sábado, outubro 02, 2010

GUILHERME FIUZA

A escalada da pobreza (de espírito)

GUILHERME FIÚZA
O GLOBO - 02/10/10

O último debate entre os presidenciáveis na TV, com seu clima de chá de senhoras na Confeitaria Colombo, produziu uma única certeza: a opinião pública está morrendo.

Os candidatos não falam com ninguém.

Falam com as pesquisas. E como as pesquisas são cada vez mais imunes ao que acontece na vida real, o debate na TV Globo foi uma espécie de horário eleitoral gratuito coletivo. Perguntas, réplicas e tréplicas compuseram uma animada conversa de surdos.

Cada um com seu monólogo ensaiado, falando diretamente ao coração do seu marqueteiro, olho no olho.

Foi assim, nessa conjunção de mundos límpidos e sem conflitos, que sumiu na paisagem a grande ausente do debate.

Erenice não deu as caras. E dessa vez não foi culpa dela. A fiel escudeira de Dilma Rousseff fez tudo certo para protagonizar a reta final da campanha.

Empenhou seus familiares e simpatizantes, em diferentes graus de parentesco, para exibir por completo a doutrina petista de privatização do Estado. Com sua coleção de indícios de tráfico de influência, manteve o lema revolucionário de endurecer sem perder a prepotência jamais, chamando o candidato adversário de "aético" e "derrotado" em nota oficial. Mas o Brasil é magnânimo.

Já começou a esquecer que teve uma Erenice na chefia da Casa Civil.

Se Erenice Guerra, a breve, fosse só um acidente na República dos companheiros, melhor mesmo seria deixá-la despontar para o esquecimento.

O problema é o quanto o estilo Erenice diz sobre Dilma - essa desconhecida com cerca de 50% das intenções de voto.

A ministra que Lula teve que "suicidar" a menos de um mês das eleições seria, por assim dizer, o homem forte do governo Dilma. Com o escândalo já cheirando mal a céu aberto, a candidata petista ainda tentou salvar sua protegida, classificando de "factoide" a revelação das peripécias de Erenice na penumbra do Planalto. O factoide custou a cabeça da ministra, mas Dilma continuou firme: "Não vi nenhuma ação inidônea da ex-ministra Erenice." Quanto desse tipo de idoneidade tomará posse junto com Dilma Rousseff, se eleita? O Brasil não quer falar sobre isso agora. Prefere esperar pelo futuro tomando seu chá na Confeitaria Colombo.

Como foi possível a Dilma entrar e sair do debate na Globo sem ouvir o nome de Erenice? Como foi possível à candidata de Lula desfilar na TV para milhões de brasileiros sem dar uma única explicação sobre a propensão fisiológica, autoritária e conspiratória de seu projeto político, flagrada no caso Erenice? É simples. Os bem-pensantes estão convencidos de que o povo não sabe o que é Casa Civil. Não adianta falar de tráfico de influência, porque o povo também não entende. Aliás, o povo também não sabe o que é violação de sigilo fiscal. Será que o povo sabe o que é falcatrua? Possivelmente sim, mas não liga o nome à pessoa. Ligar Erenice a Dilma, então, nem pensar.

Segundo essa doutrina, para ser ouvido pelos brasileiros, o candidato de oposição José Serra, por exemplo, tem que se apresentar como Zé, filho de feirante. No Brasil emergente da era Lula, a pobreza é quase um diploma.

E a ignorância enseja carinho e condescendência. Independentemente de seus atos, o presidente sociólogo desperta antipatia; o presidente operário desperta orgulho. E assim o país vai reduzindo suas desigualdades: orgulhando-se de falar a língua inteligível pelos que não sabem falar, substituindo brilhantismo por bom-mocismo.

Estudiosos formados nas melhores escolas do Rio e de São Paulo produzem estudos confirmando um novo Brasil descoberto em 2003. O proselitismo lulista envaidece a elite envergonhada.

Na FGV, no Ipea, na USP, na Unicamp proliferam os papers deslumbrados com a nova classe C que não lê jornal e vai ao shopping.

De que vale saber quem fundou a estabilidade econômica, ou o que é Casa Civil? Essas coisas não cabem na fábula do filho do Brasil, com seus mais de 80% de audiência. O freguês tem sempre razão. Rumo ao Oscar.

O presidente operário está tirando o Brasil da pobreza, e legará sua obra social à primeira presidenta do país.

Soa bonito, melhor não contrariar.

Ainda assim, sem querer ofender o arrastão do bem, caberia perguntar: um país que perde discernimento, que compactua com a falta de esclarecimento, que não fala o que os emergentes da classe C supostamente não vão entender, que faz debate de mentirinha para não perturbar o sono da opinião pública, está saindo da pobreza para onde? A indiferença nacional com o caso Erenice é um indicador seguro de elevação da pobreza - pobreza moral, cultural, cívica. A imprensa flagrou a pobreza de espírito dos que chegam ao poder para "se servir", como disse o próprio Lula sobre Erenice. Mas, como alertou o Verissimo, foi tudo uma tentativa de impedir a vitória da Dilma.

É o velho Fla-Flu ideológico - a face mais pobre do Brasil. E aí não há Bolsa Democracia que dê jeito.

MERVAL PEREIRA

Mundo paralelos
Merval Pereira
O GLOBO - 02/10/10



O debate da TV Globo foi tão modorrento quanto uma partida de final de campeonato em que o empate desse a vitória aos dois times, se isso fosse possível. Nenhum dos dois principais concorrentes quis arriscar as posições já conquistadas. O tucano José Serra está convencido de que irá para o segundo turno no vácuo do crescimento da candidata do Partido Verde, Marina Silva, enquanto a candidata petista, Dilma Rousseff, considera que a fatura será liquidada já no primeiro turno.

Dois mundos paralelos que no domingo se encontrarão com a realidade das urnas.

Por isso, os dois não se confrontaram.

Só quem precisava manter o espírito competitivo em busca de aumentar sua penetração no eleitorado era Marina, não em busca de um utópico segundo lugar que levasse ao turno final "duas mulheres", mas atrás do maior índice possível para ter poder de barganha num eventual segundo turno entre Serra e Dilma.

Entre os assessores do Partido Verde, a conta que se faz é que qualquer resultado que dê a ela entre 15% e 20% de votos válidos terá sido uma vitória.

Marina, levando a disputa para o segundo turno, terá quebrado a lógica da disputa plebiscitária planejada pelo presidente Lula, que demonstrou nessa eleição ser um grande estrategista político, mesmo que tenha reforçado esse seu pendor com o abuso do poder político que o cargo lhe confere e a leniência que o Tribunal Superior Eleitoral admite.

O decorrer da campanha eleitoral demonstrou que ele estava absolutamente certo ao não querer uma segunda candidatura do campo governista, como pretendia o deputado federal Ciro Gomes do PSB.

Além de ter provado que não precisava de um reforço para vencer o candidato tucano, Lula ainda se livrou de uma boa dor de cabeça ao escantear Ciro, pois com um aliado desses não é preciso adversário para criar problemas.

O deputado cearense foi dispensado por Lula com requintes de crueldade e, tendo transferido seu título eleitoral para São Paulo, não pode se candidatar nem a deputado federal.

O plano de Lula só teria tido um êxito mais completo se Ciro se dispusesse a disputar uma vaga de deputado federal por São Paulo e fosse traído pelo petismo paulista, como fatalmente ocorreria.

O que não estava nos planos do estrategista Lula era a possibilidade de Marina Silva se lançar candidata com chances reais de se tornar um fator decisivo na definição da eleição.

Ela caminha para assumir esse papel, podendo levar a eleição para o segundo turno ou, mesmo que Dilma se eleja amanhã, comandando uma força política que não poderá ser menosprezada nas negociações de um futuro governo petista.

No último debate da TV Globo houve um detalhe adicional que refreou o ânimo dos dois principais contendores.

Assim como em todos os demais debates, quem faz a pergunta fica à mercê do adversário, pois o sistema prevê uma tréplica que dá ao perguntado a última palavra.

Essa seria a explicação técnica para que nem Serra nem Dilma tenham querido fazer perguntas diretas um ao outro em temas que pudessem criar problemas, como corrupção ou aborto. A palavra final ficaria sempre com o adversário, que teria assim condições de fixar sua posição diante do eleitorado.

Na vez em que Marina perguntou a Serra, ele ficou com a palavra final, quando a comparou a Dilma por causa do mensalão.

Paradoxalmente, o debate que mais permitiu aos candidatos falarem sobre temas específicos de governo, como segurança, habitação, transportes, superando assim a superficialidade dos debates acontecidos até aquele momento, foi o momento em que o eleitorado telespectador aguardava a confrontação dos dois mais votados.

Também Marina parece que esperava por esse ambiente mais tenso para tirar proveito dele, mostrando-se como a única que trata de programas sem se entregar aos factoides políticos.

Como, no entanto, nem Serra nem Dilma estavam dispostos a se enfrentar, o primeiro guardando energias para um segundo turno que considera certo, a segunda por se considerar já eleita no primeiro turno, Marina ficou meio deslocada.

Talvez tenha sido essa a razão para seu desempenho medíocre, surpreendida pela falta de agressividade dos seus adversários, ela que não tem o espírito agressivo ao fazer política.

Teve que partir para o ataque aos dois, a fim de roubar votos que aumentassem seu cacife eleitoral, e às vezes pareceu fora de tom.

Não houve escorregões dignos de nota, a não ser a confusão frasística de Dilma que trouxe à tona a lembrança das famosas contribuições não contabilizadas de Delúbio Soares no mensalão, provocando risos na platéia, e ninguém se sobressaiu no que foi o último embate da campanha eleitoral.

As posições ficaram congeladas, e domingo saberemos quem estava com a razão, se Dilma ou Serra.

O Supremo Tribunal Federal acabou tendo uma influência maléfica no processo eleitoral quando decidiu desqualificar o título eleitoral e ao não conseguir decidir sobre a lei da Ficha Limpa.

Depois de anos, suas excelências descobriram que falta uma fotografia no título eleitoral, o que podia propiciar que fosse usado por outra pessoa que não o titular.

Essa "descoberta" do Supremo leva a crer que muitos políticos foram eleitos irregularmente por causa da falta de uma fotografia no título eleitoral.

Ao mesmo tempo, mesmo preservando o espírito da lei que foi aprovada no Congresso com o apoio de todos os partidos políticos, inclusive o PT, e sancionada pelo presidente da República, o Supremo substituiu o Congresso na definição de que documento serve para coibir a fraude eleitoral, o que seria no mínimo desnecessário.

Já a não-decisão sobre a Ficha Limpa coloca no limbo milhões de votos, que poderão simplesmente ser anulados se a decisão final for a favor da aplicação imediata da lei, como, aliás, já decidiu o Tribunal Superior Eleitoral.

Para culminar a semana "horribilis" do Supremo, houve o caso do genro do Ministro Ayres Britto, que enquanto estiver à solta no mercado advocatício prejudica a atuação do sogro, um ministro que tem dado provas de integridade e espírito público.

CESAR MAIA

Adeus federação
CESAR MAIA
FOLHA DE SÃO PAULO - 02/10/10


A Federação no Brasil vem sendo desintegrada. A bem da verdade há pelo menos 15 anos. A centralização é um processo crescente. Não há democracia em países continentais se esses não são federados. Essa foi uma razão de fundo, articulada com o escravagismo, para a queda do Império. Se, no governo federal anterior, a centralização se dava a nível tributário, agora se dá também a nível orçamentário e a nível político.
A relação entre Estados/ municípios e o governo federal se estabelece num país democrático através do orçamento e de políticas públicas gerais, às quais Estados/municípios vão se enquadrando.
Mas agora o PAC atropela essas relações.
O governo federal define os programas a serem executados, promove um ato público de assinatura de intenções com governadores e prefeitos e não dá a menor atenção aos orçamentos federal e de estados/municípios.
Assinados os convênios, então vão se providenciar os ajustes nos orçamentos para dar base legal de execução. É tudo compulsório. Câmaras Municipais e Assembleias Legislativas apenas os ratificam.
Não importa ao governo federal se o convênio assinado trata de programas que foram considerados prioritários ou não no orçamento aprovado e em execução.
A nível federal, a equação é mais simples: basta assinar uma medida provisória. Aliás, todas as que não caracterizem urgência, e especialmente as que alteram o Orçamento, são inconstitucionais. Os orçamentos federal e de Estados e municípios, coluna vertebral da criação dos poderes legislativos a partir do século 16 na Inglaterra, tornam-se inócuos.
Os orçamentos passam a ser suplementados -muitas vezes em valores superiores aos previstos em programas afins- por estes convênios, pré-assinados e depois impostos aos poderes legislativos.
Mas ainda há o vetor político. Todos os governadores e prefeitos que, subservientemente, estendem o tapete vermelho para os comícios do presidente, são considerados amigos, e os demais... "na forma da lei".
O governo federal tem outro e definitivo remédio a partir de 2011: obter 60% no Congresso e mudar a Constituição. Para isso, até o presidente intervém nas eleições parlamentares deste ano, inclusive agredindo candidatos da oposição, num processo de ruptura do equilíbrio federativo.
Uma espécie de 1937 mal disfarçado. A liquidação da Federação no Brasil, um país continental, é mais uma peça do xadrez autoritário que se joga no Brasil neste momento.
Chávez, no dia 26, não conseguiu a maioria "constitucional". E aqui? Como será?

CESAR MAIA escreve aos sábados nesta coluna.

SENADOR GARIBALDI ALVES FILHO

MÔNICA BERGAMO

DEIXA COMIGO
MÔNICA BERGAMO
FOLHA DE SÃO PAULO - 02/10/10 

O PSDB nacional quer fazer uma espécie de "intervenção" na campanha de José Serra (PSDB) caso ele consiga passar para o segundo turno da eleição presidencial. "Ele vai ter que entender que não será mais um projeto pessoal e sim que o país estará em jogo", diz um dos principais caciques do partido. Os dirigentes tucanos estão descontentes com o fato de o comando da campanha ter se restringido, no dia a dia, a Serra e ao marqueteiro Luiz González.

DATA CABRAL
É no Rio de Janeiro que se definirá se a eleição presidencial vai ou não para o segundo turno. "É aqui que a Marina [Silva, do PV] está crescendo mais. No nosso tracking [pesquisa diária feita por telefone], ela já está com 24% e abriu maior distância de Serra", disse à coluna o governador Sergio Cabral (PMDB), do Rio.

DATA GRABRIELA
E o ex-governador Aécio Neves (PSDB-MG), de Minas, sentiu em casa o crescimento da candidatura de Marina, que empatou com Serra em Belo Horizonte. Sua filha, Gabriela, 18, deu a dica há dias: "Papai, todos os meus amigos votam na Marina".

DATA DILMA
A campanha de Dilma montou 14 grupos de eleitores, em todo o país, para acompanharem o debate dos presidenciáveis na TV Globo, anteontem. Nos relatórios enviados para os assessores no estúdio da emissora, havia críticas a Serra ("chocho, sem graça"), a Dilma ("fala muito do Lula, muito técnica") e a Marina ("boa, mas sem brilho"). Já os marqueteiros de Serra mostravam tabela em que 48% diziam que ele vencera o debate.

CRISTÃO NOVO
Plínio de Arruda Sampaio, do PSOL, comentou a declaração de voto que o ex-deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) lhe fez no Twitter: "Pois é... eu sou um homem cristão e por isso acho que as pessoas se arrependem".

A VOLTA DO BOÊMIO
Depois do debate da Globo, Plínio ficou com sua equipe até as 4h na Lapa carioca, "em um bar de bebuns, uma delícia", conta.

FOI UM PRAZER
A presidenciável Dilma Rousseff (PT) dispensou logo na primeira arara os serviços do estilista Alexandre Herchcovitch, que chegou a ser anunciado como "consultor" para ajeitar o visual da petista na campanha. "Ela detestou as roupas dele", dizia uma das principais assessoras de Dilma no debate da TV Globo, esclarecendo que a roupa que a candidata usava no evento nada tinha a ver com o costureiro.

TÔ OCUPADO
Na versão de Herchcovitch, divulgada na internet, a consultoria não foi efetivada "devido à agenda de campanha e aos compromissos internacionais do estilista". Em nenhum momento, afirma a assessoria do costureiro, foram usadas criações ou sugestões dele.

DE GRIFE, POR MENOS
O estilista Oskar Metsavaht, da Osklen, criou uma coleção de roupas inspiradas na cidade do Rio de Janeiro para a rede Riachuelo. Serão cem peças com preços a partir de R$ 29,90.
As vendas começam no dia 16 de novembro.

SEGUINDO OS PASSOS DA MÃE
Camila Appel, filha da dramaturga Leilah Assumpção e do banqueiro Walter Appel, escreveu a peça "A Pantera". O espetáculo, com os atores Silvia Lourenço e Gustavo Vaz no elenco e direção de Luiz Montes, estreou anteontem, no Centro Cultural São Paulo.

SAINDO DO FORNO
A apresentadora Eliana, dona da editora Master Books, promoveu um jantar em seu apartamento na Lagoa, no Rio, para Pilar Del Río, viúva de José Saramago. No evento, o cineasta Fernando Meirelles mostrou a Pilar o livro "Cegueira, Um Ensaio", que conta com um texto inédito do escritor português e será lançado na segunda, em SP.

CURTO-CIRCUITO

Tony Bellotto autografa o livro "No Buraco" na segunda, às 19h30, no bar Astor.
O filme "Eu e Meu Guarda-Chuva" terá pré-estreia hoje, às 10h30, no Cinemark do shopping Market Place. Classificação etária: livre.
A Casa das Rosas, na avenida Paulista, abriga hoje, às 10h30, o debate "Quais os limites entre a biografia, a ficção e a história?". O evento marca o lançamento do Fórum das Letras de Ouro Preto, que acontece em novembro na cidade mineira.
A psicanalista Raquele Ferrari lança hoje, às 11h30, "Voluntariado: uma Dimensão Ética", na Livraria da Vila da Fradique Coutinho.

com DIÓGENES CAMPANHA e LÍGIA MESQUITA

GOSTOSA

JOSÉ SIMÃO

Uau! Debatédio do Tio Bonner!
JOSÉ SIMÃO 
FOLHA DE SÃO PAULO - 02/10/10

E debate é a coisa mais ultrapassada que existe. Inventa outra! Luta no gel, porrinha, bafo e pega vareta!



BUEMBA! BUEMBA! Macaco Simão Urgente! O Esculhambador-Geral da República! Ereções 2010! Duas manchetes bombásticas do Sensacionalista: "Serra chama Mulher Melancia para dar uma bundada e derrubar Dilma". "Plínio Arruda e dona Weslian reservados para "A Fazenda 4'".
E o DEBATÉDIO da Grobo! Debate em versão bocejo! Quem esperava barraco dançou! O Tio Bonner foi logo avisando: "Baixaria aqui na Globo, NÃO!". O único animado da noite era o Bonner. Ele puxando aqueles papeizinhos parecia que tava sorteando a Mega-Sena!
E a cara de felicidade do Plínio passeando de carrinho de golfe no Projac? E a Dilma tava parecendo um pufe! Aliás, a Dilma tava parecendo aquele espanhol que fez transplante de rosto. Rarará.
E o Serra Tio Funério? A Funerária do Tio Funério! E uma amiga disse que o Serra promete que tem mais promessas que os outros.
E a Marina Tartaruga Sem Casca? A ema de xale! Vai criar um novo PAC: PLANO DE ACELERAÇÃO DO CIPÓ! E o Silvio Luiz disse que a voz da Marina parece despertador de segunda-feira. Rarará!
E o Serra não tem plano de governo, tem bula de governo; só fala em médico, doença, hospital e bactéria! E quando o Serra vai voltar a fazer aquele quadro de doença no Fantástico? Rarará!
E aquele monte de amiga gritando: eu quero votar no Bonner! Eu quero votar no Bonner! E a Nair Bello do Twitter pra Hebe Camargo: Vai ter festa domingo em casa para comemorar a vitória do Jânio Quadros. Rarará!
Ah, o Plínio e o Serra no debate parecia que estavam na "Guerra das Estrelas", na nave do doutor Spock! E a Dilma não engordou, ela tá um PACderme. E debate é a coisa mais ultrapassada que existe. Inventa outra! Luta no gel, porrinha, bafo e pega vareta! E eu acho que daqui uns anos até eleição vai ser uma coisa ultrapassada! Rarará!
E os versos de um poeta de Pernambuco: "Eleição é apenas o dia marcado/ pra esse povo abestalhado/ escolher a marca de vaselina/ com que vai ser enrabado". Rarará!
A situação tá ficando psicodélica. Eu acho que o Brasil misturou sucrilhos com gardenal no cafe da manhã! Ainda bem que nóis sofre, mas nóis goza.

RENATA LO PRETE - PAINEL DA FOLHA

Onda ou marola?
RENATA LO PRETE
FOLHA DE SÃO PAULO - 02/10/10
 
O QG de Dilma Rousseff reconhece que a campanha chega ao fim sem a esperada “onda vermelha”, mas se dá por satisfeito ao notar que “onda azul” também não há. Quanto à “onda verde”, identificável por meio de diferentes pesquisas, a esperança dos dilmistas é que, amanhã, ela venha a se revelar uma marola, insuficiente para carregar a eleição até o segundo turno. 
Os petistas argumentam que, espuma à parte, o saldo do crescimento de Marina Silva (PV), concentrado nas regiões metropolitanas, é de quatro pontos percentuais desde o início de setembro.
Ufa... - Chamou a atenção, nas considerações finais de Dilma no debate da Globo, o trecho no qual a candidata disse que o telespectador não tinha ideia do quão exaustiva é a maratona eleitoral. O semblante da petista de fato transmitia cansaço. 
Pois não - Em reunião na quarta-feira, representantes de igrejas sugeriram a Dilma que mencione Deus com mais frequência. Foi o que ela fez no dia seguinte, em sua última fala no debate. 
Conselho - Lula telefonou a Dilma pouco antes de ela se dirigir ao Projac anteontem. Na conversa, recomendou tranquilidade e “cara boa”. Assessores também insistiram para que ela sorrisse mais em frente às câmeras. 
Bumerangue - Os tucanos presentes no estúdio riram do escorregão de Dilma ao afirmar que sua campanha tornava públicas as “doações oficiais”, mas logo depois tomaram um susto. A bronca dela nos adversários foi secundada por um convidado petista que, na plateia, gritou: “Paulo Preto!”. 
Quem é quem - Trata-se do ex-diretor de engenharia da Dersa Paulo Vieira de Souza, suspeito de envolvimento na montagem de caixa dois que seria utilizado em campanhas do PSDB. 
Na foto - Embora more em outra região de Porto Alegre, Tarso Genro, candidato ao governo do RS, votará amanhã na mesma escola de Dilma, na zona sul da cidade. 
Numerologia - Previsão postada ontem no Twitter de um internauta aliado de Marina: “É profético = 03/10/2010 = 03 + 10 + 20 + 10 = 43”. 
Vintage - Depois de ressuscitar na campanha expressões como “trololó” e “numa nice”, José Serra soltou um “terceiro mundo” no debate de anteontem. 
Audiência - Em defesa do desempenho de Serra na TV Globo, tucanos festejam a pregação, logo no início do programa, do salário mínimo de R$ 600 e dos genéricos. 
Springfield - De Serra, comentando em vídeo o fato de apontarem semelhança entre ele e Homer Simpson: “Não tem nenhum bonito lá (no seriado). Puxa, agora fiquei preocupado!”. 
Água e óleo - Conhecedor da política nacional recomenda aos tucanos: em caso de segundo turno, o PSDB não deve escalar seu presidente, Sérgio Guerra, para negociar com Marina Silva (PV). Os dois não se bicam.
Carteirinha - O PSDB-SP, que levou à Justiça preocupação com eventual prática de boca de urna, escalou 20 mil fiscais e criou um serviço de 0800 para os delegados. O PT quer as 81 mil urnas vigiadas por militantes. 
Tiroteio
Se, para Lula, o Geraldo é “esse sujeito”, o que seria para ele Dilma? Seu “objeto”? 
DO GOVERNADOR ALBERTO GOLDMAN (PSDB-SP), sobre a forma como o presidente se referiu ao candidato tucano ao Palácio dos Bandeirantes, durante comício realizado anteontem em São Bernardo do Campo.
Contraponto
Dramalhão cubano 
Os candidatos a presidente já estavam postados em seus respectivos púlpitos, à espera do início do debate da Globo, enquanto o telão exibia o capítulo de “Passione”. Na plateia, Chico Alencar (PSOL-RJ) comentou: 
- Não acompanhamos a novela, não estamos entendendo! Nossa paixão, há 3 meses, é a eleição. 
O candidato ao Senado Milton Temer (PSOL-RJ) aproveitou para “denunciar” o correligionário e ex-deputado Babá: 
- Gente, não desconcentrem o Babá. Nosso revolucionário, como Fidel, adora novela!

POESIA NO BLOG

MIGUEL REALE JÚNIOR

''Nós somos a opinião pública''
Miguel Reale Júnior 
O Estado de S.Paulo - 02/10/10


São repetidas as queixas de Lula de que as forças de oposição, compostas pelas elites, não admitem que um peão de fábrica tenha assumido a Presidência e alcançado sucesso. Essas queixas misturam ressentimento e vaidades. Basta lembrar, por exemplo, o que Lula disse, em maio de 2006, aos moradores de palafitas em Manaus: os adversários deviam "aprender" que um metalúrgico, com o quarto ano primário e curso do Senai, é capaz de fazer "muito mais do que eles neste país", pois a sabedoria do ser humano não está na quantidade de anos na escola, mas na "capacidade do sentimento".

Em julho de 2007, em Cuiabá, Lula comparou seus opositores aos mesmos que levaram Getúlio Vargas ao suicídio, setores da "elite" cuja raiva contra seu governo deriva da ação em favor dos pobres. Em fins de agosto de 2007, no Paraná, via a "campanha da imprensa" que o atingia como fruto da soma de duas "doenças malignas", a inveja e o preconceito.

Uma das espertezas da propaganda política está em colar à figura dos adversários a marca de inimigos do povo, que, para Lula, são os partidos de oposição e a imprensa reveladora dos podres do governo.

Há poucos dias, todavia, Lula extrapolou o plano das queixas e das acusações aos adversários, que de forma já imprudente vem qualificando como inimigos do povo, ao dizer: "O que eles não se conformam é o pobre estar conseguindo enxergar com os seus olhos, não precisa do tal do formador de opinião pública. Nós somos a opinião pública e nós mesmos nos formamos."

Essa manifestação levou à imediata reação da OAB, por meio do seu presidente, Ophir Cavalcanti Filho, bem como de entidades de imprensa e de representantes da sociedade civil, que proclamaram a importância da liberdade de expressão, que compreende a de informar e a de criticar, para abertamente se formarem as convicções políticas.

Ao afirmar Lula que não são precisos os formadores de opinião, pois "nós somos a opinião pública", desfaz-se o relevo do pluralismo de ideias, da diversidade de posições a serem suscitadas pelos chamados "formadores de opinião", que só existem onde houver ampla discussão e multiplicidade de perspectivas, com exame das contraposições e reflexão. Contra o pluralismo característico dos formadores de opinião, apresenta-se então uma verdade monolítica, única, que brota espontaneamente do povo, como uma comunidade orgânica homogênea: "A opinião pública somos nós."

Assim, para Lula, o povo forma-se a si mesmo e é o seu próprio porta-voz. Lula autoproclama-se o lídimo representante do sentimento deste povo, sentimento que sabe captar, pois já dissera, com razão, que a sabedoria se faz não só com estudo, mas com sentimento. Esquece, contudo, que sabedoria também não se alcança apenas com sentimento.

Agora, no calor da disputa eleitoral, almeja traduzir a forma de sentir desse povo de pobres que enxerga com os próprios olhos e torna dispensáveis os formadores de opinião. Para Lula, a opinião pública brota por obra de uma revelação natural do povo sobre o certo e o errado e acerca dos caminhos para a consecução do bem de todos. Com essa compreensão da via política construída de modo imanente a partir do próprio povo, cria-se uma perigosa estrada para um autoritarismo populista, que o século passado revelou de modo trágico.

No nazismo entendia-se que povo engendrava uma unidade incindível, na qual os indivíduos formam uma coletividade concreta, participando de um mesmo espírito objetivo que penetra e abraça a todos. O Führer, como o condutor da comunidade, encarna o espírito objetivo, o "são sentimento do povo".

O historiador italiano Emilio Gentile descreve o fascismo como a mobilização popular por meio de um partido único e de um chefe carismático que faz do uso racional do irracional a forma de uma política de massas que visa a privar as pessoas de sua individualidade como elementos celulares de uma coletividade nacional. O fascismo, diz Michel Winock, professor do Instituto de Estudos Políticos de Paris, detém a verdade, exclusiva, inconciliável com qualquer outra perspectiva e, portanto, hostil ao pluralismo.

Com certeza Lula, cujas inteligência e sensibilidade compensam a falta de estudo, sabe usar racionalmente o irracional, mas talvez não dimensione as consequências da guerra aberta deflagrada a partir da posição de presidente da República, com menosprezo ao pensamento, ao direito de crítica, ao jornalismo investigativo denunciante de graves irregularidades de seu governo, que transforma em golpismo, para legitimar uma verdade única a brotar como força viva de uma sociedade de pobres que se forma a si mesma e da qual é a encarnação como líder populista.

A consequência ficou patente na campanha. Os blogs pró-Dilma adotam desabrido maniqueísmo ao propagar que votar no PSDB/DEM é estar "contra o País" e do lado dos inimigos que devem ser expurgados. Na mobilização contra a imprensa surgem ameaças a jornalistas e promessas de retaliação a revistas e jornais qualificados de golpistas por terem divulgado matérias contra o PT ou sua candidata. O clima é de ódio e violência.

Estão aí lançados os ingredientes de uma receita de autoritarismo populista que terá Lula como condutor e Dilma como coadjuvante, sem força para manobrar os radicalismos despertados.

Mas se Dilma, eleita, não quiser ser apenas coadjuvante? No jogo entre sentimento de inferioridade intelectual e orgulho de sua passagem pela Presidência, Lula já disse que a partir de janeiro vai estudar novamente ou ensinar a governar. Longe do Planalto, Lula poderá, talvez, confrontar-se com Dilma presidente ao pretender dar lições de como governar. Será um conflito entre presidentes: a que é e o que não deixou de ser por sua popularidade e gosto do poder. Assim, o risco de um autoritarismo populista remanesce duplicado.


ADVOGADO, PROFESSOR TITULAR DA FACULDADE DE DIREITO DA USP, MEMBRO DA ACADEMIA PAULISTA DE LETRAS, FOI MINISTRO DA JUSTIÇA 

SONIA RACY - DIRETO DA FONTE

Domingo D
SONIA RACY
O ESTADO DE SÃO PAULO - 02/10/10

Já passava da meia-noite quando terminou o último debate do primeiro turno, promovido pela TV Globo, anteontem, no Projac, em Jacarepaguá, Rio. Dilma mal conseguia disfarçar seu tédio diante da obrigação de atuar, optando por posição praticamente estática quando fora do foco das câmara. Serra, por sua vez, se esforçou para se manter de pé mas não resistiu a alguns momentos de descanso e sentou. Marina, turbinada pela adrenalina proveniente da sua subida nas pesquisas, era talvez a mais energizada dos três. Só perdeu para a vitalidade do "animador" do auditório: Plínio de Arruda Sampaio e seus 80 anos.
Segundo bem observou o convidado especial do PT Joãosinho Trinta, faltou espírito. E bota espírito nisso. "Somos feitos de mente, espírito e corpo. É o espírito que comanda tudo e ele não compareceu". Engessados pelos seus respectivos marqueteiros, Serra, Dilma e Marina não ousaram se arriscar. Cumpriram a risca o roteiro estabelecido pela ditadura dos trackings, pesquisas qualitativas e quantitativas. Já Plínio, do alto de seus 1% de intenção de votos, expôs seu melhor papel: a caricatura de si mesmo.
Quem perdeu foi o eleitor-televisivo ávido por informações que pudessem balizar seu voto. Reflexo disto, a cotação do Ibope. De 30 pontos de audiência no começo do programa caiu para quase 20 pontos ao término do pseudo-embate devidamente aplaudido tanto por João Santana, Luiz Gonzalez bem como por Paulo de Tarso. Os marqueteiros propagavam análises de aprovação da performance de seus respectivos pupilos.
A plateia foi dividida em cinco arenas: quatro para convidados dos candidatos e uma para os da Globo. Diferente do que ocorreu na Record, a claque de Serra compareceu em peso. Contou com Monica Serra, Deuzeni e Alberto Goldman, Aécio, Sérgio Guerra, Kassab, dona Lu e Alckmin, Guilherme Afif, Rodrigo Maia, Roberto Freire, Andrea Matarazzo, Jutahy Magalhães, Ronaldo Cezar Coelho, Marcio Fortes, Caio Sergio de Carvalho e Indio da Costa. A de Dilma incluiu Sergio Cabral, Palocci, José Eduardo Cardozo, Moreira Franco, Márcio Fortes, Mangabeira Unger, Marco Aurélio Garcia e Temer. Marina chegou com praticamente uma floresta: Fábio Feldmann, Eduardo Giannetti, Neca Setubal, Ricardo Young, Gabeira, Alfredo Sirkis e Guilherme Leal. Entretanto, eleita a turma mais "animada", a de Plínio.
Marca geral? A exaustão geral e irrestrita. Exemplo: enquanto Palocci cochilou várias vezes, Kassab dormiu do lado oposto do recinto.
Dois momentos punks: Dilma tropeçou e mencionou "registramos todas doações oficiais"". Já Serra lançou ""hidroaviões para combater incêndios". Disputa por Deus: tanto Dilma quanto Marina lembraram de lhe agradecer ao final.
Curiosidade: esperando o debate começar, candidatos e convidados foram brindados com os últimos minutos da novela Passione no telão. Personagens debatiam ali tema intrigantes: como descobrir quem era o autor de cartas anônimas com revelações que podem dar novo rumo à história de Betty Gouveia, interpretada por Fernanda Montenegro.

Domingo D 2

Se nada mudar, Serra assistirá à apuração dos votos, amanhã, em sua casa no Alto de Pinheiros. Marina optou por ver na sala Crisantempo, de sua amiga Gisela Moreau, na Vila Madalena.
Dilma e Lula procuram local não governamental para assistirem juntos em Brasília.
Biombo
Zé Maurício Machline prepara surpresa para a festa de entrega do Prêmio Craques do Brasileirão, dia 6 de dezembro, no Teatro Municipal do Rio. Repetindo o que fez no desfile da Marquês de Sapucaí, a Unidos da Tijuca reeditará o truque das trocas de roupas. Só que no lugar das fantasias usará as camisas dos 20 clubes que disputam a competição.
Expectativa
Arthur Dapieve é cotado para substituir Flavio Moura na curadoria da Flip. Moura, no entanto, não abandonará o evento. Será responsável por projetos especiais da festa, como a edição de livros e catálogos.
Concierge
O Aeroporto de Santos Dumont, pode ganhar hotel 5 estrelas. Assim como fez em Brasília e no Galeão, a Infraero estuda abrir licitação para o novo empreendimento.

Desafinou
Depois de cinco anos de briga judicial, Djavan conseguiu reaver os direitos sobre 19 de suas canções, entre elas, Meu Bem Querer.
O músico rompeu contrato com a Edições Musicais Tapajós, ligada à EMI, e receberá indenização por má administração de suas obras e danos materiais.
Churras fiel
Chegará ao mercado nas próximas semanas a carne maturada do... Corinthians. O lote inicial do produto do Timão é de 250 toneladas e será distribuído por uma grande rede de supermercados.
Carga pesada
Wadão do Jegue, candidato a deputado estadual, circula pelas ruas oferecendo carona no lombo de seu animal de estimação. E no lugar da sela usa a bandeira de SP para proteger o companheiro de campanha.
Eu aceito
Quem passar pelas linhas verde e azul do Metrô, no começo da semana que vem, poderá se deparar com ... uma noiva perdida.
Trata-se de uma modelo que irá circular com a faixa "o casamento mais esperado do ano!" para promover o musical Mamma Mia!, que estreia, em novembro, no Teatro Abril.

Na frente
Rachele Ferrari lança Voluntariado: uma dimensão ética, hoje, na Livraria da Vila da Fradique.
O Quarteto Vibrato apresenta-se na Sala Funarte-Guiomar Novaes, amanhã.
Hoje tem lançamento do catálogo de Fred Sandback. Com debate entre John Rajchman e Rodrigo Naves. No IMS.
Philip Shalala e Gustavo Salles Nappo confirmaram participação no Fórum de Sustentabilidade durante o SWU.
Nem saiu do papel e o condomínio Mood, na Consolação, já sofreu com a violência. O estande de vendas do prédio foi assaltado esta semana.

DEPUTADO ESTADUAL NEY LOPES JR

RUY CASTRO

Suplício insalubre 
Ruy Castro
FOLHA DE SÃO PAULO - 02/10/10

Votar é bom, mas nada como ser despertado pelo rádio com música honesta, e não com a propaganda eleitoral obrigatória – o que só voltou a acontecer a partir de ontem, depois de semanas de suplício.
Se alguém tinha dúvida quanto ao cinismo das campanhas, era só ouvir no rádio a sarabanda de sotaques nos jingles dos candidatos à Presidência. Não bastavam a acachapante demagogia dos textos, o pegajoso troca-troca de louvações e as promessas sempre revisadas em função de declarações dos adversários ou da reação de setores da sociedade a respeito de algum tema.
Tudo isso precisava também ser dito à maneira desta ou daquela região, para mostrar como o candidato X ou Y convinha ao País inteiro. Mas com tal falta de sutileza que era impossível não rir ao escutar aqueles sotaques de anedota ou de programa humorístico, tipo 'PRK-30'. A sintonia fina que os publicitários costumam ter ao vender produtos reais (por exemplo, dar um toque quase adolescente aos comerciais de cerveja) se esboroa quando se trata de vender políticos. Eles são difíceis mesmo de vender – porque não são reais.
Com a interrupção das campanhas, poderemos voltar a atender ao telefone sem ter as oiças tomadas por um político se jactando de suas realizações – uma das formas mais invasivas e odiosas de nos implorar o voto. E poderemos voltar a andar pelas calçadas sem ter de driblar tabuletas pela pista dos carros – não apenas pelo risco que isso representava, mas pelo mal-estar provocado pelos sorrisos alvares impressos nos rostos tratados a botox e Photoshop dos candidatos a deputado.
Você dirá que, na democracia, não há outra maneira de saber o que os políticos pensam fazer. Há, sim. Se tivéssemos partidos de verdade no Brasil, bastaria votar numa sigla, mantendo-nos a uma salubre distância dos candidatos.

GOSTOSA

D. EUGENIO SALES

O VOTO CATÓLICO
D. EUGENIO SALES
O GLOBO - 02/10/10



*ARCEBISPO EMÉRITO DO RIO



As eleições deste domingo e sua importância vão além do exercício de um dever cívico.

Além da escolha do chefe do Executivo, faremos chegar ao Senado, à Câmara, ao governo dos estados e às Assembleias Legislativas os que irão elaborar as leis. Esse pleito deve ser avaliado segundo os critérios do Evangelho.

O voto consciente é um dever. No momento histórico que vivemos em nossa pátria não podemos nos omitir. O primeiro passo é examinar os programas dos candidatos, compará-los com os ensinamentos da Igreja, discernir a capacidade efetiva de cada um na concretização daqueles planos de desenvolvimento integral, no respeito pela Verdade e na Justiça. Não se pode aderir a planos eleitorais de candidatos que firam a dignidade do homem e tampouco aceitar visões e ideologias contrárias ao Evangelho. Postas em prática, levariam à negação das lições do Mestre. Aos direitos dos homens, justos e necessários, acrescentam-se como prioritários os direitos de Deus, que uma nação não pode, impunemente, desconhecer ou, o que seria pior, negar conscientemente.

O verdadeiro compromisso político inclui a preservação da vida, em todas as suas formas e etapas, desde a concepção no seio materno até a proteção e o apoio na velhice: o aborto, por exemplo, deve ser claramente condenado como oposto à Lei divina e à fundamental dignidade da própria criatura racional. Um candidato que se opõe ao Evangelho não merece o voto.

Outro ângulo a ser tomado em consideração é a dignificação da vida pública.

Trata-se de algo nobilitante, conforme nos ensina o Concílio: "Todos os cidadãos se lembrem, portanto, do direito e simultaneamente do dever que têm de fazer uso do seu voto em vista da promoção do bem comum ("Gaudium et Spes", nº75)." Pelas muitas e graves falhas, lançouse o descrédito sobre os partidos e seus líderes. Jamais devemos culpar uma coletividade pelas faltas de alguns ou muitos de seus componentes. Pelo contrário, cabe exortar os homens de bem a que sirvam à Pátria em um campo difícil e espinhoso. O fato de alguns se locupletarem dos cargos ou buscarem as funções eletivas com objetivos escusos, o que é, infelizmente, uma realidade, não deve impedir que pessoas de bem, por idealismo, optem por esta vocação. E cabe aos cristãos apoiarem os leigos idôneos quando exerçam mandatos, a fim de se sentirem amparados no esforço em prol do bem público.

A conotação moral, portanto, na escolha de candidatos dignos merece cuidado porque, à margem da ética, nada se constrói de duradouro.

Não nos esqueçamos que os compromissos decorrentes das urnas continuam até o final dos mandatos e que o resultado delas perdurará por longos anos. Peçamos a Nossa Senhora Aparecida que nos ilumine para que possamos escolher bem nossos governantes.

LUIZ EDUARDO ROCHA PAIVA

Democracia é aspiração nacional?
Luiz Eduardo Rocha Paiva 
O Estado de S.Paulo - 02/10/10


Nas eleições presidenciais de 2002, o então candidato Luiz Inácio Lula da Silva e seu partido lançaram a Carta ao Povo Brasileiro, para convencer a Nação de que não imporiam a temida guinada para o socialismo radical, com ruptura do regime democrático, caso o PT chegasse ao poder. Hoje, as posições publicamente manifestadas e algumas iniciativas do presidente da República e da cúpula do PT revelam uma disposição bem diferente da apresentada naquela carta, como se conclui, também, pelas sucessivas propostas para cercear a liberdade de imprensa; pelo 3.º Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH-3), com propósitos totalitários enrustidos em ilusória defesa dos direitos humanos; e pelos balões de ensaio do programa partidário num eventual governo em 2011.

A reação de setores democráticos da sociedade obrigou o governo a repetidos recuos, demonstrando não ser fácil impor um regime autoritário ao País. Quanto ao PT, sempre foi claro ser um partido com distintas correntes de pensamento, todas à esquerda, estando a atual direção sob o controle da ala radical.

Mas qual é o pensamento político do presidente Lula? O revelado em 2002 ou o atual?

Uma vez constatada essa oscilação, é natural que parte da Nação considere o presidente um adepto da esquerda radical e que a Carta ao Povo Brasileiro teria sido uma estratégia para viabilizar a ascensão do PT ao poder. Da mesma forma, outra parte pode julgar que o presidente seja um político tradicional, cujas ações visam a manter o poder pessoal e não se norteiam por valores e interesses nacionais, ao contrário do verdadeiro estadista. Para essa parcela da Nação, o presidente estaria radicalizando para controlar a ala mais à esquerda do PT, pois esta já revelou a intenção de assumir a orientação política do próximo governo, o que comprometeria sua liderança e seu futuro político. Há, ainda, a corrente otimista, para a qual o presidente é um democrata, mas se veria obrigado a usar métodos sutis, a fim de controlar as diversas correntes do PT, evitando conflitos que comprometessem a paz social.

Num hipotético cenário em que a ala radical do PT viesse a controlar o governo, ela tentaria impor um regime, no mínimo, autoritário ao País. A Nação viveria momentos de tensão, em que as liberdades individuais e o regime democrático dependeriam do poder das instituições, o qual resulta de sua força política e da vontade e maturidade da Nação. A manobra da esquerda radical reuniria pressões de cúpula e de base, exercidas por organizações e atores aliados nos Poderes da União, amplamente mobiliados pelo partido; por meio de parcerias com parcela significativa do empresariado e do setor financeiro, fidelizada e controlada via benefícios concedidos no contexto da estratégia de implantação do capitalismo de Estado, adaptado do modelo chinês; e por movimentos revolucionários, eufemisticamente chamados sociais, com suas ligações externas.

A linha de frente para neutralizar tal manobra seria composta pelos setores democráticos do próprio Executivo, pelo Judiciário e pelo Legislativo. Este último, porém, está desgastado, não tem credibilidade e grande parte dos congressistas é aliada ao governo ou dá prioridade a interesses pessoais, às vezes inconfessáveis, sendo suscetível à cooptação. São as instâncias competentes para impedir a alteração do arcabouço legal e, assim, tornar inviável a manobra da esquerda radical.

Numa segunda linha se encontra a imprensa, setor com maior capacidade de projeção na sociedade para conscientizar e mobilizar as forças democráticas para a preservação do regime. Daí ser o alvo principal das manobras da esquerda radical nos campos político e financeiro visando a silenciá-la.

E as Forças Armadas? Elas se subordinam ao poder político do Estado, impropriamente chamado poder civil, e, como disse o presidente Castelo Branco, os meios militares nacionais e permanentes não são propriamente para defender programas de governo, muito menos sua propaganda, mas para garantir os Poderes constitucionais, o seu funcionamento e a aplicação da lei. Não estão instituídos para declarar solidariedade a este ou àquele Poder.

De fato, a Constituição da República prevê o emprego das Forças Armadas na garantia dos Poderes constitucionais, da lei e da ordem. O equilíbrio dos Poderes é um fator decisivo na democracia e se o Poder Executivo tentar rompê-lo e se impor aos demais, ao arrepio da lei, não cabe às Forças Armadas, e sim ao Legislativo e ao Judiciário - linha de frente já mencionada -, intervir, podendo haver até mesmo o impeachment do presidente. Neste caso, a linha sucessória seria seguida e, se necessário, as Forças Armadas seriam acionadas, sob o comando supremo do novo chefe da Nação, para fazer cumprir a Constituição.

Somente na hipótese de falência total dos Poderes da União, o caos institucional resultante obrigaria as Forças Armadas a exercê-los, temporariamente, para impedir a desintegração da Nação.

Nenhum cidadão é obrigado a fazer o que é ilegal ou lesivo ao País. Na hipótese em tela, oportunamente, altos chefes militares tomariam uma digna iniciativa pessoal - sem emprego de tropa nem quebra da hierarquia e disciplina: manifestar publicamente oposição à manobra da esquerda radical, com o risco de retaliações, conscientes de que a omissão seria respaldo, implícito, a ações lesivas à democracia, às instituições e ao Brasil e que a lealdade à Pátria é o maior atestado de disciplina militar. A problemática substituição desses chefes levaria a um impasse e reforçaria a reação democrática.

A sociedade é responsável pelo seu destino e deve organizar-se, como no Movimento Ficha Limpa, para pressionar vigorosamente as instituições, obrigando-as a defender a democracia, se esta for realmente uma aspiração nacional.


GENERAL DA RESERVA, É PROFESSOR EMÉRITO E EX-COMANDANTE DA ESCOLA DE COMANDO E ESTADO-MAIOR DO EXÉRCITO E MEMBRO DA ACADEMIA DE HISTÓRIA MILITAR TERRESTRE DO BRASIL 

O ESGOTO DO BRASIL

MÍRIAM LEITÃO

Urgência adiada 
Míriam Leitão 
O GLOBO - 02/10/2010


O último debate entre os candidatos a presidente foi frio não por falta de temas e contradições. Foi o retrato final de uma campanha em que o principal ator não era candidato, em que os temas foram contornados por respostas prontas, em que a favorita nas pesquisas só aceitava falar com a imprensa protegida por um pódio com microfones que a afastasse dos jornalistas.

O mais estranho foi a renúncia dos dois candidatos de se perguntarem. Os dois, quando puderam escolher, preferiram perguntar a Marina Silva.

- Isso prova que eles sabem que eu estou no jogo - me disse ela, ao sair.

No final da entrevista, os assessores de Dilma Rousseff garantiram que as pesquisas qualitativas durante o debate registraram a percepção dos participantes de que houve uma polarização entre Dilma e Marina.

As pesquisas qualitativas do PSDB registraram, segundo assessores de Serra, que quando Marina crescia tirava votos de Dilma.

Marina Silva declarou ao final que havia conseguido quebrar o plebiscito. O presidente, o verdadeiro centro de decisão de toda a campanha, havia dito que seria uma comparação entre quem tinha feito mais: se Fernando Henrique, se ele.

Nisso, Lula se frustrou. Não houve a prova dos nove de que ele seria superior ao adversário que o derrotou em duas eleições. O candidato do PSDB falou de suas realizações, mas dedicou pouco tempo ao período FH, com o argumento de que o melhor era discutir as capacidades de cada candidato e o futuro do país.

Marina entrou no meio da conversa e evitou que houvesse apenas esse Fla-Flu.

Plínio de Arruda Sampaio herdou o "contra tudo isso que está aí", ecoou o velho discurso do PT contra "a dívida", mas fez bem seu papel de provocador, essencial em qualquer campanha.

Plínio confunde as dívidas externa e interna, mas levantou um bom número.

Disse que o governo Lula deve R$ 1 trilhão e 600 bilhões.

É mais ou menos isso.

Curioso é que o PT acusava Fernando Henrique de ter deixado uma dívida de R$ 800 bilhões. Plínio não parece ter entendido que os juros podem e devem ser derrubados, mas não pagar significa fazer um plano como o de Collor.

No grupo do PT, o entendimento é que, quando podia perguntar sobre habitação para Dilma e não o fez, José Serra estava jogando a toalha. Afinal, ele tinha feito críticas aos programas habitacionais do governo.

Serra discorda. Acha que o tema não permitiria o verdadeiro debate que gostaria de ter com ela.

Dilma ficou na confortável situação de ter o que mostrar e pouco ser cobrada por suas contradições.

Houve criação de emprego no período; o país teve dois anos de recessão no governo Lula, mas este ano o Brasil está crescendo forte; o crédito aumentou muito e isso alavancou o consumo, ampliando o otimismo das famílias. Ela contou esses feitos, mas quando é para falar o que está errado no quadro atual do país, ela se comporta, impunemente, como se não tivesse feito parte do governo que a lançou.

É capaz de afirmar que a estrutura tributária do país é caótica, sem explicar por que oito anos não foram suficientes para organizar esse caos. Metade do gasto previsto para ferrovias nos próximos anos é no controvertido trem-bala. Em Belo Monte, os índios xicrim receberam a promessa de ganhar uma rodovia e muitas picapes para compensar o fato de que perderão a hidrovia. Com várias contradições assim, Dilma proclamou as vantagens da hidrovia e da ferrovia. A maioria dos seus números não suporta uma prova dos nove. Mas os seus R$ 40 bilhões investidos em saneamento, que seriam o triplo do gasto no governo Fernando Henrique, trazem um problema, se forem verdadeiros: o governo anterior levou o acesso à rede coletora de esgoto de 48% a 56% dos domicílios. O governo Lula reduziu o ritmo da melhora, passando de 56% para 59%. Os dois não tiveram bom desempenho, mas o de Lula é pior.

Marina não perguntou de aborto de propósito, mesmo convencida de que nesse tema sua adversária tem mudado suas declarações conforme a conveniência.

- Não vou provocar uma guerra santa. Cada pessoa tem suas convicções, mas o ideal é que as defendesse.

Eu tenho as minhas, mas prefiro, se for eleita, levar o assunto a plebiscito.

Serra não tocou no outro assunto que incomodaria a adversária: o caso de corrupção que estourou na antessala do gabinete ocupado pela então ministra Dilma Rousseff. O candidato do PSDB culpou a natureza do debate, em que parte dos blocos é de temas sorteados.

Mas no outro encontro dos quatro, os que trouxeram Erenice Guerra para a cena foram Plínio de Arruda Sampaio e Marina Silva.

Seja qual for a avaliação que cada um tenha do desempenho dos candidatos nessa campanha, o fato é que faltou conversa, diálogo, confronto e propostas exequíveis. A educação foi declarada a prioridade por todos, mas o que se discutiu mesmo é se o PSDB impediu ou não o ensino técnico.

A verdade é que o Brasil acaba de saber que é pior em repetência e evasão do que todos os países do Mercosul. As metas do IDEB para a escola pública no ano de 2021 são de se atingir 5,8 nos primeiros quatro anos, 5,2 nos quatro anos seguintes e 4,9 no ensino médio. Isso é menos do que a escola privada teve em 2005.

Um país em que o governo tem metas tão medíocres e que aceita manter a desigualdade entre escola pública e privada acha mesmo que pode virar potência? Um país assim pode passar por uma disputa presidencial tratando o assunto desta forma? Não foi por falta de urgências que tivemos uma campanha tão superficial.

ANCELMO GÓIS

NOSSO LAR I
ANCELMO GÓIS
O GLOBO - 02/10/10
 
Com um cenário que parecia inspirado, com todo o respeito, no filme espírita “Nosso lar”, o encontro dos candidatos a presidente na TV Globo teve emoções, mas... fora do debate — e não foi só por causa do helicóptero de Dilma, que enfrentou uma turbulência.

NOSSO LAR II 
Índio da Costa, o vice de Serra, ilustre desconhecido, foi barrado por um segurança na porta do estúdio. Teve de procurar um crachá.

NOSSO LAR III 
Pouco antes do início, o silêncio no estúdio foi cortado por uma voz: “Assassino!!!” Era só uma frase na novela “Passione” numa TV ali perto. Ah, bom!

NOSSO LAR IV 
Quando Dilma cometeu aquele, digamos, ato falho e disse contabilizar “todas as doações legais”, arrancando risadas, Alfredo Sirkis, do PV, a comparou à mulher de Roriz, que prometeu, num debate em Brasília, “manter aquela corrupção toda”.

NOSSO LAR V 
De Cabral ao encontrar no estúdio o amigo Aécio:
— Que vitória, hein?

NOSSO LAR VI 
Na plateia dos verdes, a possibilidade de Marina ir ao segundo turno fez surgir comentários de que o executivo Álvaro de Souza, ex-presidente do Citibank no Brasil e tesoureiro da campanha, seria o homem forte da economia no eventual governo do PV.

NOSSO LAR VII 
Maldade ouvida na bancada tucana do Projac. O próximo filme brasileiro indicado para o Oscar vai se chamar... “Os dois filhos de Erenice”.

NOSSO LAR VIII 
No coquetel oferecido aos convidados do debate, foi servido suco de maracujá com camomila. Parece ter funcionado. Os candidatos travaram um duelo que de enérgico não teve nada.

NOSSO LAR IX 
A plateia também sentiu o efeito do maracujá. Sérgio Cabral, depois de muitos bocejos e algumas cochiladas, comentou: “Estou torcendo para terminar logo.” Os ex-ministros Antônio Palocci e Mangabeira Unger também lutavam contra o... zzzzzzzzz... sono.

RACHA NO PT 
A um dia da eleição, é grave o racha na campanha de Dilma. Alexandre Herchcovitch, o conceituado estilista paulista, mandou um comunicado oficial para dizer que sua consultoria à candidata do PT acabou não efetivada “devido à agenda de campanha e aos compromissos internacionais do estilista”.

MAS... 
Nos bastidores, a informação é a de que Alexandre Herchcovitch teria enviado roupas para Dilma, mas a petista teria odiado tudo.

PAPAGAIO PROIBIDO 
Prossegue a polêmica. O desembargador da 8ª Câmara Criminal do Rio, Luiz Felipe Francisco, cassou a liminar que permitia o uso de dois papagaios da espécie Amazona na exposição “Hélio Oiticica — Museu é o Mundo”, no Paço Imperial.

AVE-MARIA DO MORRO 
Emílio Santiago, o grande músico, vai cantar “Ave-Maria do Morro”, de Herivelto Martins, hoje, na missa das 18h45 da Catedral de Saint Patrick, em Nova York. A missa será celebrada pelo cardeal de São Paulo, dom Odilo Pedro Scherer.

GOSTOSA

PAULO NOGUEIRA BATISTA JR

Guerra cambial 
PAULO NOGUEIRA BATISTA JR


O GLOBO - 02/10/10


As autoridades econômicas aumentaram o tom das suas declarações sobre câmbio nos últimos dias. O ministro da Fazenda alertou para a existência de uma guerra cambial no mundo e avisou que o Brasil não permitirá que a valorização do real solape a competitividade da economia. O presidente do Banco Central também manifestou preocupação com o assunto e não descartou a adoção de novas medidas de controle do ingresso de capitais no país.

As declarações tiveram repercussão aqui no exterior, inclusive no FMI, embora alguns tenham notado certa desproporção entre a retórica brasileira e as providências tomadas nessa área pelo governo. Talvez a escalada retórica seja prenúncio de novas medidas para conter a entrada de capitais e a valorização exagerada da moeda brasileira (esperemos que sim).

O problema apontado pela equipe econômica brasileira decorre, em larga medida, do quadro global, em especial da situação das economias emissoras de moeda de liquidez internacional. Os bancos centrais dessas economias - a Reserva Federal, o Banco Central Europeu e o Banco do Japão - vêm adotando políticas monetárias extremamente expansivas, com juros básicos próximos de zero e grande ampliação da oferta de moeda. Isso estimula grandes movimentos de capital para países como o Brasil. A razão dessas políticas monetárias está no legado da crise de 2008-2009. As principais economias estão se recuperando com grande dificuldade.

O crescimento tem sido lento e hesitante. Os níveis de desemprego continuam elevados. Não há risco perceptível de inflação nos EUA, na União Europeia e, menos ainda, no Japão.

Além disso, em muitos países desenvolvidos - por uma combinação de fatores políticos e econômicos -, a política fiscal ficou mais ou menos congelada.

Por limitações de natureza financeira (déficits e dívidas muito elevados e pressão dos mercados contra países mais vulneráveis) e/ou de natureza política (resistências dos Parlamentos e da opinião pública a novas medidas de estímulo via orçamento público), ficou difícil continuar fazendo o que foi feito em 2008-2009: impulsionar a economia com um grande aumento dos gastos governamentais ou diminuição de impostos.

Vários países estão sendo levados a fazer o contrário e já começaram a apertar as suas políticas fiscais.

Resultado: sobrou a política monetária.

O que se espera, por um lado, é que a expansão monetária consiga estimular a demanda doméstica de consumo e investimento. Por outro - e aqui começa a "guerra cambial" -, que ela também leve a uma depreciação do dólar e das outras moedas de liquidez internacional, favorecendo a recuperação das economias centrais via aumento das exportações e substituição de importações por produção local. Em outras palavras, as economias centrais querem sair da crise exportando, com apoio de moedas depreciadas. Isso implica, evidentemente, que outros países, principalmente os emergentes, aceitem apreciação das suas moedas, perda de competitividade internacional e déficits nas suas contas externas.

Diversos países vêm dando indicações de que não concordam com esse roteiro. O caso mais célebre é o da China, que resiste a qualquer apreciação mais significativa da sua moeda. Mas a China está longe de ser um caso único.

A Suíça, por exemplo, vem há tempos atuando para conter a valorização do franco suíço. O Japão interveio recentemente para conter a subida do iene.

Outros países asiáticos estão seguindo o mesmo caminho.

O Brasil tem que se cuidar, portanto.

Não há, a meu ver, possibilidade de contar com uma solução baseada em cooperação internacional no âmbito do G-20 ou do FMI. No horizonte visível, é basicamente cada um por si.

O que pode fazer o Brasil? As políticas macroeconômicas tradicionais têm efeitos limitados ou ambíguos. Parece difícil enfrentar a superabundância de liquidez internacional sem tomar medidas diretas e específicas de controle do ingresso de capital e de caráter prudencial na área financeira.

O economista americano James Tobin costumava dizer, desde os anos 70, que era preciso colocar areia nas rodas das finanças internacionais. Hoje, iria mais longe: areia, tijolos e cimento.

CLÁUDIO HUMBERTO

“A maioria do povo quer a continuidade do governo” 
PRESIDENTE LULA ESBANJANDO OTIMISMO NA VITÓRIA DE DILMA ROUSSEFF NO PRIMEIRO TURNO.

JUIZ SEVERO, AYRES BRITTO ENFRENTA TERRÍVEL DILEMA 
Rigoroso com o comportamento ético de magistrados, o ministro Carlos Ayres Britto, do Supremo Tribunal Federal, enfrenta um dilema terrível com o vídeo que confirma revelação desta coluna, em 16 de setembro, sobre a negociação do seu genro, Adriano Borges, para atuar na defesa de Joaquim Roriz. Juiz severo, ele foi implacável com o ministro Paulo Medina, do Superior Tribunal de Justiça, cujo irmão usou seu nome em suposta venda de sentença. E não havia prova material, nem vídeo.

MULHER DE CÉSAR 
No caso Medina, Ayres Britto lembrou que o juiz é mais que a mulher de Cesar, que não apenas deve ser como também parecer honesta.

MANOBRA OUSADA 
O objetivo da negociação com o genro, que pediu R$ 4,5 milhões de honorários, foi afastar do julgamento o ministro, voto certo contra Roriz.

IMPEDIMENTO 
O parentesco com o advogado e a sócia, filha de Ayres Britto, obrigaria o ministro a se declarar impedido de julgar processo contra Roriz.

DE FATO, NÃO SABIA 
Homem honrado e magistrado admirado pelo saber jurídico e a conduta ética, o ministro Carlos Ayres Britto ignora os negócios do genro.

RIGOTTO TRANCOU A PORTA DO PMDB E SE DEU MAL 
Em junho, o ex-governador Germano Rigotto exigiu ser o candidato solitário do PMDB gaúcho ao Senado. Trancou a porta para o deputado Ibsen Pinheiro, que pretendia a segunda vaga. Rigotto justificava o veto dizendo que Ibsen lhe tiraria votos. Agora, véspera de eleição, bate o desespero: o DataFolha dá na liderança Ana Amélia (PP), com 53%, e Paulo Paim (PT), com 49%. Rigotto, o solitário, despencou para 39%.

O SOMA-ZERO 
Aflito, Germano Rigotto agora faz campanha pelo “voto de soma-zero”, para que seus eleitores não utilizem o segundo voto.

VICE NA FOTO 
Dilma mudou de atitude no debate da Globo: permitiu que o vice Michel Temer a acompanhasse, ao contrário do primeiro debate, na Band.

REENCARNAÇÃO 
Depois do “desapopriação” (sic) e do “tráfego”, em vez de “tráfico”, não resta mais dúvida: Lula e Dilma frequentaram a mesma escolinha. 

PLANETA VERMELHO 
Quem suportou até o fim o debate na Globo, nesta quinta, deve ter se sentido em Marte, onde inexistem as Farc, mensalão, dossiês, quebra de sigilo e muito menos a bem-sucedida empresa Guerra & Filhos. 

É UM LUXO O JATINHO...
Marina Silva (PV) tem voado pelo Brasil em um jato Falcon 2000 Easy, tinindo de novo, emprestado por um misterioso empresário. Custa US$ 50 milhões. É mais luxuoso que o Legacy do seu vice, Guilherme Leal. 

...USADO POR MARINA 
O jatinho usado por Marina tem sala de estar, bar, cozinha, DVD, telefonia por satélite, sofás e cama de casal, e comissária de bordo. Para humilhar os “simplórios” Citation de Dilma e o Learjet de Serra.

DUPLA COMPETENTE 
A comunicação eficiente da campanha do candidato Antônio Anastasia (PSDB), em Minas, esteve nas mãos de uma dupla de craques: Rui Rodrigues e Paulo Vasconcelos. Eles fizeram a diferença.

SENADORA GLEISI 
Na contabilidade pessoal de Lula, uma alegria: Gleisi Hoffman (PT), mulher do ministro Paulo Bernardo (Planejamento), seu amigão, será a senadora mais votada do Paraná à frente de Roberto Requião (PMDB).

ESTÁ, NÃO ESTÁ 
A pedido do deputado Jafran Frejat (PP), o Tribunal de Contas do DF informou por escrito que ele “não consta do rol de responsáveis” pelos desvios de R$ 1,3 milhão da Secretaria de Saúde do DF. Mas o nome dele aparece na lista da página 134 do relatório do próprio TC-DF.

PF DE OLHO NA ELEIÇÃO
É a Delegacia de Defesa Institucional (Delins) da Polícia Federal que apura denúncias de crime eleitoral. Agentes são acionados para checar acusações de crimes e depois a investigação é direcionada a Delinst.

RICO, EU? 
O candidato a governador de Pernambuco pelo PV, Celso Xavier, nega que tenha ficado rico após deixar o Ministério da Cultura. Diz que é um “pequeno empresário” do setor de inovação tecnológica há dez anos.

PENSANDO BEM...
...a eleição deste ano mostrou que debate entre candidatos virou apenas uma sucessão de monólogos cronometrados. 

PODER SEM PUDOR
MILAGRE DA NATUREZA 
Delfim Netto era poderoso ministro, em 1982, e seu gabinete estava lotado de produtores de laranja paulistas, atormentados pelos preços baixos no mercado internacional. Delfim os recebeu em pé:
–Sinto muito, não haverá reunião. Podem voltar pra casa.
Antes que os produtores saíssem do estado catatônico com a inesperada recepção, Delfim abriu um sorriso e deu a notícia que eles ainda ignoravam:
– Acaba de haver uma tremenda geada na Flórida. Não tem mais safra de laranja nos Estados Unidos. Os preços vão disparar. Tratem de negociar!