terça-feira, julho 27, 2010

AUGUSTO NUNES


AUGUSTO NUNES
VEJA ON-LINE
O presidente Lula já apareceu fantasiado de piloto de avião, cangaceiro, noivo de festa junina, cavaleiro, cacique, caminhoneiro, sem-terra, índio boliviano, rei africano, cartola, dono do time, jogador de futebol, churrasqueiro, até de estadista. Mas nunca foi fotografado brincando de maquinista numa locomotiva. Não por falta de vontade, mas por falta de locomotivas, vagões e trilhos. A rede ferroviária brasileira é pouco mais que nada, o sistema de transporte de passageiros está em frangalhos. Mas Lula resolveu juntar à coleção a fantasia de maquinista de trem-bala.
“Vai ter gente que não vai gostar, porque estamos gastando dinheiro no trem-bala”, recitou outra vez, sempre duelando contra o sujeito indeterminado. “Essa gente quer fazer um trem lesma, mas nós queremos logo o bicho mais ligeiro. O pessoal viaja para China e lá o trem é maravilhoso, mas aqui no Brasil é aquele toc-toc pendurado. O Brasil tem competência e vamos fazer”. Com um presidente que diz essas coisas, nenhum país pode fazer muito. Em matéria de ferrovia, o Brasil de Lula não tem feito coisa alguma.
A menção à China confirma que o chefe de governo é fruto do cruzamento da soberba com a ignorância. Em 2002, quando os chineses embarcaram pela primeira vez num trem de alta velocidade (TAV), a malha ferroviária tinha 54 mil km de trilhos espalhados por um território de 9,6 milhões de quilômetros quadrados. O Brasil tem 8,5 milhões de quilômetros quadrados e menos de 29 mil km, quase todos administrados por empresas privadas e restritos ao transporte de cargas.
A frequência e a desenvoltura com que despeja vigarices ferroviárias sugere que, para Lula, brasileiro aceita qualquer número. O silêncio dos adversários sugere que a oposição odeia conferir contas. Se não fosse assim, multidões de adversários estariam debruçados sobre relatórios oficiais que retratam o espetacular descarrilamento da tese da herança maldita: basta colocar em trilhos paralelos o segundo mandato de Fernando Henrique Cardoso e primeiro do sucessor. Entre o começo de 1989 e o fim de 2002, os investimentos em ferrovias passaram de R$ 600 milhões. Nos quatro anos seguintes, não chegaram a R$ 519 milhões.
Só Lula consegue ser pior que Lula, atestou o mais recente balanço do PAC. De janeiro de 2007 a abril de 2010, o governo triplicou os gastos do primeiro mandato para anexar à rede apenas um trecho de 356 km da Ferrovia Norte-Sul, que começou a ser construída em 1987 e foi sucessivamente interditada pelas milícias do PT. Num discurso pronunciado em Aracaju no ano seguinte, o Lula oposicionista incluiu a obra entre as provas de que “José Sarney é o maior ladrão do Brasil”.
“O presidente da República”, berrou o palanqueiro, “ao invés de fazer açude, ao invés de fazer cacimba, ao invés de fazer poço artesiano ou fazer irrigação no Nordeste, vai gastar 2 bilhões e meio de dólares pra construir uma ferrovia, Norte-Sul, ligando a casa dele no Maranhão até a casa dele em Brasília”. Nada como um trilho depois do outro: em quatro anos, Lula torrou  R$1,15 bilhão no que lhe pareceu, até o fim do século passado, “um monumento à gastança”.
Canastrões não se inibem por tão pouco, avisa a performance do protagonista da farsa. Se não há obras a inaugurar, sobram pedras fundamentais, licitações, leilões e editais. Se quase nada foi feito, muito se fará, garante a discurseira do presidente e da sucessora que inventou. Nos próximos quatro anos, anda declamando a dupla no comício mais longo de todos os tempos, o Brasil ferroviário será vitaminado com R$ 43,9 bilhões ─ 40 vezes mais que o dinheiro aplicado nos dois mandatos do supergovernante. Pelo menos R$ 33 bilhões serão engolidos pelos 500 km do trem-bala.
Em 2008, quando foi incluído no PAC, o trem-bala custaria R$ 20 bilhões, seria licitado em 2009 e começaria a circular em 2014, para mostrar aos turistas deslumbrados com o anfitrião da Copa do Mundo que com o Brasil ninguém pode. Há 10 dias, quando Lula e Dilma inauguraram a promessa de começar a costrução assim que puderem, o trem-bala brasileiro transformou-se no primeiro da história que, ainda na fase do edital, ficou 50% mais caro e acrescentou mais dois anos ao prazo originalmente fixado para o fim das obras.
O maquinista do trem fantasma segue apitando em todas as curvas do país sem ferrovias. Mas o histórico da Era Lula informa que o colosso não ficará pronto em 2016. Talvez não fique pronto nunca. Melhor para o Brasil, que não precisa de trem-bala. Só precisa de trens e ferrovias.

SONIA RACY - DIRETO DA FONTE

À casa torna
SONIA RACY
O ESTADO DE SÃO PAULO - 27/07/10
Eliana Tranchesi diz que, até o fim do ano, levará para a Daslu 30 grifes internacionais. Entre elas, a Dolce & Gabbana, que voltará à loja depois de quase um ano de ausência. Não haverá corner da marca como antigamente. Em formato reduzido, as peças serão compradas no exterior pela própria empresária.
Mora ao lado
E em uma decisão dos novos administradores da Villa Daslu, o acesso ao prédio vai mudar. A entrada pela avenida Chedid Jafet será bloqueada. Será acessível só pela avenida Juscelino Kubitschek.
Como assim?
Ofício enviado pela Fecomércio do RJ tem provocado estranheza entre os associados. Assinado pelo diretor Natan Schiper, o documento se assemelha a um "manual de proteção ao sonegador".
Sugere, entre outras coisas, cuidado no cruzamento de dados pela Receita Federal e mais atenção com a informalidade contábil.
Tamanho é documento
Mais uma partida do cabo de guerra entre a Lei Cidade Limpa e os patrocinadores que querem bancar reforma do Copan, um dos cartões-postais da cidade. O síndico do edifício, Affonso de Oliveira, e Regina Monteiro, da Emurb, discutem o tamanho da publicidade de quem custear o projeto.
Pressão
Decidida a primeira providência a ser tomada pela nova Comissão Especial da Criança, recém-criada por Ophir Cavalcante, da OAB. Pressionar as faculdades para incluir disciplina de Direito da Criança e do Adolescente no currículo.
E exigir que concursos públicos da área jurídica tenham questões sobre o assunto.
Batuque da urna
Netinho de Paula repete a dose. Assim como nas eleições de 2008, acaba de regravar jingle a partir de seu hit da época de pagodeiro Cohab City.
Com direito a refrão chiclete: "Vai ficar legal/ Netinho no Senado no maior astral..."
Polpettone
A maneira macarrônica como a Ferrari manobrou o resultado do GP da Alemanha foi motivo de gozação geral nos bastidores do circuito de Hockenheim. Há quem acredite que Massa não tinha ideia da bobagem que fazia.
Alô, amigos
Os 3.600 atletas que participarão dos Jogos Olímpicos da Juventude, em Cingapura, em agosto, receberão um smartphone. Mas terão que devolvê-los no fim do evento.

Domingo no parque
A área de visitação pública do Parque Anhanguera, em Perus, deve ser ampliada.
A Secretaria do Verde já encomendou estudos de viabilidade ambiental para depois desenvolver um projeto para a área.
Mergulho de água fria
Durante a Liga Mundial de Vôlei, o levantador Bruno Rezende prometeu que, em caso de título, mergulharia, de madrugada, na piscina fria (2°C) do hotel, em Córdoba, na Argentina.
Dito e feito. Depois da conquista, a maioria dos jogadores caiu na piscina gelada. E ninguém dormiu. Os campeões comemoraram durante toda a noite e foram direto para o aeroporto.
Saudade e dinheiro
Gisele Bündchen vem ao Brasil no começo de agosto.
Para matar as saudades? Talvez. Mas, primeiro, filmará novo comercial da linha Pantene.
Na frente
Para viabilizar o projeto Dionisíacas em Viagem, do Teatro Oficina, Zé Celso fez exigência pensando no público: apresentações só em local com ar-condicionado.
Radicado nos EUA, Armando Bravi Filho, coreógrafo, volta ao Brasil para trabalhar com Felipe Senna no musical Into the Woods. Com estreia dia 20, no Teatro Brigadeiro.
Ondjaki, José Eduardo Agualusa e Mia Couto confirmaram presença na Bienal do Livro, em agosto.
O lançamento de Contrafeito, de Juliano Ribas, acontece hoje, na Mercearia São Pedro.
A Lancôme celebra 75 anos em desfile com Juliana Jabour. Hoje, no Morumbi.
O Instituto Butantã tem agora curso de pós-graduação na área de venenos e toxinas.

GOSTOSA

EDITORIAL - O ESTADO DE SÃO PAULO

Entre o erro e a omissão

EDITORIAL
O Estado de S. Paulo - 27/07/2010
 
A coincidência não poderia ser mais simbólica. Enquanto na vizinhança do Brasil arde a crise deflagrada com o rompimento de relações entre a Venezuela e a Colômbia ? depois de o governo de Bogotá denunciar que 1.500 narcoterroristas das Farc vivem no país vizinho sob a proteção de Hugo Chávez ?, eis que o chanceler Celso Amorim dá o ar de sua presença em Istambul, participando de uma reunião com os seus colegas da Turquia e do Irã.

A diplomacia brasileira sofreu há pouco um desmoralizante revés na região, ao se associar a um esquema de enriquecimento de urânio iraniano no exterior que corroboraria os alegados fins pacíficos do programa nuclear de Teerã. Concluído durante a visita do presidente Lula ao Irã, o acordo foi apresentado como gesto de boa vontade do país e saudado pelo Itamaraty como evidência de que o contencioso entre o Ocidente e a República Islâmica pode ser resolvido pela negociação, sem ameaças.

Isso justificaria o envolvimento do Brasil no Oriente Médio, contrastando com o silêncio ensurdecedor do governo diante dos problemas bilaterais no seu entorno, como entre Colômbia e Venezuela, ou em relação à sina dos presos políticos em Cuba. Mas a euforia durou pouco. Logo em seguida, com o apoio até da China e a solitária oposição do Brasil e da Turquia, o Conselho de Segurança (CS) das Nações Unidas aprovou nova rodada de sanções contra o Irã.

Em favor do endurecimento, os Estados Unidos invocaram fatos que deixaram o Itamaraty sem respostas convincentes. Em primeiro lugar, os 1.200 quilos de urânio a serem beneficiados no exterior passaram a representar metade dos estoques iranianos, ante os 3/4 que seriam despachados caso Teerã não tivesse renegado o acerto de outubro de 2009 com a AIEA, a agência nuclear da ONU.

Além disso, expondo ao mundo a ingênua sofreguidão brasileira para tomar pelo valor de face a palavra de um governo destituído de credibilidade nessa esfera ? tantas as suas tentativas de iludir os inspetores internacionais sobre as suas atividades ?, imediatamente após a assinatura da chamada Declaração de Teerã o chefe do programa nuclear iraniano anunciou que o país continuaria a enriquecer urânio à taxa de 20%, cerca de seis vezes mais do que o necessário para um reator destinado à produção de energia elétrica. É mais fácil passar de 20% para os 95% usados numa bomba atômica do que completar a etapa anterior. 

Por fim, a Declaração silenciou sobre a origem da crise ? a recusa iraniana a abrir as suas instalações e programas à inspeção da AIEA, bem como a permitir entrevistas com os cientistas envolvidos. Consumada a decisão do Conselho de Segurança da ONU, reforçada pelo pacote de punições unilaterais dos Estados Unidos, e às vésperas da aprovação, prevista para ontem, de outra série de medidas, desta vez pela União Europeia, o Irã tornou a fazer o seu número ? e o Brasil tornou a entrar no seu jogo.

O fato é que a coleção de sanções impostas a Teerã já começou a fazer efeito. O ponto crítico é o acesso aos derivados de petróleo. Embora detenha a terceira maior reserva mundial do combustível (e a segunda maior de gás), o país importa quase a metade da gasolina que consome. Grandes transportadoras estão pensando duas vezes antes de carregar gasolina para o Irã e as grandes seguradoras hesitam em atender à frota iraniana ? praticamente bloqueando a entrada dos seus navios em portos estrangeiros. 

Que o Irã, diante disso, faça expressão corporal de voltar "imediatamente" à mesa de conversações não deve surpreender. Mas a reincidência brasileira no erro só pode ter uma explicação: o fracasso da ambição de promover o País a potência mundial subiu à cabeça do Itamaraty. Para mal dos pecados, a diplomacia lulista, ainda que o queira, não tem como assumir agora o papel que poderia desempenhar na América Latina, como mediador credenciado pela equidistância entre as partes desavindas. 

Não se vê, por exemplo, como Bogotá poderia aceitar a intermediação brasileira depois de Lula dizer que "as Farc são um problema da Colômbia, e os problemas da Venezuela são da Venezuela". Se vestisse uma camiseta com a efígie de Chávez não deixaria mais claro de que lado está.

PAINEL DA FOLHA

Supletivo 
FOLHA DE SÃO PAULO - 27/07/10


Faltando nove dias para o primeiro debate dos candidatos na TV, a ex-ministra Dilma Rousseff tem se valido de longas conversas com seus ex-colegas de Esplanada para se atualizar e juntar munição sobre temas considerados estratégicos. No fim de semana, a petista esteve com José Gomes Temporão (Saúde) e Luiz Paulo Barreto (Justiça). Também já passaram pela “sabatina” Fernando Haddad (Educação) e Guilherme Cassel (Desenvolvimento Agrário). O PT acredita que o “intensivão” turbinará o desempenho da candidata, acusada pelos adversários de fugir dos debates. As conversas com ministros de Lula também servem para fechar o plano de governo da petista. 

Hora extra - Integrantes do PT negam uso da máquina e afirmam que as conversas têm ocorrido fora do horário do expediente na Esplanada. A estratégia de fazer um mutirão de ministros para atualizar Dilma sobre os dados do governo havia sido anunciada há um mês por auxiliares de Lula.
Lost - Segundo assessores da campanha petista, que tratavam o tema como segredo de Estado, Dilma “desapareceu do mapa” ontem para gravar em Luziânia e Cristalina (GO). As cenas serão usadas no programa de TV, que começa em agosto. Hoje, a agenda traçada pelo marqueteiro João Santana prevê gravação em Ipojuca (PE). 
Favorito - Do ministro Alexandre Padilha (Relações Institucionais), recomendando no Twitter pessoal que as pessoas acompanhassem o Twitter da própria pasta que chefia: “Ok, a dica é suspeita. Mas continua sendo boa...” 
Eu vi - Defensor da Renda Básica da Cidadania, o senador Eduardo Suplicy (PT-SP) afirma ter avisado em 11 de julho ao PT sobre o equívoco no programa de governo de Dilma, que citava outra lei ao prometer implantar a medida. Até ontem, entretanto, o site oficial da candidata mantinha o dado errado. 
Ofensiva - A campanha de José Serra (PSDB) tem identificado necessidade de dar atenção especial ao Amazonas, há tempos considerado um dos Estados mais problemáticos para o tucano diante da falta de palanque de sustentação. A ofensiva contará com visita de Serra a Manaus e com a reafirmação de sua proposta de fortalecer a Zona Franca. 
Palanque - Quem percorreu os principais pontos de Belo Horizonte nos últimos dias teve dificuldade de encontrar material de campanha associando a imagem da dupla Aécio Neves e Antonio Anastasia, candidatos tucanos ao Senado e ao governo, à do presidenciável José Serra (PSDB). Ontem Aécio disse estar se empenhando pela candidatura presidencial. 
Pedido - Até ontem a corregedoria da Receita Federal não tinha respondido formalmente ao pedido da Polícia Federal de compartilhamento de dados do caso Eduardo Jorge (PSDB). Se até amanhã nada acontecer, a PF promete acionar a Justiça.
Cenários 1 - Detalhamento do Datafolha mostra que a dianteira de Germano Rigotto (PMDB, 41%) ao Senado no Rio Grande do Sul é puxada pelo interior do Estado: 45% contra 38% na capital. Embora dentro da margem de erro, o desempenho numérico de Paulo Paim (PT, 37%) é inverso: 37% no interior e 42% em Porto Alegre. 
Cenários 2 - Essa segmentação do eleitorado se repete no Paraná, onde Roberto Requião (PMDB, 50%) alcança 55% no interior, contra 38% na região metropolitana. Gleisi Hoffmann (PT, 28%) tem 44% na capital. 
Tiroteio
Para selecionar cidade beneficiada por computador, Lula usou o mesmo critério adotado para escolher sua candidata: o ego. 
DO DEPUTADO RAUL JUNGMANN (PPS), sobre a frase do presidente de que Caetés (PE), onde nasceu, foi incluída no programa “Um Computador por Aluno” devido ao “critério Lula”.
Contraponto
Corrente 
Na passagem por Maringá (PR), no fim de semana, o candidato José Serra (PSDB) foi cumprimentado por um pastor da Igreja Batista que disse ser seu admirador. O religioso afirmou ao tucano que, sempre que pode, fala bem dele aos amigos. Mas ressaltou que não pede voto durante as celebrações religiosas. Um tanto resignado, Serra brincou: 
- Só espero então que seus amigos não façam segredo disso!

GOSTOSA

FERNANDO DE BARROS E SILVA

Educação sem remédio
FERNANDO DE BARROS E SILVA
FOLHA DE SÃO PAULO - 27/07/10




SÃO PAULO - Os indicadores positivos estão na moda no Brasil, mas o país sempre insiste em nos lembrar que o buraco é mais embaixo.
Imagine que você está lendo a seguinte recomendação médica: "Tomar com o estômago vazio 1 hora antes da refeição ou 2-3 horas após a refeição". E que deve responder depois a seguinte pergunta: "Se você fosse almoçar às 12h e quisesse tomar a medicação antes do almoço, a que horas deveria tomá-la?".
De cada quatro pessoas, uma é incapaz de responder corretamente a uma questão como essa. É o que conclui a pesquisa do neurologista Ricardo Nitrini, após entrevistar 312 adultos alfabetizados (com graus diferentes de instrução formal) que acompanhavam pacientes no Hospital das Clínicas, em São Paulo.
Como mostrou reportagem da Folha no domingo, entre as pessoas com até sete anos de estudos, quase 60% não conseguiram entender o que liam. Foram, em tese, alfabetizados, mas não compreendem o significado do que está escrito. São "analfabetos funcionais".
O IBGE contabilizou, em 2008, 21% de analfabetos funcionais no país. Seriam aqueles com menos de quatro anos de escolaridade. Vários estudos, porém, apontam que o índice de analfabetismo funcional é, na realidade, bem mais alto. Quantos brasileiros entram e saem do ensino médio (o antigo colegial) sem alcançar o estágio da compreensão elementar de um texto?
O crítico literário Antonio Candido escreveu em 1970 (lá se vão 40 anos!) um ensaio muito importante: "Literatura e Subdesenvolvimento". Ali, equacionava o drama do analfabetismo e dizia que, numa sociedade como a nossa, a alfabetização não iria criar na mesma proporção leitores de literatura, mas, antes, "atirar os alfabetizados, junto com os analfabetos, diretamente da fase folclórica para essa espécie de folclore urbano que é a cultura massificada". São linhas incrivelmente atuais. De lá para cá, será que o problema se agravou ou estamos melhorando?

CELSO MING

Festa para poucos 
Celso Ming 

O Estado de S.Paulo - 27/07/2010

Há seis anos, o BNDES emprestava R$ 60 bilhões no mercado e já provocava distorções. Hoje, os ativos são de mais de três vezes esse valor e as mesmas distorções se multiplicam.
No início do mês, até mesmo o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, advertia que a concessão de créditos subsidiados "poderia ser um dos fatores pelos quais os juros básicos tinham de ser tão altos". Esse "poderia", assim no condicional, foi entendido como um eufemismo para evitar afirmações mais categóricas e não aprofundar as críticas a uma das políticas do governo Lula. Na prática, os financiamentos do BNDES a juros inferiores até mesmo aos juros básicos (Selic) obrigam o Banco Central a "compensar" com juros mais altos a expansão de moeda produzida pelo BNDES.
Dia 20 esta Coluna avançou outras críticas à atuação do BNDES na medida em que este passou a tomar recursos do Tesouro e, com eles, a espichar seu crédito subsidiado mais ou menos como fazia o governo militar, que financiou a expansão da economia com dívida externa.
Nesse final de semana, o Estadão apontou uma estranha preferência do BNDES por frigoríficos. Como mostrou a reportagem de Raquel Landim e David Friedlander, nada menos que um quarto dos R$ 40 bilhões subscritos por um dos braços do banco, o BNDESPar, nos últimos anos, destinou-se a apenas quatro frigoríficos: JBS, Marfrig, Independência e Brasil Foods.

Embora o presidente do BNDES, Luciano Coutinho, repita que tudo se faz com transparência, ninguém sabe por que outros frigoríficos não conseguem ser convidados para a festa. E isso já demonstra uma distorção, que é a eleição arbitrária de beneficiários, o que prejudica a concorrência. Ninguém sabe tampouco como a eficácia dessas operações é medida. Alguns desses frigoríficos tiveram suas exportações recusadas na Europa por falhas de processamento da produção.

Há dias, dois frigoríficos, o JBS e o Marfrig, captaram R$ 6 bilhões por meio do lançamento de debêntures. Os dirigentes do BNDES afirmam que essa operação se fez "a preços de mercado". No entanto, o banco subscreveu nada menos que 83,3% do total (R$ 5 bilhões). Os recursos repassados ao Marfrig destinaram-se à compra de frigoríficos no exterior, que não criam emprego no Brasil.

A maioria das empresas favorecidas pelo BNDES possui previamente boa parte dos recursos para sua expansão. No entanto, diante da oferta irrecusável de financiamentos de longo prazo a custos subsidiados, usa o dinheiro em caixa para outros fins e trabalha alegremente com o presente do BNDES. E essa é outra distorção.

Não dá para sustentar também que os empréstimos do BNDES são realizados com garantia real e que, assim, dão destino seguro para os recursos do contribuinte que tem captado no Tesouro. A Oi, por exemplo, recebeu muito crédito de longo prazo para incorporar a Brasil Telecom e, no entanto, está atolada em dívidas de R$ 30 bilhões. Até que ponto conseguirá sustentar seu negócio é um mistério. E o BNDES sustenta ainda que, para cada real de passivo levantado no Tesouro, há um real sólido em ativos no setor privado.

Uma política industrial dessa qualidade é puro casuísmo. Não é como a chuva que cai mais ou menos por igual. É o exercício constante da escolha de apaniguados em detrimento do resto da economia.
O gráfico a mostra a evolução do rombo das Contas Correntes (com o exterior). Esse déficit está sendo financiado por entradas de capital, especialmente pela entrada de investimentos estrangeiros, um dinheiro que desembarca para ficar por aqui.
Muda a cobertura
O risco é o de que, em vez de investimentos externos, a principal cobertura para esse déficit passe a ser de capitais destinados a aplicações em renda fixa, um dinheiro mais nervoso e mais instável. Se alguma coisa der errado na economia, será o primeiro a bater asas.

O ESGOTO DO BRASIL

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO

Programa contra crise alcança R$ 69 bi em financiamento 
Maria Cristina Frias

Folha de S.Paulo - 26/07/2010

Lançado em julho de 2009 para tentar conter os reflexos da crise no Brasil, o PSI (Programa de Sustentação do Investimento) desembolsou R$ 46,5 bilhões até julho deste ano, de um total de R$ 69 bilhões contratados em financiamentos a bens de capital, segundo o BNDES.
O PSI ofertou financiamento de início com juros de 4,5% ao ano e, neste ano, de 5,5% ao ano.
O volume pode contribuir para a manutenção do crescimento da taxa de investimento no país, que será divulgada em setembro, segundo Marcelo Nascimento, economista do BNDES. "Tivemos alta expressiva do investimento. Ainda não está em taxa sustentável, mas as perspectivas são de alta."
A estimativa é que os investimentos da economia brasileira cresçam a taxas próximas de 10% em média entre 2010 e 2013.
As taxas de investimento do país têm sido impulsionadas, segundo o economista, pelo consumo interno de máquinas e equipamentos.
"O consumo aparente de bens de capital, que é o principal item de investimento da economia, e a curva do desembolso do PSI têm comportamento parecido."
Desde o segundo trimestre de 2009, a FBCF (Formação Bruta de Capital Fixo) cresce. No último trimestre de 2008, auge da crise, a FBCF caiu 9,7% ante igual período do ano anterior, e seguiu em queda de 12% no primeiro trimestre de 2009. A partir do lançamento do PSI, a FBCF retomou fôlego.

À PROCURA DO QUE ESTÁ ENCOBERTO
Membro de vários conselhos, dentre eles o da Nasdaq, a presidente do Council on Competitiveness, Deborah Wince-Smith, esteve no Brasil para finalizar preparativos para a 2ª Conferência de Inovação Brasil-Estados Unidos. O evento vai reunir, em setembro, em Washington, 300 líderes de empresas, governos e da comunidade científica dos dois países, para debater energia, infraestrutura e agricultura, dentre outros temas. Para Wince-Smith, dos emergentes, o Brasil é o que tem mais afinidades com os EUA, por serem "grandes produtores de alimentos, terem grandes mercados, diversidade populacional e democracia". Anos atrás, ninguém entendia seu interesse em estreitar as relações entre Brasil e EUA, conta Wince-Smith, que está ligada à Secretaria de Estado, de Hillary Clinton. "Hoje me cumprimentam por ter "estado à frente do tempo" e percebido logo oportunidades no Brasil. Aprendi a ver o que não está à vista", diz ela, arqueóloga de formação.

Clareza... Após quatro meses de análise, 20 empresas brasileiras foram contempladas com o Troféu Transparência 2010, destinado às companhias que apresentam maior transparência em suas demonstrações financeiras. A premiação é realizada pela Anefac-Fipecafi-Serasa Experian e está em sua 14ª edição.

...premiada As empresas de capital aberto com faturamento acima de R$ 8 bilhões contempladas são Souza Cruz, AmBev, Embraer, Usiminas, Vale, Cemig, CSN, Petrobras, Gerdau e Braskem. Dentre as que faturam abaixo dessa faixa estão Sabesp, Natura e BM&F Bovespa. A Albras foi premiada na categoria capital fechado.

Shoppings devem faturar 15% mais neste ano

Impulsionado pelo aumento do consumo e das vendas do comércio varejista, o faturamento do setor de shopping centers deve crescer 15% neste ano, de acordo com a consultoria Lafis.
A expansão deve continuar nos próximos anos. Para 2011 e 2012, a projeção é de crescimento de 12% e 11%, respectivamente.
A realização de parcerias com investidores estrangeiros e a abertura de capital das empresas têm impulsionado a captação de recursos para a construção de novos shoppings, de acordo com Caio Falconi, analista da Lafis.
Por outro lado, a escassez de terrenos livres nas áreas metropolitanas poderá dificultar a instalação de empreendimentos nas grandes cidades, segundo Falconi.
"Com aluguéis mais caros na região Sudeste, a expansão fora do eixo Rio-São Paulo irá se mostrar como um fator benéfico para o crescimento do setor", diz.
Nordeste e Centro-Oeste são apontadas como as regiões com forte potencial de expansão. "O avanço da agroindústria no Centro-Oeste e o crescimento da economia do Nordeste irão demandar novos empreendimentos", afirma Falconi.

DORA KRAMER

Leis da alienação 
Dora Kramer 

O Estado de S.Paulo - 27/07/2010

Por mais que estejam conceitualmente equivocados, não estão longe da realidade aqueles que não consideram absoluto o conceito de liberdade de expressão. Situando melhor: não estão longe da realidade brasileira nos três meses que antecedem todas as eleições no País.
Nesse período, o princípio é relativo. O quarto item do artigo quinto da Constituição - "É livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato" - fica suspenso para emissoras de rádio e televisão (incluídos os respectivos espaços na internet), submetidas a regras de exceção.
O arbítrio, em tese legal, pois obedece à legislação eleitoral e a resoluções do Tribunal Superior Eleitoral, alcança toda programação, jornalística ou não, e, ferindo a Constituição, pretende assegurar o cumprimento do preceito, também constitucional, da igualdade.
Em nome dele são cometidas variadas deformações, cujo carro-chefe é a pretensão de tratar como igual o que é inteiramente diferente.
Por exemplo: a obrigação de garantir espaços semelhantes para os candidatos. Quando um deles é protagonista (para o bem ou para o mal) de um fato muito importante, natural que fosse dado mais espaço a esse candidato. Bem como, quando há uma disputa polarizada entre dois deles, é óbvio que o interesse do público se concentra neles.
O espaço dado aos outros na mesma medida é artificial, maçante e desigual, pois desperdiça tempo e subtrai do eleitor a oportunidade de se concentrar no que interessa.
Pelas normas que regem o que pode ou não pode no rádio e na televisão é proibido dar "tratamento privilegiado" a candidato, partido ou coligação; veicular imagem que desagrade ao candidato, partido ou coligação; dar opinião favorável ou desfavorável a candidato, partido ou coligação.
Em resumo, não pode nada. Interpretação, opinião, piadas, paródias, fica tudo proibido, abolido o senso crítico, pois o julgamento do que desagrada ou prejudica candidatos, partidos ou coligações é totalmente subjetivo.
O Congresso e o Judiciário chamam isso de salvaguardas contra abusos e favorecimentos, mas o nome verdadeiro é censura. Em geral, auto-aplicada.
Como as emissoras - concessões estatais - não querem se arriscar a levar multas, e terem até suspensa a programação por "uso indevido de meio de comunicação", preferem não exibir nada que dê margem a punições.
Com isso o assunto eleição só aparece no rádio e na televisão de maneira "noticiosa". Ou seja, fulano disse isso, beltrano respondeu aquilo e sicrano falou tal coisa assim.
São regras de assepsia que pretendem acabar - e realmente acabam - com o exercício do discernimento justamente no momento em que ele é mais necessário e nos meios mais abrangentes de comunicação.
Quem perde? O perdedor de sempre, o boboca tutelado que paga a conta do horário eleitoral dito gratuito.
Para os políticos - que fizeram as leis - quanto menos crítica melhor, quanto mais o eleitor for tratado como incapaz menos trabalho ele dá.
Enquanto isso, o abuso de poder político e o uso de máquinas públicas grassa em abundância ao módico preço de R$ 5 mil a R$ 25 mil por infração.


Plano de voo. Em primeiro lugar nas pesquisas em Minas para o Senado, o ex-governador Aécio Neves não entrará no ritmo de artilharia pesada recentemente incorporado pelo PSDB em relação ao PT, explorando assuntos como Farc e invasões do MST de maneira bastante enfática.

Aécio preserva-se para, no caso da vitória de Dilma Rousseff, manter a expectativa de chegar à presidência do Senado mesmo tendo sido eleito por partido de oposição.

É assim que pensam mineiros, é assim que dizem pensar petistas, mas não é necessariamente assim que pensam pemedebistas.

Antes de chegar à cadeira hoje ocupada por José Sarney, Aécio terá de desarmar o acerto entre PT e PMDB para a ocupação das presidências da Câmara e do Senado. Em sistema de rodízio, como fizeram no governo Lula.

GOSTOSA

ARNALDO JABOR

Nossa vida será um videogame?
ARNALDO JABOR
O GLOBO - 27/07/10

"Eu era jovem, feliz, perto do selvagem coração da vida" - escreveu Joyce ao chegar a Paris com 22 anos. Pois eu estava em Londres em 1967, quando saiu o "Sargent Pepper" dos Beatles e senti a mesma coisa. Havia em King’s Road uma espécie de comício dissolvido nos olhares, uma palavra de ordem flutuando no vento, "blowing in the wind", como cantava o Bob Dylan. O mundo careta tremia, ameaçado pelo perigo do comunismo e pela alegre descrença que os hippies traziam.
A reação começou no início dos anos 80, quando morreu John Lennon, assassinado por um psicopata anunciador do que viria.
Depois, em 90, com o fim da Guerra Fria, pareceu-nos que os Estados Unidos iam derramar pelo mundo seu melhor lado: a democracia liberal, a autocrítica modernizadora, o poder multipolarizado, a tolerância; parecia que a liberdade era inevitável, quase uma necessidade de mercado.
Mas, não era esse o desejo dos caretas republicanos. Essa máfia de psicopatas queria se vingar do desprezo que sofrem nos anos 60, se vingar do vexame de Nixon e Watergate, se vingar dos Beatles, dos Rolling Stones, de Marcuse, de Dylan, da arte, dos negros, das mulheres e, principalmente, da liberdade sexual, que sempre odiou. Imaginem Bush, Karl Rove ou Rumsfeld diante de um Picasso, ouvindo "free jazz". Começou a reação da caretice estúpida contra a modernização do mundo, tanto no Ocidente quanto no fundamentalismo islâmico. Osama Bin Laden e Bush se uniram, sob a aparência de inimigos, numa aliança fundamentalista contra a paz e a democracia. Deixaram a "herança maldita": o mercado global insensato, roído por homens-bomba e medo, a destruição do Iraque, o Afeganistão, o Ocidente como cão infiel do Oriente. E hoje assistimos a uma política mundial que é um balé impotente, com a razão humilhada e ofendida, para desespero dos que acreditavam num futuro iluminado. Não teremos nem o "fim da história" do Hegel, nem do Fukuyama, aquele "hegelzinho" do Departamento de Estado. Cada vez mais, a vontade dos homens está submetida às suas produções; as coisas mandam nos desejos e nos programam. Num primeiro momento, isso nos dá o pavor do descontrole racional sobre o mundo, ou melhor, da "ilusão de controle" que tínhamos: "Ah... que horror... o humano está se extinguindo, a grande narrativa, o sentido geral...".
Mas, pergunta-se: que "humano" é esse que só no século XX gerou duas guerras mundiais, Hitler, Mussolini, Hiroshima e Nagasaki, o Vietnã, China, Pol Pot, África faminta etc... que "humano" é esse que os racionalistas teimosos cismam em idealizar?
Está se formando uma nova vida social, sem finalidade, sem esperança ideológica, mas que poderá ser muito interessante em sua estranheza.
A tecnociência, o espantoso avanço da comunicação, da cultura da web, dos diálogos em rede no mundo todo, os Twitters e blogs estão roendo os princípios totalizantes e totalitários. O futuro não será mais o que era, como escreveu Valery. Tudo se passará aqui e agora, sempre. Há um enorme presente. O passado será chamado de "depreciação".
A rapidez dessas mutações nos dá frio no estômago, mas a vida mesma dará um jeito de prevalecer, e talvez esse atual fantasma que assombra os metafísicos esteja nos libertando de antigos "sentidos" tirânicos, trazendo uma nova forma de aventura existencial e social que possa vir justamente da desorganização da "ideia única". Em nossa cabeça, as ideias sempre criaram as invenções, os avanços morais ou políticos. Mas as ideias agora surgem das coisas. Sistemas éticos ou racionais surgirão dos microchips, da tecnologia molecular, e não o contrário.
O Google talvez seja mais importante que o Iluminismo.
O mundo está se desunificando sim, em forma de uma grande esponja, em vazios, em avessos, em buracos brancos que vão se alargando, à medida que a ideia do o tecido da sociedade "como um todo" se esgarça. Não há mais "células de resistência"; apenas "buracos de desistência". Há tribalizações de grupos, sem proselitismo; há uma recusa ao mundo, aceitando-o como algo irremediável, mas sem conformismo. Por dentro de seu luto, as tribos se desenham.
Os jovens de hoje querem alcançar uma forma de identidade alternativa e não almejam mais o "poder", que está em mil pedaços. Antes, lutávamos contra uma realidade complexa, sonhando com utopias totalizantes. Era o "uno" contra o "múltiplo". Hoje, é o contrário; a luta é para dissolver, não para unir; luta-se para defender o vazio, o ócio possível, luta-se para proteger o "inútil" da arte, o que não seja "mercável". Agora, os novos combatentes não sonham com o absoluto; sonham com o relativo.
Hoje, a desesperança total está parindo novas formas larvais de sobrevivência. E isso pode ser o novo rosto da humanidade se formando. É claro que o ser humano necessita de explicação, de síntese, de consolidação de ideias.
Sem dúvida, as religiões e o fanatismo estão florescendo, e o irracionalismo (mesmo disfarçado de sensatez) resistirá bravamente; mas, talvez os avanços científicos, melhorando a vida, possam dissolver os fanatismos e as massas submissas a deuses.
Talvez sejamos robotizados, modificados geneticamente, talvez espantosas tragédias surjam nos corpos e nas sociedades, mas um tempo diferente de tudo que conhecemos já começou. Os intelectuais falam no tempo pós-humano. Mas a própria ideia de "pós" já é antiga. De qualquer forma, talvez o pós-humano seja interessantíssimo, até divertido. Será que vamos viver como dentro de um videogame planetário? Não sei... mas é mais interessante o melancólico lamento pela razão e harmonia que não chegam nunca...
Estamos mais sozinhos; o misterioso rumo da história, com tragédias e comédias, está no comando (como, aliás, sempre esteve), e as tentativas de prevê-la foram todas para o brejo...
Estamos em pleno mar, porém mais perto do selvagem coração da vida.

SONIA RACY - DIRETO DA FONTE

À casa torna 
Sonia Racy 

O Estado de S.Paulo - 26/07/2010 

Eliana Tranchesi diz que, até o fim do ano, levará para a Daslu 30 grifes internacionais. Entre elas, a Dolce & Gabbana, que voltará à loja depois de quase um ano de ausência. Não haverá corner da marca como antigamente. Em formato reduzido, as peças serão compradas no exterior pela própria empresária.

Mora ao lado

E em uma decisão dos novos administradores da Villa Daslu, o acesso ao prédio vai mudar. A entrada pela avenida Chedid Jafet será bloqueada. Será acessível só pela avenida Juscelino Kubitschek.

Como assim?

Ofício enviado pela Fecomércio do RJ tem provocado estranheza entre os associados. Assinado pelo diretor Natan Schiper, o documento se assemelha a um "manual de proteção ao sonegador".

Sugere, entre outras coisas, cuidado no cruzamento de dados pela Receita Federal e mais atenção com a informalidade contábil.

Tamanho é documento

Mais uma partida do cabo de guerra entre a Lei Cidade Limpa e os patrocinadores que querem bancar reforma do Copan, um dos cartões-postais da cidade. O síndico do edifício, Affonso de Oliveira, e Regina Monteiro, da Emurb, discutem o tamanho da publicidade de quem custear o projeto.

Pressão

Decidida a primeira providência a ser tomada pela nova Comissão Especial da Criança, recém-criada por Ophir Cavalcante, da OAB. Pressionar as faculdades para incluir disciplina de Direito da Criança e do Adolescente no currículo.

E exigir que concursos públicos da área jurídica tenham questões sobre o assunto.

Batuque da urna

Netinho de Paula repete a dose. Assim como nas eleições de 2008, acaba de regravar jingle a partir de seu hit da época de pagodeiro Cohab City.

Com direito a refrão chiclete: "Vai ficar legal/ Netinho no Senado no maior astral..."

Polpettone

A maneira macarrônica como a Ferrari manobrou o resultado do GP da Alemanha foi motivo de gozação geral nos bastidores do circuito de Hockenheim. Há quem acredite que Massa não tinha ideia da bobagem que fazia.

Alô, amigos

Os 3.600 atletas que participarão dos Jogos Olímpicos da Juventude, em Cingapura, em agosto, receberão um smartphone. Mas terão que devolvê-los no fim do evento.


Domingo no parque

A área de visitação pública do Parque Anhanguera, em Perus, deve ser ampliada.

A Secretaria do Verde já encomendou estudos de viabilidade ambiental para depois desenvolver um projeto para a área.

Mergulho de água fria

Durante a Liga Mundial de Vôlei, o levantador Bruno Rezende prometeu que, em caso de título, mergulharia, de madrugada, na piscina fria (2°C) do hotel, em Córdoba, na Argentina.

Dito e feito. Depois da conquista, a maioria dos jogadores caiu na piscina gelada. E ninguém dormiu. Os campeões comemoraram durante toda a noite e foram direto para o aeroporto.

Saudade e dinheiro

Gisele Bündchen vem ao Brasil no começo de agosto.

Para matar as saudades? Talvez. Mas, primeiro, filmará novo comercial da linha Pantene.

Na frente

Para viabilizar o projeto Dionisíacas em Viagem, do Teatro Oficina, Zé Celso fez exigência pensando no público: apresentações só em local com ar-condicionado.

Radicado nos EUA, Armando Bravi Filho, coreógrafo, volta ao Brasil para trabalhar com Felipe Senna no musical Into the Woods. Com estreia dia 20, no Teatro Brigadeiro.

Ondjaki, José Eduardo Agualusa e Mia Couto confirmaram presença na Bienal do Livro, em agosto.

O lançamento de Contrafeito, de Juliano Ribas, acontece hoje, na Mercearia São Pedro.

A Lancôme celebra 75 anos em desfile com Juliana Jabour. Hoje, no Morumbi.

O Instituto Butantã tem agora curso de pós-graduação na área de venenos e toxinas.

Interinos: Débora Bergamasco, Gilberto de Almeida, Marilia Neustein e Paula Bonelli.

A TERRORISTA MENTIROSA

RUBENS BARBOSA

Aliança de Civilizações

Rubens Barbosa 
O Estado de S.Paulo - 27/07/10

O Brasil sediou, no fim de maio, o terceiro Fórum Mundial da Aliança de Civilizações. Mais de 7 mil líderes políticos de diversos países (Brasil, Turquia, Portugal, Argentina e Bolívia), empresários, prefeitos, ativistas da sociedade civil, movimentos de jovens, líderes religiosos, jornalistas e de relações entre as culturas estiveram presentes no encontro no Rio de Janeiro.


A Aliança de Civilizações foi proposta pelo presidente do governo da Espanha, José Luis Rodrigues Zapatero, no debate geral da 59.ª Assembleia-Geral das Nações Unidas, logo após os atentados terroristas ocorridos em 2004 no metrô de Madri. E foi copatrocinada, desde o início, pelo primeiro-ministro da Turquia, Recep Tayyip Erdogan. Em 14 de julho de 2005, o então secretário-geral das Nações Unidas, Kofi Annan, formalizou seu lançamento e o Brasil, convidado pela Espanha, passou a integrar esse movimento desde 2006.
Essa iniciativa, que se desenvolve no âmbito das Nações Unidas, busca mobilizar a opinião pública em todo o mundo para supera as percepções equivocadas que, muitas vezes, levam a conflitos entre Estados e comunidades heterogêneas. Objetiva contribuir para o esclarecimento das relações entre sociedades e comunidades de extração cultural e religiosa diversa, assim como enquadrar a luta contra o extremismo na perspectiva da prevenção.
A iniciativa atua em quatro áreas prioritárias: educação, juventude, meios de comunicação e imigração.
O terceiro Fórum da Aliança de Civilizações tratou de temas bastante amplos, como a ordem mundial e a governança global, alfabetização midiática, migrações e ajuda ao Haiti.
Falando sobre a instabilidade política e as deficiências da governança global, o secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), José Miguel Insulza, assinalou que a comunidade internacional perdeu uma oportunidade de se reorganizar após os ataques de 11 de setembro de 2001 nos Estados Unidos.
"No princípio, existiu a ideia da oportunidade. Infelizmente, isso não prosperou, ficou nas palavras, somente. A resposta foi bem inversa. Houve a Guerra do Iraque. Houve um aumento das tensões em todas as partes do mundo. E não houve nenhuma solução para o conflito árabe-israelense. Portanto, a oportunidade não foi aproveitada. Tampouco se considerou necessário mudar a estrutura política mundial", completamente obsoleta. Insulza afirmou também que, alguns anos depois, surgiu uma "segunda oportunidade", com a crise econômica mundial de 2009. "E até certo ponto pareceu que algo foi aproveitado", observou. "Pelo menos, passamos do G-8 para o G-24. No entanto, a estrutura financeira permanece igual." Para ele, após a crise surgiu uma "nova realidade mundial", com o aparecimento de novos polos de poder, como o Bric, grupo de países emergentes formado por Brasil, Rússia, Índia e China.
No encerramento do encontro, a representante do governo brasileiro considerou o evento importante não só para se apresentarem algumas iniciativas pioneiras com potencial para serem ampliadas em outras comunidades ao redor do mundo. Mais que isso, segundo ela, o encontro foi um passo além para se criar uma interface global, conectando jovens, ativistas, líderes empresariais, defensores dos direitos humanos, líderes políticos, chefes de comunidades religiosas, acadêmicos e jornalistas. Todos reunidos puderam compartilhar ideias, desenvolver novos pensamentos e colaborar para construir uma confiança mútua. Foi adotada a Declaração do Rio de Janeiro, que estimula os planos nacionais e as estratégias regionais.
Os temas mais sensíveis e delicados do cenário político, econômico e social foram debatidos, com maior ou menor veemência, mas o conflito do Oriente Médio a intolerância religiosa, os movimentos xenófobos ao redor do mundo e conflitos étnicos, para citar apenas alguns, foram cuidadosamente omitidos no documento final do fórum.
De forma genérica e quase anódina, o texto reitera a necessidade de negociações como forma de solucionar conflitos, reforça a necessidade do entendimento entre culturas diferentes, reconhece a importância do diálogo e apoia o desenvolvimento de processos regionais de cooperação.
Nos últimos 20 anos, depois da queda do Muro de Berlin, quando se esperava que o entendimento e a integração política e econômica passassem a prevalecer num mundo livre do confronto ideológico e militar, o que se viu foi um movimento em sentido contrário. Têm prevalecido o nacionalismo xenófobo, primeiro nos Bálcãs e depois no âmbito da União Europeia, e a defesa dos interesses do Estado-nação, no comércio internacional, por meio do protecionismo e da disputa selvagem por mercados. No cenário político, a vontade de um país individualmente considerado e a intolerância religiosa colocam em posição antagônica valores, ideias e princípios.
A Aliança de Civilizações pretende retomar a ideia do internacionalismo como alternativa ao nacionalismo e ao individualismo. O risco é a Aliança se tornar um slogan vazio politicamente ou uma forma de tentar assegurar uma uniformidade artificial.
Foi isso exatamente o que aconteceu na reunião do Rio de Janeiro. Manifestações retóricas de alguns poucos líderes políticos de países que têm pouca influência na tomada de decisões nos assuntos que realmente contam para promover um grande congraçamento global foram acompanhadas e ampliadas por muitos representantes de organizações não-governamentais de todos os campos de atividade.
Num mundo que passa por grandes transformações políticas, econômicas e sociais, movimentos como a Aliança de Civilizações são necessários, mas tendem a ter pouca influência, pela crescente complexidade no relacionamento entre povos e religiosos e, sobretudo, pela disputa de poder no novo equilíbrio global.
EX-EMBAIXADOR EM WASHINGTON (1999-2004)