A abertura de um espaço que aglutine as forças políticas hoje órfãs enjeitadas: de centro, com forte tendência à direita.
Outra perspectiva. A juíza iraniana Shirin Ebadi, Prêmio Nobel da paz em 2003, não se surpreendeu com o voto do Brasil no Conselho de Direitos Humanos da ONU a favor do envio de um relator especial para investigar violações cometidas no Irã.
"Tinha esperança de que em algum momento o país que lutou tantos anos pela democracia prestasse atenção ao povo iraniano, e não ao regime", disse, em entrevista ao Estado.
Ebadi, hoje exilada em Londres, virá ao Brasil daqui a dois meses para um encontro com Dilma Rousseff e, se não der dimensão exata aos fatos, será mais uma a acreditar que Dilma e Lula são personagens de projetos políticos diferentes e não parceiros na execução de estratégias complementares.
De duas, uma. A Câmara escolhe: ou interdita o mandato do deputado Jair Bolsonaro por quebra de decoro ou o protege sob o argumento de que tem imunidade de voz.
Na segunda hipótese suas excelências estarão dizendo que é livre o exercício do racismo e da homofobia, compactuando com a violação da Constituição no tocante aos direitos fundamentais dos cidadãos.
José Alencar. Vai-se uma raridade: um homem de coragem. De quem o câncer não conseguiu subtrair a capacidade de demonstrar que é possível viver a adversidade sem abrir mão da felicidade. 

GOSTOSA

VINÍCIUS TORRES FREIRE

A prudência esfriou o crédito
VINÍCIUS TORRES FREIRE

FOLHA DE SÃO PAULO - 30/03/11

O CUSTO DO dinheiro e o ritmo de concessão de empréstimos levaram mesmo uma gelada com as "medidas macroprudenciais", baixadas pelo Banco Central em dezembro.
Passou-se um trimestre depois da implementação das medidas de restrição "administrativa" do dinheiro disponível para financiamentos. Não é mais possível ter dúvidas sobre a força que tiveram em conter o ritmo animado de concessão de crédito que se via até novembro.
É o que dão a entender os números do balanço mensal de operações de crédito do sistema financeiro, divulgado ontem pelo Banco Central.
O ritmo de concessão de crédito novo está igual ou inferior aos níveis registrados em novembro de 2010, a depender do tipo de empréstimo.
Os juros para os tomadores finais subiram muito mais do que seria previsível se o único instrumento utilizado pelo Banco Central fosse o aumento da taxa básica de juros, a Selic. Subiriam, aliás, de qualquer maneira, mais que a Selic. Mas o impacto foi algo maior que o estimado por economistas de alguns bancões.
Pode-se dizer que, nos primeiros rounds do novo modus operandi da política monetária (que afeta juros e crédito), o Banco Central marcou pontos. Nesse novo modus, o BC admite que pode adotar outras medidas que não apenas o aumento da Selic a fim de apertar o crédito, esfriar a economia e conter a inflação.
No final do ano passado, o "governo de transição Lula-Dilma Rousseff" decidira que o BC tomaria medidas a fim de reduzir a oferta de crédito. Assim, os bancos foram obrigados a estacionar mais dinheiro no caixa do BC. Desse modo, diminuiu o volume de dinheiro disponível para empréstimos. Além do mais, o BC induziu os bancos a reduzir os prazos de financiamento e a elevar as taxas de juros, exigindo mais capital de reserva para cada operação nova de financiamento.
Eram as "medidas macroprudenciais". Trata-se de normas que têm como objetivo primário evitar um excesso de empréstimos que acabe em calotes e problemas em bancos, mas que também servem para conter o consumo e a inflação.
Agora, a dúvida maior é a respeito do tamanho do impacto dessa contenção de crédito no conjunto da atividade econômica e, por fim, na inflação. Vai levar pelo menos mais um trimestre para que seja possível avaliar o sucesso da "nova política monetária". Pelo menos e com boa vontade, pois o ritmo da economia vai depender ainda de outras medidas e da realização ou não de algumas promessas do governo.
Por exemplo, anteontem o governo criou imposto sobre empréstimos externos de curto prazo, dinheiro que irrigava o caixa dos bancos e, assim, servia para aumentar a oferta de crédito.
Além do mais, ainda são desconhecidos os efeitos, se algum, da política fiscal (gastos do governo) sobre a atividade econômica -ainda não se viu o governo implementar, de fato, o corte anunciado de R$ 50 bilhões no Orçamento.
Por fim, mas não menos importante. Quando o governo resolveu forçar os bancos públicos a emprestar mais de modo a evitar uma recessão em 2008, o "mercado" dizia que tal atitude era algo irresponsável. Que os bancos públicos fariam empréstimos ruins. Que haveria calotes. Etc. Bem, não houve nada disso. A inadimplência caiu velozmente depois de 2009. Para registro.

ILIMAR FRANCO

O veto 
ILIMAR FRANCO
O GLOBO - 30/03/11

Os dirigentes do PMDB estão inconformados com o veto ao ex-governador José Maranhão (PB) para ocupar um cargo na diretoria do Banco do Brasil. Um deles comentou: “Vai ter que ter uma explicação.” O Palácio do Planalto tenta acalmar os aliados e fala agora que Maranhão poderá ser aproveitado numa das subsidiárias do BB. O PT e o PMDB estão disputando a ocupação dos cargos de segundo escalão do governo.

Auditores do TCU esnobam os políticos 
União dos Auditores Federais de Controle Externo (Auditar) está promovendo uma eleição, na internet, para indicar o próximo ministro do TCU. Estão no páreo quatro técnicos do tribunal. O vencedor será sugerido à Câmara, a quem cabe a indicação. Em spot comercial pago no rádio, a Auditar diz: “O que você prefere: um nome técnico ou um (político) indicado pela Câmara?” Estão em campanha para a vaga do ministro Ubiratan Aguiar os deputados Átila Lins (PMDB-AM) e João Leão (PPBA). Já os candidatos da Auditar são: Carlos Augusto Ferraz, Glória Maria Bastos, Rosendo dos Anjos Neto e Weder de Oliveira.

"É falso como uma nota de R$ 27” — José Serra, sobre a possibilidade de migrar para o PSD, partido criado pelo prefeito de São Paulo, e aliado, Gilberto Kassab

GUERRA DE VERSÕES. Os empresários apareceram ontem, na reunião com o secretário-geral da Presidência, Gilberto Carvalho, com fotos de canteiros de obras do PAC para refutar as acusações de trabalho degradante. Os sindicalistas sacaram outras fotos para provar o contrário. O presidente da CUT, Artur Henrique (foto), diz que o governo demorou para agir, buscando garantir as condições de trabalho nas obras do PAC: “Estamos falando isso desde 2007, mas ninguém ouvia.”

Radicalização
O Palácio do Planalto atribui à Conlutas, pequena central sindical ligada ao PSTU, a responsabilidade pela radicalização de um grupo de trabalhadores em obras do PAC, promovendo inclusive quebra-quebra em canteiros de obras.

Mais um
Estão avançadas as conversas para que o PSC ocupe uma diretoria de Itaipu. Com o aval do presidente da binacional, Jorge Samek, o ex-secretário de Ciência e Tecnologia do Paraná Nildo Lubke deve ser nomeado para uma diretoria. 

Plantão sindical dos bancários
● Quem comanda a reação, entre os petistas, contra as mudanças na direção da Caixa Econômica Federal e do Banco do Brasil são o deputado Ricardo Berzoini (PT-SP) e o tesoureiro do PT nacional, João Vaccari. Frequentemente, dependendo do noticiário, eles amanhecem ao telefone, ou no gabinete do ministro Antonio Palocci (Casa Civil). Berzoini e Vaccari entraram na política pelo Sindicato dos Bancários de São Paulo. 

O ‘X’ da questão
A sorte de Roger Agnelli na Vale foi definida em outubro de 2010. A candidata Dilma Rousseff e o ex-presidente Lula ficaram irritados com uma declaração que ele dera na Zâmbia. A leitura foi de que ele estava apostando em José Serra.

A declaração
Falando à imprensa em 14 de outubro, Roger Agnelli insinuou que o governo queria aparelhar a empresa. Ele disse: “Me sinto tranquilo. Tem muita gente procurando cadeira. E normalmente é a turma do PT. Toda eleição acontece isso.”


 O SECRETÁRIO-EXECUTIVO do Ministério da Fazenda, Nelson Barbosa, vai ser conselheiro da Vale. Será representante da Previ na cota do Banco do Brasil. 
 A MITSUI, empresa japonesa que detém cerca de 18% das ações da Vale, informou ao Bradesco que seu voto, na assembleia de acionistas, acompanhará a posição da Previ e do BNDESpar.
 O PRESIDENTE da Comissão de Reforma Política do Senado, Francisco Dornelles (PP-RJ), vai concluir seus trabalhos em 8 de abril. Já a Comissão da Câmara vai arrastar o debate sobre o tema até setembro.

IRMÃOS DE SANGUE

MERVAL PEREIRA

O político humano 
MERVAL PEREIRA

O GLOBO - 30/03/11

O ex-vice-presidente José Alencar humanizou a imagem do político com sua simpatia natural e, sobretudo, pela luta que travou em público contra a doença que acabou matando-o já fora do poder. O destino foi injusto com ele, não permitindo que descesse a rampa ao lado de Lula ao fim dos oito anos de governo em que foi uma figura política relevante, tanto nas negociações de bastidores quanto na pregação permanente contra a alta taxa de juros.
Mesmo sendo a antítese da figura do vice ideal, que seria aquele que não aparece, Alencar conseguiu ajudar Lula desde o início da candidatura, quando surgiu como o empresário que avalizava aquele líder operário que colocava medo nos seus companheiros capitalistas.
O PL, que terminou na oposição a Fernando Henrique, surgiu como solução para a composição de uma chapa que indicasse a mudança ideológica da candidatura de Lula à Presidência.
Foi uma sinalização fundamental para garantir segurança a uma parte do eleitorado. Coube a Alencar compor uma chapa inédita unindo trabalho e capital que viabilizou a vitória de Lula na sua quarta tentativa de chegar à Presidência da República.
E fez isso com habilidade de político mineiro, fechando na undécima hora, em 2002, um acordo polêmico do PT com o PL, partido a que estava filiado então.
Trancados no quarto de um apartamento, José Dirceu e Valdemar da Costa Neto negociaram tenebrosas transações, enquanto na sala, oficialmente alheios aos acertos finais, Alencar e Lula conversavam.
Esse acerto teria consequências desastrosas mais adiante, quando surgiu o escândalo do mensalão, mas nem Lula nem Alencar foram atingidos por seus estilhaços.
O PL do bispo Macedo acabou tornando-se uma sigla manchada pelo escândalo, e Alencar mudou-se em outubro de 2005 para o Partido Municipalista Renovador (PMR), hoje Partido Republicano, também ligado à Igreja Universal, uma manobra do católico Alencar para continuar garantindo o apoio dos evangélicos ao governo Lula.
Indemissível, pois tinha mandato, Alencar seria uma pedra no sapato da equipe econômica até o fim do primeiro governo de Lula com suas reclamações sobre a política de juros, que atribuía ao então ministro da Fazenda, Antonio Palocci, e chegou a ser cogitado como candidato à Presidência em oposição a Lula, o que jamais foi possível devido à amizade crescente que surgiu entre os dois.
A escolha do vice-presidente José de Alencar para acumular o cargo de ministro da Defesa foi considerada pelos especialistas em segurança na ocasião um agrado do governo Lula aos militares, diante da evidente resistência dos militares a um comando civil.
Os militares, com isso, se considerariam tratados como se tivessem uma situação acima das demais áreas do governo.
O vice-presidente, um empresário nacionalista, também era visto como o ideal para negociar com o governo investimentos para reequipamento das Forças Armadas, mas teve uma passagem apagada pelo ministério e acabou sendo substituído por Waldir Pires.
Alencar tinha orgulho de ser um empresário nacionalista e dizia que sua pregação contra os juros era um trabalho de "catequese, de formação, uma cruzada".
Às suas pregações contra os juros altos, uma bandeira altamente popular, José Alencar adicionou críticas mais amplas à política econômica do governo e chegou a se aproximar de economistas de esquerda, ligados ao Conselho Federal de Economia.
Houve um momento em que, devido à doença de José Alencar e também às suas críticas, foi aventada a troca do vice na chapa da reeleição de Lula, para incorporar o PMDB à base do governo com mais força.
Mas a ligação pessoal entre ele e o presidente Lula, que àquela altura já ultrapassava os interesses partidários, impediu que se desfizesse a dupla, que continuou pelo segundo mandato.
A dimensão humana do político foi ganhando pouco a pouco maior relevância, enquanto ele lutava estoicamente contra o câncer, numa sucessão espantosa de cirurgias.
Sua obstinada luta pela vida passou a ser acompanhada por todo o país, e seu exemplo de superação emocionou tantos quantos viam e ouviam suas declarações, a cada dia mais filosóficas à medida que o fim ficava mais próximo.
Dizia, por exemplo, que mais do que temer a morte devia-se temer a desonra. Ou que Deus dispunha de seu destino e que, se o quisesse levar, "nem precisava do câncer".
Aos que se espantavam com seu bom humor depois de uma das tantas cirurgias a que se submeteu, comentou: "Eu sou assim mesmo, mas a coisa está preta."
Recebeu de todo o país um mar de correspondências, com mensagens de apoio e até receitas para livrá-lo do câncer.
Atribuía a essa mobilização dos brasileiros eventuais melhoras de seu ânimo, e houve momentos em que se entusiasmou com os efeitos de um medicamento experimental que parecia estar reduzindo o tamanho dos tumores em seu abdômen.
Sua empatia com o brasileiro comum resistiu até mesmo a uma atitude polêmica, a de rejeitar de público fazer exame de DNA para verificar se era mesmo sua uma filha que reclamava sua paternidade.