segunda-feira, dezembro 08, 2008

O IDIOTA:FODA-SE


RICARDO NOBLAT

Inaudível


O Globo - 08/12/2008
 

 

" Ou você diria ao paciente "sifu" ?  Se você chega dizendo a gravidade da doença, você acaba matando o paciente ". (Lula)

No país dos grampos, quanto mais se escuta, menos se ouve.  Do alto de espantosos 70% de aprovação, Lula parece surdo ao que contrarie suas crenças. Seria compreensível se não fosse perigoso. Do mesmo modo, a maioria dos brasileiros ignora o estrondo que derreteu os mercados lá fora, ajudou a eleger Obama presidente e começa a ecoar por aqui.

O que era doce acabou. O Brasil aproveitou pouco a mais recente fase de ouro da economia mundial. O pior da crise ainda está por vir. “Yes, we can´t!”. Mas ainda levará um longo tempo para que possamos celebrar a recuperação da economia. Fazer o quê? Melhor fingir que se trata de uma “marolinha”, como prefere Lula. E com ele concordam 42% dos 3.486 brasileiros entrevistados pelo Datafolha na semana passada. Para 78%, a vida vai melhorar em 2009.

 

Sinto muito, não vai. O Produto Interno Bruto deve crescer bem menos do que se imaginava, o desemprego aumentar e o salário diminuir. Nada que impeça o governo de criar novas despesas ao invés de reduzir as existentes. A hora é de gastar, aconselha Lula. E não esperem que ele se debruce sobre o leito do paciente e diga: “Meu, sifu!” Isso não se faz. Na verdade, isso um presidente da República não diz, salvo se estiver embriagado pelo próprio sucesso.

 

O “sifu” não foi uma derrapada de mau gosto nunca antes cometida por um presidente. No passado, o presidente Fernando Collor avisou aos interessados que tinha “aquilo roxo”. Na campanha eleitoral de 2006, Ciro Gomes, duas vezes candidato a presidente da Republica, mandou um adversário “à puta que o pariu”. Mais recentemente definiu Fortaleza como “um puteiro a céu aberto”. Ao seu estilo, cada um deles prestou tributo ao romano Cícero e ao grego Demóstenes, mestres da oratória.

 

Os cinco sentidos humanos carimbaram a Era Lula desde o seu início. Em 2002, Lula provou o gosto do poder ao alcance da mão durante uma campanha em que foi o franco favorito o tempo todo – sem falar do Romanné Conti degustado ao lado do publicitário Duda Mendonça. 2003 foi o ano da visão. O mundo contemplou extasiado a figura do ex-retirante da seca, ex-metalúrgico, ex-líder sindical que finalmente fora eleito presidente do Brasil.

 

O olfato dos mais sensíveis denunciou que algo cheirava mal no segundo semestre de 2004. O cheiro ruim se impôs dali há um ano quando o mensalão fez o governo tremer e Lula duvidar da possibilidade do segundo mandato. Foi quando ele ameaçou renunciar à Presidência da República se o PT não desse um jeito de impedir que o publicitário mineiro Marcos Valério abrisse o bico como ameaçava fazer. O jeito foi tão bem dado que Valério, hoje, preso, permanece de bico fechado.

 

Em 2006, Lula sentiu que era possível dar a volta por cima. Saiu para o abraço percorrendo todas as regiões do País e ameaçando jogar o povão contra as elites interessadas em derrubá-lo. Manipulador de primeira, esse Lula. As elites jamais estiveram tão satisfeitas com um presidente. Dotado de notável tato político, montou uma poderosa aliança e derrotou um oponente autor da proeza de ter no segundo turno menos votos do que no primeiro. Atingiu o zênite. E sonhou com o terceiro mandato consecutivo.

 

O episódio do “sifu” é emblemático do ano em que o grampo mais famoso é aquele que só foi transcrito. O governo tapa os ouvidos às críticas da oposição. Essa se faz de surda a quem lhe cobra coerência e uma proposta de governo consistente para o futuro. O delegado Protógenes Queiroz não ouve a Polícia Federal, que não ouve a Agência Brasileira de Inteligência. Nem o ministro Gilmar Mendes, presidente do Supremo Tribunal Federal, ouve o juiz federal Fausto De Sanctis – e vice-versa.

 

Ao publicar na página do Palácio do Planalto na internet o mais extravagante discurso feito por Lula, o responsável pela tarefa foi bastante feliz ao trocar o “sifu” pela expressão “inaudível”. Nada marca melhor 2006.

KAKAKA KAKAKA KAKAKA


INFORME JB

Sucessão de Lula, tão perto, tão longe


Jornal do Brasil - 08/12/2008
 

A corrida presidencial começou em um jantar no Palácio Mangabeiras, em Minas, no início do ano, quando Aécio Neves recebeu o colega José Serra, de São Paulo, até hoje o líder nas pesquisas. Ali, delimitaram seus desafios e o discurso. Aécio e Serra foram duros um com o outro. Ambos são pragmáticos. Aécio disse que não sairá do partido para disputar o cargo em outra legenda, mas avisou Serra para não passar por cima dele sob pena de perder 14 milhões de votos no estado. Ali começou a disputa. Aécio saiu país afora para conversar com partidos a fim de formar uma coalizão em torno de si. Serra foi mais programático. Viaja o país fazendo parcerias com governadores sobre ICMS – é a sua reforma tributária. Semana passada, o segundo plano dos dois blocos entrou na rua. Aécio começou a pedir prévias no PSDB, sabe que só assim pode barrar Serra. E Serra se aproximou de Lula. Até agora Aécio não sabe por quê.

Banco do curral

O negócio vai tão bem que a crise sequer balançou as previsões do banco de investimentos que a Friboi criou no meio do ano, para financiamentos de compra e venda de gado. Esse mercado movimenta R$ 6 bilhões/ano no país.

Museu da morte

Sabem o Legacy 600 da Embraer, que colidiu com o Boeing da Gol e causou a tragédia em setembro de 2006? Está parado, até hoje, na base aérea da Serra do Cachimbo, no estado do Pará. E virou atração turística.

Prêmio do grito

O Corinthians vai receber hoje o prêmio da CBF por Torcida do Ano pelo campeonato brasileiro. Para a entidade, a torcida foi exemplar e um trunfo do timão na conquista da série B.

Boi gordo

Em tempos de crise, o boi, pelo menos, continua gordo. A brasileira Friboi, maior do mundo no abate, investiu pesado na Itália, na Austrália e nos Estados Unidos, onde tem filiais.

Missão tucana

O deputado federal Otávio Leite (PSDB-RJ) será o líder da Minoria na Câmara.

Friboi: Bife do JK

Tudo começou há 40 anos, quando José Batista Junior teve autorização do presidente JK para vender carne aos candangos na construção de Brasília.

A terra sumiu

O MP Federal e o Incra pediram à Justiça que autorize urgente a mudança de uma comunidade quilombola em Santarém, do Pará, para uma região mais alta. Vivem numa ilhota, à beira de um rio cuja água vem subindo e engolindo as plantações. Tudo por causa da erosão de barrancos.

Novo mercado

O pipoqueiro e o vendedor de picolé que são informais, entre outros, poderão virar Micro Empreendedores Individuais. O termo foi criado pelo PLC 128/08, com relatoria do senador Adelmir Santana (DEM-DF), e aprovado no Senado. Com apenas uma contribuição mensal simbólica para a Previdência, eles poderão ter acesso aos direitos previdenciários.

Memória viva

O jornalista Luiz Cláudio Cunha lança amanhã, às 18h30, na Biblioteca do Senado, seu livro O seqüestro dos uruguaios. A obra recebeu elogios rasgados de políticos, caso do senador Pedro Simon.

COLUNA PAINEL

Câmara alta


Folha de S. Paulo - 08/12/2008
 

A prestação de contas de 51 dos 55 vereadores eleitos em São Paulo mostra que os barões da Câmara investiram pesado para renovar o mandato. Neste ano, o voto para vereador custou em média R$ 12,5 na cidade (arrecadação declarada dividida pelo número de votos recebidos). Mas, no caso do atual presidente, Antonio Carlos Rodrigues (PR), cada voto saiu por R$ 40,4. Foi a campanha mais cara (R$ 1,7 milhão). A título de comparação, seu correligionário Valdemar Costa Neto, expoente do mensalão, declarou em 2006 gasto de R$ 826 mil para se eleger deputado federal.
Não aparecem no TSE os dados de quatro dos 55 eleitos: Arselino Tatto (PT), José Américo (PT), Marcelo Aguiar (PSC) e Claudinho (PSDB).

Clube
Além de ACR, apenas dois vereadores declararam ter torrado R$ 1 mi ou mais: Milton Leite (DEM, R$ 1,6 mi) e Eliseu Gabriel (PDT, R$ 1 mi). Dos dez que mais desembolsaram por voto, cinco são do PT: Alfredinho, Juliana Cardoso, João Antonio, Chico Macena e Ítalo Cardoso. 

Clientela fiel
O investimento foi proporcionalmente menor para candidatos escorados em igrejas evangélicas, como Souza Santos (PSDB, R$ 2,6 por voto) e Missionário José Olímpio (PP, R$ 2,8). Na lista, Gabriel Chalita (PSDB, R$ 6,1), ligado à rede católica Canção Nova, e o ex-pagodeiro Netinho (PC do B, R$ 4,6). 

Seca
Tradicional doadora por meio de suas subsidiárias, a Vale nada destinou às campanhas neste ano, segundo o TSE. Em 2004, distribuiu R$ 600 mil a candidatos a prefeito e vereador. A mineradora acaba de anunciar demissões. 

Papagaio 1
O PT renegociou a dívida de R$ 15 milhões com a Coteminas, da família do vice José Alencar. O passivo da tesouraria de Delúbio Soares será quitado em cinco anos, com parcelas mensais de cerca de R$ 150 mil. 

Papagaio 2
Outro esqueleto da era Delúbio de que o partido vai se livrar é um financiamento de R$ 3 milhões com o BB. Será quitado no final deste ano. A dívida com o Banco Rural também já foi refinanciada, mas outra pendência do mensalão, com o BMG, ainda não tem solução. 

Sanfona
Além de condutor para doações ocultas de empresas a candidatos, o PT tirou de seu combalido caixa R$ 4,5 milhões para irrigar campanhas do partido pelo Brasil. Com isso, a dívida total, que vinha caindo, voltou a se aproximar dos R$ 40 milhões.

Prestação
É de cerca de US$ 20 milhões a parcela da dívida do Equador com o BNDES que vence no próximo dia 29. O total chega a US$ 243 mi, e o presidente Rafael Correa ameaça dar calote. 

Rua
O ministro Guido Mantega acaba de dar modesta contribuição para o aumento do desemprego. Mandou fechar o mercadinho no subsolo do edifício da Fazenda, em Brasília. No lugar será construído um estacionamento. 

Politburo
A campanha de Michel Temer (PMDB-SP) para a presidência da Câmara tem um conselho informal. Dele fazem parte Eliseu Padilha (PMDB-RS), Eduardo Cunha (PMDB-RJ), João Paulo (PT-SP), José Aníbal (PSDB-SP), Ronaldo Caiado (DEM-GO), Sandro Mabel (PR-GO), Nelson Marquezelli (PTB-SP) e Vadão Gomes (PP-SP). 

Sitcom
Entre as promessas de campanha de Temer consta o estabelecimento de convênios da TV Câmara com as emissoras de Assembléias Legislativas. A idéia é mostrar os deputados em suas bases às segundas e sextas. 

Museu
Uma das principais obras atribuídas a Ciro Nogueira (PP-PI), também candidato a presidente, no perfil em inglês no site da Câmara é a inauguração da "galeria dos 2ºs vices". Em lugar de destaque está seu ex-mentor, Severino Cavalcanti (PP-PE). 

Tiroteio

"Os empresários podem se aproveitar da crise para mera redução de custos, descumprindo sua função social de gerar e preservar empregos, como previsto na Constituição."

De CLÁUDIO JOSÉ MONTESSO , presidente da Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho, sobre as demissões anunciadas.

Contraponto

Medidas extremas

Em visita a São Paulo no fim de semana passado, Heráclito Fortes (DEM-PI) almoçava no Pandoro quando foi abordado por um grupo de tucanos locais.
-Senador, ouvi dizer que o senhor está racionando as trufas de chocolate no seu gabinete-, disse um deles.
-É a crise...-, respondeu Fortes.
O grupo caiu na risada, mas o senador fez-se de sério e continuou a explicar:
-Olha, se até a Petrobras pegou empréstimo da Caixa Econômica Federal, acho que meus bombons também vão precisar de capital de giro...

ANCELMO DE GOIS

Até outro dia


O Globo - 08/12/2008
 

Pode não ser desta vez que se realize o sonho do PT (ou do médico Arlindo Chinaglia?) de fazer do presidente da Câmara ministro da Saúde. Há em Brasília quem diga ter ouvido de Lula: 

- Por que Chinaglia tem de ir para um ministério? Quando deixar o comando da Câmara, continuará deputado. 

É. Pode ser.


País das medalhas
 

As sessões em homenagem a alguém ou a algo no Senado são tantas que o senador tucano Álvaro Dias, chateado, foi à tribuna protestar outro dia: 

- Estas sessões ocorrem em detrimento das votações. Não têm hora para começar nem acabar. Não temos mais ordem do dia. Só ordem da noite! 

Longe de Brasília 

Brasília parece fora de moda entre estadistas estrangeiros. 

Depois do russo Dmitri Medvedev, que só veio ao Rio, também Nicolas Sarcozy não vai ao DF. Em março, o primeiro-ministro dos Países Baixos, Jan Peter Balkenende, vai a... São Paulo.

Diário do PG 

Francisco Dornelles, do PG (Partido do Galeão), discursou no Senado na linha de que ampliar os vôos do Santos Dumont mina a revitalização do Galeão. 

E pegou pesado com Solange Vieira: "A diretora da Anac é incompetente, pretensiosa, audaciosa, violenta e traz grande prejuízo ao Rio." 

Diário do PSD 

O pessoal do PSD (Partido do Santos Dumont) diz por aí que o lobby pró-Galeão é estimulado pela Odebrecht, que quer, como se sabe, a concessão do aeroporto - que, aliás, construiu.

Escapou da crise 

Em tempo de corte de patrocínios da Petrobras, a estatal topou dar, viva!, R$3,1 milhões para a reforma da Escola de Música da UFRJ, no Rio. 

Alô, Nelson Jobim! 

Até Lula prometeu ajudar. Mas ficou na promessa. A Associação dos Ex-Combatentes da II Guerra, na Rua das Marrecas, no Rio, está para fechar. 

Sem ajuda dos governos federal, estadual ou municipal, não tem mais como manter a sala.

SEGUNDA NOS JORNAIS

Globo: Paes diz que Cesar deixa rombo de até 400 milhões

Folha: Serra amplia vantagem para 2010 e Dilma sobe

Estadão: Empréstimo de bancos a emergentes vai a US$ 4,9 tri

JB: As pedras no caminho de Paes

Correio: Plano Piloto tem quatro cracolândias

Valor Econômico: Empresas reduzem capital para ter acesso a dividendos