quinta-feira, agosto 04, 2011

ARTHUR VIRGÍLIO - Serial


Serial
ARTHUR VIRGÍLIO
BLOG DO NOBLAT

A exemplo dos “serial killers” dos filmes e, lamentavelmente, da vida real, existe no Brasil uma espécie de “serial corruption”. É um escândalo por semana, no mínimo.

Parece doença. Surto de cleptomania “cívica”.

Mal dá tempo de a sociedade entender o que lhe está a suceder, em termos de prejuízos éticos e objetivos. Um caso “abafa” o outro e, pior de tudo, as pessoas se entorpecem, porque corrupção virou paisagem.

Seria injusto de minha parte dizer que Dilma Rousseff apodreceu o país em apenas sete meses de gestão. Os quadros de seu governo vieram da era Lula. Os métodos também.

Até creio que a presidente gostaria de trabalhar em cenário diverso. Sinceramente, acredito nisso. Mas não dá. É comprometimento demais. É a República do “rabo preso”.

Já não se fala mais no Ministério dos Esportes, em Palocci, nos “aloprados”. O Ministério dos Transportes começa a sair do ar. A ANP sequer foi esmiuçada, pois jornalista tem de ter tempo para comer e dormir e, com tanta matéria prima, acaba tendo de ser “seletivo”.

O ministro Wagner Rossi, da Agricultura, pode ficar tranquilo. Brevemente surgirá nova escatologia e as atenções se desviarão de sua seara.

Durante o recente discurso do senador e ex-ministro Alfredo Nascimento, dava para “ler” o medo das lideranças petistas. Imaginem se o homem resolvesse falar. Seria um Deus nos acuda!

Um quadro desses não pode levar a bom porto. Somos um país com a máquina pública loteada em favor de numerosíssima e inútil base parlamentar. Cada partido “aliado” é dono do Ministério tal ou qual. E ponto.

Confundem governabilidade com fisiologia. Não têm projeto de Nação. Não pretendem votar nenhuma reforma que exija quorum de 3/5 dos parlamentares de cada Casa Legislativa.

Confundem governabilidade com desfaçatez. E isso poderá terminar complicando a própria governabilidade.

CARLOS HEITOR CONY - Romário

Romário
CARLOS HEITOR CONY 
FOLHA DE SP - 04/08/11

RIO DE JANEIRO - É cedo para avaliar a atuação da safra de novos deputados federais eleitos para a atual legislatura. Não sou entendido no setor nem tenho conhecimentos amplos sobre os trabalhos ali realizados. Contudo gostaria de destacar a atuação de Romário, do PSB carioca.
Conhecia-o de sobra nos campos de futebol, mas julgava-o no mesmo patamar de outros esportistas e artistas que, em certo trecho das respectivas carreiras, decidem tentar a política, seduzidos pelos partidos interessados em aumentar seus coeficientes eleitorais.
Tirante ideias específicas sobre esporte ou pela popularidade de seus ofícios, nada trazem de novo para o debate social.
Romário despontou com um programa novo para este tipo de político mais ou menos improvisado. Nascido em favela, conhecendo a vida dentro e fora dos campos, guardou dentro de si algumas ideias lúcidas que já começaram a se impregnar em sua personalidade ainda rude, mas inteligente e, tal como em suas atuações nos estádios, oportunista no bom sentido. Sua luta pela inclusão social de grande parte da população, no que diz respeito principalmente aos deficientes, está fazendo dele uma liderança respeitada pelos entendidos no assunto.
Com a força de sua popularidade, está atraindo a discussão nacional para um tema que sempre foi tratado de maneira utópica, para encher linguiça nas campanhas eleitorais. No seu terreno preferencial, o esporte, já alertou o governo com severidade sobre o atraso nas obras para a Copa do Mundo de 2014 e a Olimpíada de 2016.
Pouco a pouco, vem se destacando entre os novos e já falam em seu nome para a prefeitura carioca, não mais como o herói de tantas jornadas, mas como ex-favelado que, sem a argúcia e a experiência política de Lula, tem o bom-senso dos simples e a simplicidade dos fortes.

ANCELMO GÓIS - Rodízio de caldo

Rodízio de caldo
ANCELMO GÓIS  
O Globo - 04/08/2011

Pegou em algumas feiras cariocas a moda do rodízio de caldo de cana. O freguês paga R$ 1,50 pelo copo e tem direito de recarregar o refil.

A conta da Vale
A Vale vai fazer este ano um processo de escolha de sua agência de propaganda. Atualmente, a conta da mineradora está com a África, de Nizan Guanaes. A tendência é escolher mais de uma agência para atender os estados onde a Vale atua.

Fator Odebrecht
Nos bastidores, o pau come na escolha dos estaleiros que vão fornecer as 28 sondas da Petrobras, num pacote orçado em uns US$ 22 bilhões. Um dos principais lobbies vem da Bahia. As gigantes Odebrecht e OAS estão juntas no projeto de um novo estaleiro.

Bolsa empresa
No programa Brasil Maior, o governo se dispõe a pagar, como se sabe, até 25% mais que os preços internacionais, por bens e serviços produzidos no país. Uma conta: em 2010, o governo gastou R$ 171 bi com despesas de custeio e de capital; 25% disso são... R$ 42 bi.

Dilma prestigiada
Deve ser coisa da oposição. Veja a piada que circula em Brasília. O vaidoso ministro Nelson Jobim saiu da conversa pacificadora com Dilma, ontem, celebrando: - Foi um bom papo. Gosto dela. Acho que vou mantê-la como presidente.

Viva Aldir!
Esta, talvez, nem João Gilberto. Segunda, mestre Aldir Blanc começou a se sentir mal em casa, na Tijuca, no Rio. Mari, sua mulher, chamou o médico, apesar dos protestos do poeta. Aldir se recusou a sair do quarto, onde via um jogo, e a consulta teve de ser feita por... recados passados por Mari, que entrava com as perguntas do doutor e saía com as respostas.

Lula não para
Lula estará hoje em Bogotá para um encontro Brasil-Colômbia promovido pelo BID. Sergio Cabral, Geraldo Alckmin, Eduardo Campos, Jorge Gerdau e Marcelo Odebrecht também estarão lá.

General dos livros
Amanhã, na Biblioteca Nacional, Olga Sodré, curadora da obra de Nelson Werneck Sodré, doará à instituição documentos e livros do grande historiador. O evento encerra a exposição do centenário do general.

Grande hotel
O Hotel Sofitel de Copacabana parece ter mais rolos na Justiça do que quartos. Apesar de a 4a- Câmara Cível do TJ-RJ ter dado razão ao comprador (BHG), um dos credores (Emgea) apresentou embargos. Enquanto isso, o grupo Accor, que administra o grandão, ganha tempo.

Relato do coleguinha
A revista “Piauí” publica longo relato do repórter fotográfico Nilton Claudino, sequestrado e torturado na Favela do Batam, no Rio, em 2008, quando fazia uma reportagem sobre a milícia local para o jornal “O Dia”. Niltinho, querido nas redações, vive, desde então, longe do estado, escondido, em tratamento psiquiátrico, com medo de ser morto.

Matemática aplicada
A FGV vai criar mais uma escola de ensino superior: a EMAp, Escola de Matemática Aplicada.

Walter no teatro
Walter Lima Jr., o cineasta, está de volta ao teatro. Vai dirigir a peça “A confissão”, baseada no texto “Tape”, do americano Stephen Belber, que deu origem a filme homônimo estrelado por Ethan Hawke e Uma Thurman, em 2001. Estreia amanhã na Sala Tonia Carrero, no Leblon.

Suando a... tulipa
Um parceiro da coluna ficou impressionado com a atuação dos atacantes Fred e Rafael Moura, do Flu, quarta de madrugada, no Bar Astor, em Ipanema. À mesa com três belas moças, o grupo bebeu, acredite, uns 50 caipisaquês.

SONIA RACY - DIRETO DA FONTE

Quatro patas
SONIA RACY
O ESTADÃO - 04/08/11

O Conar abriu processo contra a campanha "Pôneis Malditos", da Nissan, veiculada na internet e na TV. Até ontem, recebeu quase 30 reclamações do Brasil inteiro. Queixa central? A associação de ícones infantis (pôneis em forma de desenho animado) com a palavra "maldiiiiitos".

O Conselho avaliará a peça, com mais de 3,5 milhões de acessos no YouTube. Em 30 dias.

O meu lugar?

Depois de tentar derrubar Chalita, sem sucesso, na disputa pela Prefeitura, Paulo Skaf entrou em nova campanha pelo interior do Estado.

Organiza convocar convenção do PMDB para tirar a presidência estadual do partido das mãos de Baleia Rossi.

Camarada

Pedro Fida entrou no conselho da Corte Arbitral do Esporte, principal órgão de arbitragem esportiva do mundo. O brasileiro, ex-Pinheiro Neto, já está na Suíça, mas escapou de julgar Cesar Cielo.

Nota só

E Emanoel Araújo ficou sozinho de vez no conselho do Museu Afro Brasil. O último integrante saiu anteontem.

Noves fora

Engana-se quem acredita que a empresa criada a partir da fusão Drogasil-Droga Raia pode aceitar, em uma segunda etapa, "casar-se"com a BR Pharma.

Se a empresa de André Esteves pedisse hoje a "mão" da recém-casada, levaria um não.

Direto na tomada

Diante das barreiras colocadas pelo governo brasileiro à intenção de lançar seu carro elétrico no Brasil, a Nissan faz ação de marketing junto a formadores de opinião. Estão no Brasil, em sistema de test-drive, vário modelos Leaf.

A favor, além do absoluto silêncio, está o custo por quilômetro rodado no Brasil: 70% mais barato na comparação com o carro movido a gasolina. Contra, a autonomia limitada a 100 km e a falta de postos para abastecimento.

É preciso chegar todo dia em casa e... plugá-lo na tomada.

Menores frascos...

O Chanel nº5 ganhará biografia, assinada por Tilar Mazzeo. Além de falar sobre Coco, o livro explicará por que a fragrância é chamada de "le monstre" pelos especialistas.

Chega em agosto, pela Rocco.

Lá não como cá

O Cenipa, centro de investigação de acidentes da Aeronáutica, estranha. Segundo fonte da Aeronáutica, o relatório do BEA sobre a tragédia da Air France, divulgado semana passada, traz diferença importante na comparação com o feito no Brasil em relação ao acidente da TAM em
Congonhas.

Como a Airbus tem como meta fazer aeronaves cada vez mais automatizadas, o Cenipa sugeriu que a empresa elabore também sinalização para o piloto. Por meio de seu display, o sistema indicaria a correção a ser feita em caso de falha no super-avião.

Técnicos acham que a Airbus se preocupa demais em prevenir acidentes consequentes de falha humana. E de menos com um possível erro da aeronave.

Padrinho

Na conversa que teve com Joseph Blatter, sábado no Rio, Luis Felipe Tavares, da Koch Tavares, conseguiu. O presidente da Fifa prometeu defender a inclusão do beach soccer nas Olimpíadas.

Quórum

Ricardo Teixeira pode dormir tranquilo. Até ontem, dois abaixo-assinados online pedindo sua saída da CBF somavam meras 5.300 adesões.

Reta final

Sandra Werneck já testou seis atrizes para o papel de Marina Silva. Quer eleger pelo menos três antes de mostrar à própria.

Na frente

A British Library lançou campanha para angariar 2,75 milhões de libras. Quer comprar o livro mais antigo da Europa, o Evangelho de São Cuthbert. Há duvidas se vai conseguir em meio à crise.

A Gucci abre loja no Iguatemi em... Brasília. Dia 9,com Carolina Ferraz e Vivianne Piquet como hostesses.

Dilma que se cuide: Kamura voltou inspirado do Japão. Prometendo técnicas de beleza e maquiagem pra lá de high-tech.

Norman Lance autografa o livro Conexões. Hoje, na Livraria da Vila da Fradique.

Lu Alckmin recebe doações arrecadadas pelo Itaú. Hoje, na sede do banco.

Marcio Scavone comanda curso e faz mostra de suas fotos a partir do dia 17. No Instituto Carrefour.

Eliane Goes abre a exposição História da Arte em Almofadas Exclusivas. Dia 18, na Caradecasa.

Pela vontade dos turistas, o dólar já estaria abaixo de R$ 1,50. Pesquisa do Ministério do Turismo mostra crescimento de 40% no número de pessoas que querem, no segundo semestre, viajar ao... exterior. Mantega agradece por nem todos terem condições.

BRAZIU: O PUTEIRO

CARLOS ALBERTO SARDENBERG - Todos pagam, alguns recebem


Todos pagam, alguns recebem
CARLOS ALBERTO SARDENBERG
O GLOBO - 04/08/11

Nos classificados do jornal chileno "El Mercurio", encontrei um Gol 1.6, modelo mais avançado, oferecido pelo equivalente a R$30 mil, já incluídos os impostos. É cerca de R$10 mil inferior ao preço no Brasil, onde o carro é fabricado. Vamos reparar: o produto brasileiro é mais barato lá fora, de modo que as causas dominantes do preço maior estão aqui, não no exterior.

Não é só com automóveis. Nas farmácias de Buenos Aires, por exemplo, encontram-se cosméticos e remédios made in Brasil mais baratos lá. Logo, como se pode dizer que o problema maior da indústria brasileira é a competição predatória dos importados?

Esse é o desvio da política industrial lançada pelo governo. Parte de um erro de diagnóstico, o de achar que indústria nacional perde competitividade por causa do dólar desvalorizado e da competição desleal dos estrangeiros. Esses problemas existem, mas não são os mais importantes.

Esse equívoco completa outro, o de achar que o dólar está desvalorizado por causa da ação de especuladores no mercado futuro (de derivativos), alvo do pacote lançado na semana passada.

São erros gêmeos. Nos dois casos, há uma visão nacionalista estreita, essa que localiza sempre um estrangeiro predador atrás de cada esquina. É confortável para os governantes, que posam de patriotas, acaba ajudando alguns setores empresariais, mas cobrando um preço de todos os outros.

Reconhecendo que há excesso de carga tributária, toda vez que resolve ajudar algum setor o governo vai pelo caminho da redução de impostos. Mas compensa a queda de receita com aumento em outros setores, de modo que a carga tributária não diminui. É por isso que a arrecadação de impostos aumenta fortemente, mesmo depois de vários pacotes.

Conclusão: todos pagam impostos elevados, alguns ganham o benefício de pagar menos. O governo calcula que a renúncia fiscal do atual pacote será de R$25 bilhões em dois anos. É pouco. Só no primeiro semestre deste ano, o Tesouro arrecadou R$480 bilhões, um salto de 20% sobre o mesmo período de 2010.

A mesma lógica vale para os juros. Reconhecendo que o custo do dinheiro é proibitivo, toda vez que monta pacotes o governo oferece, via BNDES, juros especiais, subsidiados, para este ou aquele setor. Para isso, o governo precisa colocar mais dinheiro no BNDES. E como arruma esses recursos? Ou com mais impostos ou tomando dinheiro emprestado na praça, pelo qual paga juros mais altos do que o BNDES cobra.

Com esses dois movimentos, o governo puxa a carga tributária e eleva a dívida pública bruta, fator que pressiona a taxa de juros - não a especial, mas a de todo mundo.

De novo, para oferecer juros menores a alguns, precisa cobrar mais juros de todos os outros.

Resumo da ópera: esses pacotes podem até melhorar a vida de algumas empresas e setores, mas pioram a vida de todos os outros. Como não há dinheiro para subsidiar todos, a injustiça é generalizada e tudo termina com o consumidor brasileiro pagando mais caro.

A competitividade geral da economia continua limitada não pelo dólar baratinho, nem pelos estrangeiros maldosos, mas pelos três fatores estruturais que conhecemos: carga tributária muito elevada (para custear os cada vez mais elevados gastos públicos, inclusive com subsídios), juros na lua e infraestrutura precária. Juros e gastos públicos, aliás, também explicam boa parte da valorização do real (e mais a entrada de dólares via exportação de commodities e para investimentos).

O pacote tem ainda um viés não propriamente nacionalista, mas antiestrangeiro. Pelo jeitão, vêm aí medidas para impedir e/ou atrapalhar a importação. Segundo explicitou o ministro Mantega, o mercado brasileiro pertence à indústria brasileira, não aos "aventureiros" de fora.

Nos primeiros sete meses deste ano, o Brasil importou mercadorias e serviços no valor de US$124,5 bilhões. É dinheiro. Nesse ritmo, as compras externas chegariam ao final do ano representando mais de 10% do Produto Interno Bruto. Ação de aventureiros?

A importação inclui insumos para agricultura e indústria, bens intermediários, máquinas, equipamentos, tratores, plataformas, tecnologias e, ninguém é de ferro, itens de consumo. Mas, no essencial, são produtos que melhoram e barateiam a produção local. E a vida do consumidor.

Não há como substituir toda essa importação. Mas há como impedir alguns itens, entregando determinados mercados para o produtor local, a preços, digamos, legitimamente brasileiros. Já tivemos isso - a reserva de mercado - no passado. Lembram-se? Deu em produtos caros e ruins - e alguns empresários ricos.

ILIMAR FRANCO - O encontro

O encontro
ILIMAR FRANCO
O GLOBO - 04/08/11

A presidente Dilma e o ministro Nelson Jobim (Defesa) tiveram ontem o primeiro encontro desde que o incontido ministro revelou que votara em José Serra em 2010. A audiência foi precedida de visita do "bombeiro" José Genoino, assessor de Jobim, ao Alvorada. No despacho, no Planalto, o ministro teria perguntado se a presidente vira o programa "Roda Viva", onde ele fez rasgados elogios a ela, e Dilma teria respondido: "Soube!"

O medo tomou conta do PT

Os senadores petistas ficaram apreensivos com a tentativa frustrada da oposição de criar uma CPI. A Comissão foi inviabilizada, mas integrantes da bancada consideram que ela apenas não virou realidade porque ninguém quer transformar o PR num alvo. Entre os petistas há uma avaliação de que os aliados vão criar uma CPI na primeira denúncia que envolver um ministério comandado pelo PT. Um deles chega a dizer: "a crise foi adiada". Os petistas desconfiam do PMDB, que acusam estar interessado em acuar o partido e a presidente Dilma. Com a fragilidade da oposição, o embate político principal se dá na base aliada.

Olé!

O presidente do DEM, senador José Agripino (RN), considera que a CPI não é assunto morto. "Estamos numa tourada. É de lança em lança. Essa CPI ainda pode sair". A oposição tem o apoio garantido de 25 senadores para futuras CPIs.

Bom humor

Ao cruzar com o senador Álvaro Dias (PSDB-PR), ontem, o ministro Garibaldi Alves (Previdência) foi questionado se estava reassumindo o mandato para assinar a CPI. "Você quer é a minha demissão", respondeu o ministro, rindo.

Os petistas saíram em defesa do PMDB

Enquanto o líder do PT, deputado Paulo Teixeira (SP), batia pesado no DEM, em audiência na Comissão de Agricultura, o ministro Wagner Rossi (Agricultura) era só elogios aos demistas. "No caso da agricultura, alguns dos líderes mais importantes são do partido (DEM)", justificou o ministro. Aliás, ao contrário do que ocorreu no discurso do ex-ministro Alfredo Nascimento, o PT foi rápido ontem na defesa do ministro Wagner Rossi.

Isso foi bom!" - Valdir Raupp, senador (RO), no exercício da presidência do PMDB, sobre a decisão do PR de se retirar do bloco formado pelo PT no Senado

PRESSÃO. Os senadores do PR foram pródigos ao afirmar que o partido não quer cargos no governo Dilma. Mas o partido espera que quadros ligados a ele sejam aproveitados. Por isso, depois de deixar a bloco de apoio ao governo no Senado, o PR está ameaçando expulsar o ministro Paulo Sérgio Passos (Transportes) do partido. Eles estão de olho no preenchimento dos cargos de segundo escalão da pasta, como as diretorias do Dnit e da Valec.

Esforço

O diretor de Itaipu, Jorge Samek, e o secretário-geral da Presidência, Gilberto Carvalho, também foram acionados para impedir a CPI. Eles pediram, sem sucesso, para o senador Roberto Requião (PMDB-PR) retirar sua assinatura.

Silêncio

Assessor especial do ministro Wagner Rossi (Agricultura), Alexandre Magno de Aguiar não quer nem ouvir falar das irregularidades na Conab. Quando elas ocorreram, Magno, que foi indicado pelo PTB, era o presidente da estatal.

POLYANNA. O líder do PT, senador Humberto Costa (PE), tentou minimizar ontem a saída do PR do bloco de apoio ao governo no Senado e sua posição de independência a partir de agora. "É bom porque politiza a discussão", disse ele.

RESTOS A PAGAR. O governo avisou à base aliada que, dos R$2,5 bilhões referentes a orçamentos de anos anteriores, só vai liberar R$250 milhões, ou seja, 10% do total.

O GOVERNO DILMA está estimulando o deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP) a entrar na disputa pela vaga de ministro do TCU.

LUIZ FELIPE LAMPREIA - O começo do fim


O começo do fim
LUIZ FELIPE LAMPREIA
O Globo - 04/08/2011

Deste inacreditável imbróglio em que se transformou o debate em Washington sobre orçamento e dívida, pode surgir uma consequência que, nem em nossos sonhos otimistas, poderíamos esperar: o começo do fim das fortalezas protecionistas agrícolas nos Estados Unidos. Neste momento, os privilégios tradicionais do setor agrícola estão sob ataque cerrado no próprio Congresso americano.

Tanto lá quanto na Europa, os lobbies agrícolas realizaram, ao longo dos anos, verdadeiros prodígios políticos. Conseguiram que a agricultura, mesmo empregando apenas 2% a 3% da força de trabalho, conseguisse abocanhar mais de 50% do orçamento da União Europeia.

Em Washington, lograram que bilhões sejam gastos para atender a pequenas produções e também a grandes fazendeiros. Com verdadeira arte, o lobby europeu conseguiu convencer políticos e eleitores que o protecionismo é fundamental para não pôr em risco a própria cultura e a paisagem europeia. É como se tivessem trazido para depor alguns dos fundadores da cultura europeia - como Beethoven e Rousseau, amantes da natureza.

Nos Estados Unidos, menos poeticamente, a força mais dinâmica tem sido uma minoria de senadores de estados pequenos da União que há muitas décadas bloqueia qualquer tentativa de reforma. Assim, o sistema de subsídios americano tornou-se uma árvore de Natal com pagamentos diretos, subsídios anticíclicos, apoios aos preços dos produtores, compensações por desastres e seguros garantidos de colheitas etc.... E tudo isto em detrimento dos interesses dos consumidores, que são forçados a pagar mais, bem como de poderosas empresas que utilizam produtos agrícolas como ingredientes para suas marcas. Para não falar dos países em desenvolvimento, que frequentemente sofrem os maiores prejuízos.

Nos Estados Unidos, este quadro está a ponto de mudar. Não importa o vencedor claro da perigosa contenda que opõe Obama aos republicanos, o lobby agrícola vai pagar um alto preço. A dívida do Tesouro americano simplesmente não permite mais a extravagância de um orçamento agrícola do gênero Papai Noel. Obviamente, não haverá um passe de mágica. Porém é praticamente certo que, ainda este ano ou no próximo Farm Bill de 2012, haverá cortes de mais de um bilhão de dólares, podendo chegar até a cinco bilhões ao longo de dez anos.

O Brasil poderá colher evidentes vantagens, com sua agricultura moderna, suas condições naturais e o potencial produtivo ainda por explorar. Nossos especialistas analisarão melhor do que eu. Parece-me mais útil aqui examinar as implicações da nova política agrícola americana para as negociações da OMC e para os interesses brasileiros nesse foro.

A Rodada Doha é uma crônica de morte anunciada. Desde 2001, ela se arrasta, como dizia Nora Ney em seu tristíssimo canto, " pela noite tão longa de fracasso em fracasso". Poucos ainda apostariam em sua ressurreição hoje. A razão principal desta desesperança tem sido o muro impenetrável do protecionismo agrícola que, a bem da verdade, é uma obra comum de todos os países ricos, do Japão à Noruega, da Suíça aos Estados Unidos, da União Europeia ao Canadá. Porém, tudo muda se os Estados Unidos abandonam o barco e passam a golpear os seus próprios programas de subsídios. Há uma possibilidade concreta de que as negociações da OMC tomem outro rumo.

O Congresso dos EUA certamente não poderá simplesmente reduzir drasticamente os subsídios sem incumbir o Executivo de buscar agressivamente aberturas do mercado internacional que compensem os produtores americanos pelas perdas dos apoios do governo.

Hoje, os EUA são considerados como o maior impedimento ao avanço das negociações da OMC, porque a alta taxa de desemprego e os avanços chineses no mercado americano impedem politicamente qualquer postura liberalizante. Se esse país passar para a ofensiva na frente agrícola, o jogo na Rodada Doha muda substancialmente, pois os EUA são o maior mercado mundial e detêm o primeiro lugar no ranking do comércio.

É uma reviravolta que alteraria premissas tomadas por imutáveis há décadas. Seria também um fator que poderia fazer recomeçar as negociações sob nova luz, e traria a expectativa concreta de resultados para os produtores agrícolas dos países que não concedem subsídios. É obvio que ainda estamos no terreno das hipóteses e que as futuras negociações serão duras e prolongadas, se vierem a ocorrer. Mas a desconstrução dos subsídios agrícolas ficaria como avanço importante contra o protecionismo agrícola.

MÍRIAM LEITÃO - Uma bolsa que cai





Uma bolsa que cai
MÍRIAM LEITÃO
O GLOBO - 04/08/11

A Europa e os Estados Unidos é que enfrentam crises graves, mas é a bolsa brasileira que está com o pior desempenho este ano entre as maiores economias. Na verdade, do mundo inteiro só os gregos estão piores do que nós. O Brasil também tem seus próprios problemas, mas eles parecem pequenos para justificar uma queda tão grande na bolsa.

O Brasil está com inflação e juros em alta; crise política com queda de ministros; interferências do governo em gestão de empresas privadas; déficit em conta corrente; balança comercial sustentada pelo preço das matérias-primas. Há problemas, mas nada parecido com o que se vê à volta no mundo e, afinal, o país continua crescendo.

A Europa divulgou um novo pacote de socorro à Grécia, mas o risco de calote na Espanha e na Itália tem aumentado. Os Estados Unidos viveram dias terríveis. O clima de medo do risco está visível na alta acumulada do ouro, que é de 40% em 12 meses.

Entre as maiores economias, o pior resultado é o da bolsa brasileira. Do mundo todo, só a bolsa grega cai mais, 22,1%. Em 2011, o Ibovespa acumula queda de 19,2%. No mesmo período, a bolsa eletrônica americana Nasdaq sobe 1,1%; o Dow Jones tem alta de 2,8% e o S&P 500, que reúne as 500 maiores empresas americanas, sobe 0,2%. A bolsa alemã tem queda de 3,93%; a inglesa, de 5,35%; e a francesa, de 9,19%. Nesta mesma edição o jornal traz números diferentes. É apenas porque eles fizeram a conta em dólares, e nós, em moeda local. Mas o fato é que o Brasil cai mais que inúmeros países em grandes dificuldades. Mesmo assim, é bom olhar, para corrigir, o que anda errado na conjuntura brasileira.

O economista José Márcio Camargo, da Opus Gestão de recursos, acha que o país tem os seus próprios problemas, como déficit em conta corrente de 2,5% do PIB, mesmo com a disparada dos preços das commodities. A inflação está em alta e cresce o endividamento das famílias:

- O ambiente político também é preocupante, com a queda de dois ministros num novo governo. Os investidores também olham para isso. Há desconfiança de que o BC tenha perdido um pouco o controle da inflação e depois tenha que subir juros numa dose mais elevada. Isso afetará o crescimento. Também houve interferências do governo nas duas maiores empresas de capital aberto do país.

A interferência do governo na gestão da Petrobras e da Vale tem peso relevante porque as duas empresas sozinhas representam quase 30% da composição do índice Ibovespa. A Petrobras, por exemplo, não pode elevar o preço da gasolina mesmo que o petróleo suba, a demanda dispare, e ela tenha que comprar mais caro lá fora para vender aqui. A Vale está sendo pressionada para entrar no setor siderúrgico, mesmo com todo o excedente de capacidade de produção de aço que existe no mundo. Tudo isso afeta a rentabilidade das empresas e afasta investidores.

O economista Eduardo Oliveira, da Um Investimentos, explica que vários outros setores que compõem a bolsa estão apresentando resultados menores que o esperado. O setor siderúrgico está mal não só aqui, mas no mundo todo. Só que aqui há quedas de 43,6% este ano, como da Usiminas; de 41,5%, da Gerdau; de 38,5%, da CSN. Os bancos estão com queda forte nos papéis porque o crédito já subiu muito. Empresas do setor imobiliário estão fortemente negativas na bolsa, como a Gafisa, que cai 39%; Cyrela, com queda de 32,5%; e MRV, com menos 30,5%.

- O índice Ibovespa tem o pior resultado do ano entre as grandes bolsas, seguido pela bolsa indiana. A inflação em alta é uma das explicações para isso, tanto aqui quanto lá. Praticamente todos os setores da bolsa estão caindo. As construtoras que entraram no segmento de baixa renda não conseguiram a rentabilidade esperada. As empresas exportadoras, como as de celulose, encontram demanda fraca. Há estoques elevados. É muito difícil que a bolsa não termine o ano no vermelho - disse Oliveira.

Mas é óbvio para qualquer um que o risco grande está é nas economias europeias que enfrentam ainda o fantasma do calote de dívidas soberanas. Nos Estados Unidos, ficou claro, na opinião do ex-ministro das Relações Exteriores Luiz Felipe Lampreia, que o sistema político não está funcionando:

- Sempre houve polarizações e radicalizações, mas o sistema resolvia o problema. Agora não está resolvendo mais.

O economista Alexandre Schwartsman diz isso também. Ele pondera que o presidente Barack Obama saiu do conflito como um líder fraco. Na economia, segundo Alexandre, começa a se formar a expectativa de que seja necessária uma terceira rodada de expansão monetária.O que levará o dólar a se enfraquecer mais ainda.

- Estados Unidos e Europa estão se tornando Japão, ou seja, podem passar um longo período com baixo crescimento - diz Lampreia.

O momento é de riscos nas economias maduras, como este ano tem demonstrado desde o início. Em momentos de risco generalizado, algumas empresas podem ser mal avaliadas. Países também. Está claro que se houvesse lógica no mercado o Brasil não teria a pior queda. Mas o fato é este: a crise é deles, e aqui é que a bolsa despenca.

MÔNICA BERGAMO - LUVAS DE OURO

LUVAS DE OURO
MÔNICA BERGAMO
FOLHA DE SP - 04/08/11

Começou na Justiça o segundo tempo na disputa milionária que envolve Eike Batista e Rodolfo Landim, ex-executivo que comandou seus negócios até 2009. Derrotado em primeira instância, Landim recorreu anteontem ao Tribunal de Justiça do Rio para exigir que o empresário pague a ele R$ 493 milhões, ou 1% das ações da holding EBX. Eike teria prometido isso quando o contratou.

BOLSO
Eike também recorreu ao TJ. Quer obrigar Landim a pagar mais a seus advogados. Os honorários já foram fixados em R$ 1 milhão. Ele quer aumentar o valor.

CABEÇA FEITA
Seis marroquinas muçulmanas estavam sendo impedidas de usar lenços para orar na Penitenciária Feminina de SP. Presas por tráfico, elas queriam ficar com o corpo coberto o tempo todo, o que foi negado por questões de segurança. As advogadas Luciana Cury, muçulmana, e Damaris Kuo, da comissão de liberdade religiosa da OAB, intermediaram acordo para que usem lençóis brancos apenas na hora das preces.

MIMO MINIMALISTA
O músico minimalista Philip Glass vai se apresentar em setembro em Pernambuco. Participa da Mimo (Mostra Internacional de Música de Olinda), ao lado do violinista Tim Fain.

CENSURA
O ministro Nelson Jobim, da Defesa, solta o verbo mais uma vez, agora na revista "Piauí" que chega às bancas amanhã. Ao se referir às negociações sobre o sigilo eterno de documentos, ele atira no núcleo do governo de Dilma Rousseff. "É muita trapalhada", afirma. "A [ministra] Ideli [Salvatti, das Relações Institucionais] é muito fraquinha". Já Gleisi Hoffmann, da Casa Civil, "nem sequer conhece Brasília".

QUEM MANDA
Jobim conta também que, ao convidar José Genoino para trabalhar na Defesa, ouviu de Dilma: "Mas será que ele pode ser útil?". Jobim diz que respondeu: "Presidenta, quem sabe se ele pode ou não ser útil sou eu." O ministro diz ainda que FHC e Lula são sedutores. "Só que de maneiras diferentes. O Lula diz palavrão, o Fernando é um lorde".

PASSEIO
O ex-presidente FHC, por sinal, fez um tour em julho na Europa com Patrícia Kundrát, 34, administradora do Instituto FHC.

Olavo Setubal Jr.

Henri Penchas recebeu convidados para o jantar de aniversário de 60 anos da Duratex, na Casa Fasano, anteontem. A família Setúbal, que controla o Itaú Unibanco, o banqueiro Cândido Bracher, o secretário Paulo Alexandre Barbosa (Desenvolvimento) e o casal Washington e Patrícia Olivetto foram à cerimônia.

CENSURA
O ministro Nelson Jobim, da Defesa, solta o verbo mais uma vez, agora na revista "Piauí" que chega às bancas amanhã. Ao se referir às negociações sobre o sigilo eterno de documentos, ele atira no núcleo do governo de Dilma Rousseff. "É muita trapalhada", afirma. "A [ministra] Ideli [Salvatti, das Relações Institucionais] é muito fraquinha". Já Gleisi Hoffmann, da Casa Civil, "nem sequer conhece Brasília".

QUEM MANDA
Jobim conta também que, ao convidar José Genoino para trabalhar na Defesa, ouviu de Dilma: "Mas será que ele pode ser útil?". Jobim diz que respondeu: "Presidenta, quem sabe se ele pode ou não ser útil sou eu." O ministro diz ainda que FHC e Lula são sedutores. "Só que de maneiras diferentes. O Lula diz palavrão, o Fernando é um lorde".

PASSEIO
O ex-presidente FHC, por sinal, fez um tour em julho na Europa com Patrícia Kundrát, 34, administradora do Instituto FHC.

PROTESTO A 30 KM/H

Amigos de Vitor Gurman, 24, transformaram a esquina da rua Natingui, na Vila Madalena, em que ele foi atropelado e morto, numa espécie de monumento em sua memória. Anteontem, penduraram uma placa no local: "30 km/h - velocidade máxima permitida. DEVAGAR". A indicação oficial de velocidade tinha sido arrancada no dia do acidente, sábado, 23.

"Não estamos falando só de dirigir bêbado. Mas de parar com essa cultura de que acelerar é bacana, e da importância de se respeitar a faixa de pedestres", afirma o cineasta Pedro Serrano, 24. "A gente precisou levar essa pancada da vida para agir." Na sequência, o grupo vendou os olhos com faixas pretas para uma fotografia.

Desde o acidente, a turma se encontra diariamente. Pensam em formas de se manifestarem contra a imprudência no trânsito. Na noite de terça, encerraram sua manifestação gritando para os carros que passavam velozes na rua Natingui: "É 30km!"

CURTO-CIRCUITO

Tanya Volpe Spindel dará aula de estilismo culinário, hoje e amanhã, na escola Wilma Kovesi. Das 13 horas às 17 horas.

A grife italiana Ermenegildo Zegna realiza hoje o evento "Cravatta fatta a mano", com dicas de uso de gravatas. A partir das 19 horas, no shopping Iguatemi da Faria Lima.

Sarah Chofakian faz festa de lançamento da sua nova coleção de sapatos, hoje, na casa de Drausio Gragnani, em Higienópolis.

com DIÓGENES CAMPANHA, LÍGIA MESQUITA e THAIS BILENKY

CONTARDO CALLIGARIS - O paradoxo de Amy Winehouse


O paradoxo de Amy Winehouse
CONTARDO CALLIGARIS
FOLHA DE SP - 04/08/11

Você prefere imaginar sua filha errando para sempre num shopping ou perdida numa balada perigosa?


Stéphanie, minha enteada, tem 11 anos: ainda é menina, mas é já moça. Assim que foi informada da morte de Amy Winehouse, ela veio até minha escrivaninha e, simulando o choro inconsolável de um nenê, perguntou: "Você está sabendo que morreu minha cantora preferida?".
Justamente por ela simular o choro e se esforçar para ser engraçada, pensei que devia estar sofrendo muito. A coisa se confirmou no meio da noite, quando Stéphanie acordou, e, para que reencontrasse o sono, foi preciso que alguém conversasse com ela sobre a vida e a morte de Amy.
Teria gostado de poder oferecer a Stéphanie uma boa explicação pela dureza da vida e da morte de sua cantora preferida -por exemplo, dizer que Amy teve uma infância muito triste, que nada em sua vida adulta pôde compensar; ou, então, que ela teve sorte na vida profissional, mas não no amor, e se perdeu nas drogas e no álcool por desesperos sentimentais. Mas o que sei da infância e dos amores de Amy é só fofoca.
Sem mentir nem inventar, melhor deixar Stéphanie lidar com este enigma: alguém pode ter um extraordinário talento, gostar de exercê-lo, alcançar sucesso e reconhecimento, amar e ser amado por um ou mais parceiros e, mesmo assim, esbarrar num vazio que nada consegue preencher.
Stéphanie também tinha lido sobre a maldição dos 27 anos, que, antes de Amy, teria pego Janis Joplin, Jimi Hendrix, Jim Morrison, Kurt Cobain etc. Como é normal na sua idade, ela parecia sensível à "glória" de morrer jovem (ou talvez de não viver até se tornar tão chato quanto os adultos).
Foi fácil desvalorizar a morte precoce mostrando que ela é, justamente, um ideal muito antigo: o rock apenas retomou o lugar comum romântico do poeta que vive tão intensamente que, como Ícaro, queima suas asas e cai antes da hora, em pleno voo. Em suma, eu não tenho nada contra viver intensamente; ao contrário, artista ou não, acho que a gente deve viver da maneira mais intensa que der. Mas resta o seguinte: a ideia de que viver intensamente consistiria, por exemplo, em encher a cara de absinto ou ópio é velha de 200 anos.
Agora, há uma coisa que pensei e que não disse a Stéphanie: no fundo, para mim, a história de Amy tem um valor pedagógico, não só (obviamente) como exemplo dissuasivo ("Olhe o que pode lhe acontecer se você beber ou se drogar"), mas também como exemplo "positivo".
Como assim, positivo???
Concordo, a morte de Amy é um horror e uma estupidez, mas também lembra que viver é uma coisa séria, com apostas e riscos sérios, a começar pelo risco de perder a própria vida antes da hora. Você dirá: "Alguém duvida disso?". Pois é, constato que há um monte de gente tentando convencer nossas crianças de que a vida é feita de gritinhos, compras e namoricos que só servem para trocar trivialidades online com amigos e amigas.
Até a morte de Amy, eu pensava que o cantor preferido de Stéphanie fosse Justin Bieber. Ora, é possível que Bieber seja uma espécie de Dorian Gray (uma cara de porcelana que esconde dramas e anseios humanos), mas o fato é que ele promove uma imagem de bom moço num mundo intoleravelmente cor-de-rosa.
"E daí?", dirão alguns pais, "não seria esse o adolescente ideal com quem deveríamos gostar que nossas filhas saíssem, em sua primeira ida ao cinema sozinhas com um garoto?". E acrescentarão: "Você quer o quê, que sua enteada seja parecida com Justin Bieber ou com Amy Winehouse?".
Claro, é um golpe baixo: ninguém quer que sua filha acabe como Amy. Mas devolvo a pergunta: será que Justin Bieber é mesmo melhor? Stéphanie será mais protegida se ela permanecer numa pré-adolescência à la fã de Justin Bieber. Mas protegida de quê, se não da própria vida? Entre imaginá-la errando para sempre num corredor de shopping e imaginá-la numa balada que pode acabar na sarjeta à la Amy, a escolha não é fácil. E, na comparação, Amy passa a simbolizar minha esperança (e meu receio, indissociavelmente) de que Stéphanie cresça e se torne mulher, com desejos próprios, fortes.
É o paradoxo de Amy: o que você prefere, uma filha que se perca tragicamente nos excessos do desejo ou uma filha que chegue à vida adulta sem ter conhecido outros desejos do que os que surgem nas conversas sobre marcas de mochilas e sapatos?

MERVAL PEREIRA - O enigma Dilma


O enigma Dilma 
MERVAL PEREIRA
O GLOBO - 04/08/11

Vou acompanhando o desenrolar algo enigmático do governo Dilma, e cada vez mais me recordo das palavras com que Carlos Castello Branco, o maior colunista político brasileiro, explicava a natureza dos fatos políticos cotidianos: "Os fatos vão se criando, e as explicações, se multiplicando, ganhando coerência ou clareza à medida que os surpreendemos no seu aparecimento, no seu colapso, no seu ressurgimento, nessa permanente elaboração, fundada em contradições que nem sempre chegam a sínteses, que caracteriza a ação política".

Seus atos, até agora, ora carecem de clareza ou coerência, ora parecem justificar a crença de que nada mudou em relação ao governo de seu sucessor e tutor político.

Mesmo quando parece que sua direção é contrária ao estabelecido anteriormente, logo um recuo determina os limites de sua ação autônoma.

Assim, a tal operação "faxina" que não teria limites dá lugar a uma grande manobra palaciana para impedir que o Congresso monte uma CPI para investigar as denúncias a que o próprio governo deu crédito, a ponto de demitir mais de 20 servidores dos Transportes e mais o próprio ministro.

De volta ao Congresso, Alfredo Nascimento fez um discurso cheio de insinuações contra o governo que diz ainda apoiar, mas do qual a bancada de sua sigla anuncia se afastar.

O de mais grave que disse, ainda carente de resposta, que não veio possivelmente por não ser possível rebater, é que os sobregastos ocorridos nas obras ocorreram sobretudo na campanha, quando Dilma Rousseff disputava o Planalto.

Ao acionar a máquina partidária para impedir a CPI, Dilma confirma que não pretende se afastar demasiadamente das raízes que a ligam ao lulismo, acatando os conselhos de Lula para não afrontar a base parlamentar costurada por ele de modo a ser a mais ampla possível para facilitar o governo de Dilma e não para ser confrontada permanentemente.

O PMDB sente-se novamente revigorado com a garantia de que não será incomodado e mostra-se unido em torno da demonstração de força dada pelo vice-presidente Michel Temer, cujo protegido, o ministro da Agricultura, Wagner Rossi, não será atingido nem mesmo por denúncias de um irmão do líder do governo no Senado.

Outra indicação de que laços que a ligam ao lulismo são mais fortes do que supõem os que imaginam que ela possa estar em busca de novas alianças é o programa de fortalecimento da indústria nacional. Reafirma visão de capitalismo de Estado que joga com a interferência do governo em setores-chave da economia que pode trazer prejuízos, como vem acontecendo com Vale e Petrobras.

A preferência para a produção nacional, quando a diferença de preços em relação aos competidores estrangeiros for de até 25%, é o retorno de reservas de mercado com viés nacionalista que afronta a livre concorrência, e pode ter consequências nocivas à competitividade da indústria nacional.

A sensação é que, mesmo superado o problema imediato, a situação econômica dos EUA não está resolvida e, ao contrário, ficou mais explícita a dificuldade de Obama para governar.

A polarização democratas-republicanos chegou a um nível que impede o funcionamento do Congresso. Temos, assim, além do problema econômico, problema político grave.

Como será o futuro das relações políticas que, em caso como o da dívida, deveriam ser apartidárias e acabaram virando disputa sangrenta e com sentido puramente eleitoral?

As pesquisas mostram que nenhuma das siglas ganhou na opinião dos eleitores, e o descrédito dos políticos cresceu.

Obama conseguirá dar a volta por cima? O aumento de impostos voltará à discussão se ficar demonstrado que os cortes de gastos estão impedindo o país de sair da crise?

Tom Trebat, diretor-executivo do Instituto de Estudos da América Latina e do Centro de Estudos Brasileiros da Universidade Columbia (NY), considera esta "uma crise política que tem cara de crise financeira".

Para Trebat, "um lado do debate partidário está no momento disposto a arriscar tudo, até a própria estabilidade da economia, para ganhar a batalha".

Ele chega a comparar "essa visão de tudo ou nada" à que marcou a política americana antes da Guerra Civil, e durante os anos 30, com forte resistência, que continua até hoje, contra as reformas de Roosevelt. "Ou seja, o debate atual americano está revestido de enorme importância histórica".

Quem corre o risco maior neste contexto, diz Tom Trebat, é o presidente Obama, "justamente o cara que quer fazer as pazes com todo mundo".

Os republicanos já teriam percebido "que ele pode ser uma versão atualizada de Jimmy Carter - bom de papo e bem-intencionado, mas sem jogo de cintura. Pressionado, ele cede terreno".

Por sua vez, os democratas, segundo Trebat, estão desiludidos por não haver até agora estratégia para lidar com a extrema direita dos republicanos.

Ele acha que as vantagens de Obama ainda são grandes: a imensa maioria dos eleitores é contra o radicalismo da direita, que foi tão claramente exposto nesse debate, e em consequência a predominância dos republicanos sofrerá certo recuo na Câmara de Deputados.

Lembra ainda que o grande capital privado, que acaba financiando as campanhas americanas, será bem mais cauteloso antes de apoiar candidatos radicais que poderiam levar o país à beira da moratória.

Essas eleições de 2012 "serão cruciais" e, na opinião de Trebat, "inevitavelmente se transformarão em uma quase luta de classes, com Obama defendendo a classe média e pintando os republicanos como representantes só dos mais ricos".

Caso Obama assuma cara nova de lutador zangado e abandone a postura de conciliador que o marca como um líder fraco, Trebat acha que ele tem boas chances de se reeleger.

GOSTOSAS

JANIO DE FREITAS - Uma CPI útil


Uma CPI útil 
JANIO DE FREITAS
FOLHA DE SP - 04/08/11

Essas comissões, dizem, levam a nada; mas sempre deixam alguma coisa -ainda mais quando falta tudo


A CPI dos transportes, há uma semana entre o quase sai e o quase não sai, seria conveniente por sua provável impossibilidade de fugir a certos interrogatórios e esclarecimentos.

As exonerações nos Transportes já caminham para as três dezenas e, de concreto, não se sabe o motivo de nenhuma delas. Nem o fundamento de tal obscuridade. Até a anunciada defesa do decaído ministro Alfredo Nascimento fugiu a clarear sua meia denúncia, o que o deixou menos inocente do que antes do discurso de inocência.

Nascimento situou no período entre deixar de ser ministro em março de 2010, para candidatar-se, e voltar em janeiro de 2011, a elevação de R$ 58 bi para R$ 72 bi dos compromissos do ministério. Aumento, que disse surpreendê-lo, em reajustes de preços e aditivos de obras, e em obras não programadas. Sendo então ministro responsável pela multiplicação dos cifrões o mesmo Paulo Sérgio Passos que o sucede agora.

Da surpresa à recente saída, decorreu mais de meio ano. Tempo de sobra para verificação da legalidade de cada um dos acréscimos de custo das obras. Nascimento disse havê-la feito: 90 dias dedicados a "um pente-fino". E o resultado? Silêncio. Quando ministro e, na tribuna, como exaltado senador a invocar uma alteração de gastos que, ou foi legítima e não haveria por que citá-la, ou não foi e deveria acompanhar-se das informações colhidas pelo "pente-fino" e ainda devidas.

Na primeira hipótese, a citação com suas insinuações, estendidas aos então ministros da Casa Civil, do Planejamento e da Fazenda, seria uma falsidade. Na segunda, indicaria certo comprometimento de Alfredo Nascimento com as improbidades, que teria acobertado com silêncio e com a falta das medidas exigidas por lei.

O assunto desses acréscimos não é novo. Tão logo Passos foi feito interino nos Transportes, com a queda de Nascimento, foi posto sob suspeição por aqueles bilhões. Uma explicação sucinta, que incluiu o ex-ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, pareceu satisfazer a Presidência e os meios de comunicação. Embora ontem, de relance, me fosse possível ouvir em uma rádio dois comentaristas ligarem os tais bilhões com fundos para a campanha eleitoral e até com "um novo mensalão". Também sem indício algum.

Mas, se não devia antes, a insatisfatória explicação de Alfredo Nascimento o faz dever explicações à opinião pública e às obrigações do seu mandato. E tanto os que estão caindo em cascata como aqueles que os exoneram, no Ministério dos Transportes, devem esclarecimentos que uma CPI não precisaria fazer muito para obter: se não ouvisse os implicados de uma parte e de outra, ouviria quem?

CPIs, dizem, levam a nada. Sempre deixam alguma coisa, porém. Ainda mais quando falta tudo

RICARDO MELO - Guichê ao lado


Guichê ao lado 
RICARDO MELO
FOLHA DE SP - 04/08/11


SÃO PAULO - Defender a criação de uma CPI da corrupção no Brasil ou é mera chantagem política, ou falta do que fazer, ou absoluta desorientação sobre o que fazer. Ou então as três coisas ao mesmo tempo.

Obviamente, não faltam crimes para investigar. O problema é inverso: o leque é tão amplo que uma comissão desse tipo precisaria funcionar como um tribunal. E quem iria julgar a quem? Com raríssimas exceções, o Congresso brasileiro é povoado de gente que em algum momento mamou nos cofres públicos.

De concessões de rádio e TV a ambulâncias, passando pelo mensalão, pela privatização das teles, votos pela reeleição, verbas de representação, pensões irregulares -tudo já foi e continua sendo objeto de negociatas no Legislativo.

É de provocar risos antecipados imaginar caciques do PT, do PMDB, do PSDB, do DEM, do PC do B e quem mais for posando de inocente ultrajado diante de alguma transgressão. Veja-se, a respeito, a coleta de assinaturas para criar a tal CPI.

O porta-voz do processo é um senador tucano que tentou amealhar aquela infame pensão de ex-governador. Não bastasse isso, um dos primeiros a retirar o nome da requisição foi justamente um parlamentar do... PSDB, a legenda-chefe da oposição. Agora ele diz querer assinar de novo, num vaivém revelador do grau de suas convicções.

Até os Dragões da Independência sabem que a demissão em massa no Ministério dos Transportes não tem chance de prosperar no resto da Esplanada. Se considerarmos a aliança que a elegeu, só se tiver vocação para o suicídio político Dilma irá investigar o restante do governo, a começar das fatias controladas pelo PT e pelo PMDB.

A acomodação generalizada dos partidos ao que há de mais convencional e apodrecido é a maior garantia de que o combate sério à roubalheira não tenha futuro no Congresso. Essa tarefa ainda depende, acima de tudo, da vigilância e da pressão da opinião pública -e das escolhas na hora de votar.

DEMÉTRIO MAGNOLI - A lei dos juízes


A lei dos juízes
DEMÉTRIO MAGNOLI
O Estado de S.Paulo - 04/08/11

Franschhoek, cidade de vinhedos e alta cozinha na província sul-africana do Cabo Ocidental, é o núcleo cultural dos descendentes dos huguenotes franceses que emigraram para a Colônia do Cabo após a revogação do Edito de Nantes, em 1685. Esses refugiados da perseguição religiosa se somaram aos também calvinistas holandeses estabelecidos na região para configurar a colonização bôer na África do Sul. Eles adquiriram escravos, se insurgiram contra a abolição da escravidão promovida pelos britânicos em 1833, participaram do Grand Trek que resultou na fundação das colônias africânderes do interior e ajudaram a sustentar as leis do apartheid, introduzidas a partir de 1949. Desde 1789, até hoje, Franschhoek celebra a Revolução Francesa, que derrubou a monarquia católica dos Bourbons.

Liberdade, para eles, significava as liberdades de falar com Deus segundo suas próprias regras e de possuir escravos. Igualdade significava, exclusivamente, o estatuto de equivalência de direitos religiosos com os católicos consagrado pelo Edito de Nantes. Não se tratava da igualdade dos indivíduos perante a lei, mas da igualdade de direitos entre distintas comunidades religiosas cristãs. Nessa acepção, a igualdade pressupunha a diferença: os nativos africanos não teriam prerrogativas de cidadania, pois não eram cristãos.

Igualdade significa coisas diversas em sociedades diferentes. Breve, o Supremo Tribunal Federal (STF) julgará uma ação contra o programa de cotas raciais na Universidade de Brasília (UnB). O veredicto terá repercussões que transbordam largamente os limites do sistema de seleção de candidatos à UnB: estará em jogo o significado do princípio da igualdade no Brasil. A Constituição é cristalina, traduzindo a igualdade como equivalência de direitos de cidadania, independentemente de cor, raça, sexo ou crença. O sistema de cotas raciais implica a negação disso e sua substituição por um conceito de igualdade entre comunidades raciais inventadas. Mas há indícios consistentes de que o tribunal pode votar pela anulação de um dos pilares estruturais da Constituição.

O regime do apartheid costuma ser descrito como um Estado policial semifascista devotado a promover a exclusão política dos negros. De fato, ele também foi isso, mas seu traço essencial era outro. Os fundamentos doutrinários do apartheid emanaram do pensamento dos liberais Wyk Louw e G. B. Gerdener, da Universidade de Stellenbosch, que propugnaram a segregação de raças como imperativo para a manutenção da liberdade dos brancos e das culturas dos nativos. Louw e Gerdener conferiram forma acadêmica às ideias de Jan Smuts, comandante das forças africânderes na Guerra dos Bôeres de 1899-1902. Smuts promoveu a reconciliação entre os africânderes e os britânicos, antes de se tornar primeiro-ministro do país unificado. Em 1929, numa conferência proferida em Oxford, ele delineou o sentido da "missão civilizatória" dos brancos na África Austral: "O Império Britânico não simboliza a assimilação dos povos num tipo único, não simboliza a padronização, mas o desenvolvimento mais pleno e livre dos povos segundo suas próprias linhas específicas".

Louw e Gerdener devem ser vistos como precursores do multiculturalismo. Eles criticavam as propostas de criação de uma sociedade de indivíduos iguais perante a lei, que representaria a "assimilação dos povos". No lugar da "padronização" política e jurídica, sustentavam a ideia de direitos iguais para grupos raciais separados. O grupo, a comunidade racial, não o indivíduo, figuraria como componente básico da nação. É precisamente esse conceito que alicerça o sistema de cotas raciais.

Na UnB, um candidato definido administrativamente como "negro" por uma comissão universitária tem o privilégio de concorrer às vagas reservadas no sistema de cotas. Mesmo se proveniente de família de alta renda, tendo cursado colégio particular e cursinho pré-vestibular, o candidato "negro" precisa de menos pontos para obtenção de vaga do que um candidato definido como "branco", mas oriundo de família pobre e escola pública. Na lógica da UnB, indivíduos reais não existem: o que existe são representantes imaginários de comunidades raciais. O jovem "negro" funciona como representante dos antigos escravos (mesmo que seus ancestrais fossem traficantes de escravos). O jovem "branco" funciona como representante dos antigos proprietários de escravos (mesmo que seus ancestrais tenham chegado ao Brasil após a Abolição). Se o STF ornar tal programa com seu selo, estará derrubando o princípio da igualdade dos cidadãos perante a lei.

O apartheid fincava raízes nas diferenças de língua e cultura entre os grupos populacionais sul-africanos. A classificação étnica dos indivíduos, seu requisito indispensável, derivava de realidades inscritas no passado e refletidas na consciência das pessoas. O projeto da "igualdade racial" no Brasil, cujo instrumento são os programas de cotas, exige uma fabricação acelerada de comunidades étnicas. As pessoas precisam ser transformadas em "brancos" ou "negros", a golpes de estatutos administrativos impostos por órgãos públicos e universidades. Todo o empreendimento desafia a letra da Constituição, que recusa a distinção racial dos cidadãos. O STF está perto de escancarar as portas para o esbulho constitucional generalizado.

Seria o STF capaz de corromper escancaradamente o princípio da igualdade dos indivíduos perante a lei? A Corte Suprema é um tribunal político, no sentido de que sua composição reflete as tendências políticas de longo prazo da Nação. Há oito anos o lulismo aponta os novos integrantes da Corte. O STF rejeitou a mera abertura de processo contra Antônio Palocci, que, como agora reconhece a Caixa Econômica Federal, deu ordem para a violação do sigilo bancário de Francenildo Costa. Os intérpretes da Constituição não parecem preocupados com a preservação do princípio da igualdade.

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JOSÉ SIMÃO - Ueba! Dnit vira dinamite!


Ueba! Dnit vira dinamite! 
JOSÉ SIMÃO
FOLHA DE SP - 04/08/11

Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República!
Chega de abdominal! Pra que academia? Olha essa placa em Rio do Sul, Santa Catarina: "Promoção! Farinha Seca Barriga! Só 8,99". Pra secar barriga tá barato mesmo! Não precisa mais encolher a barriga na hora de transar!
E corre na internet a charge: "Liquidação da América! 50% OFF!". E o Obama? O Buraco Obama! O Obama tá como linguiça de churrasco: quando se livra do espeto, cai na brasa. Rarará! E eu já disse que tá tudo globalizado: um americano espirra em Minesotta e derruba a Bolsa de Kuala Lumpur. Você solta um pum no Guarujá e derruba Hong Kong.
E eu tenho uma amiga que mora na Holanda que aplica todo o dinheiro no Rabobank. É verdade! Existe mesmo! Aí todo dia ela acorda dizendo: "Hoje vou tirar dinheiro do Rabo". O Obama também. Vai ter que tirar dinheiro do Rabo!
E essa: "Exonerados mais três diretores do Dnit". Então não é mais nem Dnit nem Dmit! É DINAMITE! DINamiT! E chega de CPI! Fora CPI! CPI quer dizer Comissão de Perguntas Imbecis! CPI quer dizer Coma a Pizza Inteira. E um leitor me disse que CPI quer dizer Comissão de Palhaçada Itinerante. CPI só enche barriga de telejornal!
Transportes é o Ministério dos Predestinados, o Time dos Predestinados: Pagot, Varejão, Faturetto e Masella. E chutando pra fora: Dilma! Rarará! E a manchete do "Financial Times": "Brasil administra sucesso em meio a insanidade global". Ueba. Ponto pra nóis! Pindaíba tá é a Espanha. Um amigo está em Barcelona e me mandou a foto de um açougue: "FILETE DE POBRE, 9,95 euros". E um outro me disse que a bunda da Valesca Popozuda é a única bunda do planeta que pode ser vista do espaço. Rarará!
E mais um predestinado predestinadíssimo! Direto de Minas Gerais! Diretor de Saúde da Cemig-Saúde: Mario SAUDE! Rarará! Haja saúde! E atenção! Hoje é a Noite de Autógrafos do meu livro "A Esculhambação Geral da República". Na Livraria Cultura da Paulista. Dou autógrafo, tiro foto no celular, digo que amo e cancelo cartão. E trago a pessoa amada em três horas. Na base da pancada! Rarará! Nem precisa ler, é só comprar. Rarará! Nóis sofre mas nóis goza.
Que eu vou pingar o meu colirio alucinógeno!

MARCIA PELTIER - Solidariedade à prova

Solidariedade à prova 
MARCIA PELTIER
JORNAL DO COMMÉRCIO - 04/08/11

Estudo da GfK, quarta maior empresa mundial de pesquisa de mercado, revela que 29% dos brasileiros costumam doar dinheiro todos os anos para a caridade. A média nacional, no entanto, está bem abaixo dos demais países consultados pela pesquisa, de 38%. As instituições que cuidam do bem-estar de crianças são as que mais recebem ajuda dos brasileiros (56%) e das populações europeias (39%). No entanto, enquanto por aqui as organizações religiosas (24%) têm o segundo maior suporte, na Europa a posição é ocupada por entidades que realizam programas humanitários e de combate à pobreza (34%).

Dedo duro
Um dos lançamentos da Interseg, feira de tecnologia para a segurança pública, que acontece no Rio, a partir do dia 21, promete atanazar a vida de quem não se desgruda do celular. Fabricado pela brasileira Berkana, o detector de celular se aplica a muitas situações. Tanto em reuniões em que se discute planos de policiamento de grandes eventos a reuniões de CEOs, em que o sigilo é o segredo do negócio. Além de acusar a presença dos aparelhos, o equipamento ajuda a localizá-los, mesmo a grandes distâncias e em meio a outros sinais. A unidade pode ainda funcionar camuflada, deixada estrategicamente em um local durante a noite, permitindo análises posteriores.

Cabeças quentes
Os argentinos da Cuatro Cabezas, produtora do CQC, penam para conseguir, no Rio, personagens para o reality Mulheres Ricas. Nem mesmo Narciza Tamborindeguy, que já disse publicamente que gostaria de participar do programa de TV, assinou ainda o contrato. Luciana Pittigliani, Ana Paula Barbosa, Liliana Rodriguez e a empresária Ana Coutinho foram sondadas e disseram não, ou por temerem o excesso de exposição ou porque sua participação desagradaria aos respectivos maridos. O cachê é de R$ 40 mil por mês, durante três meses.

Dívida de gratidão
A embaixatriz Michelle Corrêa da Costa e a curadora de arte Maria Eugênia Stein se dedicam a construir um site para o paranormal Ronaldo Ayres. É a maneira que Michelle encontrou de agradecer ao terapeuta alternativo a grande melhora que teve do seu câncer de mama, cuja metástase já havia sido diagnosticada no hospital Sírio-Libanês, em SP. Entre os inúmeros pacientes que Ronaldo atendeu também está o economista Carlos Lessa.

À distância
Ronaldo abandonou a confecção de roupas da qual vivia quando, após ser examinado por uma junta de especialistas, na década de 80, ele próprio se convenceu de sua paranormalidade. Apesar de cobrar consultas, o terapeuta disponibiliza gratuitamente na internet a energização virtual, que, segundo ele, possibilita que os pacientes recebam os mesmos benefícios.

Carreira dupla
Com a estreia, hoje, da peça A Confissão no Teatro Leblon, o ator Sílvio Guindane – atualmente no ar como o Basílio da reprise de O Clone – realiza o quinto projeto como produtor em sociedade com Jorge de Sá, Fernando Dollabela e Beto Bardawill. A comédia dramática do americano Stephen Belber teve, curiosamente, sua estreia em Lisboa, onde ficou por um mês, graças a uma parceria da prefeitura do Rio com a câmara municipal de Lisboa. Sílvio, nos últimos cinco anos, dirigiu e produziu diversos espetáculos em Portugal.

Aberto a críticas
O STF vai abrir para a sugestão de advogados e integrantes do Ministério Público e da Advocacia da União a nova etapa de peticionamento eletrônico de processos que lança hoje, mais abrangente. Quando do lançamento da primeira fase, a plataforma de utilização foi alvo de críticas da OAB, que se disse não consultada. O ministro Cezar Peluso resolveu colocar o sistema em teste e aceitar opiniões por email.

Livre Acesso
O Itaú acaba de atingir mais de cem mil acessos em seu novo canal de investimento, via Youtube, que analisa a vida financeira dos consumidores e que foi lançado no mês passado www.itau.com.br/invista. O banco ainda lançou dois blogs, Educação Financeira e Gestor, que vieram se somar aos blogs Estrategista e Grafista no portal Investshop Itaú.

O restaurante Victoria, no Jockey, é o mais novo integrante da Associação dos Restaurantes da Boa Lembrança, fundada por Danio Braga.

O cirurgião plástico Luiz Haroldo Pereira faz palestra, hoje, sobre novas técnicas para refinamentos em lipoaspiração na 30ª Jornada Carioca de Cirurgia Plástica, no Sofitel.

O Festival Grande Otelo, que acontece na próxima semana no Centro Cultural Correios, contará com filmes imperdíveis nos quais atuou um dos mais importantes comediantes brasileiros. Dia 10, às 18h30, será exibido Macunaíma, seguido de um debate com a participação do diretor teatral Hamilton Vaz Pereira, do ator Antonio Pompeu e do jornalista Daniel Shenker.

A cantora, compositora e dançarina Patrícia Ferrer faz show amanhã, na chopperia Na Pressão, na Lapa. Ela foi por nove anos parceira de Carlinhos de Jesus e inclui no seu repertório composições próprias e de Jorge Benjor, Originais do Samba e Djavan.

Devido ao grande sucesso de público, o menu de fondues do restaurante Vip, do Windsor Barra, foi prorrogado até o dia 27.

Com Marcia Bahia, Cristiane Rodrigues, Marcia Arbache e Gabriela Brito

RENATA LO PRETE - PAINEL DA FOLHA

Básico do básico
RENATA LO PRETE
FOLHA DE SP - 04/08/11

Expoentes governistas no Congresso receiam que o Planalto não tenha captado a mensagem da movimentação que quase resultou na criação de uma CPI para investigar denúncias de corrupção no Ministério dos Transportes. "É preciso fazer a leitura correta", pondera o líder do PMDB no Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). "Há dificuldades com a gestão política."
Parlamentares com vários mandatos nas costas lembram que o Senado, de onde partiu a ameaça, foi de longe a Casa mais bem tratada por Dilma até agora. E que dali saíram as duas ministras agora à frente da rotina do Planalto: Ideli Salvatti e Gleisi Hoffmann.
Recado Um dia depois de seu embaraçoso discurso, Alfredo Nascimento recebeu telefonema de Ideli. Segundo ela, o ministro demitido dos Transportes será chamado por Dilma para conversar.

Na boa Pergunta ouvida no Congresso: se o PR não é mais "governo", mas só "Dilma", vai entregar a diretoria de engenharia de Furnas? No cargo está um indicado do partido, Mário Rogar.

Presente! Nem bem os governistas abortaram a CPI da Corrupção, o senador Álvaro Dias (PSDB-PR) já conseguiu mais de uma dezena de assinaturas para ressuscitá-la com um novo requerimento. "Agora ele vai fazer chamada todo dia", brinca um colega de oposição.

Sede de sangue No governo, há quem questione a eficácia da recém-adotada estratégia de mandar ministros ao Congresso para se explicar antes mesmo de a oposição pedir. Argumento: se para peemedebistas como Wagner Rossi (Agricultura) a blindagem é grande e pluripartidária, não se deve esperar o mesmo quando chegar a vez de um petista depor.

Endereço Nelson Jobim comprou apartamento no bairro paulistano dos Jardins. No médio prazo, o ministro da Defesa pretende fixar residência na cidade.

Fui O secretário paulistano da Educação, Alexandre Schneider, protocolou ontem pedido de desfiliação do PSDB. Ele descarta ingressar de imediato em outro partido, mas, segundo aliados, poderá vir a fazê-lo antes de outubro, a tempo de participar das eleições de 2012.

Memória Em 2008, Schneider foi um dos tucanos do primeiro escalão municipal a apoiar a reeleição de Gilberto Kassab, que venceu Geraldo Alckmin. Antes, havia trabalhado na gestão de José Serra e no governo de Mario Covas. Estava no PSDB desde o início dos anos 90.

Toma lá... O governo paulista decidiu inverter as etapas do monotrilho do ABC. Vai antecipar a compra dos trens e da sinalização, que equivalem a 30% do custo total de R$ 3,1 bilhões. E somente num segundo momento fará o projeto executivo da obra. Em consórcio com empreiteiras brasileiras, Bombardier, Hitachi e Scomi já manifestaram interesse.

...dá cá Para lançar o edital, pleito histórico de São Bernardo do Campo, administrada pelo petista Luiz Marinho, Geraldo Alckmin (PSDB) aguarda a inclusão formal do projeto no PAC da Mobilidade Urbana.

Emoções Dudu Braga se filia ao PTB no sábado. O filho de Roberto Carlos disputará vaga de vereador em SP.

#prontofalei Do peemedebista Geddel Vieira Lima, sobre a vaga de ministro do TCU cobiçada por deputados dos mais variados partidos: "O PMDB tem postulante. Espero que o líder Henrique Alves respeite isso".
com LETÍCIA SANDER e FÁBIO ZAMBELI

tiroteio

"A expressão 'assinar embaixo' virou letra morta no Congresso. Em vez de caneta, os parlamentares deveriam usar lápis para subscrever CPIs. Fica fácil apagar depois."
DO DEPUTADO CHICO ALENCAR (PSOL-RJ), sobre os senadores que assinaram o pedido de CPI da Corrupção e mais tarde, pressionados pelo governo, recuaram.

contraponto

Hora extra


No encerramento da manifestação promovida pelas centrais sindicais em São Paulo, Netinho de Paula (PC do B) subiu ao palanque, discursou pela redução da jornada e cantou "Gente da Gente", cujos versos tratam do cotidiano do trabalhador na periferia.
Em seguida, o deputado Paulinho da Força (PDT), que busca alianças para a eleição municipal, brincou:
-As 40 horas semanais só não valerão pra gente no ano que vem... Podem escrever: eu e este negão vamos ter muito trabalho, juntos, em 2012.

GOSTOSA

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO

Empresa paranaense investe R$ 200 mi em logística
MARIA CRISTINA FRIAS
FOLHA DE SP - 04/08/11

A paranaense Capital Realty, que constrói e depois aluga condomínios logísticos, centros de distribuição e imóveis sob medida, investe R$ 200 milhões em dois empreendimentos.
Em outubro, começam as obras de um condomínio logístico de 130 mil m2 de área construída em Curitiba (PR).
Com posto de combustível, lojas de conveniência e serviços, como borracharia e autoelétrico, o empreendimento vai receber R$ 160 milhões.
"O modelo de condomínios, usado com muito mais frequência no exterior, está crescendo no Brasil", afirma Rodrigo Demeterco, presidente da companhia.
A empresa também vai ampliar o condomínio logístico de Itajaí (SC), dos atuais 30 mil m2 para 54 mil, com investimento de R$ 40 milhões.
"A localização nos permite atender tanto o porto de Itajaí como o de Navegantes, regiões onde as importações têm tido forte expansão", diz.
Os investimentos serão feitos com recursos próprios, cerca de 30%, e com financiamento, segundo a empresa.
Em fase de projeto, a Capital Realty planeja ainda para este ano a construção de outro condomínio no Rio Grande do Sul, que deverá receber aporte de R$ 150 milhões.
"Com o avanço do consumo no país, a demanda por espaço de armazenagem cresceu. Antes, alguns mercados eram abastecidos só por caminhões. Hoje, é preciso um centro de distribuição. Grandes operadores logísticos mundiais passaram a operar no Brasil", diz Demeterco.

Financiamento de imóvel usado cresce 14% em São Paulo

O número de imóveis usados vendidos por meio de financiamento bancário cresceu 14% em São Paulo no primeiro semestre deste ano, ante igual período de 2010, de acordo com estudo da Lello.
Nos seis primeiros meses de 2011, 48% das casas e apartamentos comercializados na cidade foram comprados dessa maneira.
No mesmo período do ano passado, o crédito bancário era responsável por 42% das vendas do setor.
Entre os imóveis comprados para fins residenciais, 72% eram apartamentos.
As negociações têm reduzido em até 7% o preço final de compra do imóvel, de acordo com a pesquisa.
Em junho, porém, as vendas de imóveis usados caíram pelo terceiro mês consecutivo na capital paulista, segundo o Creci-SP (Conselho Regional de Corretores de Imóveis do Estado de São Paulo).
Entre maio e junho deste ano, a queda foi de 31%.

Vestido A Daslu, que foi vendida ao fundo Laep em fevereiro, abre novo canal de vendas. Terá um e-commerce para atender clientes do país todo, com estimativa de vendas de 10% do volume das lojas físicas. Sob novo comando, a empresa tem mais planos estratégicos para este ano.

Especialização A HSM Educação acaba de fechar parceria com o Mackenzie para oferecer cursos de educação executiva, como MBA. O acordo prevê aulas nas unidades de Campinas e Alphaville. A HSM pretende fechar convênios com mais oito faculdades até o final deste ano.

VEÍCULO ROUBADO
São Paulo lidera o ranking de recuperação de veículos nos últimos dez anos, com 10.353 unidades, mais da metade do total do país, segundo a empresa de rastreamento Tracker do Brasil.
Rio vem em segundo (4.270), seguido de Rio Grande do Sul (1.830), Paraná e Minas. Nas recuperações fora do país, o Paraguai lidera com Assunção, Salto de Guaira e Pedro Juan Caballero em destaque. Depois vem a Argentina, com Buenos Aires.

BTG na... O BTG Pactual vai se reunir com o Citic, um dos mais importantes bancos de investimentos na China, em um fórum, que será fechado para convidados, hoje em Pequim. Serão discutidas oportunidades de investimentos no mercado brasileiro.

...China Participam o economista-chefe do BTG Pactual, Eduardo Loyo, Carlos Sequeira, estrategista para o Brasil, Edmo Chagas, analista-chefe de matérias-primas, e Luiz Medina, responsável pela divisão de agricultura na área de "investment banking".

Latinos A Exceda, de tecnologia da informação, abriu escritórios na Argentina e no Chile. No primeiro trimestre de 2012, serão abertas unidades na Colômbia e no Peru. As novas operações na América Latina devem contribuir com 15% para a receita do ano que vem.

LUZ E SOMBRA
O aumento da realização de grandes eventos no país aqueceu o mercado de megaprojeções, segundo a produtora Visualfarm, cujo faturamento cresceu 80% no ano passado.
A empresa, que participou de aberturas dos Jogos Mundiais Militares, em julho, no Rio de Janeiro, e da Virada Cultural, em São Paulo, também registrou alta na demanda por eventos particulares.
Marketing promocional, com projeções sobre produtos em pontos de vendas, também estão em evolução.

com JOANA CUNHA, ALESSANDRA KIANEK e VITOR SION

ALBERTO TAMER - Sai dívida e entra recessão

Sai dívida e entra recessão

ALBERTO TAMER
O ESTADÃO - 04/08/11

A crise não veio, mas foi apenas adiada. O alívio foi substituído ontem no mercado financeiro internacional pelo risco de recessão. Ninguém acreditou na solução temporária do Congresso americano, onde os republicanos ultraconservadores e os radicais reacionários do Tea Party venceram. Todos os outros perderam. O Brasil também.

Perdemos a chance de encontrar mercado nos Estados Unidos e enfrentamos o risco de ter uma nova inundação de dólares jogados no mercado pelo banco central americano. Só em julho, US$ 15,8 bilhões, agora aumentados pelo superávit comercial decorrente dos preços das exportações de commodities. O BC informa que eles recuam, mas permanecem altos.

A entrada de dólares por esse mercado, ao lado da atração dos juros, está relacionada com a valorização do real que o governo tenta conter. São dólares que aumentam as reservas que acabam sendo aplicadas em títulos americanos - os Estados Unidos venderam para o Brasil, China, Japão, Grã-Bretanha e outros aplicadores externos nada menos que US$ 73 bilhões na semana do auge da crise da dívida.

O acordo com o Congresso permite rolar a dívida, mas provoca o dano profundo que impede o governo dos EUA de utilizar a única arma de que dispunha para tirar a economia da recessão.

Recessão. Será? Até agora apenas alguns economistas menos expressivos alertavam para esse risco. Ontem, foi Lawrence Summers, ex-secretário do Tesouro do EUA, que fez um belo trabalho no governo Clinton, e presidente emérito da Universidade de Harvard. Para ele, o risco é de 30%. O professor Martin Feldman admite 50%, refletindo o pensamento de muitos. Outros não chegam a ser tão negativos, mas todos concordam que a economia americana não se recupera este ano.

Ontem, foram divulgados mais indicadores negativos. Agora, recuo também na área de serviços. Amanhã saem os números da criação de emprego. As previsões do mercado são sombrias, não se espera mais de 85 mil contratações. Foram 18 mil em junho.

As bolsas despencaram na terça-feira, com maiores perdas sucessivas em uma semana desde outubro de 2008, reagiram um pouco ontem. Novas tensões na Itália e na Espanha agravaram um cenário que se arrasta há meses, jogando para diante soluções difíceis. Tudo foi adiado na Europa, que não deve crescer mais de 1%, e nos Estados Unidos onde previsões até do banco central americano recuam a cada semana.

Crescer 2,7%? A última estimativa do Fed era que o PIB deve crescer entre 2,7% e 2,9% este ano. Vai dar? Não. Para isso, o crescimento teria de ser 3.3% nos próximos dois trimestres. No último foi 1,3%. Impossível nas circunstâncias atuais com um governo amordaçado, uma política monetária restritiva ao extremo e um mercado interno e externo retraído. Retraído, não, afundando.

Ondas, não tsunamis. No Brasil, o que se espera é mais instabilidade e recessão lá fora, mas não tsunamis derrubando fronteiras. Vão ser meses de tensões e inquietude, em que a ordem é baixar a cabeça, olhar para dentro, fortalecer reservas e administrar a enxurrada de dólares que, por mais que se faça, continuarão entrando.

O presidente do BC, Alexandre Tombini, afirmou que as reservas de US$ 343 bilhões representam uma defesa segura contra crises externas. Há também o que ele classificou de "vigoroso mercado interno", que continua forte, mesmo crescendo menos devido às medidas para conter a inflação. O desafio das contas externas está circunscrito com aumento do superávit da balança comercial, petróleo, minério e commodities agrícolas, alimentos, que ninguém pode deixar de importar.

Mesmo assim, tempos ruins estão por vir, com economistas respeitáveis alertando para os riscos crescentes de recessão nos Estados Unidos Europa e Japão, que representam quase 60% do PIB mundial.

O Brasil não pode contar nem com eles nem com o mercado financeiro internacional. Só com consigo mesmo. Eles não devem sair tão cedo do clima de recessão.

CELSO MING - Paradeira global

Paradeira global

Celso Ming 
O Estado de S.Paulo

Quem esperava por imediata recuperação da economia global vai perdendo a esperança. A crise é mais ampla e mais profunda. Já começa a ficar mais claro que está em curso uma grande paradeira da qual a economia mundial não sairá tão cedo.

Esta não é puramente uma recessão, quando apenas se amontoam os estoques e cresce o desemprego, mas que, em meses, se resolve. O tão difícil acordo político obtido nos Estados Unidos garantiu somente o aumento da dívida do Tesouro, não sua sustentabilidade. Ao contrário, a situação fiscal americana está em franca deterioração. E o mesmo se pode dizer de um punhado de países do bloco do euro.

Em artigo publicado dia 2, o ex-economista-chefe do Fundo Monetário Internacional Kenneth Rogoff (leia na página B9) advertiu que a saída quase inevitavelmente exigirá transferências de riqueza dos credores para os devedores. E isso poderá acontecer por meio ou de calotes; ou de desvalorização da moeda do devedor; ou de inflação. E, desta vez, o Brasil é credor. Suas reservas já perdem substância diante da forte desvalorização do dólar e do euro.

É também o que explica a quase exasperação com que a China vem advertindo para os riscos de calote dos títulos do Tesouro americano, dos quais é credora em US$ 1,2 trilhão.

O impacto da Grande Depressão dos anos 30 não se limitou aos países ricos. Foi uma crise mundial. Mas naqueles tempos, as finanças não estavam tão globalizadas como hoje. Isso significa que seus efeitos agora serão mais rapidamente disseminados, sem que isso garanta recuperação também mais veloz.

Uma forte transferência de riqueza dos credores para os devedores implicaria muita coisa e não só a ameaça de guerras comerciais e o aumento do desemprego. Elevaria o risco de naufrágio de um grande número de bancos, especialmente nos países ricos. Levaria a provável enfraquecimento dos fundos de pensão que, só nos Estados Unidos, têm ativos de mais de US$ 8 trilhões. E, pela escassez de recursos públicos, apontaria para a redução da capacidade de intervenção dos Estados e certo esvaziamento de programas sociais. A disputa por fatias de um bolo global, que diminuiria, teria desdobramentos políticos. Não há como prevê-los.

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, avisou ontem que o Brasil terá de estender um cordão de isolamento. Ele não está prevendo somente ataques predatórios ao mercado interno, mas, principalmente, o assédio dos capitais que procurarão porto seguro no Brasil. Cordões de isolamento não servem para barrar a entrada de capitais, principalmente se o governo continuar insistindo em providências pouco práticas e de baixa eficácia, como as últimas restrições impostas ao mercado de derivativos de câmbio.

Até mesmo o ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel, que assumiu em janeiro prometendo imediata virada do jogo, parece disposto a jogar a toalha. Advertiu que "o Brasil entrou no clube das moedas valorizadas" e que o produtor tem de se acostumar com a ideia de que "o câmbio mudou de patamar".

A melhor maneira de fortalecer o setor produtivo nacional é derrubar vigorosamente o custo Brasil (alta carga tributária, juros extorsivos, má infraestrutura, energia cara e excessiva burocracia). Mas o que acaba de sair é essa política industrial decepcionante, ironicamente denominada Plano Brasil Maior.

CONFIRA

Mais para o BNDES

Apesar das críticas do Banco Central à excessiva distribuição de subsídios creditícios, o ministro Fernando Pimentel está anunciando nova bolada do Tesouro para o BNDES. Essa transfusão não é ruim somente por praticar juros artificialmente baixos, que exigem juros ainda mais altos do resto da economia. É ruim por criar recursos fiscais não previstos no Orçamento.

VINÍCIUS TORRES FREIRE - Impostos e perfumarias

Impostos e perfumarias
VINICIUS TORRES FREIRE
FOLHA DE SP - 04/08/11
Como não consegue baixar valor do real, governo reduz impostos de alguns setores, mas vai aumentar outros

A POLÍTICA industrial vai abrir alguns buracos nas contas do governo, pois houve redução de impostos para alguns tipos de empresa.
O governo não tem sobra de caixa, pelo contrário. Acha que vai recolher mais dinheiro com as cobranças várias de IOF sobre entradas de capital externo, cartão de crédito e derivativos cambiais etc.
Mas não pretende recolher dinheiro apenas com o IOF.
O imposto sobre a venda de cigarros vai aumentar, como já se sabe, o que não deve adiantar muito. O alto imposto atual já alimenta o contrabando e contém o consumo. Um aumento adicional da taxação não deve ajudar a receita.
Mas também devem subir as alíquotas de impostos sobre alguns "bens de luxo" ou "de vício", como dizia ontem um integrante do governo. Pode aumentar a taxação sobre bebidas, perfumes e "importações supérfluas" (que são de escasso valor, aliás, e, portanto, não devem render grande coisa ao Tesouro).
Essas medidas de remendo da arrecadação são consequência do grande remendão que é o grosso da política industrial do governo, na verdade uma política de proteção comercial e uma enfermaria para empresas prejudicadas pelo real forte e por "dumpings" chineses.
Mas vai ter para todo mundo? Todos os setores prejudicados vão receber isenções de impostos? Até onde o governo pode ir nas isenções sem esburacar ainda mais suas contas? Deficit prejudicam o combate à inflação, o que demanda juros altos, o que ajuda a valorizar o real, justamente o que o governo quer combater com a política industrial.
As montadoras de carros vão ganhar uma isenção de IPI, Imposto sobre Produtos Industrializados.
Os exportadores de manufaturados vão levar um baita desconto de imposto, calculado sobre o faturamento das vendas no exterior.
Na semana que vem, o governo anuncia que mais pequenas e médias empresas vão poder aderir ao Simples (ou Simples Legal, sabe-se lá o nome de fantasia que virá).
Isto é, vai aumentar o teto de faturamento que permite às firmas pequenas aderir a um regime de tributação mais leve.
O que se passa? Como o governo não consegue desvalorizar o real (o que aumentaria a renda de exportadores), baixa impostos para elevar a receita das empresas.
Como o governo mal se dedica a melhorar o "ambiente de negócios", a infraestrutura e tudo mais que prejudica a empresa brasileira, reduz impostos ali e aqui. Ganham os setores com mais amigos e os mais estropiados pela competição externa.

A ITÁLIA VAI QUEBRAR?
A renda americana não cresce, o consumo não cresce, as encomendas das fábricas e do setor de serviços não crescem (na opinião dos departamentos de compras das empresas) e o emprego no setor privado não cresce o bastante para reduzir o desemprego de 9,2%.
Soubemos disso tudo nesta semana, o bastante para levar as previsões de crescimento dos EUA deste ano da casa de 2,5% para o degrau escorregadio de 1,5% -é de onde se pode deslizar para a recessão.
Mas o boato terrorista da praça é mesmo a Itália, "que pode quebrar em setembro". Pode ser cascata especulativa. Mas a Grécia, decerto em situação muito pior, começou a acabar assim, no final de 2009.