Impostos e perfumarias
VINICIUS TORRES FREIRE
FOLHA DE SP - 04/08/11
Como não consegue baixar valor do real, governo reduz impostos de alguns setores, mas vai aumentar outrosA POLÍTICA industrial vai abrir alguns buracos nas contas do governo, pois houve redução de impostos para alguns tipos de empresa.
O governo não tem sobra de caixa, pelo contrário. Acha que vai recolher mais dinheiro com as cobranças várias de IOF sobre entradas de capital externo, cartão de crédito e derivativos cambiais etc.
Mas não pretende recolher dinheiro apenas com o IOF.
O imposto sobre a venda de cigarros vai aumentar, como já se sabe, o que não deve adiantar muito. O alto imposto atual já alimenta o contrabando e contém o consumo. Um aumento adicional da taxação não deve ajudar a receita.
Mas também devem subir as alíquotas de impostos sobre alguns "bens de luxo" ou "de vício", como dizia ontem um integrante do governo. Pode aumentar a taxação sobre bebidas, perfumes e "importações supérfluas" (que são de escasso valor, aliás, e, portanto, não devem render grande coisa ao Tesouro).
Essas medidas de remendo da arrecadação são consequência do grande remendão que é o grosso da política industrial do governo, na verdade uma política de proteção comercial e uma enfermaria para empresas prejudicadas pelo real forte e por "dumpings" chineses.
Mas vai ter para todo mundo? Todos os setores prejudicados vão receber isenções de impostos? Até onde o governo pode ir nas isenções sem esburacar ainda mais suas contas? Deficit prejudicam o combate à inflação, o que demanda juros altos, o que ajuda a valorizar o real, justamente o que o governo quer combater com a política industrial.
As montadoras de carros vão ganhar uma isenção de IPI, Imposto sobre Produtos Industrializados.
Os exportadores de manufaturados vão levar um baita desconto de imposto, calculado sobre o faturamento das vendas no exterior.
Na semana que vem, o governo anuncia que mais pequenas e médias empresas vão poder aderir ao Simples (ou Simples Legal, sabe-se lá o nome de fantasia que virá).
Isto é, vai aumentar o teto de faturamento que permite às firmas pequenas aderir a um regime de tributação mais leve.
O que se passa? Como o governo não consegue desvalorizar o real (o que aumentaria a renda de exportadores), baixa impostos para elevar a receita das empresas.
Como o governo mal se dedica a melhorar o "ambiente de negócios", a infraestrutura e tudo mais que prejudica a empresa brasileira, reduz impostos ali e aqui. Ganham os setores com mais amigos e os mais estropiados pela competição externa.
A ITÁLIA VAI QUEBRAR?
A renda americana não cresce, o consumo não cresce, as encomendas das fábricas e do setor de serviços não crescem (na opinião dos departamentos de compras das empresas) e o emprego no setor privado não cresce o bastante para reduzir o desemprego de 9,2%.
Soubemos disso tudo nesta semana, o bastante para levar as previsões de crescimento dos EUA deste ano da casa de 2,5% para o degrau escorregadio de 1,5% -é de onde se pode deslizar para a recessão.
Mas o boato terrorista da praça é mesmo a Itália, "que pode quebrar em setembro". Pode ser cascata especulativa. Mas a Grécia, decerto em situação muito pior, começou a acabar assim, no final de 2009.
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