sábado, julho 26, 2014

Um país dividido - CLÁUDIO SLAVIERO

GAZETA DO POVO - PR - 26/07


Os discursos (sic) do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva têm deixado claro não só as estratégias eleitorais de seu partido, mas a ideologia dos que grudaram ao poder e não querem dele apear de forma alguma. Elas pretendem, sobretudo, a divisão das pessoas do país, consolidando o popular “nós contra eles”, como se “nós” fossem os santos que merecem os céus eternamente, nele mandando e desmandando, e os “eles” aqueles que devem ser condenados ao fogo eterno dos infernos.

Reparem nos pronunciamentos de Lula, Dilma, Rui Falcão e seus seguidores. Seguem a linha do nacional-socialismo, guiado por Hitler e Goebbels, que já infelicitou o mundo e que teima em ressurgir em formatos modernos. Um dos exemplos é sua tentativa de caracterizar a mídia como “golpista”.

Joseph Goebbels, ministro de Propaganda do Reich, 11 dias depois de Hitler ter assumido o cargo de chanceler, fez o mesmo. Seu alvo era a “imprensa judaica”, que acusava de “ameaçar o movimento nacional-socialista. Um dia nossa paciência vai acabar e calaremos esses judeus insolentes, bocas mentirosas!” Naquela época, Hitler, Goebbels e os nazistas cumpriram sua ameaça.

Enquanto não calam a boca da mídia no Brasil, os petistas a desmerecem, ameaçam criar códigos disciplinadores da comunicação e se manifestam pelos blogs e veículos de comunicação escolhidos a dedo por Lula. Em todas as manifestações petistas, se condena a “elite branca”, a classe média (vide a filósofa Marilena Chauí, uma estrela intelectual petista: “A classe média é o atraso, a estupidez, o que tem de mais reacionário, conservador, ignorante, petulante etc.”), os conservadores, entre outros, por eles considerados “inimigos” do desenvolvimento preconizado pelo PT. E o país é dividido em brancos e negros, ricos e pobres, nordestinos e sulistas, progressistas e conservadores, estatizantes e privatizantes, bons e maus etc., incentivando a divisão de classes e, o que é pior, o ódio entre elas.

Enquanto isso, o PT beneficia apenas seus asseclas e aqueles que se aliam ao seu projeto de poder, desenhado por filósofos da Papuda. E o país vê desenhar-se um perfil catastrófico de sua economia: déficits, inflação, índices recessivos na produção industrial, desindustrialização e fuga de empresas para países limítrofes, dívidas interna e externa crescentes, economia estatizada, enriquecimento dos banqueiros e sócios do Lula, tudo paralelo à demagogia, populismo, bolsas de miséria, ausência de projetos de desenvolvimento socioeconômico e sustentável, aparelhamento do Estado e dos três poderes, descrença absoluta no Judiciário e desrespeito ao Supremo Tribunal Federal, cristalização da corrupção.

Uma nação enorme e triste! E que corre o sério risco, a seguir a cantilena petista, como querem Dilma, Lula, Rui Falcão e os filósofos da Papuda, de transformar-se em uma nação dividida, uma enorme e triste Venezuela.

A propósito do ‘anão diplomático’ - JACOB DOLINGER

O GLOBO - 26/07


Israel colocou em perigo seus soldados, sacrificando alguns deles, no esforço de minorar ao máximo as vítimas civis do inimigo



Assim que o Ministério das Relações Exteriores do Brasil condenou energicamente Israel pelo “desproporcional uso de força na Faixa de Gaza” e convocou seu embaixador em Tel Aviv a retornar a Brasília para consultas, o governo israelense, por seu Ministério do Exterior, lamentou que o “Brasil, um gigante cultural e econômico, permaneça um anão diplomático”.

Realmente lamentável o comportamento do governo da sra. Dilma.

Gostaria que nosso chanceler explicasse como ele mede “proporcionalidade” no campo bélico. Saberia ele que se Israel enviasse o mesmo número de mísseis que o Hamas lançou sobre Israel nos últimos anos, Gaza estaria totalmente destruída?

Sabe ele os cuidados que Israel tomou na semana passada avisando centenas de milhares de palestinos para abandonarem suas residências, possibilitando com isso que o Hamas soubesse exatamente onde o Exército israelense se preparava para atacar e causando assim quedas que não ocorreriam se os ataques fossem realizados de surpresa? Ou seja, Israel colocou em perigo seus soldados, sacrificando alguns deles, no esforço de minorar ao máximo as vítimas civis do inimigo.

Têm Sua Excelência e a presidente que ele serve a menor noção da barbárie dos dirigentes de Hamas forçando seu povo a permanecer em casa, enviando mísseis de hospitais e de áreas residenciais, para conseguir que a reação defensiva israelense cause vítimas civis entre o povo palestino?

Aliás, conhece o ministro alguma guerra que não causou vítimas civis? E que sempre houve desproporcionalidade entre o número de vítimas das partes envolvidas no conflito?

Não compreende o chefe do Itamaraty que em Israel praticamente não caem vítimas civis porque o Estado protege seus cidadãos, com o mais sofisticado sistema de alarme e refúgio?

Não está evidente aos olhos do governo brasileiro que esta, como as anteriores guerras entre Israel e Hamas, foi provocada pelos terroristas fanáticos que governam a Faixa de Gaza como déspotas medievais?

Fez o chanceler a mais elementar pesquisa para se assenhorar do que diz a Constituição do Hamas sobre seu desiderato de destruir Israel e eliminar toda a sua população?

A equipe do Ministério de Relações Exteriores se assenhorou dos longos e sofisticados túneis pelos quais os bárbaros se preparavam para atacar covardemente a população civil do Sul de Israel? Qual o nível do sistema de informação de que dispõe nossa chancelaria?

E tem o governo brasileiro uma equipe jurídica sofisticada que poderia adverti-lo de que condenar Israel por sua defesa contra o terrorismo pode perfeitamente constituir cumplicidade com os terroristas e as atrocidades que praticam? Aliás, o mesmo se aplica aos governos dos países da União Europeia. Será que isso traz conforto ao governo brasileiro?

E o povo brasileiro, os intelectuais, os estudantes universitários, os jornalistas, saberão aquilatar o fenômeno psíquico que reside atrás desta discriminação contra Israel?

Quanto mais o Estado de Israel progride em alta tecnologia, no avanço de sua medicina, de sua ciência; quanto mais Israel comparece para ajudar populações vitimadas por desastres naturais; quanto mais Israel contribui para minorar o sofrimento de certas populações africanas via todo tipo de assistência, quanto mais os judeus concentrados em Israel lutam por uma paz séria e duradoura com seus vizinhos — apresentando propostas irrecusáveis — sempre ignoradas pelos árabes, que por sua vez nunca oferecem contrapropostas; quanto mais Israel se revela um pais com o mais alto nível de democracia; quanto mais a Suprema Corte israelense atende a reclamações de palestinos; enfim, quanto mais Israel se destaca no plano intelectual, moral e jurídico, mais é vitimado pela hipocrisia das potências democráticas que, em vez de apoiar o Estado Judeu, lançam-se contra ele com mentiras, cinismo e má-fé.

Qual a razão mais profunda desta injustiça gritante e vergonhosa? Ninguem desconfia?

Que cada um examine sua alma, sua história familiar, sua educação, sua visão do mundo e responda honestamente por que a demonização do Estado Judeu, por que a campanha injusta, cruel e perversa contra o Estado construído pelos sobreviventes do Holocausto?

GOSTOSA


Morde e assopra - CELSO MING

O ESTADO DE S.PAULO - 26/07


No intervalo de 24 horas, o Banco Central emitiu sinais contraditórios. Na quinta-feira, por meio da Ata do Copom, avisou que a prioridade era o combate à inflação e, por isso, os juros básicos (Selic) não poderiam cair para segurar o consumo. Ontem, afrouxou as regras para concessão do crédito e, com isso, empurrou os bancos para o aumento dos financiamentos e, portanto, para o aumento do consumo.

O que está por trás desse jogo ambíguo ficou mais difícil de saber. O que a gente sabe é que, há meses, tanto o ministro da Fazenda, Guido Mantega, como o ex-presidente Lula vinham questionando publicamente a desaceleração do crédito pelos seus efeitos sobre a venda de bens de consumo duráveis, especialmente veículos. Isso sugere que o Banco Central encontrou um jeito de ceder às pressões ao mesmo tempo que tenta passar a impressão de que se mantém inflexível na política de juros.

Um dos efeitos desejados de uma política monetária restritiva (aquela que opera com juros altos, como agora) é o aperto no crédito. Se agora decidiu facilitar as operações de crédito, o BC está, na prática, tirando força da política de juros.

A decisão tomada ontem veio com o rótulo de medida regulatória, como afrouxamento de medidas prudenciais. Estas são exigências impostas aos bancos para reduzir o risco de calotes nas operações de crédito.

Fica sem explicação por que certas providências destinadas a dar segurança ao sistema, de repente, não precisam ser tão rigorosas, sem que aparentemente as condições de operação tenham se alterado.

Afora os curtos-circuitos na área de administração das expectativas, o efeito prático das decisões ontem tomadas parece limitado. Os bancos terão mais dinheiro para o crédito. São mais R$ 45 bilhões, avisa o chefe do Departamento de Normas do Banco Central, Sérgio Odilon dos Anjos. A pergunta sem resposta é se há demanda por mais crédito, algo que até agora os bancos vinham negando diante da desaceleração do crédito livre (veja o gráfico).

A queda das vendas de veículos, por exemplo, não aconteceu por falta de crédito, mas por falta de apetite do comprador. As isenções tributárias para venda de automóveis provocou antecipação de compras e não aumento de mercado. Se tem carro novo e está pagando financiamento por ele, o proprietário não espera trocá-lo tão cedo por outro zerinho.

Afora isso, o consumidor formou a percepção de que a inflação alta está minando seu poder aquisitivo e que seu emprego pode balançar. É natural que, nas circunstâncias, assuma comportamento mais conservador e evite comprometer seu orçamento com mais despesas.

Esse quadro sugere que o afrouxamento do crédito não terá grande impacto na pretendida retomada do consumo e da atividade econômica, com a agravante de que esta diretoria do Banco Central, presidida por Alexandre Tombini, junta mais um caso à coleção de decisões contraditórias.

O caminho das águas - KÁTIA ABREU

FOLHA DE SP - 26/07


A navegação entre portos dentro do país é o meio de transporte mais barato e de menor risco de acidentes


Está faltando na nossa galeria de visionários populares um personagem como o inesquecível Vasco Moscoso do Aragão --capitão de longo curso, herói de Jorge Amado em "Os Velhos Marinheiros"-- a que possamos recorrer emblematicamente para reconhecer um dos mais graves gargalos da política nacional de transportes: a navegação de cabotagem.

Surgiu outro dia, em meio a uma discussão sobre programa de hidrovias, a questão da cabotagem, navegação realizada entre portos ou pontos do nosso território, usando a via marítima ou as vias navegáveis interiores. E logo se enumeraram problemas e obstáculos típicos dos temas marginalizados.

O primeiro deles é justamente a falta de comandantes e marinheiros em número e qualificação, como nunca aconteceu no passado da frota dos "itas" --prefixo tupi-guarani que identificava a classe de navios mistos de cargas e passageiros que ligavam o Brasil de norte a sul, como Itaimbé, Itaipu, Itajubá, Itanagé, Itapagé... Pertenciam à Companhia Nacional de Navegação Costeira.

Por falta de uma rede contínua de rodovias e ferrovias, a solução eram os itas. Um tempo invoca- do na canção de Caymmi: "Peguei um Ita no norte e vim no Rio morar...". Por escassez da oferta de mão de obra e vantagens trabalhistas diferenciadas do mercado internacional, montar uma tripu- lação para cabotagem no Brasil custa o dobro do praticado no mercado internacional.

Na verdade, há um acúmulo de pegadinhas, defasagens e anacronismos legais, tributários e burocráticos que se acumulam ao longo de décadas e são típicos de atividades econômicas que saem do campo visual dos planejadores.

Caso exemplar é o tal AFRMM --o Adicional ao Frete para Renovação da Marinha Mercante--, que poderia ser substituído por linhas de crédito, como faz o BNDES com outros setores, eliminando um significativo item do custo administrativo do setor.

Há também inexplicável injustiça na política de preços do combustível, isento de tributos para o transporte de longa distância e, no caso do caminhão, com uma política de preço fixo na bomba.

Na cabotagem, o preço flutua, acompanhando o mercado internacional. E há, ainda, a burocracia intransponível para habilitar o comandante de um navio que frequenta semanalmente o mesmo porto. Com isso, fica a necessidade de contratar a mão de obra de práticos, onerando ainda mais o custo do transporte.

A questão da cabotagem não pode ser tratada isoladamente, mas integrada a outros modais e com a padronização da documentação simplificada, como no transporte rodoviário. Precisamos fomentar os caminhoneiros do mar, dando tratamento diferenciado principalmente às cargas domésticas transportadas pelo sistema de cabotagem.

Nada, porém, supera a vantagem natural da extensão do litoral, uma via disponível para ir e vir de mais de 7.400 quilômetros de extensão --"do cabo Orange ao arroio do Chuí"-- que dispensa investimentos de manutenção.

Talvez não existam mais os elementos lúdicos dos Velhos Marinheiros da fábula de Jorge Amado para atrair tripulações nem seja possível restabelecer o transporte de passageiros que pegavam "um Ita no norte". Como concorrer com a rapidez das linhas aéreas que já venceram até a competição tarifária com os ônibus?

Mas uma simples listagem das vantagens econômicas da cabotagem para transporte de cargas daria suporte a um grande projeto de sua reconstrução e ativação. Afinal, trata-se do meio de transporte de cargas que custa menos, oferece menor índice de acidentes e riscos de avarias, menor consumo de combustível e, consequentemente, menor poluição.

Se há muito proclamamos a riqueza verde da nossa floresta amazônica, falta desbravar o que a Marinha brasileira denomina Amazônia Azul, patrimônio inestimável em águas navegáveis, equivalente à metade do território nacional. É hora de fazer florescer nesse azul, por onde circulam 95% do nosso comércio exterior, a navegação de cabotagem.

Desafios para a travessia - ANTONIO CORRÊA DE LACERDA

O ESTADO DE S.PAULO - 26/07


As perspectivas para o crescimento da economia brasileira se alteraram para pior nos últimos meses. Parte da perda do dinamismo advém de fatores externos, como os impactos da crise argentina para as exportações de manufaturados, especialmente automóveis. Outra parcela decorre de fatores domésticos. A aceleração da inflação de itens básicos da cesta de consumo médio das famílias, como alimentos e serviços essenciais, por exemplo, tem restringido o poder de compra dos consumidores, também afetado pela elevação do comprometimento da renda com endividamento. O aumento dos juros básicos, de 7,25% para 11% em pouco mais de um ano, e seus efeitos para a formação das demais taxas do mercado, encarecendo o crédito, também são um fator desestimulador do consumo.

Mais recentemente, a realização da Copa do Mundo de Futebol atraiu grande parte das atenções e, embora o evento por si só gere movimentação econômica, por outro lado, no curto prazo, seus efeitos foram de esfriamento de grande parte do comércio, impactando as contratações no setor industrial. Segundo dados da Federação do Comércio do Estado de São Paulo (Fecomércio-SP), neste mês de julho 31,8% dos empresários do setor consideram que acumularam estoques acima do ritmo de vendas, indicador cerca de 40% superior ao de um ano atrás. Isso tem feito com que as encomendas aos produtores sejam adiadas, com impactos em toda a cadeia.

O cenário de demanda estagnada, ou de baixo crescimento, é um fator desestimulador do impulso nos investimentos. Nos bens de capital, além da baixa atividade doméstica, no primeiro semestre houve um recuo de 10,3% nas importações de máquinas e equipamentos, com destaque para a parcela destinada ao uso industrial, que caiu 15,2% no mesmo período. De um crescimento de 5,2% no ano passado, a Formação Bruta de Capital Fixo, total dos investimentos públicos e privados em bens de capital e construção civil, deverá ter este ano uma retração mais ou menos da mesma grandeza, o que faria com que seu nível absoluto retornasse ao observado em 2012, mas menor proporcionalmente ao PIB.

Diante do quadro atual as empresas têm adotado uma tática defensiva, com corte de desembolsos e demissão de pessoal, o que já tem afetado o mercado de trabalho, especialmente o industrial. A prioridade tem sido a preservação da geração de caixa visando a gerar receitas mediante aplicações financeiras. Trata-se, evidentemente, de uma ação de sobrevivência de curto prazo, mas que não se sustenta como estratégia de longo prazo. O desafio empresarial é de se ajustar à atual conjuntura adversa, sem deixar de focar estrategicamente as oportunidades que se apresentam à frente, em razão do relevante mercado interno.

Sob o ponto de vista do valor agregado, o PIB do ano dificilmente apresentará um resultado acima de 1%, mesmo considerando um melhor desempenho no quarto trimestre, com seus efeitos sazonais do 13.º salário e das festas de final de ano.

Na política econômica, o desafio será criar melhores condições para evitar que a estagnação de curto prazo contamine ainda mais as decisões dos empresários e consumidores que possam comprometer o futuro. Neste ponto entra um fator crucial, que é a confiança. É preciso que se apresente uma proposta crível e factível de medidas de transição, o que se torna ainda mais relevante com a proximidade das eleições gerais.

O mesmo vale para os postulantes aos principais cargos. A explicitação de propostas e programas qualificaria o debate e contribuiria para a diminuição da incerteza. Os desafios para os próximos anos são expressivos, mas, por outro lado, há condições razoáveis de partida: nível confortável de reservas cambiais, contas públicas e externas deficitárias, mas não explosivas, e um ainda resistente nível de emprego e renda.

DIGITAIS DA VAGABUNDA NA REFINARIA!


Contradição do BC - MIRIAM LEITÃO

O GLOBO - 26/07



A ilusão da autonomia do Banco Central, em ambiente eleitoral, durou apenas algumas horas. Ontem, a autoridade monetária voltou a se curvar às pressões quando ampliou o espaço para concessão de crédito, atendendo às propostas feitas pelas autoridades políticas e pelo Ministério da Fazenda. Isso é contraditório com o que havia dito com clareza na Ata do Copom.

A decisão anunciada ontem foi de ampliação do dinheiro em circulação através da liberação de metade dos recursos que as instituições financeiras têm que recolher ao Banco Central sobre os depósitos a prazo. Na quinta-feira pela manhã, o BC garantiu, em ata, que sua estratégia "não contempla redução dos instrumentos de política monetária". Como se sabe, instrumentos de política monetária são desde taxas de juros até o volume de compulsórios.

Ontem, o BC anunciou a liberação, alegando que houve moderação do crédito, recuo do risco e diminuição da inadimplência. No dia anterior, havia dito que a inflação permanece forte e resistente, e as projeções estão mostrando que as taxas continuarão elevadas. E mais, como todos sabem, há inúmeros preços reprimidos e outros cuja expectativa é que subam fortemente, como da conta de luz. Diante de uma inflação alta, resistente, com preços represados e expectativas de novas pressões, o que deve fazer um Banco Central que já vê o estouro da meta? Há várias medidas a serem tomadas e nenhuma delas é estimular o crédito.

A explicação para a flagrante contradição entre o que disse e o que fez o BC talvez esteja nas convicções monetárias do ex-presidente Lula. "Se a inflação não é de demanda, por que estamos barrando o crédito? Não temos que ter medo. Acho que temos que ficar mais afoitos. Só seguir a rotina técnica não dá certo. O crédito melhora a vida de todo mundo. Podemos chegar a 80% do Produto Interno Bruto para o crédito, 90%, não tem problema nenhum", disse ele há exato um mês.

Na verdade, o crédito não está sendo barrado. Apenas está havendo desaceleração do ritmo de ampliação dos empréstimos, como mostram os números, sob diversos ângulos. Nos últimos 12 meses, o saldo total de crédito na economia subiu 12,7% e alcançou R$ 2,8 trilhões. As concessões, que medem o fluxo de dinheiro novo sendo emprestado, cresceram 9,6%. Mais R$ 315 bi foram concedidos a pessoas físicas e jurídicas no país, entre junho de 2013 e maio de 2014. Se o recorte for feito pelo crédito livre a pessoas físicas, o aumento das concessões é de 13,7%. A torneira continua aberta.

A inadimplência está num nível menor do que há dois anos, mas parou de cair. De janeiro a maio, oscilou de 6,6% para 6,7% no crédito livre para pessoas físicas. O indicador antecedente da inadimplência, que mede atrasos entre 15 e 90 dias, foi de 6,4% para 6,6%. Há ainda um volume grande de dívida estacionado nas mais caras modalidades: o rotativo do cartão de crédito e o cheque especial. Houve diminuição da procura por financiamento de automóveis, mas depois de um crescimento forte nos últimos anos. É natural que após um período assim haja moderação.

Essa administração do Banco Central ficará marcada por ter cedido à pressão do governo e por tolerar uma inflação mais perto do teto da meta, do que do seu centro, para, assim, supostamente, garantir mais crescimento. Não garantiu o crescimento e continua dando sinais ambíguos no combate à alta dos preços.

A Ata do Copom, divulgada na quinta-feira, foi mais clara que o usual. Está lá a mesma linguagem empolada, mas com reiterações e palavras-chaves que indicavam que não reduziria os juros. No dia seguinte, houve o desmonte de parte do arsenal monetário que, na prática, reduz os juros, apesar da inflação alta. É exatamente essa volatilidade de sinais que ajuda a confirmar as dúvidas sobre o espaço de atuação do Banco Central.


O fiasco do Mercosul e a diplomacia de banquinho - ROLF KUNTZ

O ESTADO DE S.PAULO - 26/07


Foi uma semana dura para a diplomacia brasileira e revoltante para os anões. Na quinta-feira, o governo de Israel ofendeu os baixinhos de todo o mundo ao descrever o Brasil como um anão diplomático. Três dias antes o presidente da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso, havia cobrado, em tom quase paternal, mais empenho de Brasília para a conclusão do acordo comercial do Mercosul com o bloco europeu. Os dois fatos evidenciaram, mais uma vez, a desmoralização e a falência da política externa brasileira, tanto na área comercial quanto na geopolítica. O fato coberto com maior destaque foi o bate-boca entre funcionários de Brasília e de Tel-Aviv, mas os dois episódios são partes da mesma história.

Anões, ao contrário da atual diplomacia brasileira, inaugurada em 2003, podem ser inteligentes, eficientes, equilibrados e relevantes. Outros governos têm pressionado o de Israel e cobrado a suspensão ou moderação dos ataques à Faixa de Gaza, mas nenhum deles pagou o mico de se explicar e de responder em tom quase meigo a um porta-voz de chancelaria. A explicação oferecida: o Brasil criticou apenas a violência "desproporcional" de Israel, sem contestar seu direito de defesa. A resposta complementar: o Brasil mantém relações diplomáticas com todos os membros da ONU e, portanto, se houver algum anão, será outro país. A explicação e a réplica foram apresentadas pelo chanceler Luiz Alberto Figueiredo. Polidamente, ele se absteve de mostrar a língua e de chamar de feio o funcionário israelense.

Ator relevante age com clareza e se dispensa de explicações. A manifestação brasileira nesse caso, como em muitos outros, confirmou a inépcia da orientação formulada no Palácio do Planalto e seguida no outrora respeitado Itamaraty. Esse amadorismo, inspirado num terceiro-mundismo requentado e rejeitado por emergentes de respeito, tem-se evidenciado também na diplomacia comercial.

O Brasil é a maior economia da América Latina, mas seu governo é incapaz de desemperrar a negociação entre o Mercosul e os europeus. "A mim me parece um bocadinho absurdo que a União Europeia tenha acordos de livre-comércio com praticamente o mundo inteiro e não tenha com o Brasil", disse na segunda-feira o presidente da Comissão Europeia.

Por que "um bocadinho absurdo"? Para entender, basta pensar no tamanho da economia brasileira. Esse detalhe foi mencionado também pelo funcionário israelense. Ele qualificou o Brasil como gigante econômico, antes de chamá-lo, por contraste, de anão diplomático. Um contraste semelhante esteve implícito, mesmo com boa intenção, no comentário de Durão Barroso.

O presidente da Comissão Europeia foi até generoso. Teria sido menos gentil se tivesse ido mais fundo na avaliação do impasse. Absurdo, mesmo, é um país do tamanho do Brasil ter uma diplomacia subordinada aos interesses chinfrins da aliança entre o petismo, o kirchnerismo e o bolivarianismo.

Comandado por essa aliança, o Mercosul deu prioridade aos chamados acordos Sul-Sul, em geral com parceiros de pouca importância comercial. A aproximação com a Palestina é um marco notável dessa política. O livre-comércio regional com participação dos Estados Unidos foi recusado pelos presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Néstor Kirchner. Nos anos seguintes, outros governos sul-americanos negociaram com Washington, sem o Mercosul, pactos comerciais. Nem sequer com o México, uma das economias mais importantes do hemisfério, foram tentadas negociações ambiciosas. Não se foi além de um limitado pacto de complementação.

Com a recente formação da Aliança do Pacífico (Chile, Peru, Colômbia e México), foi evidenciada mais uma vez a estagnação diplomática do Mercosul. Os dois blocos poderiam, talvez, promover uma integração. Mas só se os países do Mercosul se tornarem mais abertos, disse em janeiro o presidente do México, Enrique Peña Nieto. Quanto à negociação com a União Europeia, iniciada nos anos 1990, continua emperrada e sem perspectiva de avanço neste ano. O Mercosul permanece incapaz, principalmente por causa da resistência argentina, de apresentar suas ofertas para avaliação e discussão.

Enquanto isso, europeus e americanos negociam o pacto transatlântico e tentam novos entendimentos com outros parceiros. Asiáticos buscam aproximação com todo o mundo. A União Europeia se amplia e países da vizinhança desfrutam comércio favorecido com o bloco. A nova trama de concessões bilaterais e inter-regionais cresce e torna-se mais complexa, enquanto os líderes da Organização Mundial do Comércio (OMC) tentam reanimar e revalorizar a Rodada Doha.

Nesse quadro, a posição do Brasil e de seus parceiros do Mercosul se torna cada vez mais desvantajosa. A diplomacia comercial brasileira escolheu como prioridades, há mais de dez anos, a Rodada Doha, multilateral, e a aproximação com países emergentes e em desenvolvimento. O baile promovido pela OMC, a grande rodada multilateral, continua quase paralisado. Sem ingresso para os outros bailes - as dezenas de acordos parciais -, o Brasil tem de continuar no sereno, espiando as festas de fora.

Muitos empresários brasileiros aceitam sem aparente dificuldade a diplomacia comercial anã. Mostram-se mais interessados no protecionismo, parte importante dessa política, do que em conquistar mercados. Outra parte do empresariado reclama oportunidades comerciais mais amplas.

A Confederação Nacional da Indústria (CNI) cobrou do governo mais de uma vez, nos últimos dois anos, empenho maior na busca de acordos bilaterais e inter-regionais. Será impossível atender a essa demanda sem chacoalhar o Mercosul. No limite, restará trocar o status de união aduaneira pela condição, menos ambiciosa e menos limitadora, de zona de livre-comércio. Antes disso, falta o governo abandonar as fantasias terceiro-mundistas e semibolivarianas e redescobrir a noção de interesse nacional.

Desculpe, David Luiz - CRISTOVAM BUARQUE

O GLOBO - 26/07


Nós, políticos, não estamos ganhando a Copa do Bem-Estar


Os EUA tiveram uma guerra civil que custou cerca de 600 mil vidas. A Alemanha foi derrotada duas vezes no período de 27 anos e a França foi ocupada pelos alemães. Outros países tiveram grandes traumas por terremotos e maremotos. Nossos traumas foram derrotas no futebol: para o Uruguai, em 16 de julho de 1950, e Alemanha, em 8 de julho de 2014. Sofremos por causa dos 7 a 1 no futebol, mas esquecemos dos 103 a zero para a Alemanha em Prêmios Nobel.

A realidade social não nos traumatiza porque nossos grandes problemas foram banalizados.

Consideramos tragédia ter o quarto melhor time de futebol do mundo, mas não nos traumatiza quando, no dia 1º de março de 2011, a Unesco divulgou que estamos em 88º lugar em educação; nem quando, em 15 de março de 2013, o PNUD divulgou que estamos em 85º lugar no Índice de Desenvolvimento Humano; ou quando o Banco Mundial nos coloca como o oitavo pior país em concentração de renda; ou ainda quando soubemos que somos o 54º país em competitividade no mercado mundial; ou quando o IBGE divulgou, em 27 de setembro de 2013, o aumento no número de adultos analfabetos de 2011 a 2012.

Nenhum trauma aconteceu quando a Transparência Internacional nos reprova em corrupção; ou quando vemos que, no ano passado, 54 mil brasileiros foram assassinados no país e outros 50 mil mortos no trânsito. Não nos traumatiza o fato de que 50 milhões de brasileiros — desalojados históricos pelo modelo econômico — passariam fome se não fossem as pequenas transferências de renda, como se eles fossem abrigados depois de uma inundação. Não nos choca a destruição de 9% a mais de florestas em 2013 do que em 2012.

Sofremos com as derrotas no futebol porque elas não foram banalizadas, são exceções na nossa trajetória de vitórias. Não nos traumatizam os desastres sociais porque nos acostumamos a eles e nos acomodamos. Por isso, não exigimos de nossos líderes políticos o mesmo que exigimos dos jogadores e técnicos.

Ao ouvir David Luiz pedir desculpas porque não foi “capaz de fazer seu povo feliz, pelo menos no futebol”, pensei que deveria pedir desculpas a ele, porque sou parte da seleção brasileira de líderes políticos e não consigo fazer o necessário para facilitar a vida de cada brasileiro em busca de sua felicidade.

O político não proporciona felicidade, como um artilheiro que faz gols, mas deve eliminar os entulhos sociais, tais como transporte público ineficiente, fila nos hospitais, escolas sem qualidade e violência descontrolada, que dificultam o caminho de cada pessoa em busca de sua felicidade pessoal. Esses entulhos sociais que povoam o Brasil provam que nós, os políticos brasileiros, não estamos ganhando a Copa do Bem-Estar, base necessária, embora não suficiente, para a felicidade de cada pessoa.

Por isso, eu e todos os políticos com mandatos, não David Luiz, devemos pedir desculpas por não eliminarmos os entulhos que dificultam a busca da felicidade pelos brasileiros.

Sem propaganda enganosa - MERVAL PEREIRA

O GLOBO - 26/07
A maior discussão entre os cientistas políticos e os estudiosos do marketing eleitoral hoje é sobre a real força que a propaganda gratuita de rádio e televisão ainda tem numa campanha presidencial. Ontem, em um seminário na Fundação Getulio Vargas promovido pelo Ibre, esse foi um dos pontos mais interessantes da discussão, sem que se chegasse a uma conclusão.
Não existem no país levantamentos consistentes sobre o poder de persuasão da propaganda eleitoral sobre o eleitorado, ainda mais com o fenômeno das redes sociais interferindo dramaticamente na audiência das televisões abertas e a ampliação do alcance das transmissões televisivas a cabo num público que, se antes era de nicho nas classes mais altas, hoje atinge a classe C e vai se espraiando pelas D e E com pacotes acessíveis, sem contar com o gatonet que está sendo combatido justamente pela criação de planos mais baratos para esse público.

Há quem imagine que a audiência da propaganda eleitoral que começa a 15 de agosto tenha uma redução de 50% em relação às eleições em que este era o principal meio de o candidato se apresentar ao grande público. Em 1989, quando o desconhecido governador de Alagoas Fernando Collor disputou e ganhou a Presidência República, um dos seus diferenciais na competição foi o uso de modernas tecnologias nas propagandas de rádio e televisão, dando início a uma verdadeira mania nacional de marqueteiros políticos.

A eleição de Lula em 2002, com a criação do personagem Lulinha, Paz e Amor pelo marqueteiro Duda Mendonça, foi o auge desse império propagandístico que pode estar chegando ao fim com o advento de novos meios de comunicação. O papel cada vez mais importante das redes sociais só não é decisivo como deve ser dentro de alguns anos porque hoje essas novas mídias ainda estão dominadas por conceitos marginais de distribuição de informações, e são utilizadas hoje mais como instrumento de divulgação de ofensas e calúnias contra os adversários do que para difundir projetos e programas de governo.

A tendência, no entanto, é que a propaganda através das redes sociais vá ganhando força com o passar dos tempos, deixando em segundo plano a propaganda pela televisão. Uma consequência dessa redução de importância será benéfica para a política nacional: a correspondente redução do poder dos partidos de vender seus minutos de propaganda em troca de benesses do governo.

Tribunal Superior Eleitoral (TSE) define o tempo de televisão e rádio na propaganda eleitoral de cada um dos candidatos, baseado nas alianças partidárias e no tamanho de cada bancada no Congresso. Esse critério faz com que bancadas sem prestígio político, mas com muitos membros, ganhem poder eleitoral para atuar nas coalizões.

Comandando uma coligação mais ampla do que a de Lula, a presidente Dilma terá não apenas quase o dobro de tempo que a soma dos dois principais candidatos de oposição, Aécio Neves, do PSDB, e Eduardo Campos, do PSB, como, nas inserções de 30 segundos somadas, terá nada menos que 123 minutos espalhados pela programação de cada emissora de canal aberto do Brasil nos 45 dias da campanha eleitoral.

Esses spots publicitários é que são as novas pérolas dos marqueteiros, que já chegaram à conclusão de que através deles poderão vender a imagem e as ideias de seus candidatos ao telespectador que, assistindo a seu programa favorito, será apanhado de surpresa pela propaganda política, assim como é surpreendido pelos anúncios das programações normais.

O volume de publicidade a que Dilma tem direito é equivalente, segundo especialistas, ao lançamento de um modelo novo de carro para consumo popular. O desconhecimento sobre o que vai acontecer nessa área é generalizado, mas há uma certeza: um marqueteiro apenas não ganha sozinho uma eleição presidencial. Ou seja, o carro a ser vendido não pode ser fruto de uma propaganda enganosa. As redes sociais destroem essa falsa mercadoria em poucas horas.

As desproporções da guerra - ALBERTO DINES

GAZETA DO POVO - PR


O centenário do início da Grande Guerra chega aos dias de hoje impelido pela justaposição de datas e por uma inevitável conexão com os três confrontos bélicos da atualidade. As guerras ditas “civis” na Ucrânia e na Síria, assim como a do Estado de Israel contra a facção palestina Hamas na Faixa de Gaza, são herdeiras diretas do banho de sangue de 1914-1918 e de uma paz intensamente comemorada, porém precariamente garantida.

O Tratado de Versalhes de 1919 encerrou aquela que deveria ser a última das catástrofes bélicas. Foi rasgado exatos 20 anos depois, transformando a Segunda Guerra Mundial (1939-1945) em mera sequela da primeira. Começou em Sarajevo, com apenas dois tiros de uma pistola automática que matou o casal herdeiro do Império Austro-Húngaro. Pouco mais de um mês depois, o poderoso império declarava guerra ao reino da Sérvia, prontamente defendida pela Rússia, o que provocou a resposta da Alemanha contra Moscou, Paris e depois Londres. Saldo: 20 milhões de mortos.

Assimetria e desproporcionalidade estão na natureza das guerras. O sentido de proporção, fruto de um estágio superior de racionalidade, não prospera nas batalhas, basicamente irracionais. Impossível mensurar o que seria uma resposta “proporcional” – ou aceitável – a uma ação bélica. A lei do talião embutida no preceito “dente por dente, olho por olho” do Código de Hamurabi (Babilônia, 1780 a.C.) é retórica, metafórica.

Não existe um medidor para calcular a intensidade das desforras, represálias ou vendetas. Sangue derramado não se contabiliza. Talião é a busca de equivalência, tentativa de equilibrar retaliações. Dosimetria em escaladas bélicas é pura ilusão.

Ou A grande ilusão – título de um clássico do pacifismo de autoria do jornalista inglês Norman Angell, best-seller mundial antes de 1914, depois Nobel da Paz em 1933. A guerra proporcional é uma quimera diplomática. Válida, porém mais humanitária, efetiva e definitiva, é a disposição de tirar o dedo do gatilho. O empenho no cessar-fogo, a paz de facto, sem pré-condições, interrompe a dinâmica da guerra. Então diplomatas e estadistas negociam soluções e compromissos.

A questão da proporcionalidade da resposta militar aos foguetes do Hamas está na raiz de um inédito, inaudito e constrangedor incidente diplomático entre o Brasil e Israel. A manifestação do Itamaraty sobre o grande número de vítimas civis, sobretudo mulheres e crianças palestinas, em decorrência dos bombardeios para destruir túneis e depósitos de mísseis usados pelo Hamas na Faixa de Gaza produziu uma insolente resposta do Ministério do Exterior em Jerusalém.

A nota ofende a todos, inclusive aqueles que defendem o inalienável direito de Israel defender-se de covardes ataques terroristas. Não é assim que um governo se dirige a um Estado amigo diante da comunidade internacional. A falta de compostura do texto discrepa da sofisticação e refinamento de um Estado para cuja criação em 1947 e 1948 o Brasil tanto contribuiu.

O ministro do Exterior de Israel, Avigdor Lieberman, é um radical de direita, dono de uma grosseria ilimitada que não consegue disfarçar com as ladainhas dos fanáticos religiosos. De origem russa, o político está mais próximo de um mujique que do pai da diplomacia israelense, Moshe Sharret, ou do sucessor, Abba Eban.

O conflito israelo-palestino clama por uma maior intervenção dos pacifistas. Em Israel e nos territórios palestinos ocupados, numerosas entidades, geralmente de esquerda, trabalham juntas pela paz e pela coabitação. Já conseguiram milagres, mas o projeto só se tornará relevante quando ganhar escala mundial.

Proporcionais ou não, guerras se comunicam, se alimentam e se reforçam. Também os armistícios e a convivência.

Vote no brigadeiro - ROGÉRIO ORTEGA

FOLHA DE SP - 26/07


"O Brasil é uma república federativa cheia de árvores e de gente que se melindra", diria o antropófago Oswald de Andrade (1890-1954) se estivesse vivo e tentando digerir os acontecimentos no país.

Quem passeia pelas redes sociais tem a impressão de que qualquer coisa desabonadora dita por estrangeiro, por mais irrelevante que seja, sobre a pátria deixa os brios nacionalistas dos brasileiros mais eriçados que as cerdas do javali.

Verifica-se esse comportamento quando o assunto é incrivelmente desimportante, como a opinião do chef inglês Jamie Oliver sobre o brigadeiro. Pouco importa que Oliver venha de um país notório, justamente ou não, pela pobreza culinária: a esse respeito, nem o grande ensaísta que era George Orwell conseguiu ser convincente no seu "Em defesa da culinária inglesa" (1945).

Mas a resposta é essencialmente a mesma quando o assunto é sério --por exemplo, diante daquela edição da revista britânica "The Economist" que, em 2013, perguntava se o Brasil havia "estragado tudo" quando sua economia parecia prestes a decolar.

Nos dois casos, a reação de alguns brasileiros é assustadoramente semelhante à de adolescentes que se revoltam com a desaprovação dos pais. O passo seguinte é mostrar a língua ao dito Primeiro Mundo e se empanturrar, de brigadeiro ou de nacionalismo.

(Reconheço que às vezes há reciprocidade na adolescência, como no caso do porta-voz de Israel dizendo que desproporcional não é a ação em Gaza, e sim os 7 a 1 aplicados pela Alemanha. Abre-se todo um fascinante universo novo para a argumentação diplomática: "Fique na sua, cara, seu time apanhou de 7 a 1!".)

Mas, tanto para brasileiros das redes sociais quanto para a maioria sem internet --e que, suponho, não se melindra por ter mais o que fazer--, há uma boa chance de avançar na resolução de problemas reais, independentemente da opinião alheia. Ela tem data marcada: 5 de outubro, com provável reprise 21 dias depois.

Se você achou o parágrafo anterior otimista demais, é compreensível. Além do habitual e geralmente justificado desencanto com a política, há poucos clichês tão descolados da realidade quanto "festa da democracia". Eleição a cada dois anos não é "festa" --afinal, muitas vezes nem se pode vender bebida alcoólica no dia do pleito. É uma chatice, como toda rotina tende a ser.

Mas é uma chatice necessária: um remédio de uso constante para que o organismo da sociedade se mantenha vivo. E ainda bem que se tornou rotina. Talvez faça bem a um país teenager --500 anos são adolescência, na comparação com o Velho Mundo-- trocar de vez em quando a festinha com brigadeiro por remédios mais amargos. O gosto é ruim, mas os efeitos são melhores.

Mais do mesmo na política econômica - EDITORIAL O GLOBO

O GLOBO - 26/07


Medidas de crédito tentam ativar o consumo, quando o melhor caminho são os investimentos. Mas a baixa confiabilidade do governo afugenta empresários



As turbulências econômicas mundiais aos poucos deixaram de servir de álibi para os problemas da economia brasileira, num dos ciclos de crescimento médio mais baixos da história. Tanto que, se o PIB evoluir próximo do 1,5%, a gestão da presidente Dilma estará, sob este critério, entre as piores da República, na companhia dos governos Floriano Peixoto e Collor.

A expectativa atual dos analistas do mercado financeiro é de um índice mais baixo, pouco acima de 1%. O próprio governo, em relatório do Ministério do Planejamento, reduziu de 2,5% para 1,8% a estimativa de expansão do PIB este ano.

Enquanto isso, a economia americana continua em trajetória de recuperação, e deve obter em 2014 um resultado melhor que a brasileira, mais próximo dos 2%. Já a economia europeia apresenta um cenário diversificado, com alguns países melhores e outros piores, mas num quadro diferente daquele de terra arrasada de há dois anos.

Confirma-se o que já se sabia: as causas das dificuldades da economia brasileira são internas. Na manhã de ontem, o Banco Central desembrulhou um minipacote para tentar ativar o crédito. Estabelecido em ata do Copom que não se cortam os juros neste momento de inflação nas alturas (pouco acima de 6,5%, limite superior da meta), o governo tenta induzir o mercado financeiro a elevar a oferta de crédito. Com alterações na remuneração dos depósitos compulsórios de bancos e redução de exigências para a cessão de empréstimos, o governo espera colocar mais R$ 45 bilhões disponíveis para créditos.

O principal objetivo é reativar as vendas de veículos, afetadas pela crise argentina e pela retração mesmo do mercado interno: em junho, a produção do setor automobilístico caiu 23%; e estima-se uma queda de 10% este ano, mesmo mantido o IPI reduzido.

Não há muito otimismo com as medidas. Afinal, a via do consumo tem sido tentada sem maiores êxitos, para relançar a economia. A fórmula se esgotou, diz-se há tempos, mas o Planalto persiste. Talvez devido à proximidade das eleições, para as quais todas as cartas parecem já ter sido dadas no que se refere à economia.

No caso dos veículos, a redução do IPI teria funcionado como grande indutor de antecipação de consumo: proprietários se aproveitaram do incentivo e anteciparam trocas. Assim, com o tempo, o corte do imposto tende a perder a eficácia.

Há, ainda, a baixa confiabilidade na política econômica, causa da retração de investimentos, fator que precisa substituir o consumo como força de tração do crescimento. E a inflação, o efeito do baixo crescimento no mercado de trabalho e o próprio nível de endividamento das famílias reduzem o ímpeto da ida às compras. Não são risonhas as perspectivas.

O BC firma posição - EDITORIAL CORREIO BRAZILIENSE

CORREIO BRAZILIENSE - 26/07
Parecem contraditórias as sinalizações emitidas pelo Banco Central esta semana. Na quinta-feira, a autoridade monetária deu forte demonstração de independência em relação ao governo e ao calendário eleitoral, comprometendo-se com o combate à inflação. Apenas 24 horas depois, na sexta-feira, pegou o mercado financeiro de surpresa ao anunciar um refresco no recolhimento compulsório dos bancos como medida de incentivo à oferta de crédito ao consumo.A contradição está nos propósitos de cada uma das medidas. Se a política monetária mais apertada (juros altos), da qual o BC garantiu que não pretende abrir mão, vai na direção de conter o consumo para evitar pressão sobre os preços, o aumento da oferta de crédito vai na direção contrária.

As duas posturas parecem refletir uma composição entre o que a autoridade monetária pretende de fato e o que o governo, especialmente a equipe do ministro da Fazenda, Guido Mantega, insiste em propor para tentar inverter o quadro de esfriamento da economia e desconfiança geral de empresários e consumidores.

No primeiro caso, o Banco Central aproveitou a publicação da ata da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), que, quarta-feira da semana passada (16/7), decidiu por unanimidade aprovar a manutenção da taxa básica de juros (Selic) em 11% por ano para afastar temores que vinham tomando conta do mercado.

Leve sinal de queda da inflação em junho e a piora nas projeções para o crescimento da economia em 2014 esquentaram as especulações de que o BC seria "convencido" a baixar a taxa Selic na próxima reunião, em 3 de setembro, um mês antes do primeiro turno das eleições presidenciais. Seria a repetição do desastroso "cavalo de pau" nas taxas de juros dado em 2011, quando a Selic iniciou uma sequência de quedas forçadas, que em um ano baixou a Selic de 12,42% para 7,12% ao ano.

Mereceu aplausos a reação imediata da autoridade ao fazer constar na ata a posição tomada, esclarecendo que o Copom "ainda percebe inflação persistente nos próximos trimestres" e não pensa em qualquer redução do instrumento de política monetária (juros) para combatê-la. Foi sinal positivo em meio à chuva de notícias ruins sobre a economia.

Já a liberação de uma parcela do compulsório para que os bancos aumentem a oferta de crédito às pessoas e às empresas - com destaque para as pequenas e médias - atende ao diagnóstico muitas vezes feito pelo ministro Guido Mantega, da Fazenda, de que a desaceleração da economia se deve principalmente à redução na oferta de crédito por parte dos bancos.

Sim, a medida é contraditória, mas é cedo para avaliar seus efeitos. De um lado, ela pode significar redução das taxas de juros na ponta do tomador (aumento da oferta). De outro, pode ser inócua e acabar não afetando a inflação, não apenas por envolver volume insuficiente para isso, mas também porque a queda na tomada do crédito não parece ser causa, mas a consequência de perda generalizada de confiança na condução da política econômica. Só mudanças nessa condução teriam o condão de reanimar o investimento e a atividade como um todo. Se assim for, o BC terá dado apenas um anel para preservar os dedos.

De mãos vazias - EDITORIAL O ESTADÃO

O ESTADO DE S.PAULO - 26/07


Estando ainda de mãos vazias, já que não alcançou nenhum relevante acordo de comércio exterior até o momento, o Palácio do Planalto busca algo que possa ser apresentado na campanha eleitoral. A sua última bala será lançada na próxima reunião dos países do Mercosul, que ocorrerá na Venezuela na semana que vem. Conforme reportagem do Estado, "o Brasil vai apresentar formalmente ao Mercosul (...) a proposta de antecipar para o fim deste ano o cronograma do acordo de livre- comércio com os três países sul-americanos da chamada Aliança do Pacífico: Chile, Peru e Colômbia. O Brasil quer zerar as tarifas entre o Mercosul e os vizinhos andinos nos próximos cinco meses, em vez de esperar até 2019, como prevê o acordo inicial".

Criada em junho de 2012, a Aliança do Pacífico é um bloco comercial formado por Chile, Colômbia, México e Peru, com a posterior entrada da Costa Rica. O bloco, apesar de mais recente que o Mercosul, tem dado passos consistentes, implantando acordos benéficos aos seus membros, ao contrário do Mercosul.

Por trás dessa disparidade de resultados, existe uma diferença de postura. O bloco do Pacífico tem um claro interesse prático: promover o livre-comércio e a abertura de mercado. Já a história do Mercosul é mais complexa, com muitas idas e vindas, discursos grandiloquentes e realidades miúdas, numa atitude que faz parecer que a ideologia prevalece sobre os objetivos comerciais. Veja-se, por exemplo, a entrada da Venezuela no bloco.

O pretendido acordo de agora não chega a significar um passo comercial importante, já que, especialmente para o Brasil, os efeitos comerciais desse adiantamento de prazo para zerar as alíquotas serão muito pequenos. O Brasil já tem tarifas zeradas ou significativamente reduzidas com os três países. Com o Chile, a redução tarifária já atinge hoje quase 100% dos produtos, à exceção do trigo - em 88% dos produtos, as tarifas estão em zero. Com o Peru, o País oferece redução em 99% dos produtos e recebe, a partir deste ano, redução em 83% do comércio bilateral. O peso maior seria com a Colômbia, que ainda protege 42% de seus produtos, embora tenha redução em 92% dos produtos exportados ao Brasil.

Sem grande impacto comercial, segundo diplomatas ouvidos pelo Estado, o acordo teria mais um caráter político: antecipar a abertura de mercados para a Aliança do Pacífico seria uma forma de pressionar os europeus em relação ao acordo entre Mercosul e União Europeia (UE).

No mínimo, tal raciocínio é uma ingenuidade. O acordo com o bloco europeu não andou até o momento por culpa do próprio Mercosul, que continua preso à falta de vontade da Argentina nesse acordo, agravando-se agora por sua precária situação ante a ação dos credores holdout na Justiça norte-americana.

A falta de acordo com o bloco europeu é um dos fracassos da política externa brasileira, que, insistindo com o Mercosul nos moldes atuais, não conseguiu fazê-lo andar. Durante visita ao Brasil na semana passada, o presidente português da Comissão Europeia, José Manuel Durão, afirmou: "Me parece um bocadinho absurdo que a UE tenha acordo de livre-comércio com o mundo inteiro menos com o Brasil". Nesse contexto, evidencia-se o sentido político-eleitoral para o Palácio do Planalto do acordo do Mercosul com os três países sul-americanos da Aliança do Pacífico: ter algo a apresentar, além dos acordos já firmados com Egito, Israel e Palestina.

Ainda que a proposta a ser feita pelo Brasil na próxima semana seja simples, necessita da concordância dos outros países do Mercosul. Segundo reportagem do Estado, foram feitas conversas informais com os outros países e o governo brasileiro está otimista. Mas é esperar para ver.

Em resumo, não é um acordo comercial importante, mas, diante da atual situação brasileira, seria algo. Um símbolo. De todo modo, apresentar esse adiantamento como o grande resultado da diplomacia da presidente Dilma é constrangedor, diante dos reais desafios do País no mundo.

Mestres da ficção - EDITORIAL GAZETA DO POVO - PR

GAZETA DO POVO - PR - 26/07


Enquanto alguns candidatos declaram pobreza absoluta à Justiça Eleitoral, outros informam a posse de recursos que não existem


O contribuinte meticuloso, que nada tem a esconder do fisco, além de eventuais patrimônios imobiliários, veículo ou mesmo títulos de clubes, anota também até mesmo centavos que tinha depositados em conta bancária na declaração anual de bens para fins do Imposto de Renda. Supõe-se, portanto, que há algo de estranho quando contribuintes não dão conhecimento à Receita de que guardam patrimônio monetário – isto é, dinheiro – debaixo do colchão ou atrás do armário. Ou, ao contrário, confessam à Receita ter um dinheiro que de fato não possuem.

O tema vem à discussão quando se descobre – conforme reportagens que a Gazeta do Povo publicou nesta semana – que não poucos candidatos às eleições de outubro informaram à Justiça Eleitoral que dispõem de dinheiro vivo, em casa. As informações enviadas pelo candidato ao TRE se baseiam nas declarações de bens e renda que entregaram à Receita Federal no último exercício. Fossem pequenas as importâncias escondidas debaixo do colchão, nada a estranhar – mas alguns candidatos chegaram a mencionar valores em espécie de até R$ 800 mil.

No mundo atual, em que os bancos são o lugar mais seguro para guardar as economias e as casas certamente não são fortalezas invulneráveis a assaltos, não parece ser uma medida sensata mantê-las no quarto ou na sala de visitas. Mas uma declaração dada ao jornal permite levantar a suspeita de que alguns outros candidatos escondem mais do que dinheiro – escondem também uma esperteza que lhes servirá, na futura prestação de contas à Justiça Eleitoral, para burlar a lei que lhes proíbe fazer uso de “caixa dois”. Procurado pela reportagem deste jornal, um dos candidatos que revelaram ter dinheiro vivo em casa apresentou uma singela explicação: de fato, ele não tem o dinheiro; trata-se de uma ficção que servirá para justificar os gastos de campanha. Em outras palavras, ele não precisará informar à Justiça Eleitoral os nomes de quem lhe fez doações. E isso é bom para os dois lados.

Não é crime guardar dinheiro na gaveta em vez de levá-lo ao banco ou de aplicá-lo numa (não tão rentável, nos dias que correm) poupança. Não se comete também nenhum delito ao declarar a existência de valores monetários ao Imposto de Renda, desde que se comprove que a origem do dinheiro é lícita e compatível com seus ganhos. O problema está – conforme confessado por um dos entrevistados pela Gazeta – em declarar à Receita um dinheiro de ficção com propósitos indeclaráveis.

O contrário também é preocupante. Há candidatos que apresentam atestados de pobreza que dariam inveja a um São Francisco de Assis, muito embora na vida cotidiana mostrem sinais de levá-la com conforto – certamente porque, previdentes, seus bens e rendas encontram-se em nome de outras pessoas.

A quem esses candidatos pretendem enganar fazendo de suas declarações de bens peças de ficção, seja atestando uma pobreza absoluta que não vivem, seja declarando dinheiro que não têm? Se já de saída alguns postulantes a cargos públicos eleitorais recorrem a possíveis engodos contábeis, o que esperar deles no exercício do mandato? Seria o caso de pedir mais fiscalização? Mais rigor da Justiça Eleitoral? Leis ainda mais restritivas do que as que já existem? Nada disso seria totalmente eficaz, como já deixou entrever a Lei da Ficha Limpa, tida por um instante como a panaceia milagrosa que nos livraria dos maus políticos.

O meio eficaz para restaurar a ética (ou, no mínimo, a sinceridade dos candidatos) repousa talvez numa utopia: que todos sejam honestos. Mas também numa verdadeira reforma político-eleitoral que torne as campanhas menos dispendiosas e mais transparentes, de modo que o voto reproduza os valores éticos pelos quais anseia a maioria do eleitorado.

Candidatos econômicos - EDITORIAL FOLHA DE SP

FOLHA DE SP - 26/07


Principais aspirantes a presidente evitam falar do assunto em suas campanhas, mas é fundamental que dialoguem com a sociedade


Até quando os candidatos a presidente da República vão evitar o debate sobre a condução da economia a partir de 2015?

Os principais aspirantes ao cargo têm fugido do assunto, seja pela falta de clareza do que fazer, seja pelo temor de discutir em público as asperezas das medidas necessárias a fim de o país voltar a crescer. No entanto, a pressão da realidade pode tirar os postulantes desse silêncio confortável.

Os desarranjos manifestam-se cada vez mais no cotidiano. Havia o efeito da inflação, em especial a de alimentos, que ainda causa desassossego. Agora, o resfriamento econômico reflete-se no ritmo declinante do aumento dos salários.

Os indicadores mais recentes de rendimentos do trabalho dizem respeito em geral ao período entre o final de 2013 e o primeiro terço deste ano. Evidenciam a drástica redução da velocidade dos reajustes salariais, para menos da metade do verificado até 2012.

Desde o segundo trimestre deste ano, a situação apenas se degradou. Os maiores candidatos a presidente, ainda assim, limitam-se a declarar compromissos vagos com estabilidade econômica e princípios genéricos de política, tais como controle fiscal, câmbio flutuante e inflação contida por metas.

Considerados os variadíssimos modos e resultados dos últimos 15 anos de administração em tese orientada por aquelas diretrizes, é fácil perceber que adesões insossas ao chamado tripé econômico têm escasso significado.

Quando não driblam as exigências de clareza de propósitos, os postulantes dedicam-se à enumeração de medidas pontuais, ao respaldo e às promessas de expansão de programas sociais populares.

Os projetos não se organizam em algo que pareça um programa de governo, tampouco soam compatíveis com as limitações da receita federal, que praticamente não cresceu neste ano e terá aumentos no máximo modestos até a metade do próximo governo.

Pode ser que, por ilusão de esperteza política, os candidatos ainda se recusem a ser claros a respeito de restrição de gastos, do combate à inflação, de financiamento da bancos estatais a empresas, de reajustes do valor de benefícios sociais ou das reformas necessárias para que se altere o padrão de desenvolvimento brasileiro.

No entanto, o debate acerca da economia vai chegando às ruas, agora que a campanha começa. Torna-se cada vez mais difícil fugir à responsabilidade de dialogar com a sociedade sobre o governo econômico do próximo mandato.


COLUNA DE CLAUDIO HUMBERTO

“Ele é um sub do sub do sub do sub do sub do sub”
Assessor da Presidência, Marco Aurélio “Top-Top” Garcia, sobre o porta-voz de Israel que chamou o Brasil de anão diplomático


DOADORES SOMEM COM MEDO DA POLÍCIA

É grave a penúria da campanha do ex-ministro Alexandre Padilha (PT) ao governo de SP, que, sem dinheiro, nem sequer consegue pagar salários, mas não é um caso isolado. O endurecimento da legislação e o medo de operações policiais afugentam financiadores. Eles tentam dar preferência aos favoritos nas pesquisas, mas a maior prioridade deles é não aparecer em uma nova Operação Lava Jato, da Polícia Federal.

BC DA CORRUPÇÃO

Preso na Lava Jato, o doleiro Alberto Youssef chefiaria o banco central da corrupção que “lavou” R$ 10 bilhões sujos para políticos governistas.

PENDURADO NA BROCHA

Até “arrecadadores” ligados ao PT abandonam Alexandre Padilha, e há os que embolsam as poucas doações obtidas em nome do candidato.

QUEM PAGA A CONTA

Políticos governistas garantiam dinheiro para a campanha por meio do superfaturamento de obras como a refinaria de Abreu e Lima (PE).

FORA DE CIRCULAÇÃO

Operações como a Lava Jato ainda não geraram sentenças, mas o mérito é retirar de circulação dinheiro “não contabilizado” de caixa 2.

MARINHA NÃO PODE CASSAR MEDALHA DE GENOINO

O mensaleiro condenado José Genoino deve ter medalhas cassadas pelas Forças Armadas assim que os comandantes decidirem cumprir o regulamento. Exceção feita à Medalha do Mérito Tamandaré, pois a insígnia conferida pela Marinha foi criada pelo decreto 42.111 de agosto de 1957 e não há previsão de revogação, mesmo que o agraciado cometa crimes contra a ordem, erário e sociedade brasileira.

BOBAGEM DE QUEM?

Questionado sobre agraciar ex-guerrilheiro, Mauro César Pereira, o ministro da Marinha à época disse: “bobagens todo mundo comete”.

ERA TUDO NOVIDADE

Em 1997, além de Genoino, a Marinha condecorou Aldo Rebelo e se tornou a primeira Força a entregar comendas a políticos de esquerda.

A SABER

Genoino recebeu também honrarias da Aeronáutica e do Exército, bem como a Medalha da Vitória, do Ministério da Defesa, em 2011.

RAPOSA NO GALINHEIRO

Novo diretor do fundo de previdência dos Correios, o Postalis, toma posse semana que vem sob suspeita. Paulo Moura de Sá, sócio-fundador da Portfolio Investimentos, é ligado ao PMDB e ao banco BNY Mellon, que contribuiu para o rombo no Postalis.

OMBRO AMIGO

Em missões consideradas “de risco”, Dilma leva a tiracolo o governador Jaques Wagner (PT-BA). Foi assim no velório de Ariano Suassuna, em Recife, onde Wagner não a deixou só um único segundo. Isso dá segurança à presidente, dizem seus assessores.

CONTA EM ABERTO

Além do confronto com o PMDB do senador Eunício Oliveira, a guerra entre PROS e PT no Ceará está deixando o Palácio do Planalto louco. As divergências só dificultam para Dilma manter a mesma votação de 2010.

FAZENDO UMA MÉDIA

Os presidenciáveis Dilma Rousseff (PT), Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB) confirmaram presença em sabatina com empresários em Brasília na quarta, organizada pela Confederação Nacional da Indústria.

PROPOSTAS

Os empresários levaram aos presidenciáveis 42 documentos com ideias para aumentar a competitividade da indústria brasileira, e agora querem saber que medidas serão adotadas pelos candidatos em caso de vitória.

NEM TÃO POBRE

Apesar de a Justiça ter decretado, em fevereiro, a falência do grupo empresarial do deputado federal João Lyra (PSD-AL), o parlamentar não parece estar em ruínas. Declarou ao TSE patrimônio de R$ 246 milhões.

SOB SUSPEIÇÃO

A senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB) bem que tentou impedir, mas o presidente Renan Calheiros (Senado) enviou ao TCU ofício solicitando auditoria no contrato da CPM Braxis Outsourcing S/A com a Embratur na gestão de Flávio Dino, candidato comunista ao governo do Maranhão.

FOCO NA BANCADA

De olho em aumentar a bancada federal, o PV priorizou as coligações e reduziu de dez candidatos ao governo, em 2010, para apenas dois este ano: Zé Carlos do PV, no Pará, e Gilberto Natalini, em São Paulo.

PENSANDO BEM...

...em vez de se exilar na Inglaterra, a Sininho deveria usar o pó de pirlimpimpim e se mandar para a Terra do Nunca.


PODER SEM PUDOR

CONVERSA DE BÊBADO

Sebastião Paes de Almeida fazia campanha para o governo de Minas Gerais, quando, no interior, viu-se diante do presidente da Liga Contra o Álcool da cidade. O homem estava aproveitando a campanha eleitoral para tentar viabilizar a construção de uma sede para a entidade:

- Dr. Sebastião, além da nossa sede, precisamos que o senhor nos compre cinco carros. É para ensinar o povo a deixar de beber.

A reação do candidato foi na bucha

- Meu amigo, por acaso você está bêbado?