domingo, outubro 24, 2010

LUZ PARA TODOS E DINHEIRO PARA ELES - REVISTA VEJA

LUZ PARA TODOS E DINHEIRO PARA ELES
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J. R. GUZZO - REVISTA VEJA

Metamorse
J. R. GUZZO
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FELIPE PATURY - REVISTA VEJA

Holofote
FELIPE PATURY
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CLAUDIO DE MOURA CASTRO - REVISTA VEJA

De reis e plebeus
CLAUDIO DE MOURA CASTRO
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DANUZA LEÃO

Agruras pessoais
DANUZA LEÃO
FOLHA DE SÃO PAULO - 24/10/10


Sei que existem pessoas com problemas mais graves do que o meu, mas sempre há um começo


ELEIÇÃO É ÓTIMO, mas quatro semanas entre o primeiro e o segundo turno é tempo demais. Apesar de não conseguir pensar em outra coisa, tive minha atenção desviada hoje por dois probleminhas teoricamente banais, mas que estão me levando à loucura.
Recebi duas cartas que me tiraram do prumo. A primeira veio da Receita Federal, querendo que eu explique detalhes da minha declaração de renda de 1996. Positivamente, não dá. Pago meus impostos em dia, levo minha vida absolutamente dentro das leis, mas ter que explicar detalhes de meus rendimentos em 1996 é acima da capacidade de qualquer ser humano. Só chorando.
Agora, a segunda carta, da Oi, mas antes vou explicar: já tive um celular e desisti dele há mais de um ano. Agora tenho dois telefones fixos e minhas contas de telefone são pagas em débito automático.
Pois a segunda carta era da Oi, cobrando quatro contas de um telefone móvel que não tenho, supostamente não pagas, que somadas vão a R$ 800. Você já tentou reclamar qualquer coisa de uma operadora de telefone? Então, considere-se uma pessoa feliz. São gravações e mais gravações, em que sua atendente "virtual", com muita competência, leva qualquer um às raias da loucura.
Esta manhã, tomei um tranquilizante e fui à luta. Luta essa que roubou 67 preciosos minutos de minha vida. Consegui, com muita paciência, obter duas informações: a primeira, é que antes de qualquer coisa eu deveria ir ao banco e pagar as quatro contas de um celular que não é meu; para isso, seria preciso anotar o número do código de barras de cada uma. Peguei uma caneta e anotei o de uma delas: vou contar, e não pensem que estou mentindo. O número é 8461 000000 1301 2601 1324 2178 7063 0027 4709 6777 00000 9. Esse é o número de uma das contas, e são quatro, que tal?
Segunda informação: nada poderá ser ao menos discutido antes que as contas sejam pagas. E, se não pagar, estou ameaçada - por escrito - de cortarem meus telefones e meu nome ir para o SPC, Serasa, e "outros", que tal de novo?
Só chorando.
Não quero pagar R$ 800 que não devo, e só poder discutir depois; não tenho forças nem físicas nem psicológicas para ir ao Procon; e odeio a Oi. O que faço? Contrato um advogado? Vai custar mais caro do que pagar as contas, e esse não será o fim da novela. Corto os pulsos? Me atiro pela janela ou jogo um saco cheio da superbactéria na sala da diretoria da Oi?
Sei que existem pessoas com problemas muito mais graves do que o meu, mas por mais difíceis que sejam os caminhos, sempre há um começo - e aí, de alguma maneira, eles serão resolvidos. Mas não acredito que se pagar vou ter sossego, pois as contas vão continuar chegando; e como explicar à Receita meus rendimentos em 1996, se não sei do paradeiro da contadora que cuidava dos meus papéis em 96?
Estou inclinada a metralhar os responsáveis pela Oi, mas tenho medo de chegar na sede da companhia, ser atendida por um robô daqueles inflados, e que da sua boca saia mais uma gravação que vai fazer com que eu perca para sempre meu juízo.
PS: O país está uma bagunça generalizada. Desde que Lula entrou em campanha feroz para eleger Dilma, desrespeitando todas as leis, o Brasil está à deriva.
E ainda não foi tomado o depoimento de Erenice (só depois do segundo turno).

REVISTA VEJA - INTRIGAS DE ESTADO

Intrigas de Estado
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FERREIRA GULLAR



Os acasos da manhã
FERREIRA GULLAR



FOLHA DE SÃO PAULO - 24/10/10

Se um de nós tivesse saído de casa alguns minutos antes ou depois, não nos teríamos encontrado



ERA DOMINGO e, depois de alguns dias cinzentos, vi pela janela da sala que a manhã estava clara e iluminada. Embora não tenha, aparentemente, qualquer motivo para cair na fossa, nada impede que, de repente, na manhã clara, a alma se acinzente. Por isso, antes que isso ocorresse, tratei de sair de casa e ir andar pela avenida Atlântica, a uma quadra e meia de onde moro.
Não faço cooper, mas andar é o recurso de que lanço mão quando, não sei por que, a vida perde sentido. Nessas horas, meus amigos, não há teoria que resolva, já que é a cabeça mesma que diz não.
Por isso a única alternativa é sair andando, andando à toa, já que também não há aonde ir, ou seja, nenhum destino interessa.
Andar, porém, se pode andar sem destino, deixando por conta das pernas o rumo a seguir. Hoje, no entanto, não foi esse o caso: decidira sair deliberadamente para andar ao sol, sentir no rosto a brisa do mar, gozar do prazer de estar vivo.
Pois bem, quem me lê e presta alguma atenção no que digo, já deve saber que, para mim, o acaso é um fator decisivo em nossa vida e em tudo, das menores às maiores coisas, da topada no meio-fio ao poema que se escreve.
Mas faço questão de dizer que o acaso não é tudo, uma vez que ele só contribui para nossa vida quando atende a alguma necessidade. Isso para os acasos sérios, o que não é o caso da topada no meio-fio, a menos que nos destronque o pé.
Já o amor verdadeiro pode ser fruto da conjugação feliz de acaso e necessidade. Por isso, você diz: "Estava escrito"; "Foi Deus quem a pôs no meu caminho".
De fato, a conjugação de acaso e necessidade parece ter algo de milagre. Só que não pensei em nada disso quando desci no elevador, saí pelo portão do edifício e cheguei à rua, batida de um vento matinal. E foi assim, quase flutuando, que alcancei a avenida Atlântica, onde banhistas e ciclistas animavam a paisagem.
E eis que, ao chegar ao calçadão, sou cumprimentado por um homem de bermudas e camisa desabotoada que me diz: "Senhor Gullar, levei sua crônica para Buenos Aires e o pessoal ficou muito feliz".
Falava com leve sotaque portenho; pergunto a que crônica se referia e ele disse que era uma sobre o apartamento em que eu morara em Buenos Aires durante o exílio. Ah, sei, disse eu, na avenida Honório Pueyrredón.
O acaso não é senão a ocorrência de alguma probabilidade. Aquele senhor, possivelmente argentino e que mora no Rio, saíra de casa, como eu, para andar à toa pela praia e se deparara, por acaso, comigo, autor de uma crônica que se referia à sua cidade, ou melhor, a algo que ocorrera eventualmente num dos prédios de uma de suas inumeráveis avenidas.
Se um de nós dois tivesse saído de casa para aquele passeio, alguns minutos antes ou depois, não nos teríamos encontrado e eu jamais saberia do que me contara. Nem esta crônica estaria sendo escrita.
"Recortei sua crônica e a levei para o síndico do edifício onde o senhor morou. Ele disse que já ouvira falar de um exilado brasileiro que residira ali."
Sempre me encanta essa magia dos acasos da vida. Veja você: uma editora argentina decidira lançar a tradução de meu "Poema Sujo", escrito naquele apartamento de Buenos Aires em 1975. Como não viajo de avião, meu amigo Roberto Viana convenceu-me a ir até lá de carro para o lançamento do livro e me levou, claro, até o edifício onde o poema nascera.
Filmou-me à porta de entrada, que estava fechada, sem que, lógico, o síndico nem nenhum dos moradores soubesse do que ali ocorria, naquela tarde de 10 de setembro, aliás, dia de meu aniversário. Agora, todos o sabem, porque a referida crônica foi emoldurada e posta no hall de entrada.
Despedi-me do simpático argentino e segui meu passeio sem rumo, quando fui abordado por três garotos e um deles me perguntou: "O senhor não é o Paulo Goulart?". Já habituado a esse tipo de confusão, apenas sorri. E o outro rapaz: "Nada disso, cara, ele é o João Goulart... Não, não, é o Goulart de Andrade. O senhor não é o Goulart de Andrade?".
Dou um adeusinho a eles e cruzo a pista da avenida em direção ao mar. Sou mesmo aquele cara famoso que não se sabe quem é.

CARTA AO LEITOR - REVISTA VEJA

Carta ao leitor
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MERVAL PEREIRA

Mentira como método 
Merval Pereira
O GLOBO - 24/10/10


O PT estabeleceu um método de atuação política nos últimos anos que, por ter dado certo do ponto de vista de resultados, passou a ser um parâmetro a balizar os seus concorrentes, o que lhe dá vantagens claras.

O partido, apesar de todas as encrencas em que se meteu, é a legenda preferida de 25% dos eleitores, e o PMDB vem em segundo com menos de 10%.

É claro que a presença de Lula no governo dá ao partido essa preferência, que pode desaparecer com o fim do mandato do presidente mais popular da História recente do país. Mas é essa popularidade que dá também ao governo a possibilidade de nivelar por baixo a atividade política, utilizando a mentira como arma eleitoral.

Um exemplo típico é o debate sobre privatizações, que havia dado certo na eleição de 2006 e hoje continua dando resultados, embora mais modestos, já que o PSDB perdeu o medo de assumir as vantagens da privatização para o desenvolvimento do país, embora ainda timidamente.

Logo depois da eleição de 2006, o marqueteiro João Santana, o mesmo que comanda a campanha de Dilma hoje, deu uma entrevista a Fernando Rodrigues, da "Folha", revelando que a discussão sobre as privatizações fora utilizada como uma maneira de reavivar "emoções políticas" no imaginário do brasileiro comum.

O erro de Alckmin, ensinava Santana na entrevista, foi "não ter defendido as privatizações como maneira de alcançar o desenvolvimento".

Santana admitia na entrevista que a impressão generalizada de que "algo obscuro" aconteceu nas privatizações, explorada na campanha de Lula, deveu-se a um "erro de comunicação do governo FH, que poderia ter vendido o benefício das privatizações de maneira mais clara. No caso da telefonia, teve um sucesso fabuloso.

As pessoas estão aí usando os telefones".

Perguntado se não seria uma estratégia desonesta explorar esses sentimentos populares que não exprimem necessariamente a verdade dos fatos, João Santana foi claro: "Trabalho com o imaginário da população. Numa campanha, trabalhamos com produções simbólicas." O tema, como se vê, não era uma bandeira ideológica que Lula defendesse ardorosamente, assim como continua não sendo hoje, mesmo porque o governo Lula privatizou bancos e linhas de transmissão de energia, e até exploração de madeira na Floresta Amazônica, projeto, aliás, aprovado com o apoio de várias ONGs e do PSDB.

Na campanha atual, a candidata do PT continua demonizando as privatizações com frases que não combinam com a realidade de seu governo.

No recente encontro com intelectuais no Rio, ela disse em tom exaltado, provocando aplausos generalizados: "Fazer concessões no pré-sal é privatizar, é dar a empresas privadas um bilhete premiado." Se, entre intelectuais, Dilma pode dizer semelhante absurdo e ainda ser aplaudida, o que dizer entre os eleitores mais desinformados sobre o assunto? Será que aquela plateia não sabia que o governo Lula já licitou, utilizando o sistema de concessão, vários blocos do pré-sal sem que houvesse necessidade de fazê-lo se realmente considera que estava privatizando o pré-sal? A acusação de que o candidato tucano, José Serra, privatizou a Companhia Siderúrgica Nacional, além de equivocada no tempo - o que valeu ao tucano um direito de resposta - está errada no conteúdo.

A privatização se deu no governo do hoje senador eleito Itamar Franco, que era contrário à ideia. Quem liderou a pressão para a venda foi a Força Sindical, central que hoje está integrada ao governo Lula.

Com relação à privatização da Vale, a história real é ainda mais estarrecedora.

O governo teve uma ocasião perfeita para reverter a privatização da Vale, se quisesse.

Foi em 2007, quando o deputado Ivan Valente, do PSOL, apresentou um projeto nesse sentido que foi analisado na Comissão de Desenvolvimento Econômico, Indústria e Comércio da Câmara.

O relator do projeto foi o deputado José Guimarães, do PT, aquele mesmo cujo assessor fora apanhado com dólares na cueca num aeropor to na época do mensalão.

Pois o relator petista votou pela rejeição ao projeto de lei, alegando em primeiro lugar que "não há como negar que a mudança das características societárias da Companhia Vale do Rio Doce foi passo fundamental para estabelecer uma estrutura de governança afinada com as exigências do mercado internacional, que possibilitou extraordinária expansão dos negócios e o acesso a meios gerenciais e mecanismos de financiamento que em muito contribuíram para este desempenho e o alcance dessa condição concorrencial privilegiada de hoje".

Segundo o petista, "a privatização levou a Vale a efetuar investimentos numa escala nunca antes atingida pela empresa, (...) o que, naturalmente, se refletiu em elevação da competitividade da empresa no cenário internacional". José Guimarães assinalou que com a privatização a Vale fez seu lucro anual subir de cerca de 500 milhões de dólares em 1996 para aproximadamente 12 bilhões de dólares em 2006.

E o número de empregos gerados pela companhia também aumentou desde a privatização - em 1996 eram 13 mil e em 2006 já superavam mais de 41 mil. Também a arrecadação tributária da empresa cresceu substancialmente: em 2005, a empresa pagou dois bilhões de reais de impostos no Brasil, cerca de 800 milhões de dólares ao câmbio da época, valor superior em dólares ao próprio lucro da empresa antes da privatização.

Se o candidato tucano, José Serra, simplesmente lesse o relatório do deputado petista em um debate, ou na propaganda eleitoral, estariam respondidas todas as acusações da campanha adversária.

DORA KRAMER

O estilo desfaz o homem
DORA KRAMER 
O Estado de S.Paulo - 24/10/10


Daqui a oito dias, no próximo domingo antes das 9h da noite, o presidente Luiz Inácio da Silva começará a vivenciar o passado, as urnas apontem a eleição de Dilma Rousseff ou de José Serra para lhe suceder na chefia da Nação.

É inexorável: eleito, as atenções se voltam para o novo, o próximo, aquele que de fato traduz mais que uma expectativa, representa o poder em si. Político baiano da velha guarda, Afrísio Vieira Lima tem a seguinte filosofia: "Ninguém atende ao telefone ou à porta perguntando quem foi, todo mundo quer saber quem é."

Pois é. Face à evidência de que a natureza humana não falha, o mundo político não foge à regra. No momento seguinte à proclamação do resultado, o País - quiçá o mundo - voltará toda a sua atenção para a fala, os planos, os gestos, as vontades, os pensamentos, a biografia, a família, os amigos e tudo o mais que diga respeito à pessoa que a partir do primeiro dia de 2011 dará expediente no principal gabinete do Palácio do Planalto.

Quando a gente vê um presidente tomar a iniciativa de se desmoralizar em público apenas porque não resiste ao impulso de insultar o adversário, a boa notícia é que falta pouco tempo para que esse estilo comece a fazer parte de referências pretéritas.

Abstraindo-se juízo de valor a respeito de Dilma e Serra, chegará ao fundo do poço que o presidente Lula se deu ao desfrute de frequentar na semana passada. Pela simples razão de que é impossível.

A novidade não esteve na distorção dos fatos - isso já faz parte da rotina. O ineditismo foi o desmantelo da farsa. Melhor dizer, das farsas, pois foram duas: uma engendrada com vagar, outra montada às pressas. Ambas malsucedidas, não duraram 24 horas.

No começo da semana, quando já se anunciara o adiamento do fim da sindicância da Casa Civil sobre Erenice Guerra para depois das eleições, eis que a Polícia Federal ressuscitou o caso da quebra do sigilo fiscal de parentes e correligionários do candidato Serra, anunciando a identificação do responsável: Amaury Ribeiro Jr., jornalista que à época do crime trabalhava no jornal Estado de Minas.

O PT tentou legitimar, assim, uma versão que fazia circular desde junho quando se descobriu que os dados fiscais do vice-presidente do PSDB, Eduardo Jorge, apareceram em um dossiê que chegou ao jornal Folha de S. Paulo como originário do PT.

A versão - não de todo inverossímil, diga-se - era a de que as informações haviam sido reunidas por Amaury a serviço do Estado de Minas para municiar Aécio Neves de dados contra José Serra, que, por sua vez, mandara investigá-lo.

Segundo um delegado e o superintendente da PF, Amaury dissera em seu depoimento que o trabalho visava a "proteger" Aécio. Antes da entrevista dos dois, o presidente da República anunciava que naquele dia a Polícia Federal teria novidades.

Pois no dia seguinte, sabe-se que nem Amaury estava a serviço do Estado de Minas na ocasião nem citara no depoimento o nome de Aécio Neves. Ou seja, o presidente Lula comandara uma falácia e a PF aceitara se prestar ao serviço, acrescentando que as investigações estavam encerradas.

Foi desmentida em seguida pelo Ministério Público, que avisou que a polícia não estava autorizada a determinar o rumo e os prazos das investigações.

Não satisfeito, depois da pancadaria promovida por petistas contra uma passeata do candidato tucano no Rio, o presidente resolveu acusar o adversário de ser um farsante. Precipitou-se, insultou o candidato em termos zombeteiros, desqualificou um médico de respeitável reputação, foi de uma falta de modos ainda pior que o habitual.

Isso tudo para quê? Para ser logo em seguida desmentido pelos fatos exibidos no noticiário de televisão com a maior audiência do País, o Jornal Nacional.

Tudo isso sem necessidade, pois pelas pesquisas sua candidata está com 12 milhões de intenções de voto de vantagem sobre o adversário.

Tudo isso pelo exercício de um estilo abusivo que não conhece limites, mas que daqui a oito dias começará a perceber que o poder passa e a ausência dele dói. 

SERRA PRESIDENTE

EDITORIAL - O ESTADO DE SÃO PAULO

O assédio petista à mídia
Editorial 
O Estado de S. Paulo - 24/10/10

As tentativas de controlar os meios de comunicação no Brasil podem ser abertas ou camufladas. Nos últimos dias, surgiram exemplos das duas modalidades. No primeiro caso, amplamente noticiado, a Assembleia Legislativa do Ceará aprovou, por unanimidade, o projeto de uma deputada petista que institui no Estado um Conselho de Comunicação Social - na linha prevista pela aparelhada Conferência Nacional de Comunicação (Confecom), realizada em dezembro de 2009, sob os auspícios do Planalto. As suas diretrizes frequentaram brevemente o programa da candidata Dilma Rousseff, antes de serem expurgadas por evidente inconveniência eleitoral.

A segunda manobra, que tenta encobrir a sua verdadeira natureza, foi uma ação direta de inconstitucionalidade "por omissão", impetrada no Supremo Tribunal Federal (STF) pela Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), a mesma que no começo do atual governo quis emplacar o policialesco Conselho Nacional de Jornalismo, e a Federação Interestadual dos Trabalhadores em Empresas de Radiodifusão e Televisão (Fitert). As entidades assinalam que a revogação da Lei de Imprensa pelo próprio STF deixou sem regulamentação o direito de resposta na mídia e pedem que o vazio seja preenchido. À primeira vista, pode parecer uma demanda de todo procedente. Mas não é, como se verá adiante.

Já o pretendido conselho cearense, que depende da sanção do governador Cid Gomes, do PSB, quer fiscalizar os meios de comunicação do Estado, criar condições para a "democratização" da informação e orientar a distribuição das verbas publicitárias estaduais considerando a "qualidade e pluralismo" da programação dos órgãos da mídia eletrônica. Os controladores, reguladores e, em última análise, vigias do sistema serão 25 conselheiros, dos quais 18 da sociedade civil, incluindo representantes dos meios de comunicação, sindicatos e consumidores. Eles julgarão o desempenho e a conduta ética da mídia local com base na Constituição, Declaração dos Direitos Humanos "e outros tratados internacionais".

O presidente do Sindicato dos Jornalistas do Ceará (Sindjorce), Claylson Martins, nega que o órgão tenha pretensões censórias, já que as eventuais sanções a que estiverem expostas dependerão do Judiciário - como se pudesse ser de outra forma no Estado Democrático de Direito. Mas o palavreado apaziguador não engana. Para o diretor executivo da Associação Nacional de Jornais (ANJ), Ricardo Pedreira, a proposta é "obscurantista, autoritária e inconstitucional". "Quem deve controlar os veículos de comunicação deve ser a sua audiência", argumenta. "Não cabe a nenhum órgão do Estado exercer esse papel."

Enquanto a intenção de assediar a imprensa é manifesta na iniciativa do PT do Ceará, os petistas da Fenaj escolheram um caminho mais sinuoso para o mesmo objetivo. Isso porque a ação por eles impetrada no Supremo Tribunal vai além da correção da lacuna legal sobre o direito de resposta, com o fim da Lei de Imprensa. Quando cobram a regulamentação da matéria, dão ao termo "direito de resposta" um sentido ameaçador, que extrapola o artigo 5.º da Constituição, que o consagrou. A ação cita dois outros artigos que tratam da mídia eletrônica e que não guardam relação com a faculdade de as pessoas publicarem na imprensa as suas versões dos fatos ou situações em conexão com os quais se viram citadas.

Um artigo é o 221, segundo o qual a programação das emissoras deve dar preferência a finalidades educativas, artísticas e informativas, respeitados os valores éticos e sociais da pessoa e da família. O outro artigo é o que o precede, que determina que lei federal deve garantir ao público a possibilidade de se defender de programações que contrariem o disposto no texto anterior. Assim, na interpretação da Fenaj, a lei deveria dar a cada espectador ou ouvinte o direito à divulgação de suas opiniões, nos próprios canais e estações, sobre os respectivos programas. Não é preciso nenhum voo de imaginação para imaginar a avalanche de pressões orquestradas contra a mídia eletrônica se o Congresso aprovar a legislação reivindicada - o que pedem que o STF induza, em regime de urgência.

JOSÉ SIMÃO

Socuerro! Segundo TRANSTURNO! 
José Simão
FOLHA DE SÃO PAULO - 24/10/10


BUEMBA! BUEMBA! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Manchetes da semana! "Madonna abandona Jesus." Pra não interferir na eleição brasileira! "Papa canoniza australiana." Serra entra com reclamação no TSE! "Dilma aprende dicção com o Lula." E leva bomba! "Paquistanês se casa duas vezes em 24 horas". O nome dele? AZHAR!
E mais uma da minha ídala dona Weslian: "Vou levar metrô pra cidades que não existe". Gotham City, Patópolis e Springfield agradecem.
E o Eramos6 tá chamando o segundo turno de TRANSTURNO. Transturno físico e mental. Falta muito, tio? Faltam seis dias!
A estrela da semana: a bolinha de papel. "Militante petista joga bolinha de papel na careca do Serra." E ele foi fazer tomografia. Se com uma bolinha de papel ele vai fazer tomografia, imagine se tivesse levado bundada da Mulher Melancia!
O Serra vai ganhar o Oscar de pior ator! E sabe o que a bolinha de papel falou? "Não o sou petista, sou CHAMEX!" E sabe o que ele falou no hospital? "Infelizmente, não ganhei nenhum ponto." E tem que perdoar o cara: jogar coisa em careca é irresistível! O Serra devia andar com um capacete gospel. A Dilma é prevenida: anda com aquele capacete da Petrobras!
Aliás, jogaram bexiga d'água na Dilma em Curitiba. Bolinha de papel e bexiga d'água. Que horas é o recreio? E se a bexiga tivesse acertado a cabeça da Dilma? Explodia. Batia naquele cabelo ninho de jaburu, quicava, voltava e explodia. E a Marina mandou perguntar se a bolinha de papel era reciclada.
E no boladepapelfacts no Twitter tem mais três ótimas: "A bolinha de papel será a próxima capa da "Playboy'"; "A bolinha de papel era das Farc" e "Foi a bolinha de papel que matou a Odete Roitman". Rarará!
E a França? Liberté, egalité e FUMACÊ! Fumaça de carro incendiado, fumaça de bomba de gás. São João fora de época. E o Sarkozy fez a ameaça: "Ou param de incendiar carro ou trago a Dilma e o Serra". "Ou param de incendiar carro ou trago a Ana Maria Braga." "Ou eu trago os três." Rarará.
E corre na internet que a Dilma é búlgara. Eu já disse que ela não é búlgara, ela é PIT BÚLGARA! E o Serra é serráqueo. Porque terráqueo ele não é!
E chega de religião. Antigamente, o FHC declarava que era ateu e o Lula corintiano. E só! Ainda bem que nóis sofre, mas nóis goza. Que vou pingar meu colírio alucinógeno!

JOÃO UBALDO RIBEIRO

A campanha eleitoral na ilha
João Ubaldo Ribeiro 
O Estado de S.Paulo - 24/10/10


Em Itaparica, não se pode dizer que o clima político está muito animado. O itaparicano, como sempre, permanece atento ao panorama nacional, mas os outrora inflamados debates que ocorriam no bar de Espanha deram lugar a considerações de outra ordem. O dr. Serra ficou em terceirão nos dois municípios que compõem a ilha, mas ninguém comenta muito o fato, pois, como observou Xepa, não convém tripudiar, ainda mais que tem segundo turno e nunca se sabe o que pode acontecer, tudo neste mundo é possível. De repente o homem se elege e aí vem tomar satisfações, já basta ele ter levado essa surra no primeiro turno, vamos respeitar a cabeça inchada alheia.

Xepa, que, depois de testemunhar um tatu ser fisgado por um pescador amigo seu, anda cada vez mais filosófico, aconselha que se assuma, no momento, a posição politicamente mais sensata. Ou seja, em cima do muro estou, em cima do muro fico, de cima do muro ninguém me tira, só saio na hora certa, aqui pra vocês todos. Num transe como este, o homem de filosofia ajuizada fica na sua alcova mental, de olho aberto e boca fechada, é o que já aconselhavam os antigos mais reverenciados e que se deram melhor na vida. A candidata do governo deve ganhar, porque governo é governo e esse governo faz muitas coisas bem, agora mesmo está fazendo a campanha da candidata muito bem, só falta os juízes também mandarem votar nela, mas um dia destes eles mandam. Em cima do muro e com um pé atrás, essa é a melhor posição do bom filósofo. Ainda mais, acrescentou ele, que nós somos nós e eles todos são artistas melhores que os artistas de novela, é cada artista mais retado do que o outro, nenhum de nós chega nem perto.

Sim, a opinião geral é que a campanha revelou ou consagrou notáveis artistas, a começar pelo presidente, tido por muitos como ali pau a pau com Lima Duarte, havendo até os que, a exemplo de Ioiô Beleza, acham que ele ganha e, depois da Presidência, já tem lugar garantido entre os grandes da Globo, talvez até no Fantástico. O bicho é danado mesmo, entusiasma-se Ioiô.

- Eu gosto muito quando ele vai falando e andando, falando e andando e aí para e diz -sabe?". Aí eu sei que lá vem a zorra, é cada uma de entontecer, eu chego a me encolher, parece pedrada! O negócio dele é ir dizendo, ele vai dizendo, não quer nem saber. Se for pra rir, ele ri e, se for pra chorar, ele chora, com ele não tem perdão, o bicho é bom mesmo, é cada uma de entontecer!

Nunca consegui que Ioiô explicasse direito o que é essa "cada uma de entontecer", mas não se pode discutir com os fãs. E, se o presidente é talvez o mais admirado, não foram poucos os comentários elogiosos ao desempenho dos candidatos, notadamente durante o que Jacob Branco, como sempre orador inspirado e detentor de temido vocabulário, denominou, de "vertiginoso paroxismo de volúpia ecumênica", ou seja, a disputa entre os candidatos relacionada com a religião.

- Foi um espetáculo muito bonito, muito tocante - disse Jacob. - Eles são formidáveis, vamos reconhecer. Vituperam as más línguas, mas a verdade é que eles deram tudo de si, foi um magno esforço de reportagem. Você via pelos olhinhos deles esperando alguém perguntar, para eles responderem "creio, creio", parecendo até um canto de passarinho - creio-creio! O eleitor, se quiser, pode botar numa balança: fé de um, fé de outro, fé de um, fé de outro. E tenho certeza de que eles estão dispostos a se batizar no que aparecer e a comungar onde quiserem que eles comunguem. Eu soube que, se for para ganhar de vez o voto católico, d. Dilma já disse que vai de irmã de caridade numa boa e, se for para ganhar o voto judaico, dr. Serra manda aparar o principal. Não tem problema, porque depois ela vira bispa evangélica e ele se converte de volta ao catolicismo e vai ajudar a celebrar uma missa em Araraquara, com um microfone de lapela para pegar o repique dele às falas do padre, eles são muito bons, é difícil escolher o melhor. Eu vou sugerir a um pessoal que eu conheço que convide os dois para uma festa num bom candomblé, tenho certeza de que os dois iam dar o santo na hora em que o atabaque batesse e dr. Serra é feito de Xangô desde menino e d. Dilma é iaô de duas grandes casas. É uma beleza, eles vão acabar acreditando nas mesmas coisas, fé de um, fé de outro, é isso mesmo.

Ainda em relação ao denodo, à bravura e aos padecimentos não somente cívicos dos candidatos, tem sido muito comentado como eles são obrigados a viajar, em perigos e guerras esforçados, visitando terras estranhas, dormindo em camas estranhas e comendo comidas estranhas, que nunca podem rejeitar, para não ofender quem as oferece. A descrição de algumas dessas comidas, feita eloquentemente por Luís Olegarino, que já foi garçom do Grande Hotel e conhece a porcariada que a alta roda come, até mesmo caramujos, provocou ampla manifestação de solidariedade, embora Ari de Almiro, em bem encaixado aparte, tenha oferecido um adendo instigante.

- Está certo que comer qualquer coisa pode ser chato para eles - disse Ari. - Mas o que a gente nunca vai ver é eles sem comer nada.

Finalmente, cabe uma palavrinha sobre as perspectivas do segundo turno. É difícil fazer uma previsão do comportamento eleitoral, principalmente depois que o pensamento filosófico de Xepa foi exposto e acatado e ninguém conta em quem pretende votar. Zecamunista chegou a ser ansiosamente aguardado no bar, depois de sua expedição de pesquisa de voto por todos os pontos remotos da ilha. Mas, para decepção de todos, voltou sem resultados.

- Não deu certo - explicou ele. - Tradição política é tradição política, todo mundo quer vender o voto da pesquisa. 

DILMA E ERENICE


UM CA$O

ENTREVISTA - GERALDO ALCKMIN

"O que o PT quer colocar é o medo"
Geraldo Alckmin
O GLOBO - 24/10/10


Governador eleito de São Paulo, Alckmin diz que discurso da privatização revela falta de argumentos e desespero do PT

Menos contido que o habitual, o governador eleito de São Paulo, Geraldo Alckmin, assumiu um discurso contundente contra o PT.

Diz que o partido de Dilma Rousseff tenta criar um clima de medo na campanha ao espalhar novamente que os tucanos querem privatizar. E admite que o PSDB errou ao usar a tática do medo, há oito anos, contra Lula.

— Esse tema de privatização é coisa velha, superada.

Isso mostra o desespero deles, que estão sem argumentos para o eleitor votar em sua candidata — diz Alckmin, que no segundo turno, além de São Paulo, foi a quatro estados buscar votos para o tucano José Serra.

E ainda critica o presidente Lula que, diz, “faz piada com coisa séria”, ao zombar das agressões contra Serra.

Flávio Freire

O GLOBO: Como avalia as agressões contra o candidato José Serra (no Rio)?
GERALDO ALCKMIN: Lamento profundamente a postura do presidente da República. Houve uma agressão ao nosso candidato. Respeitamos o direito do PT de fazer a sua campanha, mas o PT nos persegue, ofende e, por vezes, até agride. O presidente da República é o chefe do Estado, deveria dar o exemplo, mas preferiu fazer piada com coisa séria, zombar da lei. Com isso, dá um péssimo exemplo e incita novas agressões.

No caso dos dossiês, o jornalista ouvido pela PF citou Aécio Neves. O senhor acredita em fogo amigo?
ALCKMIN: De forma alguma. O próprio Aécio já afirmou que não tem nenhuma relação com esse caso. Isso é uma tentativa do PT de tirar o foco dos seus próprios malfeitos.

Qual o seu papel neste segundo turno?
ALCKMIN: Em São Paulo, tenho percorrido o estado agradecendo os votos para governador e reforçando apoio. Na última semana fui a Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás e Acre em busca de apoio para Serra.

Por que esses estados?
ALCKMIN: Serra não tem como ir aos 27 estados, a campanha é muito curta, e você tem que gravar, tem debate, tem entrevista. Então, estou procurando ir aonde ele não vai, principalmente nos estados onde ganhei como (candidato a) presidente Essa agenda casada depende de confiança mútua.

Mudou o relacionamento entre os senhores desde 2006?
ALCKMIN: Sou amigo do Serra há 30 anos. Fomos deputados federais constituintes juntos. Fizemos até uma cartilha juntos sobre direitos previdenciários. Fui vice-líder do Serra em algumas ocasiões. Sempre estivemos próximos.

A eleição de 2006 está cicatrizada?

ALCKMIN: Não tem cicatriz, vamos em frente. O PT repete neste segundo turno um tema usado em 2006 e diz que o PSDB privatizará importantes estatais.

Na época, o senhor foi criticado por ter demorado a reagir. Agora, acha que o PSDB está sabendo lidar com esses ataques?
ALCKMIN: Em 2006, quando fui candidato, a minha reação não foi em relação a ser contra ou a favor da privatização. O que coloquei é se era lícito mentir para ganhar a eleição. O PT não questionava privatização do setor de telefonia, da Vale ou da Companhia Siderúrgica Nacional . Diziam só que a gente ia privatizar a Caixa, o Banco do Brasil e a Petrobras.

Falta ao PSDB jogo de cintura nesse jogo político?
ALCKMIN: O PT colocou essa coisa do medo. Era um boato por dia. O Lula não ganhou a eleição por causa disso. Ganhou porque ele era presidente, e o mandato é de oito anos. Como o Fernando Henrique ganhou a eleição, no primeiro turno, contra o Lula. O Lula em 98 nem foi para o segundo. Ele ganhou de mim porque era presidente, estava na cadeira e com a caneta cheia.

O senhor dá a entender que Lula ganhou por uso da máquina.
ALCKMIN: Claro que houve uso da máquina, mas, mesmo que não tivesse, ele (Lula) tinha vantagens de exposição, popularidade, estava no cargo. Vou dizer mais: eles estão errando. Esse tema de privatização é coisa velha, superada. Isso mostra o desespero deles, que estão sem argumentos para o eleitor votar em sua candidata. Eles não estatizaram nada. Pelo contrário, privatizaram bancos estaduais, como no Ceará e no Maranhão. Esse não é um tema que esteja hoje na cabeça das pessoas. O PT está apostando em algo superado. O que o PT quer colocar é o medo.

Não foi o PSDB que lançou o discurso do medo em 2002, na campanha de Serra?
ALCKMIN: Mas veja que não pegou. Politica é futuro, olhar para a frente. Acho que chegou o tempo do Serra. Ele está mais preparado. Além disso, o PT tem outro problema porque o país precisa de instituições fortes. Eles fazem essa coisa atrasada da carteirinha. Veja o que aconteceu com os Correios, que era número um em excelência. Viu no que deu?

A candidata do PT, Dilma Rousseff, prega que, se eleita, terá maioria no Congresso, ao contrário de Serra.
ALCKMIN: Imagina, se o Serra ganha, dois terços já estão com ele. Não tem tanto petista assim no Congresso

Como o senhor avalia a retomada de temas como aborto e casamento gay?
ALCKMIN: Esses temas da campanha são colocados pela sociedade, e as igrejas fazem parte da sociedade. Não é o candidato que escolhe temas, eles urgem e reverberam na imprensa. Sou contra o aborto e a favor da atual legislação, que prevê, nos casos de risco de vida para a mãe e estupro. E sou favorável à união civil. Se quiser fazer casamento, não vejo problema.

O PSDB está mais maduro que há quatro anos?
ALCKMIN: Tem que fazer campanha. A campanha do Serra, no primeiro turno, foi pequena em alguns estados. Encerrada a disputa estadual, a campanha vai ser 100%. O momento é diferente.

Muitos candidatos não apoiaram o Serra por medo de perder a eleição?
ALCKMIN: Isso aconteceu, mas a situação agora é diferente.

Eleito governador, o senhor se cacifa para a disputa presidencial de 2014. Está disposto a brigar com o Aécio Neves?
ALCKMIN: Acreditamos na possibilidade eleitoral do Serra. A prioridade é dele. Já ganhei e perdi eleições. Na derrota, altivez. Na vitória, humildade.

GAUDÊNCIO TORQUATO

A guerra da propaganda
Gaudêncio Torquato 
O ESTADO DE SÃO PAULO - 24/10/10


A propaganda política, ensinava Jean-Marie Domenach, professor francês de Humanidades considerado um dos papas dessa ciência, "faz o povo sonhar com as grandezas passadas e com as glórias do futuro". Para "vender" essa miragem a propaganda tem usado uma combinação de quatro impulsos - combativo, alimentar, sexual e paternal/maternal - que movem os seres vivos. Cada um desses instintos exerce uma função na estratégia de motivar e engajar a sociedade, mas os dois primeiros ganham ênfase por mexerem com a conservação e a sobrevivência dos indivíduos. O uso da propaganda tem sido intenso não só nos ciclos dos grandes movimentos de massas - Revoluções Francesa e Russa, 1.ª e 2.ª Guerras Mundiais -, mas no dia a dia da política, transformando-se em eixo central das estratégias de marketing. Nos sistemas autoritários é a correia de transmissão para dizer "a verdade dos governantes", enquanto nos regimes democráticos passa a ser o anzol para pescar o voto dos eleitores e, ainda, o cabo de guerra para animar os exércitos das campanhas.

A Revolução Francesa de 1789 pode ser considerada o marco da propaganda agressiva nos termos em que hoje se apresenta, inclusive neste nosso aguerrido segundo turno da campanha presidencial. Ali os jacobinos, insuflados por Robespierre, produziram um manual de combate político, recheado de injúrias, calúnias, gracejos e pilhérias que acendiam os instintos mais primitivos das multidões. Na atualidade, é a nação norte-americana que detém a referência maior da propaganda agressiva, mola da campanha negativa. Esse formato, cognominado mudslinging nos EUA, apresenta efeitos positivos e negativos. No contexto dos dois grandes partidos que se revezam no poder - Democrata e Republicano -, diferenças entre perfis e programas são mais nítidas e a polarização sustentada por campanhas combativas ajuda a sociedade a salvaguardar os valores que a guiam, como o amor à verdade, a defesa dos direitos individuais e sociais, a liberdade de expressão, entre outros. Mesmo assim, nem sempre a estratégia de bater no adversário é eficaz. Na campanha para o Senado em 2008, a republicana Elizabeth Dole atacou a rival Kay Hagan veiculando anúncio que insinuava ser ela ateia. A democrata reagiu vigorosamente, dizendo ser professora, religiosa e que Dole queria, na verdade, desviar a pauta econômica - eixo da crise financeira. Ganhou a disputa por uma margem de 9 pontos. Já Lyndon Johnson, em 1964, detonou o republicano Barry Goldwater associando-o à ameaça de uma guerra nuclear.

Ante esse pano de fundo, emerge a questão: entre nós, a artilharia da propaganda atinge o eleitorado? É capaz de mudar posições e intenções dos eleitores? Analisemos. Os perfis de Serra e Dilma se inserem na moldura técnica e, sob esse abrigo, parecem destoar da linha agressiva dos spots publicitários que suas campanhas despejam. Tiros de um lado e de outro acabam se anulando no ar.

Ocorre uma "canibalização recíproca", manifesta na expressão popular "todos os políticos são farinha do mesmo saco". Ademais, as práticas partidárias são assemelhadas entre as legendas, o que as junta na mesma teia de descrédito. O eleitor não consegue descobrir dentro da policromia partidária as cores mais claras e as mais cinzentas. O calor do embate, principalmente nos instantes finais de um pleito, acaba também impedindo correta avaliação de excessos e abusos de ambos os lados. Convém lembrar que mensagens de teor negativo geram eficácia em campanhas de saúde (imagens escabrosas de vítimas do tabaco) e de prevenção de acidentes (cenas trágicas de desastres com automóveis). Também geram consequências em certos momentos, principalmente quando envolvem valores profundamente arraigados na sociedade.

Quem não se recorda do episódio envolvendo Miriam Cordeiro e sua filha Lurian, utilizado por Collor nos últimos sete dias da campanha do segundo turno em 1989? A onda negativa que se formou na época contribuiu para o naufrágio de Lula na eleição presidencial.

De lá para cá, escândalos aos montes, máfias incrustadas na administração pública, cooptação de parlamentares por via escusa, casos estrambóticos envolvendo a vida pessoal de atores políticos contribuíram para banalizar a agenda negativa da política. Isso explica por que parcela das pessoas resiste à influência de candidatos sobre seu psiquismo. Assim, a propaganda eleitoral vem apenas reforçar a ideia que milhões de eleitores já têm sobre os contendores. Os maiores conjuntos, por seu lado, agregam as maiorias passivas, que são influenciadas pelo segundo impulso - o alimentar -, e este tem o condão de anular o efeito das mensagens negativas do rádio e da TV. Diante do cenário descrito, resta aduzir que a campanha negativa, cuja contundência alcançou o clímax nos últimos dias, não levará a nada. Pode, até, funcionar como bumerangue, ou seja, voltando-se contra o candidato que a deflagra. O momento que vive o País convida a uma profunda reflexão no terreno das ideias, na perspectiva de avaliação dos programas em andamento e de novas propostas, sem a lâmina cortante que a propaganda eleitoral exibe, principalmente pela internet. Será que os candidatos não conhecem os reais efeitos de uma campanha negativa?

Da clássica era do "terror que engendra o medo" até os nossos dias, a peleja política tornou-se, digamos assim, menos bárbara quanto aos métodos de castigo de adversários - sem guilhotinas e fuzilamentos -, mas não menos violenta no que concerne ao uso de processos para tornar viáveis intentos dos contendores. Na paisagem cheia de borrões, ninguém sai limpo.

A uma semana das eleições, um clima de guerra se espraia pelo território, o que nos faz lembrar a peroração de Saint-Just, um dos maiores jacobinos: "Todas as artes produziram maravilhas, exceto a política, que só tem produzido monstros."

JORNALISTA, PROFESSOR TITULAR DA USP, É CONSULTOR POLÍTICO E DE COMUNICAÇÃO

PRÉ

JANIO DE FREITAS

A semana de suspense
JANIO DE FREITAS
FOLHA DE SÃO PAULO - 24/10/10



São os dias mais delicados para a democracia, devido aos danos causados por perturbações eleitoreiras



AÍ ESTÁ A SEMANA mais delicada da campanha. Para os candidatos, por ser aquela em que tudo é definitivo, sem mais tempo para desfazer ou recuperar-se de sempre possíveis adversidades, fabricadas ou não. Para o regime democrático em sua construção desordenada, por serem irreparáveis os danos e atrasos causados pelas perturbações eleitoreiras do estilo tudo ou nada. Como houve para a eleição de Collor e na manipulação do sequestro de Abílio Diniz, casos mais extremados, mas não únicos.
A parte inicial do script para estes dias finais já está em curso. O PSDB e aliados investem no engrandecimento do choque entre o objeto na cabeça de José Serra e a reação de Lula. A rigor, a gravação com celular feita pelo repórter Italo Nogueira, da Folha, a meu ver não permite a afirmação categórica de que um segundo objeto, contundente, atingiu a cabeça de Serra.
O tumulto forçou imagens tremidas, que precisam de perícia, e talvez não uma só, para a interpretação segura.
A própria Folha, em cuja Redação no Rio a gravação foi examinada inúmeras vezes, tratou-a com cautela. A Globo decidiu bancá-la como imagem de um objeto atingindo Serra. Se houve esse objeto além da bolinha de papel, é certo que não teve mais de um palmo e não "era duro e pesava mais ou menos meio quilo", como descrito por Serra.
Sabe-se que ele é cabeça-dura, mas não a ponto de nela receber um objeto com tais características e, nem se diga ferimento, mas sequer ficar marca na pele. É indispensável registrar que o vice Indio da Costa, no uso pleno do seu critério, deu ao objeto o peso de dois quilos.
Em situação idêntica à atribuída a Serra pelas pesquisas, a exploração do episódio é, digamos, normal para todo político e partido. O problema seria ultrapassar os limites políticos do episódio e entrar no território institucional. Atitude já suscitada pelo senador eleito Aloysio Nunes Ferreira com sua pretensa denúncia de fascismo.
E atitude também presente na intervenção descabida de Lula, sobretudo como foi feita, a título de reação. Ou, ainda que tenha sido, como prevenção por alguém calejado em adversidades fabricadas e de última hora. Esta seria até uma razão a mais para Lula, em vez da reação que competia a outros, fazer de sua experiência um alerta didático em defesa da lisura eleitoral.
O outro item do script em curso, pelo PSDB, são as suspeitas contra a disposição da Polícia Federal de encerrar a investigação das quebras de sigilo fiscal no ponto em que está. Ou seja, na história de que o repórter Amaury Ribeiro Jr. encomendou a um despachante dados civis de certas pessoas; foram-lhe entregues dados não pedidos da Receita Federal, e tudo se destinava a uma operação interna entre pré-candidatos do PSDB.
A ruptura do sigilo devido pela Receita Federal é de muita gravidade. Ficou demonstrado que, além de fáceis e baratas, as violações não se limitaram a meia dúzia de pessoas ligadas a José Serra. Foram muitas, milhares, inclusive vendidas por camelôs de sigilos, no baixo comércio. Nem a história dos dados sigilosos de peessedebistas é convincente nem começa e acaba em si mesma: é, isso sim, um fio que conduz a coisas muito maiores, que precisam ser investigadas, ou não serão extintas.
A semana final tem carga forte de suspense. Mas também o consolo de que é a última.

RENATA LO PRETE - PAINEL DA FOLHA

Corretivo
RENATA LO PRETE 
FOLHA DE SÃO PAULO - 24/10/10


Decorridas três semanas desde o trauma da passagem para o segundo turno, que levou Lula a deixar vazar críticas à coordenação da campanha de Dilma Rousseff e a chamar aliados em série para supostamente ampliar o núcleo decisório, verifica-se que os recém-chegados, incluindo o espalha-brasas Ciro Gomes, têm escassa participação, e que continuam mandando, além do presidente, apenas Antonio Palocci, José Eduardo Dutra e o marqueteiro João Santana.

Chamado a explicar o fenômeno, um grão-petista lembra que, na reta final do primeiro turno, o trio ensaiou leves gestos de independência em relação a Lula. Depois do susto, só se faz o que ele quer.

Arena 1 O debate da Rede Globo, na próxima sexta, será todo de perguntas de eleitores indecisos, com resposta do candidato e comentário do oponente. Chegou-se a discutir a possibilidade de abrir espaço para algumas perguntas do mediador, William Bonner, mas a campanha de Dilma vetou a ideia.

Arena 2 Nesse tipo de debate, os candidatos costumam ficar em pé e se movimentando livremente pelo palco, cercados pelos eleitores. A assessoria de José Serra quer esse formato. Já a de Dilma menciona o problema no pé da petista para reivindicar que ela fique sentada.

Colírio De um petista estressado com a repercussão do "bolinhagate": "Liga pro Gabeira, liga pro Gabeira! Ele estava lá. Duvido que tenha visto alguma coisa acertar a cabeça do Serra!". Quem ouviu o desabafo comentou: "Com aqueles óculos, ele não veria nada mesmo...".

Simbiose 1 Na derradeira semana de campanha, a agenda de Lula incluirá dois temas caros à campanha de Dilma. Na terça, ele reúne o Fórum Brasileiro de Mudança Climática. Ali será divulgada a regulamentação da lei nacional para o assunto.

Simbiose 2 Em meados da semana, o presidente irá conferir a produção do pré-sal no campo de Tupi.

Genérico Aprovado no Ceará, o projeto que estabelece mecanismos regionais de controle da mídia tem versão tramitando na Assembleia paulista. O texto do líder do PT, Antonio Mentor, prevê a criação de um conselho parlamentar que teria, entre outras prerrogativas, a de fiscalizar as outorgas e concessões de rádio e TV.

Inexpugnável 1 A base de José Serra impediu três vezes o depoimento de Paulo Preto à Comissão de Transportes da Assembleia paulista, que investiga as obras do Rodoanel. A convocação do ex-diretor da Dersa esteve em pauta entre dezembro de 2009 e fevereiro deste ano. Acabou definitivamente rejeitada em 12 de maio.

Inexpugnável 2 Os tucanos Orlando Morando, qualificado por Paulo Preto como "brilhante" no evento em que este recebeu o título de "Engenheiro do Ano", e João Caramez, também reverenciado na solenidade, foram autores dos pedidos de vista que barraram o depoimento de "PP", que agora virou dor de cabeça para a campanha de Serra.

Know-how Neófito na Câmara Legislativa do DF, o ex-diretor-geral do Senado Agaciel Maia (PTC) prepara terreno para pleitear a primeira-secretaria da Casa. Seu argumento na busca do apoio dos colegas é o domínio do regimento interno.

Apetite Personagem do escândalo dos atos secretos, Agaciel nega oficialmente interesse em participar da mesa diretora. A campanha informal pelo posto, contudo, já teve início durante almoço organizado para os servidores do Legislativo.

com LETÍCIA SANDER e FABIO ZAMBELI

tiroteio

"Se a eleição deste ano vai ser decidida em Minas, como tantos dizem, então essas andanças do Aécio pelo país têm uma única explicação: é a pré-campanha de 2014."

DO SENADOR DELCÍDIO AMARAL (PT-MS), sobre as visitas do tucano mineiro a vários Estados, com o anunciado proprósito de ajudar Serra no segundo turno.

contraponto

Mil perdões


Tão logo foi divulgada a imagem de Chico Buarque abraçado a Dilma Rousseff, registrada durante evento no Rio no qual artistas manifestaram apoio à candidata do PT, tocou o telefone de um integrante do comando da campanha de José Serra.

Era a mulher do tucano, que se queixava do afago de seu compositor predileto à adversária de José Serra. Para tentar acalmá-la, o marido argumentou:

-Minha querida, procure entender: o que une os dois é o amor ao Fidel....

SERRA PRESIDENTE

ELIANE CANTANHÊDE

Lula
ELIANE CANTANHÊDE
FOLHA DE SÃO PAULO - 24/10/10



BRASÍLIA - Lula continua batendo recordes de popularidade, sua candidata é franca favorita no próximo domingo, PT e PMDB têm a perspectiva de controlar o país por 20 anos. Mas, paradoxalmente, Lula sai da eleição menor do que entrou.
Surpreendem o ego, a falta de limites, o personalismo. Quanto mais esperava-se o estadista, mais cedeu ao populismo oportunista. Quanto mais o momento exigia grandeza, mais apequenou-se.
Bastou a eleição de Dilma ser dada como certa no primeiro turno, e lá foi Lula, vermelho, com ar de ódio, xingar a imprensa e conclamar o extermínio de adversários. Bastaram as pesquisas prevendo a vitória no segundo turno, e lá foi Lula, vermelho, com ar de ódio, acusar Serra de encenar "uma farsa", uma "mentira descarada". Duplo erro: tentou transformar a vítima em réu e estimulou a militância petista a cair de pau.
Lula deveria ler as pesquisas e aprender com elas que Dilma e o lulismo vencem graças à votação maciça nas regiões e áreas mais manipuláveis, onde a Arena, o PDS e o PMDB já foram reis. Enquanto isso, crescem entre os mais escolarizados a desilusão e a condenação ao estilo raivoso, à cultura da vitimização, às práticas de dossiês e falsificações da verdade, à ocupação do governo e das estatais como se fossem donos do país. É esse tipo de reinado que Lula almeja?
Com o governo bem-sucedido e 80% de apoio, cabia a Lula investir em princípios, na melhor prática eleitoral e na educação política dos brasileiros, não sucumbir à esperteza com Collors e Sarneys; confraternizar com as ditaduras de Cuba e Irã; cooptar as centrais sindicais e os movimentos sociais; jogar o governo, as estatais e a figura do presidente sem pudor na campanha.
Na reta final do primeiro e do segundo turno, Lula, com seus excessos, mais prejudicou do que ajudou Dilma. Quanto mais atua assim pela sua candidata, mais trabalha contra a própria imagem. Governos e eleições passam, a história fica.

FERNANDA TORRES

Decrimocracia 
Fernanda Torres
FOLHA DE SÃO PAULO - 24/10/10

É um choque perceber que, além das suspeitas clássicas de corrupção, existe uma diretamente ligada à eleição


APROFUNDAMENTO DAS diferentes agendas dos candidatos? Esquece. O segundo turno começou temente a Deus e ameaça terminar em tiro.
Lula jura que o objeto que acertou a cabeça de Serra não passou de papelão. Serra, além de tonto, se mostrou indignado.
Um perigoso saco plástico cheio d"água atingiu o carro da comitiva de Dilma em Curitiba.
O sigilo fiscal de pessoas ligadas a Serra teria sido quebrado por adversários dentro do próprio PSDB e depois jogado aos tigres pelo PT.
Watergate perde.
Grande parte da energia dos dois combatentes foi gasta em rezas e na tentativa de convencer o eleitor de que os supostos desvios financeiros para custeio de campanha, tanto no Distrito Federal quanto em São Paulo, teriam acontecido à revelia deles.
Dilma afinou o discurso e afirma que Erenice Guerra errou ao usar o poder de seu cargo em benefício da própria família e o governo acertou em agir com prontidão, afastando os envolvidos e abrindo sindicância. Nenhum dirigente é capaz de saber de tudo o que ocorre à sua volta e ponto final.
Erenice aceitou a reprimenda de maneira exemplar. Não deu nenhuma declaração que comprometesse Dilma ou o PT e, ao contrário de Paulo Preto, jamais reclamou por ter sido abandonada na beira do caminho.
A política requer um pacto de confiança figadal.
Que o diga Joaquim Roriz e sua senhora, a Weslian Perpétuo Socorro Roriz. Depois do advento do divórcio, da pílula anticoncepcional e do amor livre, poucos são os que podem contar com o perpétuo socorro de uma esposa como a do ex-governador do DF.
Numa profissão em que o acesso à informação privilegiada e aos contratos faraônicos de energia, transporte e comunicação gera fortunas e perpetua o poder, restringir o círculo de amizades é um cuidado imprescindível.
O grande choque da democracia recém restabelecida no Brasil é perceber que além das suspeitas clássicas de corrupção, que sempre envolveram os poderosos, existe uma outra, nova, relacionada diretamente à corrida eleitoral.
Muitos dos recentes escândalos, comprovados ou não, rondam o financiamento de uma máquina chamada eleição.
Com raríssimas exceções, todos os partidos têm custos superiores aos declarados para lançar seus candidatos nas ruas. O efeito colateral de tamanha informalidade são os milhões em caixas dois e os maços de dinheiro escondidos em cuecas, bolsos e sapatos dos mais desavisados.
Os que assumem o papel de cuidar da circulação sanguínea do dinheiro vivo do guichê de apostas eleitoral são peças tão fundamentais quanto a senhora Weslian para o ex-governador Joaquim Roriz. Diante de qualquer problema, sabem que sofrerão na pele a malhação de Judas pelo bem de um projeto político.
A solitária figura de PC Farias é um exemplo sinistro do fato. Quando ocorreu o mensalão, o PT ameaçou retroceder as investigações até o período em que o PSDB estava no comando, numa espécie de atire a primeira pedra aquele que nunca pecou.
Como curar a política desse incurável desvio congênito?
Não seria exagero sugerir que, desse jeito, a democracia leva ao crime.


FERNANDA TORRES é atriz

GOSTOSA

EMÍLIO ODEBRECHT

Uma questão de vida 
Emílio Odebrecht
FOLHA DE SÃO PAULO - 24/10/10


A melhor medida da mudança da consciência nacional quanto ao saneamento básico é a posição de destaque que o tema ocupa nos planos de governo dos dois candidatos que concorrem à Presidência da República.
A disposição que ambos revelaram de enfrentar o quadro calamitoso que o censo do IBGE vem confirmando indica o tratamento prioritário que lhe será dado no próximo governo, não importa quem seja o vitorioso na eleição.
Saneamento é o investimento preventivo de melhor custo-benefício para a saúde pública, razão pela qual deveria fazer parte do orçamento do Ministério da Saúde.
Tanto quanto educação, tecnologia e algumas outras áreas que são bases imperativas para a real transformação qualitativa do país, investir em saneamento, com determinação política, é um fator de desenvolvimento e de crescimento sustentável.
Para que se assegure em 15 anos o acesso de todos os brasileiros a água tratada e coleta de esgotos são necessários investimentos da ordem de R$ 13,5 bilhões/ano.
A cifra corresponde a cerca de 0,5% do PIB. Logo, é uma meta viável, principalmente depois que a Lei do Saneamento (Lei 11.445, de 2007) estabeleceu as diretrizes nacionais para o setor.
O Brasil passou pelo processo de concessões federais nas áreas de telecomunicações, transporte e energia e as empresas contribuíram decisivamente para a melhoria dos serviços. Os governadores seguiram o percurso desbravado e o capital privado tem complementado os recursos na esfera estadual, mediante uma gama de modelos de cooperação, concessões e parcerias.
No que se refere ao saneamento, o poder público municipal também é determinante e, hoje, as prefeituras e a iniciativa privada, associadas, têm a chance de fazer uso de diferentes mecanismos para a universalização do atendimento à população.
Do acesso ao orçamento público destinado ao PAC a uma grande variedade de modalidades contratuais, como concessões plenas e parciais, PPPs, subconcessões, locações de ativo e outras alternativas com marcos regulatórios definidos e testados, as diversas formas de aliança para a realização dos investimentos são meios que servem para promover o resgate de um passivo social que ainda persiste entre nós e para o restabelecimento, pela demonstração de respeito, da dignidade de cada cidadão.
Cabe, portanto, aos municípios, cada qual à sua maneira e dentro de sua realidade local, a tarefa de conjugar o ambiente jurídico institucional favorável, a prioridade do próximo presidente e o interesse da iniciativa privada para que o Brasil avance.
Porque saneamento básico é uma questão de vida.