sexta-feira, abril 08, 2016

A Lei de Newton da luta armada - REINALDO AZEVEDO

Folha de SP - 08/04

O país vive um momento de notável perda de parâmetros. Alguns valores que pareciam imunes a ataques especulativos estão sendo rifados com impressionante ligeireza. E mais chocantes são ora a complacência, ora a cumplicidade de setores da sociedade civil que deveriam constituir a vanguarda na defesa de garantias e civilidades. Refiro-me muito especialmente à imprensa. Nota: eu a critico porque a quero mais livre; as esquerdas, porque querem censurá-la.

A defesa impensada que fez esta Folha da antecipação da eleição presidencial –traduzida, em editorial, na fórmula "Nem Dilma nem Temer" integra a lista das minhas insatisfações. A tese iguala desigualdades em favor do vício, não da virtude. Ou, para os mais pessimistas, em favor do mal maior, não do menor. E escolher o mal menor, quando não há saída ótima, é um imperativo ético.

Eugênio Aragão, ministro da Justiça, comete crimes de responsabilidade em penca quando classifica de compreensível a promessa que fazem grupos de esquerda de reagir com violência ao eventual impeachment de Dilma. Disse o doutor tratar-se da Lei de Newton. E filosofou: "A manifestação de absoluta rejeição a qualquer tipo de afastamento através de golpe me parece um movimento legítimo".

Segundo o ministro, pois, para que não haja a violência "legítima", o Congresso tem de votar a favor de Dilma. A "Lei de Newton" de Aragão torturou a agora presidente da República. É um lixo moral, ético e histórico.

Leiam a Lei 1.079. O ministro mandou às favas os incisos II, III e IV do Artigo 4º do texto: atentou contra o livre exercício do Legislativo e do Judiciário, que fez o rito do impeachment, contra direitos políticos, individuais e sociais e contra a segurança interna no país. E o que leio, ouço e vejo na imprensa vai do silêncio covarde à apologia da violência –na pena de alguns colunistas. Afinal, se os adversários são golpistas, Deus está morto.

Não atuou de modo diferente o advogado geral da União, José Eduardo Cardozo, na comissão especial do impeachment. Assegurou que um eventual governo Temer será ilegítimo. Ora, se é assim, tudo o que se fizesse de ilegal para derrubá-lo estaria justificado pela "Lei de Newton". A propósito: que sentido faz entregar a defesa se ele diz que só um resultado é aceitável? É um pouco mais sutil do que Aragão, mas não menos doloso.

De igual modo agiu Dilma Rousseff ao abrir o Palácio do Planalto ao proselitismo e ouvir, sem sombra de reprovação, um de seus aliados a fazer terrorismo aberto: ou o Congresso se ajoelha aos pés do PT, ou ninguém governa "estepaiz". Em peregrinação, Lula, o presidente "de facto", promete a seus milicianos que o próximo passo será controlar a "mídia".

Quando esta Folha escreve "Nem Dilma nem Temer", acaba, na prática, por acatar essas ameaças como instrumentos aceitáveis da luta política. Até que haja, e não há, evidências de que o vice-presidente tenha cometido crime de responsabilidade, "nem Temer" por quê? Assim como não é aceitável que as esquerdas, no poder, legitimem as ações criminosas, não se pode tolerar que deslegitimem as saídas preconizadas na Constituição.

Até porque não é o PT que justifica a existência da democracia; é a democracia que justifica a existência do PT. E, por isso, o partido tem de parar de tentar solapá-la. Ou migrar, então, para a clandestinidade.

Governo da economia sem cabeça - VINICIUS TORRES FREIRE

FOLHA DE SP - 08/03

O governo da economia é um assunto morto, neste momento. Quase ninguém liga. Entre os menos desacorçoados, no máximo se discutem as nebulosas, quando não sinistras, possibilidades de política econômica sob Temer 1 ou Lula 3.

Considere-se.

Na prática, o BC disse ontem que não faz sentido a única iniciativa maior, mas nem por isso grande, do Ministério da Fazenda neste ano: a tentativa de aumentar o crédito.

Há dinheiro nos bancos, que estão bem capitalizados e lucrativos, escreveu o pessoal do BC no "Relatório de Estabilidade Financeira", divulgado ontem. Mas não haverá propensão a se endividar ou conceder empréstimos enquanto não houver confiança em retomada econômica, disse a diretoria, em entrevista sobre o assunto. "Touché".

O "ministério lulista", que já funciona "por conta" no Planalto, e o entorno de Lula 3 desmoralizam o ministro da Fazenda a cada dia. Soltam balões com o nome de um futuro ministro salvador, que cuidaria da economia durante o governo da "repactuação".

"Repactuação" é o nome fantasia ou apenas fantasia do que seria o governo na hipótese de Dilma Rousseff sobreviver ao impeachment. Nesse caso, o ex-presidente talvez assuma o cargo inexistente de premiê ou regente da Presidência, inaugurando Lula 3.

O PT no Congresso e "nas ruas", com o auxílio da mão pesada de um governo no bico do corvo, matou no berço a tênue tentativa de um plano de reformas impopulares, tais como a da Previdência, que era um blá-blá-blá corrente no início do ano. No final de fevereiro, o PT lançou um "programa econômico de oposição", "virada à esquerda". Fritou-se o ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, no encontro nacional do partido. Em março, Dilma Rousseff mandou a fumaça de reformas para a gaveta.

O projeto de renegociar dívidas dos Estados em troca de uma contenção futura de despesas, em especial com servidores, levou uma rasteira dos parlamentares do PT. Enfim, do plano resta apenas o aumento de gastos e deficit embutidos no pacote e mais um ataque de Dilma Rousseff à Lei de Responsabilidade Fiscal (que veda novo refinanciamento da dívida estadual).

A mera impressão que ainda restasse de que este governo tem um plano de contenção da dívida pública, que cresce sem controle, foi desmoralizada pela revisão da meta fiscal deste ano. Como se não bastasse, o governo propôs um Regime Especial de Contingenciamento que, na prática, permite ao governo relaxar a meta de superavit primário, de modo excessivamente liberal, em caso de frustração de receitas.

A medida foi recebida com indiferença ou escárnio por economistas convencionais e pela praça do mercado. Note-se, de resto, que faz meia década não há notícia de meta fiscal crível. Desde 2014, nem meta existe. O que rolar, rolou.

Não que ninguém ligasse muito para os planos econômicos do governo. De qualquer modo, nas melhores casas do ramo de previsões, estima-se que o deficit deste ano seja de 1,5% do PIB e, no ano que vem, de 2%, caso nada mude no governo, seja ele qual for. Em 2017, portanto, haveria um quarto ano seguido de deficit primário, o tetracampeonato do rombo.

Fazia uns 23 anos que o Brasil não ficava assim, sem política econômica.


Santa ignorância - RUY CASTRO

Folha de SP - 08/04

Alguém comparou a presidente Dilma Rousseff a Josef K., personagem do romance "O Processo", de Franz Kafka. Disse que, a exemplo de Josef K., ela também não sabe do que está sendo acusada. A comparação não procede. O infeliz K. vaga pelas instâncias e antecâmaras da burocracia sem que lhe digam o que têm contra ele. Mas Dilma, se folhear os relatórios do Tribunal de Contas da União e o da comissão especial da Câmara que propõe o seu impeachment, ambos tomando hoje dezenas de volumes, será informada das irregularidades que cometeu.

Se ainda assim Dilma continuar não sabendo, é caso de voltar imediatamente à cartilha. Aliás, por seu peculiar uso das palavras ao expressar-se, isso já deveria ter sido providenciado.

Enquanto muitos de nós levamos a vida tentando acumular conhecimentos que nos permitam entender o mundo, a especialidade de Dilma é não saber. Enquanto ministra das Minas e Energia, presidente do Conselho de Administração da Petrobras e ministra-chefe da Casa Civil, os desvios de bilhões de reais nos órgãos pelos quais era responsável não lhe provocaram um simples arqueio de suas sobrancelhas artificiais. E talvez esteja aí a explicação: se Dilma não sabia o que os aliados faziam, como saberá o que fazem os adversários?

Ou talvez o mundo exterior só lhe provoque tédio e irritação. É o que ela aparenta enquanto o país desmorona ao seu redor, com o número recorde de falências, investimentos que minguaram ou nunca serão feitos e a inflação e o desemprego galopando para os dois dígitos -tudo isso enquanto se apura a quantidade de dinheiro queimado pela corrupção de seus correligionários ou por sua simples incompetência.

Dilma gosta de falar de seu histórico na luta armada. Faria bem em pular essa parte. Com ela como militante, a luta armada não podia dar certo.

Carbonos 14 - FERNANDO GABEIRA

O Estado de S. Paulo - 08/04

Dilma vai cair? É a pergunta mais frequente nas ruas. A resposta a ela virá no meio de abril. É a pergunta certa para o momento. Tudo converge para votação do impeachment. Minha sugestão? Alinhem à torrente dados que estão surgindo e avaliem sempre sobre este ângulo: isto ajuda ou não a queda de Dilma?

Claro que é um roteiro esquemático para seguir a crise. Há outras formas de abordá-la. É tão ampla e, ironicamente, tão generosa em novos temas que mal posso abordá-los na amplitude.

Por exemplo, esta semana o presídio onde estão os presos da Lava Jato viveu uma polêmica que passou ao largo. Uma podóloga entrou na cadeia e fez os pés de oito presos. Foi paga pela Andrade Gutierrez.

Li que os empreiteiros recebem comida e agasalhos e distribuem uma pequena parte entre os presos comuns. Esse encontro de empreiteiros com presos comuns num presídio brasileiro é inédito. Lembro-me de que, quando preso no Distrito de Ricardo de Albuquerque, no tempo da ditadura, eram os bicheiros a aristocracia do pedaço; os policiais lavavam seus carros, estacionados na porta da prisão.

O encontro dos empreiteiros com a cadeia pode abrir um caminho para que se disponham a construir os presídios que nos faltam, como parte de sua pena. Isso já foi pensado uma vez, mas numa articulação que visava a abafar a Lava Jato. Ela é irreversível, portanto vivemos numa outra fase. Além disso, antes de serem presos, os empreiteiros não construiriam boas cadeias como agora que as conhecem por dentro. A construção de presídios dignos no Brasil atenuará muito a tensão no sistema e talvez contribua para reduzir alguns crimes de rua.

Mas quem se vai importar com isso agora? O fluxo de dados da Lava Jato e também dos Panama Papers. Uma investigação dessa envergadura em 11,5 milhões de documentos da Mossack Fonseca é uma bomba mundial com estilhaços no Brasil. A Mossack, especialista em esconder os verdadeiros donos de contas offshore, é a mesma empresa envolvida naquele prédio Solaris, do Guarujá, onde Lula não tem o tríplex ao lado de apartamentos de seus amigos do PT.

A Lava Jato lançou a Operação Carbono 14, num esforço arqueológico de entender o rumo do PT de 2002 até hoje, unindo num só todo a morte de Celso Daniel, o mensalão e o petrolão.

A morte de Celso Daniel teve vários elementos cinematográficos: morte de oito pessoas de alguma forma ligadas ao crime, sequestro de um helicóptero para resgatar na prisão um dos comandantes da ação, muitas versões. A prisão do empresário Ronan Maria Pinto pode trazer novidades, uma vez que recebeu um cala-boca de R$ 6 milhões do petrolão para, segundo os depoimentos de Marcos Valério e José Carlos Bumlai, não denunciar Lula, José Dirceu e Gilberto Carvalho. Isso é com a Lava Jato.

O que se sabe é que em Santo André houve um forte esquema de propina para financiar campanhas. Isso foi dito pela deputada Mara Gabrilli, cujo pai, dono de empresas de ônibus, era constantemente forçado a contribuir. E é confirmado pela família de Celso Daniel, que soube do esquema por Gilberto Carvalho, na missa de sétimo dia do prefeito assassinado.

São, pois, dois caminhos, dois carbonos 14: o que está na ossada de Celso Daniel e o que está nas primeiras propinas como forma de financiar campanhas. Uma espécie de pacto com o diabo que se prolongou pelos anos.

Não afirmo nada sobre o assassinato, uma vez que as diferentes versões não me satisfazem. Mas os primeiros passos para o PT se tornar o que é hoje foram dados em Santo André. Era preciso dinheiro para a campanha. As empreiteiras estavam na esfera do adversário. O caminho era buscar recursos em prestadores de serviço como empresas de lixo e transporte. Lula estava cansado de perder e queria disputar com chance. Era preciso um programa de TV de alto nível, mesmo que fosse muito caro.

A arqueologia dos desvios de dinheiro público será feita pela Operação Lava Jato. Mas na arqueologia do caminho torto, os faraônicos programa de TV são um marco decisivo.

O PT fazia duas escolhas que iriam marcar sua trajetória. A primeira, usar dinheiro sujo em campanha, mesmo método que atribuía aos adversários. A segunda foi deixar de apresentar um programa real de transformações, optar pela emoção, as luzes e cores, mulheres grávidas descendo a colina vestidas de branco. O PT saía da História para entrar no marketing. Não importava tanto o debate de ideias sobre o Brasil real, mas uma projeção idílica do futuro.

Esse mergulho carbono 14 não é um exercício nostálgico porque encerra duas lições. A primeira é que não surgirá nada de novo no universo político se escolhermos usar os mesmos instrumentos que condenamos no adversário. A segunda, muito importante, é que não há mais espaço para fantasias de luzes e cores, mas a urgência de um debate franco sobre os problemas do País. Ou fazemos os ajustes na economia ou os estragos caem sobre a nossa cabeça, como caíram sobre a dos gregos.

Não há tempo a perder quando se tem quase 10 milhões de desempregados. Será preciso negociar, suprimir concessões, para evitar a falência do Estado.

Quando digo suprimir concessões não me refiro à Bolsa Família, mas à bolsa Louis Vuitton, dos amigos do governo. Nem sequer são inovadores, mas consumiram, em financiamentos subsidiados, dez vezes mais recursos públicos do que as famílias pobres. E devolveram uma fração disso nas campanhas do PT.

No embalo da Lava Jato, a lei vale para todos; será preciso afirmar também, em principio, que os impostos e juros valem para todos os designados a pagá-los.

Foi por esse mecanismo que o PT manteve o apoio dos empresários. Essa asa de bondades com o dinheiro público se estendeu a inúmeros setores, inclusive alguns movimentos sociais.

Deixo outro carbono 14, para tempos serenos: como foi possível o Brasil conviver tantos anos com uma proposta tão cínica como a do PT, que se esconde no marketing das denúncias concretas de corrupção? Respondê-la, é vital para que não a tragédia não se repita.

FERNANDO GABEIRA É JORNALISTA

Cenário, roteiro e elenco - NELSON MOTTA

O GLOBO - 08/04

No sonho de Dilma não tem golpe, nem impeachment, nem renúncia, nem novas eleições. Tudo continua como está, pior do que nunca


Que pacificação pode ser feita, que governabilidade será possível, que confiança pode ser restaurada, se a presidente ganhar raspando na Comissão de Impeachment da Câmara, ou, mesmo fazendo o diabo, perder na Câmara, mas escapar por um focinho no Senado? Com minoria mínima no Congresso, terá o governo ocupado por pepistas e nanicos, numa situação que lembra a “antropofagia de anões” prevista por João Santana, “com Dilma pairando sobranceira e ganhando no primeiro turno.”

No sonho de Dilma não tem golpe, nem impeachment, nem renúncia, nem novas eleições. Tudo continua como está, pior do que nunca. Com Lula na Casa Civil como presidente executivo, mas com seu poder e credibilidade abalados, como poderá ajudá-la a formar uma base de apoio sólida no Congresso e compor um “ministério de notáveis" acima dos partidos? Que “notável” aceitaria uma roubada dessas em um governo, ainda legal e legítimo, mas moribundo? Quem quer ser sócio em falência ?

Então com quem ela vai governar? Nem um gênio político poderia fazer algo de bom com esse Ministério bagaceiro e com postos-chave da administração e de estatais entregues a pepistas e nanicos como bolsa anti-impeachment.

A pergunta não é o que pode salvar Dilma, mas o que pode salvar o país. Sim, milagres acontecem, mas além dos que esperam uma segunda volta de Jesus, ninguém consegue imaginar algum que nos dê um pouco de ordem e progresso.

Acredito que a grande maioria de petistas e tucanos é de cidadãos de bem, de boa fé, que creem, alguns cegamente, em ideias diferentes para melhorar a vida de todos. Lideranças podres, quadros incompetentes, farsantes e corruptos profissionais estão em todos os partidos e corporações. São eles os grandes inimigos da democracia e do Estado de Direito.

Para tentar acalmar os ânimos nestes dias de ira, e talvez melhorar a discussão política, aderi a um grande pacto nacional voluntário: nunca rebater acusações acusando o acusador de crimes iguais ou piores.

Em vez de perder tempo na briga sem fim por quem é mais maligno, quem sabe uma ou outra ideia construtiva poderia surgir, enquanto a Justiça faz o seu trabalho.

Em ebulição - ELIANE CANTANHÊDE

O Estado de S. Paulo - 08/04

O parecer do relator Jovair Arantes (PTB), favorável ao impeachment de Dilma Rousseff, pode ser chamado de qualquer coisa pelo governo, mas foi perspicaz. Considerou as questões jurídicas e as pedaladas fiscais, descartou uma das imputações e citou o ambiente de recessão e de desemprego em que a questão – essencialmente política – se desenvolve.

Arantes também delegou o julgamento final ao Senado, deixando uma brecha para que novas denúncias, dessas que pipocam a toda hora, como a da delação da empreiteira Andrade Gutierrez, possam ser acrescentadas mais adiante à argumentação pró-afastamento de Dilma. O governo não tem dúvidas: vai perder na Comissão do Impeachment e precisa “trabalhar” o plenário da Câmara.

Sendo assim, o parecer virou senha para pressionar os partidos, atrair apoios e convencer os que são, ou se dizem, indecisos. O presidente do PP, Ciro Nogueira, anuncia que o partido é contra o impeachment, mas o racha interno não deixa nada a dever ao do PMDB e pode ser bem ilustrado por Paulo Maluf. Antes contra, agora ele se diz a favor do afastamento de Dilma, indignado com a imoralidade da compra de votos pelo governo. A gente bem poderia dormir sem essa...

O pequeno PV, que abriga o deputado Sarney Filho, caçula do ex-presidente José Sarney, um dos próceres do PMDB, vai votar contra Dilma. A forte e suprapartidária bancada evangélica também. No PMDB, o senador Romero Jucá assume a presidência pronto para os embates com o governo e com a ala governista. Ele tem dois trunfos: a tribuna do Senado a qualquer momento e o fato de ter votado contra Dilma e a favor do tucano Aécio Neves em 2014. De incoerência, não pode ser acusado.

“O processo (de impeachment) está em aberto, não há vencedor ainda. É um processo em ebulição nos partidos, na sociedade e nos poderes da República”, disse ele ontem, depois de enviar para o Conselho de Ética do PMDB os pedidos regionais de expulsão dos que insistem em se manter ministros. Pensa, ainda, em fechar questão a favor do impeachment. Ou seja: os pemedebistas que votarem contra estarão sujeitos a sanções.

Fora do Congresso, mas nem tanto, a Confederação Nacional da Agricultura e a Sociedade Rural Brasileira divulgaram notas apoiando o afastamento da presidente. Não fosse por outra coisa, porque não digeriram os palanques de Dilma no Planalto, aquiescendo quando militantes rurais ameaçaram invadir fazendas caso ela caia. Detalhe: a presidente licenciada da CNA é Kátia Abreu, ministra da Agricultura e amiga de Dilma.

Esse movimento do setor ruralista vai ao encontro do que a consultoria Macroplan apurou, de 28 a 31 de março, com 60 empresários, executivos, gestores públicos, economistas, cientistas políticos e jornalistas: para 69%, Dilma sofrerá impeachment ainda neste ano. Além disso, 14% acreditam em cassação pelo TSE, 14% que Lula possa repactuar o governo, 7% que Dilma ficará e a economia continuará a afundar. Do total, 4% ainda creem na renúncia.

Em Brasília, ninguém sabe com certeza o que vai acontecer, mas todo mundo sabe que alguma coisa tem de acontecer. Impeachment ou não, cassação da chapa Dilma-Temer no TSE, antecipação das eleições... Quem tem tanta alternativa é porque, talvez, não tenha nenhuma. Ou só tenha, de fato, uma: o impeachment.

Os defensores dessa tese acreditam que a economia, a Lava Jato e as delações sobre as campanhas de Dilma têm um efeito direto no eleitor. Logo, no voto do parlamentar sobre o impeachment. Como diz Jucá, refletindo um temor generalizado: “Sem impeachment, o dia seguinte não será de vitória do governo e de Dilma, mas um estouro do mercado, com o agravamento de uma situação na economia que já é dramática e se agrava com grande velocidade”. Quem haverá de discordar?

Vazamentos - MERVAL PEREIRA

O GLOBO - 08/04

As más notícias para o governo Dilma não param de vazar, oficialmente ou não. Depois de o dia ser dominado pelas revelações sobre a delação premiada dos dirigentes da Andrade Gutierrez, altamente tóxicas para a presidente, à noite o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, defendeu a anulação da nomeação do ex-presidente Lula para a chefia da Casa Civil alegando "desvio de finalidade". Em meio a tenebrosas transações, o barco está à deriva.

Evoluindo de sua posição inicial, considerada estranha, agora Janot não admite que Lula fique no Ministério, mesmo sem foro privilegiado, como propusera anteriormente. Ao mesmo tempo, abre caminho para que a própria presidente Dilma seja processada por tentativa de obstrução da Justiça.

Paralelamente à realidade política, que se impacta com as revelações da Lava-Jato, há um trabalho subterrâneo para converter individualmente deputados que definirão o destino da presidente Dilma no plenário da Câmara. O governo pretende adiar o momento de decisão para ganhar mais tempo no aliciamento dos que ainda se dizem indecisos, e o calendário da Câmara e o do Supremo Tribunal Federal podem se cruzar.

A votação no plenário da Câmara está marcada inicialmente para o dia 17, um domingo, ou na segunda-feira seguinte. O ministro Gilmar Mendes colocou ontem em pauta a análise dos mandados de segurança contra a posse do ex-presidente Lula no Ministério, mas são necessários cinco dias úteis para que o assunto possa ir a plenário, o que impossibilita que a decisão do Supremo seja tomada antes da votação da Câmara.

Mas se o governo conseguir adiar a discussão com recursos protelatórios, a votação pode ficar para o feriado do dia 21, dia emblemático na História do país, possibilitando que o STF decida a situação de Lula no dia anterior, a quarta-feira 20.

A decisão sobre Lula é crucial, pois dará uma indicação ao baixo clero, assediado pelo governo, da expectativa de poder que o ex-presidente representa. Realizada a sessão do STF antes da votação do impeachment, ela pode fortalecer ou enfraquecer Lula, e o resultado impactará o voto dos indecisos.

Se o Supremo só analisar a questão depois da votação do impeachment no plenário, será ela que terá o poder influenciar a decisão dos ministros. Aprovado o impeachment na Câmara, provavelmente a nomeação do ex-presidente perderá seu poder de aglutinação.

Caso a presidente se safe do impeachment, no entanto, a presença de Lula no Ministério poderá ser de muita valia para uma tentativa de soerguimento do governo Dilma. Os ministros poderão sopesar todas essas variáveis na hora de decidir.

A existência de cerca de 120 deputados que se dizem indecisos ou se negam a revelar o voto, que será aberto, indica a dificuldade que o governo vem encontrando para montar uma maioria segura contra o impeachment.

Com todo o poder de compra que ainda lhe resta, e o trabalho clandestino de Lula, o governo não consegue chegar aos 171 votos de que necessita. Cada um dos lados depende de cerca de 60 desses votos para atingir a meta, e os que conhecem os bastidores da Câmara avaliam que as últimas 48 horas serão decisivas.

A delação premiada da cúpula da empreiteira Andrade Gutierrez, detalhando com planilhas o dinheiro que entrou na contabilidade do PT como se fosse legal, mas na verdade oriundo da propina de grandes obras, é o mais duro golpe recebido até agora por Dilma, pois confere veracidade a tudo que vem sendo dito por outras delações sobre a campanha de 2014.

O abuso de poder econômico, embora não esteja entre os motivos do impeachment, certamente será levado em conta na decisão dos deputados. E continuará servindo de prova para a anulação da votação da chapa presidencial Dilma-Temer no processo do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

A delação tem a capacidade de retirar do governo o argumento de que não existe nada que desabone a presidente Dilma na questão da honestidade. Financiada por dinheiro de propina, negociado por pessoas claramente ligadas a ela ou à sua campanha, como os ex-ministros Erenice Guerra e Antonio Palocci, o diretor da Eletrobras Valter Cardeal e o ex-ministro de Minas e Energia Edison Lobão, não é mais possível alegar-se que ela estava alheia a tudo o que acontecia à sua volta. Provavelmente por isso Dilma tenha demonstrado tanta irritação com as revelações.

A índole do lobo - EDITORIAL O ESTADÃO

O Estado de S. Paulo - 08/04

Os petistas trataram de espalhar por aí o mito segundo o qual a presidente Dilma Rousseff, caso seja vitoriosa na batalha do impeachment, será estimulada pelo PT a permitir que seu chefão, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, lidere um “amplo processo de reconciliação nacional”, conforme o noticiário publicado pelo Estado.

As “fontes do Planalto e do PT” ouvidas na reportagem querem fazer o País acreditar que, depois de classificar como “golpistas” os milhões de brasileiros que defendem a destituição constitucional de Dilma, o atual governo será capaz de ser fiador de alguma forma de diálogo num futuro previsível.

Há duas interpretações possíveis para esse embuste. A hipótese benevolente é de que o PT, em gravíssimo estado de negação, não só acredita realmente na possibilidade de que Dilma escape da destituição, como também está certo de que Lula será capaz de reconciliar o País. A segunda hipótese, bem mais realista, é que o PT, sabedor do risco existencial que corre, está lançando mão de medidas desesperadas para criar embaraços para os adversários.

Cientes de que ninguém da oposição tem o menor interesse em negociar o que quer que seja com um governo e com um partido que há anos menosprezam o contraditório e que mergulharam o País no caos sem consultar ninguém, os petistas pretendem confundir a opinião pública. Ao lançarem a ideia de “reconciliação” sob a liderança de Lula, esses espertalhões sabem que se trata de algo que será prontamente recusado. Assim, querem jogar sobre os ombros da oposição o ônus da rejeição ao “diálogo” generosamente oferecido por Dilma e seu finório padrinho.

É um plano tão evidentemente amador que é difícil de acreditar que tenha sido arquitetado por políticos a quem se atribui grande tirocínio, como Lula e sua gente. Pois, hoje, a maioria absoluta dos brasileiros está bastante bem informada sobre como “dialogam” os petistas.

Antes de mais nada, seria um “diálogo” movido a puro fisiologismo. Para cabalar votos contra o impeachment, Lula, em pessoa, está liderando um processo de cooptação individual de parlamentares, prometendo-lhes a ampla satisfação de demandas pessoais. Diante dos cabeludos escândalos de corrupção capitaneados pelo lulopetismo, já se pode intuir que demandas são essas. É esse, pois, o tipo de relação degradante que Lula, Dilma e os petistas pretendem fomentar com o Congresso em seu anunciado projeto de “reconciliação”.

Não há nenhuma surpresa aí. A política sempre foi um obstáculo para o PT, partido que jamais se dispôs a ceder nos grandes debates nacionais e que tem dificuldade de respeitar o resultado das urnas quando perde e de tratar a oposição com respeito quando vence.

No momento em que o PT acena com o “diálogo”, é preciso lembrar que esse foi o partido que se recusou a firmar a Constituição de 1988, sabotou o Plano Real e votou contra a Lei de Responsabilidade Fiscal, entre outras barbaridades. Também foi o partido que tentou mobilizar o País pelo impeachment de Fernando Henrique Cardoso, invocando argumentos que poderiam ser perfeitamente qualificados como golpistas.

Por fim, mas não menos importante, o PT implodiu todas as pontes de comunicação com a maioria dos brasileiros. Na época em que Lula era endeusado graças à sua imensa popularidade, o PT julgou-se apto a ditar a agenda nacional, com o autoritarismo que é sua marca fundadora. Aparelhou o Estado e arrombou os cofres públicos para comprar o apoio que, nas democracias saudáveis, obtém-se apenas por meio da negociação política.

Não se trata de uma circunstância, mas de um método. O PT dedicou-se, com afinco, a destruir os pilares da democracia no País para governar sem estorvos, e o resultado é hoje a desmoralização quase completa do mundo político. Vendo-se agora tragado pela própria onda de lixo que criou, o PT, pasmem os leitores, apresenta-se como a solução – quer o “diálogo”, pois, nas palavras de um parlamentar petista, “do jeito que está, ninguém ganha”.

Como diz o conhecido provérbio latino, o lobo muda o pelo, mas não a índole.

Um brilho enganador - EDITORIAL CORREIO BRAZILIENSE

CORREIO BRAZILIENSE - 08/04 

Diz um velho ditado que nem tudo que reluz é ouro. Essa incontestável sabedoria é invocada para alertar os mais afoitos para o fato de que a coisa nem sempre é o que parece. Em tempos de crise na economia, com desemprego em alta, inflação, desequilíbrio fiscal e queda do Produto Interno Bruto (PIB), é natural a valorização, especialmente por parte do governo, de qualquer dado positivo.

É o caso da balança comercial brasileira, que, depois de fazer feio nos últimos anos, fechou o primeiro trimestre com saldo que permite a projeção de superavit de pelo menos US$ 35 bilhões em 2016. Em março, o saldo favorável foi de US$ 4,41 bilhões, representando o melhor resultado para o mês desde 1989, ou seja, desde muito antes da crise financeira mundial de 2008/2009.

Sim, é fato positivo, já que reflete algum alívio para as contas externas do país e fôlego para pelo menos uma parte da indústria, que, beneficiada pela desvalorização do real frente ao dólar, recuperou a capacidade de ofertar preço competitivo. Mas nem por isso é prudente deixar de se preocupar com o que realmente tem pesado nesse resultado.

O que de fato vem ocorrendo é que a corrente de comércio do país está em queda, refletindo a profundidade da recessão da economia brasileira, que, depois de recuar 3,8% em 2015, ameaça com queda ainda maior (4%) este ano. Se confirmada essa tendência, o Brasil terá vivido, no fim de 2016, o mais longo período recessivo de sua história republicana.

De janeiro a março, as exportações brasileiras somaram US$ 40,5 bilhões, com queda de 5,8% na comparação com o primeiro trimestre do ano passado. Foi queda menor do que a que vinha sendo registrada ao longo de 2015. Ocorre que, no mesmo período, as importações literalmente despencaram 33,4%, somando apenas US$ 32,1 bilhões.

Ou seja, mesmo com a moeda desvalorizada, as exportações continuaram em queda e o saldo positivo só foi possível porque as importações caíram muito mais. Em estudo divulgado ontem, a Organização Mundial do Comércio (OMC) alertou para a queda expressiva das importações brasileiras, fenômeno que vem sendo registrado desde o ano passado e que pode se ampliar este ano. Segundo a OMC, as compras brasileiras no exterior em 2015 caíram 25,2%, somando US$ 179 bilhões, menores do que as de Polônia e Turquia. Com isso, o país caiu da 21ª para a 25ª posição no ranque dos países importadores organizado pela OMC.

A queda da corrente de comércio com o forte recuo das importações emite sinal de alerta que não deve ser desconsiderado. Se, de um lado, o Brasil deve continuar se esforçando para ampliar os mercados para seus produtos, de outro, a abertura dos dados das importações, revelando redução das compras de máquinas e equipamentos, indica perigosa abstenção de investimentos em expansão e, principalmente, em modernização de nossa capacidade produtiva. Requer ação imediata, sob pena de o país perder futuras oportunidades de retomar sua competitividade e seu crescimento.


COLUNA DE CLAUDIO HUMBERTO

TCU JÁ LIVROU TEMER DA ACUSAÇÃO DE ‘PEDALADAS’

Os ministros do Tribunal de Contas da União (TCU), que rejeitaram por unanimidade as contas da presidente Dilma e a culparam pelas “pedaladas fiscais”, também já isentaram o vice-presidente da mesma ilegalidade. As pedaladas configuram o crime de responsabilidade que fundamenta o impeachment. Em despacho de dezembro, o procurador do Ministério Público junto ao TCU, Júlio Marcelo de Oliveira, atestou que não há irregularidades nos decretos assinados por Michel Temer.

VALE O ESCRITO
O parecer do TCU, favorável a Temer, foi enviado à Câmara, junto ao ofício nº 28, de sete páginas, enviado em 10 de dezembro de 2015.

MATÉRIA VENCIDA
O pedido de impeachment ordenado pelo ministro Marco Aurélio à Câmara acusa Michel Temer de irregularidades já negadas pelo TCU.

SÓ PARA CONFUNDIR
A tentativa de envolver Michel Temer nos crimes atribuídos a Dilma, para ministros do STF, é só manobra para confundir a opinião pública.

OUTRO ENTENDIMENTO
Decano do Supremo Tribunal Federal, o ministro Celso de Mello negou liminar contra Temer idêntica àquela concedida por Marco Aurélio.

FATALISTA, CUNHA PERDEU A ESPERANÇA DE ESCAPAR
Deputados ligados ao presidente da Câmara, Eduardo Cunha, afirmam que ele, do tipo “fatalista”, já não alimenta esperanças de escapar de punição no Supremo Tribunal Federal, nas ações penais em que é réu. Frio e conhecedor da Lei tanto quanto seus advogados, avalia que pode ser condenado à prisão, por “pressão da mídia”, mas usará de todos os recursos ao seu alcance para postergar a sentença final.

O QUE O AFETA
Cunha só se apavora com a eventual condenação de sua mulher, Claudia Cruz, e da filha. “Elas não têm nada com isso”, diz aos amigos.

SEMELHANÇAS
Quem conhece os dois vê semelhanças entre Eduardo Cunha e José Dirceu, que previa sua prisão 3 anos antes de ser recolhido à Papuda.

SEU TERRITÓRIO
As expectativas de Eduardo Cunha em relação ao Conselho de Ética são mais positivas. Ele acha que tem chance de escapar.

ELE, O BOQUIRROTO
Um vídeo com o ex-presidente Lula negociando cargos e outras vantagens pouco republicanas, ameaça acabar de vez com o governo Dilma. Há apreensão no Palácio do Planalto.

AGD EM AÇÃO
A Advocacia Geral da União, que deveria se chamar Advocacia Geral de Dilma, quer processar o deputado Paulinho da Força (SD-SP) pela denúncia da oferta de R$ 2 milhões para votar contra o impeachment.

SÃO TOMÉ
Líder do PMDB, Leonardo Picciani (RJ) prometeu entregar 25 votos contra o impeachment de Dilma no plenário da Câmara, em troca de indicar dois ministros. Caso Dilma escape do processo, claro.

PINDAÍBA FOR EXPORT
Não é nova a ideia do governo da Venezuela de transformar as sextas feiras em feriados. O Exército brasileiro trabalha, há algum tempo, só meio expediente às segundas e sextas para economizar o rancho.

PERDEU, MINISTRA
Kátia Abreu pode perder o controle da CNA, a Confederação Nacional da Agricultura, da qual se licenciou para virar dilmista. A entidade só trata de temas de seu interesse com o senador Blairo Maggi (PR-MT).

COMO SE FOSSE DINHEIRO DELES
O reitor da Universidade Federal da Bahia torrou R$60 mil em diárias e passagens para figuras como a diretora da Escola de Formação do PT e um dirigente do MST, para um ciclo de debates “Crise e Democracia”.

PRB FECHARÁ QUESTÃO
Vice-líder do PRB na Câmara, o deputado Lincoln Portela (MG) avisa que o partido caminha para votar unido pelo impeachment de Dilma. “A saída é inevitável. Caminhamos para fechar questão”, prevê.

NUNCA NA HISTÓRIA DESTE PAÍS
A Câmara se prepara para votar o parecer do impeachment no fim de semana. Os deputados cancelaram o retorno aos Estados e partidos fizeram escala de servidores para sábado e domingo.

AGUARDANDO LULA
Policiais aguardam ansiosamente a pessoa que vai registrar a ocorrência, queixando-se do furto no sítio de Lula em Atibaia (SP).