domingo, janeiro 02, 2011

JOÃO UBALDO RIBEIRO

Falando no celular

JOÃO UBALDO RIBEIRO
O GLOBO - 02/01/11
Meu avô itaparicano, o coronel Ubaldo Osório, jamais tocou em nada elétrico.
Relutou em instalar energia elétrica em casa e, quando queria acender uma lâmpada, requisitava alguém para acionar o interruptor (também chamado, de “xuíte”, pronúncia local do inglês “switch”) e mantinha distância. Meu pai, genro dele, que adorava novidades tecnológicas, comprou um aparelho de barbear elétrico e o velho se recusava a entrar no banheiro enquanto aquele instrumento demoníaco estivesse lá dentro, ligado na tomada. E comunicou a sério que, se alguém se ensaiasse para encostá-lo na cara dele, reagiria à bala. Quando surgiu a televisão e quiseram que ele assistisse, deu para se retirar da sala assim que alguém a ligava.
— Mas, coronel, o senhor vai gostar, aparece gente se mexendo e falando.
— Sei, sei, creio muito — respondia ele, já se levantando e olhando para outro lado. — Um dia destes, eu
vejo.
Nunca viu, é claro.

Fico imaginando se não saí um pouco a ele. Devo ter saído, porque, apesar de não sentir medo de acionar xuítes e usar um computador para escrever, sempre encontrei uma certa dificuldade em assimilar novidades técnicas. Além disso, parece que tenho um talento especial para ler a respeito de calamidades de que os outros nunca ouviram falar. Por exemplo, li não sei onde que a ideia do forno de microondas surgiu quando a Marinha americana descobriu que o operador de um equipamento do qual vazavam micro-ondas teve seu diafragma cozido e só não morreu graças a não sei quantas operações e a um tratamento especializadíssimo. Certamente há algo de verdadeiro nessa história, pois o forno de micro-ondas tem porta de segurança porque funciona agitando as moléculas de água presentes nos corpos expostos a elas. Ou seja, considerando-se que o corpo humano tem mais de 70 por cento de água, aquele que se expuser a microondas ficará em pior estado que um sarapatel dormido. Até hoje, como meu avô com a televisão, prefiro sair da cozinha quando ligam o micro-ondas e ajo como os dentistas, que pulam lá para dentro quando fazem uma radiografia. Quem quiser que permaneça por perto, tendo seu diafragma cozinhado, eu espero na sala e não confio nos apitinhos do forno.

Quanto a telefones, contudo, eu me achava bem diferente de meu avô. Não faço como ele, que, quando não tinha jeito e precisava falar no telefone, mantinha o aparelho afastado da cara, alimentando a convicção expressa de que ele explodiria a qualquer momento. Eu também acho que vai explodir, mas falo com tranquilidade, fiado no destino. Entretanto, sou obrigado a reconhecer meu reacionarismo em matéria de celular, pois sou a única pessoa que conheço que não tem um.

Não estou seguro de que sobreviverei dessa forma muito tempo. O número do celular está começando a ficar tão universal que daqui a pouco será como o CPF, hoje exigido até para se tomar um cafezinho. O sujeito que confessa não ter celular é visto como um anormal certamente perigoso. Outro dia, uma repórter me telefonou e me deu essa impressão.

Ela queria fazer uma matéria sobre gente que não tinha celular e não achava ninguém, até que lhe disseram, para sua grande incredulidade, que eu devia ser o último habitante da cidade a não ter um celular. A sensação que me deu, depois da conversa, foi que ela desligou me achando muito estranho e resolvida a, se bater comigo na rua, me evitar como se evita um maluco capaz de qualquer coisa.
Mas, ao contrário do que ela certamente ficou pensando, não tenho ódio ao celular. Simplesmente acho que não preciso dele, como não precisei até hoje. Além disso, ele às vezes me deixa nervoso, por desencadear fenômenos para mim inexplicáveis e, às vezes, um pouco inquietantes.

Por exemplo, por que, assim que o avião para na pista de aterrissagem, todos os passageiros têm a necessidade imediata de falar no celular?

Não dá para esperar nem entrar naquele canudo de aeroporto, porque o pessoal vai tirando a maleta do
porta-bagagem e com a outra mão ligando o celular.

Creio que dava para algum sociólogo fazer um trabalho sobre o assunto.

Não seria descabida a tese de que o povo brasileiro padece de uma ancestral carência telefônica, causada pelo tempo em que, para ter um telefone em casa, o sujeito precisava torrar a poupança, tomar
financiamento a longo prazo e arrumar um pistolão. Claro que essa conversa de que é para ganhar tempo não tem a menor correspondência na realidade. Para começar, diversos amigos meus passam tanto
tempo mexendo com os recursos do celular para ganhar tempo, que não têm mais tempo para nada.

O tempo necessário para aprender a usar recursos para economizar tempo é tanto que lhes toma todas as horas, livres e não livres, e um deles, que é m e i o obsessivo - compulsivo, descobriu que seu celular tem não sei quantos bagulhos para vender em suas mil lojas virtuais e não descansará enquanto não se inteirar de todos, item por item.

Continuo a resistir, mas receio que a luta está perdida. Até porque, como venho descobrindo, não é preciso ter celular para usá-lo. Há muito tempo não permaneço em lugar público nenhum sem ouvir conversas em celulares alheios, algumas das quais dão vontade no ouvinte de pedir que não o envolvam naquela confusão. Já estive em cabines de elevador cheias onde parecia haver uma assembleia de papagaios, com todo mundo falando ao celular. Já vi gente conversando pelo celular dentro do mesmo restaurante.
Talvez o celular venha a substituir todas as outras formas de comunicação, quem sabe? Espero que haja mercado para redatores de torpedos, vou me qualificar.


JOÃO UBALDO RIBEIRO é escritor.

DORA KRAMER

Amplo, geral e restrito
Dora Kramer
O ESTADO DE S. PAULO - 02/01/11

Discursos de posse podem ser meramente cerimoniosos ou podem servir para que o estreante imprima sua marca pessoal, lance uma ideia, provoque algum impacto, potencialize a expectativa gerada pelo início de um novo governo.

A presidente Dilma Rousseff ficou com a primeira hipótese. Referiu-se à ousadia do brasileiro em eleger a primeira mulher depois de ter levado o primeiro operário à Presidência do Brasil, mas não retribuiu esse arrojo em seu pronunciamento perante o Congresso Nacional.

Ficou na generalidade, falou de tudo um pouco, até onde deu para perceber não deixou de citar nenhum assunto: reformas política e tributária, crescimento, estabilidade econômica, agricultura, exportação, industrialização, investimento público, melhoria da qualidade do gasto público, ciência, tecnologia, meio ambiente, programas sociais, erradicação da miséria, segurança, saúde, educação, política externa, pré-sal, liberdades democráticas, cultura e combate à corrupção.

Um cardápio amplo, genérico e restrito aos temas mais óbvios. Um discurso correto, mas sem peculiaridade alguma que nos permitisse enxergar para além da formalidade. Dilma discursou na condição de presidente mais ou menos como se conduziu como candidata e depois se comportou na composição do ministério: sem resplandecência, como quem cumpre um dever.

Se vier a cumpri-lo com correção e levando em conta os valores que mencionou em um dos únicos momentos menos burocráticos do discurso, já será um avanço. Dilma prometeu se reger por princípios como justiça social, criatividade, conhecimento e moralidade, os dois últimos bastante desprezados nos últimos anos.

A presidente teve também outros dois bons momentos: no início, quando falou da "falsa leveza da seda verde e amarela" da faixa presidencial, e ao final quando, emocionada, prometeu ser rígida contra transgressões, assegurou não ter "compromisso com o malfeito", declarou-se desprovida de rancor e ressentimentos e, convidando a oposição ao diálogo, curvou-se à evidência de que é presidente de todos os brasileiros. E chorou.

Transpareceu franqueza e vontade genuína de, sem dizer, acertar onde Lula mais errou. Que assim seja.

A propósito. Melhor frase de Dilma no discurso do Parlatório: "Respeitarei a crítica, pois é o embate civilizado que move as democracias."

Síntese. A última decisão do presidente Luiz Inácio da Silva, a negativa da extradição de Cesare Battisti, condenado por quatro homicídios na Itália, estava tomada havia quase um ano.

O governo brasileiro nunca pretendeu atender ao governo italiano, que sabe disso há seis meses porque o próprio Lula informou a Silvio Berlusconi.

O primeiro-ministro concordou e inclusive assegurou que não faria pressão durante a campanha eleitoral, mas pediu que na justificativa da decisão o Brasil de forma alguma desse a entender que Battisti poderia correr o risco de ser alvo de atos discricionários por parte do Estado italiano, uma democracia.

Pois com palavras floreadas foi exatamente o que acabou fazendo a Advocacia-Geral da União em seu parecer pela negativa da extradição sob a justificativa de que a situação de Battisti poderia sofrer "agravamento" se fosse devolvido ao país de origem, devido a pressões da opinião pública.

Ora, o único "risco" existente é o do cumprimento da pena de prisão perpétua. A alegada "suposição" de agravamento da situação configura exatamente a acusação velada de que a Itália poderia agir fora dos limites legais. Daí a reação dura dos italianos.

Irritou também a demonstração de esperteza tosca de deixar o anúncio para a 25.ª hora, quando Lula já estaria fora de cena e, portanto, longe do centro da circunstância adversa.

Como fez durante os oito anos de governo. O ato final sintetizou o padrão de conduta.

CAETANO VELOSO

Narciso acha feio

CAETANO VELOSO
O GLOBO - 02/01/11
Doce ilusão crer que eu leria tudo o que escrevi nesta coluna desde que, por receber o convite via Antonia Pellegrino e ser aconselhado por Paula Lavigne (além do gosto teimoso de aparecer em publicação carioca), aceitei fazer o que evitava havia anos: escrever regularmente em jornal. (Se engana quem pensa que sou um completo neófito: escrevi para o “Pasquim” por mais tempo do que estou no GLOBO, e fui crítico de cinema do “Archote” e do “Diário de Notícias”.) Não li nada.
Prometi sinceramente fazê-lo, mas a vida é enrolada. Vim para Salvador e logo queria, em vez de criticar tudo o que escrevi aqui, rever só o que disse sobre o Pelourinho e o governo petista.
Quero bem a todos os envolvidos e sou um típico brasileiro cordial de Sérgio Buarque, parecido com os argentinos que Borges contrasta com os americanos do Norte num artigo dos anos 30.

Planejei conversar outra vez com Clarindo, dono da Cantina da Lua, que foi quem, involuntariamente, me induziu a escrever meu artigo de estreia. Mas uma gripe terrível me prendeu em casa. Janeiro vai entrar e nem tomei sol. Tenho show para fazer em Fortaleza e não sei quão mal poderei cantar. Não tive febre.
No voo do Rio para aqui minha cabeça fechou-se num cofre onde os sons e as percepções do espaço não acham por onde entrar. Fui a Cabuçu ver minha mãe na noite de Natal, com meus filhos e meus netos, sem saber se aguentaria.
Passei o resto dos dias lutando (com água, repouso e, finalmente, antibiótico) contra essa gripe. Ontem à noite me dei conta de que teria de escrever hoje: amanhã voo para Fortaleza, e o prazo nas festas é mais apertado. Se eu fosse um cronista, esta seria minha primeira crônica sobre a falta de assunto, um clássico obrigatório no gênero

Mas não sinto este texto muito diferente dos que tenho escrito.Nunca releio meus artigos.Lembro que todos parecem compostos sem uma decisão temática prévia. São erráticos. A única coisa que posso prometer a quem me leia é que tentarei ser mais “focado” no ano que vem. E ele já vem. Tenho de aprender rápido. A vida não deixa. Na sala de espera da emergência um senhor idoso explicava muito triste e firme ao atendente por que não tinha documentos da filha que fora assaltada: os ladrões os tinham levado, mas ele tinha algo (uma certidão) que provava que ela era ela. Eu tenho lido sobre o aumento da criminalidade em Salvador (os jornais vêm dizendo há anos que o crime, com homicídios como centro das pesquisas, vem caindo consistentemente no Rio e, sobretudo, em São Paulo — e há avanços da segurança pública em Belo Horizonte e no Recife: Salvador vem assistindo a uma escalada da violência). O médico me pediu exames do tórax e da face. Tudo bem. Antibiótico. Corticoide. Eu, fraco, pensando naquele senhor amargurado e digno cuja filha sofrera uma agressão — e nas estatísticas.

Ontem à noite, quis mostrar a cidade ao amigo de meu filho de 13 anos. Farol da Barra (com um carro da polícia com as luzes piscando e os faróis acesos parado à entrada, uma mulher policial militar muito amável nos dizendo que podíamos sim arrodear o forte, contanto que não pisássemos na grama: ela parecia em dúvida quanto a tudo isso). Pelourinho numa terça (eu tinha me esquecido de que era terça) é carnaval.
Terminamos indo tentar um suco no largo da Mariquita, no Rio Vermelho. Uma menina que parecia ter 8 anos (ela tinha 12) vendia balas numa caixinha. Com o dinheiro que ganhara, sentou-se sozinha na mesa ao lado e pediu um açaí. Puxamos conversa. Mora na Suburbana, extremo oposto da cidade. Vem todos
os dias às 4 da tarde. Volta de ônibus à duas da manhã, para na Estação da Lapa, espera o das 3 e meia. Contou vários assassinatos de bandidos por policiais que presenciou, com muita objetividade e sem drama. Vive com a mãe e mais oito irmãs. A mais nova tem 4 meses. A mais velha, de 15, tem um filho de 9 meses.
Uma freguesa passa para o banheiro e diz à menina que eu sou cantor famoso.
Não nego. Na volta, a freguesa responde com “Sozinho” e “Lisbela e o prisioneiro” à pergunta sobre o que é que eu canto. A menina diz que em casa tem o CD de “Lisbela”. Só põe para tocar quando a mãe está triste. A mãe tem 32 anos (“Ela é muito mais bonita do que eu”). Português excelente. “Atrás da minha casa tem uma boca de fumo. Uma vez eles mataram um dentro da minha casa. Tem que melhorar. O rapaz que lhe pediu dinheiro estava mentindo: ele vai comprar é droga. A culpa não é tanto de quem toma droga: é mais de quem vende droga.”


Eu tinha batido na frente de um carro ao manobrar para estacionar. O dono veio ver e, pouca coisa, não queria que eu me obrigasse a nada. Mas insisti em que me desse seu número para eu ligar hoje. Pus a tira mínima de papel com o número que ele me deu no bolso. Acordei pensando nisso. Ele se chama Isac Toucinho. Meu filho e eu ficamos sem saber se Toucinho seria sobrenome ou um apelido. O rapaz poderia ser meu colega. Ornavam suas orelhas brincos cujas gemas eram o vazio rodeado por aros perfeitamente circulares. Não achei o papel hoje. Fiquei irado. Meu filho também.
Não havia como perder. Não entendemos. De modo que não dá para dizer quão boa achei a entrevista de Lula, a carta psicografada de Roosevelt por Gaspari e a crítica da capilarização da publicidade do governo Lula (que é marota e vira chantagem) por Fernando Rodrigues, na “Folha de S. Paulo”.
Muito menos para tentar me redimir com autorreleituras

GOSTOSA

DANUZA LEÃO

Episódio natalino
DANUZA LEÃO
FOLHA DE SÃO PAULO - 02/01/11

Para que um conto do vigário se concretize, é preciso que a vítima queira se aproveitar do outro


APRENDI ISSO AGORA: se alguém, na rua, se dirigir a você para pedir uma informação sobre seja lá o que for, não pare. Não pare, não olhe, aperte o passo e vá em frente. Pode ser o chamado "conto do vigário", aquele que aparecia nos jornais há séculos e que continua acontecendo. Aconteceu comigo dois dias antes do Natal.
Eram 11h30 da manhã, eu passava por uma rua movimentada de Ipanema, quando um senhor, modestamente vestido, me parou para perguntar se eu sabia onde era determinada loja.
Eu disse que não sabia, ele começou a contar sua história: era comerciante em Maricá, tinha vindo de ônibus, tomado um táxi na rodoviária e não encontrava a rua da tal loja. Perguntei se não tinha um endereço escrito, ele tirou um papelzinho do bolso da camisa e me mostrou; nunca tinha ouvido falar daquela rua.
E veio a história; recebeu telefonema de uma pessoa de quem comprava mercadorias para seu comércio há três anos, dizendo que viesse ao Rio para receber uns brindes de Natal, uma panela de pressão e uma bicicleta; ele não conhecia a cidade, estava perdido.
Sugeri que se informasse com um motorista de táxi, e nessa hora apareceu o "colega" e entrou na conversa. Perguntou se podia ajudar, o senhor tirou de novo o papel do bolso da camisa, e junto veio uma nota de 100 e outra de 20. O colega logo aconselhou que tivesse cuidado com seu dinheiro, pois poderia ser roubado. Não pensei, mas em algum lugar da minha cabeça devo ter achado "ainda existem pessoas de bem".
O velhinho contou toda a história de novo e acrescentou: além dos brindes, ia receber R$ 30 mil.
Mas como? Ele mostrou outro papel, um talão da Mega Sena, e a conversa foi indo. Contou que, como não sabia ler nem escrever, não podia ter conta em banco, por isso pediu que a pessoa depositasse na conta de sua mãe, mas que não foi possível, pois a partir dos 60 o limite para depósito é R$ 10 mil.
O colega disse que não era verdade, era um absurdo, e pediu minha confirmação; eu confirmei, disse que isso não existia, e ele imediatamente perguntou se eu tinha conta em banco. Ingenuamente eu disse que sim; o parceiro continuou a conversa, contou que sua mãe havia acabado de vender seu apartamento por R$ 2 milhões e tinha depositado no banco X, e me perguntou "é lá que você tem conta?"
Respondi mais uma vez que sim -como sou boba.
A conversa não acabava; um falava, o outro falava, e o tal colega sugeriu irmos a seu escritório que era logo ali, e quem sabe eu poderia ajudar? Passaríamos no meu banco, que era perto, eu tiraria R$ 10 mil ou R$ 15 mil e entregaria ao velhinho, que me daria o papelzinho da Mega Sena premiada com R$ 30 mil.
Você acredita que até aquela hora minha ficha ainda não havia caído? O que me salvou foi que, para que um conto do vigário se concretize, é preciso que a "vitima"-no caso, eu- queira se aproveitar do outro, comprando um papel que vale R$ 30 mil por R$ 10 mil.
Como a conversa estava ficando um pouco longa demais, disse que tinha hora marcada e fui saindo. O cúmplice veio atrás de mim, dizendo que era questão de minutos, que eu estaria ganhando R$ 20 mil com a transação, e foi só aí que entendi tudo. Apertei o passo e entrei na primeira loja que encontrei.
Era de manhã, em plena Ipanema, zona sul do Rio.

PS - estou saindo de férias, minha coluna volta em 6 de fevereiro, feliz 2011.

CLÓVIS ROSSI

Entre a razão e o imenso desafio
Clóvis Rossi
FOLHA DE S. PAULO - 02/01/11

Sob a retórica da continuidade, mas avanços, o discurso de posse de Dilma Rousseff trouxe a primeira novidade, embora esperada: sai a emoção pura, o intuitivo Luiz Inácio Lula da Silva, entra a razão pura.

Das 14 páginas do discurso, conforme previamente distribuído à imprensa, apenas as duas primeiras são, por defini-las de alguma forma, de emoção e reconhecimento a Lula e ao vice José Alencar.

Daí em diante, é uma lista das "ferramentas" necessárias ao avanço. Discurso muito mais de gerente do que de política, o que, de resto, combina perfeitamente com a biografia da presidente.

Pena que haja um excesso de generalidades e platitudes e uma carência de detalhes.O elenco de necessidades e maneira de encará-las pode ser aplaudido pelo DEM e pelo PT, pelo PSB e pelo PSDB.

Talvez só não o seja pelo PSOL, o único partido que questiona o modelo que marcou os dois governos que antecederam Dilma.

Surpreende, em todo o caso, que Dilma volte a um tema caro a Lula, o da miséria e o da comida à mesa dos brasileiros.

Lula, ao ser eleito, dizia que ficaria satisfeito se todo brasileiro pudesse ter três refeições diárias.

Oito anos depois de tanto "nunca antes na história deste país", vem sua sucessora e apadrinhada dizer que não vai descansar "enquanto houver brasileiros sem alimentos na mesa".

Fica claro, pois, no próprio discurso, que o povo brasileiro ainda "não fez a travessia para uma outra margem da história", ao contrário de uma das poucas frases de efeito usada no discurso.

Ao estabelecer como meta a erradicação da miséria absoluta, ao mesmo tempo em que crava como "valor absoluto" a estabilidade econômica, Dilma cria para si um baita desafio, nunca antes resolvido no mundo todo.

GOSTOSA PELO SISTEMA DE COTAS DO BLOG

FERREIRA GULLAR

O show que não houve
Ferreira Gullar
FOLHA DE S. PAULO - 02/01/11

Teria apenas uma intérprete, alguns poucos músicos e muita conversa sobre Noel Rosa e sua curta vida


Na crônica que publiquei aqui, sobre Noel Rosa, falei de um show sobre ele, que pensei realizar, mas desistira do projeto ao saber que este é o ano do centenário de seu nascimento e que muita coisa já se estava fazendo para homenageá-lo.

A ideia do show me surgira ao ouvir, depois de anos, os sambas de Noel, e achei que muita gente também iria gostar de ouvi-los de novo.

O show imaginado por mim teria apenas uma intérprete, poucos músicos e muita conversa sobre o compositor e sua curta vida. A mistura dessas duas coisas me parecia interessante, mas certamente não era lá uma sacação tão original.

Devo esclarecer que nunca me atrevi a escrever ou realizar qualquer espetáculo musical e não seria agora que me aventuraria a fazê-lo.

Sonhei com ele, imaginei-o: uma cantora com um violão a interpretar os sambas deliciosos de Noel que, se não estou equivocado, deu à nossa música popular muito mais malícia, bom humor e um modo irreverente de cantar o amor e outros assuntos às vezes estranhos ao nosso repertório musical. Ele só raramente mostrava-se romântico e, quando o fazia, jamais descambava para o sentimentalismo deslavado. "Enquanto você faz pano/ Faço junto do piano/ Estes versos pra você." Era isso que deveria mostrar o show que não houve.

Porque pensei numa cantora apenas, com um violão e uns poucos músicos? Porque não vejo suas músicas num grande musical, executado por grandes orquestras. Vejo-o, como de fato foi, cantando em rodas de boêmios com seu violão.

Certamente, pode-se levar suas composições à execução de grandes orquestras, mas esse não seria o Noel com que me identifico e comovo. Por isso, o meu show começaria com a cantora interpretando, com muita graça, seu primeiro sucesso: "Eu hoje estou pulando que nem sapo/ Pra ver se escapo/ Desta praga de urubu/ Já estou coberto de farrapo/ Eu vou acabar ficando nu".

Se fosse noutra época, a cantora poderia ser Nara Leão; hoje, escolheria Marisa Monte ou Adriana Calcanhotto. Já imaginou o encanto novo que qualquer delas emprestaria aos sambas de Noel?

"Quem dá mais?/ Por uma mulata que é diplomada/ Em matéria de samba e de batucada/ Com as qualidades de moça formosa/ Fiteira, vaidosa e muito mentirosa", "Quem dá mais/ Por um violão que toca em falsete/ Que só não tem braço, fundo e cavalete/ Pertenceu a Dom Pedro, morou em palácio/ Foi posto no prego por José Bonifácio."

E entre uma música e outra, diria de sua irresistível vocação para a boemia, das noitadas no Café Nice, dos papos com Lamartine Babo, Ismael Silva, Orestes Barbosa, sem falar nos instrumentistas e nos cantores, como Custódio Mesquita e Aracy de Almeida, sua intérprete preferida.

"Eu sou diretora da Escola do Estácio de Sá/ E felicidade maior neste mundo não há/ Já fui convidada para ser estrela de nosso cinema/ Ser estrela é bem fácil/ Sair do Estácio é que é o "x" do problema".

Haveria muita coisa interessante a contar da vida de Noel, que fez sambas com 56 parceiros, sem contar os sambas de outros, a que acrescentou um verso aqui, um acorde ali, sem querer tirar patente.

É que compor, cantar e farrear era o seu prazer maior, sem o que a vida não fazia sentido. Nascera para aquilo, tanto que, enquanto os outros sambistas buscavam os meios profissionais, o estúdio das rádios, os restaurantes frequentados por gente do ramo, Noel se enturmava mesmo era com os malandros dos botecos de subúrbios e das favelas.

Teria que falar também de seus namoros e amores, que não foram poucos e nem sempre deram certo: "Se alguma pessoa amiga/ Pedir que você lhe diga/ Se você me quer ou não/ Diga que você me adora/ Que você lamenta e chora/ A nossa separação/ E às pessoas que eu detesto/ Diga sempre que não presto/ Que meu lar é o botequim/ E que eu arruinei sua vida/ Que não mereço a comida/ Que você pagou pra mim". Lindaura, com quem o obrigaram a casar-se, sofreu o diabo em suas mãos, mas foi no colo dela que descansou a cabeça, pouco antes de deixar para sempre sua Vila Isabel e as noitadas de farra.

Mas um show não pode terminar, assim, para baixo, pensei. Foi quando me voltei e vi, na última fila da plateia, um sujeito magro, de queixo torto, que se levantou e saiu, antes que a luz acendesse.

ELIANE CANTANHÊDE

Voto de confiança
Eliane Cantanhêde
FOLHA DE S. PAULO - 02/01/11

Sai Lula, entra Dilma. Vai-se o mito, chega a presidente mulher, com a responsabilidade de aumentar investimentos, priorizar educação, saúde e segurança, enfrentar as reformas estruturais, garantir a exploração e partilha adequadas do pré-sal, correr contra o tempo para o sucesso da Copa de 2014 e da Olimpíada de 2016. E erradicar a miséria.

Difícil será preencher o vazio de um presidente carismático, palanqueiro e sem limites como Lula, amado dentro e fora do país pelas qualidades e pelos defeitos. Se é que ele vai desencarnar da Presidência.

Dilma é dura, aplicada, determinada. Como ministra, extrapolava com subordinados e com os próprios colegas. Como presidente, esse traço de personalidade estará exacerbado e sendo permanentemente testado, inclusive com o eclético leque de "aliados".

Mas Dilma encontra um país estável política e economicamente, os brasileiros com a autoestima em alta, o mundo maravilhado com esse Brasil cheio de encantos mil.

As condições são francamente favoráveis, e suas características femininas e de militante ajudam. Lula não é de esquerda nem de direita, Dilma tem ideologia. Será capaz de queimar pontos de popularidade se a circunstância exigir. Tem rumo, direção, metas, compromisso.

Vai precisar se suplantar, como se suplantou na campanha, para se equilibrar diante de PT, PMDB, PSB, PCdoB, Sarneys, o vice Temer, os áulicos. Que Erenice Guerra tenha servido de lição. Antes na Casa Civil do que agora na Presidência.

O Brasil elegeu Dilma e lhe dá não apenas um voto de confiança, mas também o estímulo, a torcida e a esperança. O sucesso dela será o sucesso de todos e do futuro.

Itamar, Fernando Henrique e Lula garantiram um círculo virtuoso, e Dilma deve ser uma presidente honesta, sensata, coerente, com grandeza e princípios, para ir além. É só não arriscar tudo para tentar ser o que não será: um mito.

INVEJA

RENATA LO PRETE - PAINEL DA FOLHA

Mãos de tesoura 
RENATA LO PRETE

FOLHA DE SÃO PAULO - 02/01/11

No decreto que Dilma Rousseff editará em fevereiro prevendo as receitas do primeiro ano de mandato, a presidente está sendo aconselhada a contingenciar emendas parlamentares de bancadas e comissões, hoje projetadas em R$ 12 bilhões, para atingir a meta de superavit primário.
Já a estimativa de redução de gastos nos ministérios será mais concentrada em diárias e viagens. O bloqueio também pode atingir concursos, que seriam postergados. Toda a reengenharia orçamentária do governo será construída para permitir um corte global de despesas entre R$ 25 e R$ 30 bilhões.

Graças De Dilma Jane, ao chegar ao Congresso para acompanhar o discurso da filha: "Hoje estou só louvor!".

Palmômetro No comando da Mesa, José Sarney (PMDB-AP) citou Dilma, Lula e Michel Temer. O nome dela arrancou os maiores aplausos. O do vice ficou em segundo. E o do agora ex-presidente, na lanterna.

No ar A pedido, Sarney viajou com Lula no avião que o levou a São Paulo ontem.
Autoral Não obstante as colaborações de Antonio Palocci e Fernando Pimentel, Dilma participou, com ideias e ajustes, da elaboração de seu discurso de posse.

Genérico O trecho de "Grande Serão, Veredas", de Guimarães Rosa, citado por Dilma no final do discurso é exatamente o mesmo utilizado por José Serra (PSDB) no lançamento de sua candidatura à Presidência.

Vou até ali... Um especialista em Lula vaticina: o primeiro semestre de 2011 ainda não terá terminado quando o ex-presidente começar a aparecer em inaugurações e eventos oficiais.

...e já volto Se o estímulo para tanto não partir do Planalto, diz o vidente, partirá de governadores amigos para entrega de obras iniciadas em sua gestão.

O cara Ao cumprimentar a secretária de Estado Hillary Clinton ontem no Planalto, Lula pediu a ela que transmitisse um recado ao presidente americano: "que Obama faça de 2011 o ano dele".

De volta... Com a homenagem a José Serra e os elogios às finanças do Estado, Geraldo Alckmin usou seu discurso de posse para fechar a transição conforme combinara com os antecessores: preservando a herança e pregando unidade.

...para o futuro Serra cumprimentou individualmente todos os novos secretários. Herman Voorwald ganhou o aperto de mão mais demorado. Ele assume a pasta da Educação no lugar de Paulo Renato Souza, cuja manutenção era advogada pelo ex-governador.

Boca... Investigado por compra de votos em Roraima, o governador Anchieta Jr. (PSDB), enfrentará nova ação judicial contestando sua reeleição. Desta vez, seu rival, Neudo Campos (PP), o acusa de promover maciça distribuição de dinheiro em espécie na campanha.

...do caixa O pepista cita a própria prestação de contas de Anchieta, rejeitada pelo TRE-RR, que indica saques de R$ 5,5 milhões feitos mediante cheques emitidos pelo então candidato. A defesa do tucano diz que a quantia foi usada para pagar pessoal.

Outro lado O ministro do STF José Antonio Dias Toffoli afirma que, quando advogado-geral da União, esteve à frente de todo o caso sobre a reseva Raposa/Serra do Sol, tendo inclusive feito a sustentação oral do caso.

com LETÍCIA SANDER e FABIO ZAMBELI

tiroteio

"A orientação estratégica do discurso é a do presidente Lula. Mas o Lula é o Lula, e a Dilma é a Dilma."
DO PRESIDENTE DA VENEZUELA, HUGO CHÁVEZ, analisando o conteúdo do pronunciamento feito ontem no Congresso Nacional pela colega brasileira recém-empossada no cargo.

contraponto

Avesso do avesso

Na passagem anterior de Geraldo Alckmin pelo Palácio dos Bandeirantes, Lars Grael foi convidado a assumir a Secretaria do Esporte. Para fazê-lo, porém, o velejador teve de se filiar ao PFL, atual DEM.
A Cláudio Lembo, então vice de Alckmin, Grael manifestou desconforto com seu destino partidário:
-Mas eu sou de esquerda...
Lembo procurou tranquilizá-lo:
-Isso não tem a menor importância... Você será o líder da esquerda do PFL!

VINICIUS TORRES FREIRE

Refinamentos desnecessários
VINICIUS TORRES FREIRE
FOLHA DE SÃO PAULO - 02/01/11  

Projeto petista de exploração do pré-sal defende alguns nacionalismos econômicos que podem ser ineficientes


EM 2010, o Brasil terá o segundo maior deficit na balança comercial de combustíveis desde 2000. Isto é, o valor das importações de combustíveis, basicamente petróleo e derivados, será maior que o das exportações. No ano de 2008, de bom crescimento econômico e de explosão do preço do barril de petróleo, o deficit foi maior.
Problema? Hoje em dia, não. Mas os governos petistas têm alguma implicância com deficit na balança de combustíveis e, mais importante, com o fato de o Brasil exportar combustíveis de "baixo valor agregado" (petróleo bruto) e importar produtos refinados.
O deficit na balança de combustíveis já foi ameaça econômica grave no Brasil. Entre 1980 e 1982, o valor da importação de combustíveis equivalia a quase metade do valor de todas as exportações. Havia, pois, um risco claro de asfixia nas contas externas também devido ao custo do petróleo (e, claro, devido ao endividamento externo e à desordem econômica da época).
Desde meados dos anos 1990, a importação de combustíveis tem ficado entre 9% e 15% do valor total das exportações. As flutuações se devem, claro, ao preço do petróleo, ao consumo de combustíveis, ao ritmo do PIB, à quantidade e ao preço do total das exportações.
Mas o país produz cada vez mais petróleo e álcool combustível. Ainda pode recorrer a outras fontes renováveis de energia. Não houve drama "macroeconômico" quando o barril chegou perto de absurdos US$ 150, em 2008. Nos anos 1970, a alta do petróleo ajudou a quebrar o Brasil.
Ainda assim, os governos petistas preocupam-se com a "qualidade" da balança de combustíveis. Com a eventual abundância do pré-sal, querem fazer que o país não apenas seja grande produtor e, talvez, exportador líquido de petróleo como vendedor de produtos de "maior valor agregado" (refinados).
Por isso, fizeram a Petrobras engolir um projeto de investimentos em refinarias que, nos corredores, o pessoal da empresa não considera econômico. E para o país, interessa?
Produzir bens de "maior valor agregado" nem sempre é interessante. O capital despendido em refinarias poderia ter retorno maior em outro investimento. Tecnologicamente, não é um progresso fazer refinarias. Talvez em termos estratégicos, "de segurança nacional", não depender muito de energia importada talvez fosse relevante, mas esse risco parece muito remoto. Enfim, não sabemos nem quando haverá petróleo bastante para exportar.
A Petrobras vai investir em pesquisa de materiais, métodos de exploração e equipamentos para fazer o pré-sal. Isso é um avanço. Vai encomendar serviços, equipamentos, navios, plataformas, sondas. Se não houver reserva de mercado improdutiva, isso será um avanço e vai impulsionar a indústria nacional.
Decerto, nem sempre o setor privado faz a melhor alocação de capital, "investe melhor". Basta ver os desastres das bolhas da década passada. Mas dirigir investimentos demais, via Estado, também dá em besteira, em uso menos produtivo de capital escasso.
Refinarias, trem-bala, estádios da Copa, nada disso deve melhorar a produtividade geral da economia brasileira, de resto faminta de investimentos em outras áreas e já enfrentando deficit externos devido à insuficiência de poupança.

MÍRIAM LEITÃO

Mulher no poder
Míriam Leitão
 O GLOBO - 02/01/11

Até agora foi evento histórico, minoria estatística, exceção à regra, casos que se contam nos dedos. Mas ao longo das próximas décadas, o processo vai se intensificar e mulher no poder será natural, parte da paisagem. Estamos nos anos 10 do século XXI. A última mulher a nos governar foi nos anos 80 do século XIX. Foi uma longa espera. Nunca mais haverá um intervalo tão longo.

Os homens monopolizaram a presidência durante toda a República e mulheres presidentes foram casos esporádicos em qualquer país, apesar de a figura que representa a República Francesa ser Marianne. O símbolo era feminino como enfeite, à moda dos ícones de liberdade na História antiga. Nunca mais será mera ilustração, não porque temos pela primeira vez uma presidente no Brasil, mas porque assim caminha a humanidade. Estamos no meio da estrada, há sinais espantosos de atrasos, há eventos estimulantes, mas a escolha do rumo já foi feita. Este será o século do desembarque das mulheres no poder político, como o último foi o do avanço sobre o mercado de trabalho.

Nos anos 1940, as mulheres foram convocadas para as fábricas na falta de homens, que tinham ido para a guerra. Os cartazes da campanha americana mostravam uma operária e a frase: "Nós podemos fazer isso". Ao fim da guerra, foram mandadas de volta ao lar. Como na Revolução Francesa, tinham sido convocadas ao combate e depois, descartadas. A Liberdade, Igualdade, Fraternidade valia apenas para os franceses. Elas só puderam votar em 1945. Mas as americanas do pós-guerra não voltaram ao papel antigo. No ano passado, representaram metade do mercado de trabalho. A revista "Economist" recuperou a figura da mulher operária da campanha da época da guerra, e fez uma capa histórica: "Nós conseguimos".

Era 25 de maio de 1871 quando uma mulher ajoelhou-se diante do Senado e assumiu a regência do Brasil. Parecia apenas o cumprimento da regra imperial, mas Pedro II teve que enfrentar resistência para entregar a coroa à filha, conta o historiador José Murillo de Carvalho num programa que fiz na Globonews (pode ser visto no blog www.miriamleitao.com). Era um momento tenso. O Imperador patrocinara o envio da proposta de Lei do Ventre Livre e, nos clubes das lavouras e no Parlamento, as elites escravocratas resistiam. Muita gente achou uma imprudência, até porque, aos 24 anos, a princesa Isabel nunca tinha mostrado a mesma vocação para o poder que a bisavó Carlota Joaquina, nem mesmo a da avó Leopoldina que, nos bastidores, tinha participado da Independência.

A princesa regente assumiu o poder duas outras vezes e acabou governando mais de três anos, quase um mandato presidencial. Na terceira e decisiva regência, entrou para a História. O país estava dividido e ela escolheu o lado certo, isso é o mais relevante. Participou ativamente das negociações que levaram à Abolição. Afastou, por outros motivos, um dos grandes obstáculos à Lei Áurea, o Barão de Cotegipe da presidência do conselho de ministros e nomeou João Alfredo, simpático à libertação dos escravos. Que ela conspirava contra a ordem escravocrata se sabia no Palácio, onde seus filhos editavam um jornal abolicionista, considerado subversivo pelos donos de escravos. Naquele distante 1888, foi a última vez que uma mulher governou o Brasil, até o dia de ontem, quando Dilma Rousseff assumiu a presidência.

O que isso significa? Se nada significasse já seria o fim de um monopólio. Mas as batedoras mulheres, o aumento da presença feminina no Ministério são pequenos sinais de que os próximos quatro anos poderão mostrar novos avanços.

Já se pode dizer que não serão suficientes porque o Brasil está muito atrasado. Num ranking feito pelo demógrafo José Eustáquio Diniz Alves com outros pesquisadores, o Brasil está em 110º lugar em presença de mulher no Parlamento com magérrimos 8,8% de parlamentares mulheres. Isso, 77 anos depois de ter tomado posse a primeira deputada federal brasileira, Carlota Pereira Queiroz. Bertha Lutz, grande líder sufragista não se elegeu, ficou como suplente e nunca assumiu, porque depois veio o Estado Novo, no qual ninguém votava, nem era votado, seja homem ou mulher.

No mercado de trabalho, a brasileira já é 44% da População Economicamente Ativa, mas ganha menos e ainda ocupa apenas 14% dos cargos de direção das 500 maiores empresas brasileiras, mesmo assim, mulheres executivas ou empreendedoras começam a fazer parte da paisagem empresarial brasileira.

A jornalista Ana Arruda Callado acha que até hoje os homens não se sentem confortáveis em serem chefiados por mulher. Que se acostumem, não haverá volta. A escritora Rosiska Darcy reclama que se fala da mulher apenas no espaço público, e que a forma certa de olhar é valorizando-se a vida privada. Para ela, fora ou dentro do mercado de trabalho, a mulher tem sido a grande responsável por humanizar a humanidade, ou seja, transformar o recém-nascido, que ela define como "um bichinho", no ser socializado que é levado à escola.

Ana Arruda completa o raciocínio, dizendo que os homens precisam entrar no movimento feminista, e aprender não só a dividir o trabalho, mas dividir a vida. Alguns já entenderam isso, felizmente. Chieko Aoki, do Grupo de Mulheres Líderes, lembra que há dez anos dava palestras para grupos de executivos formados quase só por homens, hoje, há reuniões em que a maioria é mulher.

Avanços há, basta olhar em volta. Mas os atrasos a serem vencidos também são visíveis. O que as mulheres querem é só a igualdade.

GOSTOSA

GAUDÊNCIO TORQUATO

O advento da era da razão
Gaudêncio Torquato 
O Estado de S.Paulo - 02/01/11


Dúvidas balizam as interlocuções nos mais diversos ambientes: como será o governo da presidente Dilma Rousseff? Ela vai impor autoridade? Será pálida sombra do ex-presidente Lula? Sem traquejo na área política, conseguirá administrar as pressões partidárias e passar pelo olho do furacão nas Casas congressuais? As interrogações se apresentam pelo fato de suceder a um governo acentuadamente marcado pelo perfil do líder mais carismático de nossa contemporaneidade.

Sob esse prisma, a leitura mais linear é a de que a fosforescência do ciclo anterior tende a ofuscar a luz que se acende no palco que se abre. Pode-se apostar nessa hipótese? Não. A tendência é a de que a nova iluminação até propicie comparações de cores e matizes com a anterior, particularmente no seio de conglomerados que não mais verão no palanque a pessoa que identificavam como uma de suas legítimas representantes. As massas cultivam a catarse gerada por líderes carismáticos, que nelas provocam contínuas descargas emotivas. Vão perdê-la. Se a perda ocasionará algum vazio para elas, fará bem à identidade do governo Dilma. A alteração da maneira de agir do governante, pela forma de contato com as plateias, será benéfica ao País, pois o império da razão suplantará o reinado da emoção. Ciclos calcados na glorificação de imagens geralmente descambam na anestesia social. E uma sociedade anestesiada fecha as portas do futuro.

Não é preciso ser profeta para anunciar que a primeira mulher a comandar o País abrirá a era da racionalidade. Basta examinar sua trajetória na coordenação do Ministério Lula. Trata-se de pessoa afeita a planejamento, gerenciamento, controles e cobrança. Isso, por si só, é merecedor de aplausos, eis que passamos - e perdemos - um bocado de tempo interpretando a expressão do presidente que saiu ou ensaiando versões sobre o que disse ou tentou dizer. A substituição do verbo pela ação constitui um avanço. Os grupamentos pragmáticos, a partir das forças produtivas, terão motivos para comemorar o fato de que, doravante, encontrarão pautas mais concisas e objetivas. Os eventos serão desprovidos da verve de discursos improvisados e metáforas, ganhando mais substância. O que será condizente com um país que precisa regular os parâmetros a uma nova ordem. Há uma conta (grande) a ser paga e que, sabe-se, tem sido empurrada com a barriga - 2011 se prestará a ajustes, entre os quais o financiamento da área da saúde, o preenchimento dos buracos da Previdência, cada vez mais fundos dada a expansão da conta dos aposentados, carências no setor de segurança, etc.

Quando se diz que o Brasil passou ao largo da crise financeira internacional (2008-2009), pouco se destaca que isso não se deu de maneira fortuita. A política que propiciou a milhões de brasileiros amplo acesso ao consumo oxigenou as veias da economia. Chegou, porém, o momento de o País adequar a política econômica às novas disposições da economia internacional, no entendimento de que não é uma ilha de segurança no mundo conturbado. O início de um novo governo é ideal para integrar políticas e alinhar posições. Nesse ponto emerge o perfil da presidente. Não se espere que o primeiro ano da governante seja pleno de realizações e ações de impacto. Servirá, isso sim, para a correção de rumos e desvios, justaposição de programas e projetos, a partir de rígida revisão do PAC. Como agirá Dilma? É possível distinguir na nova mandatária-mor um senso crítico mais acentuado que o de seu antecessor. Será mais exigente e inflexível do que Lula nas cobranças. Essa característica, aliás, ganhará relevo, até porque é esse vetor que balizará sua identidade. O alinhamento da equipe ministerial tomará um bom tempo, não se devendo descartar a possibilidade de substituição de um parafuso na engrenagem, em caso de desgaste. Trata-se de uma constelação sem grandes estrelas, facilitando sua harmonia. Mas o conjunto de ministros escolhidos deve ser considerado um grid de largada. No meio e no final da pista, a disposição poderá ser diferente.

As expectativas em torno do desempenho da presidente levam ainda em conta a questão do gênero. Há muita curiosidade para saber se uma mulher terá melhor desempenho que um homem no comando da Nação. Especula-se que suas dificuldades serão menores nos espaços do obreirismo e nas áreas sociais (programas assistenciais) e mais complexas nas frentes econômica e política. A permanência do ministro Guido Mantega na Fazenda, a escolha de um perfil técnico para o Banco Central (Alexandre Tombini) e a nomeação de Antônio Palocci para comandar a Casa Civil, tendo sido ele ministro da Fazenda no primeiro mandato de Lula, lhe darão conforto e garantia de que a política econômica estará sob controle. E para ajudá-la a administrar a relação com as esferas política e jurídica a presidente terá à disposição a experiência de seu vice, Michel Temer, professor de Direito Constitucional e presidente do PMDB, que dirigiu a Câmara dos Deputados por três vezes. Com esse respaldo são mínimas as possibilidades de grandes crises na frente política.

Por último, a pergunta recorrente: Lula mandará no governo Dilma? Trata-se de hipótese débil. A dirigente deverá impor seu estilo. O ex-presidente, por sua vez, quer ver a glória da sucessora. A intromissão descabida na gestão seria um desastre para ambos. É evidente que deverá ser acionado para dar conselhos, principalmente em circunstâncias tormentosas. Luiz Inácio, como animal político, continuará a circular por muitas plagas, usufruindo o prestígio que angariou, fazendo palestras, recebendo honrarias, comovendo-se com aplausos. Sabe, porém, que há uma liturgia de poder a ser preservada. Sob pena de esboroamento do edifício que construiu. E queima da própria imagem.

JORNALISTA, É PROFESSOR TITULAR DA USP E CONSULTOR POLÍTICO E DE COMUNICAÇÃO.

ROBERTO ROMANO

Intelectuais e poder
Roberto Romano 
O Estado de S.Paulo - 02/01/11


Quem se importa, hoje, com indivíduos e grupos "intelectuais"? No pretérito, escritores, filósofos ou cientistas eram combatidos, aceitos ou silenciados pelos regimes políticos, igrejas, patrões ou operários. É imenso o rol dos pensadores, de Erasmo a Bertrand Russell, envolvidos em problemas humanos candentes. No século 20, manifestos assinados por acadêmicos valiam programas políticos e competiam com encíclicas. Daí a estranheza escandalizada quando os "grandes nomes" silenciavam em situações de injustiça, como nas tiranias de esquerda ou direita.

O totalitarismo domou intelectuais famosos e fez do seu discurso propaganda ou hipocrisia. O realismo enfraquece a mente mais brilhante, nela obnubila o sentido ético e moral. No Brasil, O Pasquim criou o slogan exato para quem seguiu a ditadura: "Eu preciso sobreviver, entende?" O periódico espelha a reflexão de Elias Canetti em Massa e Poder. O Prêmio Nobel comenta a conivência entre autores e governo. O poderoso e seus áulicos preferem guardar a própria vida, em detrimento dos outros seres humanos. Para eles não existem família, amizade, partido ou formas religiosas, tudo o que fazem tem por alvo alongar a sua permanência na ordem pública, vampirizando todos ao seu redor.

Certeira analogia é feita por Canetti entre poderosos e intelectuais maníacos da glória. Para eles, as demais criaturas "não têm outra razão de viver senão a de pronunciar um nome muito determinado (...). As diferenças entre o rico, o detentor do poder e o famoso podem ser resumidas mais ou menos assim: o rico coleciona montes e rebanhos. No lugar destas coisas está o dinheiro. Os homens não lhe interessam; para ele é suficiente o fato de poder comprá-los. O detentor do poder coleciona homens. Os montes e os rebanhos nada significam para ele, a não ser que necessite deles para a aquisição de homens. Mas ele deseja homens que vivam, para arrastá-los ou para levá-los consigo à morte. (...) O famoso coleciona coros. Destes quer escutar apenas o seu nome. Eles podem estar mortos ou vivos, ou podem nem ter nascido ainda; tudo isto lhe é indiferente. Basta que sejam numerosos e tenham sido exercitados em repetir seu nome".

O poderoso que busca a sobrevida e o intelectual sedento de fama podem empreender boas e belas coisas: surgem os estadistas e os escritores imortais, que, segundo Canetti, alimentam a humanidade. A maioria dos governantes e acadêmicos, no entanto, é bem representada por líderes como Vargas e Sarney (ambos da Academia e, portanto, imortais...), beneficiários da censura imposta aos seres comuns.

Intelectuais do século 20 levantaram-se contra tiranias, mas também serviram aos poderosos, pouco importa a cor do príncipe, se parda ou rubra. "Não são aplausos que faltam aos intelectuais, mas sim votos aos partidos que eles apoiam (...). Uma coisa é formar o discurso político, outra é ter poder sobre a vida pública" (Gerard Lebrun, Quem Tem Medo dos Intelectuais?). Após a 2.ª Guerra, muitos intelectuais aceitaram viseiras (políticas, religiosas, econômicas), tentando colocar idênticos tampões na opinião pública. Imaginar "bons" escritores em luta contra "bandidos" (na direita ou na esquerda) é lenda que impede entender o reino animal do espírito, nome dado por Hegel à "comunidade" dos cerebrinos.

No Brasil de agora, emudecem os que parolavam sobre ética e serviço ao povo.

As bases militantes acusam suas direções, escondendo de si mesmas o fato de que os dirigentes não agiriam com desenvoltura se tivessem recebido críticas... dos intelectuais. O "bom acadêmico" (como o bom selvagem) contenta-se com penduricalhos (uma assessoria ou cargo honorífico), mas recolhe as ordens dos superiores e as justifica para o público.

Boa parte dos universitários fica de joelhos e usa truques para não atacar a falsa República brasileira. Fingem não ler péssimas notícias, ignoram o privilégio de foro, os lobbies informais, os caixas 2, as pressões corruptas no Estado e na sociedade. Eles antes falavam demais porque, ainda citando Lebrun, "a crítica das instituições e dos privilégios sempre terá mais atrativo do que a banal apologia da ordem estabelecida". Seu vício anabolizante se encontrava na denúncia. Como não podem mais desmascarar, humilhar, destruir inimigos de seus partidos e devem preservar, blindar, adular a própria grei, eles se ocultam no tíbio silêncio. Se os abusos dos três Poderes são gritantes, o dever manda apontar ao público o que se passa nos gabinetes, mesmo à custa de processos judiciais, prisões, exílios, solidão. Quando Voltaire denunciou o caso Calas, não recebeu apoio da sociedade. Ao escrever o tremendo Eu Acuso, Zola não se tornou popular. No tribunal sobre o Vietnã, Sartre e Bertrand Russell recolheram apupos.

Os intelectuais arvoravam mentirosa independência política. Hoje, o seu máximo empenho é assinar listas de apoio eleitoral ou em defesa própria.

Muitos deles passaram oito anos criticando à socapa o governo Lula e, na bacia das almas, assinaram manifestos em favor de sua candidata. Na outra margem, muitos se acomodaram, deixando o candidato oposicionista à deriva.

Eles precisam sobreviver, entende? Bolsas de estudos, recursos de pesquisa, publicação de livros e artigos justificam as zumbaias dos famosos (outros nem tanto) dirigidas aos governantes. Seguir exércitos fortes, no Brasil, traz popularidade, verbas e verbo. É o tempo das vivandeiras, agora no reino do espírito. Os "intelectuais orgânicos", no Brasil e no mundo, mostram para que servem: universalizam slogans em favor dos palácios. Eles são apenas a caricatura piorada de Glauco e Trasímaco.

FILÓSOFO, PROFESSOR DE ÉTICA E FILOSOFIA NA UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS (UNICAMP), É AUTOR, ENTRE OUTROS LIVROS, DE ''O CALDEIRÃO DE MEDEIA'' (PERSPECTIVA)

ACABOU

VERISSIMO

O alemão
VERISSIMO

O GLOBO - 02/01/11

Cheguei ao Botafogo via Internacional. O Pirilo tinha vindo do Sul para jogar no Botafogo. Depois veio o Ávila, centro-médio (naquele tempo ainda se dizia centro-médio), um negro forte, peça importante da grande máquina de jogar futebol que era o Internacional da década de 40. Tão grande que 
teve três jogadores convocados para a seleção brasileira de 50: Nena, Tesourinha e Adãozinho. Nenhum dos três chegou a jogar na fatídica Copa daquele ano, o que para a minha mente juvenil explicou nosso fracasso. Há pouco tempo morreu o 
Nena e o noticiário disse que ele era o último remanescente 
daquele Inter mítico. Deduzi que o Ávila também já tinha morrido.
Depois do Ávila, seu substituto no Inter, o Ruarinho, também veio para o Botafogo, o que só reforçou minha decisão de ser botafoguense desde recém-nascido. Naquele tempo a gente tinha time em toda parte. Nunca saberei o que me levou a “ser” Tottenham Hotspurs na Inglaterra, Racing (hoje Paris Saint-Germain) na França, Colo Colo no Chile ou Atlético Mineiro em Belo Horizonte, mas eram os meus times, entre muitos outros (eu vibrava com as vitorias o Dínamo na Rússia embora nem soubesse a cor da sua camiseta). Nenhum, no entanto, era o meu segundo time com a intensidade do Botafogo. Quando fui morar no Rio não perdia jogo de Garrincha, Quarentinha e cia. no Maracanã. 
E tudo começou com o Ávila. 
Mas eu já não morava no Rio quando veio outro centro-médio do Sul jogar no Botafogo. Este era um loiro ainda maior do que o Ávila chamado Elton. Vinha do Grêmio, onde tinha se transformado numa espécie de símbolo do futebol duro, feio e efetivo imposto pelo treinador Foguinho, um pioneiro do outrora chamado “futebol força” pouco reconhecido fora do seu estado. O Elton foi um dos protótipos do “cabeça de área”, nome depois misericordiosamente mudado para “volante de contenção”. Não se esperasse do alemão Elton nenhuma jogada de brilho. Não se poderia nem descrevê-lo como um Dunga antes do tempo, porque não tinha o passe longo do Dunga. Seu talento era de desarmador. O que não impedia que, vez que outra, aparecesse sorrateiramente na frente e até marcasse seus gols.
Não me lembro como o Elton se deu no Botafogo. Era, de certa forma, a antítese de tudo que os cariocas gostam no futebol. Quando saiu do Botafogo fez o inverso dos meus ídolos do passado – foi jogar no Inter. Onde também acabou sendo um símbolo, no caso de uma transformação no modo de jogar do time, que na época era constantemente derrotado pelo futebol mais forte e objetivo do Grêmio moldado pelo Foguinho. Foi o precursor do Inter que, anos mais tarde, jogando sério como ele, foi oito vezes seguidas campeão do estado e três vezes campeão brasileiro.
O Elton também morreu, há dias. Não deve ter lhe passado pela cabeça que foi um nome histórico. Mas pelo menos na minha história sentimental, ele foi um herói. 

CLÁUDIO HUMBERTO

“É crime de responsabilidade descumprir leis edecisões judiciais”
NABOR BULHÕES, ADVOGADO DO ESTADO ITALIANO, E A PROTEÇÃO DE LULA AO BANDIDO BATTISTI

AGORA EX, LULA USARÁ APENAS JATOS PARTICULARES 
Lula poderia acumular milhagem vantagem, trocando o Airbus da Presidência da República pelo Airbus da TAM, mas é improvável que o ex-presidente enfrente filas de check-in, maus-tratos das empresas aéreas, como poltronas apertadas de voos de carreira. Como permanece no poder, com Dilma Rousseff presidente, ele deve viajar em jatinhos como os Beecraft do amigo fazendeiro José Carlos Bumlai.

FILA DE JATINHOS 
Tampouco faltarão a Lula jatos de banqueiros como Roberto Setúbal, agradecidos pelos lucros siderais proporcionados por seu governo.

BANCO POR TESTEMUNHA 
Roberto Setúbal, dono do Itaú, chamou Lula de “o maior presidente da História”. Seu banco que o diga: lucrou R$ 3 bilhões só de abril a junho.

ÁLBUM DE FAMÍLIA 
Receita para curar ressaca de ano-novo: recorte na foto oficial da posse de Dilma, quem fica e quem sai nos próximos seis meses.

PRESENTE DE AMIGO 
O governador do Acre, Tião Viana (PT), assumiu com o salário já reajustado pelo antecessor amigo: R$ 24.184,43 por mês. Oficialmente.

FORÇA NACIONAL VIRA LUCRATIVO REDUTO BUROCRÁTICO 
O secretário de Segurança do governo Dilma, Luiz Coimbra, vai estrear com um grande abacaxi: a disputa de poder, verbas e boquinhas burocráticas com a Força Nacional de Segurança Pública, desvirtuando o objetivo inicial, ao ser criada em 2004 por Lula como força auxiliar na manutenção da ordem. Virou antro de burocratas, com soldados ganhando até R$ 6 mil por dia, fora o soldo, para carimbar papéis. 

VIVA A BUROCRACIA 
O desmantelamento da Força Nacional pela burocracia impediu o governo Lula de utilizá-la na recente guerra ao tráfico no Rio.

CIRURGIA 
A prefeita de Natal, Micarla Sousa, deverá ser operada do coração neste mês de janeiro. A cirurgia será no Sírio Libanês, em São Paulo.

CARDOZO NO MJ 
Após demorada expectativa, finalmente o ministro José Eduardo Cardozo (Justiça) tomará posse neste domingo, às 11 horas.

DRAGÃO, NÃO 
Dilma quer apenas mulheres, tanto no avião presidencial quanto na sua escolta, mas não poderá mudar a tradicional guarda Dragões da Independência. Afinal, nenhuma mulher que ser chamada de dragão.

SAIA DE CASA SEM ELE 
Mudança com onze caminhões, um deles refrigerado: R$ 300 mil no cartão corporativo. Palestra para alunos na universidade de Uganda: R$ 20 mil. Lula descendo de vez a rampa do Planalto: não tem preço.

FUORI BATTISTI 
Há um momento no parlamento italiano para melar o acordo militar com a Itália que o Brasil ratificará na quarta (12), dias após a libertação do terrorista Cesare Battisti, adotado pela esquerdopatia petista. 

OMBUDSMAN 
Convidado para o secretariado do governo petista do DF, o deputado campeão de votos Chico Leite (PT) preferiu permanecer na Câmara Legislativa: “Vou ajudar 
Agnelo Queiroz fiscalizando seu governo”.

O SHOW DO REI 
Roberto Carlos escolheu pessoalmente o vestido usado pela cantora Paula Fernandes, em seu show na Rede Globo, quando pintou um certo clima. A roupa foi criação da estilista alagoana Martha Medeiros.

PERFEIÇÃO CUBANA 
O site Wikeleaks vazou telegrama de 2008 da embaixada dos EUA em Cuba sobre os hospitais da ilha querida do PT: comida ruim, poucos remédios e “aparelhos “primitivos”. Alguém no Brasil já viu isso?

CAIU DO CAVALO 
O padre Jonas Abib, da TV Canção Nova, acreditava que indicaria o secretário de Comunicação Eletrônica do Ministério das Comunicações. Promessa eleitoral do ex-chefe de gabinete de Lula, Gilberto Carvalho. 

PARADA DURA 
Convidado para prolongado descanso na ilha do Curupu (MA), de José Sarney, Lula ficou em dúvida depois do convite do governador Eduardo Campos para a bela praia de Carneiros. Sua mulher é quem vai decidir.

MENU ESTATAL 
Prato do dia no bandejão da Petrobras: lula frito no pré-sal. 

PODER SEM PUDOR
NINGUÉM MERECE 
O senador Eduardo Suplicy (PT-SP) é gente boa, mas um chato de galocha, prolixo e confuso. Certa vez, em 1994, num comício em Jaboticabal (SP), além de chegar atrasado, ele falou com seu tom de voz monótono por uma hora. Nem a militância agüentou: as pessoas procuraram encosto nos carros, nos postes, e logo havia gente dormindo. Ele tentou fazer graça:
– Gente, eu estou vendo daqui algumas pessoas dormindo. Vou pedir licença para falar mais baixo, porque não quero acordar ninguém...
E deitou falação por mais vinte minutos.

DOMINGO NOS JORNAIS

Globo: Ao assumir, Dilma promete enfrentar desafios pós-Lula

Folha: Dilma promete um país sem fome e de classe média sólida

Estadão: Dilma exalta Lula e se diz presidente 'de todos'

JB: O dia seguinte em Copacabana

Correio: Podemos fazer mais e melhor

Estado de Minas: Dilma se emociona ao pregar a união do País

Jornal do Commercio: O futuro já chegou

Zero Hora: “Não haverá compromisso com o desvio e o malfeito”