sexta-feira, outubro 08, 2010

FRAUDE CONTRA ARTHUR VIRGÍLIO: LULA NOVE DEDOS É O CULPADO


FRAUDE TEM AS DIGITAIS DO LULA NOVE DEDOS


Todos estão lembrados que o marginal dos NOVE DEDOS, tinha como objetivo derrotar os principais líderes da oposição no Senado. Sua motivação era a "vingança" contra Virgílio, Tarso, Agripino e outros. 
O esgoto com nove dedos, sempre falou que entregaria o Senado com uma composição favorável a sua candidata DILMA CABEÇA OCA. 
Quando começarem a cascavilhar vão encontrar as mãos sujas do NOVE DEDOS.



Arthur Virgílio denuncia fraude eleitoral no Amazonas

Diário do Amazonas 

Arthur Virgílio, líder do PSDB no Senado, em entrevista coletiva na manha desta sexta-feira (9), apresentou documentos e cartões bancários que afirma terem sido usados para compra de votos durante o processo eleitoral em favor dos candidatos ao Senado, Eduardo Braga (PMDB) e Vanessa Grazziotin PC do B), justamente os que venceram a eleição.

De acordo com Arhur, sua assessoria jurídica entrou com pedido no Ministerio Publico Estadual (MPE) para que faça uma avaliação do material recolhido e uma auditoria nas contas da empresa A.C. Nadaf Neto Assessoria em Comércio Exterior, que expediu os cartões usados.
Arthur disse que tomou conhecimento dos cartões através de pessoas que denunciaram o “esquema” e que agora cabe ao MPE realizar as apurações.
A assessoria de imprensa do senador Eduardo Braga informou que convocará uma entrevista coletiva ainda hoje para responder às acusações de Arthur.
A assessoria do Banco Bradesco prometeu enviar uma nota oficial sobre o caso até o início da tarde de hoje.
Segue nota oficial do senador a respeito do caso:
 1. O mega crime eleitoral envolveu a empresa A.C Nadaf Neto Assessoria em Comércio Exterior, que emitiu, no período da campanha, milhares de cartões de débito e saque no banco Bradesco em favor de supostos cabos eleitorais, fato gravíssimo que maculou o pleito e alterou o resultados das eleições para o Senado, com a compra em profusão de votos.
2. Os beneficiários receberam valores de R$ 600,00 a R$ 1.200,00 para votar e efetuar a compra de votos para os candidatos ao Senado Eduardo Braga e Vanessa Grazziotin. Cada beneficiário seria encarregado comprar entre 10 e 20 votos pelo valor unitário de R$ 50,00, dependendo do valor creditado em seu cartão. Dez votos, por R$ 500,00, vinte votos, por R$ 1.000,00. A diferença era o pagamento por seus “serviços”.
3. As denúncias, com a presença de testemunhas e provas documentais, estão sendo formalizadas neste momento por minha assessoria jurídica ao Procurador Eleitoral, dr. Edmilson Barreiros.
4. Os cartões foram entregues em todos os municípios do Estado, incluindo Manaus, na semana da eleição. Junto com o cartão cada beneficiário recebia uma correspondência do banco com sua senha pessoal para efetuar os saques.
5. Solicitei ao Ministério Público a quebra do sigilo bancário da empresa A.C. Nadaf Netto Assessoria em Comércio Exterior; a investigação de seu vínculo legal com as campanhas dos candidatos envolvidos; que investigue a origem do dinheiro, a existências ou não de contratos de prestação de serviços com todos os beneficiários.
6. Em Coari, a juíza do pleito, considerando suspeita a movimentaçao fora da normalidade nos caixa eletrônicos do Bradesco, determinou a apreensão de vários cartões. Em Parintins, a Justiça Eleitoral efetuou, no domingo da eleição, a detenção da senhora Egren Baranda, flagrada com vários cartões em seu poder, e já notificou o vereador Rai Cardoso que também estaria à frente do esquema delituoso.
7. Os valores distribuidos e a consequente compra de votos me motivam a representar junto ao Ministério Público Eleitoral no sentido de que investigue, profundamente, esses fatos tão graves quanto deprimentes. Está claro o abuso de poder econômico e o crime eleitoral. A Justiça Eleitoral foi ultrajada, a democracia pisoteada. As provas são robustas e incontestáveis.
Minha eleição foi roubada pelo ódio, pela insensatez e e pelo despudor de alguns. Acuso frontalmente o candidato Eduardo Braga de ser o mandante da maior fraude eleitoral da história do Amazonas, em seu favor e da candidata Vanessa Grazziotin. E afirmo: não ficarão impunes.
A sociedade, que está chocada desde a noite de 3 de outubro, saberá agora porque os “vencedores” sequer tiveram ânimo de comemorar a “vitória” do dinheiro sujo."

MÍRIAM LEITÃO

E o segundo turno?
MIRIAM LEITÃO
O GLOBO - 08/10/10 

Nas últimas eleições, 70% dos brasileiros votaram em mulher para presidente, um sinal importante de maturidade e superação de preconceito. Quem lembra é o presidente do Ibope, Carlos Augusto Montenegro. Ele contesta que o instituto tenha errado nas pesquisas que fez, inclusive de boca de urna, e garante que em 15 dias Dilma caiu 10% e Marina subiu 10%. Uma tirou da outra.

No segundo turno, Montenegro diz que Dilma continua a favorita, entre outras razões por ter ficado a apenas três pontos percentuais da vitória, mas tem também pontos desfavoráveis. A pesquisa Datafolha sai sábado, mas a do Ibope, só na semana que vem:

- Acho melhor deixar baixar um pouco a poeira, haver o primeiro debate, a volta do programa eleitoral. Tem o feriadão. O melhor talvez seja na quarta-feira.

Ele diz que a eleição de segundo turno para os institutos é mais fácil e mais difícil ao mesmo tempo:

- No primeiro turno, tinha deputado estadual, federal, dois senadores, governador e presidente. Ao todo, nós fizemos 521 estimativas só nas pesquisas de véspera. Agora, há apenas os governadores de alguns estados e só dois candidatos a presidente. Mas cada candidato sobe tomando do outro, isso significa que a diferença num dia pode ser de 18, e no dia seguinte ser de sete, porque cada ponto vale dois.

Os institutos de pesquisa foram muito criticados por terem dado durante semanas seguidas vitória de Dilma no primeiro turno, Marina estagnada em 10%, e Serra com tendência de queda. Só no final é que ajustaram. Até a boca de urna do Ibope apontava Dilma com 51%. Há cientistas políticos, como Jairo Nicolau, da Uerj, que acham que os institutos deveriam rever suas metodologias da mesma forma como os ingleses fizeram em 1992, quando apontaram a vitória trabalhista e os conservadores ganharam.

Conversei ontem longamente com Montenegro e ele tem toda uma estatística mostrando acertos no Brasil todo e não considera que essa diferença na eleição presidencial seja comprometedora do trabalho. A senadora Marina Silva acha, no entanto, que foi prejudicada pelos institutos. O Ibope, por exemplo, dava 9% para ela 15 dias antes.

A grande discussão é até que ponto a divulgação da pesquisa afeta o voto, por desanimar eleitores de alguns e induzir o voto em outros?

Montenegro acha que as perguntas não devem ser feitas só aos institutos.

- A imprensa se pauta demais pelas pesquisas e começa a dar espaços maiores para quem tem mais intenção de voto. Ela deveria fazer pesquisas qualitativas, deveria considerar também o voto espontâneo. Os financiadores doam mais a quem está com mais intenção de votos. Tudo isso deveria ser discutido - diz.

Ele garante que a diferença gritante entre intenção de voto atribuída ao candidato ao Senado por São Paulo, Aloysio Nunes Ferreira, e o que de fato aconteceu é resultado de uma decisão tardia do eleitor.

- No sábado, 40% não sabiam em quem votar para senador - diz Montenegro.

Há duas outras dificuldades técnicas do trabalho no Brasil, segundo ele. Primeiro, o TSE não divulga o perfil de quem se absteve. Portanto, as amostras não podem ser calibradas para incluir a abstenção. Segundo, só 44% dos domicílios têm telefone fixo, e a maioria do telefone celular é pré-pago. Não há como ter o cadastro dessas pessoas. O Ibope faz também visita às casas:

- Podem achar que erramos, mas vamos ponderar aqui: dissemos que a boca de urna apontava 51% para Geraldo Alckmin. Isso com duas mil entrevistas. O TSE com 25 milhões de votos apurados em São Paulo, às 22h, ainda não previa se haveria ou não segundo turno.

Esses são os argumentos do presidente do Ibope, mas o problema é que a grande vantagem dada a Dilma durante semanas pelas pesquisas, queda de Serra e estagnação de Marina criaram uma situação circular: quem está na frente atrai mais financiamento, estimula mais o militante, atrai mais eleitores. Os outros, perdem. É difícil crer que tantos tenham mudado tão rapidamente o voto:

- Mudaram sim. Em São Paulo, Serra estava perdendo e acabou ganhando sem ter saído do lugar. Ele ficou estacionado, Dilma perdeu seis pontos em poucos dias e Marina ganhou.

Ele acha que os fatores influenciadores, não necessariamente nesta ordem, foram: salto alto do PT, Erenice Guerra, quebra de sigilo, aborto, briga de Lula com a imprensa. Além disso, houve uma abstenção forte no Nordeste.

E agora? Bom, Montenegro acha que agora há a favor de Dilma o peso do Lula, o sentimento a favor do continuísmo, o fato de que ela só deixou de ter 3% e a maioria dos votos que perdeu foi para Marina. Contra Dilma, há o fato de que como havia expectativa de vitória no primeiro turno, ela apareceu como derrotada e se comportou nas primeiras horas como se fosse. E agora o tempo é igual para os dois candidatos. Serra tem a seu favor esse tempo igual na TV, o ânimo renovado de ter chegado ao segundo turno, sua maior experiência no governo, nos debates e em campanhas, e a possibilidade de trazer de volta o que houve de bom no governo Fernando Henrique.

Serra não explorou o fato de que foi o Fernando Henrique, no governo Itamar Franco, que derrotou o pior inimigo da história econômica recente do Brasil. Quem não viu, ouviu os pais contarem a época da hiperinflação. Além disso, a privatização mostrada como Aécio mostrou: como passaporte para a posse de bens é uma história favorável. Montenegro acha que não houve nessa eleição nenhuma onda vermelha e sim continuísmo de governos bem avaliados. O PT só ganhou no primeiro turno os governos de quatro estados e no Acre ganhou por muito pouco.

DILMA CABEÇA OCA

DILMA CABEÇA OCA

NELSON MOTTA

Canastrice
Nelson Motta
O Globo - 08/10/2010

Na novela "Passione", Gerson é um personagem que tem um vÍcio secreto e se trata com um terapeuta, interpretado não por um ator, mas por um terapeuta de verdade. O dr. Flávio Gikovate tem um sólido conceito profissional, mas como não é ator e nem tem técnica de interpretação, não está conseguindo convencer como? o que realmente é: um terapeuta competente. Qualquer ator competente, sem entender nada de terapia mas bem dirigido, seria mais convincente. Às vezes, a tentativa de dar "mais verdade" às cenas pode levar o público a acreditar menos.

Alguns profissionais vitoriosos em outras áreas têm também um talento natural para a interpretação. Entres eles, o diretor de cinema e publicidade Fernando Meirelles destaca Lula como o maior ator em atividade. Mesmo exagerando e sentimentalizando o seu personagem, Lula consegue convencer o público interpretando-o com emoção e eficiência. Pode-se gostar dele ou não, mas Lula raramente é canastrão. Mesmo quando finge acreditar em suas próprias mentiras.

Mas são casos raros, a maioria dos políticos, ao interpretar os seus próprios personagens, revela sua irremediável canastrice. Mas mesmo assim, e por outros meios, vão em frente e conseguem fazer carreiras, apesar da canastrice. Como galãs ou vilões, canastrões têm sempre o seu lugar no cinema e na televisão, porque divertem as massas como caricaturas, e, por contraste, valorizam os atores de verdade. Canastrões fazem história, desde o bíblico Victor Mature de "Sansão e Dalila" ao caubói Ronald Reagan, que canastrava na tela, mas não como presidente dos Estados Unidos, seu melhor papel, que interpretou tão bem que se tornou um grande presidente de verdade.

Dilma e Serra podem ser bons gerentes, ministros ou presidentes, mas interpretando eles mesmos, com script dos marqueteiros, são dois canastrões. Os piores momentos são quando eles tentam parecer mais simpáticos, doces e afetuosos do que são. Pior, só se chorassem. Mas agora a novela acabou e começa o Big Brother.

Uma das vitórias de Marina foi expor essa canastrice, sendo e convencendo como intérprete - e autora - de si mesma. 

MÔNICA BERGAMO

AJOELHA E REZA 
MÔNICA BERGAMO
FOLHA DE SÃO PAULO - 08/10/10

O PSDB prepara um grande "happening" para o dia 12 de outubro, quando o presidenciável José Serra deve participar, com o governador eleito, Geraldo Alckmin (PSDB-SP), da missa no santuário de Aparecida, no Vale do Paraíba, em SP. O tucano deve martelar na tecla religiosa e na pregação antiaborto que adotou recentemente. O evento, que comemora o Dia de Nossa Senhora Aparecida, padroeira do Brasil, reuniu 43 mil pessoas no ano passado e costuma ter ampla cobertura da mídia.

OS ABENÇOADOS
A "atração" da missa já está sendo anunciada pela arquidiocese local. O arcebispo Dom Raymundo Damasceno tem dito que "apenas políticos da região" devem participar dela, além dos tucanos Alckmin e Serra -que venceu na cidade com 47% dos votos, contra 28% de Dilma Rousseff (PT) e 23% de Marina Silva (PV).

PEREGRINOS
A "programação santa" de Serra no dia 12 já chegou ao comando da campanha do PT. E causou preocupação.

DESÂNIMO
De um deputado federal eleito pelo PSDB e que faz parte da ala "ideológica e histórica" do partido: "Hoje as ideias não interessam mais. Quem não tem dinheiro, rádio ou apoio de bispo e pastor não se elege em SP".

POEIRA MINEIRA
Itamar Franco (PPS-MG) vai ter que suar a camisa para ajudar Serra a "mostrar a que veio", como disse em entrevistas. Em Juiz de Fora, seu reduto, o tucano tomou uma surra eleitoral. Teve 18,8% dos votos, contra 30,6% de Marina e 48,9% de Dilma.

POEIRA
Já em São João Del Rey, terra da família de Aécio Neves, Serra teve 38,8% -Antonio Anastasia, candidato ao governo apoiado pelo mesmo Aécio, teve 75%.

QUESTIONÁRIO
O craque Ronaldo acertou data para receber Dilma Rousseff num jantar em sua casa para sabatina com jogadores de futebol: quinta-feira, dia 14. O corintiano recebeu Serra no primeiro turno.

PIMENTA FALA
Pela primeira vez em dez anos, o jornalista Pimenta Neves, 73, que assassinou a namorada, Sandra Gomide, recebeu um repórter para falar sobre o caso. Vicente Vilardaga, da revista "Alfa", encontrou um homem "sereno e com um estranho convencimento de sua inocência" que desenvolveu "um discurso de autodefesa baseado no uso dos medicamentos tarja preta que o teriam privado da razão no dia fatídico". Diz Pimenta: "Não estava em condições normais. Minha memória estava alterada e tenho dificuldades para lembrar de muitos detalhes". Ele se refere a Sandra como "uma boa moça." A revista chega às bancas hoje.

PEDAL E PIPOCA
A Mostra Internacional de Cinema de São Paulo terá bicicletários instalados em 15 locais de exibição de filmes do festival. Os pontos de parada, patrocinados pela Sabesp, visam estimular quem quiser ir de bike às sessões.

CLÁSSICO MODERNO
O quadro "O Julgamento de Páris", de Michele Rocca, obra de 1720 do acervo do Masp, vai ganhar uma reinterpretação do videoartista Eder Santos.
A instalação terá dois monitores 3-D e sete projetores para dar movimento aos personagens e fazer anjos voarem. Estará na exposição "Deuses e Madonas", que abre no dia 15 e marca também a volta a SP de "São Jerônimo Penitente no Deserto" (1451), de Andrea Mantegna, restaurada no Louvre.

AS DAMAS DA MODA

Fotos Luciana Whitaker/ Folhapress
 Michelle Birkheuer
A estilista venezuelana Carolina Herrera recebeu um jantar em sua homenagem no apartamento de Lenny Niemeyer, no Rio, anteontem. Entre os convidados, a atriz Giulia Gam, o joalheiro Antonio Bernardo e a modelo Michelle Birkheuer. O evento contou com uma intervenção artística de Antonio Bokel.

CAVEIRA NELES
O filme "Tropa de Elite 2", que estreia hoje, teve sua primeira exibição na terça em Paulínia (SP). O elenco formado por Wagner Moura, Tainá Muller, Maria Ribeiro e Seu Jorge, entre outros, participou do evento ao lado do diretor, José Padilha.

CURTO-CIRCUITO

A Trupe Chá de Boldo faz show hoje, às 23h30, no Estúdio Emme. O músico Tatá Aeroplano fará a discotecagem. Classificação: 18 anos.

João Doria Jr. promove hoje coquetel para os empresários e personalidades que viajarão para o 15º Meeting Internacional, no hotel Caesar Park do aeroporto de Guarulhos.

O DJ Zé Pedro faz festa de aniversário hoje no restaurante Rodeio. Depois, toca no clube Lions para os convidados.

com DIÓGENES CAMPANHA e LÍGIA MESQUITA

SERRA PRESIDENTE

EDITORIAL - O ESTADO DE SÃO PAULO

O fim de um tabu
EDITORIAL
O Estado de S. Paulo - 08/10/2010


A partir de hoje, quando recomeça a propaganda eleitoral na televisão e no rádio, se saberá de que forma e com que intensidade a campanha do tucano José Serra assumirá o legado do governo Fernando Henrique, aceitando enfim, à sua maneira, o desafio da candidata Dilma Rousseff e do seu mentor, o presidente Lula, de confrontar o atual período com o que o antecedeu.

Foi o que os seus principais aliados - a começar do ex-governador mineiro e senador eleito Aécio Neves - defenderam enfaticamente no encontro que marcou a largada para o segundo turno, anteontem em Brasília, com a presença dos governadores e parlamentares eleitos pela coligação oposicionista. Na primeira fase da disputa, pôde-se contar nos dedos de uma mão quantas vezes Serra mencionou o ex-presidente. O seu nome e o termo privatizações eram considerados venenosos. O candidato acusava a rival de ter "duas caras". Ele próprio, porém, tinha uma cara ao sol e outra à sombra.

O mantra de Serra era discutir quem tinha de fato visão, experiência e capacidade para "fazer mais" no pós-Lula. Não funcionou. Se dependesse exclusivamente disso, Dilma seria a esta altura a presidente eleita do Brasil, graças ao seu patrono. Os resultados do 3 de outubro representaram para o tucano, mais do que uma derrota eleitoral, uma derrota política. Ou seja, como diria Marina Silva, "perdeu perdendo". É verdade que também Dilma saiu derrotada politicamente, por ter embarcado na canoa da invencibilidade que o seu chefe conduzia.

Salvo na 25.ª hora por mudanças para as quais não contribuiu - a migração de votos dilmistas para Marina Silva e a preferência pela candidata verde de muitos dos até então indecisos -, Serra acabou premiado com a chance de, na pior das hipóteses, perder ganhando no tira-teima do dia 31. Até hoje, nenhum candidato a presidente e raros candidatos a governador conseguiram virar o jogo no segundo turno. Ainda que o retrospecto se confirme, a oposição pelo menos sairá da peleja com a coluna vertebral no lugar se fizer com que a coerência prevaleça sobre a conveniência.

Se não exatamente com essas palavras, foi seguramente com esse espírito de catar o touro à unha que os serristas partiram para a nova empreitada. "Seja mais Serra do que marketing", exortou, sob intensos aplausos, o ex-presidente e senador eleito, Itamar Franco. Trata-se de adaptar a estratégia de comunicação ao foco político da campanha - e não o contrário. E esse foco só se firmará se o candidato se dispuser a ir além da rememoração das realizações de sua trajetória para encaixá-las na moldura da ideologia que as inspirou - e que chegou ao poder com Fernando Henrique. "Não precisa esconder ninguém", aconselhou Itamar.

"Devemos defender isso com altivez e iniciar o segundo turno falando dele", apontou por sua vez Aécio Neves, credenciado por seu sucesso nas eleições mineiras a ocupar um lugar central na campanha pelo Planalto. O ex-governador mostrou, ele próprio, o que isso significa - e o que Serra não disse no horário eleitoral. "Não teria havido o governo Lula se não tivesse havido o governo Itamar, com a coragem política de lançar o real, e se não tivesse havido o governo FHC, que consolidou e abriu a economia", começou, antes de encarar a questão até aqui tabu.

"Se querem condenar as privatizações, estão dizendo a cada cidadão brasileiro que pegue o celular no seu bolso, na sua bolsa e jogue na lata de lixo mais próxima", provocou. "Foi a privatização do setor que permitiu a universalização de acesso da população, por exemplo, à telefonia celular." Abertas as comportas, Serra lembrou que "o governo Lula continuou a privatizar", citando os casos do Banco do Estado do Maranhão e do Banco do Estado do Ceará, no primeiro mandato. "Se privatizou, não era tão contra."

Ao devolver a bola para o campo do adversário, o PSDB finalmente virou a página da equivocada conduta no segundo turno de 2006, quando o então candidato Geraldo Alckmin ficou na defensiva diante da propaganda lulista que o acusava de desejar a privatização da Petrobrás e do Banco do Brasil. Nesse sentido, o segundo turno de agora é, sim, uma nova eleição.

MERVAL PEREIRA

Maioria ilusória

MERVAL PEREIRA
O GLOBO - 08/10/10
Este é o Congresso mais fragmentado da História brasileira, com dez partidos que realmente contam, o que não é muita novidade, pois o Congresso anterior já tinha nove partidos influentes. Segundo o cientista político Octavio Amorim Neto, da Fundação Getulio Vargas, do Rio, um estudioso do assunto, embora essa não seja uma notícia nova, o importante é registrar que a cada eleição batemos um recorde de fragmentação partidária.
As causas específicas dessa situação são variadas. Partidos que eram relativamente grandes, como o DEM e o PSDB, diminuíram suas bancadas, assim como o PMDB, que era o maior partido da Câmara, que também caiu.
O PT só cresceu um pouco, e outros partidos que eram pequenos, como o PSB, cresceram também.
Essa tem sido a tendência dos últimos anos, segundo Octavio Amorim: os grandes ficam um pouco menores, e os pequenos, um pouco maiores.
Na suposição de que a candidata oficial, Dilma Rousseff, seja eleita, do ponto de vista formal o governo terá mais força no Congresso, poderá aprovar reformas constitucionais e barrar CPIs, ressaltando a fragilidade maior da oposição na futura Legislatura.
O cientista político da FGV acha que a real fonte de oposição estará dentro da própria base governista.
Os atritos que já começaram a aparecer nessa segunda fase da campanha, com o PMDB reagindo ao que considera um cerco do PT para dominar a estratégia da campanha e de um eventual futuro governo Dilma, são parte disso.
Ontem mesmo, o presidente do partido e candidato a vice na chapa oficial, Michel Temer, já anunciou que embora a bancada do PMDB seja menor do que a do PT, não aceitará sem discutir que a presidência da Câmara fique com o PT.
O grande desafio para a governabilidade, tanto de Dilma quanto de Serra, será gerar consenso dentro da base.
Os temas polêmicos, como as reformas política, tributária e da Previdência, terão que ser negociados quase que caso a caso. Nem a Dilma tem a maioria que os números supostamente dão, nem Serra terá tantas dificuldades se vencer a eleição.
O PP, o PTB e o PR são base de qualquer governo. E esses partidos, e mais o PMDB — que dificilmente ficaria na oposição em um eventual governo Serra —, também não darão apoio ao governo se ele tentar qualquer alteração constitucional que fragilize a democracia e os direitos individuais.
Octavio Amorim Neto acha que a grande fonte de oposição a essas tentativas será o PMDB. "Não é à toa que o PMDB em seu programa tem insistido no tema da democracia", ressalta, lembrando que "o DNA do PMDB é, por definição, democrático".
Amorim Neto lembra que o velho MDB se molda na luta contra a ditadura, depois se torna o maior partido do país e, mesmo diminuindo, suas principais lideranças foram criadas na disputa eleitoral.
A base governista no Congresso é fragmentada e heterogênea. Vários desses partidos que formam esse arco amplíssimo, que vai da direita — com o PP e o PR — à extrema esquerda — com o PCdoB —, estão ali por razões puramente pragmáticas, o mesmo pragmatismo que fez com que o governo Lula os abrigasse em sua base.
Uma troca de apoios e favores que tem limites ideológicos. Para Octavio Amorim Neto, PP e PMDB só colaborarão com o PT contanto que certos limites sejam respeitados.
No PMDB é muito claro isso, ressalta Amorim Neto, que vê nessa situação uma grande oportunidade para o PMDB resgatar sua credibilidade política, o que lhe permitiria até mesmo lançar um candidato próprio à Presidência da República viável em 2014, como defensor da democracia.
Tanto da democracia substantiva, com o crescimento da classe média e maior distribuição de renda no rastro do governo Lula, mas também da democracia formal, na defesa da liberdade de imprensa e dos direitos dos cidadãos.
O PMDB se fortalecerá mais à medida que a esquerda do PT apareça com essas propostas radicais. E esse fortalecimento se dará dentro e fora do governo, com o PMDB se firmando diante da opinião pública como um partido eminentemente democrático.
Na suposição de o candidato tucano José Serra vencer as eleições de 31 de outubro, Octavio Amorim Neto vê um problema para ser resolvido com muita negociação política.
A maioria que foi formada é uma maioria pré-eleitoral, formada quando a candidata oficial Dilma Rousseff estava em baixa nas pesquisas de opinião: "Portanto o PMDB não pode ser mais acusado de ser um partido oportunista, por que assumiu o custo de uma candidatura com algumas dificuldades", ressalta.
Serra já tendo sido do MDB e cooperado com o PMDB anteriormente, recebido o apoio formal do partido em 2002, claro que há muito espaço.
Mas haverá disputa de espaço entre o aliado de primeira hora do PSDB, que é o DEM, em situação adversa a ele, pois o partido sai enfraquecido da eleição e o PMDB chegará com todo o seu peso para disputar espaço no governo.
No Senado, especificamente, Octavio Amorim Neto acha que o novo senador de Minas Aécio Neves, inspirado na maneira de fazer política de seu avô Tancredo Neves, não deve ter uma atuação agressiva, mas certamente será centro das ações de uma oposição ao governo Dilma.
A perda de figuras importantes como Tasso Jereissati, Arthur Virgilio, Marco Maciel, Mão Santa, Heráclito Fortes, será em parte compensada também pela chegada de senadores de peso político, como o ex-presidente da República Itamar Franco e o senador campeão de votos paulista Aloysio Nunes Ferreira, além da permanência de senadores como Agripino Maia do Rio Grande do Norte.
Também no Senado, com o PP aumentando sua bancada para cinco senadores e pequenos partidos de centro estando representados, não haverá espaço político para eventuais aventuras autoritárias do governo, apesar de teoricamente a base oficial dominar 70% do Senado.

GOSTOSA

DORA KRAMER

Guerra insana 
Dora Kramer 

O Estado de S.Paulo - 08/10/2010

Com tanto assunto para ser discutido, a curta campanha para o segundo turno da eleição presidencial começa dominada por uma agenda de caráter religioso e irrelevante do ponto de vista das preocupações nacionais.

Evidente que não há assunto proibido nem momento inadequado para se discutir o que for, inclusive aborto. Mas convenhamos que o tempo é exíguo para que se dê atenção quase exclusiva a um assunto que pode até apaixonar, mas não faz parte da pauta de prioridades do brasileiro.

Não há forças em choque querendo mudar a lei atual e, portanto, trava-se uma discussão sobre teses. Muito justo como parte do debate, mas é totalmente fora do contexto ocupação do espaço todo com a discussão sobre filosofias de vida e concepções religiosas.

E já que o tema surgiu como uma das explicações para que Dilma Rousseff não tenha conseguido se eleger no primeiro turno - por causa de uma campanha de padres e pastores nas respectivas igrejas -, caberia ao PT encerrar o assunto o quanto antes para que o baile prossiga ao som de outras melodias.

Por causa dessa (falsa) celeuma passou quase em branco a conclusão da Receita Federal de que o acesso aos dados do vice-presidente do PSDB, Eduardo Jorge Caldas, em Minas Gerais foi ilegal e feito por um petista.

O silêncio dos filhos de Erenice Guerra na Polícia Federal, contrastando com o barulhento tom da primeira nota oficial da mãe chamando a todos de caluniadores, mereceu canto de página e nem parece que outro dia mesmo se descobriu uma central de corrupção funcionando a partir da Casa Civil da Presidência da República.

Essa questão também não causou desconforto no eleitor e não fez Dilma perder votos? Ao menos foi essa a avaliação do PT no dia seguinte.

O PT gostaria e o presidente Luiz Inácio da Silva já "ordenou" que a candidata fuja do assunto aborto. O problema é que não é assim que se vira a página. Só será possível fazê-lo mediante uma tomada definitiva de posição por parte de Dilma Rousseff.

Senão, ganha enorme relevância outro aspecto: a mudança de opinião para atender a uma conveniência eleitoral.

Dilma ao que se saiba nunca se pronunciou a favor do aborto. Ninguém é favorável à interrupção da gravidez. Apenas umas pessoas acham que quando isso acontece por alguma circunstância não pode ser punido como crime; outras consideram que equivale a assassinato e um terceiro grupo admite o aborto sob determinadas condições.

O que deu para entender até agora sobre a posição da candidata é que é favorável à descriminalização. Ela e muitas mulheres no Brasil e no mundo.

Por que, então, o escarcéu? Porque o PT resolveu incluir o assunto em seu programa de governo e porque grupos religiosos radicalmente contrários ao aborto fizeram campanha anti-Dilma.

Detectado o movimento, tentou-se contornar o problema com um remendo mal costurado, um gesto artificial, imaginando que a parada estaria ganha em 3 de outubro.

Não estava. O passivo acumulou-se e explodiu quando institutos de pesquisas atribuíram o segundo turno à pregação religiosa.

A saída seria uma manifestação coerente e convincente da candidata. Mas aí é que está o xis da questão: do modo como estão as coisas, Dilma não pode ser ao mesmo tempo coerente e convincente. Ou consegue conciliar as duas posições ou não vai superar esse insano impasse.

De uma vez. Assim que o próximo recurso de candidato ficha-suja chegar ao Supremo Tribunal Federal entidades que se organizaram em favor da Lei da Ficha Limpa pedirão que o desempate não espere o preenchimento da vaga do ministro Eros Grau.

Segundo o presidente da OAB, Ophir Cavalcanti, isso "politizaria" a nomeação.

Na prática deixaria o desempate nas mãos do presidente da República, criaria um debate político na sabatina do Senado e também abriria uma brecha para que, dependendo da escolha, favoráveis ou contrários à aplicação imediata da lei contestassem a imparcialidade do nomeado para julgar.

LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS

Câmbio, Uma guerra silenciosa e cruel 
LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS
FOLHA DE SÃO PAULO - 08/10/10


O MINISTRO da Fazenda, Guido Mantega, acertou em cheio ao declarar publicamente que vivemos uma verdadeira guerra monetária mundial. Para que sua imagem fosse perfeita, faltou apenas que adicionasse um adjetivo -não declarado- para descrevê-la.
O ministro foi a única autoridade internacional a ter coragem de denunciar a tentativa de usar as taxas de câmbio desvalorizadas como instrumento de estímulo ao crescimento. Fica fácil entender a ousadia do ministro brasileiro: nosso país é um dos que mais vêm sofrendo as consequências negativas dessa guerra escondida.
Mas, se o ministro acertou em cheio em sua denúncia, a decisão de dobrar o valor do IOF, cobrado na entrada de dólares para aplicação nos gordos juros pagos pelo Tesouro brasileiro, mostra que ele ainda não entendeu a dinâmica atual dos mercados de câmbio.
Foi importante dar nome aos bois no momento em que as lideranças mundiais evitam falar publicamente sobre essa questão. Mas o próximo passo será discutir a questão de forma clara e abrangente nos fóruns internacionais, como os próximos encontros do FMI e do grupo dos 20.
O leitor da Folha precisa entender que a guerra de moedas ocorre já há muito tempo e o que estamos vendo agora é uma situação extrema devido à forte recessão econômica no mundo desenvolvido.
Várias economias importantes, como o Japão e a Coreia, e, mais recentemente, a China, usaram de forma sistemática a arma de moedas desvalorizadas em relação às dos países mais ricos -principalmente em relação ao dólar americano- para crescer de forma sustentada.
Mesmo o Brasil usou em seu passado de crises a arma da moeda fraca para dar sustentação às nossas exportações, principalmente as de produtos industriais.
Mas, como a história nunca se repete da mesma forma, a crise bancária nas nações desenvolvidas mudou o cenário mundial e fez com que a política cambial dos países asiáticos ganhasse outra dimensão. Com o crescimento chinês sustentando as economias emergentes e os EUA e a Europa lutando para sair da recessão, a equação do câmbio desvalorizado mudou de sinal.
Em outras palavras, são agora os EUA, a Alemanha e a Itália que precisam exportar para o mundo em desenvolvimento e tentar reverter o quadro recessivo e de altos índices de desemprego em que estão mergulhados. Para tanto, o dólar e o euro precisam se desvalorizar em relação às moedas das nações emergentes para viabilizar o crescimento.
Mas, como sempre acontece nos momentos mais difíceis da economia mundial, não há ainda condições políticas para fazer esse movimento de forma coordenada. E, sem uma atuação conjunta dos bancos centrais no processo de corrigir e de estabilizar as taxas de câmbio, a probabilidade de sucesso de iniciativas isoladas, como a do governo brasileiro, é muito baixa.
O caso do Japão talvez seja mais representativo dessa afirmação de que o ativismo isolado do ministro Mantega está fadado ao insucesso.
Recentemente, o governo japonês mobilizou quase US$ 30 bilhões para tentar trazer o iene para um nível menos destruidor da indústria japonesa e, menos de um mês após esse movimento agressivo, a moeda está mais forte do que antes.
Se o Japão, com juros de 0% ao ano e com uma capacidade de intervenção nos mercados muito maior do que a nossa, não consegue isoladamente evitar o fortalecimento de sua moeda, imagine o Brasil. Com os juros de longo prazo dos títulos emitidos pelo governo brasileiro próximos de 12% ao ano, a decisão de agir isoladamente me parece algo semelhante a "enxugar gelo".
Enquanto escrevia esta coluna, o secretário do Tesouro norte-americano, Timothy Geithner, veio a público propor uma discussão séria e articulada para pôr fim a essa guerra surda.
Os EUA foram parte fundamental para viabilizar a política de moedas fracas adotadas pelas economias da Ásia até hoje, mas já não têm mais condições financeiras e econômicas de continuar com esse papel. 

POESIA NO BLOG

RENATA LO PRETE - PAINEL DA FOLHA

Ruído na comunicação 
Renata Lo Prete

Folha de S.Paulo - 08/10/2010

Numa semana na qual aliados de A a Z apontaram a beligerância em relação à imprensa como um dos fatores que contribuíram para impedir que Dilma Rousseff (PT) liquidasse a eleição no primeiro turno, integrantes da campanha manifestam incômodo com a movimentação de Franklin Martins (Comunicação Social), em viagem à Europa para colher ideias que resultem num projeto de regulamentação da mídia.
Foi especialmente mal recebida a declaração, feita ontem pelo ministro, de que no Brasil "a imprensa é livre, o que não significa que seja boa". Muito antes da viagem, petistas já se queixavam de que Franklin atua seguidamente para "pilhar" os ataques de Lula.

Por perto A principal motivação de Lula, ao convidar Ciro Gomes (PSB-CE) para assumir uma lugar na coordenação da campanha de Dilma, foi evitar que o deputado e ex-candidato a presidente ficasse solto na praça, eventualmente exercitando seu espírito crítico contra a candidatura governista.
Oremos Dilma incluiu o Santuário de Aparecida em seu roteiro de terça, data oficial da padroeira. Se confirmar a visita, esbarrará em José Serra, que irá ao templo. A presença dos candidatos é vista com cautela pela Basílica. "Serão bem-vindos se vierem para rezar", adverte o padre Darci Nicioli.

Flashback A primeira pesquisa realizada pelo Datafolha no segundo turno da eleição presidencial de 2006 mostrou Lula com 50% das intenções de voto e Geraldo Alckmin com 43%. Se considerada a projeção de válidos à ocasião, o placar era de 54% a 46%. Nas urnas, o petista, reeleito, obteve 60,83%, e o tucano, 39,7%.

Prova dos nove O vice Michel Temer comanda hoje, em frente à sede da Força Sindical, o primeiro ato suprapartidário pró-Dilma em solo paulista no segundo turno. O evento servirá para aferir a adesão de aliados do PDT, PP, PSB e PMDB que se dividiram na campanha.

O cara Rapidamente, o senador eleito Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP) vai assumindo o protagonismo da articulação política da campanha de Serra. Com bom trânsito entre aliados e adversários, o ex-secretário da Casa Civil tem como primeira missão desatar o nó das negociações com os "verdes".

Ele e ela A propaganda de Serra retorna hoje mais "comparativa" do que no primeiro turno. Além de cotejar biografias, os programas chamarão a atenção, por exemplo, para o que aconteceu na ultima vez em vez em que se elegeu um presidente "que ninguém conhecia".

Na real Petistas de São Paulo reconhecem que o engajamento de Geraldo Alckmin na campanha de José Serra está acima do imaginado. Em consequência disso, acham difícil que Dilma venha a obter mais de 40% dos votos no Estado. No primeiro turno, ela ficou com 37%.

Transfusão Do Sírio-Libanês, onde está hospitalizado desde terça-feira, José Sarney telefonou ao correligionário Renan Calheiros para endossar a cobrança por mais espaço para o PMDB no comando da campanha de Dilma. A ala peemedebista do Senado está ainda mais alijada do núcleo decisório do que os colegas da Câmara.

Visita à Folha Abram Szajman, presidente da Fecomercio, dos conselhos do Sesc e do Senac em São Paulo e do Sebrae-SP, visitou ontem a Folha, onde foi recebido em almoço. Estava acompanhado de Luiz Francisco de Assis Salgado, diretor regional do Senac, e de Ricardo Luiz Tortorella, diretor-superintendente do Sebrae-SP.

tiroteio

"Pedro Simon começou apoiando Serra, mudou para Dilma e terminou com Marina. Com mais alguns dias de campanha, talvez ele pulasse para o barco do Plinio."
DO DEPUTADO RODRIGO ROCHA LOURES (PMDB-PR), comentando as mutações do senador gaúcho, seu correligionário, ao longo do primeiro turno.

contraponto

Pesos-pesados


No encontro realizado pelo PMDB anteontem em Brasília, um dos assuntos era a indicação de Ciro Gomes (PSB), crítico notório do partido, para integrar a coordenação da campanha de Dilma Rousseff.
Inconformado, o mineiro Newton Cardoso citou o episódio do vídeo sobre a viagem de Ciro, com o irmão Cid e outros familiares, a Nova York e sentenciou:
-Esse aí é um ladrão!
Ao ouvi-lo, um cardeal peemedebista comentou:
-Agora, quando formos responder ao Ciro, chamaremos o Newtão: eles têm a mesma estatura moral...

CLÓVIS PANZARINI

O mar, o rochedo e o exportador
Clóvis Panzarini
O Estado de S. Paulo - 08/10/2010

Reza um dito popular que "em briga de mar contra rochedo, os mariscos acabam apanhando". Na disputa federativa entre a União e os Estados por recursos orçamentários, todo ano, quando se discute o projeto de lei do orçamento federal, os Estados iniciam queda-de-braço com o governo federal para que naquela peça seja consignada dotação para transferência a seu favor, a título de ressarcimento pelas perdas de que são vítimas decorrentes dos efeitos da chamada Lei Kandir (LC 87/96).

As exportações manufaturados são desoneradas desde sempre e a partir de 1996, a tal Lei Kandir estendeu também aos produtos primários e semi elaborados esse benefício. Essa mesma lei estabeleceu que até o exercício de 2002 - depois prorrogado até 2006 - a título de ressarcimento aos Estados que "a União entregará (...) recursos aos Estados (...), obedecidos os montantes, os critérios, os prazos e as demais condições (...)".

O fato é que desde 2007 a União não tem mais obrigação - antes, sem definição de montante, a "obrigação" era também negociada - de ressarcir os Estados pelas perdas decorrentes daquela Lei. Em 2003, a Emenda Constitucional nº 42 excluiu também os primários e semi elaborados do campo de incidência do ICMS e estabeleceu que "a União entregará aos Estados e ao Distrito Federal o montante definido em lei complementar, de acordo com critérios, prazos e condições nela determinados (...)."

Como essa lei complementar ainda não foi editada, os tais repasses da União hoje são voluntários uma vez que não há lei que a obrigue a fazê-lo. De outro lado, os Estados, com os interesses contrariados, assustam a União - que tem a responsabilidade pelo equilíbrio das contas externas - anunciando que não vão mais devolver aos exportadores, no caso, os mariscos, o ICMS indevidamente cobrado nas etapas anteriores à exportação, ainda que essa devolução - os chamados créditos acumulados de ICMS - seja um direito constitucional do exportador.

Observe-se que a já distante lei Kandir isentou apenas as exportações de primários e semi elaborados, mas os Estados ameaçam prejudicar todas as exportações, as de banana e as de automóvel! Nessa briga, todos os mariscos acabam apanhando.

SERRA PRESIDENTE

FERNANDO DE BARROS E SILVA

TENSÃO E APREENSÃO NO AR
Fernando de Barros e Silva
FOLHA DE SÃO PAULO - 08/10/10

Na prancheta, como dizem os boleiros, Dilma Rousseff larga na frente no segundo turno. Isso por vários e bons motivos: o resultado obtido nas urnas (46,9% a 32,6% de Serra), a prosperidade econômica, a popularidade de Lula, a força da máquina federal etc.
Em campo, porém, as coisas não começam bem para Dilma. Surpreendida pelo revés, sua campanha buscou, como em 2006, com Lula, reunir logo aliados eleitos em torno da candidata. O que seria uma demonstração de força acabou lembrando um velório, no qual sobressaía a expressão derrotada (e o rosto muito inchado) da petista.
O QG dilmista procura agora tirar a polêmica do aborto da pauta. Mas de pouco adianta Ciro Gomes dizer que os tucanos propõem o tema "em termos calhordas e desonestos" se Dilma não consegue ser honesta consigo mesma. Seu contorcionismo é tanto nessa matéria que ela se arrisca a enrolar a língua.
A de Ciro, que volta à cena, sempre foi solta. Meses atrás, ao ser alijado por Lula da disputa, ele chamava o PMDB de "roçado de escândalos". Dizia também que "Dilma é melhor do que o Serra como pessoa, mas Serra é mais preparado, mais legítimo, mais capaz. Mais capaz, inclusive, de trair o conservadorismo e enfrentar a crise que conheceremos em um ou dois anos".
Até o PMDB, sempre ciente do seu papel "nesse negócio da governabilidade" (definição impagável de Renan Calheiros), decidiu exibir suas asinhas. Reunido com Michel Temer, o partido reclamou do "anonimato" a que foi relegado e aproveitou para cobrar do PT as derrotas de Geddel e de Hélio Costa.
Tudo isso seria só espuma retórica se todos já não tivessem percebido que o roteiro do segundo turno tende a ser distinto daquele de 2006, onde o PT busca inspiração.
Lá, 15 dias após o primeiro turno, Lula abriu 20 pontos sobre Geraldo Alckmin. Agora, se Dilma tiver metade disso de vantagem, os petistas estarão agradecendo ao Senhor de joelhos -quem sabe até em latim.



ELIANE CANTANHÊDE

Vacas gordas, vacas magras
ELIANE CANTANHÊDE
FOLHA DE SÃO PAULO - 08/10/10

"Tudo o que é bom foi o Lula quem fez, tudo o que dá errado a culpa é dos outros."
A frase, do senador reeleito e ex-governador Cristovam Buarque, depois de trocar o PT pelo PDT, está atualíssima -apesar de seu autor ter recapitulado e caído de volta nos braços de Lula, que o demitiu por telefone, e de Dilma, a melhor aposta de poder.
Esse traço da personalidade -ou da esperteza- de Lula ficou evidente nestas eleições. Quando todo mundo já dava como certo que Dilma não apenas ganharia mas daria um banho histórico, Lula assumiu a dianteira nos palanques e nas manchetes, deixando a própria candidata em segundo plano. Mas, confirmado o segundo turno, o que Lula fez? Não só saiu da linha de frente como sumiu durante dias.
Palanque bom era aquele em que ele podia brilhar, primeiro para deslanchar a candidatura que tirou da cartola, depois para comemorar a "sua" vitória inquestionável e tripudiar sobre os adversários. Ali, valia tudo, até dar de ombros para a compostura de presidente e para a Justiça Eleitoral.
Palanque para admitir a reversão de expectativas, aí já não é com Lula. Foi Dilma quem enfrentou as feras, ladeada por Michel Temer, resgatado pela campanha, e por José Eduardo Dutra, sócio do fiasco de não vencer no primeiro turno. As caras estavam de dar dó.
Lula adora holofotes, discursos e metáforas, mas, depois da apuração (que em nenhum momento passou dos 47%), enfurnou-se no Alvorada para "articulações de bastidores", deixando a Dilma a tarefa de enfrentar a realidade, a irreverência dos jornalistas e a divisão da opinião pública. Ele se exibiu na virtual vitória. Ela botou a cara na hora da "derrota".
Com o reinício da propaganda eleitoral hoje, vamos saber qual dos Lulas ressurgirá na campanha, assim como até que ponto era real o frisson tucano para retirar Fernando Henrique da geladeira.

GOSTOSA

JOSÉ SIMÃO

Ueba! Tirica alfabetiza a Weslian!
JOSÉ SIMÃO 
FOLHA DE SÃO PAULO - 08/10/10

Eu vou chamar o Tiririca pra alfabetizar o povo do Twitter. Escrevem tudo errado: pretenção, votão


BUEMBA! BUEMBA! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Direto de Maringá: "Joana Darc acusada de botar fogo no carro do namorado". Predestinada!
E uma antipredestinada: uma aeromoça da Tam que se chama Adriana CONFORTO! Rarará! Sendo que você viaja mordendo os joelhos. E sabe por que eles só servem sanduíches? PRA COMER NA VERTICAL! Rarará! Se abrir os braços, explode o avião!
E a "Fazenda 3"? Olha o diálogo. Nanny People para Geisy: "Você já foi à Disney?". "Não." "Mas você tem visto?" "Tenho assistido pela TV." Rarará!
E a TV Vale Tudo revela a última declaração da Marina: "Peço 15 dias para a revista "Playboy" para a minha resposta". Rarará!
E buemba! Tico e Teco se separaram! Tico continua com a Carla Perez. E o Teco foi habitar na dona Weslian Roriz.
E como se pronuncia o nome dela? Acredita no chiclete e enrola a língua: UÉSLIAN! U- ÉÉÉ- S-Li-AN! E diz que a dona Weslian vai ser alfabetizada pelo Tiririca!
E baixou uma Vanusa de frente no Serra: "eu nunca disse que sou contra o aborto porque eu sou a favor, hãn, hãn, quer dizer, sou contra!". E sabe por que o ato falho? Porque ele tá mentindo. A Dilma tá mentindo porque, como uma mulher racional, não pode ser contra a descriminalização do aborto. E o Serra tá mentindo porque como ex bom ministro da Saúde nunca foi contra a descriminalização do aborto.
E o PV é a favor da descriminalização do aborto desde 2005! Chega de hipocrisia. Sexo de noite e sexo de dia! PALMAS! Eu quero palmas!
E atenção! Eu não tenho Twitter. São todos falsos! Tenho 70 mil seguidores no @josesimaoband mas é falso. Fica falando um monte de coisa preconceituosa. Eu não tenho Twitter porque sou paranoico pra ter um monte de gente me seguindo. Eu tenho uma amiga que quando atingiu 5 mil seguidores, se trancou na cozinha. De medo! Rarará.
Eu acho que vou chamar o Tiririca pra alfabetizar o povo do Twitter. Escrevem tudo errado: pretenção, votão, farça. E a Ana Maria Braga escreve uzar. Já sei, ela usa o tuíter com z. Tiririca pra personal tuíter.
Um professor de português pra revisar os textos do tuíter. Para o Tuico e o Tueco tuitar. Rarará. Nóis sofre mas nóis goza!

SONIA RACY - DIRETO DA FONTE

Lição Cultural 
Sonia Racy 
O Estado de S.Paulo - 08/10/2010

Ainda bem que o Unibanco se uniu ao Itaú e não ao à EBX. Pelo que se ouviu anteontem à tarde no CEO Summit, promovido pela Endeavour, a noção de cultura empresarial de Pedro Moreira Salles e Eike Batista são totalmente diversas.

Para uma plateia lotada de new-empreendedores, no Hotel Unique, em Sampa, Moreira Salles explicou que a cultura empresarial é um instrumento de gestão na busca de vantagens comparativas. A implantação de valores que, por si só, selecionam quem vai ou não vai trabalhar dentro de uma empresa. Já Eike projetou no telão um organograma cujo centro é o Sol, denominado "The Zone". Circulado por divisões-satélites como a da transparência, pensar grande, pitada de sorte, paixão, capital de risco e... humildade.

As diferenças são tantas que se refletem até na maneira de vestir: enquanto Salles trajava terno convencional, Eike apareceu todo de preto sem gravata.

Cultural 2Em poucas palavras, dá para arriscar dizer que Moreira Salles defende modelos democráticos, onde lideranças naturais têm espaço para surgir sem que o indivíduo, entretanto, possa se sobrepor ao conjunto. Eike, por sua vez, descreveu linha personalista, calçado em lideranças formadas fora da empresa, atraídas pelos altos ganhos. Sequer na forma de remunerar um executivo houve concordância.

Eike chegou a fazer autocrítica. "Exagerei. Acabei criando muitos gatos gordos do tipo Garfield", brincou. Mantém, entretanto, sua pregação por mais generosidade do empresário brasileiro na divisão de lucros.

Cultural 3Para Beto Sicupira, um dos responsáveis pela implantação da Endeavour no Brasil há dez anos, este tipo de debate reflete a realidade: não há receita de bolo para o sucesso do empreendedorismo. "Cada um tem que encontrar sua forma de crescer", explica.

A instituição sem fins lucrativos oferece programas de estratégia. Para ser selecionado (hoje são 51 empresas), é necessário, entre outras, faturar de R$ 2 milhões a R$ 30 milhões.

Cultural 4Entre os muitos momentos de descontração, Eike fez a plateia rir alto ao descrever a necessidade de transparência na gestão, inclusive com os "banqueiros que estão no topo da cadeia alimentar". No que foi rapidamente rebatido pelo bem-humorado Moreira Salles: "Não sou eu que estou no topo da lista da revista Forbes".

NobelíssimoNovo Nobel de Literatura, Mario Vargas Llosa faz escala em São Paulo antes de participar do Fronteiras do Pensamento, quinta, em Porto Alegre. Onde apresenta uma conferência sobre cultura.

Marcou para quarta-feira jantar com FHC, Roberto D" Ávila e patrocinadores do evento.

Nobelíssimo 2Das visitas ao Brasil, Llosa destacou, para próxima revista TAM nas Nuvens, a que fez em 1979. Foi quando conheceu as paisagens do livro Os Sertões, de Euclides da Cunha, se inspirando para escrever A Guerra do Fim do Mundo. "Talvez uma das maiores emoções que tive na vida foi estar no lugar onde ficava Canudos."

Nobelíssimo 3Llhosa revelou também, com uma certa inveja, ser apaixonado por hipopótamos: "Suas principais ocupações são tomar banho, chafurdar na lama e fazer amor - podem passar 12 horas copulando".

Verdes mares?O PT não está tão preocupado com o apoio do PV à Serra. Segundo contou ontem alta liderança do partido, não se acredita que o partido, por si só, alavanque tantos votos.

Quanto a Marina, a aposta é que ela se manterá neutra.

RostinhoBruna Furlan, terceira candidata a deputada federal mais votada em São Paulo, é formada em Direito. Mas ainda não conseguiu passar no exame da OAB.

Futuro políticoApesar do baque da derrota, Netinho nem pensa em desistir da política. Quer concluir o mandato de vereador e terminar a faculdade na Escola de Sociologia e Política de SP, trancada por causa da campanha. Programas de TV? Garante que não aceitará propostas, por enquanto. E shows nos fins de semana, "apenas" para completar o ganha pão.

Na frenteA L"Oreal está trazendo para o Brasil uma equipe só para cuidar do selo Roger & Gallet. Tem plano de expansão para o País.

Nem os efeitos especiais escaparam da onda de sustentabilidade no SWU. Para iluminar os figurinos da performance do Light Energy Show, a produtora Digital 21 está usando energia solar. Segunda, em Itu.

Cândido Vaccarezza entrou em ninho errado ontem na coluna. Não é tucano.

DILMA CABEÇA OCA

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO

Havia uma eleição entre as luzes e as trevas 
Maria Cristina Frias 

Folha de S.Paulo - 08/10/2010

Da mesma maneira que a popularidade de Luiz Inácio Lula da Silva não se explica pela aliança entre Febraban e Bolsa Família, a explicação de que o voto Marina Silva deriva do casamento entre as luzes da modernidade e as trevas da religião padece de reducionismo. Quem cair nele pode sair deste segundo turno menor do que entrou.

Só as marchas gays têm competido com pentecostais e carismáticos na lotação de ruas e estádios Brasil afora. E não parece crível que petistas tenham descoberto, à meia-noite do domingo, que aquelas plateias são milhares de vezes superiores a quaisquer comícios de que Lula já tenha participado.

Essa constatação não autoriza a crença de que o Brasil de hoje seja mais fundamentalista do que aquele de 2002. Seria preciso aceitar que a adesão religiosa flutue ao sabor do vento. O eleitor teria sido fundamentalista em 1989 quando Lula foi acusado de sugerir o aborto de sua filha, recuado em 2002 e 2006 e retomado com fervor sua fé religiosa agora. Nem se os fiéis fossem medidos pelos institutos de pesquisa seriam tão volúveis.

O avanço do pentecostalismo e dos carismáticos nas duas últimas décadas não impediu que oito anos tucanos fossem sucedidos por outro tanto de petistas. É uma fé que cresce com o individualismo. E nisso não diverge da política desses últimos 16 anos.

O avanço religioso nas emissoras de rádio e TV e no Congresso só se traduz em fundamentalismo pelo fermento da insegurança. E que outra sensação a candidata do PT passou ao eleitorado com o batizado de seu neto de apenas 20 dias 48 horas antes do primeiro turno? À saída da igreja, Dilma Rousseff fez a inacreditável declaração: "Meu neto tinha de ser batizado. É a religião da minha família e a minha também".

Na segunda-feira, Maria Aparecida, ajudante de limpeza numa empresa de São Paulo, fazia a tradução: "Ela vai acabar com a religião dos crentes". Eleitora de Dilma, junto com sua família e até onde a vista alcança sua vizinhança, dona Cida era a imagem da desolação. Durante a campanha, exibia o orgulho de seu lulismo e da perspectiva de uma mulher ao poder. Votara em Dilma, mas, apurados os votos, parecia arrependida, já não sabia o que fazer no segundo turno e falava com desdém do oportunismo eleitoral da busca pelos votos de Marina.

O que aconteceu domingo não foi o predomínio da religião sobre a política, mas o amálgama de difusas insatisfações canalizadas para Marina.

Tome-se, por exemplo, Brasília, a capital do marineiros. Talvez nenhum eleitor conheça tanto quanto o brasiliense o esquema de tráfico de influência montado por Erenice Guerra, à sombra do presidente e de sua candidata.

Os recordistas de voto no Distrito Federal foram Marina e um deputado federal que é a síntese de sentimentos desencontrados que a política partidária tem tido dificuldade em captar. Recordista proporcional de votos (18%), José Antônio Reguffe (PDT) não tem vinculações religiosas ou corporativas aparentes. Fez fama nos escândalos que derrubaram José Roberto Arruda com medidas como corte de verbas de gabinete. Quer políticos de um mandato só e acha que Tiririca existe porque o voto é obrigatório. Não é um voluntarismo que combine com a carreira de Marina, mas não é difícil imaginar por que reúnem o mesmo tipo de eleitor.

O Nordeste, que se acreditava de porteira fechada para Dilma, também deu excelentes votações para Marina. Havia brechas aparentes na porteira que foram ignoradas. À obra do artista pernambucano Gil Vicente na Bienal de São Paulo só se deu importância pela tentativa de a OAB paulista censurá-la . Obra mais polêmica da exposição, 'Inimigos' traz FHC, Bento XVI, Bush, Lula e Ariel Sharon sendo executados pelo artista. Os 36,7% dos votos de Marina no Recife mostram que o artista captou algo que o PT não farejou.

Por que Dilma não conseguiu empatar com Eduardo Campos no Estado em que um aliado de Lula teve a melhor votação do país (82,8%)? Primeiro governador a se eleger vencendo em todos os municípios do Estado, arrancou desde 99% dos votos na pequena Calumbi até uma inédita declaração de apoio da federação das indústrias . Uma resposta possível é que Campos construiu carreira ampliando sua base política de baixo para cima sem se render ao messianismo.

No início da campanha, o PT temia que a exploração do passado de guerrilheira fosse o maior nó a ser desatado na imagem de Dilma. O ataque acabou vindo pela cruz, mas a reação amadora dos petistas indica que a abordagem messiânica da relação do presidente com o eleitor desarmou a campanha para enfrentar a concorrência. O deus do povo é outro.

Este segundo turno corre o risco de levar o país a retrocessos se a amplitude que se dá ao fundamentalismo religioso não for enfrentada pela política. Vide a declaração de um pastor da Assembleia de Deus e deputado do PRTB fluminense à repórter Paola de Moura (Valor, 7/10), de que Dilma precisará assinar uma carta de compromisso contra temas polêmicos. Depois da Carta ao Povo Brasileiro de 2002, a ameaça da vez é de uma ode ao obscurantismo.

O PSDB foi vítima da mistificação petista no segundo turno de 2006 em torno da privatização. E dá indicações de que pretende dar o troco sem uma sinalização clara do eleitor que pretende conquistar com a indecifrável declaração de Serra: "Nunca disse que sou contra o aborto porque sou a favor, ou melhor, nunca disse que sou a favor, porque sou contra".

Sempre tratados como peça de ficção, programas de governo são a melhor vacina contra a mistificação. A secretaria de direitos humanos foi o refúgio escolhido por Lula para abrigar a esquerda do seu partido, desalojada que fora da política econômica, agrária e ambiental. Mas se seu governo não produziu consenso à descriminalização do aborto, o rol de alianças de Dilma também não o permite. Tivesse programa claro sobre o assunto, a petista não teria ficado refém da marquetagem emergencial que agora recomenda entrevistas dentro de capelas.

O mesmo vale para Serra, outro sem-programa que entra no segundo turno sem que seu eleitor saiba se vai sucumbir à nova onda da privatização mistificada. Tanto um quanto o outro terão muito a ganhar fazendo concessões à Marina. Difícil mesmo vai ser conseguir dar alento à Dona Cida.

CELSO MING

Pressão sobre a China 
Celso Ming 

O Estado de S.Paulo - 08/10/2010

As pressões sobre a China estão cada vez mais fortes. Anteontem fora o secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Tim Geithner. Ontem foi a vez do presidente do Banco Central Europeu (BCE), Jean-Claude Trichet, e do vice-diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), John Lipsky, baterem por uma forte revalorização do yuan, a moeda chinesa.

Os Estados Unidos insinuam que a atual política da China não passa de manipulação cambial. Dois dos mais lidos analistas internacionais, Paul Krugman, do New York Times, e Martin Wolf, do Financial Times, também sustentam que é isso mesmo, é pura manipulação passível de punição, como se fosse um jogo sujo comercial qualquer. "Se investir metade do produto bruto do país em reservas não for manipulação do câmbio, então o que é?", escreveu Wolf anteontem.

Manipulação é uma expressão com forte conotação política, cujo objetivo é aplicação de represálias. Pela argumentação de Martin Wolf, Japão, Suíça, Índia, Japão e Brasil também estão manipulando seu câmbio, porque estão empilhando reservas. E, por outros critérios, o comentarista do New York Times Anatole Kaletsky avisou que manipulação é coisa que faz parte da política cambial, tanto que o presidente americano Ronald Reagan manipulou o câmbio quando fechou o acordo de Plaza, em 1985, que desvalorizou o dólar, e o acordo do Louvre, que em 1987 pôs um fim na desvalorização.

O fato é que a China não faz outra coisa senão colocar em prática, desde a década de 70, a política de seus interesses. Até recentemente, todos os governos, especialmente os dos países ricos, saudavam a disposição de Pequim em seguir comprando títulos do Tesouro dos Estados Unidos e, assim, de contribuir para a derrubada da inflação global.

No âmbito do Bank for International Settlements (BIS), que opera como banco central dos bancos centrais, a política cambial chinesa foi amplamente sabatinada pelos maiores entendidos do assunto do mundo. A China sempre argumentou que pratica um câmbio administrado por meio da compra de todo excesso de moeda estrangeira que pudesse derrubar a cotação do yuan em dólares. Repisa que essas compras são feitas com poupança do povo chinês, que é de 51% do PIB, o que lhe dá condições de esterilizar (por meio de lançamento de títulos) todo volume de moeda nacional usado para adquirir dólares, ou seja, a execução de sua política não produz inflação.

Até agora, nenhuma sumidade em política monetária conseguiu apontar procedimento tecnicamente condenável por parte da China. O que dizem muitas delas é que, a longo prazo, essa atitude não convém à China porque vai matar seu mercado externo. Mas, decididamente, não é o que pensam as autoridades chinesas do alto dos seus US$ 2,5 trilhões em reservas externas. É mais fácil sustentar que o país não está disposto, neste momento, a fazer o jogo das grandes potências. Nem estas parecem à vontade para levar as ameaças de represália às últimas consequências.

Em todo o caso, a questão de fundo não é técnica; é política. Está em saber até quando o governo da China vai suportar as pressões. E até que ponto as autoridades do Ocidente serão capazes de assistir à prostração de suas economias e ao aumento do desemprego sem decretar uma guerra, comercial ou financeira, contra as políticas de Pequim, focadas na exportação de manufaturados.

Confira
A esticada de setembro
Precisa acontecer algo muito fora do padrão para que a inflação deste ano escape da meta de 4,5% e exija ação contundente do Banco Central por meio de sua política de juros.

Selic parada
O esticão de setembro ainda vai aparecer nos próximos dois ou três meses, mas é improvável que a disparada dos preços dos alimentos, que começou com a alta do trigo, se mantenha por mais tempo. O Banco Central deverá manter até o final deste ano o atual nível dos juros básicos (Selic), de 10,75% ao ano.

GOSTOSA

RUY CASTRO

Catita e marota 
Ruy Castro
FOLHA DE SÃO PAULO - 08/10/10

No domingo, uma linda senhorinha de 90 anos, na sala de votação, me falava de sua experiência eleitoral. Embora seja das poucas brasileiras de sua geração ainda a votar, esta será a primeira vez que, sem contar reeleições, verá um presidente eleito pelo voto direto receber a faixa de alguém que a recebeu de seu antecessor nas mesmas condições. Se isto já aconteceu antes no Brasil, não foi no seu tempo.
Como tem hoje 90 anos, nasceu em 1920 e se tornou eleitora em 1938. Mas, em 1937, Getúlio Vargas já dera o golpe que criara o Estado Novo. Donde ela só iria votar pela primeira vez em 1946. E, desde então, devido a suicídio, renúncia, ditadura e impeachment, nenhum de nossos presidentes eleitos – Dutra, Getúlio, Juscelino, Jânio e Collor – protagonizara tal sequência. O que só se dará agora: o vencedor de 2010 será enfaixado por Lula, que já o fora por FHC.
Para que não se diga que tal oscilação é apenas brasileira, fosse a senhorinha cidadã americana e, no seu tempo de eleitora, também só teria visto esta sequência acontecer a partir de Jimmy Carter, em 1976. Até então, desde 1932, com Franklin Roosevelt, Harry Truman, Dwight Eisenhower, John Kennedy, Lyndon Johnson e Richard Nixon, a sucessão americana foi sempre interrompida por morte natural, assassinato ou impeachment de alguns deles.
Embora também ache que só se aprende a votar votando, minha nova amiga sugeriu que deveria haver uma emenda a esta máxima dizendo: ‘Nem sempre – ou os EUA não teriam eleito (e reeleito) George W. Bush.’ Mas, acrescentou, até quem passou a vida votando pode votar errado um dia.
Arrisquei perguntar-lhe, baixinho, em quem votara. E, a provar que, às vezes, o voto tem razões que só a emoção reconhece, ela piscou, catita e marota: ‘No Plínio. Gostei do velhinho.”

WASHINGTON NOVAES

No lixo, outro caminho para o desperdício
Washington Novaes 
O Estado de S.Paulo

Mais uma capital brasileira, Brasília, ameaça embarcar na última moda nacional em matéria de lixo, que é a implantação de usina de incineração - embora seu Plano Diretor de Resíduos Sólidos, um decreto de 2008, não contemple essa possibilidade. Mas o fato é que o governo distrital já baixou resolução convocando empresas interessadas a apresentar projetos de Parceria Público-Privada para essa área. Brasília junta-se, assim, a São Paulo, Rio, Recife, Belo Horizonte e outras grandes cidades - o que significa pelo menos 50 mil toneladas diárias, que, ao preço médio de R$ 30 por tonelada incinerada (a cotação no Distrito Federal), poderão significar, no mínimo, R$ 1,5 milhão por dia.

É quase inacreditável que Brasília esteja hoje na mesma situação em que o autor destas linhas a encontrou em 1992, ao assumir a Secretaria de Meio Ambiente, Ciência e Tecnologia, à qual seria incorporada, meses depois, a área dos resíduos. A cidade só contava com uma usina, que reciclava entre 20% e 30% do lixo e por cuja administração o governo distrital pagava - embora fornecesse todos os empregados, água, energia e transporte e houvesse investido sozinho no projeto físico - uma fortuna a uma empresa privada, que ali colocava apenas meia dúzia de técnicos e que seu contrato vencido havia anos, com prorrogações mensais irregulares. Todo o restante do lixo era levado para um lixão na chamada Via Estrutural, onde moravam mais de mil famílias que viviam da cata de materiais.

O plano diretor para a área, que foi então formulado, previa: 1) Um aterro adequado na área rural da cidade satélite do Gama; 2) a implantação, em área próxima, de uma usina de reciclagem, a ser operada por uma cooperativa dos catadores que moravam no lixão; 3) a uns 500 metros da usina, um conjunto habitacional para essas famílias; 4) o fechamento do lixão; 5) criação de quatro áreas para deposição de entulhos da construção; compra, pelos geradores de entulhos, de uma usina móvel de reciclagem que se deslocasse entre as quatro e, reciclando os resíduos, gerasse brita, areia e outros materiais; os materiais reciclados seriam metade para as empresas, metade para projetos de casas populares; 6) a retomada, pelo governo, da usina de reciclagem já existente.

Com exceção do último item, nada conseguiu ir em frente (e a usina ainda foi devolvida paralisada e sucateada). Primeiro, rebelaram-se agricultores que achavam que o aterro "contaminaria" suas plantações - embora laudos científicos mostrassem o contrário. Depois, uniram-se da extrema esquerda à extrema direita no Gama, com o argumento de que o DF "exportaria" para lá seu lixo e desvalorizaria a cidade. Finalmente, a própria empresa encarregada do estudo de impacto ambiental do aterro, da usina e do conjunto habitacional vetou toda essa parte do plano diretor, com a alegação de que não se poderia colocar pessoas morando a 500 metros da usina, "segregadas", pois "a filha do catador só poderia namorar o filho de outro catador" - como se isso não fosse em Brasília, uma cidade repleta de áreas restritas a certas categorias profissionais e como se os catadores não morassem dentro de um lixão. O fato é que, com a saída do autor destas linhas, no final de 1992, o projeto morreu. E até aqui a situação só se agravou em quase 19 anos.

Agora, cresce na capital o movimento contra o projeto de incineração, que, corretamente, alega: a incineração deve ser a última solução, só adotada se não forem possíveis a redução do lixo, a reutilização de materiais, a reciclagem. Além do mais, é solução muito cara, desperdiçadora de materiais (no lixo recolhido, chega até a 90% a porcentagem de materiais reutilizáveis ou recicláveis) e perigosa, por causa das emissões danosas à saúde humana, a começar por dioxinas e furanos, na queima de materiais orgânicos (que no Brasil são mais de 50% do total), além da liberação de metais pesados e outros poluentes. E também é um processo irreversível, que exigirá sempre mais lixo, em lugar de contribuir para sua redução (na Europa, que não tem onde implantar aterros, novas usinas de incineração exigem contratos de até 40 anos).

O caminho da incineração seria mais difícil se o Senado não tivesse suprimido do projeto da Política Nacional de Resíduos Sólidos - e sem protesto ou veto do Executivo - o dispositivo que não permitia a queima de resíduos a não ser quando esgotadas as opções de reciclagem. Mas suprimiu e o Executivo concordou. Abriu-se a porteira e agora a boiada das incineradoras nas capitais vem em passo acelerado. No Rio de Janeiro, a própria universidade federal prepara projeto para parte das 9 mil toneladas diárias de resíduos geradas. No Recife pretende-se construir uma usina para 1.350 toneladas diárias, ao custo de R$ 308 milhões para a implantação e concessão por 20 anos, cobrando quase R$ 30 por tonelada (fora os custos da coleta e transporte). São Paulo também discute a possibilidade de um projeto dessa natureza.

E assim vamos, sob os pretextos de que custa muito caro instalar aterros e se pode gerar energia na queima. Com essas lógicas, talvez chegue o dia em que se venha a incinerar perto de todas as 230 mil toneladas diárias coletadas no País - afinal, os espaços urbanos se encurtam e encarecem.

No mundo, a geração de lixo anda pela casa dos 4 milhões de toneladas diárias nas cidades, mais de um quilo por pessoa. Um enorme desperdício de materiais, num mundo carente deles. Estudo recente mostrou (New Scientist, 14/8) que nos EUA se desperdiça de um quarto a um terço dos alimentos produzidos e que estes, ao longo de todo o processo, consomem uns 15% da energia total no país (que, com 5% da população mundial, consome 20% da energia global). Cada família desperdiça US$ 600 anuais em alimentos não consumidos.

É por esses caminhos que tudo vai se tornando inviável. Mas quem reverterá?